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Ibirité
2022
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Ibirité
2022
Dedico este trabalho ao povo da periferia e todas as infâncias inseridas
nesse ciclo periférico e produtoras de culturas próprias.
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO……………………………………………….………………………………4
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………….…...57
REFERÊNCIAS………………………………………...……………………………….….58
INTRODUÇÃO
A periferia sendo uma produtora de culturas é um local que deve ser analisada sobre
uma perspectiva simbólica, afetuosa, por sujeitos que protagonizam essa produção
cultural com seus corpos presentes no cotidiano periférico: as crianças. Nesse sentido,
o presente trabalho tem o objetivo de analisar os protagonismos e as resistências das
crianças na construção de suas infâncias na Vila São José – BH, buscando as
manifestações desse coletivo e como são seus comportamentos nas localidades
mostrando os acessos possíveis sobre a percepção das crianças sobre a periferia e
como parte da construção cultural da periferia.
No terceiro capítulo trago as vozes das crianças da periferia, vozes potentes em copos
pequenos, mostrando a potencialidade de suas falas, apoiado nas falas de Frederico
Alves Lopes (2021) quando em sua pesquisa etnográfica compreende que “Reduzi-
las à meros objetos de estudos seria subtrair o que elas detêm de mais potente: o
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protagonismo criativo” (LOPES, 2021, p. 121). Mostrando as expressões das crianças
na escuta como narrador de sua própria história, o sociólogo completa dizendo,
E o Zé do Caroço trabalha
E o Zé do Caroço batalha
E que malha o preço da feira
E na hora que a televisão brasileira
Destrói toda gente com a sua novela
É que o Zé põe a boca no mundo
É que faz um discurso profundo
Ele quer ver o bem da favela
Está nascendo um novo líder
No morro do Pau da Bandeira
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Unidade Ibirité.
A Vila São José tem início em meados dos anos 60 com a ocupação de parte da
Fazenda São José, nome que os Mellos colocaram na terra adquirida. Mas, a Vila só
passou a ser reconhecida como São José em 1982 com crescimento da ocupação.
(BELO HORIZONTE, 2008).
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A partir daí, a Vila começa a ser nomeada por aglomerado e assim formando a Vila
São José, com uma média de 12 mil habitantes até 2003 quando o aglomerado passa
pelo processo de urbanização.
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IMAGEM 4 - O Canão
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IMAGEM 5 – Brincadeiras no córrego
Na região onde morava tinha a rua Vila Nova como morro por estar em um nível acima
da casa onde morava, logo o endereço que eu morava era o beco Vila Nova e ao
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fundo corria o córrego São José. As brincadeiras eram diversas, aventuras dentro do
próprio córrego esgotando nossa imaginação, pega-pega, futebol, bolinhas de gude,
enfinca quando chovia e toda a extensão da rua se transformava em lama. As
brincadeiras envolvendo o papagaio eram feitas no morro, na parte mais alta da rua
Vila Nova e no Morrão que era uma vasta área não ocupada que possibilitava a
brincadeira.
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IMAGEM 8 – Falta De Saneamento Básico
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IMAGEM 9 – Concluindo A Primeira Etapa Em 2003 - Carandiru
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moradores, o Campão não mais existiria.
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IMAGEM 12 – Visita Do Presidente Lula Às Obras Do PAC Na
Vila São José
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IMAGEM 14 – Novas Moradias
Desde a sua fundação, a Vila São José passou por diversas transformações, antes
da urbanização ultrapassar a favela, a Vila foi dividida em quatro partes, paraum maior
entendimento sobre a área do campo de pesquisa, farei uma apresentação das
demarcações territoriais feitas na comunidade pela população.
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Para melhor entendimento dos caminhos que irei percorrer para a análise etnográfica
analisando as infâncias da Vila São José, irei fazer uma construção apresentando
mapas do local em sua nova versão, usando como referência a Avenida João XXIII já
ligada à Avenida Pedro II, o mapa mostra o conjunto habitacional instalado, há uma
mudança territorial para a localização dos moradores, na parte de baixo da Vila e do
antigo Campo Rio Negro, agora passa a avenida e a Praça João XXIII, destacando
áreas de observação como a Rua das Figueiras, o primeiro conjunto de prédios a ser
concluído denominado pela população local como Carandiru e a Nova Ocupação.
A Praça João XXIII divide é dita como a divisão das partes, mas, podemos dizer que
a parte do meio é a região onde ficava a área do Canão, onde hoje fica instalado o
Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), o conjunto à direita da imagem
abaixo está relacionado aos moradores que moravam na antiga região da Penha, esse
nome é destinado à um antigo morador chamado José da Penha, que tinha um bar
onde era promovido as danças de forró e diversão da comunidade aos finais de
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semana nos anos 80.
