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RESUMO
This article aims to identify through games and toys used by indigenous children from the
Tocantins region, in Pará, that knowledge is transmitted through the ways of playing and
making toys in the daily life of the Anambé villages, in the municipality of Mojú and the
Assuriní do Trocará , in the municipality of Tucuruí. Methodologically, we work with the
practice of oral history in field research, through life history interviews and participant
observation. The interpretation of the research data provided these researchers with an
understanding that the acquisition of knowledge, learning and knowledge of indigenous
children is accomplished through toys and their multiple games, performed daily in the most
diverse spaces, and that they have extremely important symbols. for such children, since they
are impregnated with values, principles, knowledge and knowledge, as it is through toys and
games that children learn to dive, row, plant, cook, wash clothes, fish, hunt, braid baskets,
make flour, crafts, I enter others.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Abrir as portas do mundo infantil é uma grande dificuldade e responsabilidade, é trilhar
labirintos percorridos em diferentes tempos e espaço e exige determinadas condutas, pois:
Percebe-se pela historiografia da infância que ao longo dos séculos, a criança vem
assumindo diferentes papéis de acordo com a época e a sociedade em que está inserida. A
concepção de infância, assim como muitas concepções existentes nas sociedades, é uma noção
historicamente construída e como todas as construções históricas, consequentemente, vêm
sofrendo mudanças, não se manifestando de maneira homogênea nem mesmo no interior de
uma mesma sociedade e época.
Para Rodrigues (2009), as visões sobre a infância são um conceito construído
socialmente e historicamente. A inserção concreta das crianças e seus papéis variam com as
Penso que as sociedades indígenas fornecem exemplos muito concretos através dos
quais se podem perceber a coexistência ou fusão de processos formais e informais
na construção do saber. No que se refere às crianças, verifica-se, constantemente,
que não é o processo de ensinar e aprender que organiza as várias atividades através
das quais ficam, a saber, de tudo aquilo que precisam para suas vidas nas aldeias,
mas, sim que são essas atividades que organizam o ensinar e o aprender, propiciando
e provocando as oportunidades para o processo cognitivo (NUNES, 2003, p. 142-
143).
O criar infantil, foi nosso objeto de estudo, para compreensão das formas de se fazer
e significar da criança dentro da aldeia, espaço este vivido de forma coletiva. Portanto, é
preciso pensar a cultura como um conjunto de significados assumidos e produzidos pelos
homens para explicar o mundo. “A cultura é ainda uma forma de expressão e tradução da
realidade que se faz de forma simbólica” (PESAVENTO, 2003, p. 67).
Cultura é toda manifestação humana e uma forma de se expressar e de se representar;
se cultura envolve tudo, é fundamental atentarmos para o fato de que o campo da cultura não
é homogêneo e único. Cultura é um campo onde se instalam tensões e conflitos, e acima de
tudo, entendermos que cultura não é estática, afinal,
A vida deles é assim brincar, correr, banha no rio, aqui quando tá com três anos de
idade já sabe nadar, a gente ensinar a fazer tarefa de dia a dia, aprendi a ler e a
escrever, mas também os afazeres a gente não obriga, incentiva a fazer, porque vai
precisa mais tarde fazer, ensinar a fazer porque é bom pra eles ter essa liberdade. O
dia todo eles vivem pelos espaços da aldeia e não se cansam do que eles fazem, ai e
o dia todinho eles brincando, correndo, saltando ai na água e assim eles vão vivendo,
vem almoça fica por ai depois vai chama outra turma daí e vai de novo no mesmo...
Ele só fica em casa quando tá dodói que a gente não deixa sair pra não fica mais
doente, então é importante isso pra eles no crescimento, né” (Maria Valdeniza
Pantoja Anambé, 39 anos, moradora da aldeia).
No meu tempo nos brincava assim nos tinha o igarapé né tinha os cachorro e as antas,
ai a anta corria e caia na água ai o pessoal matava ne. Então nos brincava o capitão
inventou pra nós e falava vocês ainda não vão brincar com a flecha não. Então ele
fazia barro igual uma peteca ai botava um bucado de criança, e os maiores corria
como se fosse uma anta, ai corria e caia na água e os cachorros atrás, mas era criança
que imaginava que era cachorro. Quem fosse cachorro ficava latindo até os
caçadores que estavam com as petecas de barro chegar e quem era caçador jogava
as petecas na anta até acertar, quem acertasse matava ai nos puxava ai nos fazia a
comparação como era que cortava tirava o bucho só de faz de conta só por cima ai
trazia nas costas e trazia pra casa...ai quando chegava o velho perguntava _ ta goda
O imaginário não está preso a convenções sociais. Ele é fluido, uma espécie de
sedutor de imagens, um depositório do inconsciente, mas que age
“conscientemente”. Refaz se a todo o momento, utiliza como força impulsionadora
o símbolo, elemento que não somente pode dar a entender, mas também pode
expressar sua “existência”. Nada passa despercebido ao imaginário, que depende da
imagem simbólica para se constituir existindo, e entre ambos há um entrelaçamento
uma profunda, obscura e ao mesmo tempo clara relação. Toda ação do homem é
produtora, mediadora e impulsionadora de imaginários, estando em seu convívio
diário presentes os elementos naturais e culturais que subsidiam a formação da
mente. Esses elementos são considerados como criadores de imaginários, uma vez
que são grandiosos produtores e reveladores de representações, uma via de mão
dupla na construção de representações simbólicas (DUTRA, 2013, p.58- 59).
