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PARTE II

O POVO DE DEUS
CAPÍTULO VIII

INCORPORAÇÃO AO POVO DE DEUS E COMUNHÃO COM A IGREJA

1. O MISTÉRIO DA IGREJA

A Igreja particip a de um traço característico da economia da salvação,


considerada em seu conjunto : é intelig ível, pode ser conhecida; embor a a sua total
compreensão supera as possibilid ades do entendimento hu mano. Daí que o Con cílio
Vaticano II f ala sempr e do “mistério d a Igr eja”.

Um mistério que se originou no desígnio da Santíssima Trindad e


e que se realiza progr essivamen te na h istó ria; pois a Igr eja que
parece “prefigur ada já d esde o prin cípio do mundo e
admirav elmente prep arada na histór ia do povo de Israel e na
Antiga Aliança, fo i constituíd a no fim dos tempos e manif estada
pela efusão do Espírito, e será glor iosamente consumada no fim
dos séculos” (LG. 2).

Contudo, a Revelação nos desvelou o mistério da Igreja de modo suficiente,


quando nos deu a conhecer o desígnio de seu divino Fund ador sobre ela, tamb ém
median te uma série d e imagens, relacion adas entre si, que ajudam a captar sua essência
e configuração.
Dentre as mú ltip las imagens d a Igreja que encontr amos na Sagr ada Escritura
(redil, rebanho, vid e, lavoura, temp lo, edificação, família de Deus etc.) o Concílio
Vaticano II se serviu especialmente de du as imag ens para ilustrar esse mistério, ou
seja, a imagem de Povo d e Deus e Corpo Místico de Cristo .

“As imagens tomadas do Antigo Testamento constituem variantes


duma ideia de fundo, que é a de “povo de Deus”. No Novo
Testamento, tod as estas imagens en contram um novo cen tro, pelo
fato de Cristo Se tomar “a C abeça” deste po vo que é, desde então,
o seu corpo” (Catecismo da Igr eja C atólica, n. 753 ).

Com isso, o Concílio Vaticano II se referiu à Igreja como um sacramento , e ao


longo dos seus textos relevou o conceito de comunhão (koinonía) que oferece também
amplo espaço para a r eflex ão teo lógica.
Cada uma dessas imagens o que explicitam a respeito da Igreja? Em síntese, a
descrição da Igreja como comunhão expressa de modo adequado o núcleo profundo da
realid ade misteriosa da Igreja, enquan to mis tério da união pessoal de cada ho mem co m
a Trindad e div ina (d imensão v ertical da co munhão), e co m os de mais homens (dimensão
horizontal da co munhão), qu e é ao mesmo tempo visível e inv isível. A imagem d a Igreja
como Sacramento, expr essada na an alogia com os sete sacr amen tos ressalta o papel
instrumental e santificador d a Igreja, assim como a relação en tre o s seus elemen tos
visíveis e espiritu ais. A imagem de Corpo Místico de Cristo amplamen te utilizada pelo
Magistério, é talv ez a mais rica; pois lança luzes não só sobre a constituição interna da
Igreja (sua relação íntima co m Cristo, que a tem co mo Cabeça e co mo Esposo, e porque
participa da vida trinitária p ela graça formando a “família de Deus”); mas que ilustra
também um modo de ser de sua confor mação externa: a varied ade na un idade, e com
ela a distin ção de funções dos fiéis. Todavia, a figura que mais se coaduna co m a
constituição extern a da Igr eja, sublinhand o especialmente sua dimensão histór ica e
social, é a do Povo d e Deus , imagem profun damente enr aizada n a histór ia d a salv ação,
e que ocupa u m lugar central na exposição sobre a Igreja realizada p elo Concílio, qu e
intitu lou o cap ítulo segundo d a Constitu ição Lumen Gentium (nn. 9 – 17).

2. IGREJA COMO POVO DE DEUS

A palavra “povo” tem na linguagem corr ente div ersas acep ções, confor me o
contexto. O Concílio Vaticano II empregou o termo “povo” dentro da expr essão “Povo
de Deus”, em um sentido bem concreto: o seu uso bíblico, mostrando a semelh ança e a
continuid ade existentes en tre a Igreja e o antigo povo de Israel. Assim o indica a Lumen
Gentium, quando apresenta a noção d e Povo de Deus:
“Em qualqu er tempo e nação, é aceito por D eus todo aquele qu e o
teme e pr atica a justiça (cf. At. 10, 35). A prouve, no entanto, a
Deus santificar e salvar os homens, não individualmente,
excluindo toda a relação entr e os mesmos, mas formando com eles
um povo, que o conhecesse na verdad e e o servisse em santid ade.
E assim escolheu Israel para o seu povo, estabeleceu com ele uma
alian ça, e o foi instru indo gradualmente (... ) Tudo isso aconteceu
como prep aração e figura daqu ela aliança nova e perf eita, que
haveria de ser selad a em Cristo (...) isto é, a nova alian ça do seu
sangue (cf. 1Cor. 11, 25), formando, dos judeus e dos gentios um
povo que realizasse a sua própria unidade, não segundo a carne
mas no Espírito e constituísse o novo povo d e Deus.(...) Este povo
messiânico tem por cabeça Cr isto, (...) Este povo tem por condição
a dignidade e a lib erdade dos filhos de Deus, em cujos corações
habita o Espírito Santo como em seu templo. Tem por lei o
mandamento novo, de amar como Cristo nos amou (cf. Jo 13, 34);
e finalmen te tem como f inalidade, o reino de Deus, começado já
na terra pelo próprio Deus e que dev e ser continuamente
desenvolvido até que no fim dos séculos seja por ele
completado...” (n° 9).
Como se pode verif icar no texto acima citad o, a imag em do Povo de Deus ensina
antes de tudo que a elevação do homem à ordem sobrenatural não afeta somente a
dimensão ind ividual da pessoa humana, como ta mbém sua dimensão social.
A expressão Povo de Deus, entendid a de aco rdo com as suas raízes bíblicas (isto
é, como grupo r elativamente homog êneo pro cedente de um antepassado co mum, em que
se dá uma par ticu lar solid aried ade e certa organização), manifesta, todavia algu mas
características pecu liar es da Igreja, que per mitem distingu i -la clar amen te de todos os
grupos religiosos, étnicos, políticos ou culturais da história 1:
É o Po vo “de” Deus. Seus membros têm u ma mesma or igem, pertencem a uma
mesma linhagem, co mo o povo de Abraão. A origem do novo povo de Deus não tem sua
origem na carne ou na circuncisão, mas “na água e no Espírito” (Jo. 3, 3 - 5), porque
nasceu med iante a fé e o batismo co mo filho s de Deus em Cristo. Os cristãos são irmãos
entre si, e possu em cer tas características ontológicas comuns. Sua iden tidad e “é a
dignidade e a lib erdade dos filhos de Deus, em cujos corações habita o Espír ito Santo
como em seu temp lo.” (LG. n° 9).
O Povo de Deus forma um conjunto solidár io , à semelh ança do povo da An tiga
Aliança. Além de estar em enxer tados em Cristo, Cabeça desse Povo, seus membros
partilh am uma série de bens e interesses ten do uma dimensão social: principalmente a
caridad e, que como “mandamento novo” co nstitui a sua lei (cf. LG. n° 9). Também a
fé, outros bens espiritu ais, sobretudo os sacramentos. Todo o Povo de Deus, como
continuador d a missão salvífica de Cr isto, tem uma missão e um destino co muns, de
ordem sobrenatur al, no con texto da hu manidade.
E para poder rea lizar sua missão de dilatar o Rein o de Deus, este Povo se
organiza socialmen te u ma un idade juríd ica s uperior, cu ja índole é puramente religiosa,
- diferen temente da lei do povo d e Israel -, está dotado de uma hier arquia por vontade
de seu divino fundador.
A imagem do Povo de Deus utilizad a pelo Vaticano II ressalta, em suma,
juntamente com ou tros aspectos teológ icos , as seguintes características próprias da
Igreja: a un idade formada por todos os fiéis; sua igualdade fundamental superando toda
e qualquer d iversidad e; a solidariedad e exis tente entre os b atizados; e a socialidade e
historicidade d a Igreja, ordenadas par a a su a realização escatológica.

3. NOVA DISPOSIÇÃO DO CÓDIGO

O Livro II do Código, que tem como título “Do Povo de Deus” é o mais extenso
(cânones 204 – 746) é o mais profundamen te enr iquecido pela doutr ina eclesiológica
do Concílio Vaticano II. Basta v erificar alguns dos seus conteúdos, ou verif icar as
rubricas de suas três partes. Há uma perfeita sintonia co m os capítulos centrais da
Lumen Gentium, cu jo cap ítulo II te m título idêntico (“Do Povo de Deus”).
De acordo co m a ordem seguida p elo Con cílio, este Livro expõ e a estrutur a da
Igreja fixando-se em primeiro lugar em seu elemento comun itário, in tegrado pelos fiéis
cristãos, que adqu iriram tal condição pelo batismo e for mam a “communio fidelium ”.
A segunda parte do Livro está centr alizad a no elemen to hierárquico, depend ente do
sacramen to da ord em e que implica entr e os fiéis a “ communio hierarchica”. Fica assim
destacad a a importância do sacr amen to do b atismo e da ord em n a configur ação juríd ica
da Igreja, e a precedência que tem o batis mo, tan to na ord em lóg ica, como na ordem
ontológica e funcion al. De fato, o substrato comunitário do Povo de Deus é logicamente
anterior a sua estruturação hier árquica. A condição de fie l é prévia a de ordenado ; e a
função geral do cr istão é mais radical do que a função específica dos membros da
hierarquia.

1
C f. C a te c is mo da Igre ja Ca tólic a , n° 782.
4. O BATISMO E A COMUM CONDIÇÃO DO FIEL

O cân. 204, com o qual se inicia o Livro II do Código de Direito Canônico,


constitui a b ase e o fundamen to de todo este Livro. O § 1, além de explicar o que é fiel
e defini-lo co mo membro do Povo de Deus, contém imp licitamente os princípios de
igualdade e diversidade, é germe dos dever es e direitos dos batizados e ajuda exp licar
as demais normas canônicas referen tes aos fiéis. Por sua vez, o § 2 releva o caráter
societár io da Igreja e serve de preâmbu lo à parte que trata de sua constituição
hierárquica, ao afirmar que “ esta Igreja, constituída e ordenad a neste mundo como
sociedade, subsiste n a Igrej a Cató lica, gov er nada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos
em comunh ão com ele ” ( cf. LG. n° 8).
A noção de fiel do cân. 204, § 1 foi inspirada na LG. 31 e coincid e com o conceito
de “persona in Ecclesia” do cân. 96. Este cânon manifesta o aspecto juríd ic o, enquan to
o cân. 204, § 1, demonstra melhor o aspecto teológ ico. As duas normas, porém, se
complementam.
O cân. 204, § 1 começa sublinhando a or ig em sacramental da condição de fiel,
acrescen tando, todavia, um matiz cristo lógico: “São fiéis cristãos os q ue, incorpor ados
a Cristo pelo batismo se integram no Povo d e Deus...”. O fund amen tal é a conformação
e a união com Cristo através do batismo (cf. LG. n° 7). Esta união é o que faz que,
nele, se esteja associado também n a unidad e de seu Corpo que é a Igrej a.
Em seguida, o cânon se refere às principais consequências ontológicas dessa
incorporação. De fato, todos os batizados possuem o sacerdócio co mum o real que
exercem “através d e sua par ticipação, cad a um segundo a sua vo cação própria, na
missão de Cristo , Sacerdote, Profeta e Rei” 2.
O cânon 204, § 1 mostra ainda qu e de man eira implícita que os fiéis possuem em
razão do batismo uma condição juríd ica de igualdade fundamental que se conjuga com
certa diversidade, co mo expressam clar amente os cânones 208 – 223, sobre as
obrigações e d ireitos de todos os fiéis, e o cânon 207.

5. EXIGÊNCIA DA COMUNHÃO PLENA COM A IGREJA

A condição de fiel exige que o batizado se encontre em plena comunhão co m a


Igreja católica. Segundo o nº 14 da “Lumen Gentiu m” “são in corpor ados plenamente
na sociedad e da Igreja, todos os que, tendo o Espírito de Cristo, aceitam integr almente
a sua organização e todos os meios de salv ação nela instituídos, e no seu org anismo
visível estão un idos em Cristo, que a d irig e med iante o sumo pontífi ce e os bispos,
pelos vínculos da profissão de fé, dos sacramen tos, do governo eclesiás tico e da
comunhão.”
Sabemos que na comunhão eclesial podem -se distinguir duas dimensões: uma
comunhão invisível ou mística que, em Cr isto e pela ação do Espír ito Santo , une os
homens com o Pai e entre si, e que supõe a graça santificante, a prática da caridade e
das demais virtudes teo logais. Há tamb ém uma comunhão visível ou jurídica
relacionada intimamente co m a co munhão mística, mas que inclui a prof issão de u ma

2
Ide m, n° 1546
mesma fé recebida dos Apóstolos, a celebração comum do culto divino, sobretudo dos
sacramen tos e a comunh ão na ordem hier árq uica 3.
Se a integridad e da comunhão invisível é antes de tudo u m dever moral do cristão,
cuja valoração corresponde ao ju ízo de consciência do in teressado; a co munhão visív el,
pelo contrár io, se realiza concreta e jurid icamen te, med iante o tr íplice vínculo “d a
profissão de fé, dos sacramen tos e do regime eclesiástico” (cân. 205).

6. A PERDA DA COMUNHÃO PLENA E SUAS CONSEQUÊNCIAS

A comunhão eclesial tem u ma raiz ontológ ica, originad a pelo batismo, que nunca
desaparece, n em mesmo com a excomunh ão . Todavia, a comunhão p lena co m a Igreja
pode estar comprometida e afetada de diver sos modos e assim condicionar o exercício
dos deveres e d ireitos que são próprios dos cristãos (cf. cân. 96) 4.
A comunhão jurídica se quebr a de forma imediata pela apostasia, que é o r epúdio
total da fé cr istã (e, portanto, da co munhão nos sacramentos e na ordem hierárquica);
pela heresia, que é a n egação per t inaz de qualquer v erdade que se dev a cr er co m f é
divina e cató lica (por ter sido proposta como divinamente rev elad a e de fé pelo
Magistério d a Igreja); ou p elo cisma, que é a recusa de sujeição ao Sumo Pontífice ou
de comunhão com os membros da Igreja a el e sujeitos (cf. cân. 751).
Os delitos de apostasia, her esia e cisma incor rem em excomunh ão latae senten tiae
(cf. cân. 1364, § 1).