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IMAGEM 18 – Parte De Cima
Após apresentação da Vila São José, passo agora a descrever brevemente como se
deu a minha chegada ao Curso de Licenciatura em Pedagogia da UEMG Ibirité.
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Antes de iniciar minha trajetória como estudante de Pedagogia e profissional da
educação, trabalhei na área da construção civil como ajudante de pedreiro até ser
promovido à Armador de Ferragens. A profissão exige que o profissional fique
constantemente com o corpo dobrado para frente, demanda um grande esforço dos
músculos posteriores das pernas por ficarem esticados e a coluna que fica dobrada
por muito tempo. Foi nos momentos em que deixava o meu corpo ereto para alongar
e descansar, que comecei a observar melhor meus companheiros de trabalho. Logo
em 2015, me incomodou o fato de todos o s t r a b a l h a d o r e s b r a ç a i s
serem negros e os engenheiros e estagiários todosserem brancos. Ao chegar em
casa conversei com minha esposa Thalita Agostinho de Souza Ferreira, na época
minha namorada, sobre minhas observações no campo de trabalho. Eu e Thalita após
termos concluídos o ensino médio e cursos técnicos, eu em Mestre de obras e ela
em Segurança do trabalho, na mesma semana decidimos procurar o cursinho
comunitário pré-ENEM EDUCAFRO/ Núcleo Águia, localizada também na região da
Vila São José,
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Os seminários promovidos pela EDUCAFRO mostraram o quanto é importante o
corpo preto está inserido na academia. E no ano de 2016, através de dois eventos
realizados no cursinho, percebi que poderia atuar na educação com a perspectiva de
orientar criançase adolescentes negros e pobres a trilharem um caminho diferente do
que do que a condição de exclusão social imposta aos que vivem nas periferias
urbanas.
O imóvel cedido pela Paróquia São Tiago Maior para o EDUCAFRO Núcleo Águia,
está situado em área asfaltada no entorno da Vila São José. Da rua Violeta de Melo,
nas janelas do pequeno edifício do EDUCAFRO, podemos ter uma visão ampla da
comunidade. Antes da transformação feita pelo PAC, era possível ver o campo do Rio
Negro, a parte da comunidade que circulava esse campo, o primeiro conjunto de
prédios construídos para a remoção das primeiras famílias situadas na extremidade
de baixoda Vila nomeado popularmente de Carandiru, e a Chácara. Na atualidade
vemos a ligação das avenidas João XXIII com a Pedro II, a praça, os novos
apartamentos construídos pelo PAC, o mesmo Carandiru e a nova ocupação que
surgiu numterreno que antes era inutilizado. Tomando um café, em um intervalo entre
as aulas no cursinho, aproveitava para olhar a comunidade pelas janelas. Em certa
ocasião observei uma movimentação rápida de várias pessoas correndo em direção
à rua que rodeava a praça, havia acabado de acontecer execução de um
adolescente de dezasseteanos. Mesmo que esse adolescente estivesse envolvido
com o tráfico de drogas e que tenha sido vítima de uma rivalidade entre grupos
diferentes, me comoveu e me fez refletir mais os motivos que levam nossas crianças
e jovens à criminalidade e como a educação poderia contribuir para mudar essa
realidade para nós moradores das periferias.
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Continuei firme com a formação do EDUCAFRO, fiz o ENEM de 2016 e em 2017, pelo
SISU, pelas políticas de ações afirmativas, fui aprovado no vestibular para os cursos
de Pedagogia e Educação Física da UEMG Ibirité. Tive que tomar uma decisão e
para isto, meu sogro Carlos Antônio Ferreira foi uma referência para mim. Carlos
Antônio também teve sua passagem pelo EDUCAFRO e cursou o curso de Pedagogia
na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Tanto meu sogro como minha
esposa Thalita, me orientaram sobre as possibilidades de atuação do pedagogo.
Assim, optei pelo curso de Pedagogia pois percebi que poderia estar diretamente
ligado às infâncias jovens, colocando minha prática profissional a serviço da
transformação social da vida dos povos das periferias.
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É nesse sentido que o presente trabalho tem como objetivo geral analisar os
protagonismos e as resistências das crianças na construção de suas infâncias na Vila
São José. Assim, para além de todo o contexto de opressão, exclusão e
subalternidade que marcam as vidas de quem mora na periferia, busca-se visibilizar
neste estudo as diferentes estratégias desenvolvidas pelas crianças para ser sujeitos
e resistir na periferia. No capítulo a seguir, iremos apresentar com mais detalhes as
manifestações infantis observadas por nós durante a pesquisa de campo.
