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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ


UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT
ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CONFORTO AMBIENTAL EM AMBIENTES DE TRABALHO COMPARTILHADO:


BENEFÍCIOS DA ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA E SEUS IMPACTOS NA
SAÚDE E PRODUTIVIDADE

Orientador: Amando Candeira Costa Filho


Aluno: Paulo Henrique das Neves Lassance Cunha

FORTALEZA – CE
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................03
2 JUSTIFICATIVA................................................................................................................04
3 OBJETIVOS DE PESQUISA.............................................................................................05
3.1 OBJETIVO GERAL.........................................................................................................05
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..........................................................................................05
4 METOLOGIA......................................................................................................................05
5 EVOLUÇÃO DOS AMBIENTES DE ESCRITÓRIO E SURGIMENTO DO
COWORKING........................................................................................................................06
5.1 MANIFESTAÇÃO DOS PRIMEIROS ESPAÇOS DE
ESCRITÓRIO........................06
5.2 ESCRITÓRIO TAYLORISTA........................................................................................08
5.3 OPEN PLAN OFFICE E SUAS
VARIAÇÕES...............................................................11
5.4 ESCRITÓRIO PANORÂMICO......................................................................................11
5.5 ESCRITÓRIOS NÃO-
TERRITORIAIS.........................................................................12
6. O SURGIMENTO DO ESCRITÓRIO
COMPARTILHADO.........................................13
7. COWORKING E O NOVO AMBIENTE DE
TRABALHO............................................13
8. QUALIDADE AMBIENTAL NOS AMBIENTES DE TRABALHO
COMPARTILHADO..............................................................................................................14
9. REFERÊNCIAS PROJETUAIS........................................................................................15
9.1 – CONTAINER
COWORKING.......................................................................................15
9.2 – DREAMPLEX OFFICE
BUILDING............................................................................18
9.3 – EDIFÍCIO
CORUJAS....................................................................................................20
9.4 ANÁLISE DOS PROJETOS DE
REFERÊNCIA...........................................................24
3

10. ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE


ESTUDO................................................25
11. PROPOSTA.......................................................................................................................27
12.
REFERÊNCIAS.................................................................................................................29

1 – INTRODUÇÃO
Antigamente, os ambientes de trabalho eram locais destinados exclusivamente à
realização das atividades laborais, os quais não possibilitavam a realização de qualquer outra
atividade que não fosse relacionada ao exercício profissional. Com isso, a distribuição
espacial destes ambientes, bem como sua organização interna, tinha o intuito de dificultar
qualquer desvio da atividade trabalhista, fosse ele provocado por uma condição do espaço ou
pela interação com os demais indivíduos.
Dessa forma, visando produtividade e economia, de maneira equivocada, as empresas
disponibilizavam ambientes pequenos e isolados, seguindo uma ideia ultrapassada de
hierarquia corporativa, carentes de qualquer estímulo físico ou social capaz de firmar reais
relações dentro da empresa, bem como de condições confortáveis do ponto de vista térmico e
acústico. Além disso, esses espaços eram - e ainda são, por vezes - totalmente iluminados e
climatizados artificialmente, o que pode acarretar em diversos problemas no que tange a saúde
e qualidade de vida das pessoas, e configurar um caso de Síndrome do Edifício Doente – SED
(1982).
A SED foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1982, e trata-
se de um conjunto de doenças desencadeadas pela proliferação de microrganismos infecciosos
e partículas químicas em ambientes fechados, podendo causar fadiga, dores musculares,
estresse, sonolência, e até doenças mais graves, como depressão, gripes ou resfriados. A
enfermidade pode ocorrer de diferentes formas durante o ciclo de vida de uma edificação,
podendo acontecer imediatamente após a ocupação de um novo edifício, devido a dispersão
de materiais de construção particulados acumulados no ar ou, posteriormente, devido ao
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envelhecimento ou manutenção incorreta dos sistemas de ar condicionado, que propiciam a


emissão de gases poluentes também agressivos à saúde (TEIXEIRA, D.B. et al., 2005).
Ademais, erros projetuais ou de execução da obra, bem como o uso de materiais
inadequados ou de baixa qualidade, também podem gerar estas adversidades. No final do
século XIX começaram a ser apontados os reais impactos da ausência de qualidade ambiental
nos espaços de trabalho no que diz respeito a qualidade de vida das pessoas e sua
produtividade. Rozenfeld (2006) aponta que o desconforto gerado por fatores ambientais
como iluminação, temperatura, qualidade do ar e ruídos, influenciam negativamente na
produtividade. Da mesma forma, Lucas (2016) assinala que, quando esses sistemas são falhos
ou não estão favoráveis às necessidades dos ocupantes, podem ocorrer danos ao estado de
conforto e consequentemente no desempenho das atividades do profissional.
Dessa forma, é de grande importância o conhecimento das condições ambientais nas
quais os profissionais estão submetidos, levando em consideração a disposição do espaço
físico (paredes, aberturas, esquadrias, etc), suas condicionantes ambientais (orientação solar,
ventilação e ruídos) e as formas de manutenção deste espaço, uma vez que estas estão
intimamente ligadas à qualidade de vida dos trabalhadores, influenciando diretamente no
desempenho de suas atividades, bem como na prevenção de doenças ocupacionais que as más
condições do ambiente podem ocasionar.