7. A EUCARISTIA CENTRO DA COMUNHÃO ECLESIAL

A Eucaristia, sacramen to que significa e realiza a unidade do Povo de Deus (cf.


LG. 11), e mediante o qu al os cr istãos se inserem “p lenamente no Corpo de Cristo ”
(PO. 5), é o centro p ara o qual converg em todos os elementos d a co munhão eclesial,
visíveis e inv isíveis. “Somente n este con texto tem lugar a celebração legítima d a
Eucaristia e a au têntica par ticipação nela. Por isso, uma exigência intrínseca da
Eucaristia é que seja celebrad a na comunhão e, concr etamente, na in tegrid ade de seus
vínculos” 5.
Qualquer quebra da co munhão eclesial tem uma repercussão discip linar imed iata
na participação na Eucar istia, que constitu i o principal sin al de comunh ão desde a
antiguid ade. Tal fato se manifesta, tan to na hora de receb er ou admin istrar a sagrad a
Comunhão (cf. cânon es 844; 915; 916 ; etc.), ou na concelebração do Sacrif ício
eucarístico, que em nenhu m caso é legítima quando falta a plena comunh ão (cf. cân.
908).

3
Ide m, nº 815.
4
A c omunhã o mís tic a dos fié is s e pe rde pe lo menos de modo s ubs ta nc ia l, c om a pe rda da gra ç a
s a ntific a nte pe lo pe ca do gra ve ; e tota lme nte com a pe rda da fé . Es te fa to te m implic a ç õe s
primordia lme nte mora is (c omo a e xigê nc ia de se a proxima r do s a c ra me nto da pe nitê nc ia ); s a lvo o
c a s o e m que s itua ç ões de pe ca do gra ve ma nife s to que e xige m ta mbé m uma re s pos ta públic a da Igre ja
(c f. c â n. 915).
5
J oã o Pa ulo II, “ Ec c le s ia de Euc ha ris tia ” , nº 35.
“Precisamente porqu e a unid ade da Igr eja, q ue a Eucaristia realiza
por meio do sacrifício e d a comunh ão do cor po e sangue do Senhor,
comporta a exig ência imprescindível de uma c ompleta comunhão
de laços da profissão de f é, dos sacramentos e do governo
eclesiástico, n ão é possível con celebrar a liturg ia eu carística
enquanto n ão for restabelecid a a integrid ade de tais laços. A
referida concelebr ação não seria um meio v álido, podend o mesmo
revelar-se um obstáculo, para se alcança r a plena comunhão ,
atenuando o sentido da distância da meta e introduzindo ou dando
aval a ambigu idades sobre algu mas verdad es da fé.” 6
A Eucaristia cume de todos os sacr amen tos exige ser celebrad a de acor do com a
fé dos Apóstolos e em comunhão com o Sucessor de Pedro, com a ordem episcopal e
com toda a Igr eja. Co m estes pressupostos a Eucaristia consolid a e conduz à perfeição
a comunhão eclesial; e esta peculiar eficácia para promov er a comunh ão, é um dos
motivos da importân cia d a Missa dominical.

8. POSIÇÃO PECULIAR DOS CATECÚMENOS E A VOCAÇÃO DE TODOS OS


HOMENS PARA A IGREJA

A Constituição Lumen Gentium, ao tratar do Povo de Deus, se refer e aos


catecúmenos logo depois de falar dos fiéis que estão em plen a comunhão co m a Igreja
(nº 14). A mesma co isa faz o Cód igo de Direito Canônico. O cân. 206, considera os
catecúmenos àqueles que, sem ser f iéis, s olicitam explicitamente a in corporação na
Igreja, e “por vontad e explícita”, estão un idos à ela “que já os trata como seus” (cf.
cân. 206, § 1). Por isso a “a Igreja tem especial solicitude” com eles, e “... lhes con cede
diversas prerrogativas, que são próprias dos cristãos.” (cf. cân. 206, § 2).
Para adquirir a condição d e catecúmeno não é necessário u m ato for mal de
recepção. Apesar disso, o cân. 788 prev ê uma cer imônia litúrgica de ad missão ao
catecumen ato, assim como a existência de u m livro p ara nele se inscrever o nome dos
catecúmenos. Por outro lado, recomend a -se às Conferências episcopais determinar mais
detalh adamente suas obrigações prerrogativ as que estão presen tes em outros cânones.
Os demais homens que não forem batizado s e nem receberam a mensagem do
Evangelho, estão orden ados ao Povo de Deu s de diversas man eiras, co mo nos ensina o
nº 16 da Lumen Gen tium, e para eles se d irig e a atividad e missionár ia da Igr eja. “Assim
a Igreja reza e trabalha ao mes mo tempo p ara que o mundo inteiro se transforme em
povo de Deus, corpo do Senhor e templo do Espírito Santo, e para que em Cristo, cab eça
de todos, seja d ad a ao Pai e Criador do univ erso toda a honra e tod a a glór ia” ( L.G. nº
17).

6
Ide m, nº 44.
CAPÍTULO IX

IGUALDADE FUNDAMENTAL DOS FIÉIS

1. O PRINCÍPIO DE IGUALDADE

No capítulo anter ior vimos que tan to a imag em do Povo de Deus empr egada p elo
Concílio Vaticano II como a noção d e fiel d o cân. 204 § 1 destacam o p apel pr imordial
do batismo na estruturação da Igr eja, e ao mesmo tempo, imp licitamente, a igu aldad e
fundamental de todos os fiéis.
O próprio Concílio proclamou expressamen te este princípio, ensinando co mo é
possível comp aginar com a diversid ade d o Povo de Deus e co m sua constitu ição
hierárquica 7. As palavras do Concílio foram acolhid as, quase que liter almente na
fórmula do cân. 208: “ devido a sua regeneração em Cristo, existe em todos os fiéis
verdadeir a igualdad e no que se refere à dignidade e atu ação, pela qual todos eles
cooperam p ara a edificação do corpo d e Cristo, segundo a condição e a função própria
de cada u m.”
O princípio de igualdade significa qu e, n a o rdem fundamental, todos os cr istãos
gozam d a mesma d ignidade, são ch amado s à santid ade e são corr esponsáveis pela
missão de Igreja. Há, portanto, uma só categoria de f iéis, co m um mesmo estatu to
jurídico b ásico.

2. O ESTATUTO JURÍDICO FUNDAMENTAL DOS FIÉIS

Do ponto de vista juríd ico, o princípio d e igualdade se traduz na condição


constitucional d e fiel , que implica em uma série de direitos e dever es comuns. Todas
as demais situ ações jur ídicas dos membr os do Povo de Deus são derivações ou
determinaçõ es dessa condição fund amen tal.
Os direitos e dev er es comuns de todos os fiéis estão con temp lados nos cânon es
208 – 223. A elabor ação d esses cânones é u ma resposta ao 6º princípio p ara a r evisão
do Código de Direito C anônico : “consid erando que nem todos têm a mes ma função n a
igreja, e n em o mesmo estatuto é ad aptado a todos, justamente se propõe, tendo em
vista a radical igualdade que deve ex istir entre todos os cristãos, seja por força da
dignidade human a, seja por for ça do batismo, que no futuro código se estabeleça um
estatuto juríd ico co mum p ara todos, antes d e tratar dos dir eitos e dever es próprios às
diversas funções eclesiásticas.” 8

7
C f. LG. n º 32.
8
“ Et quonia m non omne s e a mde m func tion e m in Ec c le s ia ha be nt, ne que ide m s ta tutum omnibus
c onve nit, me rito proponitur ut in futuro C odic e ob ra dic a le m a e qua lita te m qua e inte r omnes
c hris tifide le s vige re de be t, tum ob huma na m dignita te m tum ob re c e ptum ba ptis ma , s ta tutum
iuridic um omnibus c ommun e c onda tur, a nte qua m iura e t o ffic ia re c e ns e a ntur qua e a d dive rs a s
e c c le s ias tic as func tione s pe rtine nt” (“ Princ ipia pro re c ognitione C IC . de 7 – 10- 1967, in Enc hiridion
V a tic a num,, vol. 2, ED B , pá g.1370)
Quase todos os cânones deste título se inspiraram nos textos do Concílio
Vaticano II e proced em do projeto da “Lex Ecclesiae Fund amen talis ”, na qual se
pretendeu reco lher o Direito constitu tivo d a Igreja. É um dos mo tivos p elos quais se
costuma reconhecer nestas normas um caráter constitu cional, primário ou fund amen tal.
Daí que todas as demais normas do Código devem ser congruentes com este estatuto
fundamental.
O caráter constitucional desses direitos e d everes pode -se deduzir tamb ém, e de
maneir a mais rad ical, do fato de que a maio ria desses direitos se origin am do batismo,
sendo, portanto, dir eitos an teriores a qu alqu er formalização juríd ico positiva.
O sujeito desses dever es e d ireitos é todo f iel (leigo, clérigo ou consagrado); seu
fundamento é a dignid ade ou condição ontológico – sacramen tal de batizado; e seu
objeto a pr estação de uma série de bens qu e correspondem aos fiéis co mo direito ou
como dever.

3. DEVERES E DIREITOS DE TODOS OS FIÉIS

a. Comunhão com a Igreja (cân. 209).

A obrigação dos fiéis de observ ar sempr e a comunhão com a Igr eja “ co m o seu
modo de proceder ” (cân. 209), visa assegur ar que o estatu to jurídico do batizado seja
plenamente coer ente co m o caráter comunitário da Igreja, e este é o seu primeiro dev er.
Não basta qu e o f iel se sinta “membro da Igreja”, mas é necessário qu e em tod as
as atuações do fiel, tan to públicas como privadas, respeitem os vínculos da co munhão
eclesial (cf. cân. 20 5).
A comunhão com a Igreja é o princip al critério de leg itimação e o limite
fundamental para o exercício de todos os deveres e direitos do batizado (Beyer). Ainda
mais, a comunhão é justamente o espaço teológico e juríd ico, no qual se entendem e
operam estes direitos (Marzoa).
A exortação para que os fiéis cumpram com grande diligência seus deveres para
com a Igreja universal e particular ( cf. cân. 209, § 2) é um corolário da obrig ação
anterior, e sublinha que observar a comunh ão não é algo meramen te pas sivo, mas que
exige do fiel respostas positivas: inicialmente, cu mprir seus dever es – comuns ou
próprios, jurídicos ou ex clusivamente morais – com a Igreja.

b. Santidade de vida e edificação da Igreja (cân. 210)

Promover a própria santid ade e a da Igreja é um dos dev eres fundamentais dos
fiéis decorr entes do cân. 209. A santidade constitui a p lenitude da comunhão.
O fundamento específico desse dever se en contra na vocação à san tidad e de todos
os batizados.
A santidade deve ser procurada por todos os fiéis “ segundo a sua condição .” A
santidade não é algo abstrato, mas deve ser vivida d e modo concreto, de acordo com a
vocação p essoal de cada um. Há u ma ún ica s antidad e a ser cultivada em qualquer gênero
de vida (cf. LG. 41).
O dever de levar uma vida santa – inseparável do emp enho para promov er o
crescimento da Igreja e sua contínua santif icação -, é antes de tudo um dever moral.
Aliás, é um supremo d ever pelo qual se exp licam grande p arte dos direitos e dev eres.

c. Apostolado (cân. 211)

Difundir o Evangelho, com o testemunho e a palavr a, é u m dever e um dir eito


originário do fiel, anterior a qu alquer dispo sição ou mandato d a Hierarqu ia. O Decreto
conciliar “Apostolicam Actuositatem” afirma que “a vocação cristã é, por sua natureza,
também vocação para o apostolado. ” (nº 2 ). Todos os fiéis, mediante o b atismo e a
confirmação, “recebem do próprio Senhor a delegação ao aposto lado.” (nº 3)
O dever de apostolado é um dever de índole moral. Todav ia esse dever moral
passa também a ser um dever que tem força jurídica, quando a esse dever se acrescen ta
uma relação de justiça, como ocorre com a f ormação dos filhos na fé (cf. cânones 226,
§ 2; 774, § 2, 793 e 872).
Esse dever e direito de todo o fiel também deve ser favor ecido e impuls ionado.
Daí que a hierarquia dev e impulsioná - lo, apoiá-lo, e ofer ecer os auxílios espir ituais
necessários, orden ar seu exercício ao bem comum d a Igreja e v igiar para que sejam
respeitad as a doutrin a e a ordem 9.

d. Obediência e diálogo com os Pastores (cân. 212)

Os três parágrafos do cân. 212, co mo o câno n seguinte, se ref erem à relação en tre
os fiéis e a au toridad e hierárqu ica ( cf. LG. 37).
Dever e obediência aos Pastores (cân. 212, § 1). O dever de obediência à
hierarquia faz par te do dev er de co munh ão (cân. 209, § 1), e se fundamenta na
constituição hierárquica da Igreja, quer ida p or Deus. Como obrigação jur ídica, somente
é exig ível respeito aos própr ios pastores (que têm poder sobre esses fiéis), qu ando o
que ensinam f az par te de suas competências. Fora d isso, pode ocorrer que h aja u m
dever moral de obedecer, ainda quando n ão exista uma obrigação juríd ica.
Direito de petição (cân. 212, § 2) O pod er hierárqu ico tem uma missão de
serviço. No serviço inclui não só mand ar o que é bo m e ne cessário p ara o bem comu m,
como também atend er às n ecessidad es, dif iculdades ou desejos dos fiéis, especialmente
em relação à sua vo cação à santidade e com a vida da Igr eja.
Direito de opinião ( cân. 212, § 3) Este direito se fundamen ta no próprio dir eito
natural e na corresponsabilidade d e todos os fiéis na missão da Igr eja. Isto explica qu e
expressar a própria opin ião à hierarquia e aos demais fiéis “ acer ca das coisas atinentes
ao bem da Igr eja ”, pode constituir tamb ém um dever par a os fiéis, “ segundo a ciência,
a competência e a pro emin ência de que d esfrutam.. .”
Estas três qualid ades deter minam efetivamente a existência de uma possível
obrigação, pelo menos moral, de expressar a sua própria opinião. Os pastores, por sua

