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ARQUIDIOCESE DE SOROCABA

PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE SOROCABA


CENTRO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL
DOM JOSÉ MELHADO CAMPOS
CURSO DE FORMAÇÃO TEOLÓGICA E PASTORAL
Av. Dr. Eugênio Salerno, 100 – Santa Terezinha – 18035-430.
Sorocaba/SP – CEP 18001-970 – Telefone: (15) 3221-6880

Estudo da segunda carta de São Paulo aos Coríntios


AUTORIA E DATA

O Apóstolo Paulo é geralmente reconhecido como o autor de 2 Coríntios. Essa


conclusão baseia-se na assinatura da carta (1, 1), o testemunho posterior de vários Padres da
Igreja e a linguagem e o estilo decididamente paulinos da epístola. Alguns estudiosos
questionam se a carta foi originalmente escrita como um todo unificado ou se é uma
miscelânea de várias cartas escritas em momentos diferentes. Diferenças nítidas de tom
entre os capítulos 1-9 (afetuoso) e capítulos 10-13 (severo) levaram muitos a pressupor que
as duas cartas distintas, escritas em diferentes circunstâncias, foram juntadas em uma única
epístola por um editor posterior. Outros analisam a carta ainda mais, afirmando que 2
Coríntios é um composto de pelo menos três ou mais fragmentos de correspondência com a
Igreja de Corinto. Outros ainda defendem a unidade da carta, por vezes explicando as
mudanças no tema e tom como resultado das informações atualizadas recebidas por Paulo
sobre a situação em Corinto no processo de escrita da carta. Independentemente da hipótese
correta, Paulo ainda é considerado o autor de todas as partes da carta que possuímos hoje.
Na verdade, 2 Coríntios é um dos escritos mais pessoais e autobiográficos do Apóstolo.

Paulo escreveu 2 Coríntios em sua terceira viagem missionária (At 18, 23-21;16),
não muito tempo depois de escrever e enviar 1 Coríntios. Apenas nesse momento deixou
Éfeso (1 Cor 16, 8) e viajou para o norte da Grécia na província romana da Macedônia (2,
13; 7, 5; 9, 2). É provável que Paulo tenha escrito essa carta no outono de 56 d.C, tendo
escrito 1 Coríntios mais cedo no mesmo ano.

DESTINATÁRIOS

A Igreja em Corinto do Novo Testamento era jovem e instável quando Paulo


escreveu essa carta. O Apóstolo estabeleceu uma pequena comunidade de cristãos ali em
cerca 51 d.C (At 18, 1-18). Logo depois da partida de Paulo, no entanto, a Igreja foi

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bombardeada com tentações. Pressões da cultura pagã circundante, especialmente a


idolatria e imoralidade tão desenfreadas na antiga Corinto, representava uma ameaça
constante ao seu compromisso cristão. Conflitos internos e lealdades divididas também
estavam destruindo a comunidade por dentro. No momento em que Paulo escreveu 2
Coríntios, a comunidade foi ainda mais ameaçada por invasores e afirmavam ser Apóstolos
legítimos. Esses encrenqueiros se infiltraram durante a ausência de Paulo e fizeram vários
coríntios ficarem contra ele, alegando que Paulo era inconstante, inarticulado, e claramente
não qualificado para ser um mensageiro de Cristo. Esses falsos mestres criaram tensões
entre Paulo e os coríntios que, eventualmente, chegaram a um ponto de crise. Portanto,
Paulo fez uma breve visita de emergência para Corinto para acertar as coisas, mas na
chegada foi inesperadamente atacado por um agressor não identificado (2, 5; 7, 12). Para o
sofrimento do Apóstolo, a maioria dos coríntios não o defendeu desse oponente
desconhecido. Só mais tarde é que a maioria se arrependeu de seu silêncio culpável e
novamente confiaram a Paulo sua fidelidade completa (7, 9). Os capítulos 10-13 indicam,
entanto, que uma minoria dos coríntios permaneceu impenitente e continuou a questionar a
validade do apostolado de Paulo (12, 21).

