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RONDONÓPOLIS/MT
2021
José Carlos Junqueira de Araújo
Prefeito
Neuzeli Fuza
Gerente de Departamento de Gestão de Educação Inclusiva
Polo 4: Eunice Pereira De Moraes Silva; Ester Rodrigues da Silva Paz e Jaqueline Cardoso
da Silva Souza
UMEI Charmene Rosa
UMEI João de Paula Mendonça De Souza
UMEI Gabriel de Oliveira Dias
UMEI Monteiro Lobato
EMEI Elaine Aparecida de O. Lopes
CMEI João Lopes da Silva
EMEFR Fazenda Carimã
Redatores da Proposta
Angela Nascimento Ferreira
Cind Stábile Piovezan
Cláudia do Nascimento e Silva
Dulcilene Rodrigues Fernandes
Ednéia Maria De Oliveira Andrade
Eliane Amorim
Ester Rodrigues da Silva Paz
Eunice Moraes
Francyslene Pereira Neves
Jacirene Lima Pires dos Santos
Jaqueline Cardoso da Silva Souza
Joelma Florença de Souza Constantino
Joziane Lopes dos Santos
Keila Pereira da Silva
Laudinéa de Souza Rodrigues
Maria Aparecida Rossato
Maria Do Carmo Ferreira dos Santos Silva
Marcelo Alves Terena Coguiepa
Márcia Regina Araújo De Brito
Michele Cristina Ferreira Pombo
Paola Simone Silveira de Santana
Patrícia Kenf Gomes de Walle
Rejane Beatriz Souza Weber Cavalcante
Rosely Santos de Almeida
Sandra Celso de Camargo
Silvani Pereira de Oliveira
Solange Dourado da Silva Souza
Revisão Técnica
Cláudia Aparecida do Nascimento e Silva
Jacirene Lima Pires Dos Santos
Jaqueline Cardoso da Silva Souza
Joziane Lopes dos Santos
Keila Pereira da Silva
Marta Crysllayne Santos Fernandes
Pâmela Stacy Morais Duarte
Revisão Ortográfica
Roseli Batista de Jesus
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O Documento contempla as competências gerais discriminadas pela Base
Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017); o currículo organizado por campos de
experiências, com seus objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, para garantir
os direitos de aprendizagem de todas as crianças, bem como os currículos e as
orientações curriculares da Rede Municipal de Educação (PMEI, 2016) e da Rede
Estadual de Ensino (DRC, 2018).
A DCMEI ―A criança como Protagonista‖ define e explícita a todos os
profissionais da Educação Infantil, que atuam no Município, o conjunto de saberes
essenciais para a aprendizagem e o desenvolvimento integral de todas as crianças,
em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social (ART. 29 – LDB/1996).
A DCMEI está organizada e 03 (três) capítulos, sendo: 1. As concepções
pedagógicas dialogando com a Educação Infantil; 2. Organização curricular para a
Educação Infantil: explicitando princípios e concepções; 3. Organização pedagógica
na Educação Infantil: democratizar a gestão para compreender a função social da
instituição.
A DCMEI representa um passo decisivo no processo de melhoria da
qualidade da Educação Infantil no município de Rondonópolis, na garantia da
formação continuada dos/das docentes, na produção de recursos didáticos, na
matriz curricular e no estabelecimento de critérios para a oferta de infraestrutura
adequada ao pleno desenvolvimento da educação de todas as crianças.
Espera-se que o Documento oriente a (re)elaboração do Projeto Político
Pedagógico (PPP) de cada instituição de maneira que se perceba, no seu interior a
criança como centro de todo o processo; o currículo holístico, apoiando o seu
desenvolvimento e sua aprendizagem; as interações e brincadeira e os direitos de
aprendizagem e desenvolvimento sendo garantidos e compreendidos em todos os
espaços da Educação Infantil.
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PALAVRA DAS COORDENADORAS DO COMITÊ ESTRATÉGICO DOS ESTUDOS
CURRICULARES DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO MUNICÍPIO DE
RONDONÓPOLIS/MT
Prezado(a) Docente,
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Espera-se que este Documento seja vivenciado em todas as instituições
educacionais, que colabore para mais avanços nessa primeira etapa da Educação
Básica e na formação de todas as nossas crianças como:
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INTRODUÇÃO
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Esses dados ressaltam, por um lado, o desafio enfrentado pelo município
para assegurar educação de qualidade a todas as crianças matriculadas na
Educação Infantil e, por outro, a importância que a DCMEI representa para a
garantia de um patamar comum de desenvolvimento e aprendizagens.
O município de Rondonópolis, desde a década de 1990, já disponibiliza
documentos orientadores e sinalizadores para a construção de uma Diretriz
Curricular para a Educação Infantil. Em 1995, foi elaborado um manual informativo
para as creches municipais, configurado como um documento de orientações e
normas que deveriam ser respeitadas pelos pais e profissionais envolvidos com o
trabalho nas creches (RONDONÓPOLIS, 1995).
Em 1998, foi disponibilizado um documento intitulado ―Programa Pré-Escolar:
uma alternativa para a Educação Infantil‖, com o objetivo de subsidiar teoricamente
a prática pedagógica dos professores.
Pautada na ideia de que ―[...] o processo de desenvolvimento e
aprendizagens infantil pressupõe oportunidades e situações que vão além dos
cuidados assistencialistas‖, no ano de 2004, o município lança a Proposta de Diretriz
Curricular Municipal para a Educação Infantil e, em 2016, o município começou a
implementar a Política Municipal de Educação Infantil ―Construindo Caminhos‖.
Estes documentos políticos apresentam como proposição a organização da
Educação Infantil em Ciclos de Formação Humana, os quais se configuram como
sendo ―[...] uma procura, nada fácil, de organizar o trabalho, os tempos e espaços,
os saberes, as experiências de socialização da maneira mais respeitosa para com
as temporalidades do desenvolvimento humano‖ (ARROYO, 1999, p. 158).
Conceber a Educação Infantil na perspectiva dos Ciclos de
Formação Humana requer uma nova organização do tempo: o tempo destinado às
jornadas que desenham a rotina pedagógica, o uso dos diferentes espaços, a
seleção das propostas e recursos em um único ciclo: a Infância, conforme
sintetizados no quadro abaixo:
1º CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA: INFÂNCIA (CRIANÇAS DE 0 A 8 ANOS)
CRECHE IDADES CORRESPONDENTES
1º Agrupamento Bebês de 6 meses a 1 ano e 11 meses
2º Agrupamento Bebês de 2 anos e crianças de 2 anos e 11 meses
3º Agrupamento Crianças de 3 anos a 3 anos e 11 meses
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PRÉ-ESCOLA IDADES CORRESPONDENTES
4º Agrupamento Crianças de 4 anos e 11 meses
5º Agrupamento Crianças de 5 anos e 11 meses
(Quadro oriundo da Matriz Curricular da Educação Infantil – CME/2019)
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seminários, oferecendo formações e produzindo o documento como demonstra-se a
seguir em ordem cronológica:
2018: Promulgação do DRC/MT: diretrizes para o processo;
2019: Criação do Comitê Estratégico; Formação dos Polos e do Grupo de
Redatores; Encontros do comitê com a Profª Brígida Couto na
SEDUC/Cuiabá; Reuniões com os Redatores nos Polos; Seminário no
Centro Integrado de Ensino (CIE) para discussão do DRC/MT; Dia ―D‖ do
DRC/MT em toda a RME; Seminários na Escola Sagrado Coração de Jesus
e na SEMED para construção do Sumário; Seminário durante a Semana da
Educação Infantil para discussão do aporte teórico da Diretriz, no CIE
(foram 12 grupos de trabalho);
2020: Encontros nos Polos para leitura dos documentos políticos; Encontros
dos Redatores com o Comitê na SEMED, para apresentar propostas de novos
sumários, nova organização curricular, assim como a readequação, revisão
ou exclusão de temas da PMEI (2016) no documento. Na Pandemia, os
encontros foram online com os coordenadores de Polos e Comitê:
organização dos capítulos e preparação do documento para a consulta
pública; Consulta Pública, online, com a participação todas as instituições que
oferecem Educação Infantil; Conselho Municipal de Educação e sociedade
civil organizada; Organização do Dia ―D‖ da DCMEI para recebimento das
contribuições: 98% de devolutivas do documento; Encontros online entre
Comitê e Coordenadores de Polos para analisar as contribuições,
observações e sugestões apresentadas pelos consultores, incorporando
aquelas consideradas pertinentes segundo os critérios utilizados na consulta
pública; Fórum Municipal de Educação Infantil para apresentação da primeira
versão da DCMEI para a sociedade pelo Conselho Municipal de Educação.
2021: Após o Fórum, os Redatores do Comitê Estratégico receberam o
documento avaliado e aprovado pelo Conselho Municipal de Educação;
analisaram as contribuições, observações e sugestões apresentadas pelo
Conselho e reorganizaram os textos. Em seguida, o documento foi
encaminhado para a correção gráfica, para a diagramação e entregue para a
Presidente do Comitê Estratégico, Profª Dra. Roseli Batista de Jesus.
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Faz-se necessário destacar a importância do sistema de colaboração entre as
diferentes redes na implementação da DCMEI (2021), a exemplo do que já ocorreu no
processo de sua elaboração, para que a Educação Infantil continue como referência
quanto à garantia do conjunto das aprendizagens essenciais a todas as crianças.
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1. AS CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS DIALOGANDO COM A EDUCAÇÃO
INFANTIL
Há escolas que são gaiolas e há escolas que
são asas. Escolas que são gaiolas existem para
que os pássaros desaprendam a arte do vôo.
Pássaros engaiolados são pássaros sob
controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los
para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre
têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque
a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que
são asas não amam pássaros engaiolados. O
que elas amam são pássaros em vôo. Existem
para dar aos pássaros coragem para voar.
Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer,
porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O
vôo não pode ser ensinado. Só pode ser
encorajado (RUBEM ALVES, 2009).
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educacionais, de acordo com os conceitos construídos pelos documentos políticos 1
que o sustentam teoricamente.
O principal propósito dessas concepções curriculares, neste documento, não
é o de estabelecer definições padrão, mas apresentar um conjunto de conceitos que
possam ser usados para estimular a reflexão entre todos os envolvidos no
desenvolvimento curricular. Tendo em vista a necessidade de conexão entre
conceitos e prática, as concepções podem contribuir para uma reflexão produtiva no
âmbito do planejamento e das práticas sobre o papel da terminologia curricular na
promoção de melhorias significativas nas nossas propostas curriculares.
Compreender e viver esses conceitos na Educação Infantil é de fundamental
importância para a construção de uma prática pedagógica que vislumbre as crianças
como protagonistas e assim contribua para o seu desenvolvimento integral e para a
promoção de vivências e experiências significativas. São eles:
Infância: A forma específica de conceber, produzir e legitimar as
experiências das crianças. É uma categoria construída a partir do
contexto social, histórico e cultural em que cada criança se encontra e
deve ser considerada dentro de uma perspectiva plural e flexível, já que
há muitas formas de vivê-la. Fala-se em infâncias no plural, pois elas são
vividas de modo muito diverso. Ser criança não implica em ter que
vivenciar um único tipo de infância. As crianças, por serem crianças, não
estão condicionadas as mesmas experiências (BARBOSA, 2009).
Criança: É um ser-sujeito potente, com competências diversificadas que
interage em seu ambiente e com seus parceiros (outras crianças e
adultos) e aprende na e pela experiência. Como protagonista de seu
viver, cada criança traz consigo múltiplas possibilidades de construir
significados, atribuir sentidos sobre si, sobre o outro e sobre o mundo.
Assim, afirma-se a concepção de criança como sujeito de direitos, de
forma que, nas Instituições de Educação Infantil, a criança deve ser o
centro do planejamento curricular. Segundo as DCNEI (2009) as crianças
1
Diretriz Curricular Nacional da Educação Infantil (DCNEI, 2010); Diretriz Curricular Nacional da Educação
Básica (DCNEB, 2013); Política Municipal de Educação Infantil ―Construindo Caminhos‖ (PMEI, 2016); Base
Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil (BNCC, 2017); Documento de Referência Curricular de
Mato Grosso (DRC, 2018).
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são ―[...] sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e
práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e
coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta,
narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade,
produzindo cultura‖ (BRASIL, 2009, p.97).
Educação Infantil: É um lugar de promoção de encontros das crianças e
entre crianças e adultos, para juntos compartilharem saberes e
experiências educativas próprias de seu processo de desenvolvimento,
em prol da construção de aprendizagens sobre si, sobre o outro e sobre o
mundo. Tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de 0
(zero) a 05 (cinco) anos de idade. Nesta etapa, deve-se assumir a
educação e o cuidado de todas as crianças, nas diferentes faixas etárias,
valorizando a aprendizagem por meio de atividades lúdicas que envolvam
experiências com jogos, brincadeiras e o imaginário infantil, quebrando o
vínculo com a concepção assistencialista e conteudista ao desenvolver
suas ações de educar e cuidar que são elementos indissociáveis no
processo educativo (MATO GROSSO, 2018).
Acolhimento: A compreensão do cuidar do outro na dimensão da empatia:
preocupação com o outro; aceitar o outro em sua inteireza; ser sensível
ao outro; chamar pelo nome; tocar com suavidade; está aberto ao outro
construindo vínculos numa relação de confiança e escuta se colocando,
sempre na perspectiva da criança.
Cuidar e Educar: são processos indissociáveis que promovem o
acolhimento e a valorização dos conhecimentos que as crianças trazem
do ambiente familiar e da comunidade; impregnam a ação pedagógica de
consciência, afeto, respeito e responsabilidade; permitem a compreensão
e o respeito às peculiaridades e às diversidades da Infância (MATO
GROSSO, 2018).
Interação: A concepção de interação é concebida como as possíveis
trocas de ações entre as crianças, os adultos e/ou desses com materiais
físicos em diferentes situações. É nesse movimento entre os pares que
são construídas as culturas infantis. A interação torna-se significativa na
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troca, na partilha social entre as crianças e os adultos em relação aos
objetos, experiências, conhecimentos, sentimentos e acontecimentos.
Brinquedos e Brincadeira: O brincar é a forma usada pela criança para se
expressar, se interagir, ampliar as experiências, aprender a lidar com o
mundo que a cerca e formar sua personalidade, recriando situações do
seu cotidiano. Ao brincar, a criança assume um papel importante, pois ela
age sobre a realidade assumindo divers papéis, assim ela desenvolve
muitas aprendizagens. O brinquedo educativo ganha força com a difusão
da Educação Infantil, principalmente nos tempos atuais. Entendido como
recurso que facilita a aprendizagem, ensina e educa de forma prazerosa,
além de contribuir para o desenvolvimento da criança (KISHIMOTO,
2011).
Intencionalidade Pedagógica: Essa intencionalidade consiste na
organização e proposição, pelo educador, de experiências que permitam
às crianças conhecer a si e ao outro e de conhecer e compreender as
relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que
se traduzem nas práticas de cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se,
higienizar-se), nas brincadeiras, nas experimentações com materiais
variados, na aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas
(BRASIL, 2017).
Aprendizagem: Concebida na Educação Infantil como processo
psicossocial complexo e de longo prazo que consiste na aquisição ou na
modificação individual de informações, conhecimentos, compreensão,
atitudes, valores, habilidades construídas por meio de experiência, pelo
qual a criança interage com o objeto e com o meio, que pode ser algo
material, situação e/ou outra pessoa, respondendo para si mesma os
desafios provocados por essa interação.
Autonomia: Capacidade de tomar e conduzir iniciativas próprias em
relação ao próprio corpo, às atividades motoras, cognitivas e lúdicas
conduzindo-as até o fim e/ou procurando a ajuda de um adulto ou de um
parceiro, sempre que sentir necessidade. Não é um fator inato nas
crianças. Ela é constituída a partir do estabelecimento de relações
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sociais, onde a mesma é instigada a compreender a natureza da
sociedade e a interagir com o outro e com o conhecimento.
Currículo: Concebido como um conjunto de práticas que buscam articular
as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que
fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e
tecnológico da sociedade, por meio de práticas planejadas e
permanentemente avaliadas, que estruturam o cotidiano das instituições
de Educação Infantil (MATO GROSSO, 2018). As práticas curriculares na
Educação Infantil não possuem a ideia de listas de conteúdos
obrigatórios, disciplinas estanques e atividades regidas pelas datas
comemorativas, as quais nem sempre atribuem valor formativo e nem
significado para as crianças.
Currículo Inclusivo: Currículo que leva em consideração e atende
necessidades diversas, experiências prévias, interesses e características
pessoais de todas as crianças, visando assegurar que todas as crianças
participem de experiências de aprendizagem compartilhadas na sala de
referência e que sejam oferecidas oportunidades iguais,
independentemente das diferenças entre elas.
Planejamento: É um recurso que assinala a intenção do professor na
organização dos tempos e espaços no dia a dia das instituições
educativas. Ao planejar as atividades pedagógicas, o professor precisa
entender a criança como centro do planejamento curricular, protagonista
do processo de construção de conhecimento, bem como considerar suas
interações, manifestações e seus interesses, associadas ao educar e
cuidar, à ludicidade, à interação e à brincadeira. É fundamental garantir os
eixos interações e brincadeiras, articulados aos direitos de aprendizagem
e as experiências entre os diferentes campos (MATO GROSSO, 2018).
Essa perspectiva de planejamento se torna possível quando se
compreende que educar e cuidar nas instituições de Educação Infantil
envolvem questões éticas, políticas e culturais que exigem reflexões
completas, complexas e críticas.
Organização do Trabalho Pedagógico: O Tempo e o Espaço – o trabalho
pedagógico na Educação Infantil precisa propiciar às crianças
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experiências cotidiana que ampliem e diversifiquem o que já vivenciam no
dia a dia em casa. As instituições educacionais precisam: garantir a
indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva,
linguística, ética, estética e sociocultural da criança; considerar a
diversidade étnico-racial e histórico-cultural mato-grossense, as diferentes
deficiências, Espectros Austistas e as Altas Habilidades (MATO GROSSO,
2018).
Educadores da Infância: São os/as docentes, estagiários e profissionais
de apoio educativo, que têm o papel de estar junto às crianças,
observando-as, apoiando-as em seus processos de aprendizagens e
compreendendo seu desenvolvimento, de forma a responder
adequadamente às suas necessidades. Os profissionais da educação
necessitam reconhecer as capacidades das crianças, compreendendo-as
como sujeitos potentes e que constroem conhecimentos pela interação.
O Processo de Transição das Crianças: São processos transitórios de
casa para a instituição de Educação Infantil; transições no interior da
instituição; transição da Creche para a Pré-escola; transição da Pré-
Escola para o Ensino Fundamental.
A parceria com as famílias: A parceria promove vínculos que favorecem
um clima de respeito mútuo, de confiabilidade e de trabalho colaborativo.
É preciso ações e projetos de integração entre famílias e instituições
educacionais (MATO GROSSO, 2018).