9
. “ É de ve r da hie ra rquia inc e ntiva r o a pos tola do dos le igos , a pre s e nta r princ ípios e s ubs ídios
e s piritua is , orie nta r o e xe rc íc io de s te mes mo a pos tola do pa ra o be m c omum da Igre ja e pe rma ne c er
vigila nte pa ra re s gua rda r a doutrina e a orde m.” (Apos tolic a m A c tuos ita te m, nº 24)
vez, devem levá-las em consid eração, uma v ez que na vivência de seu dever, devem se
valer do “prud ente conselho” dos fiéis (cf. LG. 37).
Um limite absoluto deste direito é deter minado pela “integridad e da fé e dos
costumes”: não cabe alegar o dir eito de opin ião par a con tradizer o Magistér io autên tico
em matér ia de f é ou de moral. Dentro desses limites, a “u tilidade comu m” e a
“dignidad e das p essoas”, em particular a “rev erência dev ida aos Pastores”, são
condições par a o seu reto ex ercício.

e. Recepção dos bens espiritua is da Igreja (cân . 213)

O direito dos fiéis de “... receber dos sagrados Pastores os auxílios hauridos dos
bens espirituais da Igreja, sobretudo os auxílios da Palavra d e Deus e dos Sacramentos”,
é um dos dir eitos fund amen tais. Estes bens são essenciais para se viv er ple n amen te a
vocação para a santidade na Igreja e para edificar a Igr eja (cf. cân. 210). Por ou tro
lado, a distin ção entr e hierarqu ia e povo cr istão, se fundamen ta no dever daqu ela de
ensinar, santif icar e gov ernar os fiéis.
Este dir eito exig e que a hierarquia se org anize, na med ida de suas possibilidades,
de modo que os fiéis possam receber a ajuda dos bens espiritu ais de acordo com a suas
necessidades, e inclusiv e de acordo com a s ua própria vocação.
Além da neg ação desses meios sem um mo tivo justo , constitui um abuso contra
este direito as práticas que atrasem indevidamente a recepção dos sacramentos, que
recebê- los de for ma n ão determinadas pelo Direito. Ex. co locar como condição p ara se
batizar o filho, o casamen to religioso dos pais.

f. Rito e espiritua lidade ( cân. 214)

Direito ao próprio rito . Por rito se entende f undamentalmente a Igr eja ritual “sui
juris” ou autônoma, à qual o fiel está inscrito desde o momento do batismo, e atrav és
da qual conserva a co munhão co m a Igreja. Todo fiel tem o direito de cultuar Deus
segundo as normas do seu próprio rito. Inclusive o fiel dev e praticar e manter o rito do
qual faz p arte.
O direito ao própr io rito in clui o dev er d e se constituir estrutur as ou ofícios
pastorais para ou tros ritos onde for conven i ente 10.
Direito à própria espiritua lidade . Este d ireito tem sua raiz na vo cação universal
à santidad e e na plur alid ade de for mas pela qual a san tidade pod e ser alcançada, de
acordo com os dons que o Espír ito Santo d istribui entr e os batizados.
Este direi to exige primeiramente respeitar a liberdade dos fiéis no que diz
respeito a sua relação com Deus e seu modo externo de manifestar essa relação. Deve -
se respeitar o modo p elo qual cada fiel cu ltiva as virtud es, a maneir a de usar os meios
de santificação, o modo de exercer os caris mas pessoais e atuar apostolicamente. Fer e
o direito à própria espiritualidad e impor aos outros uma forma determinada de

10
O D e c re to “ O rie nta lium Ec c le s ia rum ” s obre a s Igre ja s orie nta is de te rmina que “ Prove ja -s e ,
porta nto, no mundo inte iro, a tute la e a o inc re me nto de toda s a s Igre ja s pa rtic ula re s . E onde fo r
ne c e ss á rio pa ra o be m e s piritua l dos fié is , c ons titua m -s e pa róquia s e hie ra rquia própria .” (nº 4 )
espiritualidad e. O único limite a esse direito é o marcado pela sua conformidade co m
a doutrina d a Igreja, e c ab e a hierarquia emitir ju ízo sobre esse limite.

g. Associação e reunião ( cân. 215)

Direito de associação . O legislador sancio nou esse direito não em uma forma
genérica como sendo um direito humano, mas como sendo um direito que dá ao fiel,
em razão do seu batismo, d e se associar p ara fins eclesiais. Tr ata -se d e um dir eito
originário qu e provém do b atismo e se fund amenta na natureza social do ho mem e no
princípio d a sociab ilid ade eclesial.
O direito de associação compor ta em pr imeiro lugar, a l iberd ade par a constituir
associações na Igreja “p ara fins de caridad e ou de piedade, ou para fomentar a vocação
cristã no mundo ”. O fiel tem o direito de se associar para f ins que correspondam à
missão eclesial do fiel enquan to fiel e dentro da esfera d e s ua legítima autonomia.
Implica também o d ireito de dirig ir essas associações d e acordo co m o qu e foi
estabelecido no ato fundacional e nos estatutos. Também goza de lib erdade par a se
inscrever n as associações já existen tes, s ejam públicas ou privad as, que deve se
harmonizar com o d ireito d e admissão que têm essas associaçõ es.
As associações privadas de fiéis (cânones 321 – 326) constituem o marco de
aplicação mais direta d este d ireito. Porém, a lib erdade de associação in cide também,
de man eira diversa, na criação e direção das d emais atividad es associativas
reconhecidas pelo Cód igo, inclusive as associações públicas, que a autor idade
eclesiástica pode erigir a partir de uma iniciativ a privada prévia, nas quais também se
deve prever o d ireito de inscrição e que tenh am algu ma margem d e autono mia (cf. cân.
315). O direito d e associação do f iel atu a, pois, como critério inspirador de toda
normativ a canôn ica sobre esta matéria.
Além dos fins especificamente temporais qu e as associações gozam em r azão das
finalid ades que têm, estas devem estar em comunhão com a Igreja e par a tanto deve
manter a “dev ida relação ” com a autor idade eclesiástica 11.
Direito de reun ião . A liberd ade dos fiéis de se reunir even tualmente para ating ir
aqueles fins que podem procurar em vir t ude de seu direito de associação, tem o mesmo
fundamento e limites que este d ireito, com as devidas adap tações.

h. Iniciativas apostólicas (cân. 216)

O direito de promover e manter in iciativas apostólicas institu cionalizadas ou não


(escolas, hospitais , asilos, editor as, voluntariados etc.) está enraizado no batismo, e
pode-se considerar como u ma concr etização do direito – dever do apostolado (cân.
211).
Este direito guard a cer ta an alogia com o d ireito d e associação consid erado no
cânon anterior. Este direito d e promover e manter iniciativas apostó licas envolve: o
direito d e fundar livremente essas iniciativ as apostólicas; o d ireito de par ticipar delas,
a liberd ade estatutár ia e d e direção.

11
C f. D e c re to “ A pos tolic a m Ac tuos ita te m ” nº 19.
Este dir eito tem os mesmos limites do direito de associação e exige que se tenha
a “devid a relação” com a autorid ade eclesiástica.
Para que estas in iciativ as possam ter o nome de “católicas” (que compro mete a
Igreja enqu anto institu ição), d evem obter o consentimento d a autor idade eclesiástica
competente ( cf. cânones 300, 803, § 3, 808) .

i. Educação cristã (cân. 217)

O direito a uma educação cristã, que o cân. 217 fundamenta e explica a partir da
chamad a que todos receb em “p elo batismo a lev ar uma vida d e conforme a dou trina
evangélica”, compr eende o ensino d a doutr ina cató lica em todos os nív eis: a instru ção
fundament al ou catequ ética, pregação, e explicação mais profunda da mensagem
evangélica (cf. cân. 229, § 2).
Nestes três níveis, o direito à edu cação cristã exige receber a palavr a da fé “n ão
mutilada, não falsificada, não dissimu lada, mas completa e integr al, em todo o seu rigor
e em todo o seu vigor” ( São João Paulo II, Exortação Apostólica, “ Catechesi
tradendae”, de 16 de outubro de 1979, nº 30). Não se limita à tr ansmissão de alguns
conteúdos meramente teóricos, pois como determina o cân. 217 este direito in clu i a
instrução conven iente “para a consecu ção da maturidad e da pessoa humana e, ao mesmo
tempo, par a o conhecimen to e a v ivência do mistério d a salvação”.
Este direito comp ete a toda a comunid ade eclesial (cf. cân. 747, § 1; cân. 794, §
1). Por outro lado, as obrigações específicas dependerão d as diversas
responsabilidad es. Em primeiro lugar d estacam -se os pais (cf. cân. 226, § 2, 774, § 2,
793, § 1, etc.), como também as autor idades eclesiásticas e os pastores de almas que,
além de aux iliar os fiéis com a palavra de Deus (cân. 213), devem “dispor para que
todos os fiéis desfrutem d a educação católica” (cân. 794, § 2).
Existe também um dever gen érico de receber formação cristã (cf. Declaração
“Dignitatis Humanae”, nº 14) que pode ser exigida juridicamente e m diversos casos:
como acontece par a a recepção de alguns sacramentos (Eucar istia, ordem etc.), ou a
tomada voluntária de estados de formas de estado de vida ou de apostolado que
requeiram tal formação em certos graus.

j. Investiga ção e opin ião nas ciên cias sagradas (cân. 218)

A liberdade para inves tigar e opinar nas ciências sagradas são realidad es que se
exigem mutu amen te, po is a taref a de investigação supõe, por sua n atureza, u m con tínuo
intercâmbio d e opiniõ es e de cer tezas.
Sem o respeito d esse d uplo direito, os estu diosos dessas ciências não poderiam
cumprir a sua missão que é fundamental e insubstituível na intelig ência da fé e para
oferecer u ma sólida educação cristã. Es te dir eito deve ser praticado de for ma
“prudente ”, sem lesionar o direito d e comu nhão (cân. 209, § 1), o direito dos fiéis de
receber a doutrin a católica em sua pureza e integrid ade, ou outras exigências da Igreja
ou dos fiéis.
O exercício desse d ireito – co mo record a expressamente o cânon – exige “a
devida rev erência par a com o mag istério d a Igreja.”, segundo suas diversas formas d e
expressão e obrigatoriedade. A discordân cia, ou a atitude pública d e oposição ao ensino
do magistério, “é contrár ia à co munhão eclesial e à reta co mpreensão da constitu ição
hierárquica do Povo de Deu s” e “não se pode reconhecer uma legítima expressão da
liberdad e cristã nem da d iversidad e dos dons do Espírito.” 12
Não existe o direito de discordar em questões de fé. Em questões de ensinamentos
que podem ser reformados, opor -se pu blicamente ao mag istér io dos Pastores,
acarretaria grand es males espiritu ais, sobretudo porque daria origem a um mag istério
paralelo.
Os que ensinam disciplin as teológicas em v irtude de um mandato da autoridad e
(cf. cânones 812, 818) dev em se d estacar p ela r etidão de sua doutr in a (cf. cân. 810, §
1). Este direito implica, para qualqu er um, a garan tia de não ser objeto de sanções ou
medidas disciplin ares enquan to suas opiniõ es estejam de acordo com o Magistério.
Ao manifestar a opinião pessoal nessas disciplin as deve ag ir “prud entemen te”,
isto é, de acordo com os métodos cien tífico s e usando os meios adequados.
É evid ente que u ma op inião que pod e ser emitid a sem risco em u ma r eunião de
peritos ou em uma rev ista especializada, p ode provocar confusão ou escândalo se é
manifestada em um aud itório co mum ou em uma revista de divu lgação.

k. Eleição do próprio estado de vida (cân. 2 19)

A liberdade de eleição d e estado é u m direito natural; porém é u m dir eito do fiel,


pois todo batizado tem o direito d e escolh er na Igreja o estado de v ida que o Senhor
lhe inspira.
Este direito imp lica, em pr imeiro lugar, que não se imponha par a nenhum f iel um
estado de vida que n ão tenha esco lhido livr emente (cf., por exemplo, cc. 643, § 1, 4º,
1026 e 1103), nem o obrigu e a perder o estad o que já p ossuía, salvo qu e tenha incorrido
em um delito no qual se prevê este tipo de sanção. Por outro lado, n ão se deve imp edir
de man eira injusta que algu ém escolha um d eterminado estado d e vid a. O prin cípio que
deve estar presente é o d e que se d eve propiciar ao fiel todos os meios que o ajudem a
reconhecer e abraçar sua vocação na Igr eja.
Este dir eito, porém, não significa por sua v ez, que cada um tenh a a possibilidade
incondicionada d e aceder ao estado de v ida que deseje. De f ato, não existe um dir eito
a ser ordenado e assumir a condição de clérigo, pelo simples fato de que cumpriu todas
as exigências e condiçõ es necessárias par a aceder ao cler icato. Tem o dir eito de p edir
o sacramento da ordem, e que se considere atentamente o pedido feito. Pode -se afirmar
que tem uma expectativa de direito e não um direito propr iamen te dito de receb er o
sacramen to da ordem.
Algo parecido acontece co m o ingresso à v ida religiosa ou outro estado no qual
existe um d ireito de ad missão por parte d a I greja.
No que se refer e à lib erdade p ara contrair matrimôn io, ainda que todo o fiel goze
de liberdade par a o matrimôn io (a não ser que haja algum impedimento ou renunciou a
esse direito), também não cr ia um incondicionado “ius ad rem”. É necessário que a
outra pessoa corresponda co m a mesma liberdade a essa decisão.