PROPÓSITO

Paulo escreveu 2 Coríntios por várias razões. (1) Esperava fortalecer sua relação
com os adeptos fiéis em Corinto e impedi-los de ceder aos apelos infundados dos "falsos
Apóstolos" (11, 13) que estavam se infiltrando na Igreja e atacando sua integridade. (2)
Escreveu para afirmar e defender sua autoridade apostólica contra os que duvidavam ou
negavam (10, 10; 12, 11-12). (3) Ele procurou retomar sua série de esforços pelos cristãos
pobres em Jerusalém e por isso apelou à generosidade dos seus leitores a este respeito (cap.
8-9). (4) A segunda parte da carta (cap. 10-13) foi escrita para enfrentar os "falsos
Apóstolos" (11, 13) e seus seguidores em Corinto. Paulo avisa que não poupará (13, 2)
esses detratores se persistirem em sua oposição a seu ministério. (5) Paulo também escreveu
para informar os coríntios sobre seu plano de visitá-los pela terceira vez (12, 14; 13, 1).

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TEMÁTICA E CARACTERÍSTICAS

2 Coríntios é uma carta muito pessoal e emocional. Isso faz com que, por vezes, seja
difícil de seguir, mas nos dá um raro vislumbre da ternura e tenacidade de Paulo. Ele era um
pai espiritual passando pela experiência dolorosa de seus próprios filhos se posicionarem
contra ele e seguirem seu próprio caminho. Os altos e baixos dessa experiência estão
marcadas na primeira e segunda metade da carta: logo no início Paulo está radiante de
alegria ao ouvir que alguns dos coríntios estão retornando a ele (cap. 1-7), porém mais tarde
a sua ira e frustração regressam quando lembra que outros ainda estão em oposição (cap.
10-13). Ao longo da carta, Paulo utiliza as artes retóricas para afirmar e encorajar os fiéis,
bem como para maldade de seus detratores.

No seu conteúdo, 2 Coríntios é principalmente uma carta apologética. Além dos


capítulos 8-9 em que convida os leitores a fazer uma doação generosa aos pobres, Paulo
dirige a maior parte de sua energia a uma defesa sustentada da sua autoridade apostólica.
Ele não deseja fazer isso, mas missionários intrusos o encurralaram e o obrigaram a lutar
pela sua sobrevivência (10, 11). Primeiro, Paulo salienta que Deus o qualificou para o
ministério (3, 4-6), assim como qualificou Moisés como pastor de Israel. Essa comparação
ousada realmente favorece Paulo: por meio do ministério de Moisés, a morte veio a Israel
infiel; mas por meio do ministério do Apóstolo, o Espírito é derramado em uma maneira
poderosa e dá vida ao povo da Nova Aliança (3, 7-18). Os coríntios são a prova viva desse
efeito, depois de ter recebido o Espírito por meio das ações apostólicas de Paulo (3, 2-3).
Segundo, Paulo traz à tona repetidamente sua própria experiência do sofrimento como as
credenciais que mais o orgulham (1, 5-11; 2, 4; 4, 7-12; 6, 4-8; 7,5; 11, 23-29). Isso serve
para enfatizar que só Deus merece o crédito por seus êxitos missionários (1, 21-22; 5,
18;10, 17). Ao contrário dos falsos mestres (11, 21), ele se gloria, não em si mesmo, mas no
poder da graça que se torna eficaz nos seus pontos fracos (12, 9-10). Ao reafirmar a sua
autoridade como um embaixador de Cristo (5, 20), Paulo espera evitar um novo confronto
com Corinto que o forçaria a usar essa autoridade de forma disciplinar (13, 10).

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Esquema da segunda carta de São Paulo aos Coríntios

1. Discurso e Prólogo (1, 1-11)

a) Saudação (1, 1-2)

b) Ação de graças (1, 3-11)

2. Ministério apostólico de Paulo (1, 12 – 7,16)

a) Planos de viagem de Paulo (1, 12- 2, 17)

b) Ministério da Nova Aliança (3, 1 – 4, 18)

c) O destino eterno dos cristãos (5, 1-10)

d) Ministério da reconciliação (5, 11 – 6, 10)

e) Reconciliação de Paulo com Corinto (6, 11 – 7, 16)

3. A porção de Jerusalém (8, 1 – 9, 15)

a) Exemplo dos macedônios (8, 1-7)

b) Suprir a necessidade dos outros (8, 8 – 15)

c) Chegada de Tito e companheiros (8, 16-24)

d) Apelo à generosidade (9, 1 – 15)

