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MANAUS-AM
2022
YACHIKO NASCIMENTO WAKIYAMA
MANAUS-AM
2022
Dedico este trabalho à minha querida
mãe, Eley N. Araújo, que me criou,
educou, apoiou e instruiu com todo
amor, incentivando e estando presente
em todos os momentos.
AGRADECIMENTOS
Ao bom Deus por ter me protegido e me guiado até aqui. Quando precisei de força, amparo,
coragem e resiliência, recorri ao Senhor e Ele atendeu aos meus clamores.
À Eley Nascimento Araújo, minha mãe, pelo amor incondicional que me fez acreditar que eu
poderia alcançar o meu melhor e por sempre estar ao meu lado.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Héctor Mendoza, pela paciência e, principalmente, pelos
ensinamentos na área acadêmica, profissional e pessoal, os quais levarei por toda a vida.
À Prof.ª Dr.ª Fabiana Fiorezi de Marco, que participou das três bancas, nas quais esse trabalho
foi submetido durante todo o processo acadêmico e colaborou substancialmente na construção
da tese.
Ao Prof. Dr. Oscar Delgado, pela disponibilidade de compartilhar seus conhecimentos sempre
que solicitado.
Ao Prof. Dr. Francisco Eteval Feitosa, pelo apoio no desenvolvimento da pesquisa com as
turmas de estudantes de Licenciatura em Matemática, pela confiança e pelos valiosos
incentivos.
Ao colega de curso Patrik Marques dos Santos, pela generosidade de dispor de seu tempo para
me instruir nas publicações de artigos. Além disso, por me ouvir em tempos difíceis e pelos
preciosos conselhos.
As minhas colegas de curso, Ana Acácia Valente e Jusiany P. da Cunha dos Santos, pela
parceria e aprendizado.
A todos os colegas de curso, sem exceção, que fizeram desta caminhada a mais enriquecedora.
Ao meu filho, Lucas Wakiyama Schmitz, por admirar o que eu faço e, com isso, me incentivar
mais ainda a conquistar o título de doutora.
O desafio da complexidade nos faz renunciar pra sempre o mito da
elucidação total do universo, mas nos encoraja a prosseguir na aventura do
conhecimento que é o diálogo com o universo.
Edgar Morin
RESUMO
The present study focuses on the formation of skills aimed at solving problem situations in the
field of Mathematical Modeling, proposed in tasks to Mathematics undergraduates at the
Federal University of Amazonas. To reach this objective, the Galperin, Talízina and Majmutov
didactic system was assumed in the teaching and learning process, composing the so-called
Mathematical Modeling Student Problem Situations Activity (MM SPSA). This system is based
on the Historical Cultural Theory, in which the formation of skills occurs from the
internalization of the guiding action, which is initially external (material) and moves through
qualitative stages, called Galperin's Stages of Mental Actions, until it becomes action. internal
(mental). The orientation of the activity is entitled Schema of a Complete Orienting Basis of
Action (SCOBA), constituted here by four invariant actions, represented in the skills of:
formulating the student problem; build the conceptual and procedural core; solve the problem;
analyze the solution. Both actions and tasks follow the principle of Majmutov's Student
Problem, in addition to the Direction of Study Activity of Talízina to guide the process of
assimilation of skills in the classroom. The research is qualitative and quantitative, with a
qualitative emphasis, whose instruments for collecting information adopted were pedagogical
tests and observation guides. The results were evaluated according to criteria of execution in
the accomplishment of the tasks and qualitative indicators of the actions carried out by the
participating students. The first moment of the research was destined to the initial diagnosis to
verify the real development zone of the students, noting flaws in the guiding base and the need
for adequate (re)elaboration. With this, it was possible to design the didactic planning according
to a system of tasks composed of contradictions, considering the starting level of the students
and the stages of assimilation. After the implementation of the MM ASPD, the analysis of the
results proceeded from the triangulation of performance levels, qualitative indicators and
questionnaires. In view of this, it was found that 23% of the academics are able to solve the
student modeling problem under materialized guidance, representing the beginning of the
internalization of the experienced actions. With a higher relative frequency, 54% of the
participants showed a reduction in explanation, increases in generalization and partial
assimilation of actions, indicative of the formation of action in external verbal language. In
addition, 23% showed independence and total assimilation of actions in the face of tasks that
required greater creativity and generalization in their resolutions, thus reaching the stage of
external language for themselves. Even in the face of difficulties faced in accessing the internet,
manipulation of digital resources, obstacles in the execution of actions, advances were observed
in the conscious orientation of students. In view of the above, the MM ASPD, guided by the
didactic system Talízina, Galperin, Majmutov, contributes to the formation of skills as a
consequence of the partial/total internalization of the invariant action scheme aimed at the
practice of Mathematical Modeling.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 22
I MOTIVAÇÃO .................................................................................................................... 22
II JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 23
III PROBLEMÁTICA .......................................................................................................... 25
IV ANTECEDENTES DE INVESTIGAÇÃO ..................................................................... 27
V PROBLEMA ..................................................................................................................... 32
VI OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 32
VII OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 33
VIII TESE ............................................................................................................................. 33
IX NOVIDADE CIENTÍFICA E CONTRIBUIÇÕES ........................................................ 33
INTRODUÇÃO
I MOTIVAÇÃO
II JUSTIFICATIVA
1
Posteriormente, poderá ser referida apenas por modelagem.
24
2
Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/centrais-de-conteudo/acervo-linha-editorial/publicacoes-
institucionais/avaliacoes-e-exames-da-educacao-basica/relatorio-brasil-no-pisa-2018. Acesso em 06 out. 22
25
III PROBLEMÁTICA
aula. Também há de se considerar quais são as habilidades e o sistema de tarefas para torná-las
possíveis.
Smole (2020) defende que desenvolver habilidades e competências não se faz pelo
conteúdo, mas pela metodologia, em aulas pautadas por desafios problematizadores, que
favoreçam o trabalho em grupo, articulação de ponto de vista e, também, ações de ler, escrever,
representar pensamentos e conclusões. A Resolução de Problemas e as associações
relacionadas a ela - como Investigação, Desenvolvimento de Projetos e Modelagem Matemática
- caminham nessa direção.
A Modelagem Matemática, em especial, “começa com um grande problema de ordem
prática ou natureza empírica e, depois, busca a Matemática que deveria ser utilizada para ajudar
a resolver a situação problema” (MENDES, 2009, p. 83). Em outros termos, “para resolvermos
um problema, devemos primeiro produzir um modelo que represente uma situação real”
(ALVES; SÁ, 2018, p. 27).
Nas palavras de Zorzan (2007), a modelagem:
[...] tem como objetivo conectar a realidade com a matemática, promovendo o estudo
a partir do mundo vivido/concreto para a análise dos conteúdos abstratos e a resolução
de problemas que propiciam a compreensão e a constituição de saberes e alternativas
para o contexto (p. 82, grifos meus).
Em ambos os casos, é consenso entre os especialistas que os dois temas atendem aos
mesmos objetivos no âmbito do ensino e aprendizagem da matemática. Para mais:
A integração da modelagem matemática juntamente com a resolução de problemas é
sem dúvida um caminho viável, posto que, na resolução de uma situação-problema se
tornam essenciais a investigação, o estabelecimento de estratégias e a obtenção de um
modelo (gráfico, tabela, equação, etc.) que viabilizem a aplicação e a generalização
do resultado, que podem ser alcançados através de caminhos diferentes. Neste sentido,
27
IV ANTECEDENTES DE INVESTIGAÇÃO
3
Optou-se pela escrita “Vigotski”. Em referência a outro texto é mantido a escrita conforme adotado pelo autor
do texto.
28
4
Grupo a qual esta pesquisa está vinculada. Endereço: http://w3.dmat.ufrr.br/hector/. Acesso em 10 jun. 2020.
30
de ensino poderá desenvolver a habilidade dos mesmos para resolver problemas” (BARROSO,
2018, p.7).
No Ensino Fundamental, Nascimento et al. (2019) realizaram um estudo sobre a
contribuição da Atividade de Situações Problemas em adição e subtração como objeto
educacional. O resultado demonstrou-se favorável no desenvolvimento da criatividade dos
estudantes com o uso da Atividade de Situações Problema com base na teoria de Galperin. Uma
“análise da avaliação diagnóstica da atividade de situações problemas em expressões
algébricas”, realizada em uma turma do 7º ano do Ensino Fundamental, considerou que “os
alunos têm os conhecimentos prévios mínimos, mas deve-se melhorar através de
retroalimentação” (CHIRONE et al., 2014, p. 1).
Araújo, Feitosa e Mendoza (2020) investigaram o nível de aprendizagem, nos conteúdos
de adição e subtração, por meio da Atividade de Situações Problema Discente em
Matemática, dos estudantes do 3 ano do Ensino Fundamental. Esta se mostrou como uma
ferramenta eficaz para avaliar o nível de partida dos estudantes, porém, ainda apresentaram
dificuldades na resolução de problema no conteúdo de adição e subtração, sendo sugerida, pelos
autores, a implementação de uma estratégia de resolução de problema com intuito da formação
de conceitos e procedimentos em Matemática.
Outra pesquisa foi realizada em uma turma do quinto ano de uma escola municipal,
abordando o conteúdo de frações a partir do sistema de ações da Atividade de Situações
Problema. Após análise dos instrumentos, “a pesquisa demonstrou que em diferentes estudantes
a formação dos conceitos se detinha em níveis diferentes”, isto é, em diferentes etapas de ações
mentais (NETO, 2015, p. 145).
Um estudo feito por Silva et al. (2016) identificou diferentes acepções sobre os
conceitos de criatividade e pensamento criativo. Dentre os autores pesquisados nessa área, está
Majmutov, que concebe a criatividade “como o ponto mais alto do desenvolvimento cognitivo
do indivíduo, destacando o processo de ensino problematizador como um fator primordial no
desenvolvimento desse tipo de pensamento” (SILVA et al., 2016, p. 19-20).
Na busca em cumprir as demandas exigidas para o curso de licenciatura em matemática
da Universidade Federal do Amazonas, na perspectiva de desenvolver e formar, além de
conceitos, competências e habilidades concernentes à modelagem matemática necessita-se de
novas formas de organizar o processo de ensino e aprendizagem. De acordo com Maaβ (2006):
[...] a competência para fazer modelagem inclui habilidades e capacidades para definir
encaminhamentos adequados para a resolução do problema, e ainda, a pré-disposição
dos alunos em colocar essas habilidades e capacidades em ação (Maaβ, 2006, apud
ALMEIDA, 2016, p. 763).
32
V PROBLEMA
Partindo desse ponto de vista, é formulado o seguinte problema de pesquisa: Quais são
as contribuições da utilização da Atividade de Situações Problema Discente como metodologia
de ensino fundamentada no sistema didático Galperin, Talízina e Majmutov para a formação
das habilidades de modelagem matemática em estudantes de Licenciatura em Matemática da
Universidade Federal do Amazonas?
VI OBJETIVO GERAL
VIII TESE
Foi realizado o recorte do estado da arte, para averiguar quais embasamentos teóricos,
no âmbito da Educação/Educação Matemática, auxiliam na construção das atuais Teses e
Dissertações, cujo tema central é Modelagem Matemática. Estas estão disponíveis no banco de
dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e foram
defendidas entre os anos de 2016 a 2018, anteriores ao início desta pesquisa.
Dito isso, foram identificados 36 trabalhos, sendo 19 teses de doutorado e 17
dissertações de mestrado, que se utilizam das teorias de aprendizagem. Destas pesquisas, quatro
têm a Teoria Histórico-Cultural de Vigotski como aliada aos estudos relacionados à modelagem
na Educação/Educação Matemática, empregada pelos autores para alcançarem os objetivos de
suas pesquisas.
5
Também referido como habilidades de modelagem.
34
Este capítulo versa sobre a base teórica que compõe o sistema didático Galperin,
Talízina e Majmutov, iniciando o objeto de estudo desta pesquisa, com o entendimento de
Competências e Habilidades sob a ótica de diferentes autores. Em seguida, são apresentadas a
filosofia e psicologia que fundamentam o Ensino Problematizador de Majmutov.
O próximo tópico versa sobre a Teoria da Atividade de Estudo, a qual se refere: ao
Conceito de Atividade como objeto da psicologia; à Formação de Habilidades por Etapas das
Ações Mentais de Galperin segundo parâmetros qualitativos; à Direção da Atividade de Estudo
proposta por Talízina.
O tópico “As Concepções e as Fases do Processo de Modelagem”, sob a perspectiva da
Educação Matemática, dispõe das informações necessárias para a construção do Esquema da
Base Orientadora Completa da Ação em Modelagem Matemática. Por sua vez, esta é
viabilizada por meio do Sistema Didático Galperin, Talízina e Majmutov mencionado no último
tópico deste capítulo.
6
Sob o mesmo motivo de divulgação científica considerado por Pasqualini (2011), optou-se por adotar zona de
desenvolvimento próximo como tradução de zona blijaichego razvitia para o português.
7
CHAIKLIN, Seth; PASQUALINI, Juliana Campregher. A zona de desenvolvimento próximo na análise de
vigotski sobre aprendizagem e ensino. Psicologia em Estudo, v. 16, n. 4, p. 659-675, 2011. Disponível em:
http://hdl.handle.net/11449/72713 . Acesso em 06 out 22.
37
complexidade, pode compor tanto a pedra quanto os extremamente variados reinos animal e
vegetal, e produzir efeitos surpreendentes como a luz, o som, a emoção e a consciência”
(ALVEZ, 2010, p. 1).
A concepção materialista apresenta três características importantes: a materialidade do
mundo; a matéria é anterior à consciência; o mundo é conhecível. Triviños (1987) explica que
a matéria é capaz de ser refletida - haja vista que o reflexo é uma característica da matéria - e a
consciência é um tipo de reflexo na sua forma mais evoluída, altamente organizada.
Assim, a grande propriedade da consciência é refletir a realidade objetiva, permitindo
que o mundo se reflita nela e assegurando, ao homem, a possibilidade de conhecer o universo.
A ideia materialista do mundo reconhece que a realidade existe independente da consciência.