12
C f. Pa pa Sã o J oã o Pa ulo II, C a rta e nc íc lic a “ V e rita tis Spe ndor ” , nº 113.
l. Boa fama e in timidade ( cân. 220)

O respeito à boa f ama e à intimid ade são du as exigências relacionad as entre si e


de direito n atural. Estas exigên cias estão co dificad as em forma de dev er, por causa d a
relevân cia que têm n a vida do Povo de Deus e para promov er sua tutela ad equada.
Respeito à boa fama . A fama ou op inião pública sobre alguém é um b em de gr ande
importân cia, próx imo dos bens espir ituais. 13 A este direito de bo a fama, se acrescenta
a boa f ama eclesial e que tem reflexos es pecíficos e qu e a Igreja tem o dever de
salvaguardá- la.
Ninguém (hierarquia, demais f iéis, ou qualquer homem) “ tem o d ireito de lesar
ilegitimamen te a boa fama de que outrem goza” (p. exemplo, divu lgando acusaçõ es
infundadas). Só quando haja razões legítimas, admitidas pelo Direito divino ou
eclesiástico, é lícito atuar ainda que se supo nha menoscabo d essa fama.
A tutela desse dir eito ex ige ev itar o per igo da infâmia, não ad mitindo denúncias
anônimas, gar antir o direito de se defend er d as injúrias etc. O Cód igo provê a tudo isso
de diversas man eiras (p. exemplo, cc. 1361, § 3, 1455, 1548 § 2, 2º, e 1717), também
tipificando a lesão d a boa f ama de outros como um delito que obrig a a r eparar o dano
causado (cf. cân. 1390). Apesar disso, excluído o sig ilo sacramental, que “é sagrado e
não pode ser revelado sob nenhum pretexto ” (Catecismo da Igreja Católica, nº 2490;
cf. cân. 983, § 1), o Direito div ino au toriza às vezes, rev elar defeitos, faltas ou delitos
alheios, quando está em j ogo um bem superior das pessoas, da sociedade civ il ou da
Igreja (p. exemp lo, pode ser lícito iniciar uma ação penal, aind a que envolva
publicid ade).
Respeito à in timidade . Este direito envo lve o âmbito da consciência e a esfera
puramente privad a das pess oas e instituiçõ es. Na Igreja adqu ire matizes par ticu lares,
pois envolve muitos aspectos da vida esp iritual dos fiéis. Ninguém pode forçar o
santuário da consciência, que é absolutamente invio lável. Somente co m o
consentimento deliberado e absolu tamente li vre é lícito ter acesso à consciência das
pessoas. No que se refere aos demais as pectos da v ida p articular, só pod em ser
indagados se existem razõ es legítimas e respeitando esse direito (cf. p. exemplo, cân.
642).

m. Tutela jurídica ( cân. 221)

A necessidade de tutelar jur idicamen te os d ireitos é in erente ao própr io dir eito.


Qualquer verdadeiro direito ex ige dar a s eu titu lar o que lh e é devido, e para a
autoridad e pública esta obrig ação implica n ão só respeitar tais direitos, como também
dispor da melh or maneira possível os mecan ismos oportunos para sua justa tu tela, que
é parte do b em co mum.
Direito à defesa leg ítima dos próprios direito (cân. 221, § 1). Este parágr afo
refere-se à proteção de todos os direitos que o ordenamento canônico possa reconhec er
aos fiéis. Também comporta a possibilidad e reivindicá -los legitimamen te dian te dos
demais fiéis ou dian te da autorid ade eclesiástica, como também em d efendê - los no foro
eclesiástico competente (ad ministr ativo ou judicial) co m base no que d ispõe o Direit o.

13
C f. Summa T he ologic a , II – II, q. 73, a .2c . e a .3 c.
Direito a ser julgado conforme às normas jurídicas (cân. 221, § 2). Os fiéis têm
o direito de serem julgados “ com a obser vância das normas do d ireito” quer sejam
normas substantiv as ou pro cessuais, e essas normas devem ser aplicadas com
“equidad e”. A equidad e significa temperar o rigor da lei co m a miser icórdia para que
melhor se realize o ideal da justiça.
Legalidade em matéria pena l (cân. 221, § 3 ). A autoridade eclesiástica só pode
infringir san ções co m fund amen to na norma leg al. Esta afir mação não supõe qu e na
Igreja estão prev istos todos os supostos de delito e as correspondentes penas an exas
(cf. cân. 1399).
O Direito natural obrig a à autorid ade a castigar somente quando haja razões
legítimas e proporcion adas para tanto. Tod avia não chega a ex igi r u ma formalização
exaustiva d e todos os delitos e penas, como pede o pr incíp io de legalidade em matéria
penal (nullum cr imen, nulla poena sine lege ). Por outro lado, o processo penal só deve
ser instaurado “quando tiver constatado q ue nem por meios ditado s pela solicitude
pastoral sobretudo co m a correção fratern a, nem com a ad moestação, nem com a
repreensão, é possível obter suficientemen te o restabelecimento da justiça, a emend a
do réu, a reparação do escândalo ” (cân. 134 1).

n. Participa ção nas necess idades da Igreja e justiça social (cân. 222)

Os dois parágrafos do cân. 222 contemplam prestações de índole prevalen temente


temporal e que pod em ser cumpr idas indiv idual ou associativamente.
Obrigação de socorrer às necessidades da Igreja (cân. 222, § 1 ). Esta obrig ação
deriva d a corr esponsabilid ade d e todos os fiéis n a missão da Igreja, e do dir eito
originário (nativo) que a Igr eja tem de exigir de seus membros os bens de que necessita
para a consecução de seus fins (cf. cân. 1260). Particularmente esta responsabilidad e
se refere ao d ireito da Igreja de ex igir bens dos fiéis para a d igna celebr ação do culto
divino, para a honesta sustentação d e seus ministros, e ou tros fins próprios,
principalmen te obras de aposto lado e d e car idade.
Dever de promover a justiça social e ajudar os pobres (cân. 222, § 2) . Este é um
dever que d iz r espeito a todos os ho mens. Para os batizados – que têm o dever d e
impregnar a ordem temporal com a luz do Evangelho – este dever assume uma
conotação pecu liar.
Para promover a jus tiça n as relações sócio econômicas, os fiéis devem conhecer
suficientemen te a dou trina social d a Igreja 14. Os fiéis devem ap licar a doutr ina social
da Igreja no exercício das suas próprias tarefas.
Em relação ao dever p articular de ajudar os pobres, os fi éis estão especialmente
obrigados a viver esse dev er “ lembr ados do preceito do Senhor ” (o preceito da carid ade
cristã), ajudando -os não só com o justo, co mo tamb ém “com os seus próprios r ecursos”,
tanto no que se ref ere à pobr eza material, co mo a numerosas for mas de pobreza cultural
e relig iosa (cf. Catecismo d a Igreja Cató lica, nº 2444).

14
U m c ompê ndio bá s ic o da doutrina s oc ia l da Igre ja e nc ontra mos no C a te c is mo da Igre ja C a tólic a ,
nos núme ros 1928 – 1948 e 2419 – 2463.
4. REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DOS DIREITOS (CÂN. 223)

Regulamenta ção intr ínseca (cân. 223, § 1). Ao exercer seus direitos
individualmen te ou reunidos em associaçõ es, os fiéis devem levar em conta “o b em
comum da Igreja”, como também “os direito s alheios”, e “os seus deveres par a com os
outros” (jurídicos ou simplesmente morais). Na Ig reja, Povo de Deus, nenhum direito
pode servir de pretexto par a um co mportamento egoísta ou indiv idualista.
Regulamenta ção extrínseca ( cân. 223, § 2). Compete à autorid ade eclesiástica
regular o ex ercício dos direitos dos fiéis “em ordem ao b em co mum”.
CAPÍTULO X

HIERARQUIA E DIVERSIDADE NA IGREJA

1. PRINCÍPIO HIERÁRQUICO E PRINCÍPIO DE VARIEDADE NA CONSTITUIÇÃO DA


IGREJA

A imagem da Igr eja ser ia d eformad a e incompleta se, com a afir mação da
igualdad e fundamental dos f iéis, n ão se acr escentasse a consid eração da constituição
hierárquica (princíp io hierárquico ), e da desigualdad e de funções que d eriva da
constituição hierárquica da Igreja 15.
Deve-se considerar que a condição co mum de fiel não se expressa como
uniformidade. Dentro desta nota se ver ifica uma multiforme div ersidade, porquan to os
caminhos da santid ade e as formas de procur ar o fim d a Igreja, não se contr adizem co m
a iguald ade fundamental, mas enriquece a comunhão que é a Igreja ( princípio de
variedade).
O cân. 207 distingue, u tilizando u m critério diferen te em cada u m dos seus
parágrafos, entr e clérigos e leigos (§1) e entre os fiéis uma especial forma d e vida
consagrada e os que não (§ 2).

2. OS MINISTROS SAGRADOS OU CLÉRIGOS

“Por institu ição divin a, entre os fiéis exis tem os min istros sagrados, que no
direito se chamam também clér igos (cân. 207, § 1). O Código sublinha que um f iel
passa a ser ministro sagrado “med iante o sacramento da Ordem” (cân. 1008),
concretamen te “pela recepção do diaconato” (cân. 266, § 1). Portanto, o Direito
vigente, mod ificando a discip lina an terior, vincula a condição de clérigo à sagrada
ordenação : são clérigos ex clusivamente quem receb eu o sacr amen to da ord em em um
dos três graus: episcopado, pr esbiterado, d iaconato.

a. Função eclesia l dos ministros sagrados: consagração e missão.

“Cristo nosso Senhor, com o fim de apascentar o povo de Deus e aumentá -lo
sempre mais, instituiu na sua Igreja vários ministér ios que se destin am ao bem de todo
o corpo. Na verdad e, os ministros qu e são r evestidos do poder sagr ado estão a serviço
dos seus irmãos, para que todos os que pertencem ao povo de Deus (...) cheguem à
salvação ” 16. A função própria dos ministros s agrados na Igreja é fazer co m Cristo Jesus

15
N a bas e des sa des igua lda de func iona l s e e nc ontra a dis tinç ã o – nã o s ó de gra u, ma s e ss e nc ia l – que
e xis te por ins tituiç ã o divina e ntre o s a c e rdóc io c omum dos fié is e o s a c e rdóc io minis te ria l que e s tã o
re c iproc a me nte orde na dos . A Igre ja te m uma e s trutura hie rá rquic a jus ta me nte e m re la ç ã o à
a dminis tra ç ã o dos me ios de s a lva çã o: a pa re c e como uma c omunida de s a c e rdota l orga nic a me nte
e s trutura da – c f. Lume n Ge ntium, nº 10 – 11 ).
16
Lume n Ge ntium, 18.
esteja presen te, ex ercendo a ação específ i ca que corresponde a Cristo, como Cabeça e
Pastor, para guiar e apascentar o seu rebanho. Isso requer por parte do clérigo uma
específica capa citação ontológica que depende essencialmente d e sua particip ação
pessoal na consagração e missão de Cristo.

“O próprio Cristo é a fonte do min istério na Igreja. Instituiu - a,


deu-lhe au toridad e e missão, orien tação e f in alidad e (...) Ninguém,
nenhum indiv íduo, nenhu ma co munidad e pode anunciar a si
mesmo o Evangelho. (...). Ningu ém pode dar a si mesmo o mandato
e a missão de anunciar o Evang elho. O env iado do Senhor fala e
age não por autorid ade própria, mas em vir tude da autorid ade de
Cristo; não como membro da comunidad e, mas falando a ela em
nome de Cristo. Ninguém pode conferir a si mesmo a graça; ela
precisa ser dada e oferecida. Isto supõe ministros da graça
autorizados e habilitados da parte d e Cristo. ” 17

A função minister ial n ão se b aseia, portanto, em uma mer a design ação da


comunidad e, mas no sagrado poder de Cristo. Trata -se de uma destina ção sacramental
a de desempenh ar em nome – e os sacerdotes (bispos e presbíteros), em deter minad as
ações, também “in p ersona” de Cristo C abeça as funções sagrad as de ensinar, santif icar
e reger, que cada um dos ministros d esemp enha confor me o seu próprio grau ( cf. cân.
1008).

“Dele (Cristo) os bispos e os presbíteros recebem a missão e a


faculdad e (o "poder sagrado") de agir "na pessoa de Cristo -
Cabeça", os diáconos, a força de servir o Povo de Deus na
"diaconia" da liturg ia, da palavra e d a car idade, em comunhão com
o bispo e seu presbitério. A tradição da Igreja chama de
"sacramento" este min istério, pelo qual o s envia dos de Cr isto
fazem e dão, por dom de Deus, o qu e não po dem fazer nem dar por
si mesmos. O ministério d a Igreja é conferido por um sacramen to
específico.” 18

Pela sagrad a orden ação, com efeito, se imp rime n a pessoa um caráter ind elév el
que o configura sac ramen talmente com Cr isto Cabeça (cân. 1008). Deste modo recebe
a capacidade de realizar validamente os atos minister iais que ex igem a “ po testas sacra ”
(denominado classicamente d e “ pod er de ord em ”) e simultaneamente, esta configur ação
com Cristo o faz part icipan te da missão pas toral de Cr isto cab eça.

b. Formação dos ministros sagrados

A grande transcendência da missão própria dos clérigos na vida da Igreja exige


que os candidatos à ordem sagrada sejam “fo rmados com esmer ada prepar ação, segundo

