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EDUCAÇÃO 4.0: CONCEITO,


PERSPECTIVAS E DESAFIOS
Luís Fernando Crespo
Neide Rodriguez Barea Tavares

EDUCAÇÃO 4.0: CONCEITO, PERSPECTIVAS


E DESAFIOS
1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020

2
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.

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reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


__________________________________________________________________________________________
Tavares, Neide Rodriguez Barea
T231e Educação 4.0: conceito, perspectivas e desafios/ Neide
Rodriguez Barea Tavares ,Luís Fernando Crespo
Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020.
64 p.
ISBN 978-65-86461-33-6

1. Educação 4.0 2. Tecnologia. I. Tavares, Neide


Rodriguez Barea. II. Crespo, Luís Fernando. Título.
CDD 371.3
____________________________________________________________________________________________
Jorge Eduardo de Almeida CRB 8/8753

2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

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EDUCAÇÃO 4.0: CONCEITO,
PERSPECTIVAS E DESAFIOS

SUMÁRIO
Origem e conceituação da Educação 4.0_____________________________ 05

Educação 4.0: novas perspectivas educacionais e impactos no cotidiano


escolar e corporativo ________________________________________________ 19

Educação 4.0: desafios e cuidados frente à inovação tecnológica____ 35

A gestão da aprendizagem na Educação 4.0: professores e gestores mais


competentes_________________________________________________________ 52

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Origem e conceituação da
Educação 4.0
Autoria: Neide Rodriguez Barea Tavares
Leitura crítica: Vanessa Moreira Crecci

Objetivos
• Conhecer a concepção de Indústria 4.0 e as
necessidades oriundas dessa nova perspectiva
global.

• Identificar a origem e a conceituação de


Educação 4.0.

• Relacionar os conceitos de Indústria 4.0 e


Educação 4.0.

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1. Introdução

A constante evolução em vários âmbitos da sociedade e seus impactos


em cadeia global geram a necessidade de adaptações na formação
escolar do indivíduo que viverá tal transição histórica, a fim de prepará-
lo para o novo contexto e seus desafios. Assim, as transformações
nos meios de produção, o emprego massivo da tecnologia e as novas
relações sociais e de trabalho propõem a formação de um ser humano
preparado para intervir nas situações que se apresentarão, ainda que
não seja possível antecipar e prever quais serão. Estamos falando de
um indivíduo adaptável, consciente, pronto a enfrentar desafios e a
promover as transformações necessárias em seu tempo e espaço.

Nesta leitura, veremos como a sociedade chegou à era da Indústria


4.0, quais são seus princípios e quais repercussões foram geradas.
Compreenderemos também a necessidade das transformações
acadêmicas para a formação dos novos cidadãos, adaptados ao seu
tempo e preparados para agir em contextos em constante mudança.

Esperamos que você realize boas aprendizagens e se prepare para um


novo cenário educacional, que já está sendo introduzido nas escolas.

2. As revoluções industriais e a grande


transformação proporcionada a partir
da concepção da Indústria 4.0

Há várias formas de demonstrar os diferentes momentos da sociedade.


Podemos pensar nos movimentos artísticos, tais como o Renascimento e
o Modernismo, por exemplo, que determinaram a forma de representar
a realidade; na Literatura, como o Classicismo e o Romantismo, por
exemplo, que estruturaram a formas de aprender e refletir sobre a vida;

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e até mesmo nas eras históricas, mais amplas e universalmente aceitas,
tais como a Pré-história, a Antiguidade, as Idades Média, Moderna e
Contemporânea, esta última na qual nos encontramos atualmente.
Porém, apesar de a sociedade se encontrar em um dado período
histórico, continuam ocorrendo transformações que, talvez, não sejam
grandes o suficiente para determinar o fim de uma era histórica e o
início de outra, mas são profundamente fortes ao ponto de provocar
impactos globais. Estamos falando das revoluções industriais.

Figura 1 – Sucessão histórica das revoluções industriais

1a Revolução 2a Revolução 3a Revolução


4a Revolução
Industrial (meados Insutrial (entre Industrial (após a 2a
Industrial (Século
do século XVIII) - meados dos séculos Guerra Mundial) -
XXI) - interconexão
iniciada na Inglaterra, XIX e XX) - introdução de
das etapas de
alterou as formas de lançamento de novos equipamentos
produção,
produção com a produtos, criação de eletrônicos,
informações e dados
introdução das novas máquinas, integração entre
digitalizados,
máquinas movidas a administração ciência e produção
internet das coisas.
vapor. científica industrial.

Fonte: elaborada pela autora.

Antes de a humanidade se multiplicar em maior escala e constituir as


cidades, os homens produziam pequenas intervenções na natureza.
Quando perceberam que poderiam cultivar a terra e criar rebanhos,
as sociedades começaram a se organizar melhor e a se fixar em um
território, deixando de ser nômades (por volta de dez mil anos antes
de Cristo). Isso propiciou que a população crescesse, já que podia ser
mais bem cuidada, o que também estimulou o desenvolvimento de
novas técnicas e a criação de novos instrumentos de produção e novas
tecnologias.

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O controle do fogo, a invenção da roda e a modelagem do ferro
trouxeram grande avanço para a humanidade. As sociedades passaram
a usar a força da água e do vento para criar moinhos para moer grãos
e permitir outras formas de produção alimentar. Também passaram
a canalizar a água e a criar sistemas de esgotos, demonstrando
evolução constante. Ainda assim, não representavam grande impacto
na natureza, mas o cenário se modificou drasticamente com as novas
formas de produção industrial.

É importante entender que transcorrem cerca de doze mil anos desde


o estabelecimento territorial das sociedades nômades até o emprego
de máquinas para a produção industrial, e, durante esse longo período,
a humanidade apresentou inúmeros avanços no campo de produção
de bens, além de gigantesco desenvolvimento cultural. Isso quer dizer
que, em dado momento da história, o homem construiu fábricas e as
equipou com máquinas, o que permitiu criar produtos em grande escala,
mas também passou a empregar mais recursos da natureza.

Estamos falando da 1ª Revolução Industrial, que teve início na Inglaterra


em meados do século XVIII, marcando a transição dos meios de
confecção de produtos, até então realizados de forma manual, para
a produção semidesenvolvida por máquinas, com a mecanização de
processos manuais, o que permitiu acelerar a produção e substituir
certas etapas do trabalho humano.

A principal invenção nesse período foi a máquina a vapor (TESSARINI


JR; SALTORATO, 2018), que utilizava a queima de madeira e carvão
para criar pressão e fazer os mecanismos operarem. Ela foi utilizada
basicamente para produção têxtil e impulsionou os meios de transporte,
sobretudo na Europa, a partir da locomotiva a vapor, servindo tanto
para transportar pessoas quanto produtos, superando distâncias com
muito mais rapidez do que se fossem percorridas a cavalo. Apesar do
desgaste da natureza e dos processos pouco dignos de trabalho que
estabeleceu na época, a 1ª Revolução Industrial promoveu a criação de

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novos empregos e novas ocupações; ampliou a produção, favorecendo
o acesso da população a novos produtos; e também trouxe exploração
das riquezas naturais do continente africano. Outros países, como
Alemanha, França, Bélgica e Holanda, também criaram seus sistemas
industriais.

Já a 2ª Revolução Industrial ocorreu a partir da segunda metade do


século XIX, durando aproximadamente 100 anos. A grande marca dessa
revolução é a criação de uma série de produtos: o automóvel, o avião,
o telefone, o rádio, a televisão, entre outros. Tessarini Junior e Saltorato
(2018) lembram que o surgimento da eletricidade permitiu a criação
das linhas de montagem, constatando-se a existência de grande avanço
tecnológico, ou seja, as máquinas foram modernizadas e se tornaram
mais especializadas.

Ford e Taylor estudaram os processos de trabalho, criando técnicas e


sistemas mais produtivos e dando início aos estudos conhecidos como
Administração Científica. Henry Ford foi um engenheiro mecânico que
criou a fábrica de automóveis Ford, desenvolvendo um modelo de
produção estruturado a partir da montagem em série, o que ocasionou
maior produtividade e lucro. Seu modelo de trabalho é conhecido
como fordismo e influenciou grandemente a forma de produção
industrial na época, além de influenciar a educação escolar, propondo
sequenciamento didático, avanços sucessivos, premiação, funções
repetitivas, fragmentação dos conteúdos em unidades pequenas, entre
outras. Já Frederick Taylor, também engenheiro mecânico, preocupou-
se em analisar e descrever os melhores processos produtivos, cuidando
do chão de fábrica para que os funcionários pudessem ter um ambiente
propício à produtividade; suas perspectivas científicas também
influenciaram a educação na medida em que propiciou reflexão sobre
o ambiente escolar propício à aprendizagem e supervisão e adequação
metodológica ao público atendido.

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É por volta da época da Administração Científica que o Brasil inicia seu
processo de industrialização, já no final da 2ª Revolução Industrial.

A 3ª Revolução Industrial começou em meados do século XX e é marcada


por um grande avanço tecnológico, isto é, máquinas mais aprimoradas
e informatizadas (máquinas passam a operar sozinhas, sem intervenção
humana) e utilização de robôs, surgimento de conglomerados industriais
e multinacionais. Novos produtos são criados e os mais antigos são
aprimorados.

É também a época da exploração espacial. Os conhecimentos científicos


passam a ser amplamente empregados na indústria (fusão nuclear,
biotecnologia, inteligência artificial, entre outros).

O toyotismo surge como nova forma de administração das empresas,


um modelo mais flexível e amplamente tecnológico. Esse modelo
administrativo revolucionou a produção industrial, uma vez foi um dos
primeiros a empregar robôs para a construção de veículos, permitindo a
produção em larguíssima escala. Além disso, o chão de fábrica passou a
ser limpo, os funcionários passaram a receber treinamento tecnológico
e podiam participar de decisões da administração e contribuir com
novas ideias – as que se tornavam efetivas eram premiadas em alta
remuneração para o colaborador.

A 3ª Revolução Industrial também é conhecida como Revolução


Tecnocientífica. Ela também trouxe impactos para a escola, que passou
a empregar recursos tecnológicos para favorecer a aprendizagem dos
alunos (informática educacional, tecnicismo, entre outros).

Por fim, chegamos à 4ª Revolução Industrial, também conhecida como


Indústria 4.0. O primeiro a chamar a atenção para a 4ª Revolução
Industrial foi Schwab (2016) e Tessarini Junior e Saltorato (2018), que
apontam que estamos vivenciando, desde 2011, um momento de
transformação baseado em um novo estágio tecnológico, no qual

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se empregam dados digitais para reorganizar a indústria, em ampla
conectividade com informações da nuvem e com a internet das coisas.
Vamos detalhar a Indústria 4.0, que origina os processos da Educação
4.0, a seguir.

3. Indústria 4.0 e as novas demandas


educacionais: o nascimento da Educação 4.0

Klaus Schwab (2016, p. 1) aponta “estamos no início de uma revolução


que está mudando fundamentalmente a forma como vivemos,
trabalhamos e nos relacionamos um com o outro”. Vejamos, por
exemplo, que a maior empresa de conteúdos é o Facebook, porém
o próprio Facebook não produz conteúdo, são seus usuários que o
fazem. Da mesma forma, a maior empresa de hospedagem do mundo,
a Airbnb, não possui um único hotel, enquanto o maior vendedor
do mundo, a Alibaba não possui estoque. Essas grandes empresas
simplesmente conectam provedores com clientes. Trata-se de uma
gigantesca revolução nos meios de produção e de relacionamento entre
fornecedores, clientes e empresas.

A Indústria 4.0 (I4.0) é marcada por uma grande revolução nos processos
de produção, que passam a interconectar equipes e equipamentos.
Para termos noção, já existe uma geladeira capaz de notificar seu dono
sobre a baixa de estoque, ou seja, conforme os produtos vão sendo
retirados, a geladeira contabiliza os débitos e é capaz de enviar uma
mensagem ao proprietário informando que o estoque foi diminuído em
tal porcentagem ou foi zerado. Agora, vamos imaginar essa situação em
uma indústria: os equipamentos eletrônicos são capazes de contabilizar
o uso das matérias-primas, controlando o estoque. Ao identificar que
o estoque baixou, o próprio sistema emite uma nota para compra da
matéria-prima diretamente para o equipamento de outra empresa, ao
mesmo tempo em que notifica a necessidade de uma operação bancária

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de pagamento para a aquisição da mercadoria. Os equipamentos
da empresa fornecedora, por sua vez, recebem o pedido de compra,
separam e embalam mecanicamente os produtos adquiridos; etiquetam
com o endereço a ser entregue e notificam a transportadora, que levará
o produto.