O sorriso no olhar,
Ainda mostra esperança
Favela, não é só bandidos e matanças
A cultura dos pobres que tem pensamentos nobres
Vale mais do que qualquer riqueza escondida no cofre
O nosso céu tem mais estrelas,
Nossas vazas tem mais flores
Os nossos bosques tem mais vida,
A nossa vida tem mais amores
Liberdade de expressão,
Se tiver vontade cante
A verdade que se esconde,
Atrás de cada semblante.
Além da simplicidade – Simpson Souza (Artista da Vila São José)
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particularidades e singularidades das infâncias da periferia. Para relatar os aspetos
das crianças no contexto periférico, é necessário a pesquisa empírica etnográfica. De
acordo com Peirano, “A empiria – eventos, acontecimentos, palavras, textos, cheiros,
sabores, tudo que nos afeta os sentidos –, é o material que analisamos e que, para
nós, não são apenas dados coletados, mas questionamentos, fonte de renovação”
(PEIRANO, 2014, p. 380).
A facilidade na interação entre as crianças permite a criação de novas ações que elas
possam desenvolver mesmo em ambiente onde a maioria é adulta, possibilitando a
procura pelos pares. Na roda de samba realizada na comunidade no dia 05 de junho
de 2022, observei a criação de brincadeiras protagonizadas pelas crianças enquanto
os adultos se divertiam com a apresentação do grupo de samba. Neste mesmo dia,
ocorreu no local, disparo de tiros p o r u m motoqueiro anônimo, a l g u m a s
c o n f u s õ e s d e c o r r e n t e s do uso de bebidas alcoólicas, mas mesmo assim, a
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comunidade continuou a se divertir.
Uma dessas crianças que Keven observava do outro lado da rua era meu sobrinho
Isac de 4 anos que buscava outras crianças para se divertir, pois, Miguel, outra
criança de mesma idade havia se afastado. Passados alguns minutos, em um
momento em que fui ao banheiro, Isac vem em minha direção, tenta montar uma
narrativa de um episódio de desespero que acabara de acontecer no local. Montado
em uma motocicleta, um rapaz não identificável com roupas de proteção contra chuva,
de capacete e mochila de empresa de entrega de fast food se adentra na rua das
Figueiras e antes de chegar ao local do samba, efetuou seis disparos de arma de fogo
contra um grupo de traficantes da área que causou um desespero enorme em todos
os presentes, fazendo com que todos corressem buscando um local seguro.
Felizmente os disparos não acertou ninguém, mesmo depois da arma do atirador cair
no chão, ele conseguiu pegar a mesma e evadir do local.
Após o evento violento começo a construir diálogos com Isac que demonstrava
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preocupação com seus familiares. O antropólogo Florence Weber avalia que ouvir os
anseios e classificações da criança (sujeito que está sendo observado), sobre o
ocorrido, em diálogo espontâneo é mais valiosa que um uma pesquisa de
questionário, evitando a expectação do observador. Ainda reforça que ouvir sem
interrogar, possibilita investigar as diferenças linguísticas, o seu significado social, o
pertencimento aquele grupo e sua visão de mundo (WEBER ,2009). Horas depois do
tiroteio a sensação era que o pior já havia passado. O samba iniciou, os adultos se
divertiam e as crianças continuavam a brincar. Isac, continuava a se divertir e sua
mãe o interditou em certo momento, perguntando para onde iria e alertando a criança
de estar em alerta pois o ambiente estava perigoso. A criança responde dizendo que
só iria brincar com seus novos amigos, que já estavam realizando uma brincadeira
simulando a produção de uma refeição.
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sociedade fortalece as diferenças de gênero determinando normas de padronização
de ações binárias, limitando os privilégios individuais dos pequenos (MARCÍLIO,
2018). Percebemos o rompimento de barreiras exercido no comportamento das
crianças, trazendo o pensamento de que:
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IMAGEM 23 – A Coleta Dos Macarrões
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Vejo que na interação e ações entre as crianças elas reproduzem as ações dos
adultos, seus comportamentos são recortes do convívio com o adulto, mas elas
ressignificam a sua maneira e compartilham com seus pares no movimento de suas
ações (PEDROSA; CARVALHO. 1995). Vale salientar que as ações das crianças não
são somente uma reprodução da vida adulta que eles participam. A Sociologia da
Infância assegura que as crianças são produtoras de sua própria cultura como afirma
Corsaro (2011 apud LIMA; MOREIRA; LIMA, 2014, p. 101) com o termo
“representação interpretativa”:
A autonomia das crianças para realizarem uma brincadeira que retome um saber
inspirador e acolhedor, as reproduções com as demonstrações de afeto na feitura do
alimento sendo produzido por suas pequenas mãos, retomam as lembranças de laços
familiares na partilha da refeição comumente vivida nos barracos das favelas, ações
estas que são reproduzidas pelos garotos na brincadeira, retomando um gesto que
perpassa por gerações:
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As crianças após prepararem toda sua refeição imaginária e finalizarem a brincadeira,
dispensaram todos os materiais utilizados em um canto próximo de onde brincavam.