17
C a te c is mo da Igre ja Ca tólic a , nºs . 874 – 875).
18
Ide m, nº 875.
as normas do dir eito ” (cân. 1027); tarefa qu e constitui um dever e um direito próprio e
exclusivo da Igr eja (cân. 232).
O Concílio Vaticano II d edicou um d ecreto (“ Optatam totius ”) à formação para
o sacerdócio. A discip lina do Código d e Direito Canônico responde às suas orientações,
que recolh e uma tradição multissecular, co m as adaptações às cir cunstâncias atu ais.
Existe p ara a Igreja Universal um Plano Fundamental d e Formação Sacerdotal
(“Ratio Fundamentalis Institution is Sacerd otalis ”), cujas linhas básicas de vem segu ir
os planos de cada Conf erência Ep iscopal e o s regulamen tos dos Seminários (cf. cân.242
– 243).
Em 25 d e mar ço de 1992 São João Pau lo II publicou a Exor tação Apostólica
“Pastores Dabo Vobis ”, que trata d a formação dos sacerdotes na situação atu al . A
formação p ara qu em aspira ao diaconato per manente se reg e pelas normas estabelecidas
pelas Conferências Episcopais (cf. cân. 236) . A Congregação para o Clero publicou em
22 de fevereiro d e 1998 umas “Normas básicas para a formação dos diáconos
permanen tes”.
A formação sacerdo tal é recebida por nor ma ger al em cen tros especialmente
erigidos par a esse fim: os Seminár ios maiores (cf. cân. 235 e ss.), onde se formam
durante o tempo requer ido (cf. cân. 235, 250) os jovens que se sentem ch amados por
Deus para o sacerdócio e são ad mitidos pelo Bispo, depois d e co mprovar qu e reún em
as qualidad es necessárias (cf. cân. 241).
Dirige o Seminário o reitor, ajud ado se for necessário, por um vice -reitor, um
ecônomo, e os professores necessários. Deve haver pelo menos um d iretor espiritu al,
salvaguardado o d ireito aos alunos de procur ar outros sacerdotes design ados pelo Bispo
(cân. 239; cf. cân. 246, § 4; Pastores Dabo Vobis, nº 68).
Se for possível cada diocese tenha o seu seminário maior. Se não for possível, os
alunos devem receber a formação em u m seminário de ou tra dio cese, ou em u m
seminário erig ido para várias dioceses ( interdio cesano) com a aprovação da Sé
Apostólica (cân. 237, § 1).
O Código de Direito Canôn ico pro move a co ntinuidad e ou a cria ção d e seminários
menores, que não são cen tros de formação sacerdotal, mas também nem simples
colégios. Além de proporcionar uma edu cação escolar equiparáv el aos demais cen tros
de estudos do mesmo nível do país, devem estar claramente or ientados para o cul tivo
das vocações sacerdo tais in cipientes (cân. 2 34).
A formação sacerdotal deve integrar har mô nica e equilibradamente os aspectos
humano, pastoral e doutrin al ou intelectu al (cf. Optatam Totius , 8 – 20; Pastores Dabo
Vobis, 43 – 59).
A formação humana é orientada para alcan çar a devida maturid ade dos alunos
(cân. 244) e a aqu isição d as virtudes human as (cân. 245, § 1).
A formação espiritual dev e fomen tar uma intensa vida espiritu al que ajude
buscar a santid ade justamente no exercício do ministér io, em c omunh ão com o Santo
Padre, com o próprio B ispo e com os ir mãos no sacerdócio ( cf. cânn. 245 - 246).
A formação pastoral, além de orien tar toda a sua vida que d eve ser movida pela
caridad e pastoral, com sentido apostólico e missionário (cân. 245, § 1), dev e instruir
os alunos especif icamente para d esempenh ar os ministérios de ensinar, santificar e
governar o povo de Deus (cân. 255 – 257).
A formação intelectua l deve propor cionar aos alunos, junto com a cultur a geral
adequada, um conhecimento amp lo e sólid o das disciplinas sagradas, que os permita
alimentar sua própria f é e anun ciar adequadamente o Evang elho aos homens do seu
tempo (cf. cân. 248 – 254). O cân. 247 pede explicitamente que se dê aos alunos uma
formação adequada, como prep aração para viver o ce libato, aprendendo a estimá -lo
como um especial dom d e Deus (Optatam Totius, 10, Pastores Dabo Vobis, 29, 44, 50
oferecem algu mas diretr izes par a esta específica for mação).

c. A Adscrição ou I n cardinação

Todo e qualquer ministro sagrado deve estar inc ardinado, em uma circunscrição
eclesiástica (uma d iocese, u ma circunscrição assemelhad a à d iocese, como a pr elazia
pessoal ou em um instituto de vida consagrada ou em uma sociedad e que tenha a
faculdad e de incardin ar (cf. cân. 265). Na Igreja não pode ex is tir a figura do clérigo
acéfalo ou v ago, isto é, o clérigo d esvincu lado de um super ior próprio e n em d e um
serviço concr eto.
A incardin ação é r egulada pelo Código de Direito C anônico como uma vincu lação
jurídica de car áter eminentemente minister ial. Med ia nte a incardinação o serviço de
cada min istro sagrado, que é por si univ ersal e participa da solicitud e pastoral por todas
as Igrejas, se concretiza no âmb ito de u ma determinada comunidad e eclesial.
Com a ordenação d iacon al o clérigo se in cardina n a circu nscrição eclesiástica
para a qu al fo i promovido, ou no institu to ou socied ade à qual está incorporado
definitivamente ( cân. 266). Esta in cardin ação originária tem uma natural estabilidade.
Concretamente, o Código de Direito Canôn ico prevê:
a. Que o bispo próprio, para a utilidad e da Igreja ou para o bem do próprio
clérigo, conceda-lh e a excardinação p ara q ue possa se incard inar em outro
lugar onde prev iamente tenha sido aceito (cân. 267, 269 – 270).
b. A excardinação – incard inação automá tica de clérigo legitimamente
transferido para exer cer seu ministério em outra Igreja particular, uma vez
transcorrido cer to tempo (cân. 268, § 1); ou de clérigos que, já orden ados ao
serviço de uma Igreja particular, se incorp oram a um institu to ou sociedade
(cân. 268, § 2).
c. O acordo de “agregação” (addictio) de u m clérigo em uma outr a Igreja
particu lar com escassez de clero, per manecendo sua incardin ação or iginár ia
(cân. 271).

d. Estatuto jurídico dos clér igos

A destinação para exer cer na Igreja a missão pastoral de Cri sto cabeça, e a
altíssima dignid ade dessa missão projetam sobre a vida dos ministros sagrados uma
série de ex igências que formam um esta tuto jurídico pessoal .
O Código de Direito Canônico dedica um capítulo (cân. 273 – 289) aos aspectos
principais do esta tuto jur ídico dos clérigos, cujo conteúdo, podemos sistematizá - lo da
seguinte forma:
1. Capacidades . O cân. 274, § 1 estabelece que somente os clér igos podem
receber ofícios, cujo exer cício requeir a o poder de ordem ou o poder de regime
eclesiástico. Esta capacidade habilita com caráter geral os ordenados para as funções
próprias dos ministros sagrados na Igreja (cân. 129).
2. Deveres comuns matizados ou reforçados pela condição de ministro sagrado.
Trata-se de alguns d everes comuns a todos os fiéis, mas que urgem especialmente, ou
por uma razão peculiar, por serem min istros sagrados.
Entre estes deveres se destacam:
1º O da obediência aos leg ítimos pastores ( cân. 273);
2º Os deveres da fr atern idade, comunh ão e cooperação, especialmente com
os outros ministros sagrados (cân.275, cf. cân. 280);
3º O dever de buscar a santidade, especialmente no exercício dos deveres
próprios do ministér io pastoral (cân. 276, § § 1 e 2, 1º, 2º, 5º).
3. Deveres próprios dos clérigos . Existem deveres especialmente v inculados à
condição e missão dos clérigos que consistem em precisos mand atos jurídicos e outros
que se limita a indicar uma linh a de condu ta que deve ser concretizad a pelo Direito
particu lar e pela prudên cia de cada ministro sagrado. Trata -se de ex igências
especialmen te ligadas com a santid ade, disp onibilid ade e eficácia do ministério.
O Código de Direito C anônico menciona os seguintes dever es:
1º O dever de aceitar e cumpr ir fielmente os encargos recebidos do seu
ordinário (cân. 274, § 2);
2º O de reconh ecer e fomen tar a missão própria dos leigos na Igr eja e no
mundo (cân. 275, § 2);
3º A obrigação de celebrar d iariamen te a Liturgia d as Horas e participar
dos retiros espiritu ais (cân. 276, § 2, 3º, 4º) .
4º O dever do celibato – peculiar dom de Deus orient ado à iden tificação
com Cristo e à liberdad e de coração para ser vir -, que obriga observar uma
perfeita e perpétu a contin ência e a evitar com prudência tod a relação
pessoal que possa colocá -la em perigo ( cân. 277);
5º A dedicação à formação per manen te (c ân . 279);
6º O dever de levar u ma vid a simples e desp rendida (cân. 282);
7º O dever de residência na d iocese ( cân. 2 83, § 1);
8º O dever de vestir o tr aje eclesiástico (cân. 284; cf. cân. 288).
9º O dever de fomentar a paz e a justiça entre os homens (cân. 287, § 1).
4. Direitos próprios dos clérigos . Muitos dos deveres acima indicados imp licam
em dir eitos par a os clérigos. Assim, por exemplo, o d ever de desemp enhar fielmente os
encargos receb idos implica um direito de receber, se nada se opõe a isso , uma concreta
missão pastoral: essa é a razão da ord enação.
Além disso, o Código de Dir eito C anônico r econhece expressamen te o dir eito dos
clérigos que exercem um min istério de receber uma retribuição conven iente e a devida
assistência social (cân. 281), e ter u m tempo suficien te de férias anuais ( cân. 283, § 2).
5. Direitos modalizados devido à condição de clérigo . No exer cício de alguns
direitos e liberdad e que comp etem aos clér igos por direito natur al e por sua condição
de fiéis ap arecem certos matize s e limitações que são reflexos de sua condição. Por
exemplo, o Código de Direito Canônico seg uindo as disposições con ciliares, reconhece
aos clér igos o direito n atural de associação com a limitação de qu e os fins sejam
congruentes com a condição clerical – não só em relação à fé e à moral -, e com o
mandato expresso de se abster de tod a associação incomp atív el co m a condição de
clérigo ou que dif iculte o cumpr imen to d iligente dos encargos pastorais (cân. 278, §§
1 e 3). Reco menda-se, por sua v ez, que os cl érigos tenham em gr ande estima as
associações que o ajudam buscar a santidade no próprio ministér io, a viver a
fraternid ade sacerdo tal e a união com o B ispo ( § 2).
6. Congruência de vida e proib ições especia is . A congruência de vid a impõ e aos
clérigos o d ever de evitar cer tas atividad es que, em pr incíp io, pertencem ao âmbito de
liberdad e dos fiéis. O Código de Direito Can ônico estab elece o dev er geral de se abster
de tudo o que não está de acordo co m o seu estado, ou aind a que não seja ind ecoroso,
constitui algo alh eio a ele (cân. 285, §§ 1 -2). Alguns aspectos desse dever geral se
concretizam em proib ições bem claras.
Especialmen te é pro ibido aos clér igos, a não ser que tenh a o consentimen to do
seu Ordinário:
1º Aceitar cargos públicos com pod er civ il (câ n. 285, § 3; cf. cân. 289, §
2);
2º Aceitar certas obrig ações econômicas (cân. 285, § 4);
3º Exercer o co mércio (cân. 286) ;
4º Participar ativamente em par tidos políticos ou na direção de sindicatos
(cân. 287, § 2);
5º Apresentar-se como volun tário ao serviço militar (cân. 289, § 1).
Algumas dessas proibições (cân. 288) por sua natureza, não afetam os diáconos
permanen tes.

e. Perda da condição jur ídica d e clérigo

A ordenação válida imprime caráter e, portanto, nunca se anula. Todav ia pode -


se perder a cond ição jur ídica de clérigo :
1º Por sentença ou decreto judicial que declar e que a ord enação foi
inválid a;
2º Por uma pena canônica (demissão do estado clerical) leg itimamente
imposta;
3º Por concessão da Santa Sé, que se co ncede por gr aves causa s aos
diáconos e somen te por grav íssimas causas aos presbíteros (cân. 290).
Nesses casos, o clér igo perde os direitos pró prios da cond ição cler ical, os ofícios,
funções e poderes. O clérigo fica dispensado e proibido de exercer o poder de ordem.
Todavia, a perda do estado clerical não imp lica na dispensa d a obrig ação do celibato,
que deve ser concedida p elo Romano Pontíf ice (cân. 291).
3. OS FIÉIS LEIGOS

1. O carisma da v ida laical

a. Definição d e leigo

No Código não encontramos uma definição de leigo, mas co mo o Código é o


último docu mento do Concílio Vaticano II, e manifesta a sua índo le, podemos en contrar
a definição de leigo que nos é apresen tada pelo Concílio, na Constituição Dogmática
“Lumen Gen tium ” (LG), na Exortação apos tólic a pós sinodal do Pap a São João Paulo
II, “Christifid eles Laici” (ChL) , de 30 d e dezembro de 1988.
Na LG. 31a. temos duas def inições, sendo u ma negativa e outra positiva.
A definição negativa af irma o Concílio q ue “ pelo nome de leigos aqui são
compreendidos todos os cristãos, exceto os membros de ordem sacra e do estado
religioso aprovado pela Igreja ”. São leigos, portanto, os fiéis que não são membros da
ordem sagrada, e do estado religioso.
Pela via positiva, o Concílio define o leigo como se ndo “estes fiéis (que) pelo
batismo foram incorporados a Cristo, constituídos no povo de Deus e a seu modo feitos
partícipes do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, pelo que exercem sua parte
na missão de todo o povo cristão na Igreja e no mund o” São leigos:
1. Os que foram incorporados a Cris to pelo batismo;
2. Constituídos povo de Deus;
3. Particip am “modo suo” do múnus (missão) sacerdotal, profético e régio
de Cristo;
4. Pelo que (“pro par te sua”) exercem na Ig reja e no mundo a missão
própria do povo crist ão.

Na LG 31b. encon tramos o elemento p eculiar do leigo, que esclar ece os termos
“modo suo” e “pro p arte sua”.
O elemen to que car acter iza o leigo é a índ ole secu lar . Afirma a LG: “A índole
secular caracteriza especialmen te, os leigos ... É, porém específi co dos leigos, por sua
própria vocação, procurar o Reino de Deus exercendo funções temporais e ordenando -
as segundo Deus. Vivem no século, isto é, em todos e em cada um dos ofícios e
trabalhos do mundo. Vivem nas condiçõ es ordinárias da vid a familiar e soc ial, pelas
quais sua existên cia é como que tecida...”
A Exortação apostó lica “ Christifideles laici” (n° 15) afirma que “ cond ição
eclesial dos fiéis leigos é radicalmente def in ida pela sua novid ade cristã e car acterizad a
pela sua índo le secu lar ”.
A índole secular não é ex clusiva dos leigo s, pois tanto os clérigos secular es e
membros dos institu tos seculares, a seu modo, tamb ém gozam desta índole secular
(cânones 710, 711, 713).
A Igreja, como dizia São Pau lo VI, “tem uma autêntica dimensão secu lar,
inerente à sua íntima natureza e missão, cuja raiz mergulh a no mistério do Verbo
encarnado e que se concr etiza de for ma div ersa para os seus membros” 19.
A ChL afirma que “A Igreja, com efeito, vive no mundo, embor a não seja do
mundo (cf. Jo 17,16) e é enviada para dar continuidad e à obra redentora de Jesus Cristo,
a qual, “visando por natureza salv ar os homens, compreende tamb ém a instauração de
toda a ordem temporal (Apostolicam actuositatem, 5)” 20.
A secularidade, como tal, enquanto fundada no sacerdócio comum e sobre a
consagração b atismal, é algo in trínseco a todo fiel e n ão só à cond ição d e leigo. O
ministér io sagrado e a consagração pelos co nselhos evangélicos, não tolhem a cond ição
secular desses fieis, mas dão uma modalid ade diversa e próp ria de v iver a condição
secular. Todos estamos no mundo, como a Igreja está. Cada um viv e a índole a secular,
conforme a sua vo cação p eculiar na Igr eja.
Por outro lado, aos leigos, confor me a doutr ina conciliar, não só co mpete a esfera
secular, mas também a esfera espiritu al e estritamente eclesial. A LG. (31a.) af irma
que o leigo exerce “ ... sua parte na missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo ”.
Os leigos são chamados a u m apostolado ativo, também na Igreja (cf. LG. 33).
A “Christifideles laic i” (n° 9) afir mando que “os padres sinodais justamen te
sublinharam a necessidad e d e se d elin ear e propor uma descrição positiva da vocação
e da missão dos f iéis leigos, aprofundando o estudo d a doutr ina do Concílio Vaticano
II à luz, tanto dos mais recente s documentos do Magistério como da experiência da
mesma vida d a Igreja guiada pelo Espírito Santo (cf. Propositio 3)”, deix ando de lado
a definição neg ativ a de leigo, apresenta a definição positiva, sem qualqu er outr a
novidade ou aprofund amen to teológ ico.
Permanece ab erta a d efinição do fiel leigo de man eira positiv a e com
características próprias.
Podemos dar uma definição descritiv a de leigo, nos reportando a Gianfranco
Ghirlanda, afirmando que se def ine o leigo como aqu ele fiel que “... r iman endo nella
consacrazione battesimale comune, nella C hiesa e nel mondo edif ica il Regno di Dio,
testimon iando la fed e, secondo un carisma p roprio, che è quello della secolar ità in una
modalità peculiare specif icata dai diversi servizi e ministeri svolti. Il laico, po i,
nell’ad empiere la sua missione nella Chiesa e nel mondo è corroborato dal dono dello
Spirito e dalla grazia del sacramento d ella confermazione, ch e con il caratter e impresso
lo vincola più perf ettamen te alla Chiesa e lo obbliga più strettamen te ad esser e con le
parole e le oper e testimone di Cristo e a dif fondere e difendere la fede in ogni âmb ito;
nello stesso tempo è sostenuto dinamicamente dall’ Eucaristia (cc.879 ; 897; LG 11a.;
ChL, n.14)” 21.