A Dialética da Natureza de Engels (1977), apoiado em Hegel, apresenta três leis
fundamentais do materialismo dialético: lei da transformação da quantidade em qualidade e
vice-versa; lei de interpenetração dos contrários (lei da unicidade e da luta dos contrários); lei
da negação da negação. No âmago destas leis, reside a ideia de que:
[...] a realidade concreta não é uma substância estática numa unidade indiferenciada,
mas uma unidade que é diferenciada e especificamente contraditória: o conflito de
contrários faz avançar a realidade num processo histórico de transformação
progressiva e constante, tanto evolucionária como revolucionária, e, em suas
transformações revolucionárias ou descontínuas, dá origem à novidade qualitativa
autêntica (ALVES, 2010, p. 5).
surgem como consequência da influência das contradições externas (do meio). São dois
aspectos opostos: a experiência alheia; a própria.
Esta mesma contradição se revela na vida escolar da criança ao resolver tarefas com um
carácter problematizador. Majmutov (1983, p. 61) considera que
As tarefas cognoscitivas e as práticas, por uma parte, e o nível existente de
conhecimento, habilidades e desenvolvimento mental dos alunos, por outra,
constituem uma contradição externa em relação com o processo de aprendizagem, já
que este aspecto depende diretamente do carácter da atividade do professor
(apresentação do novo), enquanto que a própria contradição se faz contradição interna
do aluno somente se cumpre a condição de que surja um problema (p. 61, tradução
nossa).
Por tudo que já foi mencionado até aqui, pode-se compreender o problema discente
como “um reflexo (forma de manifestação) da contradição lógico-psicológica do processo de
assimilação, o que determina o sentido da busca mental, desperta o interesse para a investigação
(explicação) da essência do desconhecido, e conduz a assimilação do novo conceito”
(MAJMUTOV, 1983, p. 132).
Por outro lado, Mendoza e Delgado (2020) afirmam que é necessário considerar, nesse
processo, como o indivíduo aprende. Para tanto, “a teoria de desenvolvimento da atividade
psíquica por etapas de Galperin e sua formulação didática por Talízina, podem complementar
as ideias de Majmutov para a atividade específica de resolver problemas” (p. 186).
A fim de inserir os princípios do problema discente na determinação de modelos,
conhecido também como processo de modelagem, este trabalho apresenta, no segundo capítulo,
o resultado de um estudo das contradições geradas pelas situações problemas, procedimentos
de resolução e vias de solução para compor os tipos de tarefas de modelação.
No Ensino Problematizador, a qualidade do ensino e o grau de formação da
independência cognitiva e das as capacidades criativas dos alunos são representadas em quatro
níveis (MAJMUTOV, 1983):
1. O nível de pensamento não independente: A percepção das explicações do
professor pelo aluno, a assimilação de um modelo de ação mental nas condições
de uma situação-problema, a relização pelo aluno de trabalhos independentes,
exercícios de caracter reprodutivo e reproduções orais.
2. O nível semi independente: caracterizada pela aplicação dos conhecimentos
anteriores em uma nova situação e pela participação dos alunos, junto ao professor,
na busca do modelo de solução do problema discente proposto.
3. O nível independente: realização de trabalhos independentes do tipo reprodutivo
de busca, quando o aluno trabalha independentemente com o texto do manual,
aplica os conhecimentos anteriores em situações novas, constrói, resolve tarefas
de nível médio de complexidade, mediante análises lógicas demonstra hipóteses
com uma pequena ajuda do professor.
O nível de ativação criativa: caracterizado pela realização de trabalhos
independentes que exigem imaginação criativa, análises e conjecturas lógicas, o
descobrimento de um modo novo para resolver os problemas discentes,
demonstrações independentes (p. 218, tradução nossa).
44
Os tipos de tarefas farão parte das ações de formação de habilidades, de acordo com as
contradições fornecidas pelas situações problemas, considerando a experiência do aluno e as
formas de resolução. Partindo desse princípio, a ajuda do professor vai se reduzindo e o ato de
criatividade do aluno se eleva mediante o desenvolvimento de sua independência cognitiva.
Majmutov (1983) propõe o ensino problematizador como sistema didático, isto é, um
ensino formado por princípios de organização do material docente e estruturação do processo
de ensino, utilizando os recursos da didática numa teoria de assimilação por meio da atividade
do estudante e da prática pedagógica do professor.
(artefatos mediadores); pelo material bruto que sofre ação do sujeito a partir de ferramentas
(objeto) (DANIELS, 2003).
Segundo Engeström (2002), essa primeira proposta está centrada na mediação, dado que
não leva em conta o contexto, onde o indivíduo está inserido. Leontiev (1978) superou essa
questão ao propor que, para entender uma ação humana, é preciso compreender o motivo que
conduz a atividade e a torna objeto da Psicologia.
É a análise da atividade o que constitui o ponto decisivo e o método principal do
conhecimento científico do reflexo psíquico, da consciência. No estudo das formas da
consciência social está a análise da vida cotidiana da sociedade, das formas de
produção próprias desta e do sistema de relações sociais; no estudo da psique
individual está a análise da atividade dos indivíduos nas condições sociais dadas e nas
circunstâncias concretas que é dado a cada um deles (LEONTIEV, 1978, p. 22).
As habilidades são geradas por ações conscientes do indivíduo, que permitem constante
desenvolvimento, porém, de ações não automatizadas. Já os hábitos constituem assimilação dos
aspectos estruturais da atividade, isto é, de operações automatizadas (DELGADO; MENDOZA,
2016). O processo de aprendizagem exige correlação dos conhecimentos, habilidades e hábitos.
O grau de assimilação dos conhecimentos se determina pela variedade e tipo de
atividades, nas quais o conhecimento pode ser utilizado (TALÍZINA, 1988). Por isso, ele não
deve opor-se às habilidades e aos hábitos que representam as ações com propriedades
determinadas, pelo contrário:
O conhecimento constitui uma condição necessária para a formação e
desenvolvimento das habilidades. Ter domínio do conhecimento significa a
possibilidade de mobilizá-lo, usá-lo, associado a procedimentos da atividade dirigida
a objetivos, e impulsionada por motivos, necessidades e desejos (NÚNEZ;
RAMALHO, 2011, p. 4).
8
NÚÑEZ, I. B. Vygotsky, Leontiev e Galperin: formação de conceitos e princípios didáticos. Brasília: Liber Livro,
2009.
48
de desenvolvimento acadêmico, de tomar para si essa prática, contribuindo para sua realização
pessoal no decorrer das disciplinas que se utilizarão desta prática e em seu futuro profissional.
O objetivo é a representação imaginária das consequências possíveis de se alcançar com
a formação da habilidade. Este orienta as ações em direção a suas metas. Núñez (2009) afirma
que, na atividade de aprendizagem, os objetivos de aprendizagem devem ser explicitados, para
o aluno ter clareza da atividade que deve realizar e aprender como atividade consciente, questão
que contribui com a auto-regulação da aprendizagem. Aos acadêmicos de Licenciatura em
Matemática, devem ser expressos os objetivos da aprendizagem em termos das habilidades que
devem ser assimiladas.
Sistema de operações são os procedimentos, métodos, técnicas e estratégias utilizadas
pelos estudantes para realizar a ação e, assim, transformar o objeto em produto. Segundo Núñez
(2009), as habilidades são o conteúdo das ações que o sujeito domina, estruturado por meio de
operações e um objetivo: a formação da habilidade. Em suma, é o conjunto de operações que
os acadêmicos deverão realizar em modelagem matemática.
A Base Orientadora da Ação (BOA) representa a imagem da ação que o sujeito realizará,
a imagem do produto final, ligada tanto aos procedimentos como ao sistema de condições
exigidas para a ação. Ao construir o modelo, o aluno deve ter compreensão e clareza da
atividade que vai desenvolver, bem como da sua estrutura. Mais adiante, será abordada a
elaboração Base Orientadora da Ação na formação por etapas de ações mentais.
Os meios são os instrumentos que o sujeito utiliza para organizar e realizar a atividade,
ou seja, são os objetos que se encontram entre o objeto e o sujeito da atividade e que ajudam a
mediar o processo de formação da habilidade. Os meios têm um papel essencial na formação
de habilidades. No caso deste projeto, os instrumentos externos, que servirão como meios para
possibilitarem as habilidades desejadas, serão elementos relacionados à investigação, dados
coletados em fases específicas da modelagem e softwares para organização dos dados (geração
de gráficos e tabelas) e apoio na validação dos modelos determinados. Essas ferramentas serão
incorporadas ao sistema didático Galperin, Talízina, Majmutov.
As condições são formadas pelo conjunto de condições, nas quais o sujeito desenvolve
a atividade formativa. O sucesso da atividade depende também das condições de realização.
Sob a ótica histórico-cultural as condições e o contexto influenciam na construção de
significados e no desenvolvimento da personalidade do aluno.
O produto é o resultado das transformações ocorridas com o objeto, intermediadas por
procedimentos. Esse resultado deve coincidir com o objetivo da atividade. Portanto, almeja-se
49
explanado, caráter assimilado e à forma; secundárias, que são dependentes das primárias e
referem-se ao caráter razoável, caráter consciente, caráter abstrato e à solidez da ação.
A forma (pela qual se realiza a ação) muda da material ou materializada para a
perceptiva, verbal externa, até chegar na mental. A forma materializada pode ser realizada
utilizando desenhos, esquemas, mapas ou modelos que desenvolvam a percepção do sujeito de
tal maneira que o objeto possa ser expressado de forma verbal (oral ou escrita), fechando a
forma mental, que tem início desde a ação na forma materializada até a ação que se realiza para
si, isto é, as representações, os conceitos e as operações se realizam para si.
O grau de generalização vai aumentando constantemente no processo de interiorização.
No caráter explanado das ações, são detalhadas as operações, posteriormente, estas ações são
abreviadas (compactadas) e, de forma especial, podem ser recuperadas em outra ocasião no
cérebro. O caráter assimilado das ações é constituído pela facilidade e rapidez de seu
cumprimento. No princípio, “o cumprimento da ação se realiza fazendo consciência de cada
uma das ações lentamente, mas paulatinamente a ação vai se automatizando e o ritmo de
cumprimento aumenta” (TALÍZINA, 1988, p. 63). Isto enfatiza o fato de que as ações, antes de
se tornarem um hábito, devem passar por habilidades que são ações conscientes não
automatizadas.
A primeira característica secundária, o caráter razoável, se determina pelo conteúdo
dado mediante condições essenciais da base orientadora, grau de generalização e caráter
explanado das formas primárias da ação. No caráter consciente da ação, o aluno toma ciência,
na forma verbal, do que está fazendo, o sujeito deve saber explicar o passo a passo do seu agir.
Já o caráter abstrato da ação é o resultado do desenvolvimento de todos os seus elementos
estruturais até sua forma mental generalizada. A solidez da ação é a característica advinda das
ações da forma, generalização e automatização, que geram habilidades sólidas ou hábitos por
um período longo de tempo.
Sendo assim, os indicadores qualitativos “dão a possiblidade de descrever as ações
cognoscitivas dos estudantes tanto durante o processo de ensino, como no final do mesmo”
(TALÍZINA, 1988, p. 116). Por esse motivo, conduzem todo o processo de assimilação por
meio da formação de etapas das ações mentais.
Dito isso, inicia-se a descrição do processo a partir da etapa zero. A motivação interna
dos alunos, segundo Núñez e Pacheco (1998), é a aprendizagem por problemas, vinculadas às
suas experiências. Os referidos estudiosos ainda ressaltam que o professor não pode deixar de
considerar fatores psicológicos e fisiológicos, ou seja, a situação de vida desse aluno e tal
motivação deve ser mantida durante todo o processo de assimilação.
52
Uma vez que a teoria de formação por etapas de ações mentais de Galperin é uma base
psicológica adequada para a direção científica dos processos de ensino, agora, torna-se
pertinente determinar a própria direção da atividade de estudo (TALÍZINA, 1988). Nesse
cenário, a direção efetiva do “processo docente-educativo” é possível ao ser desenvolvido um
sistema de exigências, centrada na interação entre o objeto e o estudante, atentando à
transformação das ações externas desse objeto em internas (TALÍZINA, 1987, p. 66).
A primeira direção é definir o objetivo de ensino da atividade cognoscitiva (D1) e a
segunda é o conhecimento do nível de partida, o diagnóstico dos estudantes (D2). Para que seja
possível transitar do conhecimento real (nível de partida) para o potencial (objetivo), o professor
deve garantir, dentro da zona de desenvolvimento próximo do aluno, os recursos necessários
para que as diferentes etapas de formação das ações mentais ocorram. Nesse caso, cumpre-se a
terceira exigência, transitar pelos diferentes estados do processo de assimilação (D3)
(TALÍZINA, 1988).
A quarta se refere à retroalimentação do processo, também intitulada de retorno
sistemático, ligada à função controladora da atividade, na qual o professor deve identificar os
erros evidenciados durante o processo de assimilação e analisar a origem de sua ocorrência para
posterior correção (D4). A quinta é a correção do processo de assimilação, cujo professor
avalia os erros cometidos pelos estudantes durante todo o processo, podendo, assim,
redirecionar o plano de ensino, a fim de atingir o objetivo da atividade (D5).
Por esse ângulo, a essência da direção consiste na “promoção da atividade que se forma
pelas etapas fundamentais do processo de assimilação, que conduz o aluno para a assimilação
dessa atividade e dos conhecimentos que ela propõe” (TALÍZINA, 1987, p. 71).
56
O professor tem função de dirigir o Formação por etapas das ações mentais (Galperin)
processo de assimilação, deve ser E0: “Motivacional”
cíclica e transparente (Talízina) E1: “Elaboração da Base Orientadora da Ação (BOA)”
D1: “Objetivo de Ensino” E2: “Formação da ação em forma material ou
D2: “Nível de Partida” materializada”
D3: “Processo de Assimilação” E3: “Formação da ação verbal externa”
D4: “Retroalimentação” E4: “Formação da ação na linguagem externa para si”
D5: “Correção” E5: “Formação da ação na linguagem interna”.
Fonte: Adaptado de Silva (2016).
A modelagem começa com um conjunto de ideias para resolver uma situação problema
e, ao final do processo, é primordial realizar verificações e conclusões explícitas, que
confirmem seu uso. Em suma, de acordo com Ersoy e Moscardini (1994), modelagem é um
processo dinâmico que respeita: a tradução de situações problema da realidade em problema
matemático; a interpretação das soluções matemáticas em termos do problema original; o seu
emprego para a obtenção e validação de modelos.