Isaac retornou aos cuidados da mãe e se despediu dos outros dois amigos com um
aceno de mãos dizendo até mais.
O por do sol vinha se aproximando, abrindo espaço para a noite que se estenderia, e
todas as crianças ainda presentes na roda de samba estavam mais próximas de seus
responsáveis. Os adultos descontraídos e envolvidos nos batuques do samba que
ainda acontecia, quando o som foi interrompido por uma outra confusão. Um homem
de aproximadamente 40 anos assediou verbalmente uma das crianças do sexo
feminino de 11 anos que esta no evento. De acordo com o Estatuto da Criança e do
Adolescente no Artigo 241 “Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer
meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso: Pena –
reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa” (BRASIL,1990, Art. 241). Porém, os
traficantes do local agrediram fisicamente o homem que havia cometido o ato de
assédio contra a criança. O desespero foi maior quando uma arma de fogo foi retirada
em ameaça a esse homem. Assim, as crianças se agarraram em seus responsáveis
rapidamente buscando segurança, não havia mais sorrisos, os olhos cheios d'água e
o choro escorreu levando a felicidade e sorriso daquelas crianças. Era nítido o
assombro da situação expressado nos olhares das crianças. Em seu diário, Carolina
de Jesus relata sobre as brigas entre adultos diante das crianças nas favelas.
Isac ao ver a situação, adentrou no apartamento onde mora, se dirigiu para o quarto
onde sua tia Thalita estava e disse: “- Tia Thalita, eles iriam matar aquele homem, que
bom que ele conseguiu ir embora” (Isac, 4 anos, 2022).
O homem conseguiu ir embora após o episódio, mesmo diante desses fatos violentos
não desvaloriza o fato de a periferia ser um lugar multicultural de construção de
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saberes e lazeres. Os olhares estereotipados sobre a favela, por parte de algumas
pessoas que moram fora do contexto de periferia, não apaga o brilho da cultura que é
produzido dentro dela, em alguns casos, os olhares de julgamento, indicam somente
um lugar gerador de violências como nos mostra os relatos de Carolina de Jesus nos
relatos do tenente da delegacia, onde este diz que a favela é um ambiente propenso,
que as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que tornar-se útil a pátria e
ao país (Jesus, 1955). Os moradores do bairro vizinho à Vila São José também já
mostraram o seu lado preconceituoso contra a periferia:
[…] a Favela São José. Na visão dos moradores antigos, sem nenhum
preconceito, a construção daquela favela mudou o perfil do bairro e ajudou a
tornar o lugar perigoso, além de desvalorizar os imóveis localizados por perto
(NEVES, 2013, s/p).
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IMAGEM 25 – Ayla Marcando O Compasso
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próprio exercido em sua infância.
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2.2 Quando a polícia chega crianças e adultos se isolam em casa
O dia 18 de junho é marcado por um belo dia ensolarado, permite os acessos para a
caminhada afetuosaem observação das crianças na comunidade, mas, as pessoas
que costumavam ocupar a praça em busca de lazer não se encontravam, nem as
crianças e nem os adultos da comunidade. A praça era ocupada naquele dia pelas
viaturas da polícia militar. Ocorria ali uma grande operação de combate ao crime
organizado. As abordagens policiais na periferia são vistas como agressivas pela
comunidade, Leite e Silva (2007) nos apresentam relatos de denúncias nas periferias
sobre as abordagens e inibição da população periférica nas chamadas operações
policiais quando dizem que:
Com a falta das manifestações das infâncias no local fui impedido também de fazer
minhas observações, porém, a reflexão era sobre a estadia dos policiais na marcante
área de lazer da comunidade e sua suposta atuação na periferia sobre a intenção de
proteção da comunidade, se revelar também perigosa, não podendo transitar no local
onde estão estacionados, considerando os argumentos de Martins (2019), as crianças
são observadoras do cotidiano da periferia e sabem como se comportar diante a tal
operação:
Também fazia parte do cotidiano das crianças a violência policial pela qual os
jovens de periferia são submetidos, por meio de abordagens abusivas e até
mesmo sendo alvejados, como se pode observar nos assassinatos recentes
perpetrados pela polícia militar aos, em sua maioria, jovens negros e pobres.
