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GESTÃO EM SAÚDE, SAÚDE DO TRABALHADOR

E SEGURANÇA DO TRABALHO

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 4

2. SISTEMAS DE GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

2.1 Avaliação e gestão de riscos ................................................................. 10


3. O QUE É UM SISTEMA DA GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE NO

TRABALHO (SGSST)? .................................................................................. 12

3.1 O caminho para o SGSST ..................................................................... 15


3.2 A OIT e SGSST ..................................................................................... 17
3.3 SGSST para sistemas nacionais ........................................................... 20
3.4 SGSST e as organizações (empresas) ................................................. 22
3.4.1 Auditorias ........................................................................................ 23

3.4.2 Participação dos trabalhadores ....................................................... 24

3.4.3 Empresas de pequena dimensão .................................................... 26

4. PRINCIPAIS REQUISITOS DOS SISTEMAS DE GESTÃO DE

SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO ..................................................... 27

5. SISTEMAS DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL

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5.1 O SGSST e os sectores de risco elevado ............................................. 38


5.2 Produtos químicos e SGSST ................................................................. 39
5.3 Pontos fortes de um SGSST ................................................................. 41
5.4 Limitações de um SGSST ..................................................................... 43
6. CONTROLO DE RISCOS GRAVES ..................................................... 45

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6.1 Nanotecnologias .................................................................................... 47
7. DIFICULDADES E RECOMENDAÇÕES PARA GESTÃO DA

SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO ..................................................... 48

7.1 Os sistemas de gestão são benéficos para a SST? .............................. 52


8. BOAS PRÁTICAS PARA GESTÃO DE SISTEMAS DE SST ............... 53

9. ESOCIAL .............................................................................................. 55

10. REFERÊNCIAS .................................................................................... 67

1. INTRODUÇÃO

O ambiente competitivo em que as empresas estão inseridas faz com que muitos
gestores não detenham suas atenções quanto ao ambiente de trabalho oferecido a
seus empregados e, consequentemente, não percebem os danos a que estão
expondo seus funcionários em seu meio de trabalho, ao meio ambiente e às
comunidades. Segundo Cicco (1997), a evolução das questões relacionadas à saúde
e segurança ocupacional data da revolução industrial, onde a preocupação
fundamental era a reparação de danos à saúde física do trabalhador. As ações,
atitudes ou medidas de prevenção começaram em 1926, através dos estudos de H.
W. Heinrich verificando os custos com as seguradoras para reparar os danos
decorrentes de acidentes e doenças do trabalho.

Em 1966 Frank Bird Jr. propôs o controle de danos, considerando o enfoque


para a saúde e segurança a partir da ideia de que a empresa deveria se preocupar
não somente com os danos aos trabalhadores, mas também com os danos às
instalações, aos equipamentos e a seus bens em geral. Em 1970 Jonh Fletcher
ampliou o conceito de Frank Bird Jr. englobando também as questões da proteção
ambiental, de segurança patrimonial e segurança do produto, criando o controle total
das perdas. Cita Araujo (2006b) que as organizações devem garantir que suas
operações e atividades sejam realizadas de maneira segura e saudável para os seus

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empregados, atendendo aos requisitos legais de saúde e segurança, regidos pela
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e Normas Regulamentadoras que tratam
de Segurança e Saúde ocupacional. Assim, o sistema de gestão atua no
comprometimento e atendimento aos requisitos legais e regulatórios, podendo trazer
inúmeros benefícios tanto do ponto de vista financeiro quanto do ponto de vista
motivacional.

A Segurança e saúde no trabalho (SST) é uma disciplina que trata da prevenção


de acidentes e de doenças profissionais bem como da proteção e promoção da saúde
dos trabalhadores. Tem como objetivo melhorar as condições e o ambiente de
trabalho. A saúde no trabalho abrange a promoção e a manutenção do mais alto grau
de saúde física e mental e de bem-estar social dos trabalhadores em todas as
profissões. Neste contexto, a antecipação, a identificação, a avaliação e o controlo de
riscos com origem no local de trabalho, ou daí decorrentes, que possam deteriorar a
saúde e o bem-estar dos trabalhadores, são os princípios fundamentais do processo
de avaliação e de gestão de riscos profissionais. O possível impacto nas comunidades
envolventes e no meio ambiente deve ser igualmente tomado em consideração.

O processo fundamental de aprendizagem sobre a redução dos riscos está na


origem dos princípios mais sofisticados que regem a atual SST. Presentemente, a
necessidade de controlar uma industrialização galopante e as suas solicitações em
matéria de fontes energéticas altamente e inerentemente perigosas, tal como o uso
de energia nuclear, de sistemas de transporte e de tecnologias cada vez mais
complexas, conduziu ao desenvolvimento de métodos de avaliação e de gestão de
riscos muito mais sofisticados. Relativamente a todas as áreas da atividade humana,
deve fazer-se um balanço entre as vantagens e os custos associados aos riscos. No
caso da SST, esse balanço complexo recebe a influência de muitos fatores, tais como
o rápido progresso científico e tecnológico, um mundo do trabalho muito diversificado
e em alteração constante, incluindo os aspectos económicos. O facto de que a
aplicação dos princípios de SST implica a mobilização de todas as disciplinas sociais
e científicas, é uma medida clara da complexidade do seu campo de aplicação.

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2. SISTEMAS DE GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO
TRABALHO

Um sistema de gestão é um conjunto de elementos inter-relacionados utilizados


para estabelecer, executar e alcançar políticas e objetivos de diversas ordens, a partir
de atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos,
processos e recursos. Segundo a – Occupational Health and Safety Assessment
Series, SST são condições e fatores que afetam – ou poderiam afetar – a segurança
e a saúde de funcionários ou de outros trabalhadores (incluindo trabalhadores
temporários e terceirizados), visitantes ou qualquer outra pessoa no local de trabalho.

Para Lin e Mills (2001), os principais fatores que influenciam a segurança são o
desempenho da organização, o tamanho da companhia, a gestão e o compromisso
dos funcionários quanto à SST. Um SGSST pode ser definido como parte do sistema
de gestão maior de uma organização utilizada para desenvolver e implantar sua
política e gerenciar seus riscos de SST. De acordo com Salamone (2008), as
motivações que levam as empresas a adotarem SGSSTs se devem, principalmente,
a fatores como melhoria contínua, melhoria na imagem, aumento da competitividade,
chance de reduzir os custos com gestão, novas oportunidades de mercado,

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produtividade mais alta e melhorias nos produtos. A implantação de SGSSTs tem sido
a principal estratégia das empresas para minimizar o sério problema social e
econômico dos acidentes e das doenças relacionadas ao trabalho, sendo, ainda, um
importante fator para o aumento de sua competitividade.

Quando um funcionário é admitido, a percepção que ele tiver do ambiente físico


e social encontrado o influenciará no seu comportamento cotidiano. Por isso, são de
suma importância determinados aspectos, como ordem, limpeza e asseio pessoal,
bem como a própria organização e a utilização dos espaços por meio de um layout
adequado. O sucesso de um SGSST é dependente da sua natureza de intervenção,
das características do local de trabalho e das características do ambiente externo.
Neste sentido, os SGSSTs são ferramentas gerenciais que contribuem para a
eficiente melhoria do desempenho das empresas com relação às questões de
segurança e saúde, visando atendimento às legislações, aumento da produtividade,
diminuição de acidentes, credibilidade perante a opinião pública e crescente
conscientização quanto à segurança e à saúde dos colaboradores e parceiros da
organização.

O princípio básico de um SGSST baseado em aspectos normativos envolve a


necessidade de se determinarem parâmetros de avaliação que incorporem não só os
aspectos operacionais, mas também a política, o gerenciamento e o
comprometimento da alta direção com o processo, bem como a mudança e a melhoria
contínua das condições de segurança e saúde no trabalho. A norma britânica BS
8800, criada em 1996, foi a primeira tentativa bem-sucedida de se estabelecer uma
referência normativa para a implementação de SGSST.

Em 1999, foi publicada pela British Standards Instituion (BSI) a norma OHSAS
18001, que foi formulada por um grupo de entidades internacionais (BVQI, DNV,
LOYDS, SGS e outras), que se fundamentaram na BS 8800. Ela foi desenvolvida em
resposta às necessidades das empresas em gerenciar suas obrigações de SST de
maneira mais eficiente. É importante destacar que, em julho de 2007, a norma
OHSAS 18001, 1999 foi substituída pela OHSAS 18001, 2007 e algumas alterações
foram feitas, tal como a introdução de novas exigências e novos requisitos para a

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investigação de acidentes, refletindo, assim, a experiência de dezesseis mil
organizações certificadas em mais de oitenta países. A OHSAS 18001 tem como
objetivo fornecer às organizações os elementos de um SGSST eficaz, que possa
auxiliá-las a alcançar seus objetivos de segurança e saúde do trabalho.

Esta norma é aplicável a todos os tipos e portes de organizações e passível de


integração com outros sistemas de gestão (qualidade, meio ambiente e
responsabilidade social). Ela não define padrões de desempenho ou indica como
podem ser desenvolvidos seus elementos, apenas apresenta requisitos básicos a
serem cumpridos. Essa condição pode resultar em empresas com sistemas de gestão
de SST baseados na OHSAS, porém com resultados de desempenho completamente
diferentes. Conforme mostra a Figura 1, a norma OHSAS é baseada na metodologia
PDCA.

Para Araujo (2006a), perdas, injúrias, danos à propriedade eventualmente


causados pelas atividades, produtos e serviços de uma organização, constituem
problemas que podem acarretar prejuízos através de várias formas, tais como
processos de responsabilidade civil pelo fato do produto ou serviço oferecer riscos
aos trabalhadores, altos índices de absenteísmo e afastamento de trabalho devido a
acidentes. As empresas devem estar livres de riscos inaceitáveis de danos nos
ambientes de trabalho, garantindo o bem-estar físico, mental, e social dos
trabalhadores e partes interessadas. Para minimizar ou eliminar tais prejuízos, muitas
organizações desenvolvem e implementam sistemas de gestão voltados para a
segurança e saúde ocupacional.

Ainda cita Araujo (2006a) que os controles implementados devem ser capazes
de identificar e avaliar as causas associadas aos acidentes e incidentes.
Principalmente, a avaliação e o exame dos incidentes, pois fornecem dados que, se
devidamente tratados através de uma visão sistêmica, podem fornecer subsídios
importantes para a prevenção de possíveis acidentes. Lapa (2001) considera a gestão
de segurança e saúde, através da garantia da integridade física e da saúde dos
funcionários, como fator de desempenho que deve ser incorporado à gestão do
negócio empresarial. Acidentes, incidentes constituem, muitas vezes, em eventos que

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devem ser controlados de maneira preventiva através do planejamento, organização
e avaliação do desempenho dos meios de controles implementados.

Estes eventos estão, muitas vezes, associados a inúmeras causas, e não


apenas a uma causa específica. Análises simples e rápidas podem levar à conclusão
de que a causa imediata reside nos fatores humanos e/ou em algum tipo de problema
técnico, mas, grande parte de tais eventos é decorrente de falhas na gestão
responsável pela segurança e saúde ocupacional aplicada a estes fatores. Assim, é
importante que os gestores responsáveis pelo controle dos aspectos de segurança e
saúde da organização deem especial atenção ao fator humano e a tecnologia
utilizada. Na época da Revolução Industrial, as preocupações na área de segurança
não focavam a prevenção de acidentes, e sim a reparação dos danos à saúde e a
integridade física dos trabalhadores, cujos custos diretos eram conhecidos.

Segundo Benite (2004), por volta de 1926 os estudos do norte-americano


Heinrich já demonstravam uma relação entre os custos indiretos e diretos da ordem
de 4:1, ou seja, os custos indiretos eram muito mais altos do que os custos
diretamente associados aos acidentes evidenciando que somente a reparação não
era suficiente sendo necessários investimentos em prevenção. Qualquer acidente
gera um prejuízo econômico significativo, pois todos os custos diretos e indiretos
resultantes são custeados pela a empresa e consequentemente atinge todas as
partes relacionadas. A abrangência destes custos deve ser bem conhecida pelos
empresários, de modo que esses percebam os recursos desperdiçados para cada
acidente que ocorra, servindo como um forte argumento para estimular investimentos
que reduzam ou eliminem a sua ocorrência.

Deve-se destacar que o custo total da não-segurança para as empresas,


trabalhadores, famílias, sociedade e governo é de difícil mensuração. Reativamente,
os custos decorrentes da falta de segurança estão ligados ao tratamento das
consequências dos acidentes e as subsequentes ações corretivas. Já, os custos da
segurança estão relacionados com todo o tempo e recursos utilizados no
planejamento da prevenção de acidentes e nos controles implementados nos locais
de trabalho. Muitas empresas vêm mudando seus princípios e valores, expressando

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formalmente em seu código de ética e que devem nortear todas as suas relações,
planos, programas e decisões, buscando implementar uma gestão socialmente
responsável. Nesse caso, o exercício destes princípios e valores se dá em duas
dimensões: a gestão da responsabilidade social interna e a gestão da
responsabilidade social externa. Assim, este novo conceito faz com que empresas
socialmente responsáveis tomem suas decisões, pró-ativamente, com base na ética
e na transparência de suas ações.