Avaliação na Educação Infantil: De acordo com a Lei nº 12.796 /2013 (Art.
31 da LDB), a avaliação na Educação Infantil deve servir para o
acompanhamento e o registro sobre o desenvolvimento das crianças,
desvinculada da sua promoção ou retenção. Tem a finalidade de
investigação e de acompanhamento e não o julgamento das crianças, uma
vez que o processo de conhecimento e aprendizagem é gradativo. Não
deve assumir fins de seleção e classificação, muito menos uma prática
para avanços de estudos. Não devem existir práticas inadequadas de
verificação da aprendizagem, tais como: perfis de entrada e saída e
provinhas para as crianças como condição para aprovação, retenção ou
acesso ao Ensino Fundamental.
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Nesse contexto, a Educação Infantil assume, historicamente, concepções
diversas em relação a sua finalidade e função social. Nessa premissa, a infância é
algo que se constrói permanentemente, ela se modifica de acordo com a cultura
onde está inserida e o processo histórico de mudanças e reconhecimento.
As culturas da infância passam a ter importância central nas vivências da
Educação Infantil, assim como os direitos infantis respeitados: como o brincar e tudo
que diz respeito à cidadania da criança, diversidade cultural, afetividade e os modos
infantis de compreensão do mundo.
A complexidade da existência infantil exige, sobretudo, que os pesquisadores
da infância e as instituições de Educação Infantil, considerem as crianças como
sujeitos de direitos. Assim, o processo educativo precisa ser construído na
perspectiva da criança como centro do processo educativo.
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A especificidade do caráter educativo das instituições de Educação Infantil foi
historicamente construída, a partir de diversos movimentos em torno da criança, de
diferentes segmentos da sociedade civil e organizada, determinados pelas grandes
transformações, principalmente pela inserção das mulheres no mercado de trabalho
nos centros urbanos, na sociedade em geral e na família em especial.
33
um grupo humano que não caracteriza pela imperfeição,
incompletude ou miniaturização do adulto, mas por uma fase
própria do desenvolvimento humano (SARMENTO, 2007, p. 28).
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Nesse mesmo caminho da mobilização, a Lei 8.069/90 de 13 de julho de
1990, foi aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal, foi
criada visando regulamentar os direitos constitucionais da criança e do adolescente.
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atendimento, a indissociabilidade entre o cuidar e o educar e a obrigatoriedade de
supervisão e regulação pelos Sistemas de Ensino.
As DCNEIs (2010), caracterizam a Educação Infantil como:
Este texto está ancorado na sociologia da infância que coloca a criança como
―ator social‖, considerando que a criança não é somente uma extensão do adulto.
Neste sentido, o lugar da criança na DCNEI tem relação com a infância segundo o
entendimento de Sarmento (2004), que a concebe como um entre–lugar, isto é,
aquilo que é legado pelo adulto e aquilo que é reelaborado pela criança, numa
dinâmica de transformação contínua.
É necessário dialogar sobre a infância na sociedade contemporânea, para
refletir sobre as mudanças ocorridas que afetam diretamente o ensino formal das
crianças, neste contexto, segundo Ariès apud Sarmento (2004, p. 3) a ―[...] ideia de
infância é uma ideia moderna‖, pois o reconhecimento desta categoria foi resultado
de uma trajetória de concepções sobre as crianças e sobre os papéis que deveriam
ocupar na sociedade.
Alguns fatores institucionalizam a infância no início da modernidade, com a
institucionalização da escola pública e, escola para todos.
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É preciso ressaltar que a comercialização de artefatos infantis tem contribuído
para as concepções de uma infância globalizada na sociedade contemporânea: as
crianças de todas as partes compartilhando os mesmos jogos, brincando com os
mesmos brinquedos, comendo as mesmas coisas ou vestindo as mesmas roupas,
são exemplos que fazem parecer que há apenas uma infância e que todas as
crianças são iguais. Contudo, a sociologia da infância, explicada pela cultura de
pares, segundo Corsaro (2009), os modos de reinterpretação das crianças não são
os mesmos.
Nossas crianças não são objetos estáticos, por isso precisamos considerar a
multiculturalidade e o poder de reprodução interpretativas delas, diante destas
mudanças que a sociedade contemporânea é submetida, neste sentido, é preciso
questionar: quem é a criança da Educação Infantil no município de Rondonópolis?
Esta criança está vivendo em plenitude sua condição de sujeito social? Como
oportunizar sua participação ativa na Educação Infantil?
A partir da sociologia da infância, foi possível descobrir que a criança produz
cultura, sua essência está no fato de que interpreta e ressignifica a cultura dos
adultos, o que não se trata de imitação, mas de autonomia, tendo em vista que dão
seus próprios sentidos às coisas. E este processo precisa ser valorizado pelos
adultos que atuam na Educação Infantil, para que haja a apreensão criativa da
cultura conhecida como ―mundo da fantasia‖.
Na construção do Projeto Político Pedagógico para a Educação Infantil é
preciso reconhecer, valorizar e priorizar as características das culturas infantis com
relação aos adultos, para que a criança seja entendida como centro desta
construção dialógica.
Sarmento (2004) utiliza a metáfora gramatical para explicar as variáveis
dentro das culturas infantis: a semântica estuda as mudanças que as palavras
sofrem ao longo do tempo. Na expressão ―era uma vez‖ a criança está se referindo a
um tempo recursivo, não necessariamente ao passado; a sintaxe nesta linha de
pensamento articula o real ao imaginário, a criança pode ser mamãe, depois o filho,
o papai e até mesmo um animal; e a morfologia, as culturas infantis possui
elementos específicos seja nos rituais, nas brincadeiras ou nas palavras. Por
exemplo, o cavalo de pau não é apenas um objeto de madeira, ele assume forma
real e significados dentro da especificidade da cultura infantil.
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O autor traz um desafio científico que deve impreterivelmente seguir os eixos
estruturados das culturas da infância na tentativa de compreender seus princípios
geradores e as suas regras. Entre os eixos estão:
A interatividade – todas as relações que a criança estabelece, seja com
a família, comunidade local, escola ou com seus pares, contribuem para a
formação da identidade pessoal e social dela;
A ludicidade – o brincar, apesar de não ser algo específico da criança,
haja vista que é uma atividade social pertencente ao homem, não deixa
de ser o cerne do conceito de infância, por meio da brincadeira é possível
criar vínculos tanto com seus pares, quanto como os adultos, por este
motivo, a observação do/a professor (a) enquanto a criança brinca é tão
importante, uma vez que a elaboração das atividades lúdicas devem
atender as demandas da criança e não o contrário, este eixo é
fundamental no desenvolvimento de uma infância saudável, o contexto
educativo deve oferecer instrumentos como brinquedos, jogos, parques
ao ar livre, além de espaços e tempo adequados para o brincar como
prioridade da Educação Infantil;
A fantasia do real – permite que as crianças sejam sujeitos atuantes em
seus mundos de vida, pois lançam mão de aspectos cognitivos nessa
dinâmica de apropriarem-se do real para criar suas próprias maneiras de
ser e estar no mundo e de lidar com universos diferentes através da
fantasia;
Reiteração – as repetições não são apenas estratégias que as crianças
utilizam para dominar alguma coisa, mas pelo prazer da experiência de
fazer cada vez mais e com mais intensidade, sentindo-se vitoriosas por
isso.
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meramente uma imitação do universo adulto, visto que elas aprendem criativamente
a cultura e dão novos significados, significados próprios e singulares.
Embora reconhecida como direito de todas as crianças e dever do Estado, a
Educação Infantil passa a ser obrigatória para as crianças de 4 e 5 anos apenas
com a Emenda Constitucional nº 59/2009, que determina a obrigatoriedade da
Educação Básica dos 4 aos 17 anos. Essa extensão da obrigatoriedade é incluída
na LDB (9.394/1996) em 2013, consagrando plenamente a obrigatoriedade de
matrícula de todas as crianças de 4 e 5 anos em instituições de Educação Infantil.
Pensar a criança como centro da política pedagógica no município de
Rondonópolis/MT é um exercício permanente na formação contínua, considerando
que a vivência educacional está em consonância com a Lei nº 8.069, de julho de
1990, no Estatuto da Criança e do Adolescente em seu Artigo 3º:
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brinquedoteca, videoteca, parques infantis, quadras poliesportivas, refeitórios,
dentre outros espaços; ora como espaços das crianças, pensados,
organizados e otimizados para as crianças em seu tempo de vida.
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possível encontrar os professores com Magistério. Nas creches eram contratados os
pajens, profissionais leigos e que em alguns casos nem possuíam o Magistério.
A partir de 1988, a Secretaria Municipal de Educação inicia os testes seletivos
para contratação de professores especificamente formados. Com isso, as creches
também passam a ter profissionais formados em áreas específicas, e a partir de
então os pajens necessitam possuir formação mínima para o magistério ou ensino
médio.
Em 1993, é realizado o concurso público para professores e, em 1999,
acontece a primeira alteração no termo usado para os pajens, sendo agora
conhecidos por Docentes de Educação Infantil. Em 2011, todos os envolvidos na
educação passam a ser tratados como Profissionais da Educação Infantil.
Além da figura do professor, no ano de 2006, aconteceu o primeiro concurso
público para Auxiliar de Higienização e Apoio ao Docente. Este profissional tem a
função de auxiliar o professor em todas as ações desenvolvidas com as crianças. No
ano de 2018, mudou-se a nomenclatura deste cargo para Assistente de
Desenvolvimento Educacional.
Para suprir a demanda destes profissionais, haja vista, que em cada Sala de
Referência deveria tem um Professor, a Rede Municipal de Ensino de Rondonópolis,
amparada pela Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008, passou a contratar
estagiárias (estudantes de Pedagogia) para assumir essa função.
As ações que permeiam a Educação Infantil do município estão embasadas
na LDB 9394/96, bem como nos fundamentos na Diretriz Curricular Municipal
(2004); das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil - DCNEI (2009),
na Política Municipal de Educação Infantil ―Construindo Caminhos‖ (PMEI, 2016), na
Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), no Documento de Referência
Curricular de Mato Grosso (DRC, 2018) nos quais são preconizados os princípios
éticos, estéticos e políticos, que regem toda prática pedagógica:
Princípios Éticos: promover o respeito, a reflexão sobre a singularidade
do outro, suas vivências, diferenças, colocando em prática a empatia.
Vivenciar as diversas manifestações artísticas e culturais, respeitando a
diversidade social, cultural, e de gênero. Estimular a autonomia da
criança, a solidariedade, o cuidado com o meio ambiente.
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Princípios Estéticos: Promover o respeito e a valorização da criatividade,
a diversidade cultural, artística e lúdica. Estimular a sensibilidade e a
autoestima, organizando um ambiente com situações desafiadoras e ao
mesmo tempo estimulantes para que a criança tenha acesso às
experiências diversas.
Princípios Políticos: promover ações que estimulem a criança ao exercício
da cidadania, para que ela possa compreender seus direitos e deveres,
ajudando a desenvolver um cidadão crítico, que possa participar das
discussões, ouvir o outro, aprender a respeitar e assim trabalhar junto na
busca pelo bem coletivo.
Os documentos políticos que fundamentam a Educação Infantil provocam
uma significativa reflexão em torno da prática pedagógica na Educação Infantil,
levando a repensar o planejamento, bem como a relação estabelecida com as
crianças, pois compreender a criança como sujeito histórico e de direitos, produtora
de cultura, remete a um trabalho educacional diferenciado.
No município, a Educação Infantil é pensada na perspectiva da
complementariedade e da continuidade, tendo em vista que os primeiros anos de
vivências neste lugar são momentos de intensas aprendizagens e desenvolvimento
para as crianças, que interagindo com o outro, interage com a complexidade de sua
cultura.
Na representação social sobre a criança, esta é reconhecida como sujeito de
direitos ampliam-se, também as funções da Educação Infantil e, consequentemente,
a função dos adultos responsáveis pelo seu desenvolvimento: no plano da gestão
municipal, dos docentes, dos demais profissionais e da família.
Nessa perspectiva, é importante compreender que não há ―uma só criança‖
ou ―uma só infância‖, mas sim crianças produtoras de cultura e protagonistas. Assim,
é preciso valorizar as culturas da infância, assegurar e defender os direitos das
crianças, que são os de aprender e desenvolver-se por meio das experiências e
vivências peculiares da infância, compreendendo suas singularidades, conforme
este documento.
46
1.4 Criança, Infância e Educação Infantil: o repensar as questões das
infâncias/crianças nos espaços destinados a elas
A Educação Infantil percorreu um longo caminho até adquirir a forma que hoje
se tem. Atrelada à história da mulher, da criança no Brasil e no mundo, esta etapa
passou de uma situação de desconsideração à esfera de garantia de direitos sociais,
a partir da compreensão da criança como sujeito de direitos. Por meio de lutas e
conquistas, especialmente nos últimos 20 anos diversas políticas públicas e ações
não governamentais ligadas a movimentos de resistência aos diferentes setores
sociais são desencadeadas na direção do direito à educação das crianças
pequenas, segundo Kramer (2006), Pereira (2016), Kulhmann (2000) e Sarti (2004).
As discussões sobre a infância, que chegam ao século XXI, no Brasil,
adquirem status de ciência ao contemplá-la enquanto tempo social de vida da
criança, que possui especificidades temporais com distinções territoriais, de usos e
costumes e contornadas pelas diferentes culturas. Neste sentido, pode-se
considerar que as discussões sobre a infância respaldam as políticas ―afirmativas‖,
que contemplam a criança enquanto sujeito histórico e de direito que se constituem
nas interações com seus pares, com os adultos e o meio em que se inserem,
conforme Azevedo e Sarat (2015).
Para Barbosa e Oliveira (2016), os protagonismos infantis permitem pensar a
criança enquanto ser que se desenvolve e aprende pelo envolvimento intenso que
este tem com o mundo que se apresenta diante de si. O exercício pleno da
cidadania das crianças se dá na oportunidade desta descobrir o mundo que o cerca
da sua forma, através das experimentações, das brincadeiras, dos medos, dúvidas e
47
anseios diante do cotidiano que se apresenta para si, como algo novo e diferente,
que se renova pelo seu olhar de criança.
As crianças se desenvolvem quando lhes são oportunizados vivenciar e
experienciar nos diferentes tempos e espaços nos quais se encontram com
autonomia, respeito, guarda e zelo pelos adultos que se propõe a educar e cuidar
das mesmas, seja nos espaços institucionais públicos, seja nos espaços privados
(junto aos seus familiares/cuidadores).
Ancoradas em Barbosa e Oliveira (2016), este entendimento de que a criança
é sujeito de direito inaugura uma nova fase de compreensão do que se entende por
infância, criança, Educação Infantil, bem como pelos profissionais desta etapa, pois
muitas lutas foram/são travadas pelos que defendem a causa das crianças e
infâncias nos diferentes lugares do mundo, para que estas sejam pensadas,
respeitadas na sua condição de criança, que pensa, age, reage de modo muito
subjetivo, intenso e surpreendente, não cabendo nos rótulos e desejos projetados
pelos adultos.
Para Aquino (2017), a criança deve ser pensada enquanto ser do inédito, do
inesperado. Surpreendente, se descobre no cotidiano planejado e intencionado pelo
adulto (pais, cuidadores, professores, auxiliares), necessitando ser respeitada,
estimulada, encorajada, fortalecida, amada, questionada, instigada de maneira a
descobrir-se em cada desafio proposto do seu cotidiano, que lhe permita
desenvolver-se integralmente, longe das interferências do mundo que o cerca
(violência física e mental, exposição a risco e perigo entre outros).
As lutas em torno do entendimento de que a Educação Infantil necessitam de
políticas educacionais mais consistentes, para atingir a qualidade necessária ao
atendimento, desenvolvimento integral das crianças enquanto investimento social
ainda está longe do ideal social. Enquanto política social, investir na infância é
possibilitar, a longo prazo, qualidade de vida aos diferentes grupos etários, visto que
é na infância que se edificam hábitos, valores e condutas.
Segundo Àries (1981), desde a Antiguidade, passando pela Idade Média e
pelo período que ficou marcado pelo abandono de crianças na ―roda dos expostos‖
crianças e mulheres foram tidas como seres inferiores, frágeis e com poucas
possibilidades de inserção social, de modo que quase não há registros sobre a vida
desses dois grupos na literatura, porém a história revela que reconhecer a criança
48
enquanto ser que precisa ter seus direitos preservados, assegurados e vivenciados
é uma tarefa árdua para os governantes, entidades governamentais ou não.
De sujeitos de pouca visibilidade, de não cidadãos, até se tornarem sujeitos
de direitos foram séculos de história, de negações, de contradições. O repensar as
questões das infâncias/crianças nos espaços destinados a elas se reconfigura com o
processo de redemocratização do país a partir da promulgação da Constituição
Federal de 1998 (BRASIL, 1998). Os direitos ao atendimento em creches e pré-
escola tornam-se legitimados através do Art. 205:
1.5 A Educação infantil dos bebês e das crianças: mas, afinal, quem são os
bebês?
50
O Plano Nacional de Educação (LEI 10.172 DE 09 DE JANEIRO DE 2001)
corrobora com esse pensamento, dando grande notoriedade e reforçando em suas
diretrizes a importância dos primeiros anos de vida e afirma que:
Inúmeros estudos nas últimas décadas vêm apontando uma nova visão sobre
o comportamento e desenvolvimento dos bebês. Estes evidenciam que os bebês
são muito ativos, agentes de seu desenvolvimento por meio de suas capacidades
sensoriais, perceptivas e psicomotoras.
Os bebês manifestam seus sentimentos e sensações ao outro a partir de seus
movimentos e gestos. É por meio da corporeidade que incialmente os bebês se
comunicam e descobrem o mundo. Neste sentindo, as vivências e experiências que
são promovidas para as crianças nas instituições de educação, são
importantíssimos para o desenvolvimento do bebê. Para tanto, é fundamental que os
docentes planejem distintas oportunidades para que os bebês realizem novas
experiências.
51
As instituições de Educação Infantil devem considerar as capacidades dos
bebês, fase da vida em que a criança está descobrindo tudo à sua volta, desde as
relações iniciais com adultos e com as outras crianças, como também as suas
capacidades de aprender andar, comunicar-se, pois o bebê, desde o nascimento,
em vez de estar centrado sobre si mesmo, engaja-se em trocas emocionais
significativas com seus cuidadores.
52
Assim, os bebês utilizam suas múltiplas linguagens para explorar o mundo que os
cerca.