4. A defesa apostólica de Paulo (10, 1 – 13, 10)

a) Ministério do Divino Poder de Paulo (10, 1 – 12)

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b) Gloriar-se no Senhor (10, 13 – 11, 20)

c) Gloriar-se no sofrimento e na fraqueza (11, 21 – 33)

d) A jornada celestial de Paulo (12, 1 – 10)

e) Apelo à unidade e paz (12, 11 – 13, 10)

5. Epílogo (13, 11-14)

a) Despedida (13, 11 – 13)

b) Benção trinitária (13, 14)

O conteúdo de 2Cor

São Paulo via-se caluniado pelos judaizantes. Tais acusações, porém, não afetavam apenas a
pessoa do Apóstolo, mas punham em xeque a própria causa do Evangelho. Daí a
necessidade que incumbia a Paulo, de responder fazendo longa exposição de suas intenções,
de seus trabalhos e da eminente dignidade da sua missão apostólica. Nessa epístola Paulo
expandiria toda a sua alma de homem ardente que lutava pela mais sublime das causas. Ao
fazer isto, porém, o Apóstolo não se fechou numa visão individualista ou mesquinha da
realidade; ao contrário, desenvolveu perspectivas teológicas muito vastas e belas.

Introdução 1,1-11. Saudações. Paulo dá graças a Deus, que o libertou de gravíssimos


perigos de morte.

l. Apologia de Paulo diante dos Coríntios: 1,12 - 7,16

a) As relações de Paulo com os coríntios após a 1Cor: 1,12 - 2,17

Paulo mudou o seu plano de viagem, não indo a Corinto, como prometera, não em virtude
de inconstância ou falta de amor, mas para não contristar os fiéis (1,12-2,4). Recomenda
caridade para com o irmão penitente (2, 5-11). “Somos o bom odor de Cristo” (2, 12-17).

b) A dignidade do ministério apostólico: 3,1 - 7,1


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O ministério da Nova Aliança é mais nobre do que o da Antiga (3, 1-4, 6). O poder de Deus
se manifesta na debilidade humana (4,7-5,10). É a caridade de Cristo que move o Apóstolo
e o leva a apregoar a reconciliação com Deus. Não vivam os coríntios como os pagãos
(5,11-7,1).

c) O restabelecimento das boas relações de Paulo com os coríntios: 7, 2-10

Exposição dos fatos recentes, principalmente da vinda alegre de Tito; manifestação do


prazer consequente.

2. A coleta em favor da comunidade de Jerusalém 8, 1-9,15

Sigam os coríntios o exemplo dos fiéis da Macedônia (8,1-15). Paulo recomenda aos
coríntios Tito e os irmãos que se encarregarão da coleta (8,16-9,5). Deus recompensa a
generosidade dos seus fiéis (9, 6-15).

3. Apologia polêmica diante dos adversários: 10,1-13,

a) Refutação das calúnias: 10,1-18

Paulo não procede segundo as paixões, mas por espírito de fé (10,1-11); tem justos títulos
de glória diante dos seus adversários (10,12-18).

b) A justa glória de Paulo: 11,1-12,18

Em um só ponto Paulo é inferior aos pregadores judaizantes (“apóstolos por excelência”):


pregou o Evangelho aos coríntios sem lhes ficar financeiramente a cargo. Continuará a fazê-
lo (11,1-15).

Embora seja tolo expor os próprios títulos de glória, Paulo ousa fazê-lo, coagido pelos
adversários: recorda os seus trabalhos, os dons extraordinários recebidos de Deus e também
as moléstias corporais, nas quais o poder de Deus se manifesta (11,16-12,10).

Paulo indica novos sinais da autenticidade da sua missão. Os coríntios deveriam defendê-lo
das calúnias, já que tanto amor lhes demonstrou no passado (12,11 -18).
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c) Admoestação preparatória da próxima visita: 12,19 - 13,10. Paulo procederá severamente


contra os mal intencionados (12,19 - 13,6). Espera, porém, que isto não se torne necessário
(13, 7-10).

Epílogo: 13, 11-13. Ultimas exortações. Saudações. Bênção.