Todo esses elementos e experiências subjetivas vivenciadas por essas
crianças de periferia contribuam para constituição de suas identidades, não
de forma homogênea, mas por meio da apreensão dessa violência como
produtora de sujeitos (MARTINS, 2019, p. 268.).
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IMAGEM 28 – Operação Policial No Espaço De Lazer
Mesmo assim, saí para as observações da pesquisa, mas em cada local em que
transitava, havia abordagens policiais acontecendo. Naquele dia não foi prosseguir
com as observações. O povo da comunidade, crianças e adultos não se arriscaram a
ocupar o espaço público, com toda aquela repressão ao redor.
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IMAGEM 30 – Operação Policial Na Rua Das Figueiras
Tenho a praça João XXIII como ponto de partida em outros momentos da etnografia.
Mas no sábado dia 02 de junho de 2022, antes de ir à praça, vejo que o campo
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estavavazio, não aconteceram os jogos das crianças no campo, evento que reúne em
média 60 crianças para treino e jogos geralmente das 08h:00min às 12h00min. Logo,
continuo a caminhada, prossigo para a praça e diferentemente da observação
anterior, o que vejo é um céu bem colorido, com uma chuva de “papagaios”, cortando
as nuvens no alto. Ali também, vejo sorrisos dos moleques, que na transição da
adolescência para a juventude. Não perderam o gosto pelo brincar com pipas e linhas
entrelaçadas em suas mãos. À sua maneira, as crianças que moram nas favelas
reconstroem os lugares em suas brincadeiras e constroem sua identidade interagindo
com a imagem percebida de sua ambiência.
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IMAGEM 32 – Os Que Colorem O Céu
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Quando o ambiente está tranquilo, viabiliza a b r i n c a d e i r a por um longo tempo,
até mesmo ao anoitecer. A escuridão da noite não permite que localize as pipas
quando estão fora do limite do campo de visão de quem está conduzindo, porém,
mesmo quando o brincante tem a possibilidade de fazer a pipa voar cada vez mais
longe, mais alto, a mesma não faz isso, pois há limites para enxergar. Quanto mais
longe o papagaio está, necessita recolher um pouco mais as linhas para que a pipa
fique segura e não saia do controle do brincante.
Nos acessos da Vila São José, quando ainda era aglomerado, não era possível
algumas brincadeiras como empinar pipas no horário noturno. Não havia um espaço
amplo, sem fiações e com iluminação que permitia a segurança para quem
participasse dessa brincadeira. Outra diversão que era pouco vista na comunidade
era partidas de futebol no período da noite. O campo que havia dentro da favela não
tinha iluminação, as partes de morros onde ficavam os campinhos também não havia
iluminação. Naquela época algumas crianças se aventuravam a jogar nas ruas de
terra improvisando golzinhos nas primeiras horas da noite e encerrando no máximo
às 19h00min. Diante da construção da nova praça, perceber-se novas formas de
manifestação do brincar e sua extensão durante o anoitecer. No mesmo dia da
observação, vi o retorno das crianças que participaram de um torneio de futebol que
ocorria em Betim. Por isso, o campo Inconfidência estava vazio na observação
daquele outro momento. Os que acabaram de chegar do jogo em outro município,
ainda uniformizados, rapidamente as crianças se reuniram com os demais que já
estavam dentro daquadra, enquanto um time jogava os demais aguardavam fora de
quadra empinando os papagaios, conversando entre os amigos ou pedalando em uma
mesma bicicleta que era compartilhada entre os pares, os que aguardavam sua vez
de jogar tinham outro tipo de interação para se distrair, e o futebol mesmo a noite
continuava a rolar.
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expressam um conjunto de elementos culturais através das brincadeiras” (BRANDÃO,
2010, p. 41). A liberdade é demonstrada em seus passos e agilidade dentro de quadra,
os pés diretamente ligados ao chão melhoram a mobilidade da garotada,
diferentemente da obrigatoriedade do uso da chuteira em um jogo oficial, as
independências de seus movimentos impulsionam os passes mais precisos na bola e
a chuva de gols marcados pelos pés descalços.
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IMAGEM 36 – A Continuação De Um Dia Futebolístico
No domingo dia 03 de julho, como ponto de partida, vou para a área onde era a área
que ficava instalado o antigo Canão da COPASA. Lá recentemente foi inaugurada
outra praça poliesportiva, para melhor entendimento podemos retomar a Imagem 16
como referência, a área destacada era um projeto de arborização do local, porém, o
espaço ainda permanece sem nome mesmo após sua inauguração ter ocorrido no
mês de Maio de 2022 (PBH/ URBEL, 2022).