A elaboração de modelos ocorre por meio de várias interações em processo cíclico,
divididas em fases definidas por pesquisadores/autores segundo a finalidade da atividade de
modelagem. Bassanezi (2009) faz descrições do processo de modelar uma situação ou problema
real, inspirado pela matemática aplicada como método científico de pesquisa, de acordo com a
sequência de etapas: Experimentação - fase laboratorial de observação, experimentação e
coleta de dados; Abstração - reconhecimento de variáveis e possíveis relações entre elas,
levantamento de hipóteses e elaboração do modelo; Resolução - manipulação do modelo
matemático para busca de solução; Validação - o modelo e as hipóteses são testados em
confronto com os dados empíricos; Modificação - caso haja rejeição, há o retorno ao início do
processo para avaliação e possível modificação das hipóteses.
O caráter aproximativo do modelo, a partir de hipóteses e aproximações simplificadoras
como um “recorte” da situação focada inicialmente, é o diferencial da modelagem. Segundo
Bean (2001):
[...] os aspectos que distinguem a modelagem matemática de outras aplicações de
matemática são as exigências das hipóteses e das aproximações simplificadoras como
requisitos na criação de modelos. As demais etapas o problema, a resolução e a
verificação da matemática, a validação da solução e a decisão valem para qualquer
tipo de solução de problema envolvendo matemática (p. 53).
Sob essa ótica, Biembengut (2016), considerando alguns pontos do processo cognitivo
de Immanuel Kant, prescreve as três fases para a determinação de modelo conforme a seguir:
Fase 1: Percepção e Apreensão (Percepção → no reconhecimento e delimitação da
situação-problema; Apreensão → na familiarização do assunto – referencial teórico);
Fase 2: Compreensão e Explicitação (Compreensão - na formulação do problema, da
questão e da hipótese; Explicitação - na formulação do problema; na resolução do
problema a partir do modelo); Fase 3: Significação e Expressão (Significação - na
interpretação da solução; na avaliação e validação do modelo; Expressão - do processo
e do resultado - modelo) (p. 103-104).
colaborado para: formular, testar e divulgar novos métodos de ensino; organizar e implementar
modificações curriculares; criar e testar materiais para o ensino de Matemática.
Não há um consenso quanto à definição de modelagem, todavia, as concepções
semelhantes podem ser agrupadas em conformidade com seus objetivos e funcionalidades.
“Quando se busca na literatura sobre Modelagem Matemática, é possível notar que não há uma
única definição para este conceito. Ao contrário, é fácil se deparar com diferentes concepções
desta tendência na Educação Matemática” (HERMINO; BORBA, 2010, p. 111).
Magnus (2018), em sua ampla pesquisa sobre a modelagem matemática na EM
brasileira, destaca os conceitos dados por pesquisadores dessa área:
[...] como uma metodologia (LUZ, 2003; BURAK, 2010; PEREIRA, 2010;
BRANDT, 2010; BISOGNIN et al, 2012; ROSA, REIS, OREY, 2012), um ambiente
de aprendizagem (BARBOSA, 2001; FRANCHI, 2002; BRAZ, KATO, 2014), uma
estratégia pedagógica (MALHEIROS, 2004; SOARES, BORBA, 2014), uma
abordagem segundo a Educação Matemática Crítica (ARAÚJO, 2002, 2009),
uma estratégia de ensino-aprendizagem (BIEMBENGUT, HEIN, 2007;
BASSANEZI, 2009), uma concepção de educar matematicamente (CALDEIRA,
2009; MEYER, CALDEIRA, MALHEIROS, 2011) (p. 31, grifos meus).
9
Trechos retirados do texto da tese de Doutorado de Soares (2017, p. 47-48).
63
Neste trabalho, o referido sistema didático tem o objetivo de fomentar a ASPD para
formação de habilidades em resolução de problemas atrelados à modelagem matemática. Na
composição da ASPD de Modelação, devem ser considerados os aspectos pertinentes à
65
A ASPD, como o próprio nome remete, é uma atividade com funções bem definidas de
orientação, execução e controle. Quanto a sua composição, abarca um sistema de ações
invariantes, esquematizado a partir da teoria de formação por etapas das ações mentais, por uma
direção de estudo com base no ensino problematizador.
Para iniciar a discussão da gênese da ASPD, ressalta-se um dos mais referenciados
métodos e procedimentos de resolução de problemas, o de Polya (1975). Este é estabelecido
sob os seguintes princípios: compreensão do problema; estabelecimento de um plano; execução
de um plano; retrospectiva.
A partir do enforque hitórico-cultural, Talízina (1988, p 202) critica os trabalhos de
Polya, pois “[...] supõem taticamente que os estudantes são capazes de realizar a atividade
indispensável. Se considera o pensamento como certa função abstrata já existente e que a tarefa
consiste somente fazê-lo trabalhar na direção necessária”. Assumindo esta referência, Mendoza
e Delgado (2017) refazem o estudo dos princípios de Polya e alertam que as orientações das
ações não são completas, uma vez que:
[...] induzem os estudantes a utilizar a técnica do ensaio e erro, iniciando as
orientações de problemas concretos, necessitando realizar números significativos de
problemas, a fim de alcançar habilidades necessárias e transferir para novas situações
problemas com êxito. O avanço para a generalização é lento (p. 383-384).
BA5 Modificação
BI3 Significação e BI32 Expressão
CA4 Refletir e tirar suas próprias conclusões
AF4 Análise de uma resposta
AF5 Comunicação de resultados
BU5 Análise crítica das soluções
BH42 Interpretação e BH43 Validação
Fonte: Wakiyama, Mendoza e Delgado (2021, p. 31).
Claro que, com isso, não se esgotam os tipos de situações problemas, assim como pode
ocorrer múltiplas contradições em uma mesma tarefa. Seu fundamento constitui muitas
contradições que surgem durante o processo de ensino, porém, Majmutov (1983, p. 170-171)
ressalta que a situação problema, do ponto de vista do processo de aprendizagem, “[...] é criada
especialmente pelo professor diante da aplicação de procedimentos metodológicos de caráter
especial”. Isto quer dizer que cabe ao professor elaborar tarefas de caráter problematizador
(existência de contradição) partindo do que o aluno possui de conhecimento.
No entanto, para que as ações da EBOCA possam refletir o potencial inerente ao
problema discente, deve-se considerar as regras necessárias para a sua formulação. Assim,
destacam-se as seguintes “1) separação do conhecido e o desconhecido; 2) localização do
desconhecido; 3) determinação das condições possíveis para a solução independente do
problema; 4) a existência de indeterminação no problema” (MAJMUTOV, 1983, p. 195).
O aluno, em geral, toma consciência, aceita o problema, começa a analisar e buscar vias
para resolvê-lo, ou seja, determina o que se dá entre o desconhecido, sua natureza, a inter-
relação entre estes, os dados e o conhecido. O processo de formulação de um problema significa
que o aluno já compreende a tarefa proposta e, de certa maneira, já deslumbra as vias de sua
solução.
De maneira geral, a atividade produtiva inclui os procedimentos e métodos conhecidos
da atividade mental e, ao mesmo tempo, cria um sistema novo de atos ou descobre regularidades
que antes eram desconhecidas. Para a solução de problemas relacionados ao conhecimento,
existem dois procedimentos: analítico-lógico e/ou heurístico.
O procedimento analítico-lógico da atividade mental se relaciona à resolução do
problema por meio do algoritmo de solução, de modo que suas análises, sínteses, generalização,
abstração e concretização são operações mentais que se sucedem em ordem determinada, como
etapas, elevando-se cada vez em busca da solução do problema. O pensamento heurístico está
associado ao pensamento intuitivo, focalizado nos procedimentos de solução através da
76
formulação de hipóteses, geralmente, com o uso da intuição, com vistas ao resultado de uma
conjectura (MAJMUTOV, 1983).
O primeiro tipo de solução a ser resolvido não existe nenhuma experiência anterior, o
estudante avança com o ensaio e erro até que uma das provas o conduz, de maneira
mais ou menos casual, à solução. No segundo tipo de solução o estudante conhece
certas fórmulas e esquema mediante outro tipo de experiências. Neste caso, a solução
acontece mediante o reconhecimento da situação proposta nos esquemas existentes.
No terceiro tipo de solução consiste que o estudante tem experiência, mas sua
experiência não lhe permite resolver o problema dado. A solução consiste neste caso,
se cria sobre as bases da análise das condições da tarefa, nasce um esquema de solução
que não existia com anterioridade (MAJMUTOV, 1983, p. 203-204).
10
Ver páginas 35 e 36 deste trabalho.
78
o aval do professor, que analisa se o problema proposto é exequível e em tempo hábil. Por ter
mais experiência, o estudante é incentivado a novas práticas, a aprimorar seu discurso
argumentativo por meio de demonstrações mais sofisticadas, com possibilidade de uso de
recursos tecnológicos, favorecendo ainda mais o desenvolvimento de formação de habilidades
no processo de modelagem (WAKIYAMA; MENDOZA, 2021).
Cada um dos tipos de tarefa pretende formar, nos estudantes, o sistema de
procedimentos da atividade mental dos diferentes tipos de situações problema. Independente da
tipologia de tarefa de madelação, para solucionar o problema discente, supõe-se, sem falta, a
atualização, em um grau determinado, da experiência anterior, dos conhecimentos e modos de
solução (fases de construção de modelos) assimilados anteriormente.
No âmbito educacional, a modelagem se destina a processos de ensino e aprendizagem
(modelação). Por esse motivo, é totalmente plausível que as tarefas possuam graus de
implementação, iniciando com todos dos dados e condições informadas e, gradativamente, o
número de informações vai diminuindo, conforme a formação das habilidades e o nível de
independência dos alunos, ao ponto de conduzirem todas as fases do processo.
Nesse horizonte, esta cautela não deve excluir a característica essencial da modelagem,
não obstante, subsidiar a evolução das tarefas para atingir o objetivo. A tarefa tipo 3 é a que
mais se aproxima do ideal de prática de modelagem, uma vez que:
Para iniciar um trabalho utilizando modelagem, é necessário dispor de uma situação-
problema que, para solução, não se disponha de dados suficientes para utilizar uma
fórmula ou caminho de solução. Assim, requer um levantamento de possíveis
situações de estudo, as quais devem ser, preferencialmente, abrangentes para que se
posssam proporcionar questionamentos em várias direções (MADRUGA; LIMA,
2019, p. 244) .
As tarefas devem garantir que aluno seja capaz de começar a resolver o problema e usar
seus conhecimentos anteriores até que se tome consciência de sua insuficiência. As tarefas aqui
propostas seguem o enfoque da Educação Matemática, onde “o mais importante é o processo
de obtenção do modelo e não o modelo, havendo casos onde não se determina o modelo”
dependo do objetivo de ensino (ALVES; SÁ, 2018, p. 38).
Antes de se propor qualquer tarefa, é imprescindível a atualização dos conhecimentos
dos alunos que serão requeridos para a execução da mesma. Para maiores esclarecimentos, a
seguir, são apresentados exemplos dos tipos de tarefa de modelação
Na tarefa de modelação tipo 1, o estudante possui pouca ou nenhuma experiência com
modelagem. Em razão disso, todos os dados são fornecidos no problema, não necessitando de
informações extras, cujo estudante precisa interpretá-las corretamente. A separação do
80
conhecido e desconhecido pode começar pela resolução por tentativa e erro (o que demanda
muito tempo) ou, de maneira analítica, aplicando um algoritmo após o reconhecimento de
algum esquema em seus conhecimentos anteriores. Por conveniência, o exemplo de tarefa de
modelação tipo 1 é apresentado no próximo capítulo, pois esta foi proposta na prova pedagógica
diagnóstica.
Exemplo de tarefa de modelação tipo 2, adaptada de Alves e Sá (2018, p. 64-65) –
Atualização do conhecimento de função do 2º grau e manipulação do GeoGebra11.
Exemplo 2) “Alguns anfíbios podem saltar distâncias que correspondem a cem vezes o
seu tamanho. É o que acontece com a rãzinha-saltadora (Pseudopaludico-lasaltica), um
bichinho encontrado no Brasil. Com apenas 1,5 centímetro, ela é capaz de dar incríveis
saltos de 1,5 metro! Proporcionalmente, é como se um homem adulto fosse capaz de
saltar uns 170 metros – quase a distância de dois quarteirões12. Em uma observação de
uma rã com uma câmera lenta, obtivemos o registro exposto na tabela:
Qual o modelo que descreve a trajetória do salto da rã e qual sua altura máxima que
pode ser atingida?”
11
O GeoGebra é um software de matemática dinâmica gratuito e multiplataforma para todos os níveis de ensino,
que combina geometria, álgebra, tabelas, gráficos, estatística e cálculo numa única aplicação.
12
Leia mais em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/a-que-distancia-chega-o-pulo-de-um-sapo.
81
Haja vista que os dados do problema são considerados pares ordenados da forma gráfica
da trajetória realizada pela rã, o aluno, já com o conhecimento atualizado, reconhecerá um meio
de visualização dessa trajetória no recurso computacional. No GeoGebra, primeiramente, são
digitados os pares ordenados. A Figura 2 consiste na localização dos pontos no plano cartesiano.
Esta visualização permite ao estudante reconhecer a parábola que melhor se ajusta aos
pontos. Com isso, a opção para Modelo de Regressão é Polinomial, como representada na
Figura 2.
Sendo assim, a altura máxima alcançada pela rã neste salto é de 0,752 metros.
Após determinar o desconhecido, podem ocorrer diversas reflexões, do envolvimento
da matemática em outras ciências, da utilidade do suporte computacional como forma de
confirmar ou negar hipóteses etc. O importante é refletir sobre todo processo de investigação
para determinação do modelo.
Exemplo de tarefa de modelação tipo 3, adaptada de Chaves (2005, p. 110) - Atualização
do conhecimento de função exponencial, logaritmo e manipulação do GeoGebra.
Exemplo 3) “A água pode ser saudável ou nociva. Para ser saudável, a água não pode
conter substâncias tóxicas, vírus, bactérias, parasitos. Quando não tratada, a água pode
se tornar um importante veículo de transmissão de doenças, principalmente as do
aparelho intestinal, como a cólera amebíase e a desinteria bacilar, além da
esquistossomose. Amebíase é uma doença causada pela Entamoeba histolytica, cujos
sintomas são diarreia, dor de estômago e, em estágios mais avançados, anemia. Adquire-
se esta parasitose ao ingerir cistos de entamoeba presentes na água ou em alimentos
contaminados com fezes de pessoas doentes.