2. JUSTIFICATIVA
Nos últimos anos, as mudanças nas práticas empresariais de grandes entidades
modernas, como a Google, mudaram consideravelmente a forma como trabalhar no escritório.
Ao perceberem os benefícios da utilização de ambientes de trabalho open space - espaço
aberto, compartilhado – na atualidade, deixaram de lado o conceito monótono da antiga rotina
de trabalho em ambientes isolados e passaram a introduzir novos estímulos à jornada de
trabalho. Foram incluídos novos ambientes e práticas, que antes não faziam parte do
programa de necessidades ou da cultura de uma empresa, como salas de reunião informal,
salas de descompressão, salas de descanso, espaços de lazer e prática esportiva.
Com isso, o espaço de trabalho se tornou um ambiente mais agradável e diversificado,
capaz de estimular o processo criativo, aumentar o senso de pertencimento e oferecer
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dinamismo no cotidiano dos profissionais, promovendo transparência, liberdade, e até mesmo


facilitando a aplicação de soluções bioclimáticas para promover o conforto de seus usuários.
Além disso, no atual momento histórico pós-pandemia, sem dúvida, o tema saúde
ocupacional tem se apresentado como um tema de extrema relevância e discussão no âmbito
organizacional das empresas. No mercado altamente competitivo em que vivemos, no qual a
produtividade e a eficiência são imprescindíveis para a conquista de bons resultados, é
importante que sejam idealizados espaços por meio de estratégias bioclimáticas, capazes de
melhorar o bem-estar físico, psicológico e social das pessoas, contribuir com o aumento de
sua produtividade e motivação. Além disso, evitar possíveis afastamentos ou incapacidades
devido a problemas de saúde e evitar gastos desnecessários com iluminação e ventilação
artificiais.
Nessa perspectiva, seguindo as atuais tendências e necessidades de organização física
e social dos ambientes de trabalho, os espaços coworking surgem como uma opção bastante
interessante para as empresas, startups ou freelancers. São espaços adaptados que fornecem
ambientes diversos e personalizados, possibilitando a realização de diversos tipos de
atividades, profissionais ou não, de acordo com a necessidade, além de estimular a troca de
experiências entre profissionais de diferentes áreas de atuação.
Portanto, a concepção destes ambientes de trabalho compartilhado em conformidade
com um projeto arquitetônico que aplique estratégias bioclimáticas inerentes ao local,
possibilita a criação de um ambiente confortável do ponto de vista térmico, lumínico, acústico
e social, capaz atender as necessidades e expectativas da nova geração de trabalhadores,
melhorar a qualidade de vida dos usuários, aumentar sua produtividade e evitar possíveis
problemas de saúde.

3. OBJETIVOS DE PESQUISA
3.1. OBJETIVO GERAL
Este trabalho tem como objetivo desenvolver o projeto arquitetônico de um edifício
coworking com foco no conforto ambiental, apresentando uma forma sustentável de se pensar
novos ambientes de trabalho, cada vez mais integrados e capazes de impactar positivamente a
saúde e a qualidade de vida de seus usuários.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS


- Constatar os impactos da arquitetura na qualidade dos ambientes de trabalho.
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- Analisar as características espaciais e ambientais de coworkings existentes, destacando seus


problemas e potencialidades.
- Demonstrar os benefícios da aplicação de estratégias bioclimáticas em edifício coworking
- Levantar e analisar as condicionantes urbanísticas e ambientais do terreno e seu entorno, a
fim propor estratégias bioclimáticas adequadas para local de projeto

4. METODOLOGIA
Este trabalho foi realizado por meio de extensa pesquisa com enfoque no conforto
ambiental em ambientes de trabalho compartilhado, buscando uma melhor compreensão
acerca dos reais impactos da arquitetura não só na organização física do espaço laboral, mas
na qualidade de vida das pessoas que o usufruem.
A pesquisa teve carácter qualitativo, feita com base em referências bibliográficas e
documentais acerca do tema. Além disso, foram analisados diversos estudos científicos
quantitativos, capazes de comprovar na prática a capacidade da arquitetura de impactar na
qualidade ambiental dos espaços e, consequentemente, na saúde e qualidade de vida das
pessoas.
Por fim, com o embasamento teórico solidificado e uma completa análise do terreno
escolhido, foi possível identificar as condicionantes - urbanísticas, ambientais e sociais - do
espaço em questão e estabelecer estratégias bioclimáticas apropriadas para a realização do
projeto arquitetônico de um coworking capaz de proporcionar um ambiente confortável, do
ponto de vista ambiental, e favorecer a saúde ocupacional dos usuários.

5. EVOLUÇÃO DOS AMBIENTES DE ESCRITÓRIO E SURGIMENTO DO


COWORKING
Para compreender os conceitos dos espaços de trabalho atuais, tanto na questão
espacial quanto ideológica, se faz necessário entender as mudanças ocorridas nestes ambientes
ao longo da história, compreendendo as circunstâncias que ocasionaram a caracterização do
termo e do espaço, e suas transformações ao longo do tempo. Para isso, será apresentado o
contexto dessa evolução, partindo do surgimento dos primeiros escritórios, na Idade Média, e
seguindo até o período contemporâneo. Dessa forma, serão esclarecidos diversos fatores que
influenciaram a concepção dos espaços de trabalho atuais, consonante à ideia de que:
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(...) a evolução dos escritórios ao longo do tempo revela o investimento da sociedade


humana na criação de formas de organização do trabalho voltadas para a
maximização da eficiência na gestão de problemas econômicos e sociais cada vez
mais complexos e dinâmicos. (CALDEIRA, 2005)

5.1 MANIFESTAÇÃO DOS PRIMEIROS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIO


Na Idade Média, que tem como marco histórico inicial a queda do Império Romano,
em 476 d.C., o sistema escravista estava em declínio, dando lugar ao sistema servil de
produção, baseado no Feudalismo (SOUSA, 2019). Nessa época, na qual a igreja católica era
praticamente a única detentora do conhecimento, surgiram os primeiros escritórios nos
mosteiros europeus, como espaços utilizados pelos monges para a produção intelectual. O
scriptorium era um local destinado à escrita e à reprodução dos livros manuscritos pelos
escribas monásticos. Esse trabalho era realizado por mais de seis horas por dia e muitas vezes
em pé, podendo ser comparado a penitência, pois era penoso e cansativo para os copistas que,
por medo de incêndios, evitavam ao máximo a utilização de luz artificial. (SICILIANO, 2016)