O ato de brincar de faz de conta de imaginar algo, só é possível através dos símbolos
que as crianças Assuriní carregam consigo, toda essa grandiosidade de detalhes contida na
imaginação nada mais é que o reflexo de sua, do seu modo de vida. Através da imaginação se
constroem ensinamentos reais, significados que vão se refletir no dia a dia dessas crianças. É
através do imaginar que se aprende a pescar, a caçar, a dividir o alimento, a se inserir na vida
social da comunidade.
A boneca Assuriní, no momento que está sendo pintada como a mesma pintura étnica,
ganha uma (re) significação que nos leva a perceber esse hibridismo cultural, onde a
modernidade é sinônimo de pluralidade, onde se mesclam relações entre o hegemônico e
subalterno, tradicional e o moderno. Sendo assim, a modernização não serviu somente para
separar nações, etnias e classes, mas também para fazer um cruzamento sócio cultural que
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levam a misturar o tradicional e moderno (CANCLINI, 1998). A boneca pintada com a pintura
corporal Assuriní é um exemplo dessa mistura do tradicional e do moderno, que leva a uma
(re) significação da cultura tradicional local As crianças também aprendem a afirmar sua
identidade cultura e étnica através dos desenhos, pois no momento que observam os mais
velhos a fazerem a pintura corporal, recriam essas pinturas primeiramente no chão de terra e
depois aprendem pintar um aos outros.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos sobre a infância indígena proporcionam uma série de aprendizados que
são essenciais para entender a cultura e a identidade das comunidades indígenas. Como, por
exemplo, as brincadeiras que estão inseridas no dia a dia desses sujeitos, que são vistas como
intenso processo de aprendizagem e socialização, já que envolvem diferentes tipos de relações
entre as crianças e os mais velhos. Uma vez que essas brincadeiras são permeadas de cultura,
oralidade e memória desses sujeitos, e assim são formas de evidenciar a riqueza cultural e a
identidade dos povos estudados.
A memória foi indispensável para compreender e analisar a cultura e as práticas e
saberes tradicionais que se fazem presente dentro das aldeias são pela memória que as
interpretações dos fatos cotidianos destas comunidades indígenas se constituem em
conhecimento, além de possibilitar as análises das saudosas lembranças da infância e das
práticas de brincadeira dos mais velhos e do processo de ensino-aprendizagem contido na arte
de brincar.
Através das brincadeiras e brinquedos utilizados pelas crianças indígenas da região
do Tocantins, no Pará, das aldeias Anambé, no município de Mojú e Assuriní do Trocará, no
município de Tucuruí observamos que as crianças são carregadas de saberes, socializados nos
mais diversos espaços, sendo as crianças indígenas consideradas sujeitos sociais
importantíssimos na e da aldeia, atuando tanto no que diz respeito à cultura, religiosidade,
educação, quanto na economia voltada para a sobrevivência do grupo. São sujeitos sociais em
movimento no tempo presente que se engajam ativamente na constituição de laços afetivos e
de relações sociais em todos os espaços da aldeia pelos quais circulam. Os pequenos se
destacam em diferentes espaços, estão sempre envolvidos nos afazeres domésticos e nas etapas
de feitura de adornos ou artesanatos, pois, são os responsáveis pela coleta da matéria-prima,
confecção, e também pela venda dos artesanatos que os mais velhos fazem. Aprendem as
técnicas brincando e observando os pais, os avós, os tios e as outras crianças fazerem, desta
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forma as crianças crescem livres para trilharem os diferentes espaços, caminhando sempre em
grupo.
Na perspectiva cultural as crianças se mostram como sujeitos ativos, de modo que
elas criam e recriam formas culturais, estabelecendo diálogos com a identidade do seu povo,
visto que no momento em que brincam com brinquedos de origem não indígena a
transformam, incorporando características das suas etnias.
Portanto, a aquisição de saberes, aprendizados e conhecimentos das crianças
indígenas se concretiza por intermédio de brinquedos e das suas múltiplas brincadeiras,
executadas cotidianamente nos mais diversificados espaços, as quais possuem simbologias de
suma importância para a criança indígena, visto que são impregnadas de valores, princípios,
conhecimentos e saberes, pois é mediante brinquedos e brincadeiras que as crianças aprendem
mergulhar, remar, plantar, cozinhar, lavar roupa, pescar, caçar, trançar cestos, fazer farinha,
artesanatos, entro outros, sendo desta maneira a arte de brincar um movimento de resistência.
REFERÊNCIAS
FENELON, Déa Ribeiro, CRUZ, Heloisa de Faria, PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha.
In: Muitas Memórias Outras Histórias. São Paulo: Olho d`Àgua, 2009.
NUNES, Maria de Fátima Ribeiro. “Aprende Brincando”: a criança atuando entre o povo
Assuriní do Trocará, Município de Tucuruí-PA. Cametá, 2016 (Dissertação de Mestrado
em Educação e Cultura, PPGEDUC/UFPA-Cametá).