Um cisto é uma bolsa rígida que contém, em seu interior, ameba jovens capazes de
infestar um novo hospedeiro. No intestino, a parede de um cisto se rompe e libera as
amebas que invadem as glândulas da parede intestinal, passando a se alimentar do
sangue e de células do hospedeiro. Esses locais podem inflamar e se romper, liberando
sangue, muco e milhares de amebas, muitas da forma de cisto que, ao serem eliminados
com as fezes e cistos podem contaminar a água e alimentos (como verduras, por
exemplo) e, desse modo, serem transmitidos a outras pessoas. Um cisto depois de
instalado no intestino libera quatro amebas e, a partir desse momento, estas se
reproduzem a cada vinte minutos por bipartição. Para nos prevenirmos da ameba,
devemos lavar as mãos com frequência, utilizar instalações sanitárias adequadas, lavar
bem os alimentos, ter cuidado com a água que ingerimos, quer seja na alimentação quer
seja durante o banho ou escovação dos dentes”.
momento, estas se reproduzem a cada vinte minutos por bipartição. Dessa informação, podem
ser geradas diversas indagações: Como evolui a quantidade de amebas no hospedeiro?; Qual a
função que a representa?; Qual a quantidade de ameba após 1 semana?.
O aluno pode começar o problema com um esquema ou desenho, a fim de representar o
crescimento da população de amebas (Figura 4).
5 128 = 25 × 22
6 256 = 26 × 22
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
SISTEMA DE AÇÕES
EBOCA DE MM
SISTEMA DE CONHECIMENTOS
1ª ação: Formular o problema discente;
2ª ação: Construir o núcleo conceitual e
procedimental;
3ª ação: Resolver o problema discente; Conhecimentos científicos Saberes anteriores
4ª ação: Analisar a solução
TAREFAS
Tarefas de modelação
(Problema discente)
Fonte: Adaptado do Grupo de Pesquisa de Didática da Resolução de Problemas em Ciências e Matemática (2022).
87
No que diz respeito ao cenário da pesquisa, foi realizada no Instituto de Ciências Exatas
da Universidade Federal do Amazonas, localizado no município de Manaus. As ações aqui
propostas são voltadas aos estudantes de Licenciatura em Matemática diurno das disciplinas de
Instrumentação do Ensino de Matemática (IEM) I, Instrumentação do Ensino de Matemática
(IEM) II e Instrumentação do Ensino de Matemática (IEM) III, conforme o Calendário
Acadêmico para o ano letivo de 2021 e 2022 descrito na Resolução n° 001/2021- CONSEPE
(Anexo II), de 11/02/2021, e Alterado pela Resolução nº 11/2021-CONSEPE (Anexo I), de
02/07/2021, da UFAM.
Este tipo de seleção de participantes é denominado amostragem intencional. O
investigador seleciona propositalmente os participantes que vivenciarão o fenômeno central no
local predeterminado (CRESWELL; CLARK, 2013). Como critério de inclusão na pesquisa, o
estudante deveria estar devidamente matriculado em alguma das disciplinas de IEM I, II ou III.
A frequência do discente abaixo de 75% nas aulas ministradas define o critério de exclusão.
As aulas ocorreram em distintas modalidades, isto é, de forma remota e também
presencial, segundo a mesma resolução supramencionada. Em IEM I e IEM II, as aulas foram
remotas, respectivamente, nos períodos de 29/03/2021 a 08/07/2021 e 10/08/2021 a
29/11/2021. O ensino remoto é baseado, principalmente, por transmissões em meios digitais ao
89
vivo ou gravações disponibilizadas nos dias e horários habituais dos encontros com a turma. Já
em IEM III, as aulas foram ministradas presencialmente no período de 10/01/2022 a
28/04/2022.
Estas diferentes modalidades de ensino se devem aos contextos e o momento pandêmico
em que encontrava o Brasil, mais especificamente, a cidade de Manaus. Segundo o site G1
Amazonas13, Manaus vivenciou, em janeiro de 2021, um colapso no sistema de saúde em
decorrência da falta do insumo essencial para tratar casos graves de Covid-19, conhecida como
“crise do oxigênio”. De acordo com o site da Fiocruz14, em março de 2021, o número de mortes
registrado nos primeiros meses já superava o total do ano anterior.
Na primeira disciplina (IEM I), 14 estudantes aceitaram participar da pesquisa (Grupo
0). Dos 14 participantes anteriores, apenas seis (Grupo 1) avançaram para IEM II. Destes, três
continuaram e mais sete novos estudantes ingressaram, totalizando 10 participantes (Grupo 3)
na disciplina IEM III.
A dinâmica da entrada e permanência dos estudantes participantes ao longo de toda a
pesquisa, de acordo com cada disciplina, está descrita no Quadro 9.
A1
A3
A2
A6
A3
A1 B1
A4
A3 A5
A5
A5 B3
G0
G1
G2
Participantes A6
A6 B4
A7
A7 B5
...
A10 B6
A10
B7
...
B8
A14
Ai: participantes em IEM I (i = 1, 2, 3,... ,14); Bj: novos participantes em IEM II (j = 1, 3, 4...,8)
G0: grupo dos participantes de IEM I; G1: grupo dos participantes de IEM I que prosseguiram
para IEM II; G2: grupo dos novos e antigos participantes.
13
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2021/02/14/crise-do-oxigenio-um-mes-apos-colapso-em-hospitais-
manaus-ainda-depende-de-doacoes-do-insumo.ghtml.
14
http://informe.ensp.fiocruz.br/noticias/50926.
90
da pesquisa para a coleta e análise quantitativa de dados sob a prevalência da coleta e análise
qualitativa dos dados.
Unidades de análise, segundo Siglenton (1988), são os objetos ou eventos aos quais as
pesquisas sociais se referem, o que ou quem será descrito, analisado ou comparado. Em diálogo
com o objetivo geral e com a finalidade de responder o problema científico desta pesquisa, a
unidade de análise está delimitada à verificação das habilidades dos estudantes desenvolvidas
no processo de modelagem. Nesse horizonte, objetivou-se a determinação de modelos
matemáticos como via de solução das tarefas de modelação propostas aos estudantes
participantes.
92
Nesta configuração, com base na análise quantitativa, são geradas medidas estatísticas
com tabelas de intervalos de pontuação, fato que guia a análise qualitativa de cada categoria e
suas respectivas subcategorias. O controle quantitativo das ações e operações segue os critérios
93
Quadro 12 - Delimitação das etapas a partir das características primárias das ações
Categorias 1ª Etapa 2ª Etapa 3ª Etapa 4ª Etapa 5ª Etapa
Material/
Forma Material Verbal-Externa Verbal-Interna Mental
Perceptiva
Generalizado Pouco Pouco Parcialmente Totalmente Totalmente
Explanado Totalmente Totalmente Parcialmente Pouco Pouco
Assimilado Pouco Pouco Parcialmente Totalmente Totalmente
Independente Pouco Pouco Parcialmente Totalmente Totalmente
Fonte: Adaptado de Chirone (2014).
1 2 3 4 5 6 1ª linha
7 8 9 10 11 12
O número do assento de Lucas é 1457. Localize a linha e a coluna em que está o assento.
Todos os dados são fornecidos para resolução da tarefa. O modelo não é fornecido,
Tarefa tipo 1 logo aí está a contradição, pois não é apresentado a via, o esquema ou procedimento
para responder a tarefa
Objetivo Verificar quais habilidades do processo de determinação de modelo o aluno possui.
Há diferentes vias de solução, podendo haver a representação do modelo por um
Observação
esquema ou fórmula matemática.
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
Nas duas primeiras tarefas, T1 e T2, são fornecidos os modelos matemáticos condizente
às situações problema. Em T1 é apresentado as funções lineares que representam as condições
e dados da situação problema e, no caso de T2, o sistema de equações lineares. Mesmo nesta
perspectiva, as tarefas contemplam as habilidades de: formular problemas (1ªA) com a
identificação dos elementos conhecidos e desconhecidos, reconhecimento da situação problema
e do conhecimento a ser buscado; construir núcleo conceitual (2ªA) com a seleção de conceitos,
procedimentos e vias de solução, pois é necessário encontrar a correta relação entre as variáveis
respeitando as condições da tarefa.
Ademais, também incluem a habilidade de solucionar o problema discente (3ªA) com a
correta estratégia de solução selecionada ao modelo fornecido. A habilidade de analisar a
solução (4ªA) é a última do processo de modelagem por estar relacionada à averiguação do
96
modelo construído. Porém, é improvável que, nas tarefas 1 e 2, o aluno realize as operações
cabíveis para validação do modelo, uma vez que este compõe os dados da tarefa.
Já nas duas restantes, T3 e T4, o modelo não é elemento conhecido. Logo, todas as ações
são contempladas, podendo ser requeridas as quatro habilidades para a resolução das tarefas.
Em T3, o modelo é representado por um esquema atrelado ao conteúdo de porcentagem. A
última tarefa, em especial, apresenta diversas vias de solução, onde o modelo é construído de
acordo com o núcleo conceitual e procedimental adotado pelo estudante no reconhecimento do
padrão numérico necessário para a solução.
Como visto, as quatro tarefas abordam temas do Ensino Fundamental e Médio, pois é
interesse obter informações quanto às habilidades procedimentais para construção dos modelos
(pictóricos ou simbólicos) sob referência do EBOCA de modelagem do Quadro 4.
Por questão de objetividade, demonstra-se a resolução apenas da quarta tarefa, por esta
requerer as quatro ações do EBOCA para se chegar na solução. As tarefas são todas do tipo 1
de modelação, posto que necessita de menos tempo, investigação e experiência do aluno para
responder a prova pedagógica diagnóstica.
“Nas tarefas exibidas você precisará de um conjunto de procedimentos para solucionar as
situações problema propostas. Como em modelagem, explique cada fase desse procedimento.
Obs.: As questões abaixo não estão disponíveis na web.
Tarefa 4 - Lucas vai assistir uma peça no teatro que dispõe os assentos como se vê abaixo:
1ª coluna
1 2 3 4 5 6 1ª linha
7 8 9 10 11 12
O número do assento de Lucas é 1457. Localize a linha e a coluna em que está o assento”.
Solução:
a) Primeira ação: Formular problema discente.
O1 - Identificar os elementos conhecidos a partir de dados/condições/conceitos e/ou
procedimentos relacionados ao problema. Em uma primeira observação, tem-se por conhecido
a numeração das poltronas em sequência de números naturais nas linhas em que estão dispostas.
Na perspectiva das colunas, a partir do primeiro número fixado, a sequência evolui adicionando
6 a esse número.
O2 - Identificar os elementos desconhecidos a partir de dados/condições/conceitos e/ou
procedimentos do problema. Contar os assentos até que se encontre 1457 não é uma escolha
viável. Em um primeiro momento, não há fórmula ou sequência que possibilite a localização de
um assento qualquer.
97
A técnica de observação tem como objetivo coletar dados referentes aos desempenhos
dos participantes durante a realização da ASPD no decorrer das aulas, bem como sobre a
qualidade destes desempenhos. Tais observações são do tipo estruturada, para as quais foram
elaboradas duas estruturas de guia de observação, que devem ser preenchidas a cada
aula/atividade.
Neste guia, no Quadro 15, foram registrados os dados referentes ao desempenho das
habilidades/ações de forma descritiva pela pesquisadora. Assim, relatou-se o desenvolvimento
de cada ação e operação de acordo com cada categoria e suas respectivas subcategorias.
Objeto da Ação:
Estudante da Ação:
Observações:
Neste segundo guia, que consta no Quadro 16, foram registrados os dados referentes à
qualidade/características primárias e secundárias de cada ação de forma descritiva para
posteriores interpretações e análises.
2.4.3 Questionário
Segundo Gil (1999, p. 128), o questionário pode ser definido “como a técnica de
investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por
escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos,
interesses, expectativas, situações vivenciadas etc”.
Para compor a compreensão e análise dos resultados, foram propostos dois
questionários, um pré e outro pós intervenção. Assim como a prova diagnóstica, foi proposto,
no primeiro momento, um questionário com perguntas abertas e fechadas, como descrito no
Quadro 17, seguido dos seus respectivos objetivos.
Foi solicitado outro questionário (Quadro 18) para que os estudantes respondessem após
a intervenção. Este possui 10 perguntas abertas e fechadas a respeito das tarefas e ações do
EBOCA de MM.
Planejamento do
sistema didático
2º Momento
Construção dos Construção dos
Instrumentos Instrumentos
Execução do Execução do
planejamento por etapas planejamento por etapas 3º Momento
Avaliação Avaliação
pedagógica final pedagógica final
Triangulação
Resultado e
conclusão
Total
C5. Selecionou os conceitos e procedimentos
conhecidos necessários para a solução do
problema discente?
2A
C6. Atualizou outros conceitos e
procedimentos conhecidos que possam
estar vinculados com os desconhecidos?
105
Total
C11. Verificou a solução corresponde com
objetivo, dados e as condições do
problema discente? Caso sim, pular para
C14.
Total
Legenda: "s" significa operação realizada corretamente e "n" operação realizada incorretamente
(ou não realizada).
Fonte: Adaptado de Oliveira (2019).
A planilha do Quadro 19 foi programada para calcular a pontuação por variável, tarefa
e aluno a partir dos dados inseridos, informando acertos, erros (ou ausência de resolução) em
cada indicador. Além disso, através desta, foram geradas medidas estatísticas, tais como
mediana, moda e média, bem como gráficos e tabelas de intervalos, para compor a análise
quantitativa.
As tabelas de intervalos de pontuação por variável serviram de referência para
agrupamentos de dados, guiando a análise qualitativa. Dito isso, foram analisadas as categorias
e subcategorias por subgrupos de dados pertencentes a cada faixa de intervalos, evidenciando
os entraves enfrentados pelos participantes, bem como seus níveis para a realização das quatro
ações da ASPD.
Haja vista que a pesquisa se desenvolveu ao longo de três períodos acadêmicos, com a
inclusão de novos estudantes participantes, a prova diagnóstica foi aplicada a cada início de
período letivo.
106
A fim de garantir a validade desta pesquisa, alguns critérios foram considerados. Tais
critérios serão elencados, indicando-se onde foram utilizados nesse estudo:
• Confiabilidade - Os instrumentos, como por exemplo, a prova pedagógica, foram
elaborados para coletar dados referentes a um tipo de variável mais de uma vez e
verificar se as respostas são similares. Com o intuito de garantir a confiabilidade, foram
aplicados questionários, além da constante observação das ações dos participantes
(KIRK; MILLER, 1986);
• Validade teórica - As provas pedagógicas e as observações contemplam diferentes
aspectos do desempenho de habilidades em resolução de problemas matemáticos. Cada
tarefa foi formulada com vistas ao grau de estímulo exequível conforme o problema
108
15
CEP Número do Parecer: 4.637.176.