Figura x: Escriba monástico

Fonte: https://frontispicio.wordpress.com/2016/02/12/o-scriptorium-devocao-trabalho-e-memoria/

Durante o período do Renascimento, a partir do século XIII, o intelecto transformou-se


de religioso para comercial e científico, tornando pela primeira vez o salário como algo moral.
Tarefas voltadas para a classificação e o arquivamento de informações continuaram sendo
importantes para os intelectuais e o comércio, porém outras atividades passaram a ser
exercidas nos escritórios, como a contabilidade e a elaboração de contratos, vindo mais tarde a
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ser utilizados para a engenharia e criação artística (CAGNOL, 2013). Dessa forma, artistas e
escritores passaram a usufruir os escritórios como espaços de isolamento independentes para o
desenvolvimento de suas técnicas e pesquisas, demonstrando os primeiros indícios de
empreendedorismo por meio do trabalho individual especializado.
Nesse período, devido à centralização dos estados da Europa, as atividades
administrativas aumentaram acentuadamente, sendo o Palácio Uffizi um marco histórico da
época por ser um dos primeiros prédios administrativos especializados, segundo Caldeira
(2005). O edifício, que está localizado em Florença, na Itália, foi projetado por Giorgio Vasari
em 1560, a pedido de Cosmo I de Médici, com o intuito de reunir em um só local os
escritórios (uffizi) dos treze principais magistrados da cidade, constituindo, portanto, uma
inovação na medida em que criou uma tipologia até o momento inexistente.

Figura x: Palácio Uffizi

Fonte: https://www.romapravoce.com/galleria-degli-uffizi-florenca/

Dessa forma, o trabalho de escritório esteve sempre associado a tarefas administrativas


e de produção intelectual. O processamento cada vez mais rápido das informações, bem como
a busca por uma produtividade cada vez maior, causou mudanças no espaço de trabalho ao
longo dos séculos. Cagnol (2013) declara que do século XVII ao século XVIII houve a intensa
expansão das atividades e organizações administrativas uma vez que, com a centralização do
estado, havia a necessidade de arquivar os documentos pertencentes a Ele.
Nesse contexto, as características marcantes do escritório eram o isolamento e a
concentração forçada, com o intuito de impor a disciplina e aumentar a produtividade do
trabalhador, em detrimento de sua qualidade de vida.
Segundo Fonseca (2004), a Revolução Industrial, registrou um marco histórico nos
espaços de escritório, visto que, resultante ao grande desenvolvimento tecnológico, tornou-se
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indispensável a efetivação administrativa para a gestão da produção. Sendo assim, fez-se


necessário a implantação de espaços de escritório nos locais de trabalho, visando o controle e
a organização da produção.

5.2 ESCRITÓRIO TAYLORISTA

No final do século XIX, a nova escala de produção e a concorrência favoreceram o


surgimento de uma série de estudos e doutrinas voltadas para a racionalização e o aumento da
eficiência no trabalho fabril e administrativo. Nesse contexto, surgiram nos Estados Unidos os
primeiros escritórios comerciais que – graças a invenções como o telefone e a ferrovia –
puderam se localizar separadamente da área de produção (CAGNOL, 2013).
Nesse contexto, surgiu a primeira teoria administrativa científica do trabalho,
elaborada por Frederick W. Taylor (1856-1915) – o taylorismo. O modelo taylorista é um
sistema de gestão do trabalho baseado em diversas técnicas para o melhor aproveitamento da
mão de obra contratada, englobando desde a organização e gestão do trabalho à configuração
do layout – janelas, portas, corredores, ventiladores e luminárias – dos locais que abrigavam
as atividades laborais (FONSECA, 2004).
Os escritórios tayloristas eram projetados como grandes pátios, onde os funcionários
eram organizados em linhas de produção, seguindo uma ordem rigorosa, racional e funcional,
enquanto os supervisores eram alocados em mezaninos, com melhores condições de conforto,
de onde poderiam supervisionar o trabalho dos empregados. Essa arquitetura, segundo
Fonseca (2004), apesar de fisicamente separada da fábrica, apresentava uma organização
espacial que lembrava a planta industrial, ou seja, preconizando a segregação espacial como
meio de reafirmar as diferenças hierárquicas, visando o incentivo da competição interna e o
estímulo das performances individuais.
Figura x: Escritório taylorista
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Fonte: https://arqnathaliamello.files.wordpress.com/2012/05/artigo-1-anc3a1lise-da-forma.pdf