19
Pa ulo V I, D is c urs o a os me mbros dos Ins titutos Secula re s (2 de fe ve re iro de 1972): A A S. 64 (1972),
208.
20
C hris tifide le s La ic i, n° 15.
21
Ghirla nda , Gia nf ra nc o, Il diritto ne lla C hie sa , mis te ro di c omunione , C ompe ndio di diritto
e c c le s ia le , Ediz ioni Pa oline , Editric e Pontific ia U n ive rs ità Gre goria na , 1990, pá gs . 113 – 1 14.
b. Obrigações e Direitos, ofícios e ministérios dos leigos

Enquanto o Código de 1917 não reconhecia aos fiéis leigos particu lares funções
ou ofícios, nem dav a espaço na d eter minação de suas obrigações e d ireitos em um títu lo
específico, o novo Código, fundamentado n a doutrina conciliar, oferece oito cânones a
respeito dos leigos (cc. 224 – 231).
O cânon 224, como introdutór io, afir ma que “ os fiéis leigos, além das obrig ações
e dos direitos comuns a todos os fiéis e dos que se estabelecem em outros cânones, têm
as obrigações e go zam dos direitos refer ido s no cânones deste título ”.
De fato, d iz r espeito aos fiéis tudo quanto vem estabelecido relativamente aos
deveres e direitos dos f iéis “in gener e”, aos sacramentos, aos ofícios eclesiásticos, às
estruturas jurisdicionais da hierarqu ia, aos proces sos e aos recursos administrativos.

2. Obrigações e direitos

a. Anúncio da salva ção

A primeira obrigação e consequentemente direito, de caráter geral, que diz


respeito a todos os fiéis em r azão do batismo e da conf irmação é o do aposto lado ( cc.
211, 216).
Não só os clérigos e os consagr ados em u m institu to de v ida religiosa devem
anunciar a salvação, mas tamb ém os leigos; e “ esta obrigação torna-se mais urgente nas
circunstân cias em que só por meio deles os homens podem ouvir o Evangelho e
conhecer a Cristo” (c.225 § 1) 22.
Por outro lado, o cânon não f az n enhuma distinção o aposto lado g eral, como
anúncio da salvação e o apostolado como co operação com a hierarquia 23.
O cânon prev ê qu e a ação apostó lica dos leigos pod e ser d esenvolvid a
individualmen te ou associativ amente.
b. Testemunho de vida

O cânon 225, § 2, fala de uma segunda obrigação fundamental: “Têm ainda o


dever pecu liar d e cad a qual, segundo a pr ópria condição, imbuir e aperfeiçoar co m
espírito evangélico a ordem temporal, e de dar testemunho de Cristo especialmente na
sua atuação e no desemp enho da suas funçõ es seculares .”
Segundo o cânon o leigo deve d ar testemunh o de vida, de acordo co m a condição
secular de cada u m. Este tipo d e aposto lado é especif ico do leigo, porqu e é mi ssão
própria do leigo trab alhar co m as realid ades temporais, enquanto o anúncio da salv ação
é dever de todo o batizado, em qualqu er con dição que se encontrem.

22
Le ia -s e de modo e s pec ia l os núme ros 34 – 35, da “ C hris tifide le s La ic i” .
23
Gia n f ra nc o Ghi rla nda , a firma , toda via que “ ... a nc he s e il c a none non fa ne s s un ac c e nno a lla
c oope ra z ione dire tta c om l’a pos tola to ge ra rc hic o, ogni a z ione de i la ic i c he s ia imme dia to a nnunc io
de lla s a lve z z a non può non e s s e re una c oope ra z ione ne ll’a pos tola to, c he ne lla C hie s a è da
c ons ide ra rs i ge ra rc hic o, in qua nto da es e rc ita rs i sempre s otto la s upe riore dire z ione de lla ge ra rc hia ” ,
op.c it. pá g. 116.
Em relação às obrigaçõ es das realidad es temporais o cânon 227, reconh ece a
liberdad e que compete a todo cidadão, mas dentro de limites estabelecidos,
considerando-se que devem proceder com espírito evangélico, e considerando que
devem atend er à doutrin a proposta pelo magistér io da Igreja, precavendo -se, em
questões discutív eis, de não apresentar a pr ópria opinião como dou trina d a Igreja.

c. Vida conjuga l

O cânon 226, § 1, reconhece uma função particu larmente positiv a aos leigos
casados, da qual provem um dever apostólico específico dos mesmos: edif icar o povo
de Deus por meio do matrimônio e da f amíl ia.
Como ensina o Concílio Vaticano II 24, os leigos, por meio do matr imônio e da
família não só edif icam o povo de Deus, mas também a sociedad e civil. De fato, por
meio do matrimôn io os leigos viv em a sua condição secu lar tanto na Igreja co mo no
mundo 25. O Decreto do Concílio Vaticano II , “Apostolicam Actuositatem, no n. 11c.
apresenta-nos qual o dever fundamental e o apostolado dos leigos.
O cânon 226, § 2, afirma a gravíssima obrigação e o direito natur al dos pais de
educar os filhos. Esta r eiv ind icação é feita de modo g eral, seja em r elação da
comunidad e eclesial, seja em relação à sociedad e civil. Todavia a necessidade de
reivindicação se refere pr incip almente em r elação à socied ade civil 26.
No mesmo cânon 226 existe uma especificação de tal dir eito – d ever: os pais
devem educar os f ilhos, confor me a doutr in a da Igreja. Confor me o Concílio, a família
deve ser considerad a co mo uma Igreja do méstica, na qu al os pais d evem ser par a os
seus filhos os primeiros mestres da fé, testemunhas do amor de Cristo e min istros de
sua santificação 27. Dos pais os filhos devem receber o primeiro anúncio do Ev angelho,
porquanto a família é o lugar natur al do primeiro ger me da fé 28.
Devemos notar, todavia que, conforme a fo rmulação do cânon 226, o d ireito –
dever dos pais à educação cristã dos filhos é primário, mas não exclusivo, enquanto
permanece a obr igação e o d ireito da Igreja à formação cristã, d e vários modos, d e
todos os seus membros 29.

3. Formação doutr inal

O cânon 229, § 1, enuncia o d ireito – dever d os leigos de adquir ir o conhecimen to


da doutrina cristã, inclusiv e a doutr ina so cial d a Igreja, atr avés de uma formação
espiritual e doutrin al, que lh es é necessária para viver de acordo com as exig ências do
Evangelho e para estarem em grau de anunciar e defender tal doutrina, podendo deste
modo participar da ação apostólica 30. O § 2 reconhece, pois, o direito de conseguir

24
C f. A pos tolic a m A c tuos ita te m, A 11, Ga udium e t Spe s , 47.
25
C f. LG.31a .
26
C f.c .793.
27
C f. c .835, § 4.
28
C f. C h ris tifide le s La ic i N n.35; 40.
29
C f. c â non 794.
30
C f. C h is tifide le s La ic i n° 60.
graus acadêmicos em univ ersidades, f aculd ades ou institutos de ciên cias r elig iosas. O
§ 3 reconhece ao leigo o dir eito d e receber da autorid ade eclesiástica o mand ato para
ensinar as ciências sagrad as, observadas as prescrições do dir eito.

4. Ofícios eclesiásticos

O cânon 228, § 1 afirma qu e “ Os leigo s que forem ju lgados idôn eos têm
capacidade p ara que os sagr ados Pastores lh es confiem os ofícios eclesiásticos e outros
cargos que podem d esempenhar segundo as prescrições do dir eito” .
O cânon reconhece que leigos idôneos estão habilitados para assumir ofícios e
encargos e que são capazes de desem p enhar .
Conforme o Código podem exer cer os ofício s de:
• Juiz, auditor, e de notários nos tribunais eclesiásticos;
• De Chanceler da Cúria d iocesan a;
• De ecônomo;
• Do pastoreio de uma paróquia;
• De moderador de u ma associação pública d e fieis;
Estes são ofícios que compor tam nos mais diversos graus o exercício de pod er de
governo: por isso podem ser juízes e ex ercer o poder admin istrativo (cc. 1421, § 2 ;
1428, § 2; 1437, § 1; 482, § 1; 483; 494 ; 51 7, § 2);
Além disso, sempre no âmbito judicial pod em exercer os se guintes ofícios:
• De assessor, de promotor de justiça; de d efensor do vínculo (cc. 1424, 1435) ;
Podem exercer também of ícios que n ão co mportam exercício do pod er de governo
como:
• O ofício de legado pontifício (c.363, § 1);
• De conselheiro dos Pastores (cc. 2 28, § 2 ; 4 43 §4; 463 5°; 512; 536 ; 537);
• De assistente qualificado do matrimôn io (c. 1 112).

Há por outro lado, ofícios que somen te aquele que recebeu o sacramento d a ordem
pode exer cê-lo, como por exemplo, o oficio de páro co, de b ispo só pode ser exer cido
pelo presbítero e por quem recebeu a ord en ação episcopal. En tre o sacerdócio comu m
e o sacerdócio min isterial ex iste não s ó uma difer ença d e grau (cf. LG.10b;
Christifideles Laici, nn. 22,23).

5. Ministérios

O cânon 230, § 1, do Código afir ma qu e “Os leigos que tiver em a idade e as


aptidões d eterminadas com d ecreto pela Co nferência Episcop al, pod em ser assumidos
estavelmente, median te o rito litúrgico es tabelecido, nos min istérios d e leitor es e
acólitos; no en tanto, tal concessão não lhes atribu i o dir eito ao sustento ou à
remuneração por parte da Igreja” por p arte da Igreja”
Os n°s V e VI, da Carta Apostólica em forma de Motu proprio “M inisteria
quaedam”, do Papa São Paulo VI, de 15 de agosto de 1972, estabelece o âmb ito do
exercício destes ministérios ordenados.
A legislação co mplementar da CNBB. estabelece normas comp lementar es a
respeito da institu ição d esses ministér ios ordenados.
O Acólito é min istr o ex traordinár io da comu nhão (C.910, § 2), e da exposição do
Ssmo. Sacramento ( c.943).
Estes dois min istérios conforme o motu pr oprio “Minister ia Quaedam”, foram
instituídos como ministér ios leigos, e não são limitados ao âmbito litúrg ico, mas
também extr alitúrgico.
Como afir ma o cânon em r azão do min istério conferido, n ão lh es dá o direito de
sustento ou remuner ação por par te da Igr eja.
O motu proprio “Ministeria quaedam” permitia às Conferências Episcopais, com
a aprovação d a San ta Sé, instituir outros ministér ios ordenados, como de ostiário,
exorcista, catequista e outros, contanto que tais min istérios não estejam conf eridos a
diáconos 31.
O cânon 230, § 2, determina que “ os leigo s , por deputação temporária, podem
desempenhar nas ações litúrgicas a fun ção de leitor ; da mesma forma todos os leigos
podem desempenhar as funções de comen tador, cantos e outras, segundo as normas do
direito ”.
Este parágr afo se refer e aos min istérios temporários de comentador, d e can tor ou
de outros, que podem ser exercidos p elos leigos, homens ou mulher es.
Trata-se de um exercício temporário e que não implica em u ma instituição por
meio de u m ato litúrg ico.
O cânon 230, § 3, afirma que “ onde as necessidades da Igreja aconselharem, por
falta d e ministros, os leigos, mesmo qu e n ão sejam leitores ou acólitos, podem suprir
alguns ofícios, como de exer cer o ministério da palavra, presidir as oraçõ es litúrgicas,
conferir o batismo e d istribuir a sagrada Co munhão, segundo as prescrições do direito”.
Este parágrafo trata dos ministros extraord inários . No caso de necessidade, na
falta d e min istros, os leigos (aind a que não sejam leitor es ou acólitos) podem suprir
algumas de suas funções, como o ministér io da palavra; podem presidir as orações
litúrgicas, administrar o b atismo e distr ibu ir a Comunhão.
Entre estes min istérios ex traordin ários podemos inclu ir também o mand ato par a
ser testemunh a qualificada do matrimônio, que comporta o ministér io de formação
catequ ética dos esposos e da condução litúr gica do rito ( c.1112), ou como teste munh a
estável.