2.1 Avaliação e gestão de riscos

Os conceitos de perigo e de risco, bem como a relação entre ambos, podem


facilmente levar a confusões. Um perigo é a propriedade intrínseca ou potencial de
um produto, de um processo ou de uma situação nociva, que provoca efeitos
adversos na saúde ou causa danos materiais. Pode ter origem em produtos químicos
(propriedades intrínsecas), numa situação de trabalho com utilização de escada, em
eletricidade, num cilindro de gás comprimido (energia potencial), numa fonte de
incêndio ou, mais simplesmente, num chão escorregadio. Risco é a possibilidade ou

a probabilidade de que uma pessoa fique ferida ou sofra efeitos adversos na sua
saúde quando exposta a um perigo, ou que os bens se danifiquem ou se percam. A
relação entre perigo e risco é a exposição, seja imediata ou a longo prazo, e é
ilustrada por uma equação simples:

De acordo com o já referido, o objetivo essencial da SST é a gestão de riscos


profissionais. Para o concretizar, a detecção de perigos e a avaliação de riscos têm
de ser consideradas de modo a identificar o que poderia afetar os trabalhadores e a
propriedade, para que se possam desenvolver e implementar medidas de prevenção
e de proteção adequadas. O método de avaliação de riscos que a seguir se indica,
com 5 etapas, foi desenvolvido pelo Órgão Executivo de Segurança e Saúde do Reino

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Unido como uma simples abordagem para avaliar riscos, particularmente em
empresas de pequena dimensão (PMEs), tendo sido aprovado a nível mundial:

Um processo de avaliação de riscos pode ser facilmente adaptado à dimensão


e à atividade da empresa, bem como aos recursos e às competências disponíveis.
Um estabelecimento de risco elevado, tal como uma empresa petroquímica,
requererá avaliações de determinação de risco altamente complexas e mobilizará um
elevado nível de recursos e de competências. Muitos países desenvolvem as suas
próprias linhas orientadoras de avaliação de riscos, utilizadas muitas vezes para fins
reguladores ou para desenvolver normas aprovadas internacionalmente. Dois
métodos de avaliação de riscos considerados essenciais para a gestão de riscos
profissionais são a determinação dos valores limite de exposição profissional (VLE) e
a constituição de listas de doenças profissionais.

A maior parte dos países industrializados constitui e mantém as suas listas de


VLE atualizadas. Estes limites cobrem riscos químicos, físicos (calor, ruído, radiações
ionizantes, frio) e biológicos. Uma lista notável em termos de cobertura e com um

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processo de revisão ímpar e, em consequência, usada como referência por outros
países, é a lista dos valores limite de exposição (VLE) da Conferência Americana de
Higienistas Industriais Governamentais (CAHIG). A inserção de doenças profissionais
nas listas nacionais tem, também, como base métodos de avaliação de riscos, com o
objetivo de identificar e caracterizar doenças profissionais para fins compensatórios.

Esta listagem abrange desde as doenças respiratórias e dermatológicas,


perturbações músculo esqueléticas e cancro profissional, até às perturbações
mentais e comportamentais. A lista de doenças profissionais da OIT (revista em 2010)
dá apoio aos países na elaboração das suas próprias listas, na prevenção, no registo,
na notificação e, se aplicável, na compensação de doenças cuja causa tenha sido
exposição no local de
trabalho.

3. O QUE É
UM SISTEMA
DA GESTÃO
DE

SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO (SGSST)?

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A noção de sistemas de gestão é muitas vezes utilizada nos processos de
tomada de decisão de empresas e, também, de uma forma inconsciente no dia-a-dia,
quer seja na
compra de

equipamento, no alargamento do negócio ou simplesmente na seleção de novo


mobiliário. A aplicação de Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho
(SGSST) baseia-se em critérios relevantes de SST, em normas e em
comportamentos. Tem como objetivo proporcionar um método de avaliar e de
melhorar comportamentos relativamente à prevenção de incidentes e de acidentes no
local de trabalho, através da gestão efetiva de riscos perigosos e de riscos no local
de trabalho. Trata-se de um método lógico e gradual de decidir o que é necessário
fazer, como fazer melhor, de acompanhar os progressos no sentido dos objetivos
estabelecidos, de avaliar a forma como é feito e de identificar áreas a aperfeiçoar. É
e deve ser susceptível de ser adaptado a mudanças na operacionalidade da
organização e a exigências legislativas.

O Ciclo Operacional Deming

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Este conceito de procedimento baseia-se no princípio do Ciclo Deming
“Planificar Desenvolver-Verificar-Ajustar” (PDVA), concebido nos anos 50 para
verificar o desempenho de empresas numa base de continuidade. Quando aplicado
a SST, “Planificar” envolve o estabelecimento de uma política de SST, o planeamento
incluindo a afetação de recursos, a aquisição de competências e a organização do
sistema, a identificação de perigos e a avaliação de riscos. A etapa “Desenvolver”
refere-se à implementação e à operacionalidade do programa de SST. A etapa
“Verificar” destina-se a medir a eficácia anterior e posterior ao programa. Finalmente,
a etapa ”Ajustar” fecha o ciclo com uma análise do sistema no contexto de uma
melhoria contínua e do aperfeiçoamento do sistema para o ciclo seguinte.

Um SGSST é uma ferramenta lógica, flexível, que pode ser adequada à


dimensão e à atividade da organização e centrar-se em perigos e riscos de carácter
genérico e específico, associados à referida atividade. A respectiva complexidade
pode abranger desde as necessidades simples de uma pequena empresa gerindo um
único processo produtivo, no qual os perigos e os riscos sejam de fácil identificação,
a atividades de múltiplos riscos como o sector da construção civil e obras públicas, a
atividade mineira, a energia nuclear ou o fabrico de produtos químicos.

A abordagem do SGSST assegura que:

➢ A implementação de medidas de prevenção e de proteção seja levada a efeito de


um modo eficaz e coerente;
➢ Se estabeleçam políticas pertinentes;
➢ Se assumam compromissos;

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➢ Se tenham em atenção todos os elementos do local de trabalho para avaliar riscos
profissionais, e
➢ A direção e os trabalhadores sejam envolvidos no processo ao seu nível de
responsabilidade.

3.1 O caminho para o SGSST

O
relatório do
Comité

Britânico de Segurança e Saúde no Trabalho sobre o ponto da situação de segurança


e saúde no trabalho, apresentado em 1972 (Relatório Robens, RU), anunciou a
alteração dos regulamentos específicos da indústria para um quadro legislativo
cobrindo todas as indústrias e todos os trabalhadores. Foi o início de uma tendência
no sentido de uma abordagem mais sistémica de SST. Esta alteração paradigmática
foi formulada no Ato de SST de 1974 no Reino Unido, bem como nas legislações
nacionais de outros países industrializados.

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A nível internacional, a Convenção da OIT sobre Segurança e Saúde no
Trabalho, 1981, (N.º 155) e a correspondente Recomendação (N.º 164) dão ênfase à
importância fundamental de uma participação tripartida na implementação de SST,
tanto a nível nacional como empresarial. Alguns anos depois, considerou-se que a
crescente complexidade e a rápida mudança da natureza do mundo do trabalho
exigiam novas abordagens para que as condições de trabalho e de ambiente se
mantivessem seguras e saudáveis. Os modelos de gestão empresarial constituídos
para assegurar uma resposta rápida às flutuações da conjuntura através de uma
avaliação continuada do desempenho, foram rapidamente identificados como
modelos possíveis para o desenvolvimento de uma abordagem sistémica para a
gestão de SST.

Essa abordagem foi rapidamente avalizada como um meio efetivo de assegurar


uma implementação coerente de medidas de SST, com enfoque na avaliação e na
melhoria contínua da eficácia e da autorregularão. Em resposta à necessidade de
continuar a reduzir o número de lesões, de doenças, de acidentes de trabalho e os
respectivos custos adicionais, foram exploradas novas estratégias para incrementar
as abordagens tradicionais reguladoras e de gestão para orientação e controlo, no
sentido de uma posterior melhoria de funcionamento. Como exemplos, apontam-se:
técnicas de segurança baseadas em comportamentos, melhor avaliação de riscos de
segurança e saúde e melhores métodos de verificação, bem como mecanismos de
sistemas de gestão.

Nos últimos anos, a aplicação de modelos sistémicos a SST, agora referida


como a abordagem de sistemas de gestão de SST, foi alvo da atenção de empresas,
de governos e de organizações internacionais enquanto estratégia que permitiria
harmonizar as necessidades de empresas e de SST e assegurar uma participação
mais efetiva dos trabalhadores na implementação de medidas preventivas. Nos
últimos dez anos, o conceito de SGSST tem vindo a ser apresentado como um modo
efetivo de melhorar a implementação de SST no local de trabalho, assegurando que
as respectivas necessidades integrem os planeamentos empresariais e os processos
de desenvolvimento.

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Um número significativo de normas e de linhas orientadoras de SST tem vindo,
desde então, a ser desenvolvido por entidades profissionais, governamentais e
internacionais com responsabilidades ou interesses na área de SST. Muitos países
formularam estratégias nacionais de SST que integram, igualmente, a abordagem dos
sistemas de gestão. A nível internacional, a OIT publicou em 2001 “Sistemas de
gestão da segurança e saúde no trabalho: Diretrizes práticas da OIT” (OIT-SST 2001),
que, pela abordagem tripartida, se tornou num modelo largamente utilizado para o
desenvolvimento de normas nacionais nessa área.

3.2 A OIT e SGSST

A abordagem de SGSST ganhou apoios na sequência da ampla adesão às


normas ISO da Organização Internacional para a Normalização (ISO) e do sucesso
que tiveram, nomeadamente as normas para a Qualidade (série ISO 9000) e,
posteriormente, para o Ambiente (série ISO 14000). Este modelo baseia-se em
teorias sistémicas desenvolvidas em primeiro lugar no âmbito das ciências naturais e
sociais, mas tem também algumas semelhanças com mecanismos de gestão
empresarial. Há quatro elementos comuns às referidas teorias gerais: atividades,
desenvolvimento, resultados e retorno (feedback). Na sequência da adopção das
normas técnicas de gestão de qualidade (ISO 9000) e de gestão do ambiente (ISO
14000) no início dos anos 90, foi discutida, num colóquio internacional organizado
pela ISO em 1996, a possibilidade de desenvolver uma norma ISO nos sistemas de
gestão de SST.

Tornou-se rapidamente evidente que, sendo a proteção da saúde e da vida de


seres humanos o objetivo da segurança e saúde, deveria estar já consignada nas
legislações nacionais como uma obrigação para o empregador. Neste contexto, foram
também abordadas outras questões relacionadas com ética, direitos e deveres e a
participação dos Parceiros Sociais. Daqui resultou a obrigatoriedade de uma norma
de gestão nesta área integrar os princípios das normas de SST da OIT,
nomeadamente na Convenção sobre Segurança e Saúde no Trabalho, 1981 (N.º

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155), não podendo ser tratada da mesma forma que outras matérias ambientais e de
qualidade.

Esta tornou-se numa questão fundamental de debate e acordou-se que, com a


sua estrutura tripartida e a sua responsabilidade no estabelecimento de normas, a
OIT era a entidade mais adequada para desenvolver normas orientadoras de SST a
nível internacional. Uma tentativa de 1999 do Instituto de Normalização Britânico (BSI)
para desenvolver uma norma de gestão de SST sob a influência da ISO, originou de
novo uma forte oposição internacional, tendo como resultado o adiamento da
proposta. O BSI desenvolveu mais tarde linhas orientadoras de SGSST na forma de
normas técnicas de carácter privado (OHSAS) mas a ISO não o fez.

Ao fim de dois anos de desenvolvimento e de avaliação internacional, as


“Diretrizes práticas” da OIT (OIT-SST 2001) foram finalmente adoptadas num
encontro tripartido de peritos realizado em Abril de 2001 e publicadas em Dezembro
de 2001, na sequência da aprovação do Conselho de Administração do Bureau
Internacional do Trabalho (BIT). Em 2007, o Conselho de Administração reafirmou o
mandato da OIT em matéria de SST, pedindo à OIN que se abstivesse de desenvolver
uma norma internacional em SGSST. As Linhas orientadoras OIT-SST de 2001
estabelecem um modelo único a nível internacional, compatível com outras
orientações e normas sistémicas de gestão. Refletem a abordagem tripartida da OIT
e os princípios definidos nos seus instrumentos internacionais, designadamente na
Convenção sobre Segurança e Saúde no Trabalho, 1981 (N.º155). Essa orientação
permite a gestão sistemática de SST a nível nacional e organizacional. O diagrama
seguinte sumariza efetivamente as etapas de gestão definidas nas linhas
orientadoras.

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3.3 SGSST para sistemas nacionais

A segurança e saúde no trabalho é uma área complexa, que chama à


intervenção de múltiplas matérias e ao envolvimento de todos os interessados. As
disposições institucionais necessárias à transposição da política nacional de SST
para execução refletem, inevitavelmente, essa complexidade. Em consequência, as
respectivas infraestruturas obrigam a mecanismos de comunicação e de tomada de
decisão muito mais lentos e, assim, a uma dificuldade natural de adaptação
continuada às alterações no mundo do trabalho a um ritmo adequado.