Em 1871, a cidade de Chicago precisou ser reconstruída de forma rápida e eficaz após
um grande incêndio que a deixou parcialmente destruída. Com isso, surgiu a Escola de
Chicago, um movimento arquitetônico que se utilizava da produção em série para a
construção de edificações com estrutura de aço e concreto armado, liberando as fachadas e
paredes internas de sua função estrutural e permitindo elevar as torres, criar plantas livres e
descolar os pilares das fachadas – para, então, envidraçá-las (CALDEIRA, 2005). Esse
movimento de cunho inovador contribuiu de maneira decisiva para a definição de uma nova
tipologia de edifícios de escritório – indicando o nascimento da arquitetura comercial.
Segundo Cagnol (2013), o célebre arquiteto Frank Lloyd Wright foi o primeiro a
encarar de uma forma global e integrada o projeto arquitetônico e o design de interiores e de
instrumentos de trabalho específicos – como a cadeira de rodízio. Um exemplo disso é o
projeto do Larkin Building, 1904, em Buffalo. Wright propôs layouts mais flexíveis de
ocupação dos espaços corporativos, abriu grandes claraboias sobre os trabalhadores,
privilegiou todos os funcionários – independente de seus cargos –, e introduziu o ar
condicionado para a climatização do ambiente.
Figura x: Larkin Building
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Fonte:
Segundo Shoshkes (1976 apud FONSECA, 2004), na década de 1930, após a Primeira
Guerra Mundial, arquitetos, designers de interiores e outros profissionais começaram a se
preocupar com questões relacionadas ao trabalho e como o ambiente laboral poderia ser
melhor projetado de acordo com as necessidades de seus usuários. Nas décadas seguintes,
questões projetuais e ambientais dos espaços de trabalho foram analisadas e revisadas com o
objetivo de propor ambientes capazes de melhorar a qualidade de vida e aumentar a
produtividade dos funcionários.
Em 1927, o psicólogo australiano George Elton Mayo (1880-1949) coordenou a
experiência Hawthorne, na fábrica da Western Electric Company, em Chicago. Seu objetivo
era determinar o efeito das condições de trabalho sobre a produtividade, compreendendo
aspectos como a relação entre a intensidade luminosa e a eficiência, bem como a fadiga,
acidentes no trabalho e a rotatividade do pessoal.
Segundo Fonseca (2004), Mayo foi, portanto, foi o primeiro a criticar o modelo
taylorista, propondo a substituição do método coercitivo pelo emprego da psicossociologia e
da comunicação interna, buscando democratizar a administração nas frentes de trabalho das
indústrias e fazendo com que os funcionários se sentissem participantes das decisões da
empresa, o que aumentaria sua produtividade.

5.3 OPEN PLAN OFFICE E SUAS VARIAÇÕES


Segundo Chávez (2002), durante as décadas de 1950 e 1960, nos Estados Unidos,
principalmente, foram concebidas novas formas de organização do espaço de trabalho.
Primeiramente surgiu o General Office ou Bull Pen, que se baseava em um ordenamento no
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qual os chefes se posicionavam no perímetro do pavimento e os funcionários no centro.


Depois surgiu o Single Office ou escritório individual, aonde novamente os executivos se
situavam na periferia, mas desta vez não havia o centro ocupado pelos demais funcionários.
A partir destes dois modelos surgiu o Executive Core, que – ao contrário dos outros
sistemas – continha a ocupação dos gerentes executivos na área central e dos funcionários nas
extremidades, o qual não teve muito êxito
Por fim, originou-se a proposta do Open Plan, que consistia em um escritório com
planta livre. Segundo Fonseca (2004), este modelo foi considerado um grande avanço na
concepção dos espaços de trabalho, pois permitia maior rapidez nas comunicações,
apresentava ótima flexibilidade e reduzia consideravelmente as diferenças hierárquicas.

5.4 ESCRITÓRIO PANORÂMICO


Na Alemanha, simultaneamente ao Open Plan, surgiu um novo sistema de
planejamento de escritórios, conhecido como Bürolanschaft ou Office Landscape – o
escritório panorâmico. A proposta, apresentada em 1958 pela empresa de consultoria alemã
Quickborner Team, sugeria a construção do espaço em planta livre, sem paredes fixas,
buscando uma maior facilidade de interação entre as pessoas e maior velocidade de
comunicação.
Dessa forma, em oposição ao sistema taylorista, sua concepção espacial se baseava em
um layout mais integrado e orgânico, dispondo os mobiliários segundo linhas de fluxo e
relações de proximidade, definidas a partir da realidade das inter-relações cotidianas entre as
pessoas, documentos e informações, criando assim um aspecto mais humano no mundo
corporativo (FONSECA, 2004). Segundo Novaes (2013) o escritório panorâmico:

[...] permitia maior flexibilidade, defendendo que o aumento da produtividade


poderia ser alcançado através de políticas de valorização do funcionário e estímulos
à competição. Com a intenção de tornar o ambiente de trabalho mais informal e
humano foram adotadas plantas ornamentais e peças decorativas, além da existência
de áreas de convivência conhecidas como Lounge Areas, que funcionavam como
salas de estar para a integração dos funcionários.
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Nesse contexto, várias empresas europeias passaram a adotar rapidamente esta


concepção em seus espaços de trabalho, de modo que no início da década de 60 o sistema já
se encontrava implantado em países como Inglaterra, Espanha e Holanda (FONSECA, 2004).
Além disso, segundo Abrantes (2004) apud Novaes (2013), no final da década de 60 os
EUA também adotaram o modelo de escritório panorâmico, porém mantendo a separação
entre funcionários posicionados na área central e os gerentes nas salas privativas, e
promovendo adaptações como coffee-bars para a promoção de espaços de lazer e convívio.

5.5 ESCRITÓRIOS NÃO-TERRITORIAIS

A tecnologia, o crescimento dos grandes centros urbanos, a vida corrida do século XXI
e as novas formas de trabalho revolucionaram a maneira como as pessoas lidam com essa
parte de suas vidas. Os modelos tradicionais de escritórios não atendem mais às necessidades
das empresas e muito menos dos profissionais.
Tecnologias como Skype, Zoom e outras ferramentas de comunicação virtual
começaram a permitir a implementação do trabalho remoto. Um colaborador pode estar no
Japão e trabalhar para uma empresa dos Estados Unidos. Isso, inclusive, tem sido incentivado
e visto como uma grande vantagem e oportunidade para as organizações.
Com isso, a necessidade de revolucionar os espaços de trabalho também surgiu de
forma latente. Os escritórios passaram a se tornar ambientes descontraídos, que incentivam a
criatividade, o trabalho em equipe e promovem o conforto, a praticidade e a estrutura
necessários para um profissional moderno.
A partir daí foi criado, também, o conceito de coworking, ou seja, um ambiente
compartilhado para profissionais remotos, empresas modernas e quem mais quiser fazer parte
de uma nova forma de trabalho.