Isso tudo é realizado sem a presença humana ou apenas com uma


pequena supervisão: “nessas ‘fábricas inteligentes’, máquinas e insumos
‘conversam’ ao longo das operações fabris, agregando flexibilidade aos
processos, que ocorrem de maneira autônoma e integrada” (TESSARINI
JR; SALTORATO, 2018). As informações são digitalizadas e transitam
pela nuvem (sistema de dados que opera sem o gerenciamento ativo
direto do usuário, organizado em centros de dados que comportam
informações de muitos usuários), sendo capazes de diminuir as
falhas e os atrasos humanos e gerando mais produtividade e,
consequentemente, lucratividade.

Outra característica da I4.0 é que existe uma preocupação cada vez


maior em não empregar energias não-renováveis, tais como carvão,
petróleo e gás, buscando alternativas autossustentáveis, como
energia eólica, solar, geotérmica, entre outras. Schwab (2016) aponta a
existência de megatendências para a I4.0, estando algumas, inclusive,
já em funcionamento, como a Internet das Coisas, as impressoras 3D, a
inteligência artificial, entre outras.

Quadro 1 – Megatendências da Indústria 4.0

Capacidade cibernética associada ao mundo real,


ou seja, sistemas capazes de operar em função de
Sistemas ciber-físicos (CPS –
dados colhidos no mundo físico são empregados
Cyber-Physical Systems)
na aeronáutica, na saúde, na engenharia e, até
mesmo, em transportes.

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Possibilidade de controlar equipamentos e serviços
(controle da energia, do ar-condicionado, de
eletrodomésticos, incluindo serviços de segurança
Internet das Coisas
e acionamento de robôs etc.) por meio da internet,
a partir de conexões entre empresa-residência-
veículo.

A Internet das Coisas propiciou o surgimento


da Internet de Serviços, ou seja, processos que
Internet de Serviços analisam o impacto da Internet das Coisas e
é capaz de sugerir melhorias e economia de
recursos, por exemplo.

Drones, trens e carros são alguns exemplos


de veículos que podem ser dirigidos por
Veículos autodirigíveis
equipamentos – são mais eficientes e seguros, mas
ainda não estão empregados em ampla escala.

Esse tipo de impressora é capaz de reproduzir


fisicamente um objeto digital em 3D no
computador; a impressão é feita camada sobre
Impressoras 3D
camada e, ao final, entrega-se um objeto real. Já
existe tecnologia para imprimir casas, por exemplo,
além de objetos menores.

São capazes de compreender o ambiente (por


meio de sensores especializados) e desempenhar
tarefas variadas, como conseguir controlar a força
e os movimentos em cirurgias complexas. Os robôs
Robôs avançados
foram criados, inicialmente, para realizar as tarefas
repetitivas executadas por seres humanos e, agora,
são capazes de desempenhar diversas outras
funções.

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Sistema semelhante à inteligência humana capaz
de tomar decisões considerando as informações
Inteligência Artificial (IA)
captadas no ambiente – muitas ligações telefônicas
atualmente já contam com sistemas de IA.

Análise, armazenamento, compartilhamento,


junção, interpretação, transferência, compreensão,
Big Data visualização e informações sobre dados grandes
demais para serem tratados por sistemas
convencionais.

São metais mais leves e mais fortes que


revolucionarão a indústria e os equipamentos
eletrônicos no futuro; o grafeno, por exemplo,
é 200 vezes mais forte que o aço e é muito mais
Nanomateriais
fino que um fio de cabelo, sendo extremamente
eficiente na condução de calor e eletricidade; são
materiais recicláveis e adaptáveis às necessidades
humanas.

São sensores capazes de monitorar qualquer


coisa; são conectados à internet, gerando
Nanosensores
enorme quantidade de dados; são utilizados para
monitoramento do ambiente.

Fonte: baseado em Schwab (2016).

A verdade é que a 4ª Revolução Industrial não está modificando


apenas os meios de produção, mas a forma como as pessoas se
relacionam e, em uma visão a longo prazo, a forma como a própria
identidade humana se inter-relaciona com a tecnologia. Schwab
(2016) aponta que, no futuro, teremos tecnologias vestíveis (roupas
tecnológicas capazes de monitorar o corpo físico e se adaptar –

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aquecer ou resfriar, por exemplo); dispositivos implantados no corpo
para monitoramento da saúde (em grande escala), óculos, lentes e
fones de ouvidos capazes de levar olhos e orelhas à conexão com
a internet; nuvem de dados com espaço infinito e gratuito para
qualquer usuário; além de cidades inteligentes e cidades conectadas.

É assim que se geram duas grandes questões: como preparar o ser


humano do futuro? E de qual futuro estamos tratando?

Fürh (2019) aponta a necessidade de desenvolver novas habilidades e


competências nos indivíduos da nova era, estimulando a construção
da autonomia, o desenvolvimento da criatividade e o exercício
cada vez mais profundo da consciência crítica, capazes de aprender
rapidamente e desenvolver novas habilidades prontamente. Trata-se
de um grande desafio para a escola, pois esta precisará trabalhar com
um currículo mais holístico, amplamente permeado por tecnologia
de ponta, permitindo que os alunos possam extrapolar os limites da
própria escola e criar métodos próprios de pesquisa e aprendizagem.
A 4ª Revolução Industrial impõe uma revolução pedagógica, que se
materializa na chamada Educação 4.0.

4. Compreendendo a Educação 4.0

Fürh (2019) aponta que o fenômeno da globalização trouxe em


seu bojo o acesso às tecnologias da comunicação e da informação,
onipresentes em qualquer espaço geográfico terrestre. Só esse fato já
é o suficiente para compreender que a tecnologia fará cada vez mais
parte dos processos educativos, exigindo, obviamente, uma nova
relação do homem com a máquina.

Porém, o desafio é ainda maior: o futuro não é mais desenhável,


previsível ou moldado como antigamente. Hoje, a grande

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preocupação da educação é formar os futuros cidadãos preparados
para enfrentar contextos em mudança, incertos e multidimensionais.

A Educação 4.0 é uma abordagem educacional executada a partir


de um conjunto de estratégias didáticas, adequada para atender
às necessidades impostas pela 4ª Revolução Industrial. Uma das
novas tendências educacionais é conhecida como blended learning
ou educação híbrida, que significa a mistura de métodos didáticos
utilizados em aulas presenciais com métodos empregados em
processos de aprendizagem on-line. Portanto, entende-se que a
Educação 4.0 rompe com o espaço físico da escola e passa a ser
executada em múltiplos locais de aprendizagem, com a participação
de alunos empenhados, motivados, proativos e autônomos, capazes
de criar percursos próprios de aprendizagem. Nesse modelo,
professores, currículos e recursos tecnológicos estão a serviço
do desenvolvimento das competências dos alunos, as quais são
necessárias não apenas para que os alunos possam sobreviver
à 4ª Revolução Industrial, mas para que possam intervir social e
profissionalmente e criar um futuro melhor. Assim, os conteúdos
são acessados conforme interesse dos alunos e com suporte dos
professores, que vão orientando sobre a metodologia da pesquisa
e as fontes de dados, intervindo na aquisição de conhecimentos e
subsidiando a síntese das aprendizagens.

Na Educação 4.0, parte-se da premissa de que é mais importante


que os alunos aprendam a aprender, exercitando a capacidade de se
adaptar, solucionar problemas, utilizar e ampliar a criatividade, do
que apresentar conteúdos específicos, formatados e desarticulados
com a realidade.

Algumas premissas podem ser destacadas em relação à Educação 4.0:

1. Os estudantes terão papel central no processo de


aprendizagem, sendo os verdadeiros protagonistas, e não mais

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os professores ou os equipamentos, conforme tendências
passadas.
2. A aprendizagem será personalizada, ou seja, os estudantes
poderão decidir o que aprender, como e onde aprender,
considerando seus valores pessoais, seus interesses, suas
perspectivas, a comunidade onde habitam e sua visão de
futuro.
3. Nesse sentido, os professores assumirão o papel de tutores,
orientando o percurso e estimulando a aprendizagem e o
avanço dos estudantes.
4. A aprendizagem ocorrerá em tempos e locais diversos, não
havendo mais a necessidade de a escola ser a única fonte de
aquisição de informações; não que a escola desaparecerá,
mas haverá outras instituições parceiras e diversos cursos que
comporão os espaços de aprendizagem.
5. A Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), as experiências
e vivências, as visitas em campo, a interpretação e análise de
dados, a busca por condições dignas de vida para todos os
seres humanos, o cuidado com o planeta e a minimização dos
impactos negativos que o homem gera na natureza serão o foco
dos processos de ensino-aprendizagem.
6. Haverá larga produção de conteúdo, disponibilizados
gratuitamente, divulgando conhecimentos e cultura de forma
ampla e sem fronteiras.

Ainda há muito a se discutir em relação à Educação 4.0 e às


transformações que estão por ocorrer. Esta leitura inicial trouxe um
panorama importante para compreendermos o momento atual e a
perspectiva educacional que se introduz a partir das transformações
da sociedade e das formas de produção. Percebe-se que o indivíduo
da 4ª Revolução Industrial precisará desenvolver novas competências
e novas formas de agir no mundo, função que a educação precisará

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assumir, adentrando em aspectos e discussões que não eram muito
associadas ao ambiente escolar, mas que agora urge assumir.

Referências Bibliográficas
FÜRH, R. C. Educação 4.0 nos impactos da quarta revolução industrial. Curitiba:
Appris, 2019.
SCHWAB, K. A quarta revolução industrial. São Paulo: Edipro, 2016.
TESSARINI JUNIOR, G.; SALTORATO, P. Impactos da indústria 4.0 na organização
do trabalho: uma revisão sistemática da literatura. Revista Produção Online,
Florianópolis, v. 18, n. 2, p. 743-769, 2018. Disponível em: https://producaoonline.
org.br/rpo/article/viewFile/2967/1678. Acesso em: 3 jan. 2020.

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Educação 4.0: novas perspectivas
educacionais e impactos no
cotidiano escolar e corporativo
Autoria: Luís Fernando Crespo
Leitura crítica: Vanessa Moreira Crecci

Objetivos
• Entender que a realidade 4.0 impõe necessidades
que devem ser pensadas pela educação.

• Pensar a escola como instituição que ainda tem de


se reformular para se adequar à realidade.

• Refletir sobre o professor como de fundamental


importância na mudança de eixo, do ensino para a
aprendizagem.

• Perceber que as possibilidades de inovação para a


escola estão à mão, sendo necessário que se comece
a mudança pelo pensamento dos envolvidos.

• Olhar para a realidade da educação corporativa, que


também pode se beneficiar com as novas propostas
para a educação.

19
1. A educação na sociedade

A educação é um dos elementos que constituem a base de um


grupo social. Por meio dela, torna-se possível perceber quais os
direcionamentos são escolhidos para delinear um determinado modelo
de sociedade, a partir do modelo de ser humano entendido como
objetivo do processo educativo. Desse modo, a educação se torna
objeto de disputas sempre mais acirradas, seja no debate político
ou no propriamente econômico (âmbitos que, muitas vezes, estão
entrelaçados), pois ela sempre responde a interesses diversos.

Ao olharmos para a história mais recente, para os últimos 20 ou 30 anos,


por exemplo, é possível perceber o quanto foi mudada a concepção
de educação para o Brasil: muitos projetos, ao se sucederem, foram
apresentando novos elementos que pudessem melhorar a formação
oferecida aos alunos, sempre tendo em mente a realização do que
é previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB,
Lei 9394/96) (BRASIL, 1996). Vale lembrar que mesmo essa lei sofreu
diversas alterações, na tentativa de ser aperfeiçoada.

De certo modo, então, nos mais de 20 anos, desde a LDB (1996), a


prática educativa muda constantemente, mas nunca perdendo de
vista o que é previsto pela legislação; a cada ano, novas propostas
pedagógicas são pensadas, testadas, debatidas etc., a fim de fazer com
que essa prática não estacione em um tempo, mas possa acompanhar
os avanços, principalmente da sociedade tecnológica. É importante que
se entenda a necessidade de que a educação acompanhe os avanços,
porém sem ser subserviente aos ditames do âmbito tecnológico;
educação e tecnologia devem ser âmbitos que colaboram um com o
outro. A indústria é subjugada pela economia, mas a educação não
pode ser subjugada, nem pelo mundo da produção nem pelo mundo da
economia.

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A partir disso, vem a reflexão sobre uma possível Educação 4.0: qual
novo olhar podemos lançar para a educação? O que podemos entender
com a terminologia “4.0” na prática educativa? Que modelo de escola
temos e como ele é afetado? É o que veremos nesta unidade temática.

1.1 A educação na perspectiva do mundo 4.0

Marcando de maneira singular o desenvolvimento das sociedades ao


longo do tempo, de modo especial a partir do final da Idade Média
(séc. XIV), a ciência começa a atuar de modo mais direto no mundo,
permitindo ao ser humano a transformação da natureza dirigida
por seus anseios de realização. Por meio das diferentes técnicas
(conhecimentos sobre como atuar), a ciência desenvolveu tecnologias
(aplicação dos conhecimentos), que foram modificando o mundo.

