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ISSN: 2525-8761
RESUMO
O presente artigo visa questionar a efetividade do direito de acesso à agua potável e
sistema de saneamento básico para as pessoas que residem em favelas e áreas periféricas
da cidade. Necessário compreender o surgimento dos grandes centros urbanos e com eles
a situação dos moradores de favelas e pessoas vulneráveis. O trabalho ainda correlaciona
a situação da exclusão social, de ausência de políticas públicas e a consequente ausência
de prestação de serviços básicos para a população carente das cidades. Os direitos à
moradia e condições dignas de vida devem ser enfrentados como dever de prestação pelo
Estado, para assim, efetivamente, assegurar as garantias previstas no texto da
Constituição. O estudo também aborda sobre as consequências negativas para o meio
ambiente e para a sociedade em razão da não observância de um sistema de abastecimento
de água adequado e da ausência de esgotamento sanitário nas áreas periféricas e de
favelas.
ABSTRACT
This article aims to question the effectiveness of the right of access to potable water and
basic sanitation for people residing in slums and peripheral areas of the city. It is
necessary to understand the emergence of large urban centers and with them the situation
of slum dwellers and vulnerable people. The work also correlates the situation of social
exclusion, the absence of public policies and the consequent lack of provision of basic
services for the needy population of the cities. The rights to housing and decent living
conditions must be faced as a duty of provision by the State, in order to effectively ensure
the guarantees provided for in the text of the Constitution. The study also addresses the
negative consequences for the environment and society due to the non-observance of an
adequate water supply system and the absence of sanitary sewage in peripheral areas and
slums.
Keywords: access drinking water, sanitary sewage system, social law, socio-
environmental consequences.
1 INTRODUÇÃO
Por certo, a Constituição Federal de 1988 prevê expressamente o direito à moradia
como sendo um direito social e figurando como um compromisso da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios a promoção de programas de construção de
moradias, através de uma política habitacional que prima pelo planejamento urbano.
Em que pese a previsão constitucional, o atual cenário sobre condições
habitacionais no Brasil ainda revela um não superado problema social, econômico e
ambiental que afeta as grandes cidades e causa um grande impacto na configuração
urbana.
A habitação é uma necessidade humana básica e a moradia deve ser
compreendida como o local para a pessoa estabelecer domicílio e ter um espaço que lhe
sirva como abrigo e propicie uma sobrevivência digna. Portanto, imprescindível que
possua características de habitabilidade, ou seja, que tenha no local da moradia condições
de saúde física e salubridade; logo, indispensável que haja disponibilidade de serviços e
infraestrutura como acesso ao fornecimento de água potável, fornecimento de energia,
rede de esgoto, dentre outros.
Aliás esse direito à moradia digna, além de ser reconhecido no âmbito do direito
interno e assegurado pelo Comitê das Nações Unidas de Direitos Individuais, Sociais e
Econômicos, também é citado em inúmeros outros tratados e instrumentos internacionais,
em razão justamente da sua importância para a dignidade da pessoa humana.
Contrariando as normas e previsões legais, deparamo-nos atualmente com a
realidade de cidades repletas de favelas, assentamento ilegais e habitações impróprias
para a moradia humana. Com efeito, o crescimento demasiado das cidades e a
superpopulação são fatores que levaram ao surgimento das favelas. Hodiernamente, cerca
de 80% da população vive nas cidades, fato proveniente de um desenraizamento social e
econômico, típico da dinâmica migratória que conduz aos centros urbanos.
A ocupação das cidades ocorreu de forma rápida, desordenada e sem possiblidade
de investimentos, sendo que a maioria das pessoas estão vivendo nas chamadas “área de
risco”, nominadas dessa forma justamente para indicar que os locais são impróprios para
o assentamento humano.
Somando-se a isso, a presença das favelas e assentamentos ilegais e periféricos
têm origem por causa do nosso complexo sistema financeiro imobiliário, que se funda
prioritariamente nas relações de mercado. Em outras palavras, o mercado acaba por
estabelecer altos preços para as áreas nobres e o acesso à moradia é limitado a uma parcela
reduzida da população, uma classe privilegiada, visto às condições socioeconômicas
extremamente desiguais da sociedade brasileira.