6. O SURGIMENTO DO ESCRITÓRIO COMPARTILHADO

Em 1999, o designer de games estadunidense Bernard De Koven criou o termo


“coworking” para descrever algo como “extensão do trabalho no ambiente online”. Algo que
não tem muito a ver com o conceito que conhecemos hoje, já que os coworkings são um
espaço físico e não virtual.
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No entanto, em 2005, o engenheiro de software Brad Neuberg decidiu criar um novo


tipo de espaço para apoiar a comunidade e criar uma estrutura de trabalho colaborativa, dando
o nome de coworking. Esse é o início da história do escritório compartilhado, juntamente com
o surgimento da economia colaborativa.
Dentro desse contexto, vale dizer que os escritórios compartilhados evoluíram muito
nos últimos 15 anos. Eles se tornaram uma tendência mundial quando o assunto é espaço de
trabalho.
Os coworkings oferecem o melhor de dois mundos: a liberdade de um local
descontraído aliada e uma estrutura física completa. São escritórios que que incentivam a
convivência e o compartilhamento, preocupando-se em suprir as necessidades das empresas e
dos profissionais.

7. COWORKING E O NOVO AMBIENTE DE TRABALHO

Segundo o Coworking Brasil, maior referência nacional sobre o tema, “Coworking é


uma nova forma de pensar o ambiente de trabalho. Seguindo as tendências do freelancing e
das startups, os coworkings reúnem diariamente milhares de pessoas a fim de trabalhar em um
ambiente inspirador”. São espaços que fornecem toda a estrutura necessária para que
empresas ou pessoas que trabalham individualmente possam desenvolver seus projetos e
negócios, utilizando uma infraestrutura muitas vezes melhor que a de um escritório
tradicional, oferecendo diversos tipos de ambientes e práticas, fomentando o
compartilhamento dos espaços e, com isso, construindo uma nova cultura de trabalho.

É fato que as relações de trabalho estão sempre em constante mudança, se adequando


às necessidades das empresas e sendo moldadas de acordo com as formas como as relações
sociais são estabelecidas pelas pessoas. Nesse contexto, durante a pandemia da COVID-19, o
home-office foi estabelecido como método obrigatório em grande parte das áreas profissionais
e estudantis. Ao trabalhar de casa, as pessoas se acostumaram a ter a presença de filhos,
animais, café, almoço, cama, sofá, petiscos e tudo que precisam a poucos passos de distância e
isso é uma comodidade que os trabalhadores não querem perder com o retorno de suas
atividades profissionais.
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Portanto, o coworking pós-pandemia, para ser bem sucedido e amplamente utilizado


pelos trabalhadores, deve contar – além de internet estável e de alta velocidade – com
bibliotecas, salas de descanso, auditório, cafés, restaurantes e até mesmo espaços para
crianças ou animais.
Empresas e profissionais independentes, que valorizam a criatividade e inovação,
buscam por estes espaços personalizados e democráticos, nos quais possam desenvolver seus
projetos e expandir sua rede de contatos de forma confortável e produtiva, sem o isolamento
do home office ou as distrações dos espaços públicos.

8. QUALIDADE AMBIENTAL NOS AMBIENTES DE TRABALHO


COMPARTILHADO
Por suas propostas inovadoras o sistema Open Plan Office e Office Landscape, ambos
baseados no arranjo físico em planta livre, foram amplamente difundidos entre as empresas
administrativas. No entanto, estudos posteriores evidenciaram a carência das condições
ambientais destes espaços. Os funcionários estavam submetidos a altos níveis de distração,
provenientes de conversas paralelas, toques de telefones, ruído de máquinas,..., o que
comprometia o desenvolvimento de seu trabalho, apresentavam pouca privacidade e
encontravam-se impossibilitados de exercer controle sobre os sistemas ambientais
(temperatura e iluminação).

9. REFERÊNCIAS PROJETUAIS

9.1 – CONTAINER COWORKING


O Container Coworking é um escritório compartilhado que está localizado no
município de Itajaí, Santa Catarina. É um projeto do arquiteto Rodrigo Kirck que data de 2016
e conta com uma área total de 135 m².
Figura x: Fachada principal
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Fonte: Archdaily

O projeto Container, situado na cidade portuária de Itajaí (SC) tem como objetivo
intervir sobre um modelo conceitual, interagir com as questões da sustentabilidade,
propor uma construção modular industrializada e ao mesmo tempo possibilitar,
através da arquitetura e criatividade, a aproximação com a natureza e arte (Rodrigo
Kirck, 2016).

Figura x: Recepção

Fonte: Archdaily
O projeto conta com a disposição de containers sobrepostos criando dois volumes,
com a presença de grandes esquadrias na fachada e separados por uma escada central que
possui um sistema de abertura zenital em seu topo, permitindo um maior aproveitamento da
iluminação natural.
Figura x: Iluminação zenital, frontal e circulação vertical
17

Fonte: Archdaily

Além disso, sobres os containers estão instalados dois grandes telhados-jardins, que
ajudam a reduzir o impacto da radiação solar, captam a água das chuvas para sua reutilização
e funcionam como um reservatório de águas pluviais, diminuindo o impacto no sistema de
coleta pública.
Figura x: Perspectiva paralela

Fonte: Archdaily

Dessa forma, apesar de bastante compacto, o edifício cumpre bem sua função,
demonstrando inovação e preocupação com o conforto ambiental, além de apresentar uma
forte identidade, representada pela harmonia entre o design, os materiais, as cores e as artes,
que fazem menção à origem indígena do arquiteto, aos laços afetivos que mantém com a
cidade de Itajaí e a sua ligação com a indústria naval.