Ao longo dos séculos, as sociedades humanas foram se adaptando ao


sempre novo mundo que surgia como fruto da aplicação das próprias
tecnologias que elas desenvolviam. Tais eras de desenvolvimento são
entendidas como gerações, ou revoluções, que, por sua vez, foram
delimitadas a partir do tipo de novidade tecnológica utilizada. O termo
“4.0” se refere à chamada 4ª Revolução Industrial; estamos pensando,
então, em uma educação para o mundo da Indústria 4.0.

É pensando na possibilidade de novos modos de ensinar e aprender


que surge o conceito de Educação 4.0. A sociedade como um todo
se aproveita daquilo que é fruto dos avanços tecnológicos, os quais,
diretamente, vão modificando o cotidiano de todas as pessoas. Pensar
a Educação 4.0 é refletir sobre as novas possibilidades para a educação
a fim de que ela corresponda às necessidades da sociedade. A escola
é uma das poucas instituições que “mantém uma rara e enorme
capacidade de sobrevivência, apesar de suas múltiplas disfunções e de
sempre ter ido a reboque das mudanças sociais, tecnológicas e culturais”
(CARBONELL, 2002, p. 15). Ao se tratar da sociedade tecnológica,

21
a educação não pode estar alheia aos seus desenvolvimentos,
pressupostos e necessidades.

É importante ressaltar que se trata de uma transformação que deve


ocorrer, primeiramente, no pensamento de quem trabalha com
educação, pois é preciso um movimento de transformação, que não
é rápido nem fácil. Isso se justifica, pois qualquer mudança traz certa
insegurança aos envolvidos. Imaginemos os professores que têm
atuado de uma certa maneira há bom tempo e, de repente, veem-se
na obrigação de mudar. Sabemos que não é fácil e que pode haver
resistência.

Para o mundo da Indústria 4.0, a educação é também um instrumento


que deve ser responsável para que seja possível a manutenção do 4.0.
Isso significa que é necessário preparar as pessoas para que possam
atuar profissionalmente segundo determinadas exigências, mas, acima
de tudo, que possam tomar parte do amplo processo de inovação
dentro da sociedade.

1.2 Da educação para a Educação 4.0

“Educação é educação, não há muito que mudar!”, essa pode ser a


opinião de muitos professores quando se deparam com novas propostas
sobre o que seja educar. No fundo, há uma raiz verdadeira em tal
ideia, pois a concepção do que seja a educação guarda um centro que
pouco se transforma: educar é dar condições para que habilidades –
intelectuais e práticas – sejam desenvolvidas a fim de que os indivíduos
em formação tenham condições de lidar com as necessidades que a vida
social apresenta, respondendo de determinado modo às necessidades
da sociedade. Por ser bem geral, essa ideia não está errada, mas, a partir
dela, podemos pensar a relação entre o fazer educativo e aquilo que são
as situações que o contexto impõe aos indivíduos.

22
A pergunta que sempre deve aparecer é “o que significa educar hoje?”. Ao
longo do tempo, as comunidades humanas perceberam a necessidade
de que alguns conhecimentos não fossem perdidos, entre eles conteúdos
teóricos, técnicos, culturais etc. Podemos pensar que a própria identidade
de um grupo humano depende de certos tipos de conhecimentos
partilhados e preservados. Desse modo, a educação serve como meio
pelo qual tais conhecimentos são passados das gerações mais velhas para
as mais novas, fazendo com que estas assimilem um traço identitário e
possam assegurar a realização de determinados valores.

Durkheim (1978), logo no início de sua obra, já indicara a relação:

A educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações


que não se encontrem ainda preparadas para a visa social; tem por
objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos,
intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e
pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine. (DURKHEIM,
1978, p. 41)

Ainda que haja diferenças culturais, a sociedade globalizada fez com


que houvesse um entrelaçamento de conteúdos, disponibilizando para
a humanidade aquilo que era próprio de apenas um grupo. Assim,
a educação acaba recebendo influência de diferentes localidades e
situações. Além disso, na sociedade tecnológica, são lançados novos
desafios que, por sua vez, levam-nos a pensar em novos modos de
realizar a educação.

Seguindo o desenvolvimento pelo qual a sociedade tem passado –


velozmente, por conta da tecnologia –, diversos ambientes mudaram (a
fábrica, a empresa etc.), mas a educação ainda segue modos de fazer
que são os mesmos de séculos atrás. Isso mostra um descompasso:
estando em uma mesma sociedade, a educação não caminha na mesma
velocidade que os outros âmbitos da vida cotidiana. Nesse sentido, a
educação perde.

23
O mundo muda velozmente e a educação deve, a todo momento, lidar
com algo novo: um modelo novo, uma sociedade nova, um ser humano
novo. E esse novo é ultrapassado sempre, ou seja, não é mais algo sólido
que pode ser apreendido totalmente. Seguindo o pensamento de Bauman
(2001), poderíamos dizer que tudo se torna líquido.

Hoje, os padrões e configurações não são mais “dados, e menos ainda


“auto-evidentes” eles são muitos, chocando-se entre si e contradizendo-se
em seus comandos conflitantes, de tal forma que todos e cada um foram
desprovidos de boa parte de seus poderes de coercitivamente compelir e
restringir. E eles mudaram de natureza e foram reclassificados de acordo:
como itens no inventário das tarefas individuais (BAUMAN, 2001, p. 7).

A Educação 4.0 tem como objetivo principal dar condições para que os
alunos atuem nessa sociedade tecnológica, conseguindo transformar ideias
em coisas reais. Não se trata, porém, de simplesmente passar a ensinar o
uso das tecnologias, pois manuais amplamente disponíveis (textos, vídeos
etc.) dariam conta de fazer isso. Para a educação, resta a necessidade
de formar indivíduos que saibam ler a realidade 4.0 e desenvolvam as
diferentes e novas habilidades necessárias. Educar é trabalhar com o ser
humano como um todo; a educação deve ensinar novos modos de relação
humana que são importantes para o contexto 4.0.

De certo modo, um processo já foi iniciado com a inserção dos alunos


no mundo digital, agora é preciso que a educação se utilize disso e se
aperfeiçoe. “A conduta desses jovens em atividades diárias em seus
computadores muda também a maneira como agem quando não estão
conectados” (KENSKI, 2015, p. 115-116).

A Indústria 4.0 é a tentativa de fazer com que a produção seja adequada,


em velocidade e qualidade, para o mercado, utilizando-se de todo
o aparato tecnológico. A Educação 4.0, porém, não pode ser uma
resposta ao mercado, já que a educação não pode ser um simples
produto elaborado para ser oferecido a um consumidor. Ela é algo que
a sociedade da indústria 4.0 exige; não é educação para o mercado, é

24
educação para novas habilidades e competências. Os trabalhos em grupo
e colaborativos são de fundamental importância nesse sentido. Porém,
para que essa transformação aconteça, o formato da escola deve ser
repensado: os modelos formais ainda são tradicionais, presos a contextos
que não existem mais.

A partir dos pressupostos indicados, vejamos alguns pontos importantes


a serem levados em consideração para o entendimento do novo contexto
de educação:

a. Complexidade

Conhecimentos estanques, cada um em uma disciplina diferente, não


conseguem dar conta de uma realidade que, cada vez mais, é pensada em
sua complexidade. Significa que conhecimentos isolados não respondem
às perguntas cada vez mais complexas. Pensar a complexidade
do contexto atual leva à necessidade de que os conhecimentos se
entrecruzem para que surjam novas elaborações teóricas e suas
consequências práticas. No âmbito de uma empresa, por exemplo, há
equipes multidisciplinares que atuam nos mesmos projetos, com cada
pessoa dando sua contribuição a partir de um ponto de vista específico de
sua formação.

Aumentando a velocidade na divulgação do conhecimento, aumenta a


consciência de que o que se aprende é pouco e rapidamente se torna
obsoleto. Assim, nenhum estudante pode ter a pretensão de dar conta
dos problemas que aparecerão em seu mundo de trabalho. Assim, é
necessário entender que as soluções virão quando a elaboração de
respostas for colaborativa, já que cada envolvido consegue entender
apenas parte do problema (ninguém consegue estudar tudo). O
conhecimento técnico pode ser muito útil, mas, nesse contexto, é
insuficiente para as necessidades.

25
Pensemos um exemplo: antigamente, para ser um bom professor, era
necessário que se tivesse feito um bom curso de sua formação, em
uma boa instituição; na atualidade, e principalmente na realidade 4.0,
um professor que fica apenas em sua área de formação pode atuar,
mas corre sério risco de ser mediano. O professor mais completo e
mais apto para atuar é aquele que, além de sua formação específica,
tem conhecimentos de tecnologia, de psicologia, de neurociências
etc. Tudo isso, porque o aluno vive em uma realidade complexa que o
bombardeia com estímulos diversos que o fazem mais complexo. Assim,
além de buscar outros conhecimentos, o professor deverá aprender a se
relacionar com equipes cada vez mais multidisciplinares (as várias áreas
trabalhando juntas, cada uma em seu caminho) e interdisciplinares (os
caminhos das diferentes áreas se entrecruzam).

b. Criticidade

De forma singular, na Educação 4.0, o aluno deve aprender a criticidade. É


fácil de entender este ponto: todo conhecimento teórico necessário para
o aluno está à mão no mundo virtual; porém, junto com esse conteúdo,
há uma quantidade incomensurável de informações desnecessárias ou
mesmo não verdadeiras. O aluno precisa aprender, então, a ser crítico
diante de tudo o que lhe aparece, e essa criticidade é algo que se aprende
e desenvolve quando acompanhado por professores que sabem dirigir
para tal habilidade. Significa que o aluno deve aprender a selecionar
aquilo que é verdadeiro e importante para determinado propósito; nessa
ação, ele será crítico diante daquilo que ele já conhece e precisa ser
revisto. Diante da quantidade de conteúdo que todos os dias é lançada
para o aluno, uma escolha deve ser feita a partir de parâmetros próprios
para um conjunto de objetivos. Ser crítico é não aceitar sem antes avaliar.

c. Lidar com problemas

Tradicionalmente, o que aprendemos é que um problema aparece e tem


de ser resolvido, com resposta clara e certeira; diante disso, considera-

26
se que um problema não solucionado implica fracasso daqueles que são
responsáveis por ele. Na Educação 4.0, a postura diante do problema é
outra. Nem todo problema tem solução, ou fácil solução, dentro de um
contexto complexo, e a não resolução de um problema não significa
fracasso, pois muito se é possível aprender com situações de problema.
Assim, o mais importante é aprender a lidar com os problemas com
análises mais completas, trazendo os diferentes olhares dos sujeitos
envolvidos. Um problema indica elementos da situação que podem estar
ocultos, que, ao aparecerem, permitem um conhecimento maior do
processo como um todo.

d. Colaboração

A tecnologia digital desenvolveu ferramentas colaborativas que estão


cada vez mais maleáveis e moldáveis às diferentes necessidades da
aprendizagem. Por exemplo, os tradicionais softwares para produção
de textos podem ser partilhados e acessados por diferentes pessoas
ao mesmo tempo; as discussões feitas em fóruns apresentam cada
vez mais recursos de compartilhamento; e as reuniões realizadas por
videoconferências estão cada vez mais aperfeiçoadas. Desse modo,
se a colaboração ainda não acontece, é preciso encontrar os pontos
exatos de entrave. Depois de vencidos os primeiros esforços do início
de utilização das novas ferramentas, o uso contínuo delas fará com que
se aperfeiçoe a propria usabilidade; dizendo de outro modo, significa
entender que o uso inicial pode ser igual para qualquer realidade, porém
é preciso que haja uma moldagem a partir das necessidades específicas,
e apenas o uso contínuo consegue alcançar isso.

e. Metodologias ativas e inovadoras

Diversas ferramentas e metodologias podem ser pensadas para tratar


de problemas e com eles aprender, por exemplo, a aprendizagem
baseada em problemas (problem based learning), a aprendizagem
baseada em projetos (project based learning), o design thinking, a sala de

27
aula invertida (flipped classroom) etc. São inúmeras as metodologias que
podem ser adotadas, mas o importante diante de cada uma delas é ter
em mente que

“[a] aprendizagem mais profunda requer espaços de prática frequentes


(aprender fazendo) e de ambientes ricos em oportunidades. Por isso, é
importante o estímulo multisensorial e a valorização dos conhecimentos
prévios dos estudantes para ‘ancorar’ os novos conhecimentos”. (BACICH;
MORAN, 2018, p. 3)

Mesmo que o esforço maior seja para que os alunos desenvolvam


cada vez mais autonomia, o papel do professor continua de
suma importância, mesmo que não esteja mais no centro. Toda a
responsabilidade pelo processo passa pela ação daquele que ensina.
Umas das transformações necessárias é, então, a mudança de
concepção do que seja propriamente educar.