Nessa seara, a população pobre fica excluída do mercado imobiliário porque não
consegue sequer o direito ao financiamento de uma casa popular e passa a recorrer a outras
alternativas para assegurar a necessidade da habitação. Na maioria das vezes os
vulneráveis se valem justamente das favelas, de ocupações irregulares e invasões para
estabelecerem seu local de residência.
Como reflexo dessa conjuntura de cidades super populosas, desigualdade social,
injusta distribuição de renda e déficit do moradia sobretudo para a população mais
desfavorecida é que constatamos a realidade das favelas. A falta de oportunidade
habitacional que afeta as populações de baixa renda implica em violação de direitos
básicos, ocasionando a negação de direitos mínimos como o acesso a água potável e ao
saneamento básico.
vasta gama de direitos sociais, dentre eles o direito à moradia. Pois bem, nesse contexto,
surgiu a Lei n.º 10.257/2001, internacionalmente conhecida como “Estatuto da Cidade”,
e tem o fito de regulamentar o capítulo da Política Urbana, garantindo o direito a cidades
justas através de dois princípios básicos: o planejamento participativo e a função social
da propriedade.
Ocorre que se verifica um distanciamento enorme entre a previsão legal e a
realidade social, que segue um capitalismo selvagem e gera o surgimento das favelas
como fruto da desigualdade da distribuição de renda.
Entende-se por favela qualquer ocupação irregular de terrenos públicos ou
privados ou em áreas que não são recomendadas para a moradia (como os morros). As
pessoas que moram em favelas, geralmente, não dispõem de condições mínimas de
infraestrutura e não possuem a posse legal dos terrenos onde construíram suas casas.
Em termos históricos, as favelas são resultantes do chamado “êxodo rural” que,
por causa da substituição do homem pela máquina no campo, acarretou na migração em
massa de pessoas do campo para as cidades. O processo de surgimento das favelas chama-
se favelização.
Se por um lado o surgimento da favela coincide com a intensa e rápida migração
para os grandes centros urbanos, de outra banda, a sua perpetuação na sociedade é
consequência de um modelo de capitalismo que envolve conflito entre obtenção de lucro
e investimento em objetivos sociais, sobretudo para as populações pobres.
As favelas atuais, como dito, são resultado das desigualdades sociais e do grande
número de pessoas que vivem em condições precárias de vida nas cidades. As favelas
tornaram-se mais visíveis após o processo de industrialização do país, que se intensificou
após a década de 1950.
Incontestável que as favelas surgem da miséria e das baixas condições de vida da
população que, não podendo comprar ou morar de aluguel nas demais regiões das cidades,
acaba “invadindo” outros espaços e construindo casas improvisadas, muitas vezes nem
concluídas. A maioria das favelas são construídas em locais de riscos, como morros muito
altos e encostas, que, durante as chuvas, podem sofrer com deslizamentos de terras e
provocar mortes. Além do local inapropriado para a habitação, as favelas são marcadas
por ausência de infraestrutura, desservidas de qualquer serviço básico como energia, água
encanada, asfalto e esgoto. E, somando-se a essa situação de miséria, as favelas são locais
com altos índices de violência e com grande incidência de tráfico de drogas.
5 CONCLUSÃO
Partindo dos aspectos analisados, fácil perceber que o déficit de moradia e de infra-
estrutura urbana decorrem da injusta distribuição do produto social, comprometem a
cidadania e a sustentabilidade do desenvolvimento das nossas cidades.
O acesso à habitação adequada deve ser compreendida como um direito humano
universal e fundamental que carrega consigo outros direitos, como a segurança da posse,
a disponibilidade de serviços de infraestrutura e equipamentos públicos, a habitabilidade
– que deve garantir proteção contra as variações climáticas e contra eventos extremos e
riscos.
Construir cidades espacialmente mais justas e que se reproduzam sem ocasionar
ainda mais danos ambientais exige um diagnóstico realista das características e condições
de vida dos indivíduos e famílias (perfil demográfico, situação econômica, condições de
vulnerabilidade, possibilidades e potenciais de desenvolvimento, dentre tantas outras).
Por certo, é urgente políticas que viabilizem a redução da precariedade
habitacional (em todas as suas feições), sobretudo àquelas que visam à disponibilidade de
REFERÊNCIAS
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Acesso em 10/10/2022.