Neste processo, ocorrem também as interações, onde permitem aos bebês
ampliar seus conhecimentos e desenvolvimento a partir da interação com outros
bebês, crianças e adultos. Assim, ocorre a comunicação entre os bebês usando
diferentes formas de linguagem. Desde bem pequenas, as crianças pensam e
comunicam-se com o outro, tentando chamar sua atenção por meio de balbucios,
gestos, olhares, expressões entre outros modos. Nessa perspectiva pode-se afirmar
que:
56
Quanto aos espaços em que os bebês e as crianças vão ampliar suas
culturas, devem estar alinhados ao Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição
e devem ser planejados para atender suas especificidades, de modo que os
ambientes, mobiliários, brinquedos e objetos de pertencimentos das crianças, entre
outros sejam cuidados (higienizados) e que sirvam de bases de possibilidades e
estímulos prazerosos, desafiadores e significativos; que considerem o bebê e as
crianças pequenas como parte dessa organização social e cultural, favorecendo as
interações e brincadeiras entre eles, com os adultos e a multiplicidade de
oportunidades e o trânsito deles entre os ambientes e espaços mediados pelos
profissionais, com intencionalidades educativas no princípio da ludicidade e em
alguns momentos deixando-os livres para as escolhas e explorações.
Wallon (1989) afirma o quanto é importante o papel do ambiente,
especialmente nos primeiros anos de vida. Por outro lado, Barbosa (2010, p. 17)
complementa sobre ―[...] uma especificidade da pedagogia realizada junto aos bebês
é a da centralidade e das relações sociais‖. Esta é uma pedagogia que torna
imprescindível possibilitar encontros e visibilizar os modos e as diversas formas de
relacionamentos que se estabelecem entre as pessoas. Educar bebês não significa
apenas a constituição e a aplicação de um projeto pedagógico objetivo, mas em
colocar-se, física e emocionalmente, à disposição das crianças e isto exige dos
adultos comprometimentos e responsabilidades.
É importante que esses espaços educativos possibilitem aos bebês vivências
e experiências pelo brincar. Desta forma, pode-se afirmar que pela brincadeira é
possível potencializar o brincar, de diferentes contextos culturais, os quais devam
ser planejados e construídos levando em conta os espaços, materiais e interações
que permitam as escolhas e o protagonismo da criança, além de profissionais
capacitados.
Nesse sentido, é necessário que gestores, professores e demais profissionais
tenham clareza quanto às concepções da Educação Infantil, de como as crianças
vivem seu tempo e como se dá seu o ―[...] desenvolvimento integral do zero aos
cinco anos, considerando todos os aspectos,‖ conforme preconiza o art. 29 da LDB
(9394/96).
É preciso também considerar a proposta pedagógica da instituição
educacional, a diversidade cultural, a faixa etária, os ritmos e os gostos das
57
crianças, bem como as relações que serão estabelecidas e os momentos de
exploração do espaço físico, de modo que ao usufruí-lo as crianças sejam
desafiadas em seus aspectos cognitivos, afetivos, social e motor e, assim, ampliem
os seus saberes (MATO GROSSO, 2018).
Pensar em ações de cuidados e práticas educativas, as quais devem ser
planejadas com objetivo de enriquecer as experiências cotidianas das crianças,
sendo necessário fortalecer os vínculos de integração entre família e instituições.
―Essa parceria certamente promove vínculos que favorecem um, clima de respeito
mútuo, de confiabilidade e de trabalho colaborativo, fundamental para o sucesso
educacional da criança‖. (MATO GROSSO, 2018, p. 22).
Nesse sentido, ―[...] as ações planejadas pelo professor devem ter
intencionalidade educativa com a organização de experiências que permitam as
crianças articularem e conhecer a si, o outro, a natureza, a cultura e a produção
científica, por meio das interações e brincadeiras‖. (BRASIL, 2017, p. 37).
Alinhado às DCNEIs (2010) tem-se o documento da Base Nacional Comum
Curricular (BRASIL, 2017), que propõe que os direitos de aprendizagens e
desenvolvimento se configuram nos modos próprios pelos quais as crianças se
apropriam do mundo, constroem conhecimentos e produzem sentidos, são eles:
conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se.
Esses direitos fundamentam a ação educativa e pedagógica a ser
desenvolvida a partir dos cinco campos de experiências: O Eu, o Outro e o Nós;
Corpo, Gestos e Movimentos; Traços, Sons, Cores e Formas; Escuta, Fala,
Pensamento e Imaginação; Espaços, Tempos, Quantidades, Relações e
Transformações.
Deste modo, é fundamental que seja respeitada a diversidade e, sobretudo,
garantida as aprendizagens essenciais a todas as crianças, independente da raça,
classe econômica, cultura, crença religiosa e Necessidade Educativa Específica
(NEE), porque a educação é um direito inalienável do sujeito, devendo o poder
público e as instituições educacionais possibilitarem condições e recursos, para que
possam, com igualdade de oportunidades, num ambiente acolhedor e instigante,
aprenderem e se desenvolverem de forma integral.
Sendo assim, é imprescindível que gestores, professores e demais
profissionais que atuam nos espaços das instituições infantis tenham uma interação
58
positiva, agradável, estimulante e que ampliem as possibilidades infantis de modo
que os bebês possam se expressar, comunicar, criar, organizar pensamentos e
ideias de conviver, brincar e trabalhar em grupo, ter iniciativa e busca de soluções
para os problemas e conflitos que se apresentem nas diferentes idades, desde muito
cedo. Isso é a chave para uma comunicação bem sucedida e para o
desenvolvimento do sentimento e valor da criança no mundo que o cerca.
É importante lembrar que há coisas na vida que marcam profundamente a
infância, como os tempos e os espaços e é por isso que é tão importante pensar
com e para as crianças esse ―tempo e espaço‖ de modo a oportunizar boas
lembranças e a ampliar suas experiências de si e do mundo.
Camargo, (2008, p. 45) afirma que:
60
De acordo como a PMEI (2016, p. 37)
64
e monitorar o conjunto de práticas e interações, garantindo a pluralidade de
situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças‖ (BRASIL, p. 37.
2017).
As descobertas e a construção de conhecimento por parte das crianças se
dão quando elas podem experimentar as situações de modo intenso e integral,
quando elas têm a possibilidade de observar, questionar, tocar e explorar. Quanto
mais ricas forem tais situações, mais qualidade terão as interações estabelecidas
pelas crianças.
Desse modo, as relações que as crianças estabelecem com aquilo que faz
parte do seu entorno ofertam elementos que constituem o seu brincar, alimentam o
imaginário, provocam desafios e possibilitam que novas experiências sejam
vivenciadas.
A Política Municipal de Educação Infantil (PMEI, 2016) afirma que as
situações e sentimentos vividos cotidianamente pelas crianças as levam a brincar e,
instigando sua imaginação, elas criam situações em que podem resolver conflitos,
vivenciam angústias, alegrias, aprendem a obedecer e a recriar regras de
brincadeiras, tomam decisões, expressam sentimentos, aprendem a partilhar e a
conviver em grupo.
Toda criança brinca. Sua condição cultural, econômica, religiosa, histórica,
política e familiar influencia no modo, no tempo e nos elementos com que esse
brincar se materializa, podendo ofertar qualidade a estas situações.
Para Kishimoto (2010, p. 01)
65
produto final, relaxa, envolve, ensina regras, linguagens,
desenvolve habilidades, e introduz no mundo imaginário.
Ora, se o brincar é uma ação livre da criança, esta liberdade existe também
no que tange à escolha do objeto incorporado às brincadeiras infantis. Gravetos,
folhas, pedras, cascas, sementes, pião, pipa, carrinho, boneca, skate e tantos outros
objetos, industrializados ou não, todos se tornam brinquedos quando encontram um
significado e uma função brincante para meninas e meninos das mais diversas
sociedades. Mas, nem toda situação brincante exige a manipulação de algum
objeto/brinquedo, visto que brincam, inclusive ―[...] quando narram uma história,
enquanto assistem à TV, desenham, cantam. São linguagens que não se excluem,
mas se interpenetram e se completam em torno da tarefa comum de dar sentidos ao
mundo subjetivo e cultural‖ (RONDONÓPOLIS, 2016, p. 82).
Segundo Oliveira (2000), o brincar não significa apenas recrear, é muito mais,
caracteriza-se como uma das formas mais complexas que a criança tem de
comunicar-se consigo mesma e com o mundo, ou seja, o desenvolvimento acontece
pelas trocas recíprocas que se estabelece em toda sua vida. Assim, por meio do
brincar a criança pode desenvolver capacidades importantes como atenção,
memória, imaginação, imitação, ainda propicia a criança desenvolver-se nos
aspectos da afetividade, motricidade, contribui também para conquistar sua
autonomia, identidade e socialização.
Para Brougère (2010), o brinquedo possui funções sociais que lhe conferem
uma razão de ser e são alguns membros da sociedade – neste caso, as crianças –
que dão sentido à sua produção e consumo.
66
compreensão do seu contexto cultural. É por meio da brincadeira que as crianças
conferem significados ao brinquedo, assim, ela não é determinada pelo brinquedo
que a criança escolhe utilizar, pois, o mesmo é ressignificado a partir da ação da
criança sobre ele (BROUGÈRE, 2010).
Na época do Renascimento, os humanistas consideravam as brincadeiras
momentos de possibilidade de aquisição de conhecimento não sendo somente como
lazer. Nos dias atuais, ainda se observa as brincadeiras sendo usadas sem
nenhuma reflexão, pedagogizadas. Considerado como parte do comportamento
infantil e espontâneo, o prazer, característico da atividade de brincar, passou a ser
visto como um componente da ingênua personalidade infantil, como uma atividade
inata e que protegia dos males causados pelo trabalho árduo e desgastante do
mundo do adulto. A brincadeira passou a ser concebida como a maneira de a
criança estar no mundo: próxima à natureza e portadora de verdade (WAJSKOP,
1995).
Juntamente com a aprendizagem e o desenvolvimento, as crianças vão
ampliando as estruturas de seu pensamento desenvolvendo possibilidades de
realizar atividades complexas, como colocar o seu ponto de vista e respeitar o do
outro num jogo de regras, ou se apropriar de comportamentos criando seus próprios
cenários, em uma situação imaginária, dependendo do seu interesse na brincadeira.
Nesse sentido, de acordo com Vygotsky (1998), por meio do brincar a criança
tem a oportunidade de se comportar como se fosse maior do que é na realidade e,
assim, recriar situações do cotidiano, resolver situações conflitantes, verificar
hipóteses e buscar compreender o mundo no nível simbólico.
Os educadores precisam colocar-se como seres brincantes, assumindo uma
postura lúdica junto à criança. Nesse processo, a criança terá uma experiência do
brincar com mais produtividade, recordando e construindo conhecimentos.
Ser um educador lúdico é um grande desafio para o docente e para que haja
uma mudança, significativa de postura, se faz necessária uma mudança de
concepção sobre a prática pedagógica. Pereira (2005) coloca que se o brincar está
presente em um tempo delimitado e pré-definido em um horário de atividades, está
bem próximo do sentido de obrigação e mais se afasta do brincar de fato, tornando-
se próximo de um não brincar.
67
Dispondo o brincar como linguagem que media a ação educativa, não deveria
haver um tempo estabelecido. Conforme Contagem (2012) tendo isso como
pressuposto, é necessário que os profissionais da Educação Infantil:
• Preparem o espaço para que os bebês e crianças possam explorá-lo,
brincar nele, interagir uns com os outros e conquistar sua autonomia.
• Disponibilizem objetos, brinquedos e materiais diversos (estruturados ou
não estruturados), com desafios diferentes.
• Percebam a sala de atividades como um lugar de brincadeira, além de
outros espaços internos e externos.
• Organizem a sala em ambientes diversos, espaços circunscritos e
cantinhos que favoreçam o brincar e as relações.
• Organizem os brinquedos de modo que fiquem ao alcance das crianças e
dispostos de maneira convidativa, criativa e desafiante. A disposição dos
brinquedos e seus usos podem ser discutidos também junto às crianças,
para que não seja somente uma proposta da instituição.
• Alimentem o faz de conta, disponibilizando roupas, fantasias, adereços,
utensílios e objetos relacionados a temas diversos (salão de beleza,
hospital, mecânica, loja, entre outros).
Deem ênfase às brincadeiras de faz de conta, em todas as suas
possibilidades e manifestações, contribuindo para o exercício da
imaginação, da criatividade e da autonomia, favorecendo a representação
de papéis sociais e situações diversas.
Possibilitem que os bebês e as crianças explorem e desenvolvam ações
diversas com seu corpo, desafiando suas possibilidades e respeitando
seus limites.
Desafiem as crianças a explorar e a desenvolver ações diversas com os
brinquedos e outros objetos;
Promovam situações em que os bebês e as crianças participem de
brincadeiras coletivas com seus pares de idade ou com crianças de
outras idades.
Brinquem com as crianças de faz de conta, desafiando-as a usarem
objetos imaginando que são outros (exemplo: passar nos cabelos um
68
objeto imitando um pente; fazer de conta que está comendo e apreciando
um bolo que ela fez de massinha etc.).
Organizem situações de brincadeira, retomando as experiências vividas
na sua própria trajetória, dando ainda, oportunidade para as crianças
partilharem as brincadeiras que conhecem.
Propiciem que a brincadeira das crianças não fique restrita aos grupos de
idade ou há um tempo reduzido na rotina diária, pois a troca de
experiências entre os diversos grupos e a frequência com que se brinca
são essenciais para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças.
Criem contextos de jogos e brincadeiras que incentivem a troca, a
solidariedade e a cooperação entre as crianças.
Possibilitem que as crianças escolham temas, objetos, jogos e
companheiros com os quais desejam brincar.
Possibilitem que as crianças vivenciem situações de jogos e brincadeiras
em que as regras são necessárias, discutindo-as, questionando-as,
reconstruindo-as e refutando-as junto às crianças, estabelecendo acordos
coletivos.
Conheçam os materiais, brinquedos e jogos existentes na IEI, verificando
que usos podem ser feitos deles.
Participem do processo de aquisição de brinquedos, fantasias e jogos
fazendo sugestões de acordo com a necessidade e estabelecendo
estratégias para envolver as crianças.
Possibilitem as crianças o contato com uma grande variedade de jogos e
brincadeiras, ampliando seu universo cultural.
Para isso, é importante também propiciar experiências envolvendo
brinquedos e jogos de outras culturas e seus diferentes usos.
Utilizem da observação e escuta das brincadeiras e dos jogos das
crianças para elencar novos elementos de pesquisa, projetos e atividades
(CONTAGEM, 2012, p. 29-30).
Portanto, esta proposta acredita que o processo de desenvolvimento integral
da criança só acontece quando o brincar for considerado algo sério, que proporcione
multiplicidade de experiências e aprendizagens, que façam sentindo para as
crianças. O brincar envolve uma série de conhecimentos refinados e complexos,
69
elaborados e reelaborados por pessoas que ocupam um tempo social e histórico,
que é a infância. As interações permeadas pelo brincar devem permitir às crianças o
ressignificar da sua cultura, para que se tornem sujeitos construtores de uma cultura
própria.
Deste modo, as relações que as crianças estabelecem com aquilo que faz
parte do seu entorno ofertam elementos que constituem o seu brincar, alimentam o
imaginário delas, provocam desafios e contribuem para que novas experiências
sejam vividas.
De acordo com Brougère (2010), ao utilizar um brinquedo, a criança explora
todas as possibilidades dele para lhe dar sentido e função a fim de ser útil na
brincadeira. Para o autor, se a brincadeira ―[...] não é a única razão de ser do
brinquedo, trata-se da situação em que este é mais utilizado‖ (BROUGÈRE, 2010, p.
9).
70
Ainda em se tratando deste objeto ou recurso utilizado pela criança, este não
necessita de uma função específica, pois é usado livremente conforme o desejo de
quem o manuseia.
71
formatos. O fogo que desafia, instiga, amedronta e inquieta. A terra, canteiro para
descobertas e conexão com a vida. Todos são elementos que se interligam às
crianças que buscam neles as perguntas e respostas para as coisas do mundo.
Sabe-se que o brincar e o brinquedo em espaços escolares são fundamentais
ao desenvolvimento das crianças, contudo, o que se propõe neste momento é
pensar em um brincar que transcenda as paredes de uma sala, que transgrida as
normas e os padrões esperados pelo adulto, que instigue e desafie as meninas e
meninos à criação que nasce da sua fonte imaginária mais primitiva. Um brincar que
permita à criança transbordar e entregar-se com inteireza àquela situação brincante,
pois brincar é entregar-se, é deixar fluir o humano, a natureza, o orgânico que nos
habita.
O que se propõe neste documento é que se conceba um brincar que não se
limite àquele com bonecas, bolas e carrinhos coloridos, frios e sem vida. Pelo
contrário, há que se pensar para nossas meninas e meninos, lugares, recursos e
tempos de brincar que se faça a partir do orgânico, das coisas que remetem à vida e
a morte – a natureza. Ela por si mesma é convidativa, instigante, intimista, oferta às
crianças uma sofisticada simplicidade para possibilidades criadoras. Ela é o ateliê
das crianças.
A natureza não deve ser tratada apenas como tema de projeto em
determinadas ocasiões do ano letivo, mas ser tão fundamental para o
desenvolvimento das crianças quanto à alimentação e a brincadeira. Nos últimos
tempos, os brinquedos de plástico ganham amplitude, os terrenos, inclusive em
algumas escolas, são cimentados ou recobertos com grama sintética. Até mesmo os
vasos de flores e plantas naturais são substituídos pelos artificiais, pois dispensam
água, o nosso cuidado e, por consequência, economizam nosso tempo.
Muitas crianças são privadas de pisar na terra, brincar com barro ou tomar
banho de chuva, não vislumbram a lua em suas diferentes fases, não brincam no
calor do sol, não constroem a noção de tempos e ciclos de vida. O distanciamento
da natureza reflete ainda no gosto e cuidado que as crianças têm com ela, reflete
também na percepção que tem de si enquanto parte de um universo extenso,
complexo e interdependente.
As crianças têm direito ao acesso a brinquedos industrializados? Sim!
Contudo, é necessário questionar se nas instituições escolares eles são
72
privilegiados em detrimento daqueles que são descobertos e inventados pelas
crianças a partir dos elementos da natureza. Enquanto o ―brinquedo pronto‖, de
certo modo, sugere a que serve, suas possibilidades de uso, os recursos brincantes
advindos da natureza ofertam às crianças infinitas possibilidades criadoras.
Dar função a um objeto que em nada se aproxima daqueles dos usos
cotidianos é uma ação complexa. Transformar um graveto em avião requer da
criança recursos imaginários mais intensos e criativos para o seu brincar do que
simplesmente inserir à sua brincadeira um avião de plástico colorido feito pelas
mãos de outrem. As exigências criadoras que os elementos orgânicos trazem à
criança dão ao brincar uma complexidade maior, portanto, os conhecimentos
construídos pelas crianças nestes momentos também são mais significativos e
complexos.
Na natureza a criança encontra modos de brincar que são instintivos. Nos
quintais das unidades de Educação Infantil é onde estão os baús de tesouros. É na
―periferia‖ das instituições que as crianças, engatinhando ou correndo, encontram os
recursos materiais – gravetos, folhas, sementes, bichos vivos e decompostos – que
servirão de suporte para seu brincar. É nos cantos diminutos dos quintais que elas
aprendem sobre o céu, o vento, a terra, a chuva, o sol, o fogo, a água e o modo
fundamental com que se fazem presente na vida cotidiana de todos os seres vivos.