1.3 Que escola temos e que escola queremos?

Ao se falar em inovação na educação, o primeiro questionamento a ser


feito se refere ao entendimento do que significa inovar nesse âmbito.
De maneira ingênua e precipitada, vem à mente a ideia de ser preciso
atualizar a educação, trazendo-a para os modos de fazer e conhecer
que vigoram no presente. De modo simples e direto, acredita-se que
bastaria aplicar as ferramentas tecnológicas no fazer cotidiano, mas não
é isso. A inovação é um processo de cuidado, primeiramente, com o
conhecimento conservado: é com o que já se tem que se torna possível
dar origem a novos conhecimentos. Além disso, uma escola inovadora
é aquela que cria um modo de fazer que, por sua vez, gera inovação, ou
seja, ela produz e reproduz inovação.

A ideia de Saviani (1995, p. 29-30) é clara ao indicar que “inovar, em


sentido próprio, será colocar a educação a serviço de novas finalidades,
vale dizer, a serviço da mudança estrutural da sociedade”. A relação

28
é dialética, pois a educação transforma a realidade, que por sua vez a
modifica. A tentativa de perpetuar o modelo tradicional pouco alcança,
já que ele se sustenta em um determinado contexto. Uma pergunta a se
fazer aqui é sobre quais são as novas finalidades que a realidade impõe
para a educação.

Há muita discussão sobre os modelos de escola que ainda vigoram,


principalmente na crítica de um modelo que ainda privilegia unicamente
o ensino, sem voltar a preocupação para a aprendizagem. O papel
central do professor ainda é marcado em diferentes realidades como o
único modo de realizar o ato educativo. Quem acredita em tal modelo,
muitas vezes deixa passar a realidade de uma escola que caminha cada
vez mais afastada da realidade dos alunos.

Ao invés de dar conta de um conteúdo que “começa e termina” com


uma disciplina, a nova escola tem como objetivo principal alcançar a
aprendizagem; as teorias devem ser efetivamente apreendidas para
que o aluno tenha condições de ir para uma prática social cada vez
mais aprimorada. Sempre mais conectado, esse aluno enfrentará uma
realidade sem se perder diante do tanto que o mundo tecnológico
oferece. Aqui, o papel do professor na escola é o de ser auxílio, para que
os melhores caminhos sejam conhecidos pelos alunos, e isso é feito não
pela simples apresentação de tais caminhos, mas pelo ensino de um
modo de pensar mais abrangente.

Para todas essas necessidades, o professor tem muito trabalho, mas isso
não é diferente do que ele enfrenta cotidianamente em sua atividade.
Dizendo de outro modo, é entender que o professor já é desafiado
pela realidade todos os dias e, de um modo ou outro, já desenvolve
estratégias que reformulam seu fazer. Em sala de aula, os alunos estão
do modo como a escola tradicional determina apenas por fora; seus
corpos estão ali por obrigação e obediência, mas suas mentes e seu
modo de aprender não são mais como antigamente. Significa que não

29
apenas seus celulares estão conectados, mas que seus cérebros estão
interconectados de outro modo com a realidade, por meio da tecnologia.

A função dos professores é criar condições para provocar uma


reação fluida e significativa com o conhecimento mediante o máximo
desenvolvimento das potencialidade (sic.) dos alunos. Esse trabalho de
orientação e acompanhamento para que o aluno vá se familiarizando
com a aprendizagem e descubra seu sentido está muito presente nas
pedagogias inovadoras. (CARBONELL, 2002, p.110)

Já que os alunos estão inseridos em uma realidade que não é a da


escola, quando esta tenta se atualizar e inovar, tem de tomar o cuidado
de não simplesmente inserir o uso das tecnologias em seu fazer diário,
ela deve se transformar na concepção que tem de si própria. A escola
tem de se repensar: corpo gestor, docente e discente devem ser, aos
poucos, transformados de dentro para fora. O mercado de trabalho
impõe exigências às quais a escola ainda não consegue responder
satisfatoriamente; podem ocorrer casos em que alunos sejam
certificados, mas sem plenas condições de assumir postos de trabalho
de maneira satisfatória. Vale ressaltar que, a cada dia, a realidade 4.0 faz
com que diversas profissões se tornem obsoletas.

1.4 E o mundo corporativo?

A preocupação com a formação continuada de seus colaboradores


tem feito com que as instituições invistam em educação corporativa.
Buscando responder diretamente às exigências do mercado, foi
necessário adequar a rotina de trabalho das empresas para que os
colaboradores tivessem acesso a um aprendizado não apenas técnico,
mas das habilidades apresentadas anteriormente.

Inserida de maneira singular no âmbito da Indústria 4.0, a empresa tem


de garantir a formação de um colaborador que esteja não apenas pronto
para atuar em seu segmento específico, mas que esteja pronto para

30
aprender sempre mais de maneira integral, de maneira não restritiva,
pois é na contribuição do grupo de colaboradores que o conhecimento
adquirido pela empresa se mostra e se fortalece.

A área de Treinamento e Desenvolvimento das corporações assume


grande responsabilidade nesse ponto. Diferentemente do que
sempre foi realizado com os treinamentos específicos dentro de uma
determinada necessidade, a nova realidade exige que as empresas
tenham um processo contínuo de formação, principalmente levando os
aprendizes a não dependerem dos instrutores, mas que possam buscar
o conhecimento e aprender de forma mais autônoma. Para tanto, as
ferramentas e metodologias adotadas devem ser adequadas para um
novo modo de aprender.

A aprendizagem carrega uma visão diferenciada. Ela é mais profunda e,


em parte, absorve o treinamento. Pode ser considerada um processo
de mudança de comportamento, algo que pode ser obtido por meio de
experiências construídas por uma soma de fatores diferentes (emocionais,
neurológicos, relacionais e influências do meio ambiente). Nas condições
modernas, o aluno é posto como centro do processo de ensino-
aprendizagem e o docente passa a ser visto como coautor. (MUNHOZ,
2015, p. 133)

Fazer com que alguém aprenda algo é, dessa forma, mais significativo
que simplesmente treinar. Quando o colaborador aprende a aprender,
ele transforma a si próprio. Trata-se de processo que não é rápido nem
automático, pois ele se desliga da ideia que sempre teve de que era
necessário frequentar uma aula ou participar de um treinamento

O que significa “aprender a aprender”? Essa ideia não é algo novo


no âmbito da educação, mas talvez seja a maior novidade no âmbito
corporativo. A aprendizagem não acontece apenas quando o aprendiz
está no momento reservado para se concentrar na aquisição de um
conteúdo, com um livro ou ao assistir a um treinamento, principalmente
quando pensamos que os nativos digitais (que já nasceram no mundo

31
tecnológico do século XXI) já estão trabalhando nas nossas empresas.
Quando trabalham, seu modo de pensar é a extensão do modo como
pensam quando estão no ambiente virtual – a agilidade, o jogo, o
estabelecimento de relações etc.

Um dado importante, no entanto, vem chamar mais ainda a atenção dos


educadores: é que esses jovens jogadores – os hard players, como gostam
de se chamar – desenvolvem novas habilidades e raciocínios, considerados
valiosos em determinados tipos de ações profissionais.

O primeiro deles é o espírito de equipe e o desenvolvimento de habilidades


para levar um time à vitória. Desenvolvimento de estratégias, ambição
coletiva, definição de papéis, entrosamento, respeito aos parceiros,
comunicação e regras de bom comportamento em rede (netiqueta) são
algumas das aprendizagens que esses jogadores incorporam e que são
fatores importantes para seu desempenho em atividades profissionais.
Isso, além do fato, é claro, da fluência digital necessária tanto para jogar
quando para trabalhar. (KENSKI, 2015, p. 117)

Por que, então, não utilizar a gamificação para a aprendizagem no


mundo corporativo? O aprender se dá por meio de questões que
suscitam curiosidade e criatividade, levando à busca de caminhos
para a aquisição de novos conhecimentos e novas percepções para a
resolução de problemas. Quais metodologias são mais adequadas para
determinada empresa? Eis o desafio que cada uma deve assumir para
encontrar o melhor caminho.

No caso da educação, empresas desenvolvedoras de tecnologias de


ensino, caso da Geekie, defendem o potencial da gamificação para
motivar os alunos a resolver problemas com autonomia e criatividade,
em ambientes dinâmicos e interativos. Esse processo de gamificação,
com variadas narrativas, cenários e personagens, estimularia os
estudantes a combinar recursos e habilidades para dar propósito às
informações recebidas, usando-as para superar obstáculos encontrados na
aprendizagem. (CAMPOS; LASTORIA, 2020)

32
“Autonomia e criatividade, em ambientes dinâmicos e interativos”:
eis algo que pode mudar o modo como alguns setores do ambiente
corporativo trabalham. É claro que os problemas são sempre novos e
exigem novas soluções, mas, antes, é preciso que o professional adote
uma nova postura diante deles e do modo como costuma agir para
encontrar soluções.

Concluindo, o objetivo central desta unidade temática foi o de perceber


que o mundo da educação ainda não sabe se portar adequadamente
diante da realidade 4.0. Porém, vimos que muitas tecnologias e
ferramentas já existem, indicando, então, que todos os envolvidos com
processos educativos devem se dedicar a conhecer a aplicabilidade
delas e a fazer a transformação acontecer na educação do mesmo
modo como aconteceu na indústria. É claro, não podemos nos esquecer
de que ainda há uma distância grande entre a tecnologia e a vida
cotidiana em algumas realidades; assim, antes de aplicar, é preciso que a
tecnologia chegue a todos os lugares.

Referências Bibliográficas
BACICH, Lilian; MORAN, José (Orgs.). Metodologias ativas para uma educação
inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l9394.htm. Acesso em: 23 mar. 2020.
CAMPOS, Luis Fernando Altenfelder de Arruda; LASTORIA, Luiz Antônio Calmon
Nabuco. Semiformação e inteligência artificial no ensino. Pro-Posições, Campinas,
v. 31, 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pp/v31/1980-6248-pp-
31-e20180105.pdf. Acesso em: 9 fev. 2020.
CARBONELL, Jaume. A Aventura de inovar: a mudança na escola. Porto Alegre:
Artmed Editora. 2002.
DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1978.

33
KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação.
Campinas: Papirus, 2015.
MUNHOZ, Antonio Siemsen. Educação corporativa: desafio para o século XXI.
Curitiba: Intersaberes, 2015.
SACOMANO, José Benedito (Org.) et al. Indústria 4.0. São Paulo: Blucher, 2018.
SAVIANI, Dermeval. A filosofia da educação e o problema da inovação em educação.
In: GARCIA, Walter Esteves (coord.). Inovação educacional no Brasil: problemas e
perspectivas. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 1995. p. 17-32.

34
Educação 4.0: desafios e cuidados
diante da inovação tecnológica
Autoria: Luís Fernando Crespo
Leitura crítica: Vanessa Moreira Crecci

Objetivos
• Apresentar o novo contexto de educação na
realidade 4.0.

• Entender que é necessário um novo aprendizado do


professor e do aluno.

• Entender de que tipo são os desafios para fazer


acontecer a Educação 4.0.

• Relacionar os desafios aos cuidados que devem ser


considerados.

35
1. O mundo da inovação tecnológica

O mundo está configurado de tal modo que não é possível pensá-


lo sem a tecnologia e as consequências de seu uso. É interessante
observar que aquelas pessoas que já nascem em tal realidade sequer
conseguem imaginar uma realidade anterior, que não tivesse à
disposição todos os instrumentos e dispositivos tecnológicos que
conhecemos. Significa entender que o mundo é moldado por tudo
aquilo que é depositado nele e, aos poucos, tudo o que nele está
passando a ser considerado normal.

Porém, ao se olhar para décadas anteriores e pensar


comparativamente, é possível perceber que a inovação tecnológica
traz desafios, seja na consideração de sua aplicação ou nas
consequências que requerem cuidado específico, por conta da
mudança que trazem e do modo como a realizam. Na Educação 4.0,
alguns pontos devem ser levantados, por exemplo, sobre o quanto
a tecnologia pode ajudar ou prejudicar o aprendizado – é tecnologia
para a educação ou tecnologia pela tecnologia? Muitos recursos
são disponibilizados, mas quanto deles utilizar para que a aula não
seja esfacelada em diferentes ações sem o devido trabalho com o
conteúdo? A utilização de softwares cada vez mais avançados pode
levar o aluno a estudar e aprender menos? A Educação 4.0 colabora
com a melhoria da sociedade ou pode agravar a separação social?
Trata-se de uma educação para todos ou de uma cada vez mais
fechada para um grupo?

São muitas as questões que podem ser levantadas, mas são desafios
que devem levar a respostas práticas, na realização do ato educativo.
Quando são identificados desafios, de maneira direta, temos de
pensar sobre os cuidados que devemos ter para que a realização
da educação mediada pelas novas pedagogias e permeada pela

36
tecnologia constitua aprimoramento das práticas educativas novas e
dos resultados benéficos para toda a sociedade.