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IMAGEM 37 – A Nova Praça
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IMAGEM 38 – Equipamentos Para As Crianças?
Antes de partir para outra área de pesquisa, observo que o inverno é principal
temporada de empinar pipas e papagaios, e uma grande percentagem de crianças
que encontrava pelo caminho estava também na mesma brincadeira do papagaio.
Passando pela Penha, as pessoas de um bar do local comemoravam a vitória dos
amigos no jogo de truco, suas celebrações estavam em um tom muito alto, mas, o
som de duas crianças que testam suas habilidades como samurais empunhando
pedaços de cabo de vassoura simulando katanas foi o que me chama atenção.
Perguntando a eles qual era a brincadeira, disseram que eram caçadores de “Onis”
do anime “Demon Slayers”. Em interface com a minha infância percebo a inspiração
na interpretação de personagens fictícios que são apresentados as infâncias, mas, a
singularidade na execução das brincadeiras na coletividade é carregada de
significados para cada infância se diferenciando das gerações anteriores (BARBOSA;
HUNGER; PEREIRA, 2007).
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IMAGEM 39 – Rua Da Vocação, Antiga Penha Onde Observo A
Brincadeira Dos Samurais
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2.5 Infâncias e Crianças nos conjuntos habitacionais
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IMAGEM 42 – Preparando A Cobertura Do Bolo
Estavam assando o bolo e pediram para que eu aguardasse um pouco. Iriam retirar a
refeição para enfeitar e finalizar para o prato principal da festa surpresa. Perceberam
que estava faltando a salada. E uma delas saiu correndo e disse: “Eu irei colher os
tomates!”.
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Após a colheita dos tomates, o preparo da salada e da retirada do bolo do forno, as
crianças finalizaram pedindo para registrar o resultado final. Havia um encanto infantil
com a beleza do bolo de sabor chocolate com granulado colorido, com o desempenho
do trabalho conjunto e c o m a produção d a festa que prepararam.
Ali, naquele lugar em que era familiar para mim, região de tanto afeto, minha casa,
meu lugar, o inédito viável ocorria. Minha presença para aquelas crianças, era de um
estranho que viram pe l a p r i m e i r a vez. Por isso, perguntaram quem eu era e onde
morava. Respondi que morava no mesmo bairro e que era um professor em formação
e pesquisador vinculado ao curso de Pedagogia. Rapidamente perguntaram se eu iria
atuar nas escolas em que estudavam. O diálogo continuou com demonstrações de
saberes delas, de que aprenderam como é a soletração de seus nomes e dos colegas,
contagem dos números naturais até 50, até arriscaram algumas palavras em inglês.
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IMAGEM 45 – Os Protagonistas Das Brincadeiras
Neste capítulo o objetivo específico é ouvir as vozes das crianças e suas formas de
expressão sobre sua condição de ser e habitar na Vila São José.
Nesse sentido, destaco que fazer parte da Vila São José possibilita analisar as
diferentes infâncias que participam do cenário social existente hoje na comunidade.
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Há sempre uma tensão que paira entre os responsáveis pelas crianças quanto ao
grau de periculosidade das ruas da comunidade, a tranquilidade durante o dia permite
que os pequenos possam estar em todos os locais desenvolvendo suas atividades, já
a noite, no simples escurecer, as crianças são recolhidas para seus aposentos, o
clima muda com as diversas ações policiais que ocorre nos pontosde maior perigo.
Diante dessa situação, em sua maior parte, só podemos ver as crianças brincando na
praça com a presença de seus pais ou acompanhados de um outro responsável, a rua
já não é um local adequado para as ações infantis nesse momento noturno.
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suas residências. Todas as entrevistas foram gravadas para fazer a análise das falas
com a autorização de seus responsáveis. Para melhor condução da pesquisa
preparamos i n i c i a l m e n t e duas perguntas abertas: O que é ser criança? E como
é ser criança morando na Vila São José? Mas, no decorrer da pesquisa, foi preciso
fazer algumas alterações nas perguntas para que houvesse uma melhor condução
dos diálogoscom um diálogo sobre a vida do participante, como ele estava se sentindo
no momento, perguntando sua idade e as perguntas que nos auxiliaram nesse diálogo
foram: Você gosta de ser criança? O que é ser criança e o que você pode fazer
enquanto criança? Quais tipos de brincadeiras você pode fazer nos diferentes tempos
morando aqui na Vila São José? As respostas dessas perguntas nos orientaram para
um olhar mais atento aos movimentos da favela e o comportamento dos corpos que
habitam dentro dela, conforme a seguir.