Para Piorski (2016), a sociedade é educada na ―racionalidade, na explicação,
no significado‖ das coisas, contudo, a ―criança vive de pulsar‖ e é isto que a torna
uma exímia investigadora. No brincar não é só o prazer que está em jogo, a tomada
de decisões, a criatividade, mas também as estratégias que elas utilizam para
compreender todos os fenômenos que envolvem a vida diária. Assim, crianças
confinadas em salas de referência ou pátios cimentados, são privadas de
experiências brincantes que determinarão o modo como constroem conhecimentos
sobre a vida, sobre o mundo, sobre ser gente.
É urgente que as crianças tenham acesso diário à natureza. Em
Rondonópolis, grande parte, senão todas as instituições escolares que atendem as
crianças pequenas possuem tanque de areia, gramado, alguns espaços com terra e
plantas, playgrounds em áreas externas, enfim. Ainda assim, sempre é necessário o
movimento de questionar as concepções que o corpo docente e gestores das
instituições têm construído acerca do brincar e das interações que as crianças
73
estabelecem nos momentos de brincadeiras. É importante questionar o modo como
compreendem a participação da natureza na construção de conhecimentos por parte
das crianças.
Já foi dito aqui que a natureza toca as fontes criadoras das crianças e, além
disso, ela é também fundamental à saúde física, psicológica e emocional das
crianças. Poucas oportunidades para brincar com e na natureza podem contribuir
com danos à saúde como a obesidade, hiperatividade, falta de equilíbrio e outras
habilidades físicas ou mesmo miopia (BARROS, 2019, p. 4).
Ora, se a natureza é tão fundamental ao desenvolvimento das crianças, por
que as instituições de Educação Infantil continuam insistindo no enclausuramento
das crianças? Por que insistem em controlar aquilo que devem ou não descobrir,
experimentar e aprender? Por que emparedam o saber em salas que pouco
acolhem, instigam ou desafiam?
Piorski (2016, p. 11) afirma que ―[...] nutrir o aparelho sensorial da criança das
formas fundamentais, dos materiais primitivos, das substâncias que sustentam as
coisas é almejar uma pedagogia das repercussões internas‖. As crianças precisam
ser nutridas de natureza, de um contato sensível e respeitoso com ela e para tanto,
a educadora e o educador possuem respaldo legal.
As DCNEIs (2010) registram que as crianças fazem questionamentos sobre a
natureza ao tempo em que também constroem sentidos sobre ela. Ou seja, a
natureza é objeto de conhecimento da criança desde muito cedo. Assim, as práticas
pedagógicas devem ―[...] incentivar a curiosidade, a exploração, o encantamento, o
questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo
físico e social, ao tempo e à natureza‖ (BRASIL, 2010, p. 26).
Os Parâmetros Nacionais de Qualidade da Educação Infantil (2018) destacam
que o/a docente e profissionais de apoio da instituição precisam ―[...] planejar e
propor contextos de aprendizagens ou promover experiências nas quais crianças
sejam desafiadas a ampliar seus conhecimentos a respeito do mundo da natureza e
da cultura‖ (BRASIL, 2018, p. 50).
Já a BNCC (2017) pontua como um dos direitos de aprendizagem e
desenvolvimento a exploração de elementos da natureza na escola ―[...] ampliando
seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a
74
ciência e a tecnologia‖ (BRASIL, 2017, p. 34). O contato com a natureza também
consta entre os campos de experiência e objetivos de aprendizagem das crianças.
O Documento de Referência Curricular para Mato Grosso da Educação
Infantil (MATO GROSSO, 2018, p. 43), reafirma o que trazem os documentos
anteriores e sugere que sejam organizadas situações de ―[...] apreciação de sons da
natureza e silêncios em espaços ao ar livre e na instituição escolar‖.
A natureza é, de fato, elemento fundamental para o desenvolvimento integral
das crianças. Assim, cabe às unidades de Educação Infantil considerar que as
crianças precisam dela todos os dias. Precisam de mediações dos professores no
sentido de contribuir para que aprendam a gostar e respeitar a natureza para que
deste modo construam uma relação sustentável com ela, percebendo-se como parte
de um todo. A natureza como um elemento basilar na educação das crianças
expressa a possibilidade e a esperança de uma busca ainda mais real e próxima de
uma Educação Infantil alegre, humana, solidária, diversa, ecológica, democrática e
libertadora.
77
é descartada. As crianças são assujeitadas a uma única forma de ser, em nome de
uma cisheteronormatividade que não é percebida como forma de opressão.
A Educação Infantil é feita, praticamente, por mulheres, tanto na vivência com
as crianças, quanto em relação às pesquisas. Mulheres em nossa sociedade são
vítimas de opressões e violências profundas. Compreender a gênese dessa
violência passa pelo entendimento sobre como pequenas ações, como separar as
crianças em grupos de meninos e meninas, por exemplo, escancaram como nossa
sociedade é cindida, binária. Demanda reconhecer que a norma operada pela
cisheteronormatividade coloca no lugar de abjeto tudo o que não esteja no padrão
do ―Ser Humano Ideal‖ – inclusive as mulheres, que são as atrizes do fazer da e na
Educação Infantil, haja vista que o padrão pressupõe o homem no sentido mais
estrito o termo: pessoa do gênero masculino. Assim, questionar a norma, ao invés
de reverberá-la nas instituições de Educação Infantil, torna-se urgente e necessário:
78
Neste sentido, pautar a organização dos tempos, espaços e materiais para as
experiências das crianças na Educação Infantil demanda levar em consideração as
questões referentes às relações de gênero e sexualidade.
Assim:
Forjar uma sociedade diferente, como a almejada nos PPPs, passa por
problematizar as matrizes que sustentam essa sociedade marcada pela
cisheteronormatividade, que oprime e desumaniza todos e todas que são
dissidentes à norma. Passa, portanto, pelo direito das crianças de viverem as suas
infâncias distantes de uma lógica adultocêntrica.
79
O reconhecimento da singularidade dos povos indígenas vislumbra a
educação, em sua forma abrangente, com o envolvimento de toda a comunidade na
construção do fazer pedagógico, das propostas pedagógicas articuladas à realidade
de diversos tempos e espaços vivenciados no cotidiano de cada grupo.
A diversidade se refere aos aspectos culturais preservados por um povo e
suas relações interétnicas. Sob este foco, é possível, inclusive, compreender que
certos comportamentos, atitudes, valores e práticas se repetem e sugerem
características gerais da Educação Indígena.
As brincadeiras das crianças indígenas acontecem em seu território local,
onde adquirem grande parte do seu desenvolvimento e aprendizado. Desde muito
cedo, as crianças aprendem, na íntegra, o sentido da palavra convivência, pois
estão sempre em grupos, na realização de qualquer atividade, seja na hora da
diversão, ou ouvindo os ensinamentos dos anciãos, que são uma referência para
toda a comunidade indígena. Deste modo, os eixos que norteiam a prática
pedagógica para Educação Infantil - interações e brincadeiras - devem ser
garantidos.
Na educação brasileira, a Educação Indígena se fundamenta em regime de
colaboração entre Estado, Município e União, com base nas orientações do Decreto
6.861/2009, que estabelece os territórios etnoeducacionais; na interculturalidade;
nos caminhos da intersubjetividade e da percepção de outras lógicas.
O Art. 2º das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar
Indígena tem como um dos seus objetivos:
81
O Município de Rondonópolis, ciente das leis e Diretrizes que dão aos povos
indígenas o direito a uma escola diferenciada e de qualidade passa, a partir de 1997,
a contratar professores do próprio povo Bororo para o trabalho das escolas nas
aldeias e a investir na formação de uma Técnica Pedagógica para o atendimento a
essas escolas. ―Esse trabalho teve impulso a partir do Projeto Tucum - Programa de
Formação para Professores Indígenas- resultado de uma parceria entre o Estado de
Mato Grosso, municípios, Ongs, FUNAI, com o financiamento do Banco Mundial –
PRODEAGRO‖ (RONDONÓPOLIS, 2016, p. 25 v. 11).
82
Neste contexto, as crianças indígenas devem ter uma educação embasada na
cultura em que está inserida. Citando Nunes (2002), a autora traz sua contribuição
no sentido de que o olhar sobre esta criança deve ser feito no seu espaço próprio,
dentro de sua cultura, no entanto, diante do entendimento de processos de
desenvolvimento e aprendizagem (NUNES, 1997, p. 276 apud MORAES, 2005). E
ainda: […] estudar uma sociedade sem estudar a criança dessa sociedade resulta
em um estudo incompleto. A criança vive e se expressa dentro de limites e
amplitudes do adulto com o qual convive (NUNES, 2002, p. 275-276).
Um ponto importante para reflexão é o trabalho com a cultura de um povo,
este não deve estar intrinsicamente ligado a datas comemorativas, devendo ser um
foco de discussões no planejamento das instituições de Educação Infantil. A cultura
dos povos não pode ser fragmentada, pois isso contribui para a reprodução de
preconceitos e estereótipos sobre as diferentes culturas e identidades.
Concomitantemente, é relevante que valorize efetivamente as diferenças culturais,
bem como considere a criança como protagonista de sua aprendizagem.
A organização curricular se baseia em eixos temáticos, projetos de pesquisa,
embasada nos artefatos legais para a Educação Infantil e podem ser trabalhados
numa perspectiva interdisciplinar. Nisso, materiais didáticos específicos, escritos na
Língua Portuguesa, nas Línguas Indígenas e bilíngues, que reflitam a perspectiva
intercultural da educação diferenciada, devem ser elaborados pelos professores
indígenas e seus estudantes e publicados pelos respectivos sistemas de ensino.
Nas instituições de Educação Infantil Indígenas, devem ser observados os
seguintes critérios:
De reconhecimento das especificidades das escolas indígenas quanto
aos seus aspectos comunitários, bilíngues e multilíngues, de
interculturalidade e diferenciação;
De flexibilidade na organização dos tempos e espaços curriculares, tanto
no que se refere à Base Nacional Comum Curricular, quanto à parte
diversificada, de modo a garantir a inclusão dos saberes e procedimento
culturais produzidos pelas comunidades indígenas;
De duração mínima anual de duzentos dias letivos, perfazendo, no
mínimo, oitocentas horas, respeitando-se a flexibilidade do calendário das
instituições de Educação Indígena que poderá ser organizado
83
independente do ano civil, de acordo com
as atividades produtivas e socioculturais das comunidades indígenas.
Nesse contexto, a questão importante na abordagem sobre a especificidade
da Educação Escolar Indígena está centrada também na formação inicial e
continuada para professores indígenas e/ou aqueles que atuam em instituições de
Educação Indígena, sendo um dos grandes desafios a formação docente para a
busca da implementação do currículo e de práticas pedagógicas da escola
específica, diferenciada, intercultural e bilíngue.
Considerando que algumas línguas indígenas estão perigosamente
ameaçadas, o currículo das escolas indígenas deve priorizar a continuidade dos
trabalhos de revitalização linguística por meio dos projetos de autoria indígena.
Assim, as propostas curriculares, construídas coletivamente, devem romper
gradativamente com a longa história de desvalorização dos conhecimentos
ancestrais, sendo também o ponto de partida para a construção de uma educação
escolar indígena autônoma e motivadora, capaz de valorizar os saberes indígenas e
sua forma de transmissão pela oralidade ás novas gerações.
Nesse pressuposto, a Educação Infantil Indígena vem passando por algumas
transformações. Observa-se a valorização dos seus saberes, suas culturas, suas
raízes, mas ainda assim enfrentam grandes dificuldades com a falta de acesso, falta
de docentes com formação específica, sendo situações que afetam diretamente o
desenvolvimento escolar das crianças indígenas.
Os direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se
propostos pela BNCC (2017) estão presentes na cultura indígena. Na aldeia, as
crianças são livres, são respeitadas nos seus modos de ser, viver, brincar, pensar,
produzir e orientadas para serem crianças protagonistas das suas próprias histórias.
Considerando as especificidades dos Povos Indígenas de Mato Grosso e
suas diversidades socioculturais, a modalidade da Educação Escolar Indígena no
Documento de Referência Curricular para Mato Grosso (2018) e na Política
Municipal para a Educação Infantil (2016), asseguraram às comunidades indígenas
uma organização escolar e curricular voltada para a valorização dos saberes, numa
perspectiva intercultural e no cumprimento dos princípios da Escola Indígena.
84
1.11.2 A Educação Especial e o Atendimento Educacional Especializado na
Educação Infantil
86
indivíduo, inclusive porque pessoas com os mesmos diagnósticos são bastante
diferentes entre si.
Logo, o olhar deve se voltar para a investigação da história de vida, das
características, dos interesses e das potencialidades de cada um – e não para aquilo
que entendemos como suas limitações –, bem como para a avaliação das barreiras
que se apresentam no exercício da prática pedagógica e nas relações estabelecidas
nas unidades educacionais como um todo.
Pensar a educação escolar destes sujeitos, de forma mais ampla, implica
refletir sobre os modos como são compreendidos pela sociedade. Requer o descolar
do entendimento da deficiência de um modelo médico, que concebe as
desvantagens como decorrentes das lesões dos corpos ou mentes dos sujeitos, e
avançar para a sua compreensão a partir do modelo social.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996, p. 24)
define a Educação Especial em seu artigo 58, atualizado pela Lei 12.796/2013,
como ―[...] a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação‖, que deve ter ―[...] início na
Educação Infantil e se estender ao longo da vida [...]‖ (BRASIL, 1996, p.24). Neste
sentido, o artigo quarto desta Lei diz que é dever do Estado garantir o Atendimento
Educacional Especializado (AEE) para tais sujeitos, o qual deve ser ―[...] gratuito, [...]
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede
regular de ensino‖ (BRASIL,1996, p. 2). Seu escopo de atuação foi ampliado e
melhor especificado pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva (BRASIL, 2014), publicada em 2008. A partir daquele momento,
a Educação Especial passou a compor, necessariamente, a proposta pedagógica do
ensino regular – deixando, portanto, de ter caráter substitutivo –, constituindo-se
enquanto modalidade que:
87
Nesta perspectiva, o AEE é o serviço que ―[...] tem como função identificar,
elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as
barreiras para a plena participação das crianças, considerando suas necessidades
específicas‖ (BRASIL, 2014. p. 11). Deve, portanto, fomentar condições de
frequência e permanência e apoiar o desenvolvimento das crianças com deficiência,
transtorno do espectro autista e altas habilidades/superdotação no ensino regular
(RONDONÓPOLIS, 2016), por meio do atendimento e da articulação tanto com as
professoras e demais profissionais das instituições quanto com familiares e
responsáveis. Assim, este atendimento complementa – nos casos de crianças com
deficiência e/ou transtorno do espectro autista – e/ou suplementa – para aquelas
com altas habilidades/superdotação – a formação com vistas ao desenvolvimento da
autonomia tanto na instituição quanto nos demais espaços sociais que estes sujeitos
frequentarem.
Neste sentido, é importante que o AEE aconteça por meio da relação com a
proposta pedagógica e que seja realizado no turno inverso ao período que a criança
frequenta a instituição. De forma mais específica, no atendimento a crianças de até
três anos de idade da Educação Infantil, em busca de potencializar o
desenvolvimento delas, deve-se enfatizar a estimulação precoce, de forma
articulada com os serviços de saúde e assistência social (BRASIL, 2014).
Para que este trabalho seja assegurado, a articulação com os professores da
sala de referência é premente. Tal troca deve acontecer tanto para auxiliá-los no
desenvolvimento dos seus trabalhos quanto para verificar as necessidades
específicas e buscar informações que contribuam para a formulação do Plano de
Desenvolvimento Individual das crianças, que embasará a atuação das professoras
do AEE no atendimento diretamente desenvolvido com cada sujeito – como
estabelece o artigo 9º da Resolução n° 4/2009, que institui as Diretrizes
Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado
na Educação Básica (BRASIL, 2009).
A participação da família também é de fundamental importância no
desenvolvimento deste atendimento, tanto para assegurar o acesso e a participação
das crianças quanto para o levantamento das demandas e a realização de um
trabalho em conjunto – conforme propõe o artigo 2° do Decreto n° 7.611 (BRASIL,
2011). Quando a família compreende os objetivos propostos pelo educador e seu
88
procedimento pedagógico empregado, tende a envolver-se muito mais com o
trabalho desenvolvido, potencializando as ações, dando continuidade aos
aprendizados em casa, validando o trabalho desenvolvido e conferindo-lhe
autoridade. Essa condição é percebida pela criança, que passa a entender a relação
escola-família como um ponto de referência e apoio, sentindo-se segura e
acreditada, sendo esses fatores importantes para seu empenho e consequente
desenvolvimento integral.
O trabalho na perspectiva de educação inclusiva - direcionada às crianças
com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades/superdotação –
precisa ser desenvolvido a partir do coletivo da instituição – e da parceria entre
docentes da sala de referência e do Atendimento Educacional Especializado (AEE).
A faixa etária tem centralidade na organização curricular da Rede Municipal
de Ensino, considerando os Ciclos de Formação Humana. Neste sentido, destaca-se
a relevância de desvincular da compreensão da infância fundamentada em uma
perspectiva de futuro, como um eterno vir-a-ser. Assim, as crianças são, em si,
sujeitos inteiros, completos. Não devem ser pensadas apenas como futuros adultos
e como perspectivas de maior ou menor sucesso, inseridos em uma lógica
capitalista de produção. Ao pensar nas crianças com deficiência, faz-se necessário o
mesmo olhar que temos para as demais crianças. Desse modo, respeitando seus
processos e ritmos de desenvolvimento, é preciso trabalhar para que desenvolvam
toda a sua potencialidade, constituída na relação com as/os docentes, auxiliares e
demais profissionais na Educação Infantil.
89
As ações de promoção da igualdade étnico-racial na Educação Infantil são
importantes para a desconstrução da invisibilidade da criança negra no espaço
escolar e para possibilitar respeito às diferentes etnias.
Neste sentido, o processo formativo constante dos professores para a
educação das relações étnico-raciais torna-se essencial. Por meio dele é que são
pensadas e organizadas ações que tenham como eixo a diversidade existente no
contexto escolar. É necessário o olhar sensível do professor na resolução de
conflitos que tem como foco o fenótipo da criança, principalmente a criança negra,
que tem sido hostilizada e silenciada nos espaços educacionais.
É urgente se educar para a diversidade étnico-racial e cultural, o que exige
ações que deem conta de absorver as tensões advindas da situação, que é histórica
do Brasil.
92
Historicamente, a Educação do Campo no Brasil teve sua trajetória marcada
por ausência de políticas públicas, ou até em muitos casos, de políticas públicas
discriminatórias e excludentes que não reconheciam esse espaço como lugar de
vida e muito menos a educação como direito de todos.