Figura x: Planta pavimento térreo


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Fonte: Archdaily

Figura x: Planta pavimento superior

Fonte: Archdaily

9.2 – DREAMPLEX OFFICE BUILDING


Localizado na cidade de Ho Chi Minh, no Vietnã, o edifício de 380 m² foi projetado no
ano de 2020 pelo escritório T3 Architects, especializado em arquitetura sustentável e design
contemporâneo.
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Imagem x: Fachada principal

Fonte: Archdaily

O projeto se iniciou devido a necessidade de renovação de um edifício existente, com a


perspectiva de conceber um espaço de trabalho capaz de melhorar o dia de seus usuários. Para
isso, o edifício propõe mais de dez ambientes de trabalho distintos, com diferentes designs e
tonalidades, com o intuito de fornecer diferentes opções que melhor se adequem ao humor e
às necessidades das pessoas, como inspiração, concentração, calma ou conforto.

Figura x: Recanto de encontro

Fonte: Archdaily
Figura x: Sala de reunião e circulações.
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Fonte: Archdaily

Para os arquitetos, era importante que o edifício transmitisse a real sensação de estar
situado no Vietnã, proporcionando plena vista do entorno e trazendo um conceito tropical por
meio da vegetação e da utilização de materiais de origem local como o bambu, pedra, reboco
de cal e madeira maciça.
Além disso, o projeto adotou algumas estratégias bioclimáticas com o intuito de tornar o
edifício sustentável e eficiente energeticamente. Sua estrutura original foi mantida e foi criado
um jardim tropical – quebrando a laje de concreto existente ao ar livre, trazendo de volta o
solo natural e permeável. Foram implementadas, também, grandes portas de correr no
pavimento térreo, criando uma ligação com o jardim exterior e maximizando a circulação de
ar.

Figura x: Pavimento térreo - recepção

Fonte: Archdaily
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Ademais, foi proposta uma fachada ventilada com a utilização de bambu e persianas –
horizontais e verticais – como elementos de proteção solar, projetados especificamente para
cada orientação/fachada para reduzir o excesso de iluminação e melhorar o conforto dos
clientes.
Figura x: Fachada ventilada e elementos de proteção solar

Fonte: Archdaily
9.3 – EDIFÍCIO CORUJAS
O edifício comercial possui 6880m² de área construída e está localizado na Vila
Madalena, em São Paulo. Seu projeto foi realizado em 2012, pelo escritório FGFM
Arquitetos, e teve sua obra concluída em 2014. Sua proposta, segundo os arquitetos, era de
criar um espaço mais humanizado para o trabalho, em oposição a tipologia dos edifícios
verticais com fachadas em vidro espelhado, que se repetem constantemente na arquitetura
comercial.

Figura x: Fachada Edifício Corujas


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Fonte: Archdaily
Devido ao formato do lote e o gabarito local de apenas nove metros, buscou-se uma
solução horizontal, com a perspectiva de criar uma arquitetura que possibilitasse que os
escritórios tivessem, além de suas áreas fechadas, espaços avarandados generosos para
reuniões externas, e jardins próprios, privativos.
Figura x: Jardim privativo

Fonte: Archdaily

Dividida em dois blocos, a edificação conta com amplas salas com iluminação natural,
salas de reunião em locais abertos e áreas comuns que visam a integração entre as pessoas,
conectando todos os espaços a um átrio arborizado, que estabelece uma praça central.
Figura x: Praça central

Fonte: Archdaily
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O pavimento térreo da edificação possui maior volume, chegando a encostar nos limites
vizinhos, e é todo envelopado em madeira, para intensificar ainda mais essa diferenciação. Já os
pavimentos superiores, com menor volume, possuem grandes fachadas envidraçadas em meio à
estrutura metálica e de concreto pré-moldado aparentes, conferindo leveza à edificação e
permitindo a entrada de iluminação natural.

Figura x: Relação do térreo com os pavimentos superiores

Fonte: Archdaily

Segundo os arquitetos, a espacialidade atingida neste projeto se demonstra extremamente


adequada para o clima de São Paulo e em especial ao local, no bairro boêmio e cultural da Vila
Madalena, em que a escala do pedestre e o convívio entre as pessoas está em primeiro plano.

Figura x: Relação com o entorno

Fonte: Archdaily
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Há na edificação, no intuito de reforçar essas questões, muitas áreas de convívio,


bicicletário, vestiários comuns e até um café para que os usuários se conheçam e
possam inclusive trabalhar nas áreas comuns, criando quase uma microcomunidade.
É o total oposto dos modernos prédios de escritório, que segregam ao máximo os
usuários uns dos outros (FGFM Arquitetos, 2014).