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IMAGEM 46 - A produção do bolo
A curiosidade foi tanta que pedi para me levar onde era essa piscina e iniciamos
a nossa caminhada dos saberes, no início eu o perguntei o que tinhanessa piscina
se era água ou outra coisa. Espontaneamente ele me responde:
O que me chama atenção é que o olhar atento da criança para os detalhes que estava
naquele local, uma piscina de plástico que o dono do bar tinha deixadoa disposição
dos clientes que usavam o bar e teriam a diversão para os filhos de quem frequentasse
o local e para sustentar as bordas da piscina o dono colocou caixas de cervejas e
garrafas de vidro cheias de água que pareciam estar mesmo com cachaça. Toda essa
estratégia que o dono do estabelecimento fez, mostra o quanto o povo da periferia
resiste buscando possibilidades de adquirir sua renda e sobreviver dia após dia.
Retomo ao diálogo perguntando se ele gostava de ser criança e o que ele pode fazer
enquanto criança e se ele gostava de brincar na Vila São José.
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Ah! Ver desenho, brincar, ir lá na escola, piscina, faço qualquer coisa,
chutar bola. Sim (Isac, 4 anos, 2022).
Recorrente a nossa espera pela resposta do brincar, pois o olhar adulto direciona o
único comportamento à criança quando ela está atentamente observando o seu
mundo, o que está ao seu redor e expressando seus anseios(referência), no momento
em que a resposta da piscina é uma opção de brincadeira, é perceptível que aquilo
era o que ele queria fazer no momento. O dono do local não havia autorizado a
brincadeira pois o bar no momento estavafechado e não havia como ele monitorar o
uso da piscina.
Quando Isac fala sobre que gosta de ir à escola, lembro que uma de suas atividades
constantemente proporcionadas as crianças são as a brincadeiras e Tião Rocha
(2022) nos abre outras possibilidades de educação no que ele chama de Pedagogia
do Brinquedo:
No final da tarde a pequena Iza, moradora do Bloco frente a ocupação nos concede a
entrevista compartilhando seus pensamentos e nos levando refletir sobre como a
transformação urbana do local modificou a relação com o lazer, as diversões
envolvendo os meios tecnológicos e as brincadeiras.
No início do diálogo quando início com as perguntas, Iza nos apresenta suas ações
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enquanto criança dizendo que gosta de ser criança e o que ela gosta de fazer
enquanto criança.
O que que eu gosto de ser criança é que eu brinco no celular, jogo e no fim
de semana eu vou para o lote, arrumo os trem em casa, e vou pra pracinha
brincar, eu gosto de brincar lá fora, brinco com meus brinquedo, chuto
bola (Iza, 7 anos, 2022).
Iza traz uma questão interessante sobre os nossos medos com os diferentes tempos
na periferia, quando questionada sobre suas brincadeiras poderiam ser feitas pela
manhã ou à noite ela responde:
Não pode ficar lá fora todo dia porque é perigoso e nem de noite e nem todo
dia, é perigoso o homem do saco (Iza, 7 anos, 2022).
A região onde iza mora não oferece tanto perigo pelo conflito do tráfico, porém, no ano
de 2021 houve um assassinato próximo a sua residência, para os adultos isso é uma
demonstração de perigo e alerta constante quanto a permanência dos pequenos na
rua. Veremos em outros relatos que esse também é uma das tensões que está
presente nos pensamentos infantis, mas Iza, nos provoca a pensar em um medo
geracional que sempre rompea barreira do tempo e permanece nas infâncias, o medo
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do “Homem do Saco”, conforme podeser confirmado no relato a seguir:
Algumas crianças contestaram: “Tá errado, tia! A mamãe diz que o homem
do saco pega a criança, coloca dentro do saco e leva embora. Dentro do saco
tem criança!”. E a questão foi motivo para uma longa conversa sobre o medo
do homem do saco, o que promoveu um debate reflexivo sobre falar com
estranhos e sobre a confiança nas pessoas (KOIDE; TORTELLA: ROCHA,
2017, p. 238).