Em se tratando da oferta da Educação Infantil no campo, pode-se afirmar que
o cenário foi muito pior, tendo em vista que essas crianças viviam um ―[...] processo
de ocultamento, omissão e acesso desigual às políticas públicas‖ (Grupo de
Trabalho Interinstitucional - GTI, 2014, p. 6).
Tais fatos são também evidenciados nos estudos de Silva e Pasuch (s.d)
Gonçalves (2012), Leal et al (2017), que apontam para a necessidade de implantar
políticas públicas para essa etapa escolar, em que se priorize o acesso e a
permanência da criança na escola do campo.
Discutir a Educação Infantil no campo acaba sendo um grande desafio, pois
convoca-nos a refletir sobre a ―[...] complexa relação entre diferentes políticas
públicas e a diversidade de infâncias vividas pelas crianças de 0 a 5 anos que
residem em áreas rurais do País‖ (Grupo de Trabalho Interinstitucional - GTI, 2014,
p. 6).
Outro desafio contemporâneo baseia-se no fato de que a Educação Infantil na
zona rural é ―[...] desigual e insuficiente quando comparado ao acesso que crianças
da mesma faixa etária e residentes em área urbana têm a essa etapa da educação
básica‖ (LEAL et al, 2017, p.335).
Este cenário de ausência de políticas públicas para essa etapa da educação
em áreas rurais reflete, também, conforme ressalta Gonçalves (2012), nos poucos
trabalhos que abordam a temática no Brasil, os quais, em geral, chamam a atenção
para a ausência de documentos legais e políticas públicas municipais que tratam do
tema, tendo em vista ser este, o responsável direto pela oferta desta etapa.
Diante desse quadro, a atuação dos movimentos sociais, notadamente o de
mulheres, foi fundamental para a conquista de políticas públicas que atendessem
essa etapa da educação básica em áreas rurais, possibilitando também um
processo de reflexão sobre a etapa nesse espaço.
A atuação dos movimentos de mulheres no país, desde a década de 1960,
conforme consta no GTI (2014) trouxe para a pauta, as discussões sobre a oferta da
93
etapa no campo bem como a ausência de creches nesse local, os quais resultaram
em obstáculos para a profissionalização dessas trabalhadoras.
Estudos de Silva e Luz (2017) assinalam que desse movimento de luta pela
oferta de Educação Infantil no campo trouxe à tona a própria concepção de criança e
suas relações, as quais configuram formas culturais de práticas educativas
específicas. Observam ainda que a atuação conjunta de lutas que envolveram os
movimentos sociais e a intensa e comprometida produção acadêmica foi se
configurando o que denominamos área da educação da criança de 0 a 05 anos e,
posteriormente, Educação Infantil.
Aos poucos, a Educação Infantil no campo foi ganhando espaço nas
pesquisas acadêmicas e também um ordenamento jurídico sobre o assunto, como a
Constituição Federal de 1988, que passou a assegurar diversos direitos, inclusive à
criança. Essa Constituição tornou-se um marco histórico na redefinição doutrinária e
no lançamento dos princípios de implementação de novas políticas para a criança de
zero a seis anos.
No capítulo dedicado aos Direitos Sociais a mesma determina:
94
Outro documento político de fundamental relevância para a Educação Infantil
foi a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, que também a
reconheceu como primeira etapa da Educação Básica, obrigando os analistas e as
políticas públicas a abrangência de todas as populações e ambientes de vida
brasileiros.
Diante desse cenário de mudanças, ocorreu a promulgação de uma série de
instrumentos legislativos e normativos que passaram a incorporar os avanços e os
debates oriundos das demandas sociais, nas primeiras décadas dos anos 2000,
segundo descrevem Silva e Luz (2017).
Cita-se como exemplo as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica
nas Escolas do Campo, promulgada através da Resolução CNE/CEB n o 1, de 03 de
abril de 2002, que representou um marco legal importantíssimo, ao delinear um
conjunto de princípios e procedimentos que visavam legitimar a identidade 2 própria
da escola do campo.
É determinado também no artigo 6o da referida Resolução os responsáveis
pela oferta dessa etapa da Educação Básica.
2
Parágrafo único- A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões
inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na
memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos
movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à
o
qualidade social da vida coletiva no País (Resolução CNE/CEB n 1, de 3 de abril de 2002, p. 37).
95
Há ainda, a instituição das DCNEIs em 2010 que estabeleceram as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil a serem observadas na organização
de propostas pedagógicas nessa etapa da Educação Básica. A mesma recomenda
que tais propostas ao atender crianças de populações rurais devem:
97
próximos da criança e contribuirão para o desenvolvimento de suas aprendizagens
(RONDONÓPOLIS, 2016).
Importante ressaltar que tais práticas pedagógicas, segundo a DCNEI (2010)
devem ter como eixos norteadores as interações e as brincadeiras, respeitando as
características, a identidade institucional, as escolhas coletivas e as particularidades
pedagógicas de cada instituição.
Nesse aspecto, vale lembrar que a criança que vive no campo está rodeada
de recursos naturais, de um vasto espaço para a efetivação de brincadeira e vive
cotidianamente com atividades econômicas que ocorrem nesse lugar, como plantar,
colher, criar animais, entre outras.
Mediante esse rico e variado espaço em que a escola está situada, é preciso
que a Educação Infantil siga o recomendado nas Orientações Curriculares para a
Educação Infantil do Campo cujas práticas valorize
98
Muitos são os desafios que sinalizam para a efetivação da Educação Infantil
em escola do campo, tendo em vista que as políticas educacionais ainda estão
muito distantes de tratar essa etapa e a Educação do Campo com a importância e a
seriedade que merecem.
Mediante esse cenário, é fundamental que a efetivação de ações inclusivas e
democráticas sejam implantadas para a Educação Infantil no campo, cujas crianças
sejam protagonistas desse processo. A PMEI (2016) sinaliza para a necessidade de
que os profissionais que trabalham nas escolas do campo, comunidades rurais e
movimentos sociais do campo, atuem no sentido de exigir políticas educacionais
voltadas para a educação do campo que não desprezem a cultura desses povos e
que ao mesmo tempo, estejam associadas fundamentalmente na produção do
conhecimento que potencializem o desenvolvimento humano desses sujeitos.
Para tanto, Caldart (2015) afirma que as mudanças nesse local dependerão
dos caminhos trilhados por cada escola, porém, não sozinha, e muito menos sem
confronto, especialmente com o Estado, que é o responsável direto por manter na
escola, as condições básicas na realização de sua tarefa educativa.
Desse modo, a transformação da Educação Infantil em escola do campo no
contexto atual dependerá da organização dos diferentes sujeitos envolvidos nesse
processo, com objetivos comuns traçados, e fundamentalmente, com vínculos com
os movimentos sociais.
99
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(Manoel de Barros).
108
Construção de Orientações Curriculares para a Educação Infantil, 2009, as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010); a Política
Municipal de Educação Infantil: Construindo Caminhos (2016); a Base Nacional
Comum Curricular (2017); o Documento de Referência para Mato Grosso (2018),
dentre outros.
O conceito de currículo que embasa este documento apresenta uma
concepção flexível que se constrói no dia a dia da instituição escolar. Um currículo
holístico, integrado, que deve apoiar o desenvolvimento e aprendizagem das
crianças, seus interesses e desejos, atrelado às múltiplas vivências e experiências
que perpassam o cotidiano das instituições de Educação Infantil. Um currículo que
zela pelo binômio cuidar e educar como indissociáveis, tomando com ponto de
partida das práticas pedagógicas os eixos norteadores interações e brincadeira
(BRASIL, 2010) na intencionalidade de garantir os direitos de aprendizagem
propostos pela BNCC.
O currículo é a principal ferramenta que orienta e fundamenta as práticas
pedagógicas, garantindo a qualidade da educação. É uma construção que permeia
escolhas e possibilita experiências e vivências ás crianças que são sujeito histórico e
de direitos, que se expressa por meio das diferentes linguagens em um período
peculiar da vida, a infância (BRASIL, 2009).
Com a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil, documento normativo e orientador do trabalho nessa etapa, surge também
uma definição mais coerente e atualizada de currículo, concebendo-o como: ―[...] um
conjunto de práticas que buscam articular os saberes e experiências das crianças
com o patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a
promover o desenvolvimento integral da criança‖. (BRASIL, 2009, ART. 3º).
109
2.1 O Currículo Holístico da Educação Infantil
114
Sendo assim, compreende-se que campos de experiências se apresentam
como balizadores para a organização das propostas pedagógicas e ajudam a pensar
o currículo de forma interdisciplinar e integradora. Para cada campo de experiência,
a BNCC, aponta objetivos de aprendizagens e desenvolvimento de acordo com
grupos etários, objetivando a auxiliar o docente a organizar um contexto educativo.
Todavia, é importante considerar que o planejamento pedagógico não deve pautar-
se apenas nos objetivos propostos pela BNCC.
Neste sentindo, as propostas curriculares das instituições de Educação
Infantil precisam ser tecidas por meio dos documentos que estabelecem os direitos
das crianças, os direitos de aprendizagem, visando compreendê-las como um sujeito
histórico, social e de direitos.
Ao pensar na proposta pedagógica, é preciso pensar na sua propositura,
precisa estar alinhada ao currículo da RME e por consequência à BNCC (2017), pois
é o instrumento balizador do trabalho educativo, que motiva a pensar o currículo
com intencionalidade pedagógica, definindo as aprendizagens essenciais a serem
garantidas às crianças durante sua trajetória na Educação Infantil.
Caminhar nesta perspectiva exige das instituições de Educação Infantil
organizar uma proposta pedagógica que aponte sua finalidade, definindo objetivos
referentes ao desenvolvimento e a aprendizagem, onde a criança seja o centro do
processo educativo.
Barbosa (2009), afirma que:
115
É imprescindível também compreender que a BNCC (2017) não é um
currículo, tampouco substitui os currículos já existentes, mas orienta as instituições a
pensar e refletir o seu currículo de forma integrada e interdisciplinar.
A tarefa de pensar, elaborar e estruturar um currículo é desafiadora. Há
percalços na elaboração e na implementação das ações pedagógicas e do
planejamento docente, quais devem materializar os princípios e os elementos
fundamentas do currículo em ações pedagógicas que viabilizem os objetivos
traçados.
O currículo da Educação Infantil precisa ganhar vida nas mãos dos docentes
para que se efetive em ações favoráveis que contribuem de forma significativa para
o desenvolvimento infantil.
Diante dessas considerações, a Diretriz Curricular Municipal para a Educação
Infantil de Rondonópolis concebe o currículo como um documento que objetiva
organizar as ações que permeiam as práticas pedagógicas no cotidiano das
instituições educacionais. Deve ser entendido como um instrumento pedagógico
norteado pelos pressupostos legais. Precisa revelar, também a organização da
rotina, dos espaços, tempos, e materiais disponibilizados, bem como a maneira de
receber e despedir-se das crianças, objetivando o desenvolvimento e a
aprendizagem de forma a garantir uma Educação Infantil de qualidade.
Assim, ao considerar as crianças como sujeitos históricos, sociais e de
direitos, é imprescindível contemplar no cotidiano das instituições de Educação
Infantil a diversidade cultural e étnico-racial.
Sendo o Estado de Mato Grosso constituído na sua dimensão territorial por
uma diversidade de cultura, as propostas pedagógicas, os Projetos Políticos
Pedagógicos das redes públicas, privadas e filantrópicas, precisam possibilitar às
crianças conhecer e respeitar os diferentes modos de vida, saberes e costumes dos
diversos grupos sociais, tais como: povos indígenas, ribeirinhos, comunidades
quilombolas, comunidades do campo, imigrantes, estrangeiros, população circense e
cigana, dentre outras.
É necessário ainda, primar pelo ensino da cultura raiz mato-grossense,
objetivando contribuir para com a construção de sujeitos pertencentes a uma
sociedade em que a diversidade e o ser diferente não sejam entendidos como
inferioridade. Conforme Barbosa (2009, p. 52) ―[...] um currículo precisa estar
116
articulado às práticas culturais de determinado grupo social – no tempo e espaço –
já que expressa uma cultura e como tal não pode estar desvinculado do contexto
social mais amplo‖.
Neste sentido, é necessário que gestores e docentes tenham clareza quanto
às concepções da Educação Infantil, de como as crianças vivem seu tempo
considerando todos os aspectos do desenvolvimento, conforme preconiza o Art. 29
da LDB (9394/96): físico, intelectual, social e psicológico.
Também, é importante compreender que:
Fonte:
Referencial Curricular do Paraná: princípios, direitos e orientações/2018. Acesso em 08/10/2019.
118
Apoiar a conquista pelas crianças de autonomia para escolher
brincadeiras e atividades e para realização de cuidados pessoais diários;
Ampliar as possibilidades de aprendizado trazidas por diferentes tradições
culturais;
Fortalecer autoestima e os vínculos afetivos de todas as crianças,
combatendo preconceitos;
Apoiar as crianças e aprenderem sobre o valor de cada pessoa e dos
diferentes grupos culturais;
Estimular o respeito a todas as formas de vida, o cuidado de seres vivos e
a preservação dos recursos naturais;
Enfatizar valores com os da inviolabilidade da vida humana, da liberdade
e da integridade individual, a igualdade de direitos de todas as pessoas,
da igualdade entre homens e mulheres, assim como a solidariedade com
grupos enfraquecidos e vulneráveis político e economicamente.
II – Princípios políticos:
Promover a formação participativa e crítica das crianças;
Possibilitar às crianças a expressão de seus sentimentos, ideias e
questionamentos na busca de bem-estar coletivo e individual;
Oferecer condições para que as crianças aprendam a considerar os
sentimentos e a opinião dos outros sobre um acontecimento, uma reação
afetiva, uma ideia, um conflito;
Garantir uma experiência bem-sucedida de aprendizagem a todas as crianças
e lhes proporcionar oportunidades para o domínio de conhecimentos básicos.
III – Princípios estéticos:
Valorizar o ato criador e a construção pelas crianças de respostas
singulares em experiências diversificadas;
Organizar situações agradáveis, estimulantes, que desafiem o que as
crianças já sabem, sem ameaçar-lhes a autoestima nem promover a
competitividade;
Ampliar as possibilidades da criança se expressar, comunicar, criar
organizar pensamentos e ideais, conviver, brincar e trabalhar em grupo;
Possibilitar às crianças apropriar-se de diferentes linguagens e saberes
que circulam em nossa sociedade (OLIVEIRA, 2010b, p.7-8).
119
Nessa perspectiva, os eixos norteadores da prática pedagógica – as
interações e brincadeira – devem ser garantidos, e os direitos de aprendizagem
assegurados por meio das práticas pedagógicas no cotidiano das instituições de
Educação Infantil.
120
Deve-se combater uma antiga incoerência que ocorre nas
formas de educação escolar em geral: declara-se uma
intenção no PPP e planos de trabalho, mas outra dirige de
fato a ação. Isto ocorre por diversas razões, tais como uma
direção autoritária, um Projeto Político Pedagógico de
gaveta, a descrença no planejamento por parte do
educador, dentre outros fatores (RONDONÓPOLIS, 2016,
p. 147).
[…] não somente por ser no tempo da infância que essa prática
social se apresenta com maior intensidade, mas, justamente, por
ser ela a experiência inaugural de sentir o mundo e experimentar-
se, de aprender a criar, e inventar linguagens através do exercício
da liberdade de expressão. Assim, não se trata apenas de um
domínio da criança, mas de uma expressão cultural que especifica
o humano (BARBOSA, 2009, p. 70).
122
A organização do cotidiano pedagógico é fundamental para assegurar a
ampliação dos repertórios das crianças, partindo das experiências educativas
vividas, pois ―[...] planejar é fazer um esboço mais amplo sobre a gestão do tempo,
sobre a organização dos espaços, sobre a oferta de materiais e sobre os arranjos
dos grupos‖ (FOCHI, 2015, p. 01).
A organização do planejamento pedagógico não deve ser limitada a uma lista
de atividades formalmente construída. É uma ação pedagógica que deve ser
compreendida como um processo de reflexão que envolva os fazeres do trabalho
pedagógico sem deixar de lado a flexibilidade. ―Se o\a docente não se atentar a este
aspecto, pode cair no velho conteúdismo escolarizante, comum nos planejamentos
por área do conhecimento, que tendem a esmagar as expressões da infância‖
(RONDONÓPOLIS, 2016, p.150).
As ações propostas às crianças precisam, conforme ressalta a DCNEI (2010),
ser intencionalmente planejadas e permanentemente avaliadas, pois ao assumir a
criança como protagonista do cotidiano da Educação Infantil, necessário se faz
planejar todas as ações educativas em um encadeamento profundo entre
planejamento, registros e avaliação.
De acordo com a BNCC (2017)
123
É importante compreender que os campos de experiências fazem relação uns
com os outros, numa perspectiva de ―intercampos‖ e apresentam uma forma
interdisciplinar de pensar, articular e integrar os conhecimentos. Assim, exige-se do
docente pensar e organizar o planejamento educativo refletindo sobre as ações
pedagógicas.
No ato de planejar para as crianças, é imprescindível o docente compreender
e considerar as ementas dos campos de experiências e buscar articulá-las as
experiências concretas da vida, à aprendizagem das culturas, das diferentes
linguagens e dos conhecimentos já sistematizados. Os mesmos têm como objetivo
contribuir e subsidiar as ações didáticas e teórico-práticas, permitindo pensar ―[...]
no centro do projeto educativo, o fazer e o agir das crianças. A pedagogia dos
campos de experiências é, portanto relacional‖. (NOVO HAMBURGO, 2020, p. 54).
Essa organização da ação educativa, compreende que ―[...] a ideia de
experiência como contínuas e participativas interações dos meninos e das meninas,
privilegia as dimensões de ação destes com a complexidade e transversalidade dos
patrimônios da humanidade‖ (FOCHI, 2015, p. 221).
Assim, a sistematização do trabalho docente a ser desenvolvido com as
crianças ocorre através do planejamento, a partir de situações coletivas a serem
vivenciadas. Esse planejamento deve promover, essencialmente, um encontro entre
os saberes, interesses, necessidades, curiosidades das crianças e a
intencionalidade pedagógica.
Neste sentido, o docente no momento do planejamento deverá observar e
assegurar os seguintes aspectos:
Situações de interações e brincadeiras a partir dos objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento;
Organização do tempo e dos espaços físicos internos e externos da
instituição, favorecendo ações pedagógicas com diferentes linguagens;
Rotina diária que assegure os critérios de regularidade, continuidade e
diversidade das atividades;
Diversidade e regularidade nas estratégias, nos recursos e nos materiais
a serem oferecidos às crianças; (MATO GROSSO, 2018, p. 31).
Garantir os direitos de aprendizagem e desenvolvimento;
Apresentar no contexto educativo planejado os campos de experiências
124
em evidência e articulá-lo por meio dos objetivos;
Compreender que tudo que acontece na jornada educativa é experiência
e precisa ser planejado com intencionalidade. Desde momento da entrada
da criança até a sua saída;
Práticas para as crianças criarem e expressarem seus sentimentos, suas
sensações e pensamentos, imprimindo suas marcas pessoais.