Dado que tanto os sistemas nacionais de SST, que regulamentam as


necessidades de SST, como as empresas que devem aplicar esses sistemas têm de
acompanhar esse ritmo de mudança continuado e rápido, a aplicação da abordagem
de sistemas de gestão à operacionalidade dos sistemas nacionais de SST pareceria
ser um desenvolvimento lógico. Se a sua aplicação se tornasse sistemática, essa
abordagem traria coerência, coordenação, simplificação e rapidez, muito necessárias
aos processos de transposição de disposições regulamentares para medidas eficazes
de prevenção e de proteção e de avaliação da respectiva conformidade. A finalidade
de uma melhoria contínua no sentido de atingir e de sustentar condições e um
ambiente de trabalho dignos, seguros e saudáveis está prevista na Estratégia Global
de SST da OIT de 2003.

A ideia de aplicar o SGSST a sistemas nacionais de SST foi posteriormente


concretizada, pela primeira vez, numa norma internacional em 2006, quando a
Conferência Internacional da OIT adoptou uma Convenção sobre “Enquadramento
promocional de segurança e saúde no trabalho” (N.º187) e a correspondente
Recomendação (N.º 197). O objetivo fundamental da Convenção é assegurar que
seja atribuída maior prioridade a SST em agendas nacionais e suscitar compromissos
políticos para incremento de SST num contexto tripartido. O respectivo conteúdo é
mais promocional do que prescritivo e baseia-se em dois conceitos diferentes,
designadamente o desenvolvimento e a manutenção de uma cultura preventiva de

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segurança e saúde e a aplicação, a nível nacional, de uma abordagem do sistema de
gestão a SST.

A Convenção define, em termos gerais, os elementos e a função de uma política


nacional, de um sistema nacional e de um programa nacional. O elemento operacional
fulcral é a formulação de programas nacionais de SST, que deveriam ser aprovados
pela mais alta autoridade governamental no sentido de assegurar uma ampla
consciencialização do compromisso nacional. A aplicação da abordagem dos
sistemas de gestão a nível nacional propõe um mecanismo operacional integrado
para melhoria contínua, abrangendo:

➢ Uma política nacional de SST formulada, implementada e periodicamente revista


por uma autoridade competente, em consulta com as organizações mais
representativas dos empregadores e dos trabalhadores;
➢ Um sistema nacional de SST cuja infraestrutura permita implementar a política
nacional e os programas nacionais e coordenar as atividades reguladoras, técnicas
e promocionais relacionadas com SST;
➢ Um programa nacional de SST que defina objetivos nacionais relevantes para SST
num período de tempo previamente determinado, estabelecendo prioridades e
meios de ação desenvolvidos através de uma análise da situação de SST,
conforme estabelecido por um Perfil l Nacional de SST
➢ Um mecanismo para revisão dos resultados do programa nacional, com vista a
avaliar o progresso dos mesmos e a definir novos objetivos e atividades para o
ciclo seguinte.

A Convenção n.º 187 sublinha a importância do diálogo social e da total


participação de todos os interessados nesta área, como requisito prévio para uma
gestão bem-sucedida do sistema nacional de SST. A educação e a formação
profissional a todos os níveis são, igualmente, considerados fatores essenciais para
o sistema e a respectiva operacionalidade. Os sistemas de inspeção do trabalho
continuam a ser o principal elo oficial entre o sistema nacional de SST e as
organizações relativas a relações de trabalho e a SST. Com formação profissional
adequada, poderiam certamente representar um papel decisivo em assegurar que os

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programas de SGSST, incluindo mecanismos de auditoria, estejam em conformidade
com a legislação e a regulamentação nacional.

Os instrumentos da OIT diretamente relacionados com a gestão de SST nas


empresas, designadamente a Convenção OIT SST, 1981 (N.º 155), o Enquadramento
Promocional para a Convenção SST, 2006 (N.º 187) e as “Diretrizes práticas” OIT-
SST 2001, definem os elementos e as funções essenciais de uma estrutura de gestão
de SST, tanto para sistemas nacionais como para organizações (empresas). O futuro
do SGSST reside em procurar um equilíbrio certo entre abordagens voluntárias e
obrigatórias, refletindo as necessidades e as práticas locais.

3.4 SGSST e as organizações (empresas)

A implementação de segurança e saúde no trabalho e a respectiva


conformidade com as exigências estabelecidas pela legislação e pela
regulamentação nacional são, em todos os países, responsabilidade e dever do
empregador. A aplicação de uma abordagem sistémica à gestão de SST na
organização (empresa) assegura que o nível de prevenção e de proteção seja
continuadamente avaliado e sustentado através de melhorias adequadas e
atempadas. A maior parte das organizações (empresas) poderia beneficiar do
conceito de SGSST se tivessem em conta um número de princípios importantes
aquando da decisão de aplicar uma abordagem sistémica à gestão do seu programa
de SST.

Os sistemas de gestão não são o remédio universal e as organizações deveriam


analisar cuidadosamente as suas necessidades em face dos meios de que dispõem
e adaptar, em conformidade, o respectivo SGSST. Tal pode eventualmente ser feito
reduzindo-o ou tornando-o menos formal. A direção deve assegurar que o sistema
seja construído para melhorar a eficácia das medidas de prevenção e de proteção e
permaneça mais centrado na implementação desse objetivo do que em tornar-se um
fi m em si próprio. Deverá igualmente assegurar que as auditorias contribuam para o
processo de melhoria contínua em vez de se tornarem mecanismos para melhorar
unicamente os resultados da própria auditoria.

22
3.4.1 Auditorias

Um dos interesses fundamentais do SGSST é a capacidade de medir a eficácia


do sistema e da sua melhoria ao longo do tempo. A qualidade dessas medidas
depende muito da qualidade do mecanismo de auditoria usado, interno ou externo, e
da competência dos auditores. De um modo geral, auditoria é a monitorização de um
processo por uma pessoa ou equipa competentes, que não estejam ligadas ao
processo em questão. Deverá proceder-se a auditorias periódicas para determinar se
o sistema de gestão de SST e os seus elementos estão bem implementados, se são
adequados e eficazes na proteção da segurança e da saúde dos trabalhadores e na
prevenção de acidentes de trabalho. Fornecem, igualmente, os meios para avaliar a
eficácia do sistema ao longo do tempo.

Quando se planeiam melhorias, os resultados das auditorias deveriam ser


sempre vistos em paralelo com outros dados sobre o desempenho do sistema.
Qualquer sistema de avaliação de uma auditoria deveria providenciar referências para
melhorias futuras em vez de realçar bons resultados obtidos no passado. As
conclusões da auditoria deveriam determinar se o SGSST implementado é eficaz
relativamente aos objetivos e à política de SST da organização e na promoção da
ampla participação dos trabalhadores; na resposta aos resultados da avaliação da
eficácia da SST e a auditorias prévias; em dar à organização a possibilidade de
cumprir a legislação e a regulamentação nacionais relevantes e de atingir os objetivos
fixados de melhoria contínua e de utilização de melhores práticas em SST.

As auditorias requerem uma boa comunicação dentro de uma organização, de


modo a que, quando a auditoria está a ser conduzida, as pessoas estejam prontas a
fornecer a informação necessária sob a forma de documentos/registos, entrevistas ou
acesso ao local. Verifica-se também a necessidade de bons métodos de comunicação
quando os resultados da auditoria forem difundidos. As empresas privadas de
auditoria e de certificação podem facilmente entrar numa situação de conflito ao
ajudarem a organização a implementar o seu SGSST e ao procederem de seguida à
sua monitorização. Algumas experiências com auditorias financeiras têm mostrado

23
que pode ser difícil prestar serviços de auditoria realmente independentes caso haja
um relacionamento concreto com os auditores, ou quando os custos dos serviços se
tornam o principal fator condutor.

Há que considerar cuidadosamente a seleção dos auditores e a definição de


termos de referência precisos para levar a efeito auditorias, no sentido de assegurar
que o perfil específico da organização seja tido em devida conta. Um sistema de
auditoria realmente eficaz é aquele em que os que vão ser auditados aguardam o
seguimento do processo, esperando por ideias novas e úteis para aperfeiçoamentos
práticos. Se as auditorias são encaradas com apreensão, é o sistema de auditorias
que necessita de ser melhorado e não quem está a ser auditado. Quer o SGSST seja
voluntário ou obrigatório, as organizações (empresas) dependem de entidades de
auditoria e de certificação acreditadas a nível nacional ou profissional para avaliar o
seu nível de cumprimento relativamente às exigências do SGSST e a eficácia das
medidas implementadas. Os processos de auditoria completam o SGSST,
providenciando uma avaliação independente do seu desempenho e propondo ações
corretivas e novos objetivos para melhorias futuras.

3.4.2 Participação dos trabalhadores

O SGSST não pode funcionar devidamente sem a existência de um diálogo


social efetivo, seja no contexto de comissões de segurança e saúde ou de outros
mecanismos, tais como negociações de convenções coletivas. Dever-se-ia dar
oportunidade aos trabalhadores e aos seus representantes para participarem
amplamente, através de envolvimento direto ou de consulta, na gestão de SST na
organização. Um sistema só é bem-sucedido se, para o gerir, forem atribuídas
responsabilidades definidas a todos os interessados. Um princípio fundamental do
SGSST consiste em estabelecer responsabilidades para todos os níveis da
hierarquia, incluindo o envolvimento expresso de todos os trabalhadores a todos os
níveis na organização, com responsabilidades definidas em SST.

Tem sido demonstrado por diversas vezes que a implementação de SST, e mais
ainda de um SGSST, só pode ter sucesso se todos os interessados participarem

24
amplamente nessa implementação através do diálogo e da cooperação. No caso do
SGSST, um sistema gerido somente por administradores, sem qualquer contribuição
dos trabalhadores dos níveis mais baixos da hierarquia, está condenado a perder o
seu objetivo e a falhar. Alguns estudos sugerem a existência de uma associação entre
taxas mais baixas de acidentes com ausência ao trabalho e a presença na
organização (empresa) de comissões de SST e de sindicatos.

Outros estudos indicam que os acordos participativos no local de trabalho levam


a práticas de SGSST que resultam num melhor desempenho da SST, dando ainda
melhores resultados em locais de trabalho onde os trabalhadores são sindicalizados.
A ampla participação dos trabalhadores é fortemente aconselhada e promovida em
todas as normas da OIT, particularmente na Convenção da OIT sobre Segurança e
Saúde no Trabalho, 1981 (N.º 155) e na correspondente Recomendação (N.º 164),
bem como nas Linhas Orientadoras da OIT sobre SGSST. Para que as comissões de
SST e outros instrumentos similares sejam eficazes, é importante que sejam
disponibilizadas informação e formação profissional adequadas, que sejam
estabelecidos mecanismos de diálogo social e de comunicação eficazes e que os
trabalhadores e os seus representantes sejam envolvidos na implementação de
medidas de SST.

Embora geralmente se entenda que a participação no SGSST se refere aos


empregadores e aos trabalhadores nas organizações (empresas), a participação no
sentido da comunicação e da troca de informações deveria igualmente abranger, no
que se refere à implementação de medidas, a subcontratação de serviços e as partes
interessadas externas à organização. Podem aqui considerar-se autoridades de
controlo, prestadores de serviços, comunidades e organizações vizinhas, clientes e
empresas que integrem a cadeia dos fornecedores, seguradoras, acionistas e
consumidores, bem como entidades internacionais de normalização.

A formação profissional em SST a todos os níveis, desde gestores a


trabalhadores, é um elemento fundamental na implementação de qualquer programa
de SST. Essa formação deverá ser ministrada numa base de continuidade, de modo
a assegurar o conhecimento do sistema e que as instruções relativas às mudanças

25
na organização estejam sempre atualizadas. Neste contexto, os canais de
comunicação entre os diferentes níveis da organização devem ser eficazes e
funcionar em ambos os sentidos, o que significa que as informações e as
preocupações relativamente a SST aprovadas por operários deveriam ser
devidamente tidas em consideração e levadas à administração. Este é um exemplo
que ilustra a necessidade de que o sistema se centre nas pessoas.

3.4.3 Empresas de pequena dimensão

As empresas de pequena dimensão, que têm geralmente poucos recursos,


podem igualmente efetuar uma avaliação eficaz de riscos através da implementação
de medidas simples, tais como exigir fichas de dados de segurança antes de proceder
à compra de produtos e de equipamento, de identifica riscos profissionais por posto
de trabalho e de desenvolver formação profissional adequada. Ainda que a integração
de exigências de SST nas políticas empresariais e nos mecanismos participativos das
grandes empresas, nomeadamente multinacionais, seja agora uma tendência
estabelecida, torna-se ainda necessário desenvolver grandes esforços para dar apoio
às pequenas empresas na implementação de uma forma de integrar alguns
elementos do SGSST nas suas práticas de SST, que seja prática e tenha uma boa
relação de custo-benefício.

Algumas pequenas e médias empresas podem não ter um SGSST totalmente


documentado, sendo, no entanto, capazes de demonstrar um entendimento claro
sobre perigos, riscos e medidas de controlo eficazes. Porque requer um nível médio
de competências, de conhecimento técnico e de recursos, a aplicação de um SGSST
em pequenas empresas continua a ser um desafio que provoca algum receio. O
progresso nesta área está muito dependente de prevenção primária e de acesso mais
fácil a informação e a formação profissional básicas em SST. Há, contudo, um número
de etapas que poderiam ser simplificadas e adaptadas à dimensão e aos meios
técnicos da empresa.