Rian é uma criança alegre, que gosta de interagir com os adultos e demonstrar suas
habilidades, no dia do samba na rua Das Figueiras, ele chega com seu carisma na
roda de samba e tenta demonstrar suas habilidades em tocar pandeiro e durante o
tempo que permaneceu na roda de samba ficou ao redor dos adultos, não interagiu
com as outras crianças, ficou assim até o anoitecer. Já no dia da entrevista,
encontramos com ele às 19h:00min voltando da padaria com dois amigos, próximo a
avenida João XXIII. Quando perguntado sobre o que é ser criança ele responde
diferente das demais:
Rian é uma criança que não mora com os pais, pois os mesmos já faleceram. A
resposta espontânea talvez tenha vindo pela superação de vida ao não ter os pais. A
sua mãe morreu logo quando ele nasceu. Teve a presença de seu pai até o período
da pandemia e atualmente mora com seus tios.
A resposta sobre ele gostar de ser criança foi articulada a sua postura na roda de
samba:
Ah não, eu prefiro ser adulto. Não sei, trabalhar, ganhar dinheiro.
(Rian, 11 anos, 2022).
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O querer ser adulto nas crianças, parece estar além da chegada à adolescência. Vem
carregado de expectativas em ajudar os seus responsáveis que lutam para sustentar
sua família. Muitas crianças periféricas ao se aproximarem da pré-adolescência já
buscam essa responsabilidade para si, e por outro lado, é possível observar a falta de
políticas públicas e oportunidades para as famílias mais pobres, o que
consequentemente reflete na antecipação das responsabilidades adultas com as
crianças.
Morador da parte de baixo da Vila, onde era a parte da Chácara, encontro-me com
meu outro sobrinho, o Renner, na praça com seus amigos na tarde do dia 21 de julho,
por volta das 15h: 49min, brincando com seus amigos de soltar papagaio” e andar de
bicicleta, na primeira resposta ele afirma gostar de ser criança e brincar. Renner
divide as brincadeiras em relação aos locais que ele frequenta. Próximo à sua casa
ele joga futebol na rua e na praça, empina pipas. Podemos observar a preocupação
do garoto ao analisar bem quais são as suas possibilidades de brincadeiras como
criança moradora da Vila São José nos diferentes tempos, durante o dia e durante a
noite:
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3.5 Keven: as percepções de si
Às 21h:00min, na rua das Bananeiras não há mais ninguém. Todos já estão em suas
residências, quando me encontro com Keven e sua mãe. Sou recebido com um grande
abraço da criança, um ato simples, mas de uma educação que promove a amenidade
nas interações, na troca de saberes e no compartilhamento:
Iniciei a pesquisa após Keven compartilhar os vídeos que ele mesmo produziu. Disse
que deseja ter um canal no Youtube mostrando as coisas que ele acha engraçado e
juntando suas habilidades. Quando pergunto se ele gosta de ser criança novamente,
uma resposta surpreendente surge e seguimos dialogando:
A percepção que tive sobre Keven é que ele gosta de fazer suas atividades
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individualmente. Com uma cabana cheia de brinquedos mais os utensílios domésticos
ele brinca, com tendências caseiras, explorando sua imaginação sobre produções
diversas, expressando ainda na presente infância os seus planos também para o
futuro.
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IMAGEM 48 – Um plano possível de Keven
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa contribui para minha formação como educador, visto que a escuta das
crianças da periferia transmite uma mensagem de mudança constante no
comportamento adulto e como educador poderei estar sempre atento às
manifestações infantis.
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REFERÊNCIAS
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Iluminuras: série de publicações eletrônicas do Banco de Imagens e Efeitos
Visuais, LAS, PPGAS, IFCH e ILEA, UFRGS. Porto Alegre, RS. N. 21 (2008), 23
p., 2008.
59
GOMES, Nilma Lino; TEODORO, Cristina. Do poder disciplinar ao biopoder à
necropolítica: a criança negra em busca de uma infância descolonizada. Childhood
& Philosophy. Rio de Janeiro, v. 17, p. 1-16, 2021.
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São
Paulo: Ática, 1995.
KOIDE, Adriana Batista et al. Para além da fruição: um enlace entre literatura infantil
e autorregulação da aprendizagem na educação infantil/Beyond fruition: a link
between children's literature and self-regulation of learning in children's education.
Educação em Foco, v. 20, n. 30, p. 229-246, 2017.
LIMA, José Milton; MOREIRA, Tony Aparecido; DE LIMA, Márcia Regina Canhoto. A
SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA E A EDUCAÇÃO INFANTIL: OUTRO OLHAR PARA
AS CRIANÇAS E SUAS CULTURAS. Revista Contrapontos, v. 14, n. 1, p. 95-110,
2014.
NEVES, Osias. Jardim Montanhês: A Fazenda São José. In: NEVES, Osias. Jardim
Montanhês: A Fazenda São José. [S. l.]: Escritório de Histórias, 2013. Disponível
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que os favelados dizem quando falam desses temas?. Sociedade e estado.
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