Na ação educativa, também é fundamental o docente compreender as
peculiaridades e as especificidades de cada criança, suas necessidades, desejos e
a realidade do contexto em que estão imersas. Ressalta-se ainda, que os direitos de
aprendizagem e desenvolvimento precisam ser garantidos às crianças, na
perspectiva de compreender, acolher, educar e cuidar, pois, ―[...] planejar na
Educação Infantil, é firmar um compromisso com as crianças e seu
desenvolvimento‖ (CORSINO, 2009, p. 121).
Neste contexto, é de suma importância o papel da equipe pedagógica e dos
docentes nos processos de observação, organização e reflexão diária do
planejamento pedagógico. As instituições de Educação Infantil devem-se pautar
como primícias em seu trabalho, o diálogo, a reflexão, a ética, fundamentada em um
trabalho em coletividade, em equipe vivenciada cotidianamente pelos\as docentes.
Deste modo, cabe às Instituições de Educação Infantil organizar formas de
planejamento pedagógico, haja vista que, a resolução está pautada na LDB, Lei nº
9394/96, art. 13, inciso II, quando dispõe-se que, ―cabe aos docentes elaborar e
cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de
ensino‖.
Assim, esse processo de planejar e (re)planejar demanda um olhar e uma
escuta sensível da gestão pedagógica e dos docentes, sendo que a reflexão e
discussão sobre os planejamentos na Educação Infantil passam por esses
processos.
Ostetto (2000) assegura que:
125
Assim, planejar experiências no contexto da Educação Infantil significa prever
antecipações, reflexões, flexibilidade e projectualidade, pautando-se em concepções
claras de infância e em referenciais teóricos que fundamentam as práticas
pedagógicas e a legislação que integra este vasto percurso que compõem a
organização do planejamento, pois ―[...] um planejamento bem-feito se interioriza,
tornando-se parte da identidade docente, fundindo todo o conhecimento adquirido à
realidade, nunca os separando‖ (RONDONÓPOLIS, 2016, p. 146).
Para uma prática que atenda às necessidades, especificidades e anseios da
criança, a Rede Municipal de Ensino de Rondonópolis organiza e desenvolve a
prática pedagógica pautada na Proposta de Projetos, estabelecendo relações de
desenvolvimento e aprendizagem de forma criativa, flexível e instigadora, na qual a
criança é protagonista do seu próprio conhecimento.
A metodologia de projetos apresenta-se pertinente ao processo de ensino e
aprendizagem, promovendo-o de maneira significativa e compartilhada, pois se
insere na educação permeada por diversas possibilidades, de forma a contribuir com
o desenvolvimento da criança em sua integralidade. Neste sentido, cada Instituição
de Educação Infantil, junto ao seu grupo de docentes, deverá organizar seus
planejamentos pedagógicos com base em sua proposta pedagógica, considerando
suas especificidades culturais e sociais.
127
É necessário que o docente saiba organizar de forma adequada os espaços
disponíveis na instituição educacional, pois estes se constituem como elemento
essencial para um processo educativo de qualidade. Desse modo, são elencadas,
abaixo, algumas sugestões para serem desenvolvidas com as crianças:
Construção: um ambiente que imite a casa (casinha da boneca com:
berços, geladeiras e bonecas podem ser feitos
com papelão, panos e sucatas variadas).
Faz de conta: momento de grande importância para o universo das
crianças, pois valoriza a autonomia e a capacidade de escolhas dos
pequenos. Um cantinho que deve se constituir como espaço livre para
brincar, possibilitando a imaginação e o faz de conta, explorando
fantasias, caixas temáticas, objetos de uso profissional e brinquedos em
geral.
Jogos e quebra-cabeças: um canto que possibilite interações de natureza
social e intelectual às crianças, jogos para construção, que apresente
diferentes níveis de dificuldade para a criança, conforme as expectativas
de cada faixa etária. Além dos quebra-cabeças, podem ser incluídos
outros jogos, podendo ser industriais ou construídos manualmente.
Leitura: organizar um lugar tranquilo da sala de referência ou da
instituição educativa, com carpetes, tapetes, almofadas, ornamentos
como arranjos florais e livros, gibis, cartazes, atlas, livros-brinquedo,
notebooks, etc., tudo que tenham relação com a temática do projeto de
trabalho.
É necessário garantir acessibilidade a todo tipo de produção visual e escrita,
com histórias bem ilustradas, instigantes, sem a velha restrição de uso e sem o
receio de se corromper os materiais. Uma sugestão é a biblioteca-móbile: os livros,
preferencialmente de capa dura, seriam pendurados por fios de nylon, fixados no
teto do pátio ou em copas de árvores, com acesso fácil das crianças, para manuseio
e deleite:
Matemática: Cantinho que estimule as crianças a se lançarem na
resolução de problemas, por meio de brinquedos como blocos lógicos ou
de construção, oportunizando o desenvolvimento das noções de
quantidades, formas e tamanhos.
128
Ciências: Organizar espaços para colocar à disposição das crianças
objetos naturais como sementes, amostras de minerais, vegetais, insetos.
Animais domésticos para serem cuidados pela turma, garantindo o bem-
estar destes. Audiovisuais como notebook ou computador de mesa para
experimentação e formulação de hipóteses. Observar, experimentar e
entender as relações entre o Meio Ambiente e o Ser Vivo. Materiais como
bonecos que representem o corpo humano, brinquedos que possam
servir de experimentação para as crianças.
Música: Manter um canto ou caixa de instrumentos musicais contendo
chocalhos, reco-reco, bumbos… Uma sugestão é o investimento em
microfones, com ou sem fio e caixas amplificadas para expressão vocal e
audição de músicas de diversos gêneros.
Artes visuais: Disponibilizar espaços com revestimento de azulejo branco
para pintura com tinta guache. Outro cantinho que disponibilize cavaletes
para pintura, mesa grande, tintas, pincéis, cola, argila, lousas, massinha
colorida e diferentes papéis. Importante também é ter à disposição
imagens de obras de arte de diversificadas, esculturas de artistas locais
ou não para conhecimento das crianças. Também seria interessante o
uso de câmeras fotográficas para os registros da turma.
Teatro e contação de histórias: Organizar um palco simples, com
fantoches, dedoches e\ou marionetes. Ter um acervo de recursos
expressivos é muito importante, assim como a prática cotidiana da
contação de histórias. Qualquer ambiente na unidade de Educação
Infantil pode se tornar mágicos para as narrativas orais. Os
conhecimentos da dramaturgia podem ludicamente ser trabalhados nos
mini palcos organizados com criatividade e ludicidade.
Interações e brincadeiras: Preparar uma área mais ampla, que possa ser
dividida com marcações no piso, para brincar de amarelinha, bambolês,
tatames, cordas, bolas, ioiôs, bilboquês, cestas de basquete, triciclos,
patinetes, carros de rolimã, bicicletas e tantas outras brincadeiras.
Culinária: Disponibilizar um espaço onde as crianças possam preparar
saladas de frutas, lanches naturais, e outros pratos para terem
experiências gastronômicas.
129
Dança: Organizar um ambiente com espelhos, fantasias, aparelho de
som, caixas amplificadas, painéis com apresentações e outras imagens,
para a criança se extrapolar e se divertir.
Fazendinha e Horta: Possibilitar a construção de canteiros, plantio de
árvores frutíferas, hortas, flores e outras. Trabalhar com os pequenos os
conceitos de jardinagem e paisagismo. Sugestão para unidades que não
têm espaço para esses cultivos são as hortas-móbile, podem ser feitas
com PVCs ou garrafas pet, suspensas por fios (fixadas na horizontal), até
o teto do pátio, ou outro espaço.
Circo: Confeccionar fantasias circenses, disponibilizar maquiagens,
perucas, itens de malabares, caixas de mágica, equipamentos de
audiovisual, máscaras, bijuterias e brinquedos em geral.
131
formas de expressões humanas: o desenho, a música, a linguagem plástica, e
outras.
A linguagem corporal, que o corpo utiliza quando fala, pode ser considerada
como um complemento para uma comunicação eficiente, expressando coisas
involuntariamente ou que ainda não se tem consciência. Esta forma de linguagem
diz muito a nosso respeito e sobre o que cada pessoa sente.
Quando se trata de crianças que ainda não se apropriaram da linguagem
verbal, é necessário estar atento para outras formas de linguagens, pois a todo
instante a criança busca a comunicação com os adultos que a cerca, de diversas
formas, e em diferentes oportunidades.
Entretanto, para Oliveira e Goulart (2017),
135
É importante permitir que as produções das crianças sejam signos a serem
decodificados, sem a obrigação de representar objetos da realidade, pois não têm
necessariamente que representar os significados que os adultos esperam
(RONDONÓPOLIS, 2016). De acordo com Cintra, (2018, p. 1) ―Quanto mais
elementos artísticos o educador apresentar para as crianças, mais rica será a
linguagem e a expressividade delas‖. E acrescenta:
Assim, dar espaço para a fruição da capacidade criadora das crianças, propor
a observação, manipulação e experimentação de diferentes materiais, são ações
significativas para quem deseja incentivar a criatividade das crianças na Educação
Infantil.
136
subjetividade. As crianças precisam pensar sobre o mundo ao seu redor,
desenvolver a capacidade de observação, criar hipóteses e inventar narrativas.
Os seis direitos de aprendizagem, explorados pela Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), são ratificados nas vivências literárias. Neste sentido, a ação
pedagógica planejada pelo docente pode impulsionar o trabalho pedagógico,
perpassando todos os campos de experiência, favorecendo em muito o
desenvolvimento integral da criança.
Segundo Paiva e Maciel (2008, p.116) ―Quanto mais evidente ficar para o
professor a importância da leitura literária como poderosa fonte de formação de
sensibilidade e de ampliação de nossa visão de mundo […] mais significativas se
tornarão as práticas de letramento literário‖.
Proporcionar o acesso a essa produção cultural é função docente. Essa
prerrogativa lhe exige o domínio de algumas habilidades que são imprescindíveis,
tais como: organização do tempo e do espaço, escolha das obras e capacidades de
mediação.
Ensinar a criança a apreciar literatura infantil, a manipular um livro e a
observar seus diversos componentes, é função docente. A princípio, o livro pode ser
considerado pelas crianças como um simples objeto, ou como um brinquedo. Porém,
as crianças precisam desenvolver familiaridade com esses objetos coloridos que
fazem parte do cotidiano da Educação Infantil, do faz de conta e do prazer.
É interessante explorar com as crianças os elementos paratextuais do livro,
chamando a atenção para a capa, a textura, as ilustrações, a predominância das
cores, dentre outros. Travar diálogos com a turma a respeito do contexto onde se
desenvolve a trama pode contribuir para a produção de sentido pela criança.
Com relação à capa do livro, Souza e Girotto afirmam que:
137
É importante a prévia organização dos espaços a serem utilizados,
promovendo a atividade de leitura de literatura infantil ou de contação de história.
Reunir as crianças, formando círculos ou semicírculos, de modo que todos se vejam
pode facilitar a interação entre o grupo, possibilitando a participação de todos na
atividade.
De acordo com Oliveira (2010),
140
2.5.4 A importância da música para o desenvolvimento humano
Os sons e ritmos fazem parte da vida do ser humano mesmo antes de nascer,
uma vez que são percebidos no dia a dia do novo ser em formação. Soares (2008,
p. 80), ressalta que ―[...] desde a vida intrauterina, o bebê é cercado por um
ambiente sonoro, convive tanto com ruídos externos quanto com os sons internos
causados pelo funcionamento do corpo da mãe e pela sua voz.‖ Na quarta semana
após a concepção, ―[...] nosso próprio coração já começa a bater, anunciando nossa
existência ao mundo‖ (BRÉSCIA, 2003, p. 67), ditando o ritmo da vida e se
inteirando dos sons do corpo da mãe.
Entretanto, ao nascer os ruídos vão sendo ampliados, uma vez que a
multiplicidade dos sons externos passa a fazer parte do cotidiano. Daí por diante o
novo ser não é apenas ouvinte, mas produtor de sons que se ampliam a cada
momento, conforme os estímulos recebidos, colaborando para o desenvolvimento da
criança. ―A exposição do sujeito à música permite que ele seja afetado por ela, o que
engendra o gosto e abre novas oportunidades de ser‖ (FONTERRADA, 2007, p. 32).
Ao proporcionar à criança vivências musicais, além de promover o gosto musical,
seu cérebro estará se desenvolvendo.
Estudos têm mostrado que:
141
gestos, movimentos e na ludicidade que garante a capacidade de brincar com os
sons.
Desde a antiguidade, o brincar sempre esteve presente no dia a dia das
crianças, constituindo sua primeira vivência com o mundo da cultura, pois é a partir
das simples brincadeiras que vão se construindo habilidades diversas. A proposta de
musicalizar a criança por meio do lúdico é uma forma prazerosa de aprender música
e, por meio dela, chegar a conteúdos mais elaborados.
É importante reconhecer a atuação constante da música nas diversas fases
da vida das crianças como uma conquista a cada dia de acordo com a capacidade e
o desenvolvimento de cada criança. Importa lembrar, porém, que ―[...] esse processo
se dá na interação com o meio, num ambiente de amor, afeto e respeito‖ (BRITO,
2003, p. 46).
Outro aspecto importante apontado pela autora é que ―a educação musical
não deve visar à formação de possíveis músicos do amanhã, mas sim à formação
integral das crianças de hoje‖ (Ibid.). A partir desse pressuposto, a música não seria
algo considerado difícil ou complicado, uma vez que Swanwick (2010, p. 26) ressalta
que ―[...] toda criança gosta de música. É natural do ser humano‖.
Brito (2003) orienta que deve-se proporcionar às crianças o contato artístico e
cultural seja ―pelo canto, pela dança, pela representação‖, só assim estaremos
estabelecendo ―[...] desde a primeira infância, uma consciência efetiva com relação
aos valores próprios da nossa formação e identidade cultural‖ (BRITO, 2003, p. 94).
Considerando a música como uma prática social, Bellochio e Figueiredo
(2009, p. 37) enfatizam que ela ―[...] está presente em todas as sociedades e
culturas. De uma forma ou de outra, todos os seres humanos lidam com música em
diferentes momentos de sua vida, em atividades cotidianas‖. Para complementar as
observações, os autores assinalam que, "[...] se a música faz parte da experiência
humana em diversos momentos da vida e com diversas funções, também faz parte
da escola‖ (BELLOCHIO e FIGUEIREDO, 2009, p. 37).
Nessa perspectiva, para Maffioletti (2008), a música é importante na escola
porque é importante para as crianças. Estas precisam da música assim como da
palavra para se comunicar. É possível afirmar que a música é importante na vida do
ser humano em todas suas dimensões, quer seja na escola ou fora dela. Diante
desse entendimento, Terahata (2012, p. 12) afirma que ―[...] a música como
142
conhecimento humano tem que ser disponibilizada, tanto como apreciação quanto
pelo fazer musical, para os pequenos que chegam ao mundo‖, uma vez que, ―eles
chegam a um mundo musical, sonoro‖.
Considerando a música como fenômeno social, Queiroz (2011, p. 19)
compreende que ―[...] a música constitui uma rica e diversificada expressão do
homem, sendo resultado de vivências, crenças e valores que permeiam a sua vida
na sociedade‖.
O autor acredita que, se considerada como expressão cultural, a música
tende a ser um veículo universal de comunicação. Segundo ele, ―[...] não se tem
registro de qualquer grupo humano que não realize experiências musicais como
meio de contato, apreensão, expressão e representação de aspectos simbólicos
culturais‖ (QUEIROZ, 2011, p. 19). Entendimento a partir do qual é possível afirmar
que as diversidades musicais devam ser manifestas nas instituições de Educação
Infantil, uma vez que cada criança traz consigo suas experiências sociais.
O autor defende, ainda, que se deve pensar na construção de saberes
contextualizados considerando as particularidades individuais e sociais, informando
que o ensino ―[...] precisa ser abrangente e diversificado, contemplando,
principalmente, propostas e ações educativas contextualizadas com contextos
escolares das múltiplas realidades socioculturais do país‖ (QUEIROZ, 2011, p. 22).
143
Neste sentindo, a linguagem matemática abrange um amplo campo de
relações, simetrias e coerências que despertam a curiosidade e estimula a
investigação. Na Educação Infantil, período no qual a criança desenvolve, de forma
mais intensa suas habilidades cognitivas e aprimora o raciocínio lógico, o trabalho
com a matemática é relevante.
A criança depois que passa a pensar matematicamente, amplia sua
capacidade perceptiva e motora, que são habilidades essenciais para o seu
desenvolvimento integral. Desde muito pequenas, as crianças entram em contato
com uma variedade de noções matemáticas nos espaços das instituições de
educação. Elas percorrem e exploram os diferentes espaços, comparam tamanhos,
pesos, tempos e transformações, por meio de calendários e relógios, ouvem e falam
sobre números e resolvem problemas.
Enquanto brinca, a criança é motivada a realizar contagens, comparação de
quantidades, identificar algarismos, adicionar pontos que fez durante a brincadeira,
perceber intervalos numéricos, dentre outros. Em alguns jogos, como nos jogos de
memória e nos de encaixe vão treinando suas percepções sobre as formas
geométricas.
A linguagem matemática está presente nas brincadeiras infantis, nas cantigas
e em diversas atividades cotidianas das crianças, pois vivemos em um mundo
―numeralizado‖, porém, os conhecimentos matemáticos não são sistematizados nas
situações cotidianas, para isso, há necessidade de uma ação planejada e
intencional.
O jogo/brincadeira também contribui para o desenvolvimento infantil. Segundo
Kishimoto (1998), o jogo vincula-se ao sonho, à imaginação e ao símbolo. É uma
proposta para a educação de crianças e docentes. Kishimoto, compreende o jogar
como gênero da ―metáfora‖ humana. Ou, seja, aquilo que nos torna realmente
humanos.
Durante os jogos/brincadeiras, as crianças se defrontam com os desafios e
problemas, devendo constantemente buscar soluções que lhe são colocadas.
Corroborando com os estudos de Smole, Diniz e Cândido (2000b) dizem que o
brincar é uma oportunidade para perceber distâncias, desenvolver noções de
velocidade, duração, tempo, força, altura e fazer estimativas envolvendo todas essas
grandezas.
144
Trabalhar com a resolução de problemas no cotidiano com as crianças é
fundamental. Partindo dos seus conhecimentos prévios, é importante que o docente
crie estratégias que as desafie a traçar, formular hipóteses e argumentar. As
instituições de Educação Infantil propiciam tais situações de modo a vivenciarem as
diversas possibilidades de resolução.
De acordo com os estudiosos, Smole, Diniz, Cândido (2000),
145
água, jogos e quebra-cabeça coloridos com as figuras que vão além do triângulo,
quadrado, retângulo e círculo.