Os programas WISE e WIND de formação profissional, Melhoria do Trabalho em


Pequenas Empresas e Melhoria do Trabalho no Desenvolvimento de Parcerias para

26
pequenos agricultores e o programa POSITIVE dirigido aos sindicatos, foram
desenvolvidos e amplamente testados pelo BIT. Incluem fórmulas simplificadas de
avaliação de riscos, semelhantes à etapa 1 da implementação do SGSST. Embora
não sejam um modelo de SGSST, baseiam-se em metodologias de prevenção
primária básica, apresentada de uma forma simples a empresas de pequena
dimensão. Poderiam, assim, ser adaptadas de modo a incluir alguns dos elementos
básicos do SGSST, designadamente os que se relacionam com a identificação de
perigos e com a avaliação de riscos, tal como as etapas constantes do Quadro 1 atrás
apresentado.

Os serviços de inspeção do trabalho fornecem um bom “vector” para o


aconselhamento e a difusão de informação sobre © ILO/Maillard J. formas simples de
gerir os riscos profissionais em pequenas e médias empresas. As organizações de
empregadores e de trabalhadores a nível nacional e internacional têm também um
papel importante a desempenhar relativamente ao desenvolvimento e à promoção
destes métodos, bem como na disponibilização da necessária formação profissional.
As empresas multinacionais têm um papel particularmente importante no que respeita
à influência a exercer sobre os seus fornecedores, muitos dos quais são pequenas
empresas. O facto de se ter em conta a cultura local pode facilitar grandemente a
aceitação de abordagens inovadoras em matéria de SST. Dado que cada vez mais
empresas se interessam realmente pelo SGSST, a saúde e segurança no trabalho e
as condições de trabalho deveriam melhorar tanto nos países desenvolvidos como
nos países em desenvolvimento.

4. PRINCIPAIS REQUISITOS DOS SISTEMAS DE GESTÃO


DE SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO

Política, Objetivos e Programas de Segurança e Saúde no Trabalho

Segundo a norma BSI-OHSAS 18001 (1999), a empresa deve implementar uma


política de segurança e saúde no trabalho, autorizada pela alta administração, que

27
claramente estabeleça os objetivos gerais de segurança e saúde e o
comprometimento com a melhoria do desempenho em segurança e saúde. Através
da implantação desta política, define-se um direcionamento geral para a empresa e
as diretrizes de atuação em relação à segurança e saúde do trabalho. Estas diretrizes
devem ser compostas por requisitos que efetivamente sejam cumpridos pela empresa
e que sejam evidenciados de maneira clara. A empresa deve fundamentar, com base
em sua política os objetivos e os respectivos programas de gestão da segurança e
saúde no trabalho.

O desdobramento da política e missão da empresa em objetivos quantificados


feito sucessivamente ao longo de todos os níveis da organização, de maneira a
permitir que cada pessoa saiba exatamente de que forma contribui, faz com que a
empresa seja facilmente manobrável, tornando-se mais ágil e dinâmica. Segundo a
norma BSI-OHSAS 18001 (1999), os programas de gestão de Segurança e Saúde
devem ser analisados criticamente em intervalos regulares e planejados. Onde
houver necessidade, estes programas devem ser revisados para atender às
mudanças nas atividades, produtos, serviços, ou condições operacionais da
organização. Os objetivos a serem estabelecidos devem ser mensuráveis sempre que
possível, a utilização de objetivos não mensuráveis só é recomendada quando a

28
empresa não encontrar formas adequadas para realizar o seu acompanhamento de
forma qualitativa. Os objetivos devem ser comunicados de forma eficaz a fim de que
as pessoas possam contribuir para atingi-los.

Identificação de Perigos, Avaliação e Controle dos Riscos

Para a norma BSI-OHSAS 18001 (1999) a organização deve estabelecer e


manter procedimentos para a contínua identificação de perigos, avaliação de riscos e
a implementação das medidas de controle necessárias. Estes devem incluir:

✓ Atividades de rotina e não-rotina;


✓ Atividades de todo o pessoal que têm acesso ao local de trabalho (incluindo
subcontratantes e visitantes);
✓ Instalações

Segundo norma BSI-OHSAS 18001 (1999), a organização deve garantir que os


resultados dessas avaliações e os efeitos dos controles sejam considerados para o
estabelecimento dos objetivos de Segurança e Saúde no Trabalho, devendo
documentar e manter tais informações atualizadas.

Tomando como base o pressuposto de que é impossível ocorrer um acidente e


suas consequências sem a presença de um perigo, as empresas devem buscar o
total conhecimento dos perigos e riscos existentes em seus ambientes de trabalho,
estabelecendo uma sistemática que permita a criação de um inventário dos perigos e
riscos existentes, contemplando a avaliação dos riscos envolvidos, devendo ser
proativo e com objetivo garantir que todos os perigos atuais e futuros sejam
identificados e tratados adequadamente. O gerenciamento de riscos é de fundamental
importância, pois auxilia a tomada de decisão na área de Segurança e Saúde e
permitir melhor alocação de recursos, além de subsidiar o processo de definição de
medidas de controle, podendo avaliar quais riscos são toleráveis e quais devem ser
controlados.

Estes dados também devem subsidiar o estabelecimento dos objetivos e


programas, direcionando os recursos para as áreas mais importantes, o que resulta
em uma melhoria na relação custo-benefício. Deve-se notar a importância deste

29
requisito pois o desempenho de segurança e saúde está diretamente ligado à eficácia
de sua implementação, ou seja, se os perigos e riscos forem mal identificados ou
avaliados, todas as ações decorrentes serão realizadas de forma inadequada. A
empresa, baseando-se na identificação de perigos e avaliação de riscos, deve
identificar quais são os processos que podem contribuir para a eliminação dos perigos
ou para a redução dos riscos, e estabelecer os controles necessários, considerando
diversos fatores, entre eles: o nível de risco existente, os custos, a praticidade do
controle e a possibilidade de se introduzir novos perigos, a fonte (perigo), o meio e o
homem, e quanto mais próximos os controles estiverem das fontes mais eficientes e
efetivos eles serão.

Os controles operacionais na fonte, devem dar prioridade à eliminação dos


perigos ou evitar que eles existam, pois, uma vez que não existe o perigo, não haverá
o acidente. Deve-se destacar que essa forma de controle pode demandar a aplicação
de novas tecnologias, mudanças significativas nos processos e consequentemente
maiores investimentos para se obter resultados mais significativos. Os controles nos
meios baseiam-se na criação de barreiras para prevenir que o homem fique exposto
a um determinado perigo, sem que este seja eliminado.

Uma vez aplicadas, operando corretamente e com as devidas manutenções, as


barreiras não demandam ações por parte das pessoas. Uma das maiores dificuldades
em relação a esse tipo de controle é que, muitas vezes, as barreiras são removidas
ou tornadas inoperantes, expondo as pessoas ao risco. Esse tipo de controle, em
alguns casos, pode criar uma falsa sensação de segurança, podendo gerar graves
acidentes. O controle sobre as pessoas baseia-se no estabelecimento de parâmetros
para a forma de pensar e agir dos trabalhadores, como intuito de que os processos
ocorram de maneira segura. Este deve ser utilizado como último recurso, somente
nos casos em que não é possível conseguir uma forma praticável de tornar o ambiente
de trabalho intrinsecamente seguro.

30
Exigências Legais e Outras

Para a norma BSI-OHSAS 18000 (1999), a organização deve estabelecer e


manter procedimento para identificar e acessar a legislação e outras exigências de
Segurança e Saúde no Trabalho que lhe são aplicáveis. A organização deve manter
estas informações atualizadas. Deve comunicar informações relevantes sobre
legislação e outras exigências aos seus empregados e a outras partes interessadas.
A falta de um processo adequado para identificação e aplicação de legislações e
normas nas empresas pode contribuir para o seu descumprimento e as consequentes
multas, embargos e acidentes.

Estrutura e Responsabilidade

Segundo a norma BSI-OHSAS 18001 (1999), a responsabilidade final sobre


segurança e saúde no trabalho pertence à alta administração. A organização deve
designar um membro da alta administração (por exemplo, em uma grande
organização, um diretor ou um membro do comitê executivo) com a particular
responsabilidade de assegurar que o sistema de gestão de Segurança e Saúde no
Trabalho seja devidamente implementado e atende aos requisitos em todas as
situações e locais de operação da organização. A administração deve fornecer
recursos essenciais para a implementação, controle e melhoria do sistema de gestão
de Segurança e Saúde no Trabalho.

Treinamento, Conscientização e Competência

Para a norma BSI-OHSAS 18001 (1999), a empresa deve estabelecer um


procedimento para identificar e prover as competências necessárias para se exercer
cada um dos cargos existentes, podendo considerar as seguintes fontes: - Demandas
relacionadas aos objetivos e programas de gestão de Segurança e Saúde no
Trabalho; - Requisitos legais e outras exigências; - Procedimentos e instruções de
segurança; - Resultados de avaliações de desempenho de equipes; - Identificação
dos perigos e avaliação dos riscos; - Antecipação das necessidades de sucessão de
gerentes e da força de trabalho; - Alterações em processos, ferramentas e
equipamentos. As competências podem ser estabelecidas em documentos, que é

31
utilizado como base para a realização de novas contratações, mudanças de funções
e para a identificação de necessidades de novos treinamentos, para a garantia de
que não haja pessoas inabilitadas realizando atividades.

Consulta e Comunicação

A norma BSI-OHSAS 18001 (1999) determina que a empresa deve possuir um


procedimento que estabeleça a sistemática para assegurar uma boa comunicação
entre a gerência e os trabalhadores e vice-versa, entre a empresa e todas as partes
interessadas. A comunicação entre os trabalhadores e a gerência deve ser
desenvolvida por meio de um procedimento que proporcione uma sistemática
confiável.

Preparação e Atendimento a Emergências

Segundo a norma BSI-OHSAS 18001 (1999), a organização deve analisar


criticamente os planos e procedimentos de preparação e atendimento a emergências,
especialmente após a ocorrência de incidentes ou situações de emergência. Com
base nos perigos existentes, deve-se identificar as hipóteses de emergências,
considerando todos os novos perigos que possam surgir e suas decorrentes
hipóteses de emergência, como por exemplo, novas instalações, novos
equipamentos, introdução de novos materiais e serviços. Nenhuma atividade pose
ser realizada de maneira totalmente segura. Desta forma, a empresa deve ter planos
ou procedimentos que definam como agir em uma eventual situação de emergência,
o que poderá se tornar a diferença entre um pequeno acidente e evento catastrófico.
Araujo (2006b) cita que a eficácia da resposta durante as emergências é uma função
da quantidade e qualidade do planejamento, dos treinamentos e simulados
realizados.

Medição e Monitoramento do Desempenho

Para a norma BSI-OHSAS 18001 (1999), as empresas devem aumentar sua


capacidade de julgamento analítico por meio da obtenção de informações atualizadas
que lhes permitam construir estratégias consistentes para abordar seus problemas.
Devem também, identificar quais elementos chave para o desempenho em

32
Segurança e Saúde no Trabalho (processos, programas, objetivos, procedimentos
etc.) devem ser medidos e monitorados, estabelecendo procedimentos para a coleta,
processamento dos dados e para a avaliação das informações de modo que permita
a tomada de decisões e a intervenção. Este requisito estabelece alguns elementos
que devem obrigatoriamente ser medidos e monitorados, como por exemplo, o
atendimento dos objetivos e das leis e normas aplicáveis, os acidentes e quase-
acidentes.

Recomenda-se que o Sistema de Gestão de Segurança e Saúde contemple


entre seus elementos mecanismos adequados para obter e processar informações
que sejam capazes de proporcionar não somente interpretações adequadas sobre os
eventos passados, mas assegurar a compreensão dos processos organizacionais a
fim de que essas informações possam ser incorporadas ao ciclo de melhoria contínua.
Este requisito também exige que, com base em suas formas de medição e
monitoramentos, devem ser identificados e controlados os equipamentos de medição
utilizados. Essa exigência busca assegurar que os equipamentos utilizados estejam
adequados ao seu uso e com a precisão exigida, garantindo a confiabilidade das
medições realizadas.

Acidentes, Incidentes, Não-Conformidades, Ações Preventivas e Corretivas

Para a norma BSI-OHSAS 18001 (1999), estes procedimentos devem requerer


que toda ação preventiva e corretiva proposta seja analisada criticamente durante o
processo de avaliação de riscos antes de sua implementação. Qualquer ação
preventiva ou corretiva tomada para eliminar as causas das não-conformidades, reais
ou potenciais, deve ser adequada à magnitude dos problemas, e proporcional aos
riscos de segurança e saúde no trabalho encontrado. A organização deve
implementar e registrar quaisquer mudanças nos procedimentos documentados
resultantes das ações preventivas e corretivas.

A empresa deve estabelecer um procedimento com a sistemática para a


identificação e para a análise das não-conformidades, acidentes e incidentes, e para
a subsequente tomada de ações corretivas e preventivas. Quando a empresa cria um

33
espaço facilitador para tratar dos problemas ali existentes, nas suas dimensões de
efeitos e causas, é possível melhorar, de forma considerável, a visão dos problemas
em sua verdadeira essência e dar-lhes a solução adequada. Assim, este requisito tem
ligação direta com o conceito de retroação, pois objetiva garantir ao sistema de gestão
uma melhoria do desempenho com base nos problemas detectados, sejam eles reais
ou potenciais.