110
Os indicadores são obtidos a partir do cumprimento ou não das operações das ações,
que variam de um a cinco. Logo, nas quatro ações, é possível chegar a pontuação mínima de
quatro e a máxima de 20, assumidas pelas variáveis. No caso das tarefas que contemplam
apenas três ações, o mínimo é de três e o máximo de 15. Também são fornecidas a média,
mediana, moda, desvio padrão (DP) e os gráficos para análise quantitativa.
Outro instrumento utilizado para obtenção de informações no primeiro momento da
pesquisa consistiu no questionário composto de cinco perguntas, proposto via Google Forms.
Três perguntas estavam relacionadas às experiências práticas e teóricas com a modelagem
matemática na vida acadêmica dos participantes. As duas últimas, com contradições
enfrentadas pelos discentes na resolução da prova diagnóstica. Com 48 horas para responderem,
12 participantes enviaram suas respostas e outros dois (A3 e A5) não, mesmo prolongado o
tempo de entrega.
Após a tabulação, calculou-se a soma dos níveis obtidos em cada ação, a média, a
mediana, a moda e o desvio padrão em cada tarefa, gerando as Tabelas 5, 7, 9 e 11.
Ao analisar a Tabela 5, verifica-se que dois estudantes alcançaram a pontuação máxima,
equivalente ao desempenho correto de todas as ações, sete estudantes não completaram a
primeira ação e não executaram corretamente as ações posteriores. Os demais não realizaram
corretamente ou não executaram nenhuma das quatro ações.
A Tabela 5 revela que a média de desempenho para formulação do problema (1ªA)
correspondeu a dois, cujas operações respeitam: a identificação dos elementos conhecidos e
desconhecidos, tais como os valores dos produtos e os custos de produção; o reconhecimento
da situação problema, sendo necessário estabelecer como encontrar qual o produto mais caro a
ser produzido. A ação de construir o núcleo conceitual e procedimental (2ªA), para a devida
utilização das funções fornecidas e o cumprimento da ação de solucionar o problema discente,
obteve a média de 1,85. Já a ação de resolver o problema discente apresentou a média de 1,78.
A2 4 1 1 6
A12 4 1 1 6
A14 4 1 1 6
A9 2 1 1 4
A8 1 1 1 3
A10 1 1 1 3
A4 1 1 1 3
A5 1 1 1 3
A13 1 1 1 3
Média 2 1,85 1,78 5,64
Mediana 1 1 1 3,5
Moda 1 1 1 3
DP 1,64 1,45 1,45 4,03
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
O desvio padrão dos níveis alcançados pelos estudantes é perceptível no Gráfico 1, que
apresenta um panorama do cumprimento de cada ação por aluno.
0
A6 A7 A3 A11 A1 A2 A12 A14 A9 A8 A10 A4 A5 A13
A segunda tarefa apresentou indicadores bem mais satisfatórios, com média dos
somatórios dos níveis 14,93, com 5 na primeira e segunda, e 4,93 na terceira ação. Na Tabela
7, é possível observar a compreensão de todos os estudantes quanto ao modelo fornecido
(sistema de equações), que representa os dados e condições da tarefa 2 (2ªA). Ademais,
selecionaram um método para resolução do problema discente (3ªA) e suprimiram a primeira
ação, cuja averiguação decorre dos níveis elevados alcançados na segunda e terceira ação.
Nesse caso, compreende-se que conseguem identificar elementos conhecidos e
desconhecidos e, naturalmente, o objeto de busca (1ªA). Devido à resposta equivocada de A11,
o grupo obteve média de 4,93 de aproveitamento na terceira ação.
Outro dado estatístico presente na Tabela 8 versa sobre os 100% de alunos, os quais
obtiveram a soma dos níveis no intervalo de 12 a 15.
0
A6 A1 A4 A10 A13 A3 A7 A8 A9 A11 A12 A14 A2 A5
A partir da tarefa 3, nenhum tipo de modelo é viabilizado, por isso, todas as ações são
consideradas em termos de pontuação. De acordo com a Tabela 9, 10 alunos não realizaram ou
não realizaram corretamente as operações relativas às seguintes ações: compreender (1ªA) o
volume de 500ml, dos quais 30% é de álcool e 70% de acetona e o erro na adição dos elementos
da mistura, sendo necessário adicionar álcool até que atinja 80% da composição; construir as
vias de solução (2ªA), respeitando a condição que o volume de acetona não se altera no tubo,
apenas mudará de 70% para 20% ao ser acrescentado álcool para atingir os 80% necessários;
resolver o problema discente (3ªA) por não ser determinado um modelo (esquema) de resolução
atrelado ao assunto de porcentagem.
O estudante A14 descreveu as operações da primeira ação, contudo, não compreendeu
as relações entre o conhecido e o desconhecido do problema discente.
A10 1 1 1 1 4
A12 1 1 1 1 4
A13 1 1 1 1 4
Mediana 1 1 1 1 4
Moda 1 1 1 1 4
Média 2,07 1,86 1,86 1,00 6,79
DP 1,98 2,05 2,05 0,80 6,39
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
De acordo com a Tabela 10, três estudantes alcançaram o somatório dos níveis no
intervalo de 16 a 20 e 11 no intervalo de [4, 8), equivalente a 21% em um extremo e 79% em
outro, conforme o percentual de frequência. Assim, confirmou-se na média dos somatórios dos
níveis, que não chegou a 7.
0
A7 A8 A2 A14 A11 A1 A3 A4 A5 A6 A9 A10 A12 A13
1ªA 2ªA 3ªA 4ªA
Assim como na tarefa anterior, na quarta, foram analisados os desempenhos nas quatro
ações sob a referência do EBOCA de modelagem. Segundo registrado na Tabela 11, oito alunos
117
não apresentaram resposta correta ou não realizaram nenhuma resolução que constatasse
algumas operações relacionadas às ações.
[16;20] 5 36%
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
Com exceção de A10, no geral, a 4ª ação (analisar a solução composta por operações de
verificação do cumprimento do objetivo associado aos dados e condições da tarefa) não foi
computada. Mesmo os cinco estudantes que apresentaram uma estratégia de resolução e
chegaram ao resultado satisfatório, não apresentaram a confirmação ou reforçaram suas ideias
para a validação do modelo escolhido que representasse a situação problema (Gráfico 4).
0
A10 A3 A4 A7 A1 A8 A2 A5 A6 A9 A11 A12 A13 A14
A Tabela 13 prenuncia o panorama geral e a média de cada ação das quatro tarefas
realizadas por aluno e, ainda, os somatórios dessas médias que compõem os intervalos de
categoria da Tabela 14. O(a) estudante A7 alcançou a média máxima nas 3 primeiras ações, o
que demonstra habilidade em formular o problema, construir o núcleo conceitual e
procedimental e de resolver o problema discente. Não obstante, não realiza a 4ª ação em nenhum
momento, assim como todos os outros participantes, com exceção de A10, na tarefa 4. Em um
nível satisfatório está também A8 na categoria [12, 16).
Os discentes A10, A3, A2, A1, A6, A4 e A14 encontraram obstáculos na execução das
ações, acarretando o não cumprimento de uma ou duas operações dessas ações. Ademais, A12,
A11, A9, A13 e A5 não efetuaram ou não realizaram corretamente a grande maioria das
operações que constituem as ações do EBOCA de modelagem.
De acordo com os dados da Tabela 14, 86% (50% + 36%) dos participantes possuem
falhas em suas bases orientadoras. A função orientadora está presente na 1ª e 2ª ação, a função
executora na 3ª ação e a de controle na 4ª ação.
Nos dados tabulados, pode-se averiguar a não execução da análise da solução (4ªA),
uma importante e sempre reivindicada verificação, validação e interpretação do modelo
encontrado. Tal fato também é sublinhado por Gonçalves (2020, p. 123), no qual “nenhum dos
alunos evidencia, no diagnóstico inicial, ter consciência sobre a realização da ação controle na
resolução de problemas matemáticos”.
Nesse sentido, Silva et al. (2020, p. 67) corroboram que “interpretar a solução
encontrada é uma das ações que os alunos demonstraram ter maior dificuldade para executar”.
Os participantes de nossa pesquisa não externalizaram o hábito e, por consequência, a
habilidade de controle e de colocá-lo em ação durante o processo de modelação.
A ação de construir o núcleo conceitual (2ªA) possuiu médias bem próximas da ação de
solucionar problema discente (3ªA) e igualmente insatisfatórias. A conexão entre as condições
do problema e os conceitos matemáticos está intimamente ligada à resolução do problema,
120
Mediante leitura das médias das ações da tarefa 2, é exequível afirmar o excelente
desempenho da turma, que demonstrou habilidade em identificar: as variáveis e relações entre
elas para utilização correta do modelo fornecido; a seleção do método de resolução frente ao
que se procurava. A exemplo da leitura dos dados desta tarefa, tomamos o discente A1 (Figura
10).
O único equívoco é cometido por A11 ao apresentar resposta incorreta no total a ser
pago pelo lanche. Há evidências que o participante resolveu corretamente o problema discente
124
até determinar os valores de x e y, porém, não designou a qual produto se referia e, em seguida,
respondeu que o pagamento do lanche correspondia a R$8,00 (Figura 11).
O(a) estudante em questão demonstrou possuir uma sólida base orientadora. Ao analisar
a resolução da tarefa 3 na Figura 12, observa-se a ação coordenada de formular o problema
discente do(a) aluno(a) ao explicitar o conhecido e interpretar os dados na busca do
desconhecido. Já na Figura 13, a construção da via que conduz à resolução é dissertada, de
modo a demonstrar uma orientação consciente da ação.
Tal como indica-se na Figura 14, o(a) estudante apresentou a execução do esquema
(modelo) elaborado na ação anterior. Ademais, realizou os cálculos necessários, continuamente
atentou-se às unidades de medidas e apresentou a resposta ao problema discente.
A orientação se inicia com o correto entendimento dos dados e condições da tarefa, além
da compreensão quanto ao objeto a ser buscado. No caso da tarefa 3, quatro estudantes
apresentaram dificuldades nesta ação, como o(a) participante A14.
O estudante encontrou os valores dos volumes iniciais de álcool e acetona a partir da
porcentagem informada de cada substância na mistura conforme a Figura 15. No entanto, não
compreendeu a condição do problema, cuja via de solução se dá através do volume de acetona,
o qual não sofre alteração, isto é, o volume inicial é igual ao volume final da acetona.
126
Figura 17 - Ação de construir núcleo conceitual e resolução do problema discente de A10 na tarefa 4
No geral, o número de alunos que não apresentou tentativa de resolução nas tarefas 1,
2, 3 e 4 corresponde, respectivamente, a 1, 0, 7 e 8. Isto quer dizer que boa parte dos estudantes
não possuíam nenhum grau de confiança para iniciar a busca de solução das tarefas 7 e 8.
No processo de modelagem, é fundamental o reconhecimento da: situação problema
com as identificações do conhecido e desconhecido; justificativa da seleção dos conceitos e
vias de solução; defesa da estratégia de solução utilizada; validação do modelo encontrado.
Mesmo com respostas corretas, abreviar essas ações retira grande parte das características
importantes deste processo, mesmo com habilidades já automatizadas. Alguns questionamentos
podem ser esclarecidos com base nas respostas coletadas no questionário diagnóstico.
As respostas foram tabeladas em uma planilha do Excel, onde 42% dos estudantes foram
parcialmente apresentados ao processo de modelagem (sem especificações das fases) a partir
do surgimento ou construção de fórmulas matemáticas relacionadas a conteúdos estudados em
sala de aula. Além disso, 33% dos discentes afirmaram que, em disciplina(s) do curso,
obtiveram contato com os procedimentos (com especificações das fases) de modelagem para
determinação de modelos.
Apenas dois estudantes ressaltaram que não foram apresentados a este conteúdo e nem
pesquisaram em alguma atividade acadêmica e, ainda, um acadêmico não pesquisou sobre o
método. Nesse sentido, menos da metade dos estudantes (41%) foi apresentada ou pesquisou
sobre o assunto (Respostas 1 e 2) e a maioria (59%) considera ter visto parcialmente ou não foi
apresentada ou pesquisou sobre o tema (Respostas 3 e 4) (Tabela 15).
A fala do(a) participante A13 é curiosa, posto que solicitou tarefas com “objetivo
direto”. Nesse sentido, cabe aqui uma breve diferenciação entre problema e exercício. Para
Echeverria e Pozo (1998), o problema supõe a solução de uma situação para a qual o aluno não
dispõe de um caminho rápido e direto, não existe solução imediata, o que implica certa
criatividade em uma relação entre o conhecido e o desconhecido. No exercício, não existe nada
duvidoso intrínseco à sua solução, possui resolução direta.
Aparentemente, este(a) participante está habituado(a) a resolver exercícios,
costumeiramente aplicados nas escolas como problemas, quando na realidade não o são.
Entretanto, não só ele, 100% dos participantes obtiveram o melhor nível de desempenho na
segunda tarefa, por se encontrar mais próxima do conceito de exercício do que de problema.
132
Sob natureza das tarefas propostas, a “falta de prática” referida nas respostas pode ser
considerada como a ausência de hábito dos alunos com os trabalhos de solução de problemas e
metodologias de investigação na modelagem matemática. Em consonância, para Núñez et al.
(2004, p. 170), o desenvolvimento dessas capacidades é “responsabilidade do professor, que
não deve confundir problemas com aplicar exercícios, os quais necessitam mais que a aplicação
de uma fórmula ou esquema predeterminado e válido para todos os casos semelhantes”.
A abordagem da atividade “compreende pensar não como uma função pronta que é
usada na resolução de problemas” (TALÍZINA, 2000, p. 252). Logo, para minimizar falas como
“falta de base”, “falta de prática”, “treinar mais” e “insegura de meus conhecimentos”, a
Atividade de Situações Problema Discente em Modelagem foi eleborada com tarefas
organizadas de forma a orientar os alunos na resolução dos problemas, com a possibilidade de
prepararem planos heurísticos na construção/determinação dos modelos para solução dos
problemas.
Com a Direção de Estudo de Talízina, iniciado com a delimitação do objetivo de ensino,
seguida do diagnóstico do nível dos estudantes, a pesquisa prossegue para o segundo momento.
Este consiste no planejamento da Atividade de Situações Problema Discente e dos instrumentos
de intervenção, cientes das dificuldades e da ausência de boa parte das operações da base
orientadora da maioria dos participantes.