Vamos pensar mais sobre esses desafios e cuidados!

1.1 Questão de novo aprendizado

O mundo 4.0 é marcado, entre muitas coisas, pela velocidade na


evolução das ferramentas tecnológicas. A chamada 4ª Revolução
Industrial não conta apenas com um novo tipo de força para agir no
mundo (energia a vapor, energia elétrica ou o trabalho com dados),
mas conta com a velocidade na divulgação e nas trocas que ocorrem
entre sujeitos das mais diversas áreas. Além disso, conta com outro tipo
de inteligência, que serve para a modificação das próprias máquinas,
que é a Inteligência Artificial. Primeiro, vivemos a era da informação,
mas chegamos à do conhecimento, quando então o conhecimento é
possibilitado (acessível) a todas as pessoas, que, por sua vez, estão
autorizadas à produção de outros conhecimentos.

Vivenciadas em grupos, com muitas interações e troca de informações,


essas tecnologias não se encontram mais como espaços de ficção,
mas de realidades, ainda que virtuais. Em alguns casos, pelas próprias
condições em que são desenvolvidas, oferecem oportunidades de
maior e melhor exploração e vivência do que os espaços concretos
a que se referem. Suas especificidades nos possibilitam o registro,
o acompanhamento (antes-durante-depois), a interação com outros
meios, o envio de informações atualizadas e o recebimento de feedback
imediato de outras pessoas que podem estar nos mais diferenciados
locais do planeta (KENSKI, 2013, p. 67).

Aos poucos, a tecnologia foi chegando a todos os pontos do país,


embora haja recantos que não têm suas necessidades tecnológicas
supridas. O que colabora para o desenvolvimento nesse aspecto é o
setor industrial requerer tecnologia de ponta; assim, para que uma
indústria seja instalada, toda uma infraestrutura tecnológica deve ser

37
preparada. Assim, ao se considerar que muitas empresas se instalam
em áreas menos privilegiadas em busca de benefícios, acabam por
auxiliar no desenvolvimento daquela localidade.

E a educação? Ela está permeando os processos de aprendizagem


em todos os âmbitos, seja quando as escolas estão preparando um
novo indivíduo para as novas necessidades sociais, seja quando as
faculdades estão preparando os novos profissionais para as novas
exigências do trabalho, seja quando as empresas formam seus
colaboradores por meio de formação continuada. É preciso aprender
a agir no mundo, pois o conhecimento já está acessível a todas as
pessoas.

É preciso pensar um novo modo de realizar a educação, o que significa


repensar:

• O instrumental tecnológico e o ensino para que professores


e alunos saibam e consigam se beneficiar dele; trata-se de
aprendizado técnico.

• Amparo pedagógico, entendendo que não se pode confiar em


processos educativos que se façam “do nada”, sem fundamento.

Tendo aprendido a utilizar a tecnologia, tanto professor como


aluno precisam de um amparo sobre como devem atuar para que
a aprendizagem ocorra. Significa que o professor deve rever suas
posturas e entender que não se trata de um tipo de algo superficial e
passageiro; a educação tradicional é cada vez mais questionada e vai
cedendo espaço para as novas possibilidades do ato educativo. Porém,
o aluno também, habituado a processos tradicionais de educação, tem
de rever sua postura e perceber que o que se exige dele é, agora, mais
que simplesmente estar em sala de aula e esperar que o professor faça
o aprendizado acontecer por meio de um ensino unilateral.

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O novo aluno ganha novo espaço na consideração e na própria ação.
Ele passa a ser considerado de modo diverso: não mais é recebido
como parte de um público homogêneo que aprende de um único
modo. O aluno é considerado em sua singularidade e, assim, passa
a ter à disposição diferentes caminhos para seguir buscando a
aprendizagem.

Como exemplo, pensemos o trabalho com um texto. Há alguns anos,


não havia o que se pensar sobre o modo como um aluno aprende a
partir de um texto escrito. Porém, agora essa ideia se apresenta de
modo diverso, e o professor deve questionar: de quais modos esse
conteúdo pode ser apresentado ao aluno? Ele pode ser trabalhado na
leitura habitual, pode ser transformado em esquema de ideias, pode
ser apresentado em mapa conceitual, pode ter como apoio um podcast
do professor e assim por diante.

Assim, o aluno recebe atenção diferenciada, mas algo é exigido em


contrapartida. O aluno não mais é aceito em atitude passiva, ele deve
agir mais que antes. Em primeiro lugar, espera-se que o aluno busque
o conhecimento do modo como entende ser melhor para si (tendo em
mente que deve responder à organização do conteúdo escolar), e ele
deve estar atento para saber se realmente alcançou o conhecimento
esperado. Para isso, será necessário que ele trabalhe mais com o
conteúdo, seja preparando apresentações e/ou materiais para entrega;
seja trabalhando colaborativamente, uma vez que há atividades que
apenas podem ser realizadas no coletivo; e assim por diante.

2. Âmbitos de desafios

Os desafios a serem enfrentados não podem ser resumidos a apenas


uma ideia, já que tratam de questões diferentes que se ancoram em
âmbitos diversos. Desse modo, o que tentamos fazer aqui foi reunir

39
os desafios em cinco ideias principais. Essas ideias não especificam
todos os desafios que podem aparecer, já que são reflexões em torno
de certos problemas, mas é possível vislumbrar que tipos de situações
podem advir deles.

Inicialmente, pense sobre as questões levantadas no trecho abaixo:

Os executivos apontam que é preciso ter cuidado durante a inserção da


tecnologia no contexto educacional para não causar impactos negativos
no processo de formação, pois algumas delas possuem um caráter mais
comercial que pedagógico.

Para o futuro, é almejado a criação de um ecossistema que utilize dos


dispositivos tecnológicos para gerar engajamento e transformar a figura
do professor em um facilitador, que entenda a realidade de cada aluno e
leve para a sala de aula ferramentas que permitam o desenvolvimento de
habilidades sócio-emocionais (SANTANA, 2020, online).

Mesmo que a tecnologia se apresente como possibilidade para


inúmeros benefícios, há que se pensar nas necessidades de base para
que ela possa assim se efetivar. Vejamos!

2.1 Infraestrutura e ferramentas

Tecnologia é diferente de técnica. Enquanto a técnica se refere a um


tipo de conhecimento, modo específico de atuar e modificar o mundo,
a tecnologia se volta para âmbito mais prático de aplicação de conjunto
de técnicas com a finalidade de atingir um fim específico. Inserir a
tecnologia no âmbito da educação não pode ser, simplesmente, adotar
um conjunto de tecnologias e tentar continuar o que se fazia antes,
apenas de modo “mais incrementado”. É preciso mudar a concepção
de educação, pois ter em mente as mesmas ideias de sempre não
permite que se faça uso da tecnologia de modo efetivo em todas as
suas possibilidades. Estamos falando de outro tipo de educação, não
só de incrementos.

40
Assim, para que os projetos possam se realizar, é necessária uma nova
estrutura:

• Espacial: considerando que a educação tradicional cabia sempre


dentro de um único espaço formatado para ela, o novo fazer exige
a expansão do espaço para que novos ambientes permitam novos
fazeres. Por exemplo, ao se trabalhar com projetos, o espaço
da sala de aula não é suficiente para que as equipes discutam e
trabalhem. É importante deixar claro que a mudança de espaço
não se refere apenas a novos espaços, mas sim a um novo modo
de utilizá-los.

• Tecnológica: a pesquisa sobre as ferramentas deve ocorrer sempre


de forma colaborativa, trazendo para a discussão os profissionais
da área tecnológica, que conhecem sua usabilidade e seus
objetivos, e os profissionais da educação, que sabem o que será
necessário como educação.

• Pedagógica: a pedagogia é um vasto campo de conhecimento


que se atualiza constantemente, tentando dar conta das novas
realidades que se apresentam. Entre as diversas teorias, é preciso
encontrar qual delas melhor serviria como fundamentação.
Como exemplo temos: ao considerarmos o contexto de inovação,
construção do conhecimento e um processo educativo voltado
para as especificidades do aluno, pode-se pensar o construtivismo
como uma teoria com condições de abarcar muitas das
especificidades da Educação 4.0.

• Humana: pouco adianta a preocupação com os pontos indicados


anteriormente, se não voltamos a atenção para os professores
e demais profissionais envolvidos. Um projeto novo deve ser
assumido pela comunidade educadora, mas ela precisa entender e
aprender a trabalhar nele.

Há diferentes ferramentas e, por isso, é preciso entender as


necessidades e, a partir delas, buscar as que mais podem se adequar.

41
Por conta disso, é de suma importância haver uma equipe de suporte
na área de T.I. (tecnologia da informação), que pode lidar e moldar a
tecnologia para determinadas necessidades, como a criação de um
ambiente virtual de aprendizagem. Vale lembrar que há adequação
dentro de certos limites, por isso a importância de uma equipe que
trabalhe com o usuário final (coordenador, professor, aluno).

2.2 Atualização e ressignificação da atuação do professor

Como indicado anteriormente, o ponto central no processo educativo


de décadas atrás era o conhecimento solidificado nos livros, com
o professor como o único conhecedor e transmissor do conteúdo,
traduzindo o conhecimento para a realidade do aluno. Era quando o
professor conquistava seu respeito por conta do conhecimento que
tinha do conteúdo, porém, agora, é necessário que ele atue de maneira
diferenciada. Já que todo o conhecimento está à mão dos alunos em
seus computadores, tablets e celulares, esse professor deve ressignificar
seu fazer, pois ele ainda é importante e necessário, mas agora não como
o único detentor e transmissor do conteúdo. Ele assume um novo papel,
que é o de provocar e instigar o aluno para o conhecimento.

Porém, como dar conta disso, diante das tecnologias que mudam
constantemente? A palavra-chave é atualização. O professor que não se
atualiza fica para trás rapidamente. Além disso, tão importante ou mais
que a atualização em sua respectiva área de atuação, é a atualização
em tecnologia, mais especificamente nas tecnologias voltadas para a
educação, tecnologias digitais e tecnologias pedagógicas. Exige-se do
novo profissional que ele tenha conhecimento (o mínimo necessário)
das diversas áreas relacionadas ao novo fazer: tecnologia (softwares),
administração (por exemplo, o trabalho com projetos já é realizado nas
empresas) e pedagógicos (especialmente relacionados às metodologias
chamadas “ativas”).

42
A valorização do que é novo, mais potente ou, simplesmente,
diferente, já faz parte das concepções culturais e sociais presentes
na atualidade. Queremos algo que potencialize nossa capacidade de
interação, comunicação, acesso e armazenamento das informações. Na
atualidade, construímos nossas relações em meio aos mais variados
artefatos tecnológicos. A cultura contemporânea está ligada à ideia da
interatividade, da interconexão e da inter-relação entre as pessoas, e entre
essas e os mais diversos espaços virtuais de produção e disponibilização
das informações. (KENSKI, 2013, p. 62)

É claro que essa reformulação que o professor deve fazer de si


não é algo fácil. Trata-se de um processo que deve levá-lo do novo
aprendizado à nova atuação. A ideia de simplesmente “aprender na
prática” não cabe aqui, pois a prática leva certo tempo para ensinar e as
rápidas mudanças exigem agilidade. O novo professor é aquele que está
“antenado” àquilo que ocorre no mundo da tecnologia e da educação; é
aquele que anseia e assume os desafios diante da novidade.

2.3 O engajamento do aluno

Engajar é conquistar para um compromisso, é levar a assumir uma


responsabilidade. Nesse sentido, o desafio se refere à necessidade
de que o professor leve o aluno a assumir algo de seu processo
de aprendizagem. Mesmo que a realidade tenha mudado muito,
principalmente nos últimos anos, ainda há um grande número de alunos
que pensa que deve se portar como antigamente, apenas estando
presente fisicamente nas aulas e acreditando que a aprendizagem é
consequência natural do ensino.

Por conta do contexto citado, temos de lidar com hábitos que os alunos
trazem e que são prejudiciais ao aprendizado significativo. Talvez o
principal seja do aluno passivo e copista, aquele que não busca agir, mas
receber; que não produz, mas copia. Tais hábitos vêm de uma história,
tendo o aluno entendido que poderia ser assim, e assim se fez. Trata-

43
se, então, de tentar mudar algo que já vem sedimentado, devendo o
engajamento ser buscado por meio de conteúdos apresentados de
novas maneiras, que conquistem a atenção e o interesse.

Outro ponto significativo, e já fruto da realidade tecnológica, é o


entendimento de que a tecnologia serve para facilitar a vida do aluno.
Em certo sentido, facilita, mas não do modo costumeiro: para ele,
facilitar, às vezes, é sinônimo de estudar menos e ter bons resultados.
Assim, a vivência no âmbito tecnológico (entenda-se “ter acesso à
internet”) faz com que a primeira ação de muitos alunos seja buscar
em um ambiente virtual um resumo do texto a ser lido, um exercício já
resolvido ou um vídeo que supra a necessidade de ler o texto, pois mais
fácil é o que já está pronto.