O procedimento exigido por este requisito deve contemplar os seguintes itens


básicos: - Formas de identificação das não-conformidades, acidentes e quase-
acidentes; - Técnicas utilizadas para a investigação das causas; - Forma de
planejamento das ações necessárias (de correção, corretivas ou preventivas),
incluindo a definição de prazos e responsáveis; - Forma de acompanhamento da
implementação das ações planejadas; - Forma de avaliação da eficácia das ações
implementadas. As ações corretivas e preventivas devem ser analisadas pelo
processo de identificação de perigos e riscos, pois os acidentes ou quase-acidentes
poderem ser resultantes de um perigo que não foi identificado, ou que não foi
controlado de maneira eficaz, além da possibilidade de surgirem perigos resultantes
das ações estabelecidas.

Documentação e Controle de Documentos, Dados e Gestão de Registros

Segundo a norma BSI-OHSAS 18001 (1999), os registros de segurança e saúde


no trabalho devem ser legíveis, identificáveis e rastreáveis às atividades envolvidas.
Os registros de segurança e saúde no trabalho devem ser arquivados e mantidos de
maneira que possam ser rapidamente recuperados e protegidos contra danos,
deterioração ou perda. O tempo de retenção deve ser estabelecido e registrado.
Registros devem ser mantidos, de acordo com a necessidade do sistema e da
organização, para demonstrar conformidade com esta especificação OHSAS. O
objetivo deste requisito é assegurar que a empresa mantém sob controle todos os
registros gerados, os quais comprovam a implementação e operação do sistema de
gestão de segurança e saúde no trabalho e servem como fontes de informação para
a retroação do sistema.

34
A norma BSI-OHSAS 18001 (1999) estabelece que o Sistema de Gestão de
Segurança e Saúde no Trabalho deve ser baseado em documentos, pois parte do
principio de que a documentação é um elemento chave para a realização de qualquer
processo que envolva comunicação, permitindo que o conhecimento existente relativo
à Segurança e Saúde no Trabalho seja mantido e aperfeiçoado de forma contínua,
mesmo com a mudança das pessoas. Deve-se também ser desenvolvido um manual
ou documento similar que contemple essas informações, explicando o funcionamento
do Sistema de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho em linhas gerais. Todos
os documentos desenvolvidos para o sistema de gestão devem ser controlados por
meio de um procedimento que assegure que eles sejam criados e distribuídos de
forma organizada, permitindo a sua correta utilização.

Auditoria e Análise Crítica pela Administração

A norma BSI-OHSAS 18001 (1999), cita que a organização deve estabelecer e


manter um programa de auditorias e procedimentos para a execução de auditorias
periódicas do sistema de gestão de segurança e saúde no trabalho. Devendo ser
baseado nos resultados das avaliações de risco das atividades da organização, e nos
resultados de auditorias anteriores. Os procedimentos de auditoria devem abranger
o escopo, a frequência, as metodologias, as competências, bem como as
responsabilidades e requisitos para conduzir auditorias e relatar os resultados. Desta
forma, a empresa deve possuir uma sistemática para realização de auditorias internas
do sistema a fim de garantir sua implementação, manutenção e melhoria contínua.
Esta é uma etapa essencial para dar consistência ao ciclo de melhoria contínua e
contribuir para a aprendizagem organizacional.

A norma BSI-OHSAS 18001 (1999), cita no requisito 4.6, que a alta


administração da organização deve, em intervalos por ela determinados, analisar
criticamente o sistema de gestão de segurança e saúde do trabalho para assegurar
sua contínua conveniência, adequação e eficácia. O processo de análise crítica pela
administração deve garantir que as informações necessárias sejam coletadas para
permitir que a administração realize a avaliação. Esta análise crítica deve ser
documentada. A análise crítica deve abordar a possível necessidade de mudanças

35
na política, objetivos e outros elementos do sistema de gestão de segurança e saúde
do trabalho, à luz dos resultados das auditorias do sistema de gestão, das mudanças
das circunstâncias e do comprometimento com a melhoria contínua.

Este requisito tem como foco o desempenho global do sistema de gestão de


segurança e saúde do trabalho e não a análise de dados específicos, visto que estes
devem ser tratados pelos demais elementos do sistema (medição e monitoramento,
ação corretiva e preventiva etc.). Os resultados das auditorias e análise crítica devem
gerar adequações e ações corretivas sobre o sistema de gestão de segurança e
saúde no trabalho, garantindo sua contínua adequação à realidade da empresa e
buscando a melhoria contínua do desempenho.

5. SISTEMAS DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE


OCUPACIONAL

Os sistemas de gestão da Segurança e Saúde no Trabalho é um conjunto de


iniciativas da organização, formalizado através de políticas, programas,
procedimentos e processos de negócio da organização para auxiliá-la a estar em
conformidade com as exigências legais e demais partes interessadas, conduzindo
suas atividades com ética e responsabilidade social. Os elementos deste sistema de
gestão não são estáticos e devem reagir e se adaptarem aos desvios (reais ou
potenciais) que ocorram em relação aos seus objetivos e propósitos, visando à
melhoria contínua.

36
Tavares Jr. (2001), diz que, embora a gestão da saúde e segurança ainda não
exista como norma internacional, como é o caso da ISO 9000 para qualidade e da
ISO 14000, para a gestão ambiental, os especialistas da área acreditam que a
questão da saúde e segurança terá o mesmo caminho, considerando a série de
normas britânicas BS 8800 para sistemas de gestão de segurança e saúde. Diferente
das normas de qualidade e ambiental que são certificadoras, as normas de saúde e
segurança vêm na forma de guia unificando todo um conteúdo. No Brasil, há diversas
empresas que já possuem ou trabalham para obter sistemas integrados que
incorporam os requisitos da ISO 9000, ISO 14000 e as diretrizes da BS 8800.

Para implementação do Sistema de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho,


também é importante conhecer os níveis de desempenho em relação à Segurança e
Saúde no Trabalho que as organizações podem apresentar, visto que o propósito
básico do sistema é atuar sobre esse desempenho. Estes sistemas de gestão de
podem contribuir para que empresas obtenham um nível de melhoria contínua de
desempenho, visto que apresentam mecanismos sistêmicos de melhoria,
fundamentando-se em uma atuação proativa. Segundo o BSI (1996), em 1996 foi
criada a norma BS 8800 que tem como objetivo ser uma ferramenta para os
administradores, empregados e profissionais envolvidos com a Segurança do
Trabalho e outras especialidades terem a sua disposição uma “bússola” para seguir
e direcionar suas ações.

37
Dentre os objetivos da norma destacam-se: - Valorização do Capital Humano; -
Melhora do rendimento do trabalho; - Garantia do sucesso da organização; - Melhora
da imagem da organização frente à sociedade. Esta norma foi criada com a intenção
de proporcionar uma linguagem comum para os sistemas de gestão de segurança e
saúde ocupacional, auxiliando as empresas a estabelecer uma plataforma universal
para tratar e administrar questões de risco, higiene no trabalho, comportamento e
atitudes seguras em relação ao ambiente onde se exercem alguma atividade. Em
1999, foi criada A Norma Occupational Health and Safety Assessment Series OHSAS
18000 que apresenta os requisitos para um sistema em saúde e segurança
ocupacional, permitindo a uma organização controlar seus riscos em saúde e
segurança ocupacional e melhorar seu desempenho.

Ela não estabelece critérios específicos de desempenho em saúde e segurança


ocupacional, nem fornece especificações detalhadas para a concepção de um
sistema de gestão. A série de avaliação de saúde e segurança ocupacional OHSAS
18001 foi projetada para ajudar as organizações a formularem políticas e metas de
saúde e segurança ocupacional, incluindo a norma 18002, Diretrizes para a
implementação da OHSAS 18001.

Os elementos de um sistema de saúde e segurança ocupacional exigem um


processo contínuo de revisão e avaliação, dentro do conceito de melhoria contínua,
levando em conta o aperfeiçoamento e a minimização de todas as não-conformidades
em saúde e segurança. Segundo Tavares Jr. (2001) nesta avaliação, a identificação
de um elemento com alto percentual ou indicador elevado em uma não-conformidade,
pode ser usado como indicador de prioridade para eliminar a não-conformidade ou
reduzi-la a padrões estabelecidos nas Normas Regulamentadoras.

5.1 O SGSST e os sectores de risco elevado

Pelo atrás demonstrado, a essência da SST é a gestão dos riscos profissionais.


Do mesmo modo, o SGSST é um método “genérico”, que pode ser adaptado à gestão
dos riscos específicos de uma determinada indústria ou processo produtivo,
particularmente em indústrias de risco elevado, nas quais a implementação de

38
medidas preventivas e de proteção requer uma avaliação exaustiva e organizada dos
riscos e a verificação contínua da eficácia de sistemas de controlo complexos. Alguns
dos exemplos que a seguir se indicam descrevem a aplicação do SGSST a sectores
chave de risco elevado da atividade económica.

O setor da construção tem uma taxa elevada de acidentes de trabalho, sendo


que o recurso a múltiplos empreiteiros e subempreiteiros é regra nos estaleiros de
construção. Um forte incentivo para se utilizar um SGSST neste sector é o facto de
que o mesmo oferece uma matriz comum, permitindo que todos os intervenientes no
empreendimento possam harmonizar o planeamento, a implementação e a
monitorização das exigências em matéria de SST e construir uma base para a
auditoria ao desempenho. Facilita também a integração das necessidades de SST na
preparação das fases prévias dos processos complexos de concepção e de
planeamento, contratação e arranque de um projeto de construção. Assim, a
implementação de sistemas de gestão integrados no sector da construção é
reconhecida como uma ferramenta eficaz para assegurar uma integração coerente
da qualidade, das questões ambientais e de SST num estaleiro com múltiplos
intervenientes.

A indústria mineira é outra indústria de risco elevado, na qual o SGSST, com a


sua abordagem coerente, progressiva e lógica pode constituir uma ferramenta eficaz
na redução de acidentes e de doenças profissionais. O sector marítimo é outro
exemplo de um sector de alto risco. A Convenção sobre Trabalho Marítimo da OIT,
2006, tem como objetivo promover a preparação de linhas orientadoras e de políticas
nacionais relativamente a sistemas de gestão de segurança e saúde no trabalho e de
disposições, regras e manuais sobre a prevenção de acidentes.

5.2 Produtos químicos e SGSST

Dado que os produtos químicos são uma parte integrante do nosso ambiente
natural e urbano, com benefícios inestimáveis para a sociedade, não há escolha
possível a não ser aprender a gerir eficientemente os seus efeitos indesejáveis e
prejudiciais. As estratégias de segurança relativamente aos produtos químicos

39
deverão, para serem eficazes, conformar-se totalmente aos princípios gerais de SST,
nomeadamente à identificação e à caracterização de perigos, à caracterização de
riscos, à avaliação da exposição e, acima de tudo, à implementação de uma
abordagem sistémica para conseguir uma gestão racional dos produtos químicos.
Esta gestão requer mais uma abordagem integrada do que medidas isoladas,
especialmente quando alguns desses problemas podem muitas vezes ter um impacto
global. Uma gestão racional pode abranger o ciclo de vida completo dos produtos
químicos.

Todas as recentes regulamentações e estratégias que promovem a gestão


racional dos produtos químicos a nível internacional, nacional e organizacional,
integram os princípios do SGSST. A prevenção da exposição a produtos químicos
perigosos é o objetivo fulcral da avaliação de riscos. Organizações
intergovernamentais e internacionais, tais como a OIT, a Organização Mundial de
Saúde (OMS), o Programa Ambiental das Nações Unidas (PANU), a Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização de
Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE), colaboram para produzir
diversos princípios orientadores sobre perigos e avaliação de riscos, adoptados a
nível internacional e largamente utilizados como documentos de referência para
avaliar riscos profissionais.

O Sistema Global Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos


Químicos (SGH), as Fichas Internacionais de Segurança em Produtos Químicos ou
os Documentos Sucintos Internacionais sobre a Avaliação de Produtos Químicos
(CICAD) no âmbito do Programa Internacional de Segurança Química, são exemplos
de trabalho conjunto e de cooperação a nível internacional nesta área. Entre a ampla
gama de normas da OIT em SST, a Convenção da OIT sobre os Produtos Químicos,
1990 (N.º 170), oferece um vasto campo de aplicação e um enquadramento nacional
abrangente no sentido de uma gestão racional dos produtos químicos, incluindo a
formulação, a implementação e a revisão periódica de uma política coerente2NT, em
consulta com organizações de Empregadores e de Trabalhadores.

40
Uma particularidade muito importante da Convenção traduz-se nas suas
disposições relativas à comunicação de perigos relativos aos produtos químicos e à
transferência de informações da parte dos fabricantes, dos fornecedores e dos
importadores para os utilizadores, relativas a uma utilização segura dos mesmos. A
respectiva Recomendação e o Código de Práticas sobre Segurança na utilização de
produtos químicos no trabalho, 1993, oferecem orientações adicionais. Um outro
instrumento internacional importante é a Abordagem Estratégica à gestão
Internacional de Produtos Químicos3 do PANU, 2006. O Regulamento da União
Europeia para o Registo, a Avaliação, a Autorização e a Restrição de Produtos
Químicos (REACH), de 2007, prevê o registo e a criação de dados para todos os
produtos químicos produzidos ou importados pela UE em quantidades superiores a
uma tonelada por ano.