Deve-se, então, brincar com encaixes ou quebra-cabeças constituídos de
paralelogramo, losango, pentágono, hexágono ou até mesmo a manipulação dos
sólidos geométricos, como por exemplo, o cilindro, esfera, cubo, paralelepípedo,
pirâmide e prisma, dentre outros materiais não estruturados e naturais (SMOLE,
DINIZ, CÂNDIDO, 2003).
Deste modo, as instituições de Educação Infantil precisam propiciar
oportunidades para que as crianças vivenciem plenamente a partir dos seus
interesses, a linguagem matemática, pois a mesma contribui para que, além da
exploração do raciocínio matemático, seja fortalecida a compreensão de que essa
linguagem é indispensável, e está constantemente presente em toda rotina de suas
vidas. A Política Municipal de Educação Infantil (PMEI) destaca que:
Os conceitos matemáticos, parte do patrimônio cultural, não
podem ser abordados como em geral ocorre no Ensino
Fundamental. Assim como nas experiências artísticas, a educação
matemática precisa se inserir em um contexto transdisciplinar,
dialogando, misturando-se com música, atividades físicas, dança,
pintura, culinária, etc. Não se deve separar as dimensões estética,
ética, cognitiva, afetiva, motora, social, dentre outras, que
caracterizam a totalidade do ser, ao se pensar acerca das
vivências em educação matemática (RONDONÓPOLIS, 2016, p.
131).
146
As propostas pedagógicas precisam organizar o ensino da matemática de
modo que sejam consideradas as necessidades e curiosidades das crianças.
Imprescindível se faz que o docente primeiramente, antes de qualquer proposta,
conceba a criança como ―[…] ser que observa, questiona, levanta hipóteses, conclui,
faz julgamentos e assimila valores e que constrói conhecimentos e se apropria do
conhecimento sistematizado por meio da ação e nas interações com o mundo físico
e social […]‖ (BRASIL, 2017, p. 38).
Assim, as experiências a serem vivenciadas pelas crianças nas instituições de
Educação Infantil, sobre o ensino da matemática, precisam ser planejadas,
adequadas a faixa etária, como também embasar-se nas proposituras curriculares.
Propor um trabalho intencional e sustentado a partir dos eixos estruturantes
―interações e brincadeiras‖, assegurando os seis direitos de aprendizagem que
envolve o conviver, o brincar, o participar, o explorar, o expressar e conhecer, se
trabalhado de forma interdisciplinar.
O trabalho com jogos e brincadeiras como recurso metodológico para o
ensino de conhecimentos matemáticos possibilita aprendizados significativos para
as crianças. Nesse sentindo, as propostas pedagógicas das instituições de
Educação Infantil devem articular essas experiências cotidianas com os
conhecimentos matemáticos produzidos historicamente, possibilitando que as
crianças possam se apropriar deles.
É preciso compreender que as práticas envolvendo a linguagem matemática
requerem dos docentes a aquisição de saberes inerentes a essa linguagem,
articulando-a às demais linguagens tão importantes quanto, tendo em vista que
nenhuma linguagem se sobrepõe a outra.
Para ensinar Matemática na Educação Infantil, é necessário que o trabalho
docente tenha intencionalidade pedagógica e que seja organizado a partir de jogos,
brincadeiras, histórias-contação/dramatização, resolução de problemas,
experimentos e diversas possibilidades que compõe o universo infantil.
A BNCC (2017), especificamente no Campo de Experiências Espaços,
Tempos, Quantidades, Relações e Transformações (BRASIL, 2017, p. 38),
apresenta algumas possibilidades para essa área de conhecimento, porém é
importante compreender que a propositura dos campos de experiências é de um
147
trabalho pedagógico interdisciplinar, pois se interligam, fazendo o movimento
intercampos.
Assim, o planejamento docente e a exploração dos Campos de Experiências
contribuirão para o desenvolvimento de propostas que envolvam os conhecimentos
matemáticos, por meio de atividades em que as crianças possam manipular objetos,
observando, quantificando-os, ordenando-os, bem como comparando seus pesos,
seus comprimentos e utilizando o registro por meio de números.
148
Os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (1988) orientam:
O ingresso das crianças nas Instituições pode criar ansiedade
tanto para elas e seus pais como os professores. As reações
podem variar muito, tanto em relação às manifestações
emocionais quanto ao tempo necessário para se efetivar o
processo (p. 79-79).
149
De acordo com o Documento de Referência Curricular de Mato Grosso
(2018),
Na Educação Infantil há diferentes transições a serem
consideradas: processos transitórios de casa para instituição de
Educação Infantil, transições no interior da instituição, transição da
Creche para Pré-escola e transição Pré-escola para o Ensino
Fundamental. Diante disso, a inserção de bebês e crianças
pequenas na Educação Infantil demanda um processo de
flexibilização de tempos, espaços e rotinas, envolvendo a família e
a creche, assim como a entrada no primeiro ano do Ensino
Fundamental, especialmente para aquelas crianças que nunca
frequentaram instituições educativas. Ao ser inserido no contexto
escolar, ou a um novo ambiente escolar, esse ―novo‖ gera por
vezes ―insegurança‖, visto que, na Educação Infantil, as crianças
saem de suas zonas de conforto, deparando-se com um ambiente
coletivo, com regras diferentes das de seus lares, participando de
atividades incomuns ao seu cotidiano, passando a conviver com
adultos e crianças inicialmente estranhos (MATO GROSSO, 2018,
p. 20).
150
Nesse sentido, faz-se necessário que cada instituição educacional procure
conhecer os anseios e perspectivas das famílias. Estas informações podem ser
coletadas por meio de instrumentos diagnósticos, que permita a toda a equipe da
instituição de educação conhecer a criança em suas peculiaridades.
A criança, ao ser incluída pela primeira vez em uma instituição educativa,
precisa ser entendida em todas as suas manifestações: choro, sorriso, alegria,
tristeza, isolamento e outros. Os profissionais precisam desenvolver estratégias
pedagógicas de acolhimento e adaptação às necessidades das crianças e famílias
nesse novo processo de suas vidas.
O momento de inserção nesse novo mundo com espaços de socialização,
interação e brincadeiras frequentados pela primeira vez pode causar sentimentos de
ansiedade, curiosidade, medo e desconforto.
Neste sentindo, os docentes devem planejar práticas pedagógicas que
estabeleçam um diálogo aberto com as famílias, considerando-os parceiros durante
todo o processo educativo.
No Documento Curricular do Estado de Mato Grosso (DRC), consta:
152
[…] do ponto de vista da criança, não há fragmentação. Os
adultos e as instituições é que muitas vezes opõem Educação
Infantil e Ensino Fundamental, deixando de fora o que seria capaz
de articulá-los: a experiência com a cultura (BRASIL, 2007, p.45).
153
d) prever formas de articulação entre os docentes da Educação
Infantil e do Ensino Fundamental (encontros, visitas, reuniões) e
providenciar instrumentos de registro – portfólios de turmas,
relatórios de avaliação do trabalho pedagógico, documentação da
frequência e das realizações alcançadas pelas crianças – que
permitam aos docentes do Ensino Fundamental conhecer os
processos de aprendizagem vivenciados na Educação Infantil, em
especial na pré escola e as condições em que eles se deram,
independentemente dessa transição ser feita no interior de uma
mesma instituição ou entre instituições, para assegurar às
crianças a continuidade de seus processos peculiares de
desenvolvimento e a concretização de seu direito à educação
(2009, p. 17).
154
importante que os professores do Ensino Fundamental conheçam
o currículo da Educação Infantil e a forma como as crianças
aprendem para criar um ambiente acolhedor. Valorizar atividades
da rotina da pré-escola, como uso de massinhas e contação de
histórias, pode ajudar muito. E garantir o direito da criança de
brincar também nesta etapa é fundamental. Nesta transição,
quase sempre há uma mudança de Instituição. E os cuidados de
levar a criança para conhecer o espaço que ela vai frequentar, o
ambiente, se possível, os professores, ajudam muito. O diálogo
entre as duas Instituições (pré-escola e Ensino Fundamental) é
fundamental para que não haja rupturas bruscas. As equipes
podem agendar visitas e promover atividades para que crianças e
professores das duas etapas se conheçam e dialoguem
(MOVIMENTO PELA BNCC, 2018, p. 60).
155
2.7 Avaliação na Educação Infantil
156
Partindo desse pressuposto, a avaliação deve ser compreendida como um
mecanismo que ajuda o docente a observar de forma reflexiva a criança, mediar nas
suas necessidades formativas, acompanhar seu desenvolvimento, buscar novas
estratégias para minimizar conflitos e dificuldades, transformando sua prática
pedagógica.
Avaliar é um processo que deve ser realizado a todo o momento e em todos
os espaços em que a criança se encontra, ou seja, nas situações de cuidado com o
corpo, alimentação, socialização, acolhida, atividade livre, atividade dirigida,
brincadeiras, espaços externos, espaços internos, individual e coletivamente,
entendendo que todos os momentos da criança na instituição de educação infantil,
são períodos de desenvolvimento e construção de conhecimentos, assim, a
avaliação não pode ser concebida apenas no final de cada semestre e pautada
exclusivamente em atividades dirigidas ou realizadas no papel.
De acordo com Hoffmann (2006), a avaliação será concebida pelo docente
como meio de mediar o conhecimento e essa terá um significado entre as ações
permanentes e, principalmente, que estimule o docente a refletir sobre suas ações e
os pensamentos das crianças da Educação Infantil.
Ao longo dos anos, a Educação Infantil passou a ter reconhecimento, ganhou
espaço e sofreu muitas mudanças, assim também ocorreu com o processo avaliativo
nessa etapa da educação. O que antes era um instrumento de medida e
classificação passou a ser concebido como instrumento de apoio ao docente e aos
demais profissionais, assistente de desenvolvimento infantil e estagiárias, envolvidos
no processo de desenvolvimento da criança.
Para Hoffmann (2006), existe um paradigma de avaliação pautado na
classificação das crianças, que se orienta pela padronização do ―transmitir-verificar-
registrar‖, desconsiderando as especificidades do processo de desenvolvimento
infantil.
Assim como reforça Moro e Souza (2016, p.94),
157
Desse modo, documentar os processos de aprendizagens e das vivências
cotidianas das crianças sugere uma nova forma de conceber o planejamento, o
currículo e a avaliação. Nessa perspectiva, principalmente no que tange à avaliação,
esta só tem sentindo na análise dos componentes do processo, como nas interações
e aprendizagens das crianças.
Desse modo, o processo avaliativo na Educação Infantil deve ser entendido
como uma ação pedagógica, corroborando com a Política Municipal de Educação
Infantil salienta que
A intenção pedagógica avaliativa deve proporcionar ao professor
as condições para a elaboração, no seu plano de trabalho, de
objetivos e atividades adequadas, estabelecendo, assim, um real
ponto de partida para a prática docente, evidenciando a
necessidade de reflexões por parte dos educadores no tocante ao
processo (RONDONÓPOLIS, 2016, p. 159).
158
[…] o professor deve organizar múltiplos registros, por meio de
pautas de observação, registros escritos (diário, caderno de
acompanhamento do desenvolvimento), relatórios, fotografias,
vídeos, desenhos, álbuns, criações das crianças (desenhos e
outros), portfólios individuais e coletivos, mini – histórias, painéis
comunicativos, pareceres descritivos, entres outros. (NOVO
HAMBURGO, 2020, p. 59).
160
I – a observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras
e interações das crianças no cotidiano;
II – utilização de múltiplos registros realizados por adultos e
crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.);
III – a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da
criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de
transição vividos pela criança (transição casa/instituição de
Educação Infantil, transições no interior da instituição, transição
creche/pré-escola e transição pré-escola/Ensino Fundamental);
IV – documentação específica que permita às famílias conhecer o
trabalho da instituição junto às crianças e os processos de
desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil;
V – a não retenção das crianças na Educação Infantil.
162
se analisar sob outra ótica tanto a prática educativa quanto o desenvolvimento das
crianças de forma crítica e reflexiva.
Ou seja, é uma possibilidade e/ou procedimento de registar o que foi
realizado, no intuito de socializar os conhecimentos e saberes para que o docente
observe, registre, pense e comunique os acontecimentos cotidianos que envolvam
descobertas, experiências, hipóteses das crianças sobre o mundo, como, também
instrumento de comunicação com as famílias.
Desse modo, é relevante compreender que a documentação é uma forma de
registros que se relaciona com as ações pedagógicas, de acordo com Alves,
164
acompanhar o desenvolvimento da criança e para planejar a sua prática, pois não é
possível observar apenas em um momento, é preciso criar as oportunidades‖
(RONDONÓPOLIS, 2016, p. 161).
De acordo com Oliveira (2012), a observação possibilita ao professor
compreender a forma como as crianças se expressam e comunicam suas ações e
reações frente as mais diferentes situações, como irritação ou satisfação, mesmo
antes de começarem a falar e esse conhecimento o auxilia a tomar decisões sobre
como agir de forma adequada. Essa ideia coaduna com os estudos de Gandini e
Goldhaber (2002), que explicitam a relevância da observação e escuta do docente:
Assim, por meio de uma ação pedagógica intencional e planejada, que antes
de partir para a prática avaliativa, deve desenvolver reflexões sobre todo o processo
pedagógico.
Nesta perspectiva, por meio da observação se faz o registro. Compreende-se
o registro como um instrumento basilar, que pode auxiliar o docente na tarefa de
rememorar fatos, experiências e vivências relacionadas às crianças. Nessa
165
premissa, o registro é um acompanhamento da observação, pois por meio desta o
docente deve registrar tudo que acontece em sua sala de referência, nos tempos,
espações e materiais. O registro na Educação Infantil pode ser feito de diversas
maneiras, como:
166
p. 187): ―[…] para aprender a observar é útil dispor de instrumentos e de referências
que ajudem o que se observar e serve de guia para planejar e prever situações que
serão propostas‖.
A seguir, são expostas algumas possibilidades de registros, que
contribuem para subsidiar o processo de avaliação:
Produções das Crianças: No universo da Educação Infantil é necessário
propor experiências das mais diversas no intuito de promover seu
desenvolvimento e construção de conhecimentos. Nesse contexto, as
crianças elaboram seus registros cotidiano, tais como: produções infantis,
desenhos, fotografias, narrativas entre outros, com mediação dos
educadores e essas produções são de extrema importância para que
ambos observem suas trajetórias de descobertas, hipóteses e
experiências.
É importante que as produções das crianças e seus registros estejam sempre
ao alcance das mesmas e sejam retomadas pelo docente para relembrar atividades
já realizadas e situações já vividas, servindo de instrumento para provocar um olhar
observador da criança com relação às suas próprias produções. Essas produções e
registros devem ser organizados e articulados a outros elementos e informações de
forma contextualizada, permitindo revelar o percurso de desenvolvimento da criança
e o trabalho pedagógico realizado na instituição.
Portfólio: É um instrumento que servirá como arquivo
das produções da criança, que poderá ser analisado por docentes,
coordenadores pedagógicos e familiares da criança.
A palavra portfólio tem origem no latim, que significa portare (portar) folium
(páginas). É um documento de origem inglesa e utilizado principalmente por artistas
plásticos e designers entre outros profissionais como uma pasta de produtos para
divulgar o trabalho do profissional ou da empresa. Em uma dimensão pedagógica, o
portfólio é utilizado para acompanhar o processo de aprendizagem da criança ou do
grupo (BARBOSA e HORN, 2001).
Para Lopes (2009),
167
de um trabalho e fotografias e até mesmo relatos das famílias. É
importante conter no portfólio a intencionalidade da aprendizagem
do professor, observações e reflexões sobre as os processos
vivenciados pelas crianças. Para a autora ―os portfólios
representam a construção de memória, de história tornando
possível o intercâmbio de experiências e dos saberes delas
decorrentes‖ (LOPES, 2009, p. 130).
168
Os registros no caderno nem sempre são realizados diariamente pelo
docente, no entanto, Oliveira (2012) salienta que o hábito de registrar as
observações e reflexões no dia a dia garante que os fatos estejam recente na
memória, tornando relato mais rico em detalhes e isso auxilia na elaboração de
outros instrumentos, como o relatório descritivo, portfólio, dentre outros.
Os registros devem ser organizados pelo docente de forma coerente e com
ética profissional. Alves (2017) traz alguns apontamentos relevantes para o docente
refletir e organizar seus registros no caderno de registros e/ou de Campo.
As propostas planejadas para o dia de hoje foram realizadas?
Qual foi a reação das crianças frente as propostas?
Eu tive alguma dificuldade?
Precisarei retomar alguma ação?
O que não conseguimos realizar e por quê?
Os objetivos foram alcançados?
As crianças disseram ou sinalizaram alguma preferência ou necessidade?
Como me senti em relação a isso? (ALVES, 2017, p. 29).
Diante desses pressupostos, o registro precisa ser uma ferramenta
fundamental para o docente. Registrar é um recurso que auxilia a memória,
possibilita retomar e rever os fatos ocorridos, além de ―No contexto da
documentação pedagógica, assume função primordial quando, para além da
descrição das realizações infantis, propicia elementos para o professor repensar
suas realizações‖. (MENDONÇA, 2009, p. 67).
Fotografias e vídeos:
Um dos procedimentos de registros avaliativos para subsidiar o trabalho
docente é a utilização de fotografias e filmagens, a Política Municipal de
Rondonópolis, orienta o registro com a fotografia:
169
Também é um recurso importante para observação da própria
criança (RONDONÓPOLIS, 2016, p. 164).
Ao optar por uma dessas formas de registros, o docente precisa planejar, ter
uma intencionalidade pedagógica, planejar o que vai registrar para escolher a
melhor ferramenta, vídeo ou fotografia, sendo o ponto de partida. Neste sentindo, a
fotografia congela o momento e isso pode favorecer uma discussão a partir da
imagem, o vídeo registra o áudio e o movimento, o que também é interessante.
173
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179
3. ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DEMOCRATIZAR
A GESTÃO PARA COMPREENDER A FUNÇÃO SOCIAL DA INSTITUIÇÃO
3
Embora existam todas essas garantias legais, em 29/11/2019, o Supremo Tribunal Federal, julgou
inconstitucional o Art. 237, inciso IV da Constituição do Estado de Mato Grosso. Desde então, a
última eleição para Diretores em Rondonópolis foi em 2018.
181
A implantação da Gestão Democrática nas instituições de educação pública
pode ser entendida como elemento primordial para a democratização do espaço
escolar e da própria sociedade, sendo assim, o papel do Diretor é entendido, como
um articulador de todo o processo. O diretor, como pessoa que exerce o papel de
líder dentro da instituição de educação, deve desenvolver e administrar
determinadas atividades, coordenando sua equipe para que juntos tenham êxito em
suas ações e alcancem os objetivos. Sua atuação é fundamental para a criação de
um ambiente propício para a discussão de questões referentes ao processo de
ensino-aprendizagem, à participação colaborativa e à construção de cidadania e à
implementação de programas de formação contínua de todos os profissionais
pertencentes a instituição de educação.