Respeitando as etapas de Galperin, o trânsito do estágio de trabalho colaborativo ao
estágio de independência cognitiva mediada pela atividade (ASPD) obteve auxílio da EBOCA
de Modelagem, de carácter mais geral e consciente (BOA Tipo 3). Não só a base orientadora,
mas também as tarefas foram elaboradas com os princípios de Majmutov, atribuindo a estas o
impulso à formação de habilidades intelectuais, a motivação do estudo.
O Grupo 2 é composto por 10 estudantes de IEM III (1º período de 2022), dos quais sete
são novos participantes e três são participantes desde IEM I e IEM II (A3, A5 e A6).
Posteriormente, serão expostas as razões pelas quais o(a) estudante A5 iniciou novamente a
ASPD juntamente com os novos discentes, representados pelas siglas B1, A5, B3, ..., B8.
O estudante B8 alcançou excelentes níveis nas três ações e conseguiu um bom
desempenho na resolução da prova diagnóstica. Os demais não realizaram operações essenciais
e não-essenciais, comprometendo a resolução apropriada das tarefas. Este grupo apresentou
média geral das somas das ações de 10,5, indicando o baixo desempenho da turma.
Grande parte da turma concentrou-se na categoria de níveis entre [8, 12). Em função
disso, computaram 74% como mostra a Tabela 17.
Ainda, não houve registro de nenhuma operação de análise, o que pode ter colaborado
com o baixo nível de desempenho, pois este controle evita que erros passem desapercebidos.
Tal aspecto também foi observado no diagnóstico inicial realizado no estudo de Gonçalves
(2021), em que 75% dos participantes de sua pesquisa apresentaram “dificuldades acerca da
compreensão do controle, sejam ligadas ao conceito em si ou ao modo de colocá-lo em ação
durante o processo de resolução de problemas matemáticos”.
Durante a prova diagnóstica, alguns acadêmicos recorreram à professora pesquisadora
para tirar dúvidas. Oliveira (2021) destaca que uma das tarefas propostas na prova diagnóstica
de sua pesquisa manifestou maior insegurança nos estudantes, com um elevado nível de
solicitação de ajuda, assim, pondera que “esse fato pode ser traduzido como um indício de um
alto nível de dependência no que se refere à ação de analisar e interpretar o resultado do
problema” (p. 113).
As tarefas propostas na ASPD de modelagem devem ser organizadas como uma
hipótese de progressão para o ensino e desenvolvimento dos estudantes, considerando que a
situação problema não pode ser tão fácil, ao ponto de não provocar dificuldades, nem tão difícil,
que fique fora do alcance cognoscitivo dos aprendizes. O problema deve se situar na zona de
desenvolvimento próximo de Vigotski (RENÉ; JAAN, 1999).
Portanto, os estudantes têm a possibilidade de elaboração e/ou reelaboração da base
orientadora da ação diante de novas práticas, contradições e desafios que possam ser gerados
pelas situações problemas em modelagem matemática.
Google Forms e GeoGebra, de forma a organizar a ASPD, manter uma comunicação clara e
viabilizar a coleta de dados. Em IEM III, já na modalidade presencial, foram manejados
artifícios como Datashow, quadro branco, pincéis e material impresso.
Em IEM II e IEM III, foram concedidos 15 encontros, totalizando 30 horas. Na primeira
metade do semestre, as aulas foram ministradas pelo docente responsável pela disciplina e a
metade pela professora pesquisadora, tal como informado no Quadro 29.
G1
G2
Participantes A6
A6 A6 B5
A7
A7 B6
...
A10 B7
A10
B8
...
A14
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
reservada a cada etapa após elaboração colaborativa do Base Orientadora da Ação, posto que a
transição de uma etapa para outra depende da qualidade das ações demonstradas pelos
estudantes.
139
situações que despertasse entre eles o interesse por aprender para ensinar uma habilidade de sua
esfera profissional”.
A definição de habilidades segundo a BNCC (Ensino Fundamental, Médio), não seguem
a mesma definição atribuída pela Teoria Histórico-Cultural, no entanto, no documento constam
recomendações e incentivos ao desenvolvimento de habilidades em Matemática, motivo pelo
qual o documento é citado no início da aula motivacional.
Sendo assim, para a exposição da aula motivacional, os tópicos foram construídos em
PowerPoint, cuja sequência está de acordo com a Figura 19, comentando-se, posteriormente, as
motivações de M1 a M7.
A aula motivacional foi planejada para transcorrer com interações entre alunos e
professora no decorrer da exposição dos seguintes pontos:
16
Adaptada de Mendoza (2009).
145
A terceira relação diz respeito à soma da quantidade de ônibus II e III juntas, que é igual
à quantidade de ônibus do tipo 1, isto é:
28 15 13 1390
29 20 9 1395
30 25 5 1400
31 30 1 1405
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
Para dar continuidade a etapa, uma segunda aula foi destinada à composição
materializada das ações da BOA de modelagem em forma de cartão de orientação, que além de
orientar ações das futuras tarefas problematizadoras, também auxiliará os alunos na checagem
das ações, isto é, na função de controle dessas ações.
Em ambiente virtual, a ferramenta interativa Google Jambord17 permite que os alunos
editem de forma colaborativa as ações e operações gerais necessárias para resolução de
problemas discentes em tarefas de modelação. A dinâmica consiste na identificação das ações
17
O quadro branco digital Jamboard permite que equipes, até mesmo em locais muito distantes, discutam ideias
e as salvem na nuvem para acesso em qualquer dispositivo.
148
gerais, realizadas na tarefa da aula anterior, que estão distribuídas no quadro do Jambord e
ordenadas sequencialmente. Em seguida, deve-se descrever as operações necessárias para
atender o objetivo de cada ação.
Inicialmente, a orientação mental deve ser direcionada pela BOA, construída na etapa
anterior, em sua forma materializada no cartão de orientação. As tarefas têm um papel
fundamental na transição da orientação externa, no plano prático, para a interna, em forma de
habilidade. A cada nova tarefa, são inseridas novas práticas de modelagem, aumentando os
níveis de generalização e abstração das ações da BOA, sempre guiadas pelo estudo de Talízina.
Segundo Mendoza e Delgado (2020), à medida que mais tarefas são realizadas, a parte
orientadora (prescrita pela BOA e sua conexão com o objeto) e a executora (que realça o
conteúdo do cartão orientador) se tornam cada vez mais unidas. Com o tempo, transcorrendo
os indicadores qualitativos, todo o esquema da parte orientadora muda para o nível mental.
Na etapa material ou materializada, os estudantes, apoiados no cartão de orientação de
forma colaborativa, trabalham, nesta fase da pesquisa, os tipos de tarefas de acordo com as
exigências dos indicadores para essa etapa e realizam o controle no processo de modelagem.
Para o reconhecimento e compreensão das ações que serão executadas durante a resolução do
problema discente, é conveniente que se utilize o tipo 2 de tarefa de modelação, pois possui
estrutura de enunciados familiares e práticas parcialmente desconhecidas pelos estudantes, o
que possibilita gerar interesse para o seu desenvolvimento.
A fim de alcançar esta finalidade, a tarefa precisa ser resolvida em conjunto com os
estudantes, guiada pela professora pesquisadora, com a identificação de cada operação e suas
respectivas ações, diferentemente da resolução da tarefa da etapa 1, agora fazendo-se o uso da
Base Orientadora da Ação. De acordo com Majmutov (1983, p. 355), é necessária uma
exposição problematizadora, em que “[...] o professor comunica o material e fornece sua
descrição e explicação criando simultaneamente situações problematizadoras, desse modo leva
constantemente os estudantes à atividade cognitiva parcial e totalmente independente”.
Alinhado aos níveis de independência pontuados por Majmutov, o objetivo da aula, após
a etapa 1 (E1), tece o desenvolvimento do nível 1, a compreensão do estudante das “explicações
do professor” e a “assimilação do modelo de ação mental” nas condições de uma situação
149
problema. Neste caso, a professora pesquisadora demonstra a execução das ações da tarefa,
orientada pelo EBOCA, sequenciada no PowerPoint (Figura 20) com duração de 2 horas.
TI2) Situação Problema Plantação de Batatas - Este é Nei Zuzek, um ex empresário que, em 2014,
decidiu fechar sua empresa e se mudar com a esposa Claudia Vega para uma propriedade no bairro
da Ferraria, em Campo Largo. Ele achava que a vida não ia ser muito diferente, mas a mudança foi
grande, conforme declara, “Comi um monte e plantei outros. Eu não sabia nada de como plantar,
mas o lugar me inspirou e a multiplicação me impressionou”.
Figura 21 - Horta orgânica
Dentre uma variedade de alimentos, Zuzek pretende plantar batatas e para isso acessou o site da
EMBRAPA e obteve os seguintes dados:
- O espaçamento entre duas ‘ruas’ deve ser, no mínimo, de 80 cm para que se possa fazer a limpeza;
- Cada planta isolada produz, em média, 8,25 batatas (graúdas e miúdas);
- Peso médio de 8 batatas, de uma mesma planta, é de 639 gramas;
- Dados experimentais, no quadro a seguir, fornecem a relação entre o espaçamento de planta e outra
da mesma rua (em cm) e a quantidade média de batatas por planta.
Tabela 19 - Dados experimentais.
Espaçamento Batatas
25 4,5
30 6,5
35 7,5
40 8,0
Fonte: EMBRAPA
No desejo de organizar as mudas no seu plantio, Zuzek se perguntou: qual é o espaçamento entre
as duas plantas que propicia maior produtividade?
18
Conforme experiência do professor, delimitação de conteúdo e disponibilidade de tempo.
19
Recomendado por Bassanezi (2006), Biembengut e Hein (2009), Burak (2004), Caldeiras (2009), entre outros.
152
racional); realização das ações em tarefas diversificadas que exigem mais criatividade e
independência (grau de solidez) do estudante.
A seguir, são apresentadas as tarefas selecionadas e adaptadas para o desenvolvimento
das ASPD de Modelagem Matemática.
A próxima tarefa (tipo 1) foi destinada somente aos estudantes. O propósito é a
resolução de tarefas que não apresentem grandes obstáculos, apenas o conflito necessário para
estimular a ação mental e consciência da realização de cada uma das operações. Nesse sentido,
a própria ação orientada na atividade já constitui um novo ato, uma nova prática, um desafio ao
estudante.
Apesar de ser classificado como sendo do tipo 1, o processo de busca e análise de
solução dos problemas de modelagem matemática requer tempo (BASSANEZI, 2006;
BURAK, 2004; CALDEIRAS, 2009). Para tanto, seis tarefas do conteúdo do segundo ano do
Ensino Médio20 foram selecionadas do livro Matemática – Ciências e Aplicações (IEZZI et al.,
2014) e depois adaptadas.
Em consideração à zona de desenvolvimento real de cada estudante, verificada no
primeiro momento da pesquisa, os estudantes são separados em três duplas em cada grupo.
Preferencialmente, a dupla deve ser formada por um(a) estudante com bom desempenho no
diagnóstico inicial e outro(a), com desempenho mediano ou baixo, no intuito de otimizar as
ações na zona de desenvolvimento proximal desses estudantes. Haja vista que duas foram
distribuídas para cada dupla, as tarefas são indicadas por TD (tarefas em dupla) de 1 a 6.
Após a resolução, a dupla troca a tarefa e o colega faz o checklist das ações executadas
pelo outro colega e vice versa, para realização de controle. Em aula posterior, ocorre a defesa
oral da resolução das tarefas já como parte da formação da ação mental verbal externa.
TD1) É crescente a adesão a transportes alternativos e menos poluente. A exemplo disto, Cristina
aderiu à bicicleta para fugir do trânsito e fazer uma atividade física, tudo com zero poluição. Porém,
é possível encontrar obstáculos pelo percurso. Cristina se deparou com uma rampa, como ilustra a
figura abaixo:
Figura 22 - Da tarefa em dupla I
20
Que fazem parte do conteúdo programático da disciplina.
153
Agora suponha o ângulo ∝ seja tal que 𝑐𝑜𝑠 ∝= √0,99 e que a cada pedalada de Cristina a bicicleta
percorre 3,15 m. Determine a altura h com relação ao solo alcançada por Cristina após 100
pedaladas.
A próxima figura mostra o quadro da bicicleta de Cristina. Sabendo que a mede 22 cm encontre a
medida do segmento que une o eixo da roda traseira ao eixo dos pedais.
Figura 23 - Da tarefa em dupla I
TD2) Em uma fábrica de automóveis, buscou-se encontrar as relações matemáticas de duas peças,
sendo uma da forma de um cilindro circular reto C e a outra, da forma de uma pirâmide triangular
regular P. Em um primeiro resultado tem-se que C tem o volume igual a 24𝜋 𝑐𝑚3 e a área de cada
base igual a 4𝜋 𝑐𝑚2e que P tem a mesma altura que C e a base inscrita em uma base de C. Diante
desses dados, continue o estudo e determine o volume de uma outra peça, o tronco dessa pirâmide
determinado pelo corte de uma lâmina paralela à base que dista 2 cm do vértice.
TD3) Santa Catarina é reconhecida por ser cercada de uma natureza exuberante. É comum haver
morros em certas extensões do litoral. Pensando em um atrativo turístico, pretende-se construir
tirolesa ligando o topo de um dos morros ao mar.
Figura 24 - Da tarefa em dupla II.
O engenheiro pensou em duas possibilidades: o ponto de partida no pico do morro (ponto C) com
uma parada intermediária (ponto B) e com ponto de chegada localizado no mar (ponto A) ou, o
ponto de partida ficar localizado no topo do morro (ponto C), sem interrupção, chegando no mar
(ponto A). Para a primeira possibilidade já há dados suficientes. Determine o cumprimento do cabo
para ligar os pontos A e C e o ângulo PÂC.
TD4) Um aluno de matemática resolveu estudar geometria espacial tendo um exemplo prático e um
copo no formato de um troco de cone circular reto. De acordo com as informações da embalagem,
o diâmetro superior e inferior do copo medem 6 cm e 4 cm, respectivamente. Ele observou que na
parte central do fundo do copo há uma semiesfera de 1,5 cm de raio. Qual expressão o estudante
pode encontrar que relacione o volume do tronco do cone em função da altura e dos raios da base?
E ainda, qual a altura do copo para que ele atinja a capacidade de 157 ml?