31
C f. C a rta C irc ula r d o D ic a s té rio pa ra o C ulto D ivino e a D is c iplina dos Sa c ra me ntos “ N ovit
Profe c to” , de 27 de outubro de 1977, in EV . 6/373 – 374.
CAPÍTULO XI

ORGANIZAÇÃO DA IGREJA UNIVERSAL

1. PRIMADO, EPISCOPADO E COLEGIALIDADE NO GOVERNO DA IGREJA.

A autoridade e os poderes necessários para o governo da Igreja nas suas


dimensões univ ersal e p articular residem nos Pastores: o Pap a e os Bispos. Para
compreend er a lógica interna que rege a organização juríd ica desse governo pastor al, é
preciso partir da consider ação dos seus três eixos fundamen tais, todos eles de
instituição d ivina: o Primado do Romano Pontífice, o episcopado e a colegialidade
episcopal.

a. A autoridade suprema. Primado e co legia lidade.

A Constituição Pastor Aeternus do Concílio Vaticano I, ensina que Cr isto


outorgou ao Apóstolo Pedro a prerrogativ a do Primado, prerrogativa essa que dever ia
ser transmitida aos seus sucessores, para qu e fosse princíp io e fundamento p erpétuo e
visível d a un idade da f é e de comunhão de toda a Igr eja 32. Este é o núcleo fund amen tal
do ministério p etrino, qu e tem manif estaçõ es diversas em seu exer cício, algumas d elas
concretizadas em formas e modalidades históricas.
Em virtud e do seu ofício pr imacial, o Sucessor de São Pedro tem, sobre toda a
Igreja e sobre cada uma das Igrejas particu lares, o pleno e supremo poder de magistério
e de jurisdição ep iscopal. Dian te disso todos os fiéis, de qualquer condição ou rito, lhe
devem obed iência e sujeição 33.
Os cânones do Código de Dir eito Canônico que tr atam da au toridad e suprema no
governo pastoral da Igreja un iversal da Igr eja seguem fielmen te – in clusive no seu texto
– os ensinamentos do Con cílio Vaticano II s obre a r elação en tre o Primado do Romano
Pontífice e a co legialidad e Episcop al 34.
Em síntese, as normas que se referem ao Romano Pontífice e o sobre o colégio
episcopal ( cânones 330 e ss.), contém os seguintes princípios:
1. O Romano Pontífice juntamente co m o Colégio dos Bispos gozam do supremo
poder sobre toda a Igreja (cf. cânones 331, 336) 35.
2. O Romano Pontífice exerce o supremo poder pessoalmente ou junto com o
Colégio Episcopal, de acordo com as modalid ades que somente ao Papa cabe

32
C f. Lume n Ge ntium, n º 18.
33
C f. Ide m, ibide m; C hris tus D ominus , nº 2; c â nones 331, 333.
34
C f. Ide m, nºs . 18 – 23.
35
N e m o C onc ílio e ne m o C ódigo de D ire ito C a nônic o quis e ra m re s olve r dire ta me nte a que s tã o se
há um s ó s uje ito de s upre mo pode r (que s e ria o R o ma no Pontífic e pa ra a lguns a utore s , ou o C olé gio
dos B is pos , c om o R oma no Pontífic e , pa ra ou tros , ou dois s uje itos ina de qua da me nte dis tintos , is to
é , o Pa pa pe ss oa lme nte , por um la do, e o C olé gio com a s ua c a be ç a por outro la do).
estabelecer, levando -se em con ta as necessidades da Igreja univ ersal (cf. cânon es 331,
337)
3. Pessoal ou colegialmente, o Romano Pontífice exerce seu ofício de Pastor
supremo encontr ando -se sempr e unido em comunhão co m os demais Bispos e com toda
a Igreja ( cf. cân. 333, § 1).
4. O Colégio dos Bispos exerce sua função de sujeito de poder supremo sempre
em união com a sua C abeça, o Pap a, e nunca sem ela (cf. cân. 336).

b. Episcopado e fun ção primacial

O Concílio Vaticano II expôs a dou trina s egundo a qual o episcopado, co mo


função pastoral e grau supremo do sacramento da ordem, e não mera d ignidad e de
instituição eclesiástica é de Direito d ivino 36. Os Bispos, colocados p elo Espírito Santo,
são também sucessores dos Apóstolos e, juntamen te com o Ro mano Pontífice e sob a
sua autoridad e, foram env iados para perpetuar a obra de Cr isto, Pastor eterno, como
verdadeiros mestres da fé, pontífices e pastores (cf. cân. 375, § 1) 37.
Considerando que tan to o Primado co mo o Episcopado (e a co legialid ade
episcopal) são de institu ição d ivina, não po dem ser consid eradas como realid ades que
se contrapõem. Pelo con trári o, sua natureza e funções se conjugam harmon iosamen te,
até ao ponto de serem realid ades que se implicam mutuamente, que se complementam
e se reforçam entre elas.
Para entend er adequ adamen te as relaçõ es entre Primado e ep iscopado que
determinam o regime ju ríd ico das funções respectivas, é preciso ter presente que
estamos dian te d e um aspecto do mistério d a Igreja enquan to comunhão: “13. O Bispo
é princíp io e fundamento v isível d a unid ade na Igreja par ticu lar confiada ao seu
ministér io pastor al, mas par a que cad a Igreja particular seja plenamente Igreja, isto é,
presença par ticu lar d a Igreja un iversal com todos os seus elemen tos essenciais,
constituíd a, portanto à imagem da Igreja universal , n ela d eve estar presen te, como
elemento próprio, a suprema autoridad e da Igreja: o Colégio episcop al “jun tamente com
a sua Cabeça, o Ro mano Pontífice, e nun ca sem ele ”. O Primado do Bispo d e Roma e o
Colégio episcopal são elemen tos próprios da Igr eja universal “n ão d erivados d a
particu larid ade das Igrejas ”, mas inter iores a cada Igreja par ticu lar. Portan to, “dev emos
ver o ministério do sucessor de Pedro, não só como um serviço 'glob al' que ating e cada
Igreja particular do 'exterior ', mas como já pertencente a cada Igreja par ticu lar a par tir
'de dentro ” De fato, o ministério do Primad o comporta essencialmen te uma potestade
verdadeir amen te episcopal, não só suprema, plena e universal, mas também imediata,
sobre todos, quer sejam Pastores ou ou tros fiéis. O fato do min istério do Sucessor de
Pedro ser interior a cada Igreja particular é expressão necessária dessa fundamental
mútua in terior idade entre Igreja univ ersal e Igreja par ticu lar ”. 38
A relação en tre Primado e Episcop ado reflete no regime de governo das Igrejas
particu lares, que pode ser sin tetizado n est es princípios:

36
C f. Lume n Ge ntium, n º 20 e 21.
37
C f. C hris tus D ominus , nº 2.
38
C a rta “ C ommunionis N otio ” , do D ica s té rio pa ra a D outrina da Fé , de 28 de ma io de 1992.
1. Os Bispos diocesanos têm, nas Igrejas par ticulares que lhe são confiad as, todo
poder ordinário, própr io e imediato neces sário para o ex ercício do seu ministér io
pastoral.
2. As funções episcop ais, por sua própria n atureza, só podem ser ex ercid as em
comunhão hierárquica com o Pap a e os demais bispos (cf. cân. 375, § 2).
3. O exercício do ref erido poder es tá or denado, em última instân cia, pela
autoridad e suprema da Igreja, que pode cir cunscrevê -lo den tro de cer tos limites, em
função da ut ilid ade da Igreja e dos fiéis 39.
4. Concretamente, o Bispo deve exercer o seu poder perman ecendo sempr e a salvo
o poder do Romano Pontíf ice, em virtud e d o seu ofício pr imacial, de reserv ar par a si
ou para outra autoridade, por exemp lo, a Conferência Episc opal, algu mas competências
que, se não tivessem sido reserv adas, co mpetiam a cada Bispo diocesano (cf. cân.
381) 40.
5. A primazia do poder ordinário do Papa sobre todas as Igrejas particular es não
elimina, pelo contr ário fortalece e def ende o poder que co mp ete aos B ispos nas Igrejas
particu lares enco mendad as ao seu cuid ado ( cf. cân. 333, § 1) 41

2. O ROMANO PONTÍFICE

a. Eleição do Sucessor de Pedro

O Papa é o “B ispo da Igreja d e Roma, no qual permanece o múnus conced ido


pelo Senhor de forma singular a Ped ro, o primeiro dos Apóstolos, para ser transmitido
aos seus sucessores, é a cabeça do Colégio dos Bispos, Vigário de Cristo e Pastor da
Igreja un iversal neste mundo...” (cân. 331, cf. Lumen Gentiu m, 22). Esta função o Pap a
recebe pela sucessão na Sede d e P edro (cf. cân. 332, § 1), uma vez qu e o ofício
primacial está vincu lado precisamente à sed e episcop al d e Roma: o ofício de B ispo de
Roma e o primado da Igr eja univ ersal são u m só e indivisív el.
O Romano Pontíf ice adquire o poder pleno e supremo sobre toda a Igr eja pela
legítima eleição – que d eve ser aceita p elo eleito -, e a consagração episcopal. Se o
eleito não tem o caráter episcopal, deve ser imediatamen te ordenado bispo (cf. cân.
332, § 1) 42.
b. O poder do Romano Pontífice

O poder que exerce o Romano Pontífice em virtude da sua função primacial pode
ser resumidamen te descrito a partir das notas que se encontram no cân. 331, ao
qualificar que a função primacial tem um poder ordinário, próprio, supremo, pleno,
imediato, un iver sal e livr e em seu exercício (cf. Lumen Gentiu m, nº 22). Todas estas

39
C f. Lume n Ge ntium, n º 27.
40
C f. C hris tus D ominus , nº 8.
41
C f. Lume n Ge ntium, n º 27.
42
A e le iç ã o do R oma no Pontífic e é re a liza da pe lo c olé gio c a rdina líc io e s e re ge pe las norma s da
C ons tituiç ã o A pos tólic a “ U nive rs i dominic i gre gis ” , que vigora m a pa rtir do mome nto e m que a Sé
A pos tólic a e s tá va c a nte (c f. c â n. 335). A s e de roma na s e torna va c a nte pe la morte ou re núnc ia do
R oma no Pontífic e , que nã o de ve se r a c e ita por ningué m (c f. c â n. 332, § 2).
características se refletem, co m diversas manifestações concretas, em muitos lugares
do Código de Direito Canônico.
Estas notas características do poder primacial não significam que seja m
ilimitad as. Não pode ser porque perten ce à constituição divin a da Igreja, a qual
pertence tamb ém outros elemen tos constitu tivos (a Palavra de Deus, os sacramen tos, a
condição fundamental de f iel e seus d ireitos ineren tes, o episcopado etc.), e porqu e se
exerce somente à serviço da Igreja e de sua missão. Portanto, os limites natur ais do
poder primacial são: o Direito div ino, natu ral e positivo, a natureza e o f im próprios
da Igreja.

3. O COLÉGIO EPISCOPAL

a. Perten ça ao Colég io e atuação coleg ial

Faz parte do Co légio episcop al qu em é con sagrado pela orden ação episcopal e
está em comunhão h ierárquica co m a Cab eça e os demais membros (cân. 336).
A ordem ou corpo dos bispos, uno e indivis o constituído à man eira d e Colég io,
sucede o Colégio apostólico no magistério e no governo da Igreja (cf. Lumen Gen tium,
nº 22), ao qual co mpete a “sollicitudo omnium ecclesiaru m”, e que tem várias
manifestações. Em pr imeiro lug ar, o Co légio episcopal jun to co m o Romano Pontífice,
é sujeito do supremo poder de mag istério ( cf. Lumen Gentiu m 25, cân. 749, § 2) e de
jurisdição que sempr e ex erce com sua Cabeça. Este pod er sobre toda a Igreja é exercido
median te atos coleg iais em sentido estrito que pode ser realizado de dois modos:
solenemen te, no Concílio ecumênico , ou median te uma ação conjunta de todos os
bispos dispersos pelo mundo, ação essa promovida pelo Papa ou aceita livremente por
ele (cf. Lumen Gentium nº 22; cc. 337 e 34 1, § 2).
“O Sumo Pontífice, visto ser o Pastor sup remo da Igreja,
pode exer cer, como lhe aprouv er, o seu po der em todo o tempo;
exige-o o próprio cargo. O Colégio, por ém, embora exista sempre,
nem por isso age permanen temente co m u ma ação estr itamente
colegial, confor me consta d a Trad ição d a Ig reja. ”
“Por outras palavr as, não está sempr e «em exercício pleno».
Mais ainda: somen te por interv alos age de u ma maneir a
estritamente coleg ial e nunca sem o cons entimento da C abeça.
Diz-se, porém, «com o consen timento da Ca beça » par a que n ão se
pense numa dependência de pessoa por assim dizer estranh a; o
termo “consen timento” evoca, pelo contr ário, a comunhão entre a
Cabeça. e os membros e implica a n ecessidade do ato que é própr io
da Cabeça...” 43

Nos casos em qu e não houver u ma ação colegial no sentido estrito, os membros


do Colégio atuam sempre unido s pelo v ínculo de afeto co legial ( collegialis affectus )
que imp lica em qu e todos ajam em comunhão e pro movam uma ação pastor al harmônica
e solidária em toda a Igreja.

43
N ota e xplic a tiva pré via nº 4.
“Cada um dos Bispos que estão à frente de igrejas particulares,
desempenha a ação p astor al sobre a porção do Povo de Deus a ele
confiada, não sobre as outras igrejas nem so bre a Igreja universal.
Porém, enquanto membros do colég io episcopal e legítimos
sucessores dos Apóstolos estão obrigado s, por institu ição e
preceito de Cristo, à solicitud e sobre toda a Igreja, a qual, embor a
não se exerça por u m ato d e jurisdição , concorre, con tudo,
grandemen te para o b em da Igr eja un iversal.” 44

b. O Concílio ecumênico

O poder do Colég io ep iscopal se exer ce de modo solene sobre tod a a Igr eja no
Concílio ecumênico (cf. cân. 337, § 1), regulamentado pelo Código de Direito Canônico
em cinco cânones (337 – 341) que recolhem fielmente os princípios expostos sobre a
relação entre Primado e Co légio.
As normas do Código de Direito C anônico contém, em síntese, as seguintes
disposições:
1. A convoca ção do Con cílio ecumên ico é de co mpetência ex clusiva do
Romano Pontífice (cân. 338, § 1);
2. O Romano Pontífice determina as questões a serem tratadas (cân. 338,
§ 2);
3. O Romano Pontífice presid e por si ou delegados as sessões conciliares
(cân. 338, § 1);
4. O Romano Pontífice transfere, suspende ou dissolve o Concílio (cân.
338, § 1);
5. O Romano Pontífice aprova os decretos d o Concílio (cân. 338, § 1). Os
decretos não têm força de obrig ar, a não ser que, aprovados pelo Romano Pontíf ice
junto com os Padres Conciliares, tenham sido por Ele confirmados e por sua ordem
promulgados (cân. 341, § 1).