Democratizar a gestão nas instituições educativas é ter compreensão sobre a
sua função social que deverá está comprometida com sua transformação. É zelar
para que o projeto da instituição educativa seja elaborado com a participação de
todos os segmentos, nas discussões acerca do currículo, das concepções e práticas
pedagógicas e da formação continuada, colocando como questão principal a
instituição de educação e a criança como protagonista. Uma instituição educativa,
entendida como espaço vivo e sistemático de construção e reconstrução histórica do
saber, privilegiando a formação para a cidadania ressaltando os aspectos de uma
formação humana libertadora e autônoma.
Lück (2009) esclarece que:
182
de sociedade, bem como pela avaliação do desenvolvimento e das aprendizagens
das crianças.
Segundo Lück (2006), quando as pessoas participam das tomadas de
decisões, criam a oportunidade de controlar o trabalho que realizam, sentindo-se
criadoras e responsáveis pelos resultados alcançados, construindo,
consequentemente, sua autonomia.
A gestão democrática nas instituições educativas precisa ser concebida como
instância capaz de promover mudanças na relação instituição-comunidade. Em
razão disso, a equipe gestora necessita abrir o espaço para o diálogo e participação
de docentes, assistentes de desenvolvimento infantil, estagiários, profissionais da
educação e das famílias.
Essa participação contribui para o desenvolvimento da autonomia, pois
resgata o sentido da educação pública no modo de organização e poder de tomar as
decisões na ação educativa, favorecer o exercício da democracia na instituição.
Para que a gestão democrática se efetive, o trabalho da equipe gestora da
instituição educativa revela-se um elemento de grande relevância. Por isso, é
necessário que o gestor, acima de tudo, seja um líder, que interage, participa e
coordena em busca de soluções e construções.
Neste sentindo, compreende-se que a função do diretor é muito complexa,
abrangendo os aspectos de autoridade escolar: o de educador e o de administrador
(DIAS, apud, MENESES, 1998). Como autoridade, o diretor é o responsável por tudo
o que acontece na instituição educativa escolar, sendo seu representante legal, este
é a pessoa que personifica a instituição. Deve acompanhar as atividades designadas
e executadas pela equipe que está sob o seu comando e também participar das
atividades-fim de sua instituição.
183
coordenando e organizando o trabalho. Diante das suas responsabilidades, o diretor
deve executar seu trabalho objetivando os melhores resultados para toda a
comunidade escolar e assim alcançar os objetivos da instituição e na relação da
aprendizagem e desenvolvimento da criança.
O diretor deve cumprir e conhecer bem a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) (Lei
Federal nº9394/96); as Constituições Federal e Estadual; o Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei Federal nº 8069/90); os Documentos Legais da Educação Infantil;
Lei Orgânica do Município; os Conselhos: Nacionais, Estadual e Municipal de
Educação; o Regimento Escolar; o Projeto Político-Pedagógico da instituição
educativa; o Regimento Interno; o Estatuto do Funcionário Público e as Normas
Internas da Secretaria Municipal da Educação.
Dessa forma, ressalta-se a necessidade primordial do Conselho Deliberativo
da Comunidade Escolar (CDCE), o qual se faz a sua inclusão na gestão
democrática, pois o CDCE e um órgão colegiado, constituído por representantes de
todos os segmentos da comunidade escolar (família\pais, crianças, docentes,
funcionários), que tomam decisões sobre as dimensões administrativas, financeira e
político - pedagógica da instituição de educação. Isto se dá, de forma que a gestão
compartilhada a qual é gerida por um conjunto de pessoas de igual autoridade.
Sua finalidade é de assegurar a participação de todos os segmentos para
participar das tomadas de decisões da escola, acompanhando a aplicação dos
recursos e discutindo prioridades. Além disso, o Conselho também deve avaliar a
atuação da escola e na execução do Projeto Político Pedagógico, bem como
participar das discussões sobre assuntos de interesse da comunidade escolar.
Sobre a importância do CDCE, Lima (2005) compreende o Conselho Escolar
como sendo um espaço de constituição do sujeito democrático, já que os sujeitos
não nascem participativos, tendo, portanto, que aprender a participar. ―É pela prática
da participação democrática que se constrói a democracia. É decidindo através da
prática da participação que se aprende a participar. [...] É este o âmago da
democracia participativa e da educação [...]‖ (LIMA, 2005, p.76).
Com relação ao Conselho Escolar, Silva e Torres (2008), enfatizam que o mesmo
184
segmentos da comunidade escolar sejam esclarecidos quanto às
funções e contribuições do Conselho. Ele oferece aos
conselheiros a condição de aprendizado da participação, ao
lidarem com as contradições, buscando superar os problemas
identificados e debatidos coletivamente sobre assuntos de
interesse comum (SILVA e TORRES, 2008, p. 37).
185
Toda essa organização de planejamento e de comprometimento mútuo gera
uma ação pedagógica que representa ações democráticas. O gestor precisa
organizar, articular ações, reconhecer as ações positivas de seus pares, sendo
capaz de reconhecer as potencialidades humanas. É fundamental que o gestor
trabalhe atento as funções de todos os segmentos e garanta a participação da
comunidade escolar e também da comunidade local na administração da unidade
escolar.
Assim, pensar a gestão democrática dentro da instituição educativa é um
desafio que deve ser assumido por todos, para que ela se constitua num elemento
de transformação social. É preciso ter uma liderança compartilhada no sentido de
que o gestor esteja aberto as discussões, as sugestões, realizar um trabalho coletivo
e em conjunto com o CDCE, à medida que todos atuem na instituição.
Diante disso, gestão democrática se apresenta substancial e necessária para
que se consiga uma educação de qualidade, pois apesar dos desafios a serem
enfrentados pelo gestor e seus demais integrantes, é um caminho possível e viável
na construção de uma educação de qualidade.
Dessa forma, as instituições de educação do município de Rondonópolis são
corresponsáveis/responsáveis pela efetivação da democracia, por meio de seus
CDCEs e da gestão eletiva democrática com seus pares nas tomadas de decisões,
na elaboração e execução do Projeto Político Pedagógico, a fim de promover uma
educação igualitária e de qualidade para todos.
187
Alguns saberes são essenciais para todos os profissionais da educação, aos
docentes, Assistentes de Desenvolvimento Educacional, Estagiários, profissionais
Técnico Instrumental (administrativo) e Apoio Instrumental I (serviços diversos,
cozinha e vigilância), todos devem ser partícipes e atuantes na instituição educativa,
objetivando garantir um trabalho de qualidade.
É imprescindível que todos estes profissionais tenham clareza que a criança
na Educação Infantil tem algumas especificidades, como o cuidado com alimentação
e a higiene, que ao cuidar também está educando. Os docentes, necessitam de
todos os funcionários da instituição como parceiros que buscam executar suas
funções com caráter educativo, sempre comprometidos com o desenvolvimento da
criança e com a compreensão de infância que muito bem coloca a Política Municipal
de Educação Infantil de Rondonópolis (PMEI, 2016):
188
É sabido que pesquisas na área da Neurociência comprovam que a criança
que é bem estimulada na primeira infância pode ter seu desenvolvimento
potencializado.
A PMEI (2016) descreve o perfil do docente da Educação Infantil como:
189
A formação e a postura que o docente assume em relação à autoformação, às
formações oferecidas na instituição - como a HTP e HTPC - e na SEMED são
importantes aspectos na construção da identidade deste profissional, sobretudo, se
estas formações ―[...] apoiar-se em uma reflexão dos sujeitos sobre sua prática
docente, de modo a lhes permitir examinar suas teorias implícitas, seus esquemas
de funcionamento, suas atitudes etc., realizando um processo constante de auto
avaliação que oriente seu trabalho‖ (IMBERNÓN, 2002, p. 55). A formação possibilita
a valorização da profissão docente, sobre o qual recai a responsabilidade e
necessidade de buscar por conhecimentos/teorias que possam sustentar sua prática
- outro elemento importante na constituição deste profissional.
É certo que as vivências e experiências de vida, as formações e as
concepções aprendidas e construídas são reveladas através da prática docente,
mas é importante assinalar que as práticas dos docentes da Educação Infantil da
Rede Municipal de Ensino de Rondonópolis precisam ter como embasamento o
artigo 9º da Resolução 05/2009 onde assegura que ―as práticas pedagógicas que
compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos
norteadores as interações e a brincadeira‖ e que após a homologação da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC/2017), por meio destas práticas, os direitos de
aprendizagem e desenvolvimento devem ser garantidos, assim como a organização
curricular contemplando os campos de experiências apontados.
Para a PMEI (2016) ―[...] é necessário buscar, mais do que nunca, a
consolidação da identidade do docente de Educação Infantil [...]‖ (RONDONÓPOLIS,
2016, p .47), um docente que
190
Assim, docentes e todos os profissionais que atuam nas instituições de
Educação Infantil devem acreditar na criança, no seu potencial criador, compreender
que ela tem sua especificidade e não é somente.
[...] um sujeito que apenas ganha razão de ser em seu futuro vir-a-
ser. Trata-se, portanto, de assumir o presente da infância como o
seu tempo de vida e de experiências legítimas e não mais como o
tempo da preparação e dos investimentos para a vida adulta
(RONDONÓPOLIS, 2016, p. 22).
191
Em Rondonópolis, de acordo com as Políticas de Formação Continuada
(2016/volume 03), foi implantado em 2001 uma nova organização escolar: Ciclos de
Formação Humana, onde o foco do ensino é o direito de aprender de todos, exigindo
dos docentes o engajamento, o compromisso e a revisão nas concepções, práticas e
culturas profissionais vigentes.
De acordo com a Lei Complementar N° 5- de 30 de maio de 2001,"Art. 42, a
carga horária dos profissionais da Educação Infantil e Fundamental será de:
III - 30 (trinta) horas de trabalho semanal, ininterrupta, para os Docentes em
Educação Infantil, na modalidade Creche.
Parágrafo único. Os Docentes em Educação Infantil que se refere o inciso III,
desenvolverão 6 (seis) horas semanais em HTP compreendidas dentro de 30 (trinta)
horas semanais aludidas no referido Inciso; a aplicação do disposto neste Parágrafo
correrá até início do ano letivo de 2.002."
Dessa maneira, foram garantidas horas de estudos para os docentes,
propiciando momentos de estudos coletivos, sendo que as instituições de educação
organizam seu horário de estudo coletivo de acordo com a necessidade da equipe e
com o que rege a Normativa Municipal. As instituições de Educação Infantil possuem
uma responsabilidade, mas sobretudo um compromisso com a infância.
Ressalta-se, então, a grande importância da HTP e da HTPC nos espaços
das instituições de Educação Infantil, pois na reflexão contínua sobre a prática, o
professor (a) registra, sistematiza, avalia, critica e socializa, tomando consciência
dos saberes que possui e dos que precisa construir no seu fazer pedagógico.
Menezes e Santos (2002, p. 12), assim se referem sobre a HTPC:
192
A Educação Infantil em nosso país vem ganhando valorização a partir do seu
reconhecimento como primeira etapa da Educação Básica, cuja finalidade é o
desenvolvimento integral da criança de zero a cinco anos de idade e a formação
docente é indispensável para o alcance da qualidade da educação.
Neste século, a educação se mostra em um cenário onde os olhares precisam
estar atentos à inclusão, à diversidade, às múltiplas linguagens, à pluralidade
cultural, ao desenvolvimento sustentável e as novas tecnologias. A aprendizagem
deve estar numa perspectiva de formação humana integrada.
Percebe-se com isso, que o docente passa por muitos desafios em sua
prática, um destes é a necessidade de quebrar paradigmas, sendo assim, a
formação continuada é uma grande aliada para suprir as lacunas deixadas pela
formação inicial. Sobre isso, Imbernón (2010), afirma que,
194
Deste modo, o coordenador pedagógico exerce um papel de extrema
importância nas instituições educacionais. Dentre suas funções, destacam-se:
organizar os momentos formativos, acompanhar os processos educativos, colaborar
com as propostas pedagógicas, perceber as dificuldades do processo de
aprendizagem e desenvolvimento, como também compreender, partilhar, pensar e
refletir junto, balizado em teorias que sustente essa prática. Por isso, a formação
docente é atribuição primordial e inerente à sua condição profissional.
Concebe-se, portanto, o coordenador pedagógico como papel primordial, que
articula esses encontros internos, sendo formador de formadores. Sendo assim,
espera-se que este profissional seja capaz e comprometido com a busca do
conhecimento necessário, instigando os professores à reflexão da prática
pedagógica. Suas ações no âmbito da instituição de Educação Infantil precisam
estar entrelaçadas as Diretrizes, às Políticas Educacionais Nacionais, Estaduais e
Municipais, bem como à legislação em vigor, como elemento de articulação,
organização, mediação e dinamização do trabalho pedagógico.
O coordenador, ao mesmo tempo em que acolhe e engendra, deve ser
questionador, provocador, animador e disponibilizando subsídios que permitam o
crescimento do grupo, este profissional tem um papel relevante na formação dos
educadores, ajudando a elevar o nível de consciência: tomada de consciência. Para
Freire (1996), passagem do senso comum a consciência filosófica.
Nesta mesma direção, Garrido, em relação ao papel do coordenador
pedagógico, afirma que:
195
aprimorando seu trabalho para transformação de uma prática‖. A prática vai além
das atualizações científicas, didáticas ou pedagógicas e do trabalho docente, a
hipótese da uma prática cujo a base é balizado na teoria e na reflexão desta, para a
transformação no contexto educativo.
É importante salientar que os coordenadores pedagógicos, juntamente com
os educadores, são agentes de construção e transformação da educação, pois na
reflexão da prática e na busca de saberes inerentes à ação didática é que
proporcionará o processo de qualidade educacional. Assim, compreender que a
formação continuada é um componente que promove o desenvolvimento profissional
apresenta-se como estratégia fundante para a realização do Projeto Político
Pedagógico institucional, os projetos pedagógicos e às ações pedagógicas.
Assim, evidencia-se a importância do exercício da docência para a
constituição deste profissional e enfatiza-se a necessidade constante da relação
entre o viés teórico e o viés prático para que o docente atribua sentidos aos
conceitos e as ações. Nessa perspectiva, o educador se constitui sujeito do percurso
formativo, contínuo e continuadamente pois, como afirma Ferreira (2001):
197
processo, considerando fundamental para melhoria da qualidade das práticas
desenvolvidas nas instituições.
O marco das políticas educacionais que concebeu conceitualmente a
formação de profissionais da educação foi a Lei nº 12.014, de 06 de agosto de 2009.
Essa lei modificou o art. 61 da LDB/1996 e delineou o perfil do profissional da
Educação Básica brasileira:
198
Entende-se que todos os profissionais que compartilham o dia a dia nas
instituições de Educação Infantil são sujeitos que contribuem, direta ou
indiretamente, para as aprendizagens e desenvolvimento da criança.
O Plano Nacional de Educação (Lei 13.005/2014), em sua meta 01, que
envolve a universalização da Educação Infantil em Pré-escolas e ampliação da
oferta em creches, destaca, dentre outras, as seguintes estratégias, voltadas para a
qualificação dos profissionais:
199
1.4 Implementar e fortalecer na política de valorização e formação
dos/as profissionais da educação, a discussão de raça, etnia,
gênero, e diversidade sexual, sob a perspectiva dos direitos
humanos, adotando práticas de superação do racismo entre
outros quaisquer que discriminam pessoas e grupos;
1.8 Ampliar, em parceria com as Instituições de Ensino Superior
Públicas (Estatais) ou, na inviabilidade destas, com as instituições
de Ensino Superior Privadas reconhecidas pelo MEC, os
programas de formação continuada dos profissionais da educação
em exercício;
1.9 Garantir e implantar um programa de incentivo á formação
continuada a todos os profissionais da educação,
independentemente da sua situação funcional;
1.10 Articular com o Estado e o Município a oferta de formação
inicial e continuada, bem como estabelecer políticas de incentivo a
divulgação e atualização dos currículos, eletronicamente, dos
profissionais da educação (RONDONÓPOLIS, 2013).
200
Os profissionais de educação são peças fundamentais para a organização e o
funcionamento das instituições. São atores imprescindíveis para manter o bom
funcionamento da instituição, tanto no aspecto pedagógico (planejamento de ações,
projetos, atividades pedagógicas, dentre outros), quanto no aspecto físico (limpeza e
cuidados de higiene dos espaços, a qualidade da alimentação oferecida).
No entanto, os desafios impostos a formação dos profissionais da Educação
Infantil são inúmeros: a rotatividade de profissionais nas instituições, carência de
recursos financeiros, de recursos tecnológicos, dentre outros, são, também
fragilidades que refletem no trabalho e no cotidiano das instituições educativas.
De acordo com a PMEI (2016),
202
estruturadas, como vivem e como se relacionam entre si são fatores determinantes
das condições de vida das crianças.
Como afirma Barbosa (2010),
204
Conforme estabelece o Parecer nº. 20/2009, o trabalho pedagógico
desenvolvido na Educação Infantil pode apreender os aspectos mais salientes das
culturas familiares locais, para enriquecer as experiências cotidianas das crianças e
o trabalho com as famílias.
Segundo o documento,
206
estrutura organizacional, os recursos físicos e materiais, as
práticas de gestão, a produtividade dos [...] professores etc., com
o objetivo de emitir juízos valorativos e tomar decisões em relação
ao desenvolvimento da instituição (LIBÂNEO, 2013, p. 198).
207
Avaliação interna – de responsabilidade da instituição deve contemplar as
especificidades de cada etapa da Educação Infantil e características próprias
de cada unidade e comunidade (UMEI, CMEI, EMEI e EMEB).
Reunir o coletivo da instituição de Educação Infantil é de extrema importância
para levantar problemas internos e buscar possíveis soluções. Para Acioli (2018), a
prática avaliativa não é uma tarefa fácil, por isso, faz-se necessário que na avaliação
institucional essa prática seja um processo democrático, coletivo e que motive
sempre o diálogo.
De acordo com a PMEI (2016), a avaliação institucional é,
208
Para Lück (2012, p. 39) a avaliação institucional da escola:
209
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
210
___________. Lei 13.415, 16 de fevereiro de 2017, altera a Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, 2017.
FARIAS, Isabel S. Identidade e fazer docente: aprendendo a ser e estar na profissão. In:
Didática e docência, aprendendo a profissão. Brasília: Liber livros, 2009.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. São Paulo:
Heccus Editora, 2013.
PARO, Vitor Henrique. Gestão Democrática da Escola Pública. 3.ed. São Paulo, Ática,
2005.
212
___________. Lei Complementar Nº 228, de 28 DE Março DE 2016. Reestrutura o Plano
de Cargos, Carreiras e Vencimentos dos Profissionais da Educação Infantil e Fundamental
do Município de Rondonópolis – MT, 2016.
___________. Lei nº 2.167, de 17 de Agosto de 1990, dispõe sobre o regime jurídico único
dos servidores públicos do município de Rondonópolis, das autarquias e fundações
municipais, e dá outras providências, 1990.
213