Resta claro que, quando o aluno não tem uma boa direção, a tecnologia
colabora para que ele não conquiste (ou perca) seus hábitos ou métodos
de estudos mais aprofundados. O hábito da busca pela facilidade o
leva a viver em uma zona de conforto. Esse aluno precisa enxergar
diante de si o que se alcança com os diferentes usos da tecnologia para
que, assim, possa fazer sempre escolhas que contribuam mais para
o seu aprendizado. A tecnologia deve abrir novas possibilidades de
pensamento e aprendizagem aos alunos, mas não pensar por eles.

O desafio de levar o aluno a um engajamento maior deve ser constante.


Poder-se-ia dizer que esse desafio sempre existiu, e isso é verdade.
O que muda com o contexto é que o professor tem que ser hábil em
enxergar as diversas novas possibilidades de ensino. É um desafio
maior, mas as ferramentas estão em maior número também.

O projeto indicado pelo trecho a seguir mostra de que maneira foi


buscado o engajamento de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA)
e, ao mesmo tempo, como foi incluída a tecnologia digital:

44
Queríamos inserir esses recursos na rotina dos alunos, mas com atividades
que fossem significativas para eles. Se vamos editar um texto, não pode ser
qualquer um. Como sugestão da professora de português, começamos a
usar produções que se relacionavam com as memórias deles. Foi assim que a
professora de música passou a trabalhar com o resgate de memórias musicais
da infância, adolescência e idade adulta. Por sua vez, os professores de teatro
passaram a orientar a composição de cenas relacionadas com essas músicas.
Nas aulas de cultura digital começamos a desenvolver apresentações,
envolvendo vídeos e pesquisas na internet.

Ainda com a ideia de resgatar memórias, no segundo semestre os alunos


trabalharam com áudio e tiveram que ouvir e analisar comerciais antigos.
Também exploramos a criação e edição de arquivos sonoros com a produção
de radionovelas. Eles recriaram e interpretaram esses conteúdos com o uso
de personagens digitais, os chamados avatares. (RAPKIEWICZ, 2015)

Memórias, vivências e necessidades engajam, pois despertam o interesse,


já que se relacionam àquilo que os alunos são e àquilo que vivenciaram e
se transformou em conhecimento para eles. Tal experiência mostra que o
objetivo não foi apenas resgatar, mas reinterpretar e renovar e, por meio
do uso da tecnologia, desenvolver novas habilidades.

2.4 O contato real vs. virtual

Este ponto é bastante interessante, pois a relação entre real e virtual na


educação deve ser algo manejado pelo professor. Manejo, nesse caso,
significa o saber medir o quanto de real e de virtual é importante ou
necessário para cada contexto; quanto deve ser aprendido por meio de
um debate presencial e quanto deve ser deixado para uma discussão de
um fórum interativo, por exemplo. Talvez a apresentação de um projeto
a ser realizado requeira uma presença mais marcante do professor,
enquanto as fases de realização podem ser conduzidas por meio de um
fórum de discussão e de alguns podcasts. O professor mais atento consegue
identificar as diferentes necessidades.

45
Em uma aula presencial, o professor chama a atenção dos alunos para que
não se distraiam com seus aparelhos eletrônicos, pois aquele é o momento
de voltar a atenção para o que é apresentado ao vivo. Engajamento é fazer
com que o aluno não seja simplesmente laçado, mas que ele se proponha
a seguir a organização proposta para a aula. O inverso também ocorre: em
uma atividade que deve ser realizada por meio da tecnologia (de qualquer
tipo), o professor deve chamar a atenção do aluno que acaba se distraindo
e se perdendo naquilo que está ao seu lado fisicamente, seja um colega, um
cachorro ou algo que esteja sendo transmitido pela televisão, por exemplo.

Para a relação real vs. virtual, não existe medida exata; só o contexto
momento-conteúdo-professor-aluno é que dá indícios das melhores
práticas a serem adotadas. Fazer a passagem da prática ao virtual e do
virtual à prática exige a habilidade do professor para saber conjugar os
diferentes elementos e necessidades. Outra característica do contexto 4.0
é, também, a ideia de “faça você mesmo”; trata-se do aprender fazendo,
o chamado movimento maker. Não temos como medir o quanto há de
ensino prático na internet, podendo as pessoas aprenderem a fazer o que
desejarem, até um aplicativo para celular, por exemplo.

Figura 1 – Google Busca

Fonte: Google (2020).

46
Como podemos observar na figura, uma simples busca na internet pode
indicar diversos sites que ensinam a desenvolver aplicativos, por exemplo.
Na educação, o movimento maker é importante para: desafiar, engajar
em projetos, criar, avaliar sobre recursos, resolver problemas, estimular a
colaboratividade etc. O exemplo da manchete a seguir mostra tudo isso,
estando também aliado ao pensamento de melhoria social.

“Conheça o Bobô, o robô-anjo que dá uma aula de inclusão e


solidariedade – ‘Máquina’ faz um caminho programado para a
ajudar uma aluna com Síndrome de Down e com um problema
urinário” (Brembatti, 2016)

2.5 Interdisciplinaridade

A interdisciplinaridade é um tema muito debatido dentro das modernas


considerações sobre educação, já que a noção de realidade complexa exige
um pensamento cada vez mais completo sobre os problemas – ainda que
seja uma completude relativa, já que não é possível abarcar a realidade pelo
pensamento de modo total.

Um tema a ser tratado deve ser perpassado pelos diversos conhecimentos


oferecidos pelas disciplinas para que se construa um conhecimento coeso,
e não uma colagem de diferentes falas sobre um determinado assunto. Isso
é um esforço coletivo, pois o aluno estará mais apto a entender a realidade
de modo interdisciplinar, quando ele aprender a interdisciplinaridade
em sua vivência na educação. Tratamos aqui da relação entre os fazeres
dos diferentes professores: um professor que queira estar pronto para a
realidade 4.0 deve ser maleável para conseguir trabalhar com seus colegas.

Esse aspecto de trabalho conjunto pode ser facilitado sobremaneira


por meio da tecnologia. De maneira especial, as ferramentas wiki são
colaborativas e podem ser utilizadas pelos professores em conjunto,
tanto na orientação quanto na avaliação das atividades, e ainda pode-se
acompanhar o desenvolvimento delas. O trabalho interdisciplinar requer o

47
diálogo por meio de saberes cada vez mais abertos, lembrando que isso é
consequência direta da abertura do professor em trabalhar assim.

Nesse sentido, o artigo de Mariana Souza e Ivani Fazendo (2017) é


interessante para pensarmos a importância da interdisciplinaridade. Além
disso, as autoras mostram que a inovação não é algo que depende de
ações grandiosas, mas sim da disposição em utilizar diferentes recursos.
Para isso, elas apresentam dois projetos realizados. Não deixe de ler!

3. Ideias e práticas

É importante refletir sobre as mudanças que devem ocorrer na


concepção de educação no contexto 4.0. Estando conscientes das
necessidades, professores e gestores devem criar possibilidades de
atuação. No entanto, é importante conhecer aquilo que já é realizado
nas diferentes realidades, o que significa que a partilha de experiências
é de fundamental importância para um desenvolvimento cada vez
maior. É preciso buscar!

O site www.porvir.org pode ser um caminho para se começar a conhecer


novas experiências em educação mediadas pela tecnologia. Trata-se de
um portal cujo objetivo é, justamente, mapear as práticas inovadoras
na educação, apontando as tendências, as necessidades e os sucessos
alcançados.

Figura 2 – Logo Porvir

Fonte: PORVIR (2020).

48
No site, as seções Como Inovar e Mão na Massa são bem interessantes
e mostram como os profissionais podem começar um trabalho de
inovação em suas práticas educativas. Muitos exemplos práticos das
atividades inovadoras podem ser encontrados no e-book Desafio: diário
de inovações (PORVIR; IBFE, 2019). Não deixe de verificar!

Enfim, de tudo o que apresentamos nesta unidade temática, restará


sempre um questionamento, cuja resposta mudará a cada instante:
quais os desafios atuais para se realizar uma Educação 4.0?

A realidade muda, o ser humano muda, os desafios mudam; sendo


assim, a educação tem de mudar. Trata-se de um movimento que deve
ser iniciado e sustentado pelo novo professor, que nunca é plenamente
novo, mas disposto à renovação constante. Quando falamos de um
professor mais completo, não estamos no âmbito da utopia, mas
tratando de enxergar os pontos menores que podem ser alcançados
em diversas atividades e que, em seu todo, indicam uma realidade nova
para a educação.

A educação tradicional deixará de existir totalmente? Não há resposta


para essa pergunta, embora devamos entender que sempre haverá
diferentes modelos coexistindo. Possivelmente, tal modelo não sumirá,
mas pode ser que acabe se restringindo a poucas realidades, já que
a mudança é exigida na maior parte dos sistemas de educação, em
todos os níveis. A tecnologia mudou o professor em sua essência, de
transmissor para orientador, o que significa que ele deve se reposicionar
para si mesmo dentro do processo educativo. Uma primeira impressão,
talvez, seja a de que o professor tenha perdido e que perderia de vez
seu papel, substituído pela tecnologia, quando, na verdade, deve-se
aceitar uma transformação que é parte de algo maior e mais global: a
sociedade.

Vivemos um momento de disrupção, e o professor deve se reinterpretar


nele:

49
Em tecnologia, convencionou-se entender disrupção como a interrupção
de um processo social e economicamente já estabelecido, pela emergência
de novo ciclo de inovação que venha a afetar a sociedade em parte ou
no seu todo. Em âmbito geral, disrupção descreve a interrupção de um
processo em curso, geralmente associado à inovação. Este processo
disruptivo, associado a todo o cenário que configurou o panorama do
mundo contemporâneo, sobretudo a partir do século XX, contribuiu para
a criação de um universo novo determinante para modos de ser e agir do
indivíduo atual no qual os acontecimentos se sucedem em uma velocidade
antes desconhecida, transformando em curto prazo de tempo os universos
sociais e humanos (MELLO; ALMEIDA; PETRILLO, 2019, p. 16).

Trata-se, então, do momento no qual um novo paradigma está se


estabelecendo, questionando um modelo educacional que perdurou
durante muito tempo. Toda mudança traz exigências, algumas já
postas e outras que vão se construindo. O momento da disrupção exige
maleabilidade por parte de todos os que nele estão envolvidos; porém,
mais que isso, exige a disposição para um novo aprendizado. Não se trata
da mudança da educação, mas da mudança dela como parte de um todo
que está se transformando. De maneira especial, ao tratarmos do âmbito
educacional, temos dois personagens principais, professor e aluno, que
vão se reconstruir a partir de uma nova relação a ser pensada.

Referências Bibliográficas
BREMBATTI, Katia. Conheça o Bobô, o robô-anjo que dá uma aula de inclusão e
solidariedade. Gazeta do Povo, [s.l.], 2 set. 2016. Disponível em: https://www.
gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/conheca-o-bobo-o-robo-anjo-que-da-uma-
aula-de-inclusao-e-solidariedade-9kmvcrwv146x9ahxjinjfzqtp/. Acesso em: 23 mar.
2020.
CAMPOS, Luis Fernando Altenfelder de Arruda; LASTORIA, Luiz Antônio Calmon
Nabuco. Semiformação e inteligência artificial no ensino. Pro-Posições, Campinas,
v. 31, 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pp/v31/1980-6248-pp-
31-e20180105.pdf. Acesso em: 9 fev. 2020.

50
GOOGLE. Busca: como fazer um app. 2020. Disponível em: encurtador.com.br/
giKN4. Acesso em 26 de mar. 2020.
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e tempo docente. Campinas: Papirus, 2013.
MELLO, Cleyson de Moraes; ALMEIDA NETO, José Rogério Moura; PETRILLO, Regina
Pentagna. Metodologias ativas: desafios contemporâneos e aprendizagem
transformadora. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2019.
PORVIR; IBFE (Orgs.). Desafio: diário de inovações. 3. ed. 2019.
PORVIR. Logo Porvir. 2020. Disponível em: https://porvir.org/wp-content/themes/
inketa/images/navbar-brand.png. Acesso em: 5 mar. 2020.
RAPKIEWICZ, Clevi Elena. Resgate de memórias muda uso de tecnologia na EJA.
Porvir. 2015. Disponível em https://porvir.org/resgate-de-memorias-traz-inclusao-
digital-eja/. Acesso em: 7 mar. 2020.
SANTANA, Pablo. Como a tecnologia está transformando a sala de aula?
Infomoney. 2020. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/negocios/como-
a-tecnologia-esta-transformando-a-sala-de-aula-executivos-debatem-futuro-da-
educacao/. Acesso em: 10 fev. 2020.
SOUZA, Mariana Aranha de; FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade,
currículo e tecnologia: um estudo sobre práticas pedagógicas no ensino
fundamental. RIAEE, [s.l.], v. 12, n. 2, p. 708-721, abr./jun. 2017.