A Lei Canadiana de Proteção Ambiental, 1999 é outro exemplo de uma


legislação que desenvolveu uma abordagem, com base nos riscos, para avaliação e
gestão de produtos químicos novos e já existentes. A indústria química desenvolveu,
à escala mundial, iniciativas voluntárias para a gestão racional dos produtos químicos;
dois bons exemplos a citar são: Cuidados4NT Responsáveis e Gestão de Produtos.
A capacidade limitada das PMEs para gerir a exposição aos produtos químicos
conduziu recentemente ao desenvolvimento de uma nova abordagem à gestão dos
mesmos. Chama-se Nivelamento do Controlo (Control Banding), um método baseado
na vigilância da exposição através do qual um produto químico é classificado em
função do seu grau de risco. A cada grau de risco correspondem medidas de controlo
definidas com base na respectiva classificação de riscos, de acordo com critérios
internacionais, com a quantidade de produtos químicos em uso e com a respectiva
volatilidade/pulverulência.

5.3 Pontos fortes de um SGSST

Atualmente reconhece-se que a abordagem dos sistemas de gestão tem


vantagens importantes para a implementação de SST, algumas das quais foram já
atrás identificadas. Uma abordagem sistémica vai também ajustando o programa

41
genérico de segurança e saúde ao longo do tempo, permitindo que as decisões sobre
o controlo e a redução de riscos sejam progressivamente aperfeiçoadas. Outras
vantagens chave são:

➢ Possibilidade de integrar as exigências em matéria de SST em sistemas


empresariais e de alinhar os objetivos de SST com os objetivos das empresas,
resultando, assim, numa melhor consciencialização dos custos de implementação
relacionados com o controlo de processos e equipamentos, competências,
formação profissional e informação;
➢ Harmonização das necessidades de SST com outras necessidades associadas,
designadamente as que se referem à qualidade e ao ambiente;
➢ Fornecimento de um suporte lógico sobre o qual estabelecer e gerir um programa
de SST, que ponha em evidência todos os elementos que necessitem de ação e
de monitorização;
➢ Racionalização e melhoria de mecanismos de comunicação, de políticas, de
procedimentos, de programas e de objetivos de acordo com um conjunto de regras
aplicadas universalmente;
➢ Adaptabilidade a diferenças existentes em sistemas reguladores e culturais
nacionais;
➢ Estabelecimento de um enquadramento conducente à construção de uma cultura
preventiva de segurança e saúde;
➢ Fortalecimento do diálogo social;
➢ Distribuição de responsabilidades de SST por todos os níveis da hierarquia:
gestores, empregadores e trabalhadores, a quem foram atribuídas
responsabilidades para uma implementação eficaz do sistema;
➢ Adaptação à dimensão e à atividade da organização e ao tipo de riscos
encontrados;
➢ Estabelecimento de um suporte para melhoria contínua; e,
➢ Disponibilização de base de dados para auditoria, para fins de avaliação de
resultados.

42
5.4 Limitações de um SGSST

Embora o potencial de um SGSST para melhorar a segurança e a saúde seja


inegável, há muitas armadilhas que, se não evitadas, podem muito rapidamente
conduzir ao insucesso. A utilidade de um SGSST tem sido questionada em vários
estudos levados a efeito sobre o assunto, nos quais foram sublinhadas algumas
dificuldades possíveis, tais como:

➢ A produção de documentos e de registos necessita de ser cuidadosamente


controlada para evitar a inibição do objetivo do sistema, atolando-o com informação
excessiva. A importância do fator humano pode perder-se caso se dê mais ênfase
aos procedimentos administrativos de um SGSST do que às pessoas.
➢ São de evitar os desequilíbrios entre os processos de gestão (qualidade, SST e
ambiente) para que as exigências e as prioridades não sejam enfraquecidas. A
falta de um planeamento cuidado e de uma ampla comunicação anterior à
introdução de um programa de SGSST pode levantar suspeitas e resistência à
mudança.
➢ Um SGSST dá geralmente maior ênfase à segurança do que à saúde, com o risco
de não detectar o surgimento de doenças profissionais. A vigilância da saúde
ocupacional dos trabalhadores deve ser integrada no sistema como um
instrumento importante e eficaz de controlo da saúde dos trabalhadores a longo
prazo. Os serviços de medicina ocupacional, tal como definidos na Convenção
sobre Serviços de Medicina Ocupacional, 1985 (N.º 161) e na correspondente
Recomendação (N.º 171), deveriam ser parte integrante do SGSST.

43
➢ Dependendo da dimensão da organização, os recursos necessários à
implementação de um SGSST podem ser significativos, devendo, assim, ser objeto
de uma estimativa realista de custos globais em termos do tempo necessário à
referida implementação, às competências e aos recursos humanos necessários
para a instalação e a gestão do sistema. Isto é particularmente importante quando
se trata de subcontratação do trabalho.

44
6. CONTROLO DE RISCOS GRAVES

45
A indústria química e o sector da energia (seja nuclear, carbonífera ou de base
petrolífera) são sectores de risco elevado, nos quais o SGSST foi primeiramente
aplicado e utilizado. Os acidentes industriais graves, tais como a explosão da nuvem
de vapor de metilciclohexano em Flixborough, no Reino Unido, em 1974, a fuga de
isocianato de metilo em 1984 em Bhopal, que matou milhares de pessoas na Índia, a
explosão da central nuclear de Tchernobyl em 1986 e, mais recentemente, a explosão
de nitrato de amónio que ocorreu em 2001 na fábrica de AZF em França, ilustram o
potencial das instalações industriais para provocar catástrofes e as consequências da
existência de disfunções na gestão de SST.

Muitos destes acontecimentos apressaram o desenvolvimento de instrumentos


reguladores e técnicos para o estabelecimento de procedimentos muito rigorosos de
detecção de perigos e de avaliação de riscos. Um elemento crítico nos procedimentos
de avaliação de riscos em instalações com risco de acidentes industriais graves é a
análise dos perigos nas fases de projeto, construção e funcionamento. Alguns
métodos e técnicas bem documentados no sentido de sistematizar a avaliação dos
riscos são a Análise Preliminar dos Riscos (PHA), o Estudo sobre Riscos e
Operabilidade5NT (HAZOP), Análise da Árvore de Falhas (FTA), ou Análise de Modos
de Falha e Efeitos (FMECA). Muitos destes métodos foram inicialmente
desenvolvidos pela indústria de energia nuclear e adaptados a outros processos.

Estes instrumentos ajudam na identificação de potenciais falhas de


determinados elementos do processo, antecipando consequências, desenvolvendo
medidas preventivas e preparando planos de emergência e de intervenção eficazes.
A maior parte dos países industrializados desenvolveu critérios regulamentares para
considerar instalações industriais como instalações com risco de acidentes graves,
requerendo medidas de segurança e saúde muito específicas e rigorosas. A Diretiva
“Seveso” 96/82/CE de 1996 da UE, sobre o controlo de riscos associados a acidentes
graves envolvendo substâncias perigosas, é um bom exemplo dos referidos
regulamentos. A Convenção da OIT sobre a prevenção de acidentes industriais
graves, 1993 (N.º 174) propõe um modelo de suporte sistemático e abrangente para
a proteção dos trabalhadores, do público e do ambiente contra acidentes industriais

46
graves envolvendo substâncias perigosas, bem como para a redução das
consequências desses acidentes nos locais em que ocorram.

As normas estabelecem a identificação sistemática de instalações com riscos


de acidente grave e do respectivo controlo, das responsabilidades dos empregadores,
das autoridades competentes e dos direitos e responsabilidades dos trabalhadores.
Definem igualmente as responsabilidades dos países exportadores. A
correspondente Recomendação (N.º 181) contém disposições suplementares, como
por exemplo o transporte internacional e a rápida indemnização das vítimas de
acidentes. Estabelece também que os países que ratificaram a Convenção deveriam
ter em conta o Código de Práticas em prevenção de acidentes graves, BIT 1991, para
a formulação da sua política nacional, e que as multinacionais deveriam providenciar
medidas semelhantes em todos os seus estabelecimentos. O BIT desenvolveu
igualmente um manual sobre Controlo de Riscos Graves, (1993), visando apoiar os
países no desenvolvimento de sistemas e de programas de controlo e prevenção
aplicáveis às instalações com riscos de acidente grave.

6.1 Nanotecnologias

A aplicação de nanotecnologias à produção de nanomateriais e os efeitos


potencialmente adversos para a saúde humana da exposição a partículas inferiores
a 100 nanómetros, são preocupações maiores emergentes de SST. As
nanopartículas manufaturadas podem ter propriedades químicas, físicas e biológicas
claramente diferentes das propriedades de partículas maiores de composição
química similar. Um estudo bibliográfico relata algumas exposições de carácter
profissional e ambiental a um número limitado de nanomateriais, mas seriam
necessários muito mais dados para caracterizar os efeitos sobre a saúde e o ambiente
associados à exposição a tais materiais.

Vários governos e organizações governamentais, como a Organização de


Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), criaram grupos de trabalho
para: avaliar o possível impacto dos nanomateriais na saúde humana e no ambiente;
conceber a classificação e os métodos de avaliação dos riscos, e as medidas de

47
gestão; avaliar as implicações da produção industrial e do uso de nanomateriais na
regulamentação. Esta cooperação é um bom exemplo da aplicação de uma avaliação
de um risco emergente analisada a nível internacional.

7. DIFICULDADES E RECOMENDAÇÕES PARA GESTÃO DA


SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

As organizações estão enfrentando um ambiente repleto de mudanças e


complexidades que interferem profundamente no desempenho da produção, no ciclo
de vida dos produtos e na velocidade de modernização de produtos e processos. A
internacionalização dos mercados tem aumentado a competitividade entre as
empresas, o que as tem conduzido a se empenharem em projetos que possam
aumentar suas chances de sobrevivência, tal como o desenvolvimento de sistemas
de gestão normatizados. Porém, para alcançar bons resultados, estes projetos
precisam ser adequadamente planejados, organizados, monitorados, controlados e
avaliados. Ao longo da década de 80, século XX, o conceito de cultura organizacional
ganhou grande destaque entre pesquisadores e executivos.

Nessa época, anunciava-se que a chave para o sucesso das organizações era
o desenvolvimento de uma cultura corporativa forte e única, acrescentando-se que a
alta direção deveria construí-la por meio da articulação de um conjunto de valores,

48
que seriam reforçados por políticas formais e informais; essa cultura corporativa
deveria também ser partilhada e respeitada por todos os colaboradores. Dessa forma,
a cultura corporativa tornou-se rapidamente uma arma a favor dos negócios bem-
sucedidos. Muitas organizações têm mostrado um interesse crescente no conceito da
cultura de segurança como um meio de reduzir os riscos de acidentes e incidentes. A
segurança não deve somente ser avaliada por meio de regulamentações, mas sim se
tornar parte da cultura da organização pelo comprometimento de todos os níveis da
administração. Estudos mostram que o sucesso na implantação de um SGSST
depende da habilidade dos agentes responsáveis pelas mudanças em controlar
situações complexas e
imprevisíveis.

Requisitos da OHSAS
18001.

49
Beer e Nohria (2001) salientam que a maioria dos casos de insucesso de
SGSSTs está na pressa de mudar a empresa. Os gestores confundem-se em suas
iniciativas e perdem o foco com a quantidade de alternativas disponíveis na literatura
e/ou propostas de consultores. Os funcionários se tornam mais dispostos a cooperar
com os projetos propostos pela organização quando começam a acreditar no real
comprometimento da direção. É esta participação em conjunto, direção-
colaboradores, que proporciona o sentimento de responsabilidade coletiva, tornando-
se fator decisivo para o sucesso da mudança. A aceitação e o entendimento do
conceito de SST por parte da diretoria e a participação da área de recursos humanos
neste processo de mudança são de fundamental importância para que se consiga o
envolvimento de todos os colaboradores e a obtenção de bons resultados no projeto.

As organizações podem melhorar os resultados em segurança focando em


melhorias de equipamentos e procedimentos, e procurando mudar positivamente o
comportamento humano por meio da educação e do treinamento. O
comprometimento da alta direção e a participação efetiva dos colaboradores na
criação de uma cultura de segurança consistente faz com que todos se sintam mais
responsáveis quanto à prevenção e à manutenção de um ambiente livre de acidentes
e riscos à saúde. Portanto, o sucesso de um programa de SST está intimamente

50
vinculado à participação da alta direção, da média gerência e dos colaboradores na
elaboração de políticas e no estabelecimento de um sistema de avaliação que leve à
melhoria contínua. Há uma correlação direta entre um ambiente de trabalho seguro e
o clima de segurança, que incluem compromisso da administração, comunicação,
envolvimento de colaboradores e atitudes proativas.

A eficiência de SGSSTs poderia ser consideravelmente maior se fossem


previamente observados alguns fatores negativos e de ocorrência comum, como:
perfil inadequado e falta de experiência dos empresários nestes assuntos; indicadores
de desempenho focados apenas em aspectos financeiros; falta de constância de
propósito; alegação de falta de tempo para realizar algumas tarefas de implantação
de SGSST; dificuldade de estabelecer metas e planos estratégicos a longo prazo;
falta de sentimento dos funcionários como efetivos colaboradores para o crescimento
da empresa; documentos mais burocráticos do que o necessário; alta rotatividade da
força de trabalho, e pouca utilização de registros. Segundo Aggelogiannopoulo,
Drosinos, Athanasopoulos, (2007), a falta de experiência e conhecimento dos
colaboradores acerca do novo sistema a ser implantado é um importante obstáculo a
ser superado.