A primeira e a terceira partes são intimamente conexas entre si: visam a defender a
autoridade de Paulo ora aos olhos dos coríntios (1-7), ora perante os judaizantes (10-13).
Entre as duas apologias, a segunda parte parece interromper o curso das ideias. Mas tem seu
nexo lógico com os capítulos antecedentes e os subsequentes. Com efeito, São Paulo, que
combatia os judaizantes, podia dar a impressão de ser contrário à Igreja-mãe de Jerusalém e
de estar suscitando uma cisma entre étnico-cristãos e judeo-cristãos¹. Ora, justamente para
dissipar tal equivoco, o Apóstolo, ao mesmo tempo em que combatia os judaizantes, se
mostrava fiel à Igreja-mãe (judeu-cristã) e inculcava aos coríntios (étnico- cristãos) que
também o fossem mediante as suas esmolas.

Os efeitos alcançados pela 2Cor foram muito satisfatórios: a reconciliação da comunidade


com seu pai espiritual se consolidou. Por isto, pouco depois de enviada a 2Cor, Paulo, no
inverno de 57/58, se deteve três meses em Corinto; esta terceira visita parece ter decorrido
numa atmosfera de muita calma, que permitiu ao Apóstolo redigir a epístola aos Romanos,
profundamente mergulhado na teologia.

A mensagem de 2Cor

A 2Cor é um dos escritos que mais manifestam a alma de Paulo. Envolvido pelas tramas
maldosas dos adversários e vítima dos achaques corporais, Paulo experimentou em grau
muito intenso a angústia da vida nesta terra.

Hoje os homens são muito sensíveis à angústia; não poucos se sentem “condenados à
morte”, sem esperança e sem consolo.

Precisamente a 2Cor é importante por mostrar como o Apóstolo reagiu diante das
tribulações. Paulo, de um lado, não se entregou à lamentação e ao desânimo; de outro lado,
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não quis negar artificialmente a angústia como se reconhecê-la não fosse digno do homem
perfeito.

Paulo aludia frequentemente às tribulações que o afligiam: 1,8; 7,5; 11,23-27 (o catálogo de
dores físicas e morais do Apóstolo); 12,7 (o aguilhão na carne, o anjo de Satanás que o
esbofeteava e que não sabemos identificar). Em 5, 2-4 o Apóstolo confessava mesmo o
pesar que experimentava por ter que morrer.

Ora, essas tribulações, efeitos da fragilidade humana, eram interpretadas pelos judaizantes
como sinais de que Deus não dera a Paulo a missão do apostolado; pareciam incompatíveis
com a autoridade e a dignidade de um legado de Deus.

O argumento em favor dos judaizantes era forte. Contudo Paulo quis dar às suas
deficiências físicas uma interpretação contrária à dos adversários. Conforme o Apóstolo, as
misérias físicas do cristão são justamente o sinal da presença de Deus no fiel. No caso de
Paulo, os achaques significariam que não era Paulo, como simples homem, que agia, mas
era Deus, quem agia por meio de Paulo. Toda a obra missionária de Paulo era efeito da
graça de Deus, que Paulo trazia como um tesouro em vaso de argila (4,7-10). Por
conseguinte, pelas deficiências do instrumento Paulo comprovava a autenticidade da sua
missão. É justamente próprio de Deus mostrar em meio à fraqueza humana todo o poder
divino (12,9).

Mais: Paulo confessava suas angústias diante da morte para mais altamente proclamar a sua
esperança na ressurreição; o definhar do velho homem seria a condição para o
desenvolvimento do homem novo; ressurreição e vida nova constituem um processo que
opera paralelamente com definhar e morte (4,11-16). Por isto a vida do cristão tem duas
faces: uma exterior, visível, um tanto ilusória, e outra interior, oculta, que é mais verídica,
porque derivada da posse da eternidade. Observe-se o paradoxo com que São Paulo
caracteriza a vida do cristão:

“somos considerados como moribundos, e eis que vivemos… somos considerados como
quem nada tem, embora tudo possuamos!” (2Cor 6,9s).
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Em suma, a mensagem da 2Cor se compendia nas palavras de 12,9s:

“É na fraqueza (do homem) que a força (de Deus) manifesta todo o seu poder… Por isto eu
me comprazo nas fraquezas, nos opróbrios, nas necessidades, nas perseguições, nas
angústias por causa de Cristo. Pois, quando sou fraco, então é que sou forte”.

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