4. O SÍNODO DOS BISPOS

O Sínodo dos Bispos é uma assembleia de b is pos, escolhidos das diversas regiõ es
do mundo (cân. 342), e que não tem caráter permanen te. O Sínodo dos Bispos se reúne
em ocasiões determinadas e termin a com o encerramento das sessões (cân. 347).
Somente a Secr etar ia do Sínodo é per manen te, uma vez que a sua missão é preparar os
temas que irão ser tratados no próximo Sínodo e estudar a maneira pela qual serão
colocad as em prática as conclusões do Síno do anterior ( cân. 348).
A função do Sínodo, do pon to de vista jur ídico, é eminen temente consultiva,
pois estuda as questõ es que se tratam em cad a assemb leia e elabora sugestões e
propostas. Ordinariamen te não to ma decisões a respeito das sobre as questões

44
Lume n Ge ntium, n º 23.
estudadas, salvo no caso no qual o Roman o Pontífice lh e confere poder deliber ativo
(cân. 343). Mesmo nes se caso, caberá ao Romano Pontífice ratificar as decisões
tomadas.
A finalidade própria do Sínodo determina que os tipos de assembleia e sua
composição sejam f lexíveis, de acordo com as questões que irão ser tratad as.
O Sínodo dos Bispos pode se reunir e m Assembleia geral na qual são tratadas
questões que se referem diretamente ao bem da Igreja universal. A Assembleia geral
pode ser ordinária ou extraordinária . A Assembleia tamb ém pod erá ser especia l
quando nela se tratar questõ es que se referem diretamen te a uma ou mais regiões
determinadas.
As Assembleias sinodais são r egidas p elas normas do Código e p elas normas
específicas contidas no Regulamento do Sínodo (“ Ordo Synodi Episcoporum
Celebrand ae”)

5. O COLÉGIO CARDINALÍCIO

Os Cardeais da Santa Igrej a Romana – afirma o cân. 349 – constituem um colégio


peculiar, cuja função prin cipal é eleger o R omano Pontífice. Além disso:
1. Assistem o Romano Pontífice agindo colegialmente, quando são convocados
para tratar jun tos as questões de maior impo rtância;
2. Individualmen te, nos diversos ofícios q ue exer cem (especialmente na Cúria
Romana) prestando ajud a ao Romano Pontíf ice;
3. Em outras missões confiadas pelo Roman o Pontífice ( cf. cân. 358).
A origem histórica dos cardeais se encontr a nos clérigos que a tuavam, desde a
antiguid ade, co mo conselheiros ou “senado ” do Papa. Faziam parte desse senado os
bispos das dioceses suburbicárias 45 de Roma, presbíteros e diáconos de determin adas
igrejas de Roma. Posteriormente, a par tir do século XII, começaram a fazer parte do
Colégio cardinalício, outros pr elados fora d a Urbe. Atualmente ex istem três ordens d e
cardeais: a ordem ep iscopal, a ord em presbiteral, e a ordem diaconal, d e acordo co m o
título que recebem ao serem cr iados (cf. cân. 350). Ainda que existam três ordens de
cardeais todos devem ser bispos, ou devem receber a consagração ep iscopal ao serem
eleitos, se ainda eram presbíteros (cf. cân. 3 51). Preside o Colég io card inalício - como
“primus in ter par es” - o Decano, e no seu impedimento o Subdecano ( cf. cân. 352). O
Código tamb ém mencion a o Cardeal Protodiácono (cf. cân. 355, § 2). O Colég io
cardinalício tem normas especiais que r egulam toda a ativ idade do colég io cardin alício,
como por exemplo a competência do Cardeal Camer lengo.
A eleição do Romano Pontífice se r ege pelas normas da Constituição Apostólica
“Universi Dominici Gregis ”, de 22 de fever eiro de 1996, qu e regulam detalh adamen te
o procedimento a ser seguido d esde o mo men to em qu e a Sé Apostólica se torn a vacante.
A partir d esse mo mento, o Colégio cardin alício tem o poder qu e lh e é atribuído pela
Constituição Apostólica acima men cionad a (cf. cân. 359) para o governo (cf. cân. 33 5)
dos assuntos ordinários da Igreja un iversal e para a pr eparação e desenvo lvimento do
conclav e, do qual sairá eleito o novo Pap a.

45
Sã o D ioc e se s uburbic á rias : Ó s tia , A lba no, Fra s ca ti, Pa le s trina , Porto – Sa nta R ufina , Sa bin a –
Poggio M irte to, V e le tri – Se gni.
Têm d ireito de par ticipar do conclave somente os card eais eleitores que são
aqueles que não completaram 80 anos no dia em q ue a Sé Apostólica se tornou v acan te.
Hoje não existe um número máximo de cardeais, todavia o corpo de eleitores está
limitado a 120 ( cf. Universi Domin ici Gregis, art. 33).
Além da situação de sede vacante, a atu ação colegial dos cardeais se realiza,
sobretudo nos consistórios, que são reuniões formais convocadas e presid idas pelo
Romano Pontífice par a oferecer seu parecer sobre diversas questões (cf. cân. 353).
Os consistórios podem ser ord inários ou extraordinár ios. Para os consistór ios
ordinários são convocados pelo menos os cardeais que se en contram em Roma par a
tratar de assuntos importantes, de ocorrên cia mais frequen te ou para a celebração de
atos muito solenes. Somen te os consistórios ordinários pod em ser públicos, isto é,
podem ser admitidos conv idados qu e não são card eais (cf. cân. 353, § 4). Os
consistórios extraord inários se celebram qu ando o aconselham n ecessidad es especiais
da Igreja ou questões grav es a ser tr atadas. Para este consistór io todos os card eais são
convocados.

6. A CÚRIA ROMANA

O Romano Pontífice costuma tr amitar os assuntos da Igreja universal através da


Cúria Roman a, que é in tegrad a por uma série de ofícios e instituiçõ es que agem em
nome e por au toridad e do Papa (cân. 360).
Esta estr eita co laboração na missão do Ro ma no Pontíf ice para o bem e serv iço
de todas as Igr ejas é a razão d e que os no mes de Santa Sé e Sé Apostólica design em
normalmente não só o Papa, como também os organismos da Cúria Romana competentes
para atu ar em u m assunto (cân. 361).
A lei pecu liar qu e r ege a Cúria Ro mana ( cf. cân. 360) é a Constituição Apostólica
“Praedicate Evangelium ”, d e 19 de março d e 2022.
Com essa lei se atu alizaram e se aperfeiço aram as refor mas in troduzidas antes
do Código de Direito Canôn ico pela Constituição Apostólica “Pastor Bonus”, com a
qual o Papa São João Paulo II r eorganizo u a composição, as funções e o modo de
atuação da Cúria de conformidade com diretrizes aprov adas pelo Con cílio (cf. Christus
Dominus, nn. 9 – 10).
De acordo com essas normas, a Cúria Ro mana é composta pela S ecretaria de
Estado, e por diversos organismos denominados dicastérios e pelos organismos, “todos
juridicamen te iguais entr e si” (cf. Praedicate Evangelium , art. 12 § 1º), entre os quais
os dicastérios, órgãos de justiça, órgãos econômicos, ofícios. A estes se unem outras
instituições.
Os Dicastérios são dezessete: Evang elização, Doutrin a da Fé, Serviço da
Caridade, Igr ejas Orientais, Culto Divino e Disciplin a dos Sacramentos, Causa dos
Santos, Bispos, Clero, Institutos d e Vida Co nsagrada e Sociedad es de Vid a Apostólica,
Leigos, Família e a Vida, Promoção da Unidade dos Cristãos, Diálogo Interreligioso,
Cultura e a Educação, Promo ção do Desenvolvimen to Humano integr al, Textos
Legislativos, Comunicação, (de alguns desses Dicastérios dep endem ou tras
Instituiçõ es, como p. exemp lo, ao Dicastério para a Doutrin a da Fé p ertencem a
Pontifícia Comissão Bíblica e a Comissão Teológica Internacional. Do Dicastér io para
os Bispos pertence a Pontifícia Comissão para a América Latina etc.).
Os Tribunais são três: Pen iten ciar ia Apostó lica; a Rota Roman a e a Assinatur a
Apostólica.
Os Ofícios são atualmen te três: Prefeitu ra da Casa Pontifícia, Ofício das
Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, Camerlengo da Santa Igreja Ro mana.
Existem organ ismos que, sem formar p arte da Cúria Romana, colaboram
estreitamen te com a Santa Sé, prestando ser viços qualificados (p. exemplo, o Arquivo
Secreto Vaticano, a Biblio teca Apostólica Vatican a, a Tipografia Poliglota Vatican a,
L´Osservatore Romano etc.).
Os Dicastérios estão comp ostos ordin ariamente por u m Cardeal Prefeito ou
Arcebispo Presid ente ; os membros, que são um grupo d e cardeais e alguns bispos,
especialmen te dio cesanos, das div ersas reg iões (conforme a natureza e competências
do dicastério podem fazer parte, sem ser prop riamen te membros, alguns clérigos e
fiéis); o Secretário e o Sub secretário ; e u m grupo de oficiais e consultores .
No desempenho de suas competên cias, que se delimitam por razão da matér ia, os
dicastér ios realizam diversos tipos d atividades (de coordenaç ão, consulta, de
assessoria, impulso, fomento, con trole, inf ormação etc.), também algumas ativid ades
decisórias, que imp licam o exercício de pod er de jurisdição, ordin ariamente execu tiva
no caso dos Dicastérios, ou judicial, no cas o dos tribunais. Os conse lhos, por sua vez
só tem funções consultiva. Nenhu m dicastér io tem pod er leg islativo ordinár io.
É norma constan te de atuação qu e os d icastérios não façam nad a importante ou
de extraordin ário sem co municar previamen te ao Romano Pontíf ice e qu e peçam a sua
aprovação par a as decisões de maior impor tância, se não tiverem receb ido previamente
especial mand ato pontifício.

7. OS LEGADOS PONTIFÍCIOS

Os legados do Romano Pontífice têm por ofício representá -lo estav elmente
perante as Igrejas p articulares, p erant e os Estados e as au toridad es públicas dos lugares
para onde foram env iados. O Papa tem o direito nativo, independ entemente d e qualquer
autoridad e, de design ar e enviar seus deleg ados (cf. cân. 362).
Esta antiquíssima função dos legados do Ro mano Pontífic e fo i revisad a a ped ido
do Concílio Vaticano II (cf. Christus Dominus, n. 9), para delimitá - la melhor, levando
em consideração a função p astoral própria dos bispos nas suas Igrejas particulares. A
revisão foi feita pelo Papa Pau lo VI median te o M.P. Sollicitudo omnium Eccles iarum ,
de 04 de junho de 1969, e cujas linhas fund amentais se encon tram nos cânones 362 –
367.
A regulamentação ora em vigor salien ta que fun ção principal dos legados
pontifícios é procur ar cad a vez mais sejam firmes e eficazes os laços de un idade entr e
a Sé Apostólica e as Igrejas particulares ( Cân. 364), en tre o Romano Pontíf ice e os
bispos.
Nesta faceta pr incip al d e sua missão se incluem as competências dos leg ados em
suas circunscrições : informar à Santa Sé especialmen te no que se ref ere à v ida da Igreja
e tamb ém d as almas nas Igrejas p articular es; oferecer ajud a e conselho aos b ispos;
manter frequ entes relações e colaboração de todo tipo com a conf erência episcopal;
transmitir e propor à Santa Sé os nomes dos candidatos ao ministér io episcopal e
concluir a instrução do processo infor mativ o prévio p ara a nomeação ; tr abalh ar jun to
com os bispos nas relaçõ es com as autor idades estatais, etc.
Especificamente em r elação aos B ispos os delegados pontifícios exer cem as
seguintes funções:
a. Prestam ajuda e conselho aos Bispos, sem interferir, todav ia, no poder destes
(cf. cân. 364, 2º).
b. Colaboram co m os Bispos a fim de que fomentem as oportunas relações entre
a Igreja católica e outras Igrejas ou comunidades eclesiais, in cluindo as
religiõ es não cristãs (cf. cân. 364, 6º).
c. Defendem junto co m os bispos, diante das autoridades estatais, tudo o que
pertence à missão da Igreja e à Santa Sé (cf . cân. 364, 7º).
Em relação às Conferências episcopais, exercem as seguin tes funções:
a. Mantem fr equentes relações com as Confer ências Ep iscopais d ando -lhes todo
o tipo de co laboração (cf. cân. 364, 3º).
b. Não são membros das Conferências Episcop ais (cf. cân. 450).
c. Devem estar presentes n a reunião in icial das Conferências episcopais e pode
participar das demais reuniõ es.
d. Deverão ser informados de tudo, e deve ser enviados a eles um ex emplar das
Atas das reuniões, par a conhecimento pesso al e poster ior remessa à Santa Sé.
Os legados por sua vez têm, normalmen te, a função diplomática de represen tar a
Sé Apostólica perante os Estados, de acordo com as normas do Direito Internacional
(cf. cân. 365).
Os delegados pontifícios se chamam:
Delegado Apostólico se ex erce a sua representação somente p erante as Igrejas
particu lares;
Núncio se ostenta simultaneame n te a repr esentação dip lomática diante do Estado
(ou dependendo da categor ia dip lomática da representação, Pró Núncio ou Inter
Núncio). O Núncio tem o grau de embaix ad or, com o direito anexo de ser o decano do
Corpo diplomático, enquanto o Pró Núncio tem o grau de embaixador, sem ser o decano
do Corpo diplomático. O Inter Núncio tem o grau de enviado extraordin ário e ministro
plenipotenciário. O Papa pode também designar também delegados que represen tam a
Santa Sé em organismos, conferências ou reuniões int ernacionais ou interv ém em
conferências ou congressos, quando a Santa Sé é membro destas organ izaçõ es e tem
direito a voto. Os o bservadores são também representan tes da Santa Sé,e fazem parte
de uma missão pontifícia jun to às organizaçõ es internacionais ou interv ém em
conferências ou congressos, mas não têm direito a vo to.
Normalmen te, os que se preparam par a desempenhar o ofício de legados
pontifícios, são sacerdotes procedentes de diversos países, e se formam na Pontifícia
Academia Eclesiástica Romana.

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