O inadequado fluxo das informações técnicas, de legislações e requisitos


aplicáveis ao negócio da empresa, e a falta de divulgação dos resultados de
desempenho são fatores limitantes para que o processo de implantação de SGSSTs
alcance bons resultados. Para Shi et al. (2008), o treinamento técnico para
funcionários do chão-de-fábrica é um fator importante para que se consiga contribuir
com o desenvolvimento e a manutenção de um sistema de gestão. Em pesquisa
realizada por Salomone (2008), constataram-se os seguintes obstáculos na
implantação de SGSSTs: custos altos, dificuldades em encontrar recursos humanos
competentes, escassez de informações, falta de transparência das normas,
insuficiente apoio financeiro e dificuldade em mudar a mentalidade e a cultura das
pessoas envolvidas no processo. No Quadro 2, figuram, de forma sumária, as
principais motivações e os obstáculos encontrados na implantação de SGSSTs,
baseados na norma OHSAS 18001.

51
Principais motivações e obstáculos na implantação de SGSSTs

7.1 Os sistemas de gestão são benéficos para a SST?

Os SGSST não deveriam ser considerados como a panaceia que permite


melhorar a eficácia da organização relativamente a assegurar e a sustentar um
ambiente de trabalho seguro e saudável. Como qualquer método, o SGSST tem
pontos fortes e fracos, e a sua eficácia depende em grande parte da forma como é
entendido e aplicado. Enquanto que muitas organizações beneficiarão provavelmente
de uma versão exaustiva de um SGSST, outras poderão considerar a utilização de
uma abordagem à gestão de SST mais reduzida e menos formal. A decisão de optar
por um SGSST pode ser por vezes difícil de justificar, visto que a diferença entre um
programa e um sistema é potencialmente frágil.

As abordagens programáticas como a que a Convenção sobre SST da OIT 1981


(N.º 155) oferece, contêm características sistémicas e, do mesmo modo, as
abordagens dos sistemas contêm características programáticas. Isto passa-se

52
também num grande número de legislações nacionais de SST. Contudo, a gestão
sistémica confere à SST a possibilidade de estabelecer mecanismos visando não só
a avaliação e a melhoria contínua do desempenho de SST, mas também a construção
de uma cultura preventiva de segurança e saúde, tal como se encontra definida na
Estratégia Global em matéria de SST (2003) da OIT e na Convenção sobre um
Enquadramento Promocional para Segurança e Saúde no Trabalho da OIT, 2006 (N.º
187). O grau de eficácia de um SGSST só pode ser medido em função do
comportamento da gestão da organização no seu conjunto.

Como todos os métodos, tem pontos fortes e fracos que deveriam ser
conhecidos. É, assim, importante ter noção das armadilhas que podem provocar o
disfuncionamento de um SGSST, mas também saber quais os elementos a considerar
para assegurar a sua eficácia e beneficiar das importantes vantagens de um SGSST
para a segurança e saúde. Deve ter-se em atenção que estes pontos fortes e fracos
se aplicam principalmente a médias e grandes organizações, com os recursos
técnicos e financeiros necessários a uma ampla implementação do SGSST. É muito
importante lembrar que o SGSST é um método de gestão e não um programa de SST
em si próprio. Assim, uma abordagem sistémica de gestão funcionará unicamente em
função do que o suporte ou o programa de SSTT em vigor na organização permitam.
Os programas do SGSST devem funcionar no âmbito do suporte legislativo nacional
de SST e a organização deve assegurar que o sistema preveja uma verificação das
exigências da regulamentação e seja consequentemente atualizado. No Anexo 1
consta uma descrição genérica detalhada dos elementos de um sistema de gestão
de SST na organização, baseada na Convenção OIT-SST 2001.

8. BOAS PRÁTICAS PARA GESTÃO DE SISTEMAS DE SST

Com base no referencial teórico e nos estudos de caso realizados, apresentam-se, a


seguir, algumas boas práticas para a gestão de sistemas de segurança e saúde no
trabalho:

53
➢ Comprometimento da alta direção: quando os funcionários começam a acreditar
no real comprometimento da Direção para com o SGSST, eles sentem-se mais
dispostos a participar das iniciativas propostas pela organização e contribuem com
a proposição de sugestões para a melhoria do ambiente de trabalho, execução das
medidas estabelecidas e auxílio na conscientização dos demais colaboradores;
➢ Minimização da resistência às mudanças: fenômenos como conflitos, incertezas,
medo do desconhecido, falta de informação e sensações de perda de poder podem
gerar resistência às mudanças propostas e interferir negativamente na implantação
de SGSSTs. A resistência pode ser minimizada por meio de ações diversas:
incentivos a maior participação dos colaboradores no sistema, valorização de
opiniões, capacitação e adequada disponibilização de informações e recursos;
➢ Identificar aspectos da cultura da organização que podem contribuir ou prejudicar
o SGSST: fazer uma análise do perfil dos colaboradores e sua relação com a
organização para que se consiga identificar as principais resistências que podem
surgir durante a gestão de sistemas de SST tentando saná-las previamente, de
maneira a não causar perturbações desnecessárias;
➢ Capacitação técnica e gerencial dos profissionais responsáveis pela SST: os
técnicos de segurança do trabalho devem possuir habilidades tanto técnicas como
gerenciais e ter consciência de que para trabalhar em equipe e gerenciar pessoas
é necessário mostrar os benefícios individuais e coletivos da prevenção de
acidentes;
➢ Investir em comunicação interna: a empresa deve utilizar os meios e técnicas de
comunicação compatíveis com o nível de cultura de seus funcionários a fim de
informar os objetivos da empresa e as oportunidades que novos procedimentos
SST ou um novo sistema de gestão estruturado da segurança pode proporcionar;
➢ Desenvolver um mapa setorial de riscos: este mapa de riscos tende a ser melhor
aceito pelos colaboradores por resultar em maior conhecimento e proximidade
entre o trabalhador e o local com possível risco de gerar acidente. Desta forma, o
mapa se torna mais específico e de fácil leitura, ainda mais quando é
confeccionado com a participação da mão-de-obra envolvida;

54
➢ Investir em treinamentos técnicos e comportamentais: o treinamento deve ser
entendido como um meio eficaz para desenvolver competências específicas nos
colaboradores e torná-los mais produtivos e criativos. Para isto, é necessário que
sejam planejados de acordo com as necessidades identificadas no SGSST e de
acordo com os requisitos exigidos em cada função;
➢ Parceria com a área de recursos humanos: o envolvimento da área de recursos
humanos em todos os processos de mudança, sobretudo naqueles relacionados à
SST, é importante para que sejam identificadas as necessidades de treinamento
relacionadas ao desenvolvimento dos funcionários, bem como a utilização de
técnicas apropriadas para mitigação dos focos de resistência, possibilitando melhor
entendimento e real comprometimento dos colaboradores com as mudanças
propostas; e
➢ Definir indicadores de desempenho em SST e retroalimentar o sistema: a empresa
deve definir, implementar e monitorar indicadores de desempenho específicos para
as atividades relacionadas à SST. Eles têm como objetivo permitir que a alta
direção, os gerentes e os demais colaboradores visualizem o status do
desempenho do SGSST, permitindo, a partir disto, a realização de uma auto
avaliação da performance e o estabelecimento de planos de ação para eventuais
correções dos objetivos e metas estabelecidos.

9. ESOCIAL

O Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais Previdenciárias


e Trabalhistas (eSocial) é um novo sistema de prestação de informações ao
Governo Federal que tem como objetivo de tornar os processos dentro das
empresas mais transparentes e menos complexos.

Apesar de ser confundindo com um novo regime tributário, a realidade é que


trata-se apenas de uma unificação das informações trabalhistas. Ou seja,

55
trabalhadores celetistas, estatutários, autônomos, avulsos, cooperados, estagiários e
sem vínculo empregatício terá suas informações registradas no eSocial, ambiente
Nacional Virtual.

Os princípios do e-Social são:

• Dar maior efetividade à fruição dos direitos fundamentais trabalhistas e


previdenciários dos trabalhadores;
• Racionalizar e simplificar o cumprimento de obrigações previstas na legislação
pátria, relativa a cada matéria;
• Eliminar a redundância nas informações prestadas pelas pessoas física e
jurídica obrigadas;
• Aprimorar a qualidade das informações referentes a relações de trabalho,
previdenciárias e fiscais;
• Conferir tratamento diferenciado a ME/EPP

O eSocial foi criado para transmitir informações agrupadas por meio de


eventos, que devem ser encaminhados em uma sequência lógica.

Essa sequência pode ser contemplada como um conceito de “empilhamento”,


sendo que tais eventos relatam toda a dinâmica das contratações dos trabalhadores,
desde o seu início até o término.

Por isso, as informações transmitidas nos eventos iniciais são usadas nos
eventos seguintes e para alterar um dado de evento antigo, há de se verificar as
consequências/repercussões nos eventos posteriores.

Quem está obrigado ao eSocial?

56
Segundo o Manual de Orientação do eSocial, os declarantes (empregador,
órgão público, órgão gestor de mão de obra) que possuem a obrigatoriedade da
entrega das informações, são:

• Todo aquele que contratar prestador de serviço pessoa física e possua alguma
obrigação trabalhista, previdenciária ou tributária, em função dessa relação
jurídica de trabalho, inclusive se tiver natureza administrativa, conforme a
legislação pertinente;
• O obrigado pode figurar nessa relação como empregador, nos termos definidos
pelo art. 2º da CLT ou como contribuinte, conforme delineado pela Lei nº 5.172,
de 1966 (CTN), na qualidade de empresa, inclusive órgão público, ou de
pessoa física equiparada à empresa, conforme prevê o art. 15 da Lei nº 8.212,
de 1991;
• Os contribuintes que comercializam produção rural nas situações descritas no
Capítulo III do Manual;
• Também devem enviar informações ao Ambiente Nacional do eSocial os
contribuintes na situação “Sem Movimento”, detalhada no item 12 do Capítulo
I do Manual. Excetuam-se dessa obrigação:

a) A pessoa física que, no início da obrigatoriedade do eSocial, encontra-se na


situação “Sem Movimento”, enquanto essa situação perdurar;

b) O MEI sem empregado, que não possua obrigação trabalhista,


previdenciária ou tributária;

c) Os Fundos de Investimento, os quais não são revestidos de personalidade


jurídica e, portanto, não podem contratar. As informações devem ser prestadas pela
instituição financeira administradora do fundo.

“Faseamento” da entrega

57
Para garantir a segurança e eficiência da entrada em operação do eSocial,
definiu-se uma implementação progressiva por grupos para envio das obrigações.
Este “faseamento” é dividido por grupos de obrigados e, dentro de cada grupo, por
tipo de evento:

• na primeira fase, devem ser enviados os eventos de tabela;


• na segunda, os não periódicos;
• na terceira, os eventos periódicos;
• na quarta fase, os eventos de Segurança e Saúde no Trabalho.

Cada período de obrigatoriedade de eventos, dividido por grupo de obrigados,


é definido em legislação específica.

Definição dos grupos:

Grupo 01 - Empresas com faturamento superior a R$78 milhões

Grupo 02 - Empresas com faturamento inferior a R$78 milhões, exceto as


optantes pelo SIMPLES

Grupo 03 - ME e EPP optantes pelo SIMPLES, MEI, empregadores pessoas


físicas (exceto domésticos), entidades sem fins lucrativos

Grupo 04 - ME e EPP optantes pelo SIMPLES, MEI, empregadores pessoas


físicas (exceto domésticos), entidades sem fins lucrativos.

Apesar de ter o objetivo de desburocratizar o sistema de obrigações fiscais,


trabalhistas e previdenciárias, o eSocial exigiu das empresas brasileiras um esforço
significativo para adequar todas as suas informações.

Eventos do eSocial

58
Com a substituição de uma quantidade enorme de documentos, é de se
esperar que o eSocial contemple muitas informações, de diferentes tipos,
periodicidades e frequência de reutilização. Estas informações são organizadas
em eventos, cada um contendo seu layout próprio e os campos com informações
pertinentes à ele.

Os 48 eventos do eSocial são classificados em 4 tipos: Eventos Iniciais,


Eventos de Tabelas, Eventos Não-periódicos e Eventos Periódicos. Esses eventos
possuem uma sequência lógica de envio.

Eventos Iniciais

Esses eventos contém informações sobre o empregador, como classificação


fiscal e estrutura administrativa. Os dados enviados nestes eventos são aproveitados
em eventos periódicos e não-periódicos. No momento da implantação do eSocial na
empresa, deve-se enviar eventos deste tipo para cadastramento inicial dos vínculos
dos empregados ativos.

Na versão 2.2 do eSocial, existia o evento “S-2100: Cadastramento Inicial do


Vínculo”. Com a versão 2.3 do layout, as informações contidas neste evento foram
absorvidas pelo evento “ S-2200: Admissão do Trabalhador”. Assim sendo, o S-2100
foi removido e restou somente um Evento Inicial:

• S-1000 – Informações do Empregador/Contribuinte/Órgão Público

Eventos de Tabela

Complementando os eventos iniciais, os Eventos de Tabelas incluem


informações importantes, que se repetem em diversos eventos periódicos e não-
periódicos, aparecendo várias vezes no layout.