51
A gestão da aprendizagem na
Educação 4.0: professores e
gestores mais competentes
Autoria: Luís Fernando Crespo
Leitura crítica: Vanessa Moreira Crecci

Objetivos
• Pensar a necessidade de formação para gestor e
professor 4.0.

• Entender quais os elementos de competência para


atuar no contexto 4.0.

• Ver possibilidades para a internet das coisas na


educação.

• Falar sobre espaços para inovação e tecnologia na


educação.

52
1. Gestão do processo

Ao longo das unidades anteriores, foram apresentados alguns dos


principais temas relacionados à Educação 4.0 no sentido de indicar de
que modo o uso de tecnologias em outros âmbitos leva a educação
a buscar novos caminhos de realização. Nesse sentido, professor
e aluno foram tomados como personagens principais, a partir dos
quais a efetivação da educação se torna possível. Porém, ainda que as
tecnologias estejam disponíveis e tanto professor como aluno tenham
plena consciência e disposição para o trabalho, um âmbito de suma
importância é o da gestão de todo o processo da Educação 4.0.

A ideia de gestão normalmente é trazida apenas como relacionada à


prática de gerir ou administrar processos. Dizendo de outro modo, a
gestão seria a maneira de organizar um conjunto de práticas para que
estas levem a uma determinada finalidade, a um objetivo para um certo
âmbito de atuação.

Ainda que pareça um pouco mais poética outra concepção, é importante


pensar a gestão como o gestar. Assim, gestar é permitir que algo se
forme por inteiro, com condições de se realizar na vida prática. Desse
modo, a gestão da Educação 4.0 não pode estar relacionada apenas à
organização de práticas, pois, se fosse apenas isso, a área administrativa
conseguiria dar conta também da educação.

Ao se falar em educação, é preciso ter em mente que há séculos


(talvez desde a Didática Magna, de Comênio) a ciência pedagógica vem
aperfeiçoando suas teorias e propondo práticas que efetivem o ato
educativo; trata-se de buscar aquilo que o próprio Comênio objetivou:
fazer com que o professor ensine menos e o aluno aprenda mais.
Porém, agora tudo ocorre com a mediação da tecnologia. Fazer a gestão
depende do conhecimento técnico que se tem, mas também depende
do modo como se aprende a ler a realidade por todos os lados, para

53
os quais as propostas tecnológicas, em sua aplicação, precisam de
adequações.

A tecnologia na educação não faz milagre e, mesmo com o


aprimoramento delas, é demorado o processo para alcançar progressos
significativos. Isso ocorre, pois a tecnologia está lá, mas nem sempre
o professor (ou outro responsável) sabe fazer uso dela, ou sabe fazer
um bom uso. Nesse sentido, há desafios em dois âmbitos da gestão:
aquela que organiza os processos dentro das instituições de modo geral
e aquela que atua diretamente com os alunos em sala de aula. Aqueles
profissionais que atuam nos dois âmbitos têm de aprender não apenas
a técnica de aplicação da tecnologia, mas também o modo de dosar, ou
seja, de entender o quanto dela é necessário e qual o limite para que
ela não seja causa de emperramento do processo. Por exemplo, para
uma disciplina, o professor deve delimitar um número de ferramentas,
para que os próprios alunos não se percam. Os desafios da boa gestão
se ligam às ações de conciliar, conceder, segurar e assegurar, mas tudo
isso não de qualquer modo, mas de forma equilibrada entre as ações
envolvidas.

O gestor deve ser a pessoa mais atenta ao mundo contemporâneo,


pois é ele quem busca enxergar o contexto, com suas novidades e
possibilidades. Sendo assim, o que a gestão pode fazer de modo prático
para realizar a Educação 4.0? Indicamos a leitura do artigo Escolas
Concept e Avenues: o que as “escolas do futuro” podem nos ensinar?
(ESCOLAS EXPONENCIAIS, [s.d.]). O texto apresenta dois exemplos de
escolas chamadas “do futuro” e elenca pontos importantes a serem
observados em sua organização, como o ambiente, o ensino híbrido, a
dimensão humana, entre outros temas.

Saiba mais: O site Escolas Exponenciais é interessante para


observarmos quais caminhos são seguidos por diversas escolas
consideradas inovadoras. Há muitos artigos que podem ser do interesse
de gestores e professores. Por exemplo:

54
• Como realizar uma boa reunião pedagógica;

• Como integrar educação e tecnologia;

• Como se manter atualizado;

• E outros.

Vejamos a seguir alguns pontos importantes para se pensar a gestão do


ato educativo.

2. Saber técnico

Há até certo tempo, entendia-se que aquele que faz a gestão dos
processos deveria entender de tudo aquilo que sua equipe deveria
realizar, era entender as ações como um todo e em seus detalhes.
Com o passar do tempo e com as novas definições, principalmente do
âmbito da administração, surge um novo modo de se pensar a gestão,
que prega a necessidade de que as pessoas sejam bem lideradas para
que, consequentemente, os processos ocorram como devem; cada
um dos colaboradores é que teria a responsabilidade de acompanhar
o bom andamento daquilo que faz. Porém, essa concepção acabou
levando muitos gestores a não mais conhecerem os processos que
sua equipe realiza. Um processo corre sérios riscos quando não há tal
conhecimento por parte do responsável.

A Educação 4.0 exige um gestor que realmente tenha um saber técnico


sobre aquilo que deve ser realizado. Não significa que tal gestor tenha
de ser formado, além da área específica de formação, em pedagogia
ou tecnologia da informação. Porém, ele precisa buscar um saber
mínimo que permita o acompanhamento, já que quem nada sabe sobre
um assunto dificilmente consegue enxergar rapidamente pontos de
atenção e necessidades diversas. Já o professor que vai trabalhar com

55
as novas tecnologias, sejam digitais ou pedagógicas, ao deter algum
conhecimento sobre tudo o que está envolvido em seu fazer, no que vai
ser proposto aos alunos, está mais apto a realizar as ações.

Ao se falar em gestão, considera-se que a tomada de decisões é algo


bastante importante, dando os direcionamentos de todo o projeto que
será realizado. Cada detalhe deve ser pensado de modo articulado,
relacionando objetivos e possibilidades. Os caminhos são definidos,
principalmente, na relação entre as necessidades pedagógicas e as
mídias disponíveis a serem escolhidas. (MOSTAFA, 2006, p. 15).

Para que se possa escolher bem tudo aquilo que tomará parte de um
determinado curso, este deve ser pensado como uma complexidade.
Significa entender que, dentro dos objetivos gerais a serem alcançados,
cada recurso (mídia ou tecnologia) utilizado deve possibilitar alcançar
objetivos menores e mais específicos. É preciso ter uma visão do todo,
que seja sistêmica e saiba entrelaçar necessidades e possibilidades.

3. Formação dos professores

Como deve ser pensada a formação de um profissional que tem de


atuar de modo cada vez mais amplo? É difícil responder de modo exato,
mas é preciso ter em mente que o professor deve, acima de tudo,
estar aberto para aprender sempre. Tudo aquilo que ele adquire de
aprendizado em um momento, no momento seguinte pode já não mais
vigorar, mas aquele conteúdo serve como base para o que vier a seguir.
A ideia de “estar antenado” é bem adequada para esse professor: ele
deve estar atento ao que acontece no mundo da educação como um
todo, buscando o que há de novo para poder aperfeiçoar sua atuação.

Acompanhar avanços em áreas que estão relacionadas à tecnologia


exige uma disposição tal que pode parecer cansativo; porém, as

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inovações que podem ser encontradas são enriquecedoras de tal modo
que nutrem ainda mais o desejo de conhecer. Dizendo de outro modo,
o professor que trabalha na Educação 4.0 tem mais conteúdo a ser
buscado e essa busca é ampla. Vamos a um exemplo: façamos uma
pesquisa em um site de busca com os termos “práticas inovadoras em
educação”; no momento em que esse texto é escrito, o resultado da
busca pelo Google é:

Figura 1–Busca Google

Fonte: Google (2020).

Há um número aproximado de 15.700.000 resultados. Nesse número,


há muitos resultados que nada servem para o que se quer encontrar.
Sendo assim, como é possível fazer a seleção diante de um número
como esse? Costumeiramente, quem está pesquisando começa a
acessar os primeiros indicados na listagem, mas não se pode garantir
que os demais sejam menos importantes. Como fazer, então? Apenas
o hábito pode indicar um caminho para a escolha de fontes confiáveis;
também é a prática que pode revelar maneiras de se refinar a busca,
pois o resultado que aparece é dado por um algoritmo que tenta
interpretar (cálculo) aquilo que se deseja.

No entanto, apenas conhecer casos não leva um professor a desenvolver


as habilidades necessárias para o contexto 4.0; é fundamental haver
uma formação de forma regular e continuada. Não significa que o
professor deva buscar apenas cursos regulares oferecidos pelas
instituições de educação, mas que ele deve estar em constante formação
por meio dos cursos que mais lhe convierem, de acordo com suas
disponibilidade e necessidades.

57
[...] na atualidade, o domínio das TICs demanda a aquisição de
competências necessárias à profissão docente. Essas novas competências
se traduzem em um novo saber, que só garantirá a sua objetivação numa
situação em que o seu uso se tornar homogêneo e facilitador, na busca
de novas informações e conhecimentos, que devem se configurar em
instrumento de trabalho, cuja apropriação e cujo domínio sejam acessíveis
a todos os professores (FIDALGO, 2015, p. 158-159).

O professor, ainda que sua atuação tenha sofrido grandes alterações,


é um dos personagens principais para que a Educação 4.0 se efetive.
Como mediador do conhecimento, ele deve estar atento ao modo
como as características dos alunos devem ser consideradas diante das
inúmeras possibilidades pedagógicas. O mundo da educação não se
restringe mais ao âmbito da escola e deve ser ressignificada a noção
de permitir que o conhecimento aconteça. De certo modo, ele tem
sua tarefa aprimorada com o auxílio das chamadas Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs).

Na Educação 4.0, houve uma mudança de eixo, passando o aluno


a estar como centro. Por conta disso, em um processo que ainda é
construído, o professor vai recolocando tudo em nova disposição,
inclusive a si próprio. Muda a posição, o foco muda. Não apenas
professor e aluno são recolocados: os aparatos tecnológicos, que, em
uma educação tradicional, eram proibidos, concebidos como prejudiciais
ao aprendizado, ganham novo espaço e são os principais meios
utilizados para a disponibilização do conteúdo. Porém, de todo modo,
é o professor quem organiza o espaço de aprendizagem – agora, de
uma forma diferente, entendendo que o saber não é homogêneo nem
construído de forma linear. Nesse sentido, devem ser repensados os
processos cognitivos, que passam a ser influenciados por outros fatores
que não aqueles de dentro da sala de aula tradicional. (MOSTAFA, 2006,
p. 89).

Em tal usina, o que se busca produzir é conhecimento, mas não de


qualquer modo, e sim guiados por um objetivo. É o professor que

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cuidará para que isso ocorra, abrindo caminhos possíveis. Esse
profissional que se reinventa, não tem seu conhecimento descartado,
mas passa a buscar novos meios para que tal conhecimento possa se
efetivar por outros caminhos. É preciso entender o contexto e encontrar
o ponto de possível equilíbrio entre as novas possibilidades e as
necessidades da área específica, dos conteúdos a serem apreendidos e
das habilidades a serem desenvolvidas. Sair do linear para o não linear e
do homogêneo para o não homogêneo não é tarefa fácil.

4. Espaços, metodologias e tecnologias

Quando se fala em mudar as metodologias de ensino, é importante


pensar que o fazer educativo não está ligado apenas a um ambiente
específico (antes apenas a sala de aula padrão), pois ele passa a ser
expandido, e, assim, o aprendizado pode se dar em diferentes espaços.
Significa entender que a mudança não é algo pontual, mas na concepção
mais geral que se tem do educar. A pergunta que fica é: onde existem
tais espaços em uma escola (ou em uma faculdade)? É preciso criar
espaços, rever a utilização de outros e criar novas condições para
ensinar e aprender.

Falamos de realidade 4.0, o que significa olhar para um mundo marcado


pela Inteligência Artificial (I.A.) e por todos os resultados de sua
aplicação. Uma Educação 4.0 deve ensinar o aluno a estar em tal mundo
antes de poder atuar efetivamente nele. Dizendo de outro modo, ao
aluno deve ser propiciada uma experiência que o faça conhecer e lidar
com as novas tecnologias que, no futuro, estarão à sua frente no mundo
do trabalho e da vida como um todo.