154
A próxima tarefa (tipo 2), tem o propósito de inserir novos procedimentos, proporcionar
práticas novas e estimular o pensamento lógico-heurístico dos estudantes. O tempo de
permanência neste tipo de tarefa dependerá do desenvolvimento e nível de independência
alcançada pelos estudantes ao superarem as contradições geradas pelas situações problemas.
Neste trabalho, quatro tarefas T1, T2 e T3 (adaptado de Alves e Sá, 2018) e T4
(adaptado de Biembengut, 2016) desse tipo foram propostas e, durante o processo de
assimilação (D3), observou-se a necessidade de retroalimentação (D4) e correção (D5),
conforme previstos na Direção de Estudo de Talízina.
T1) Situação Problema Salto da Rã - Agora você vai resolver a seguinte situação problema com a
ajuda da base orientadora.
Alguns anfíbios podem saltar distâncias que correspondem a cem vezes o seu tamanho. É o que
acontece com a rãzinha-saltadora (Pseudopaludico-lasaltica), um bichinho encontrado no Brasil.
Com apenas 1,5 centímetro, ela é capaz de dar incríveis saltos de 1,5 metro! Proporcionalmente, é
como se um homem adulto fosse capaz de saltar uns 170 metros – quase a distância de dois
quarteirões. Em uma observação de uma rã com uma câmera lenta obtivemos o registro exposto na
Tabela 20:
Tabela 20 - Dados de altura e tempo de um salto de uma rã saltadora
Tempo (segundo) 0,0 0,15 0,31 0,46 0,62 0,77
Altura (metro) 0,0 0,48 0,72 0,72 0,48 0,0
Faça um estudo sobre o salto da rã e apresente mais informações como altura máxima atingida e
modelo da trajetória.
T2) Situação Problema Dobraduras - Considere que uma folha de emborrachado que tem
espessura aproximada de dois milímetros. Execute uma sequência de dobras sucessivas. Quantas
vezes teríamos que dobrar essa folha, ao meio, para que a altura da pilha tenha, em espessura. um
valor numérico aproximado de 400 mil quilômetros, que é a distância aproximada entre a terra e a
lua?
Questões norteadoras:
a) Você consegue identificar alguma relação matemática nessa atividade?
b) Em caso afirmativo, qual?
T3) Situação Problema Lírio da Esperança - Está comprovada a eficácia do cultivo de lírios
aquáticos (Eichhorniacrassipes _ Aguapé) para a limpeza da água. Estas plantas aquáticas flutuantes
atuam como purificadores de iguais contaminadas por resíduos de esgoto e industriais, com alto
percentual de eficiência, e baixo custo se comprovado com outras técnicas. Em águas puras, águas
claras ou nos rios de águas negras do Amazonas o Aguapé não cresce nem prolifera, mas cresce com
força em águas barrentas ou poluídas. Quanto mais rapidamente ele cresce maior o grau de poluição.
Assim, o Aguapé, e um termômetro de poluição, ao mesmo tempo em que constitui magnifico
instrumento de purificação de iguais. Sabe-se que O Aguapé é pouco tolerante ao frio, e que no verão
e em lagoas poluídas ele consegue crescer 8% ao dia.
155
Questões norteadoras:
a) A partir das informações existentes no texto construa uma tabela que descreva a área (m 2) de
cobertura do Aguapé em função do tempo (dias) e use o GeoGebra para representar graficamente
os dados;
b) Proponha uma função que melhor se ajusta aos pontos;
c) Qual a área de cobertura após 30 dias?
d) Após quantos dias a área de cobertura chega a 2,3 m2?
e) A partir do gráfico determine o domínio e a imagem da função.
T4) Situação Problema Plantação de Maçãs - As frutas fazem-se presentes na alimentação diária
da maoiria das pessoas. Entretanto, nem sempre nos damos conta do processo que existe entre o
plantio e o momento em que se torna um alimento. Por exemplo, a produção de alimentos vegetais,
em um espaço restrito, depende entre outros fatores, do espaçamento entre uma planta e outra. Esse
espaço deve ser de tal forma que a planta possa receber luz solar e obter do meio os nutrientes
suficientes para crescer saudável. Dependendo da planta, algumas ervas que crescem próximas são
nocivas e precisam ser retiradas. O que, em produção comercial, requer dos agricultores manejo
constante.
Dentre as frutas encontra-se a maçã, saborosa, e provida de nutrientes essenciais ao organismo
humano. É utilizada em diversos alimentos: sucos, guloseimas, dentre outros. No Brasil, a produção
em escala comercial tem início nos anos de 1970, graças à criação de centros de pesquisa, como a
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Rural de Santa Catarina - Epagri e de produtores da área de
fruticultura. Por requerer clima mais frio, boa parte da produção brasileira, em escala comercial, é
obtida na Região Sul.
A cultura de maçãs na região de Fraiburgo, Estado de Santa Catarina, por exemplo, é bastante
desenvolvida devido ao clima e solo propícios. Para formação de pomares existem várias opções
quanto ao espaçamento entre as masseiras distribuídas ao longo de uma fila. Alguns fruticultores
preferem plantar mais maceiras por hectares e outros optam por uma distância maior ao longo da
mesma rua, supondo-se esta responsável por uma maior produtividade.
A questão é saber: qual a distância ideal entre uma maceira e outra na mesma rua para que se tenha
uma produção máxima?
Apresentação de dados de acordo com Epagri:
- espaçamento entre as duas ruas deve ter no mínimo 4 metros;
- cada macieira isolada produz uma média de 300 frutos;
- massa média de 8 frutos de uma mesma planta é de 1 quilograma;
- fruticultores consideram produção normal em torno de 52 toneladas de maçãs, por hectare
cultivado;
- relação entre o espaçamento de macieira da mesma rua (distância em metros) e a quantidade de
maçãs por planta:
Quadro 31 - Dados da Plantação de Maçãs
Distância Quantidade de maçãs
1,00 240
1,50 360
2,00 456
2,50 532,80
3,00 594,24
Fonte: Biembengut, (2016).
156
Prova Pedagógica A:
Prova Pedagógica B:
A questão original consta na prova da 1ª fase para alunos do 6º e 7º ano do Ensino Fundamental.
Dada a sequência abaixo, determine:
a) Quantos palitos serão necessários para a construção do vigésimo triângulo da sequência abaixo?
b) E para construção do enésimo triângulo?
Figura 26 - Sequências de triângulos
Quanto à tarefa (tipo 3), para alcançar meta da formação da ação verbal externa para si,
desde o início da tarefa, deve se oportunizar a criatividade e o pensamento intuitivo do
estudante. Apenas com o contexto da situação problema, este é convidado a: identificar os
possíveis questionamentos que podem ser explorados na perspectiva do texto apresentado;
traçar o objetivo; determinar o conhecimento a ser buscado; determinar o modelo (criação do
novo) que melhor representa as relações entre as variáveis estabelecidas anteriormente no
158
T5) Situação Problema Jogo dos Discos – Na festa anual, promovida por sua escola, os estudantes
do terceiro ano do Ensino Médio resolveram montar uma barraca para arrecadar fundos para a
realização da tão sonhada festa de formatura. Alguns estudantes queriam montar uma barraca de
doces, outros queriam vender refrigerantes e salgados, mas a maior parte da turma pensou em bolar
um jogo de apostas. Só faltava saber qual seria o jogo, que deveria ser simples e interessante. Depois
de muita discussão e nenhuma definição, a turma resolveu pedir ajuda ao professor de Matemática. O
professor, lembrando-se do Conde de Buffon1, levou a turma para o pátio da escola e mostrou o piso
quadriculado, com ladrilhos quadrados de 30 cm de lado. Neste momento, o professor fez a seguinte
sugestão: Que tal construir discos com um certo diâmetro para serem comprados pelos convidados e
jogados “aleatoriamente” no piso? Se o disco, depois de parar, ficar inteiramente dentro de um
ladrilho, sem tocar ou interceptar as linhas de separação do ladrilhamento, o convidado receberá um
prêmio. Tomar cuidado na hora de determinar o diâmetro desses discos, pois os convidados da festa
somente irão se interessar pelo jogo se acharem que têm chance de ganhar o prêmio.
Figura 27 – Regra do jogo
Antes de tudo: fixar a folha na mesa com uma fita adesiva, para evitar que ela se mova e
prejudique a construção.
159
Importante: Faça uma investigação e encontre os valores dos diâmetros das moedas e dos botões.
Caso não encontre os valores dos diâmetros dos botões, utilize alguns instrumentos de medida, como
régua milimétrica, e obtenha os valores aproximados. Deixe disponíveis, pelo menos, 4 quadros neste
formato:
Figura 30 - Lançamentos Favoráveis
T6) Faça um pequeno levantamento de temas, não necessariamente da Matemática, do qual você tem
curiosidade ou interesse de responder algum questionamento. Selecione pelo menos dois temas com
seus respectivos contexto e o problema que trouxe a você a motivação para a busca de solução para,
juntamente com a professora, ser verificado tempo hábil para: formulação do problema (investigação,
levantamento de dados, questões norteadoras), construção do núcleo conceitual e procedimental
(identificação ou atualização do conceito matemático e recursos computacionais, seleção de
estratégia), construção do modelo (abstração dos elementos conhecidos e desconhecidos mediante
relações matemáticas respeitando as condições do problema) e validação e análise crítica (verificação
de erros, cruzamento de dados e tomada de decisão).
Vale esclarecer o caso do(a) participante A5. Este(a) não avançou nas etapas de Galperin
pela baixa frequência nas aulas em IEM II, ocasionando menos oportunidade de internalizar as
ações do EBOCA de Modelação. Ao se matricular na disciplina de IEM III, de acordo com a
zona de desenvolvimento real deste(a) estudante, a professora pesquisadora optou por iniciar
todo o processo com os novos participantes, enquanto A3 e A6 continuaram as ações, a fim de
possibilitar o desenvolvimento satisfatório das habilidades em Modelagem Matemática.
Como já visto no planejamento, a aula motivacional trouxe sete motivos que abrange o
lado pessoal e profissional dos participantes: competências e habilidades em matemática (M1);
habilidades em modelagem (M2); esquema de ação (M3); problema discente (M4); tarefas de
modelação (M5); EBOCA de modelagem (M6); formação das habilidades (M7).
A professora pesquisadora ministrou a aula de motivação com os pontos de M1 a M7.
Após apontar as competências e habilidades em matemática segundo a BNCC (M1), a
professora pesquisadora (PP) estimula a participação dos estudantes com a seguinte pergunta
“Qual das competências e habilidades específicas recomendadas pela BNCC você reconhece
que possui?”. As respostas foram variadas e nenhum dos participantes mencionou ter segurança
na realização das 5 competências com suas habilidades específicas.
A PP seguiu com outra pergunta “Diante do desafio de serem desenvolvidas as cinco
competências e suas respectivas habilidades, qual metodologia vocês poderiam utilizar para
162
alcançar este objetivo?”. Duas sugestões foram apresentadas: “Metodologias Ativas” (A6);
“uma metodologia onde o aluno é o protagonista do próprio conhecimento” (A7).
A professora pesquisadora destacou que o processo de modelagem requer a habilidade
(M2) de identificar questões relevantes, variáveis, relações ou suposições em uma situação do
mundo real, para traduzi-los para a matemática, examiná-los e validar a solução do problema
matemático resultante em relação a tal situação, bem como a habilidade de analisar ou comparar
tais modelos, investigando as suposições feitas, checando propriedades e âmbito de tal modelo
etc. (BLUM; NISS; GALBRAITH, 2007). Ao serem apresentados os aspectos do processo de
Modelagem Matemática, ocorreu o comentário a respeito da experiência positiva de um(a)
participante com a prática do processo (A10). Ao final, o(a) estudante A1 rapidamente
comentou que, com a modelagem, é possível desenvolver as habilidades matemáticas.
Para começar a abordagem de M3, a PP fez o seguinte questionamento “Já que estamos
falando de competências e habilidades, qual a ideia que vocês têm de competência?”. Por sua
vez, A3 respondeu que “é a pessoa que sabe algum tema, algum assunto de maneira completa,
de forma que ela saiba atuar, trabalhar com aquilo com certa excelência. Já A1 comentou que
se refere a “saber relacionar com outras disciplinas utilizando a modelagem, gera um
conhecimento maior pra aluno e ajuda muito no seu dia a dia”.
Nesse momento, foram apresentadas algumas definições e colocado o esquema de ação
M3 como um dos elementos da competência defendido por Núnez e Ramalho (2004). Tal
perspectiva leva à motivação M4, na qual, de acordo com os mesmos autores, o indivíduo
competente deve desenvolver a habilidade de construir o problema a partir de situações
problema em questão.
Essa construção do problema envolve a representação que o aluno cria da situação,
delimitando o conhecido do desconhecido para definir estratégias de solução da situação
problema (NÚNEZ; RAMALHO, 2004). O(a) participante A6 reconheceu e declarou que havia
trabalhado em sala de aula no Estágio de Docência uma situação problema em uma montagem
de circuito elétrico.
Diante da explicação sobre problema discente (M4) e sua relação com as tarefas de
modelação (M5), o(a) estudante A1 indagou se a “modelagem matemática seria uma forma de
pensar em resolver uma situação a fim de facilitar a compreensão dentro de uma problemática
em que um aluno x chega num resultado de uma questão a partir de um certo modelo, o aluno
y chega nesse mesmo resultado a partir de outro modelo só que pra ambos, aquele modelo
escolhido foi mais fácil pra ambos individualmente”.
163
PP - “E o fato de a quantidade dos ônibus de pequeno porte ser a soma das quantidades
dos ônibus de médio e grande porte?”.
G1 - “É algo a ser considerado, como uma condição” (A7).
G2 - “Também é informação. Esta é uma condição”.
G2 - “Ah, temos que ver como vamos comprar os ônibus com os 10 milhões” (B3); “Mas
tem de ser de acordo com a condição” (B5).
PP - “Essa agora vai ser fácil: A quantidade de ônibus do tipo dois e três juntos, deve
ser igual à quantidade de ônibus do tipo 1”.
PP - “Diante desse cenário, podemos prever que haverá uma dependência linear. Neste
caso ainda não encontraremos o que buscamos, mas será a via de acesso”.
𝑥≥0 𝑥≥0
𝑦≥0 𝑦 = 5(𝑥 − 25) ≥ 0
{𝑧 ≥ 0 ⇒ 𝑧 = 125 − 4𝑥 ≥ 0 (𝐼𝑉)
𝑝 ≥ 0 {𝑝 = 5(𝑥 + 250) ≥ 0
PP - “Vocês estão corretos em suas afirmações, mas vou além. O que determinamos é
a representação simbólica matemática do nosso problema, o modelo matemático que
nos permitirá encontrar a resposta respeitando todas as características e condições
impostas. Está claro?”.