Figura x: Espaço de convívio

Fonte: Archdaily

Figura x: Espaço de convívio

Fonte: Archdaily
25

9.4 ANÁLISE DOS PROJETOS DE REFERÊNCIA


Por meio da análise e comparação dos projetos de referência apresentados acima,
podem ser observados diferentes aspectos capazes de se relacionar com a elaboração e
desenvolvimento do projeto arquitetônico de Coworking proposto neste trabalho. Dessa
forma, os conhecimentos adquiridos podem facilitar na tomada de decisões no que diz
respeito à aplicação das melhores técnicas e estratégias para o cumprimento do programa de
necessidades.
O projeto Container Coworking, apresenta soluções bastante interessantes, utilizando
containers industrializados para a concepção de um espaço único e repleto de identidade.
Segundo a empresa Itajaí Containers, esse tipo de edificação – se comparada com as
construções tradicionais em alvenaria – é mais barata e mais sustentável, devido ao fato de ser
constituída de peças de metal pré-fabricadas, configurando uma estrutura leve e que não
necessita de fundações profundas. Dessa forma, os containers possuem fácil instalação e são
pouco agressivos ao ambiente, possibilitando inclusive a realocação do edifício ou a sua
reutilização.
Apesar de possuir alguns tamanhos pré-estabelecidos, as estruturas podem ser
alteradas por meio de recortes, agrupamentos ou sobreposições, possibilitando que o arquiteto
tenha liberdade para trabalhar com os volumes e aberturas da melhor forma. Vale ressaltar
que, por se tratar de um material metálico, é de extrema importância a utilização de
revestimento térmico e de estratégias capazes de promover o controle térmico dos ambientes,
evitando temperaturas extremas e fornecendo espaços agradáveis.
Nesse contexto, podemos destacar no Container Coworking a utilização de algumas
estratégias bioclimáticas para o melhor aproveitamento das condições naturais do local.
Dentre elas a utilização de grandes esquadrias na fachada frontal e criação de lanternins,
permitindo a entrada da iluminação natural; e aplicação de telhados verdes, reduzindo o
impacto direto da radiação solar e captando a água das chuvas, possibilitando ao edifício
melhor eficiência energética.
Ao analisar o edifício Dreamplex, são percebidas algumas semelhanças em relação ao
Container Coworking, como a preocupação com o conforto ambiental, a utilização de
estrutura metálica – neste caso já existente – e a identidade única do projeto, representada pela
utilização de materiais locais.
Quanto ao conforto ambiental, o edifício também apresenta estratégias bioclimáticas
para o melhor aumento da eficiência energética por meio do aproveitamento das condições
26

naturais. O projeto levou em consideração as condições de insolação do local, propondo em


toda a fachada a utilização do bambu em conjunto com persianas – horizontais e verticais –
como elementos de proteção solar, criando uma fachada ventilada capaz de tornar os
ambientes internos mais confortáveis, e contribuindo, também, para a singularidade da
fachada. Para a ventilação, foram propostas grandes portas de correr no térreo, como forma de
facilitar a circulação do ar natural e promover a integração entre a área edificada e o jardim
externo, fornecendo diversos ambientes de descanso e interação social.
Ademais, a utilização de materiais locais, além de contribuir para a concepção da
identidade do projeto, propiciam um maior senso de pertencimento aos usuários, por meio do
estabelecimento de uma conexão entre sua memória afetiva e a arquitetura. Dessa forma, a
aplicação desses materiais pode contribuir com a formação de um vínculo real das pessoas
com o edifício ao transmitir sensações de familiaridade, conforto e bem-estar.
Por último, ao observar o Edifício Corujas, uma característica que merece destaque é a
sua solução horizontal – diferente da maioria edifícios comerciais, que optam pela
verticalização. Esse aspecto faz com que a edificação se misture à paisagem urbana local na
medida em que leva em consideração a escala humana e mantém uma boa relação com o
entorno.
Além disso, podemos perceber algumas semelhanças com os projetos anteriores, como
a utilização de estruturas metálicas e pré-fabricadas, uso de grandes esquadrias de vidro para a
iluminação natural, presença de elementos de proteção solar, disposição de áreas externas de
convívio conectadas à edificação e presença de telhados verdes com sistema de captação e
reutilização de águas pluviais.
Dessa forma, conclui-se que um projeto realizado com base em estudos aprofundados
quanto às características ambientas, físicas e sociais do espaço, é capaz de conceber uma
edificação por meio de estratégias bioclimáticas capazes atender ao programa de necessidades
e conferir ao projeto conforto ambiental e identidade.

10. ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ESTUDO


O terreno escolhido para a implantação do projeto arquitetônico está localizado no
bairro Aldeota, na cidade de Fortaleza, Ceará. Situado no território 7 da Regional II, o Bairro
possui área de 3,88 km² e é limitado ao norte pelo bairro Meireles, ao sul pelos bairros
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Joaquim Távora e Dionísio Torres, ao leste pelos bairros Varjota e Cocó e à oeste pelo bairro
Centro.

Figura x: Localização do bairro Aldeota em Fortaleza.

Fonte: Prefeitura de Fortaleza (Elaborado pelo autor)

Segundo estudo feito pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico


(SDE) em 2010, o bairro Aldeota possui um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de
0,867, encontrando-se em segundo lugar no ranking de Fortaleza, atrás somente do bairro
Meireles, que possui 0,953. Esses índices são considerados muito altos, principalmente se
comparados ao de outros bairros, que giram em torno de 0,1 à 0,2, nos piores casos. Dessa
forma, a Aldeota se apresenta como um dos principais e mais desenvolvidos bairros da cidade,
possuindo os melhores sistemas de infraestrutura, mobilidade, saúde e educação de Fortaleza.

Dentre as diversas... Segundo dados do site da Prefeitura de Fortaleza, o Bairro possui 16.852
inscrições comerciais e 18.167 inscrições residenciais, o que demonstra o equilíbrio e a
diversidade entre os usos, indicando ser uma área propícia tanto à moradia quanto ao
empreendimento, conferindo sentido à proposta de projeto.

Além disso, com sua área de 3,88 km², o bairro possui um amplo sistema de transporte
público, contando com diversas linhas de ônibus e algumas ciclofaixas. Seu acesso é facilitado
pelas principais avenidas, como a Santos Dumont, Dom Luís e Heráclito Graça, no sentido
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Leste-Oeste, e as avenidas Barão de Studart, Desembargador Moreira e Virgílio Távora, no


sentido Norte-Sul, permitindo um fácil deslocamento tanto entre a Aldeota e bairros
adjacentes quanto dentro do próprio bairro.
O terreno, que possui área de aproximadamente 1600m², está localizado no
cruzamento entre a Rua Osvaldo Cruz e Rua Desembargador Leite Albuquerque. As duas vias
são classificadas como locais, possuindo, portanto, um tráfego menos intenso de veículos.
Além disso, ambas possuem ciclofaixa, facilitando a utilização deste tipo de deslocamento.