Por exemplo, algo característico dessa realidade é a Internet das Coisas


(no inglês, IoT – Internet of Things). Para alguns alunos que já estão no
mundo do trabalho, principalmente nos âmbitos de produção, esta já

59
é uma realidade: máquinas cada vez mais inteligentes para as quais
restam tarefas e atividades que, antes, eram executadas por pessoas.

Será que algo poderia estar presente nas instituições de educação


melhorando os processos e permitindo aos alunos um contato direto?
Claro que sim. Por exemplo, algo que sempre fez com que se perdesse
muito tempo de aula é a chamada dos alunos. Uma câmera com
reconhecimento facial poderia poupar esse trabalho do professor e,
inclusive, evitar erros de qualquer espécie; a entrada e saída de alunos
pode ser automática e o controle em tempo real. Outra maneira
possível, por exemplo, é ter um controle de presença por meio do
acesso do aluno à rede da escola: o aluno pode chegar e já marcar sua
presença. Parece pouco, mas, na somatória das aulas, ganha-se muito
tempo, pois há mais tempo para se fazer algo que seja mais útil dentro
do planejamento.

Mesmo um planejamento de curso ou de aula pelo professor pode ser


otimizado: em vez de partir apenas do conhecimento e dos interesses do
professor (o que pode tornar o curso inadequado e aquém do interesse
dos alunos), a I.A. consegue delinear quais os pontos de intersecção
entre os objetivos de uma disciplina e os interesses dos alunos apenas
fazendo uma varredura nos sites mais acessados por eles. Além de
permitir um material sempre mais atualizado, faz com que ele responda
a anseios dos próprios destinatários, o que deve aumentar o interesse, a
qualidade e participação nas aulas etc.

Débora Garofalo (2019) indica que:

A plataforma adaptativa integra a sala de aula e oferece uma gama de


benefícios, como relatórios que servem de aporte para que o professor
possa tomar uma decisão em relação à aprendizagem dos estudantes.
Algo que é necessário destacar é o papel do professor: ele é essencial ao
processo por permitir interações, realizar o planejamento que melhor se
adeque às necessidades dos estudantes e por mediar o processo cognitivo.
(GAROFALO, 2019)

60
A plataforma adaptativa integra a sala de aula e oferece uma gama de
benefícios, como relatórios que servem de aporte para que o professor
possa tomar uma decisão em relação à aprendizagem dos estudantes.
Nunca se pode deixar de destacar o papel do professor, pois ele é
essencial ao processo por permitir interações, realizar o planejamento
que melhor se adeque às necessidades dos estudantes e por mediar o
processo cognitivo.

Os novos espaços e tempos devem proporcionar mais experiências. A


maior parte dos gestores e professores não faz parte dos chamados
nativos digitais, aqueles que já nasceram no mundo tecnológico e
têm contato com os diferentes modos de aprender e realizar tarefas
propiciados pela tecnologia. Desse modo, são esses profissionais que
devem se atentar para aprender o novo modo de olhar para o mundo
e nele entender as novas relações entre sujeitos e objetos, que são as
relações de conhecimento. Na verdade, não apenas esses dois grupos,
mas toda a instituição deve assumir os novos projetos.

As discussões e a implementação contam com a participação


interdisciplinar. É preciso envolver as áreas acadêmicas, administrativas e
tecnológicas, de forma transparente, em comunicação permanente e com
decisões colegiadas.

(...)

A convergência tecnológica aponta para a digitalização de tudo que


possa se tornar estímulo sensorial, o que permite inclusive simulações
e aplicações que podem ser úteis no “fazer-aprender”, muito além do
ambiente web (GUIMARÃES, 2003, p. 59).

Quais espaços de tecnologia para aprendizagem e experiências estão


disponíveis em nossas escolas e faculdades? E em nossas empresas?
Há projetos arrojados ou todos caminham de modo tímido? Que
experiências podem ser conhecidas? Vejamos alguns exemplos:

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• Espaço MESCLA, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

• Espaço de Inovação da Samsung na USP.

• Espaço de Criatividade e Inovação da Unesp.

• Kroton e startups de educação no espaço Cubo.

Sobre o último exemplo, desde 2018, a Kroton Educacional patrocina


um espaço para auxiliar startups do setor educacional. Trata-se de um
andar no Espaço Cubo cujo foco é o empreendedorismo, possibilitando
desenvolvimento e testes de tecnologias voltadas para a educação.

São muitas as experiências que já estão em vigor, e elas não cabem


apenas para as grandes instituições, já que a tecnologia está à
disposição de todos. A inovação trata mais da abertura de uma reflexão
para novos rearranjos a partir do que a empresa, a faculdade ou a escola
já têm ou já conhecem. A instituição como um todo pode se tornar um
espaço de inovação.

5. Responsabilidade sobre o novo aprender dos


alunos

Do mesmo modo como o gestor e o professor têm de aprender um novo


fazer educativo, o aluno também deve rever sua postura, percebendo
que deve assumir um novo modo de ser para os novos modelos de
educação. No entanto, enquanto os profissionais da educação já têm
uma bagagem na vida de estudo e pesquisa, não necessitam de grande
ajuda para encontrar os caminhos para sua aprendizagem; enquanto
isso, os alunos muitas vezes eles dependem da instituição como um
todo para poderem entender as novas necessidades e terem condições
de assumi-las.

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Aquilo que em muitos setores e situações é chamado de “ambientação”
é o primeiro momento para que o aluno vá conhecendo a nova situação.
Ambientação, aqui, deve ser não apenas a apresentação do novo
ambiente, mas a recepção para que o aluno se sinta bem e comece
a atuar nele. Possivelmente, quanto à tecnologia, muitos alunos já
chegam conhecendo ferramentas bem avançadas; o principal para se
ambientar é começar a dirigir o uso, que no seu cotidiano é desregrado,
para um modo específico, que obedeça aos objetivos da educação. A
instituição, então, deve garantir que os profissionais saibam instruir
adequadamente. Locais e momentos, sejam virtuais ou presenciais,
devem propiciar vivências significativas que introduzam o aluno em uma
nova concepção do que seja a educação, o ensino e a aprendizagem.

Entender o caminho traçado para a aprendizagem, estando pronto


para receber e responder às dúvidas, é de suma importância para o
professor. Nesse sentido, não pode haver parte do projeto que seja
conhecida apenas de alguns setores (TI, secretaria etc.); o professor,
do mesmo modo que todos os demais envolvidos, deve conhecer
tudo o que está preparado para o curso e deve entender de todas as
ferramentas que estarão à disposição dos alunos. Muitas vezes, quando
há alunos que reclamam de falta de credibilidade da instituição, isso se
deve à percepção que eles têm de que cada setor caminha para um lado,
cada um conhece um pouco, mas ninguém sabe algo de modo completo.
É preciso reforçar a ideia de que a educação acontece efetivamente
apenas quando o aluno sabe o que se espera dele e confia em quem
propõe as ações; e o professor é a instituição no contato direto com o
alunado.

6. Mudanças, problemas e soluções

Como visto ao longo das unidades até este momento, a realidade


social muda constante e rapidamente. Dentro do contexto de uma

63
sociedade 4.0, nem todas as estruturas são atingidas em um primeiro
momento de forma significativa, parecendo que podem ficar alheias
ao movimento global. Porém, não leva muito tempo para que todos
os âmbitos sejam envolvidos, já que se trata de uma mudança
no modo como a sociedade produz. Esperar que a mudança atue
diretamente para, depois, buscar entender as necessidades é uma
atitude ingênua e pode levar ao insucesso das ações. Dizendo de
outro modo, significa que, mesmo que ainda não seja atingida em seu
todo, o movimento já foi desencadeado e se desenrola até chegar aos
contextos mais ínfimos.

Um professor ou gestor educacional que espera para se preparar


apenas quando lhe for exigido algo diretamente está perdendo a
oportunidade de estar à frente de seus pares. A mudança vem como
um efeito dominó: começam pela tecnologia que atinge as indústrias,
as quais, por sua vez, exigem profissionais com formação específica,
e, por fim, atingem as instituições de educação e instrução, que
devem responder pelos anseios e pelas necessidades impostos.

Toda novidade gera inúmeras situações que se mostram como


problemas, mas as soluções para eles estão prontas? De maneira
nenhuma. Como tudo acontece ao mesmo tempo, a solução é
construída pelos envolvidos com os processos educativos, seja na
escola ou na faculdade, seja na empresa. Mais ainda neste momento,
enquanto a educação formal não atingiu aquilo que dela é requerido,
as próprias empresas têm se preocupado mais do que nunca em
oferecer a formação adequada ao seu pessoal.

O profissional que conhece e se prepara para enfrentar as questões


relacionadas à Educação 4.0 ganha importância nas empresas,
podendo:

• Avaliar o contexto e entender as necessidades do mercado,


relacionando-as àquilo que a instituição já tem ou pode ter.

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• Desenhar projetos e propor soluções que sejam adequadas e
factíveis dentro do contexto externo e interno.

• Aplicar e acompanhar a implementação das mudanças nos


processos e, principalmente, avaliar a evolução da proposta.

7. Desafios e oportunidades

O principal desafio de todos os envolvidos com a Educação 4.0 é o


da aprendizagem constante. Não é simplesmente aquilo sobre o que
muito se fala de uma formação continuada, pois a necessidade e as
propostas de tal formação existem aos montes, para os diferentes
contextos. O que muda agora é o que se soma a ela, principalmente
relacionado a novas habilidades. O tão citado “reaprender a aprender”
não é algo que ocorre uma única vez, mas se mostra como um
movimento de um novo aprender. Sendo assim, pode haver um início
no processo, mas não se pode conceber um fim, pois, quando já se
teria alcançado o que se objetiva, o objetivado apresenta sempre novas
facetas.

Torna-se fundamental, em cursos de formação continuada, relacionar a


educação às inovações científicas e tecnológicas, pois é importante que o
professor utilize as tecnologias digitais e comunicacionais como recursos
para a aprendizagem dos alunos (FIDALGO, 2015, p. 145).

Diante do desafio, o primeiro passo é a adaptação para que o


professor construa para si uma nova identidade, o que não é tão
simples, já que a história da educação sempre mostrou o mestre como
o detentor de um conhecimento, se não estático, pelo menos estável.
Agora não há mais estabilidade no conhecimento, e o professor
é aquele que consegue dar um rumo para que os alunos possam
aprender mesmo no meio das mudanças.

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As mudanças são importantes e tocam a vida da sociedade como
um todo. A escola, a faculdade e a empresa devem estar cientes
das necessidades impostas pelo contexto e devem assumir a
responsabilidade, já que as mudanças chegam até dentro das casas,
nas vivências cotidianas das pessoas. Os problemas surgem e devem
ser trabalhados, mesmo que nem sempre a resolução seja possível
de modo completo. Nesse sentido, vemos que nenhuma solução é
definitiva; são sempre tentativas, opções de resolução.

A situação instável sobre as certezas do fazer educativo leva o


docente a uma reformulação constante, ao desenvolvimento de
novas habilidades que, uma vez adquiridas, tornam-se portas para o
aprimoramento e para a aquisição de outras. A incerteza não é apenas
da educação, pois esta é fruto de algo mais amplo, é fruto da mudança
social, econômica e política. A adaptação agora não é mais um convite,
mas sim uma exigência.

Enfim, ao pensarmos sobre diversos modos como a sociedade 4.0


interfere no processo educativo, entendemos que o profissional
precisa adentrar o âmbito das tecnologias para a educação. A
tecnologia é sempre a aplicação de um conhecimento técnico, e, na
educação, mesmo que não falemos diretamente das tecnologias
digitais, vemos a possibilidade de seus diferentes elementos no fazer
do ato educativo. O profissional da Educação 4.0 deve estar disposto a
buscar sempre mais tais possibilidades, verificando o que há de novo
para o aperfeiçoamento da prática docente. As mudanças se dão a
todo momento e apenas professor e gestor atentos podem levar uma
instituição a responder às necessidades que o contexto impõe a ela.

Referências Bibliográficas
ESCOLAS EXPONENCIAIS. Escolas Concept e Avenues: o que as “escolas do
futuro” podem nos ensinar? Escolas Exponenciais, [s.d.]. Disponível em: https://

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em: 18 mar. 2020.
FIDALGO, Fernando; OLIVEIRA, Maria A. M.; FIDALGO, Nara L. R. (Orgs.). A
intensificação do trabalho docente: tecnologias e produtividade. Campinas:
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FRARY, Mark. 5 IoT innovations that will change your life. Raconteur, 2020.
Disponível em: https://www.raconteur.net/technology/iot-innovations-ces, Acesso
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GUIMARÃES, Luciano S. R. Gestão de novas tecnologias no contexto educacional. In:
PERROTTI, Edna M. B.; VIGNERON, Jacques (Orgs.). Novas tecnologias no contexto
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KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 9. ed.
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MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas
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PERRENOUD, Philippe et. al. As competências para ensinar no século XXI: a
formação dos professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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BONS ESTUDOS!

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