Devem ser transmitidos imediatamente após os Eventos Iniciais, pois as


informações aqui contidas são imprescindíveis para a composição do restante dos
eventos do eSocial.

59
Uma vez enviadas as informações para preenchimento destas tabelas, é
necessário mantê-la perfeitamente atualizada, enviando eventos de retificação
conforme ocorram alterações.

Os Eventos de Tabelas possuem um campo chamado “data de início de


validade” e “data de fim de validade” que estabelecem a validade das informações.
Sempre que necessário enviar um evento de alteração das tabelas, deve-se alterar a
data de validade.

Os Eventos de Tabelas são:

• S-1005 – Tabela de Estabelecimentos, Obras ou Unidades de Órgãos Públicos


• S-1010 – Tabela de Rubricas
• S-1020 – Tabela de Lotações Tributárias
• S-1030 – Tabela de Cargos/Empregos Públicos
• S-1035 – Tabela de Carreiras Públicas
• S-1040 – Tabela de Funções/Cargos em Comissão
• S-1050 – Tabela de Horários/Turnos de Trabalho
• S-1060 – Tabela de Ambientes de Trabalho
• S-1070 – Tabela de Processos Administrativos/Judiciais
• S-1080 – Tabela de Operadores Portuários

Eventos Não-Periódicos

Como o nome sugere, são eventos que acobertam acontecimentos que não
tem uma data pré-fixada para acontecer, relacionados à direitos e deveres
trabalhistas, previdenciários e fiscais.

Por exemplo, a admissão de um novo empregado, alteração salarial, acidente


de trabalho, demissão, entre outros eventos sem periodicidades fixas para ocorrer.

Os Eventos Não-Periódicos são:

• S-2190 – Admissão de Trabalhador – Registro Preliminar

60
• S-2200 – Cadastramento Inicial do Vínculo e Admissão/Ingresso de
Trabalhador
• S-2205 – Alteração de Dados Cadastrais do Trabalhador
• S-2206 – Alteração de Contrato de Trabalho
• S-2210 – Comunicação de Acidente de Trabalho
• S-2220 – Monitoramento da Saúde do Trabalhador
• S-2221 – Exame Toxicológico do Motorista Profissional
• S-2230 – Afastamento Temporário
• S-2240 – Condições Ambientais do Trabalho – Fatores de Risco
• S-2245 – Treinamentos, Capacitações, Exercícios Simulados e Outras
Anotações
• S-2250 – Aviso Prévio
• S-2260 – Convocação para Trabalho Intermitente
• S-2298 – Reintegração
• S-2299 – Desligamento
• S-2300 – Trabalhador Sem Vínculo de Emprego/Estatutário – Início
• S-2306 – Trabalhador Sem Vínculo de Emprego/Estatutário – Alteração
Contratual
• S-2399 – Trabalhador Sem Vínculo de Emprego/Estatutário – Término
• S-2400 – Cadastro de Benefícios Previdenciários – RPPS
• S-3000 – Exclusão de eventos
• S-5001 – Informações das contribuições sociais por trabalhador
• S-5002 – Imposto de Renda Retido na Fonte
• S-5003 – Informações do FGTS por Trabalhador
• S-5011 – Informações das contribuições sociais consolidadas por contribuinte
• S-5012 – Informações do IRRF consolidadas por contribuinte
• S-5013 – Informações do FGTS consolidadas por contribuinte

Eventos Periódicos

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Eventos Periódicos são eventos relacionados à acontecimentos com datas
fixas para acontecer, como por exemplo, a folha de pagamentos.

Os Eventos Periódicos são:

S-1200 – Remuneração de trabalhador vinculado ao Regime Geral de Previd.


Social

S-1202 – Remuneração de servidor vinculado a Regime Próprio de Previd.


Social

S-1207 – Benefícios previdenciários – RPPS

S-1210 – Pagamentos de Rendimentos do Trabalho

S-1250 – Aquisição de Produção Rural

S-1260 – Comercialização da Produção Rural Pessoa Física

S-1270 – Contratação de Trabalhadores Avulsos Não Portuários

S-1280 – Informações Complementares aos Eventos Periódicos

S-1295 – Solicitação de Totalização para Pagamento em Contingência

S-1298 – Reabertura dos Eventos Periódicos

S-1299 – Fechamento dos Eventos Periódicos

S-1300 – Contribuição Sindical Patronal

Eventos removidos

S-1030 – Tabela de Cargos/Empregos Públicos;

S-1035 – Tabela de Carreiras Públicas;

S-1040 – Tabela de Funções/Cargos em Comissão;

S-1050 – Tabela de Horários/Turnos de Trabalho;

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S-1060 – Tabela de Ambientes de Trabalho;

S-1080 – Tabela de Operadores Portuários;

S-1250 – Aquisição de Produção Rural;

S-1295 – Solicitação de Totalização para Pagamento em Contingência;

S-1300 – Contribuição Sindical Patronal;

S-2221 – Exame Toxicológico do Motorista Profissional;

S-2245 – Treinamentos, Capacitações, Exercícios Simulados e Outras


Anotações;

S-2250 – Aviso Prévio;

S-2260 – Convocação para Trabalho Intermitente.

Eventos incluídos

S-2231 – Cessão/Exercício em Outro Órgão;

S-2405 – Cadastro de Beneficiário – Entes Públicos – Alteração;

S-2410 – Cadastro de Benefício – Entes Públicos – Início;

S-2416 – Cadastro de Benefício – Entes Públicos – Alteração;

S-2418 – Reativação de Benefício – Entes Públicos;

S-2420 – Cadastro de Benefício – Entes Públicos – Término;

S-8299 – Baixa Judicial do Vínculo.

eSocial Simplificado (S-10)

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O eSocial Simplificado é uma nova versão do eSocial, que visa facilitar as
etapas para o envio das informações. Foi apresentado pelo Governo Federal no final
de 2020.

O novo sistema busca deixar o sistema mais intuitivo e de fácil utilização nos
seus eventos. Ele foi desenvolvido por diversos órgãos e empresas como, por
exemplo, as Confederações patronais, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC),
a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação
(Brasscom), o Sebrae, a Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e
das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon),
visando que a nova versão possibilite a integração com outros sistemas. Algumas das
diretrizes essenciais que o diferenciam do eSocial 2.5 vigente:

• Foco na desburocratização: substituição das obrigações acessórias;


• Não solicitação de dados já conhecidos;
• Eliminação de pontos de complexidade;
• Modernização e simplificação do sistema;
• Integridade e continuidade da informação;
• Respeito pelo investimento feito por empresas e profissionais.

SST no eSocial

SST significa Saúde e Segurança do Trabalho. As normas e procedimentos


legalmente estabelecidos para Saúde e Segurança do Trabalho (SST) devem ser
informados corretamente no eSocial, com objetivo de tornar o ambiente de trabalho
mais saudável e seguro para os trabalhadores. Entre os principais eventos de SST
no eSocial estão:

• S-2210 - Comunicação de Acidente do Trabalho- Evento utilizado para


prestação de informações a comunicação do acidente de trabalho pelo
empregador/contribuinte/órgão público, ainda que não haja afastamento do
trabalhador de suas atividades laborais.

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• S-2220 - Monitoramento de Saúde do Trabalhador- Evento utilizado para
prestação de informações relativas ao monitoramento da saúde do trabalhador
(avaliações clínicas), durante todo o vínculo laboral com o
empregador/contribuinte/órgão público, por trabalhador, no curso do vínculo ou
do estágio, bem como os exames complementares aos quais foi submetido,
com respectivas datas e conclusões.
• S-2240 - Condições Ambientais do Trabalho - Agentes Nocivos- Evento
utilizado para prestação de informações relativas as condições ambientais de
trabalho, bem como da exposição aos fatores de risco aos quais o colaborador
está exposto e das condições de insalubridade ou periculosidade,
aposentadoria especial.

Agora, por meio de apenas uma declaração no eSocial, todas as entidades do


governo recebem os dados de uma só vez ao invés de inúmeras obrigações
diferentes com as mesmas informações. São eles: CEF, Receita Federal, Ministério
da Economia/Secretária Especial de Previdência e Trabalho. Aliás, cada um desses
órgãos possuem um representante que juntos, formam o Comitê Gestor do eSocial,
responsável pela implantação e transmissão do eSocial.

Para maior entendimento sobre o eSocial, veja os vídeos:

O que é eSocial?:

https://www.youtube.com/watch?v=PAPjIDAFl6o&t=271s

ENIT Escola Nacional da Inspeção do Trabalho: (veja os vídeos eSocial


ponto a ponto)

https://www.youtube.com/channel/UCII0hpg3zsILGJSFQJTxy7A/playlists

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Material complementar, disponibilizado pelo Governo Federal: (Curso -
eSocial Aprenda Ponto a Ponto)
https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-
especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/escola/e-social-aprenda-ponto-a-
ponto

66
10. REFERÊNCIAS

ARAUJO, R. P. Avaliação da Sustentabilidade Organizacional de uma Empresa


do Setor Petrolífero: Ferramenta para Tomada de Decisão. Itajaí: Dissertação
Apresentada à Universidade do Vale do Itajaí para obtenção de Título de Mestre em
Ciência e Tecnologia Ambiental, UNIVALI, 2006. (a)

ARAUJO, R. P. Sistemas de Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho: Uma


Ferramenta Organizacional. Joinville: Monografia Apresentada à Universidade de
Santa Catarina para obtenção de título de especialista em Segurança do Trabalho,
UDESC 2006. (b)

ARAUJO, R. P. Sistemas de Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho: Uma


Ferramenta Organizacional. Joinville, UDESC 2006.

BENITE, A. G. Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho para


Empresas Construtoras. São Paulo: Dissertação Apresentada à Escola Politécnica
da Universidade Estadual de São Paulo para obtenção de Título de Mestre em
Engenharia, USP, 2004.

BENITO, J.; ARAÚJO, G. M.; SOUZA, C. R. C. - Normas Regulamentadoras


Comentadas – Legislação de Segurança e Saúde no Trabalho. 2 ed. Rio de
Janeiro: ed. do Autor. 2000.

BRISTISH Standard Institution. Diretrizes para sistemas de gestão de saúde


ocupacional e segurança. Londres: BS 8800, 1996.

CICCO, F. de, Sistema de gestão da saúde e segurança no trabalho: uma


proposta inovadora, Revista Proteção, n. 68, encarte especial, 1997.

DAS NEVES. MAURÍCIO. O eSocial e os Eventos de SST – Um Novo Panorama


a Partir de 2022. Contabilizar Web. Disponível em: <
https://contabilizarweb.com.br/blog/esocial-eventos-sst-novo-
panorama/?utm_source=GoogleAds&utm_medium=cpc&utm_campaign=eSocialSS
T&gclid=CjwKCAiAvaGRBhBlEiwAiY-

67
yMNDTqf9VfxXQkZryUKwTGy2c2d2hzKQd2n2jC8H5KMqPL2OBB1s4LRoCJVgQA
vD_BwE> Acesso em 10 mar.2022.

Esocial: o que é, obrigações e tudo o que você precisa saber. Senior. Disponível
em: < https://www.senior.com.br/solucoes/esocial>. Acesso em 10 mar.2022.

Especificação para sistemas de gestão de saúde e segurança. Londres: OHSAS,


1999. GREENBAUM, Thomas L. Manual do consultor. Livros Técnicos e Científicos
Ltda. São Paulo, 1999.

GONÇALVES, E. A. - Segurança e Medicina do Trabalho em 1.200 Perguntas e


Respostas. 3 ed. São Paulo: 2000.

INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL. O novo


contexto Econômico e a Responsabilidade Social das Empresas.

KUBR, M. Consultoria, um guia para profissão. Editora Guanabara. Rio de Janeiro.


1998.

LAPA, R. P. Segurança Integrada à Gestão do Negócio. Brasilminingsite, Belo


Horizonte, fev. 2001.

PACHECO, Waldemar Jr. Qualidade na segurança e higiene do trabalho: série


SHT 9000, normas para gestão da segurança e higiene do trabalho. São Paulo: Atlas,
1995.

REUTER, Luiz Roberto. Visão moderna de segurança industrial. Revista Proteção,


Novo Hamburgo RS, v.01, n.4, abril, 1987.

SISTEMAS de gestão de saúde ocupacional e segurança: diretrizes para


implementação da especificação. Londres: OHSAS 18002/18001, 1999.

SOUNIS, Emílio. Manual de Higiene e Medicina do Trabalho. 2ª Ed. São Paulo:


Ícone, 1991.

TAVARES Jr., J. M. Metodologia para Avaliação do Sistema Integrado de Gestão:


Ambiental, da Qualidade e da Saúde e Segurança. Tese apresentada a Universidade
Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis, 2001.

68
TAVARES, J. da C., Tópicos de administração aplicada à segurança do trabalho.
10ª ed., SENAC. São Paulo, 2010.

____________, A utilização de sistemas de gestão da segurança e da saúde no


trabalho nos Estados-Membros da União Européia – FACTS - Agência Européia
para a Segurança e a Saúde no Trabalho.

69

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