11. PROPOSTA
O bairro Aldeota, como um dos mais economicamente ativos de Fortaleza, é repleto de
ambientes de trabalho, sejam eles escritórios particulares das empresas, salas privadas
alugadas em edifícios comerciais ou espaços reservados para esta função nas próprias
habitações – home office. Porém, apesar da ampla existência destes espaços, percebemos,
principalmente nos grandes edifícios comerciais, uma arquitetura inadequada para a região,
constituindo basicamente uma reprodução das tipologias de grandes edifícios comerciais de
sucesso no exterior, sem levar em consideração as particularidades da região de implantação,
produzindo, portanto, uma arquitetura pouco eficiente e sem identidade.
Dessa forma, muitos projetos são realizados sem um estudo aprofundado no que tange
as características bioclimáticas da área de implantação e a melhor forma de se aproveitar
dessas condições naturais, priorizando a estética do edifício em detrimento de seu conforto
29

ambiental e de sua funcionalidade. Com isso, estas edificações apresentam baixa eficiência
energética e, por conseguinte, maiores custos quanto ao consumo de energia elétrica, devido o
constante uso da iluminação artificial e de sistemas de refrigeração. Além disso, prejudicam a
produtividade e a qualidade de vida dos usuários, devido ao desequilíbrio do seu ciclo
circadiano, além do ofuscamento pela luz direta do sol – em decorrência das grandes fachadas
de vidro e ausência de elementos de proteção solar – e a dificuldade de se manter um nível de
insolação e temperatura ideal e confortável para um trabalho de longa duração eficiente.
Dessa forma, este projeto arquitetônico, de cunho privado, tem o intuito de preencher
está lacuna arquitetônica no que diz respeito a espaços de trabalho sustentáveis, concebendo,
portanto, um edifício coworking por meio de estratégias bioclimáticas inerentes ao terreno em
questão, constituindo uma arquitetura com identidade e que possibilite uma maior eficiência
energética e conforto ambiental por meio do aproveitamento da ventilação e da iluminação
natural. Para isso, será utilizada a ventilação cruzada sempre que possível, com exceção
apenas dos ambientes que necessitam de maior isolamento – como salas individuais e de
reunião –, e serão aplicados elementos de proteção solar nas aberturas para conter a irradiação
direta da luz solar, evitando, assim, ofuscamentos e o aumento demasiado da temperatura
interna dos ambientes.
Quanto ao programa, os ambientes serão segmentados em cinco setores, sendo eles:
administrativo, serviço, trabalho compartilhado, trabalho privativo e descompressão. Com
isso, os espaços serão distribuídos da melhor maneira possível, levando em consideração as
particularidades das atividades exercidas em cada setor e, assim, diminuindo possíveis ruídos
e desconfortos que a proximidade de espaços de diferentes usos possa gerar. Além disso, com
o intuito de ser um espaço capaz de facilitar e incentivar as relações sociais no ambiente de
trabalho, serão propostas algumas áreas verdes de lazer e relaxamento, tanto externas quanto
internas, com o objetivo de serem espaços de descompressão em meio ao ambiente laboral,
promovendo áreas descontraídas que incitem a descontração, a criatividade e a troca de
experiências.
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12. REFERÊNCIAS

ROZENFELD, Henrique, et al. Gestão de desenvolvimento de produtos: uma referência


para a melhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2006.
LUCAS, R. E. C. Avaliação do conforto ambiental: um estudo de caso em um laboratório
de uma faculdade na cidade de João Pessoa – PB. In: XXXVIXXXV Encontro Nacional de
Engenharia de Produção, João Pessoa, 2016
TEIXEIRA, D.B. et al. Síndrome dos Edifícios Doentes em Recintos com Ventilação e
Climatização Artificiais: Revisão de Literatura. Inmetro, 2005.
STELING, T.D. et al. A epidemiologia dos “edifícios doentes”. Rev. Saúde públ., 56-61,
1991.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL OF CANADÁ (NRCC). Workstation Design for
Organizational Productivity: Practical advice based on scientific research findings for
the design and management of open-plan offices. Montreal: Institute for Research in
Construction (IRC), 2004.
SOUSA, Ana Amélia Ribeiro. O trabalho e sua ressignificação ao longo da história. Rev.
Âmbito Jurídico, São Paulo, jul, 2019.
SICILIANO, Thales. O Scriptorium: Devoção, trabalho e memória. Frontspício: A história
daquele que conta histórias, 2016. Disponível em:
https://frontispicio.wordpress.com/2016/02/12/o-scriptorium-devocao-trabalho-e-memoria/.
Acesso em 18/05/2022.
CALDEIRA, Vasco. Ambiente de trabalho. Revista Arquitetura e Urbanismo (AU), edição
133 – Abril/2005. Disponível em
https://www.academia.edu/29888162/AMBIENTES_DE_TRABALHO. Acesso em:
18/05/2022.
FONSECA, Juliane Figueiredo. A contribuição da ergonomia ambiental na composição
cromática dos ambientes construídos de locais de trabalho de escritório. Capítulo 02.
Evolução espacial dos locais de trabalho de escritórios, dezembro de 2004. Disponível em:
https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/Busca_ etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=6115@1.
Acesso em: 18/05/2022
31

CHÁVEZ, Vicente Hernández, 2002. La habitabilidad energética emedifícios de oficinas.


2002. Tesis doctoral, Universitat Politécnica de Catalunya, Barcelona. Disponível em:
https://upcommons.upc.edu/handle/2117/93419. Acesso em: 20/05/2022

AS TENDÊNCIAS DA CASA CONTAINER. Itajaí Containers, 2021. Disponível em:


https://www.itajaicontainers.com.br/blog/casa-container-tendencia/. Acessado em
02/06/2022.

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