Todos - “Sim”.
PP - “Nós havíamos previsto que não seriam encontrados os valores desejados de forma
imediata. Porém, é possível encontrar o conjunto interseção de IV. E para organizar o
conjunto solução qual recurso nós podemos utilizar?”.
G1 - “Tabelas. Separar os valores de x, y, z” (TODOS).
G2 - “Numa tabela de valores” (TODOS).
PP - “Ok, então vamos fazer uma checagem nas “continhas” que fizemos para ter
certeza que não cometemos nenhum erro e assim, darmos uma resposta satisfatória”.
PP - “Se fosse pra dar um palpite, você arriscaria dizer que a capacidade máxima de
pessoas seria atingida pelo menor número possível de ônibus de grande porte?”.
G1 - “Realmente, professora. Eu iria arriscar uma quantidade maior desse tipo de
ônibus (grande porte” (A3); “Verdade, mas não havia me atendado a isso. Mas é
curioso né?” (A10).
G2 - “É! Se fosse pra cogitar, eu diria que deveria haver mais compra dos ônibus
grandes” (B6).
Assim, permaneceram até o final da aula A1, A3, A7, A10 de G1. Do Grupo 2, B4 e B8
não estavam presentes. Com o Grupo 1, foi possível avançar após o encerramento da tarefa, os
alunos arriscaram descrever as ações realizadas na resolução do problema discente.
Já, com estudantes de G2, não ocorreu esta tentativa, pois não houve tempo hábil em
razão de explicações mais detalhadas da professora diante do maior número de dúvidas dos
alunos durante a aula. Nos Quadros 32 e 33, constam dois exemplos das operações identificadas
por A3 e A10, respectivamente.
Na ótica de A3, a resolução foi esquematizada nos seis pontos. O(a) estudante
compreendeu que as primeiras ações tinham o propósito de organizar a resolução e formular o
problema, seguido de seleção do caminho, recursos e métodos mais viáveis de resolução.
O(a) participante A10 apresentou termos comuns da modelagem em sua narrativa, como
suposições, hipóteses, teses e investigação. Além de relatar algumas das operações de formular
o problema discente, construir o núcleo conceitual e procedimental e resolver o problema
(inclusive destaca “modelamos o problema”), mencionou uma operação da análise de solução
“para ter certeza de condizer com a realidade apresentada”.
Para a próxima ação, a maioria dos estudantes afirmou não ter o hábito de pensar em
conceitos, procedimentos e estratégia, sendo mais comum tentativas diretas de resolução. Nesse
caso, a professora narrou a execução pontual de cada momento da aula anterior dessa ação e,
em seguida, perguntou aos estudantes do que se tratava, de tal forma, editaram corretamente as
operações no quadro branco da Figura 34.
173
Foi ressaltado que o esquema construído não segue uma execução rígida. A sequência
das operações em cada ação pode alternar desde que não comprometa a resolução, sendo
preferível seguir a orientação até que esta faça parte do esquema mental do indivíduo e ele
próprio as administre de forma independente.
Por conseguinte, após constituídas as operações nos quadros brancos digitais,
disponibilizou-se, aos estudantes, o cartão de orientação (Quadro 34), em arquivo Word,
contendo as ações para a resolução das próximas tarefas.
Dia: Turma:
Estudante:
Tarefa:
Habilidade Operações de orientação e controle Check list
-Identificou os elementos conhecidos a
partir dos dados e/ou condições e/ou
conceitos e/ou procedimentos do
problema?
-Definiu os elementos desconhecidos a
Formular o
partir dos dados e/ou condições e/ou
Problema Docente
conceitos e/ou procedimentos do
problema?
-Reconheceu a situação problema?
-Determinou o conhecimento a ser
buscado?
-Selecionou os conceitos e procedimentos
conhecidos necessários para a solução do
problema discente?
Construir o núcleo -Atualizou-se outros conceitos e
conceitual e procedimentos conhecidos que possam
procedimental estar vinculados com os desconhecidos?
-Encontrou-se uma estratégia de conexão
entre os conceitos e procedimentos
conhecidos e desconhecidos?
-Construiu o modelo matemático?
-Aplicou corretamente a(s) estratégia(s) de
Solucionar o
solução para relacionar os procedimentos
problema Docente
conhecidos e desconhecidos?
-Determinou o buscado e/ou objetivo?
-Verificou a solução corresponde com
objetivo, dados e as condições do problema
discente? Caso sim, pular para operação de
análise crítica.
Interpretar a
-Identificou e corrigiu hipóteses e/ou
Solução
simplificações e/ou dados incorretos?
-Corrigiu o modelo?
-Houve análise crítica dos resultados
diante do problema discente?
Observações:
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
175
Esse cartão de orientação contém a essência do sistema de ações que compõe a BOA
recém elaborada em conjunto com os estudantes, para resolver problemas na classe de
Modelagem Matemática na perspectiva da Educação Matemática. Nesse cenário, a orientação
passa a ser representada, no cartão de orientação, como um recurso materializado de apoio não
apenas na orientação, mas também na execução e controle das ações da atividade de prática de
modelagem.
O desempenho dos estudantes na resolução do problema discente em modelagem e na
composição das ações de orientação em tempo real permitiu à professora pesquisadora
observar, analisar e chegar a alguns resultados. A respeito da presença da contradição para o
desenvolvimento da aprendizagem (aspecto do Ensino Problematizador de Majmutov), os
alunos superaram o conflito entre os meios de ação que foram requeridos no problema e os
meios de ação que podiam realizar. Ao superar a contradição, Talízina (2000, p. 311) confirma
que o estudante “alcança um novo passo no seu desenvolvimento”.
De maneira colaborativa, os estudantes dos dois grupos determinaram a base orientadora
em sua forma material externa a partir da resolução detalhada de um problema de modelação.
Em alguns momentos, a professora pesquisadora induziu processo de modelagem e colaborou
com a construção da BOA dos estudantes, havendo ajustes e correção de equívocos cometidos
(D4 da direção de estudo de Talízina), posto que:
Não se trata do estudante descobrir por si só o essencial do conceito teórico, a ação
adequada, assim como as condições necessárias que configuram a orientação tipo III,
mas, sim, de elaborá-la com a ajuda e a colaboração do professor e dos colegas
no contexto de dada Zona de Desenvolvimento Próximo (ZDP) (NÚÑEZ;
RAMALHO, 2020, p. 118).
As características das ações estão de acordo com a etapa desenvolvida, isto é, as ações
dos estudantes são ainda compartilhadas, dependentes e pouco assimiladas. Logo, diante desses
resultados, é possível afirmar que os participantes alcançaram a primeira etapa de Galperin,
com a compreensão das ações de resolução do problema discente de modelagem em sua forma
prática e depois reflexiva.
Uma vez iniciada a etapa de compreender o que fazer, a ASPD de modelagem
prosseguiu para a próxima etapa, a formação da ação em sua forma materializada, ou seja, o
fazer.
176
3.3.3 Etapas de Formação das Ações Materializada, Linguagem Externa e Linguagem Externa
Para Si
Tabela 21 - Níveis das ações dos participantes na Tarefa em Dupla por grupo
A 1ªA 2ªA 3ªA 4ªA Total
A1 5 5 5 2 17
A10 4 5 4 2 15
A3 5 5 5 2 17
A5 4 5 5 2 16
A6 5 5 5 2 17
A7 5 5 5 1 16
B1 5 5 5 5 20
178
A5 5 4 4 2 15
B3 5 4 4 2 15
B4 5 5 5 2 17
B5 5 4 4 2 15
B6 5 5 5 5 20
B7 5 4 4 2 15
B8 5 5 5 2 17
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
Dos estudantes participantes, 100% alcançaram as categorias mais altas, bem como
sinalizado na Tabela 23, sendo 64% destes em um nível excelente.
[4;8[ 0 0
[8;12[ 0 0
[12;16[ 5 36%
[16;20] 9 64%
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
Com relação as três primeiras ações, os discentes A1, A3, A6, A7, B1, B6, B4 e B8
mostraram correta execução e explicação dessas ações. Os estudantes A10, A5, B3, B5, B7
falharam em duas operações não essenciais, necessitando da intervenção da professora
pesquisadora no momento da resolução comentada. Já A5 (em G1) falhou apenas em uma
operação não essencial.
Alguns casos de falha na 4ª ação não foram percebidos nas falas das duplas, como o
ocorrido com A5 e B5. Na explicação da resolução da tarefa em linguagem oral, B5 afirmava
que o ângulo α media √0,99 (Figura 37) e, na verdade, o cos 𝛼 = √0,99 e a ação de controle
não foi realizada pelo(a) colega A5, o qual não alertou sobre o erro. A dupla poderia evitar este
equívoco na quarta ação ao checar o caminho percorrido, validar o modelo, verificar as contas
e se o objetivo foi atingido.
Por outro lado, 11 estudantes conseguiram comentar e até mesmo aprimorar suas
respostas, extraindo da solução encontrada e elementos que colaboram para uma efetiva tomada
de decisão, como ocorreu na operação 14 da análise realizada por A3 (Figura 38) e B1 (Figura
39). Na linguagem verbal externa, B1 e B6 avaliaram o caminho percorrido para garantir que a
resposta fornecida estivesse correta e, por isso, cumpriram o objetivo da última ação do
EBOCA.
Nas ações de controle realizadas por dupla, foi perceptível a atenção dos estudantes do
Grupo 1 nas representações do objeto matemático e unidades de medidas que faltaram. Cada
181
dupla fez importantes observações, não apenas para acrescentar algum elemento à resolução do
colega, mas também para destacar os pontos positivos das operações realizadas.
Com os resultados mencionados, é possível afirmar que os estudantes executaram as
três primeiras ações de maneira consciente, sabendo o que estavam fazendo. Com o apoio do
cartão de orientação, os estudantes conseguiram determinar o modelo para encontrar a solução
do problema discente. Seguindo a BOA materializada, há 11 resoluções com a realização da
operação 14 da ação de análise da solução, antes não executada em nenhuma das tarefas
respondidas por eles anteriormente.
com os estudantes, todavia, mencionava as operações inicias com o intuito de se fazer emergir
coletivamente os gatilhos para encaminhar à solução, como a seguinte indagação “alguém pode
dar o exemplo de um elemento conhecido do problema?”.
Na aula presencial, observou-se que os participantes de G2 interagiram entre si,
organizando as famosas “rodinhas de colegas”, trocando ideias e palpites, recorrendo a
pesquisas no celular e alguns deles manipulando softwares matemáticos. Nesse sentido, a
professora pesquisadora atuou somente quando solicitado.
Conforme recomenda Núñez e Pacheco (1998, p. 104), “a forma material ou
materializada é combinada, desde o princípio, com a verbal; os alunos formulam na linguagem
externa tudo o que realizam materialmente”. Sendo assim, ao final das resoluções, os estudantes
eram estimulados a verbalizar suas ações.
A primeira tarefa foi o Salto da Rã (T1), comum a todos os participantes dos dois grupos.
Os estudantes A5 e A7, não entregaram a tarefa, logo, o registro quantitativo desses
participantes é classificado no nível 1 (se nenhum indicador for executado corretamente ou não
realizado, obterá um”.
Os resultados advindos dessa tarefa estão registrados na Tabela 24 quanto aos níveis
contabilizados por execução de operações essenciais e não essenciais dos estudantes
participantes de cada grupo.
encontrado (operação essencial), lhes faltando apenas a análise crítica a partir da solução
encontrada.
Seis estudantes de G2 formularam corretamente o problema discente, destes, B4 e B8
prosseguem corretamente a 2ª e 3ª ações e ainda apresentaram um informativo a mais sobre o
salto da rã advindo do modelo encontrado. Os demais alcançaram o nível 4 na construção do
núcleo conceitual. Os participantes B1 e B6 não resolveram corretamente o problema discente,
porém, B1 executou a ação de controle na sua operação essencial.
As médias dos níveis das ações executadas pelos estudantes de G1 e G2 foram,
respectivamente, 3,25 e 3,65. Considerando apenas os que realizaram a tarefa, a média de G1
equivaleu a 4,375. Na Tabela 25, está registrado 13,92 na média geral das somas dos níveis,
mas, desconsiderando os que não entregaram, a média dos participantes que realizaram a tarefa
foi de 15,58.
está na categoria de [12, 16) e os 12% restantes representam os que não realizaram a tarefa,
como informado na Tabela 26.
Iniciemos a análise qualitativa por G1. Os participantes desse grupo apresentaram sua
resolução de forma clara, detalhada e conscientes das ações, cada um(a) com escritas próprias
e núcleos conceituais distintos, o que demostra um excelente grau de independência e confiança
nas escolhas de suas próprias estratégias.
O(a) participante A1 não se valeu de aplicativos/softwares matemáticos em sua
resolução, resolvendo corretamente as extensas contas advindas do sistema de equações,
apresentando a solução do problema discente (Figura 40).
Das tarefas aplicadas até o momento, é possível tecer as seguintes análises direcionadas
aos indicadores qualitativos: com relação aos estudantes A1, A3, A6, A10 de G1, executam
corretamente as três primeiras ações e já buscam validar o modelo a partir de outras vias
confirmatórias; cada discente possui resolução própria diferenciada dos outros colegas;
explicam todas as operações do cartão de orientação.
Ademais, os estudantes B1, B4 e B8 demonstram independência, iniciativa e clareza nos
argumentos utilizados em suas resoluções. Por sua vez, B1 ainda apresenta falhas nas operações
relativa à 3º ação e os estudantes A5, B3, B5, B6, B7 possuem escrita similar, compartilhando
do núcleo conceitual dos outros colegas. Ainda, todos os participantes de G1 e G2 consultaram,
ou até mesmo escreveram em suas resoluções, as ações do cartão de orientação a serem
executadas em cada momento.
Na retroalimentação, a professora pesquisadora repassou aos estudantes as correções,
explicando as operações corretas e incorretas (ou não executadas) descritas por cada um deles
na resolução da tarefa T1. Diante disso, a intervenção seguiu com o encaminhamento descrito
no Quadro 35, a fim de alcançar maior independência, generalização e solidez, com a
internalização das ações do EBOCA de Modelação em linguagem verbal externa e linguagem
externa para si em ambos os grupos.
187
Tipo3: Jogos dos discos (T5) A1, A3, A6, A7, A10
Grupo 1 em IEM II
Tipo3: Tema livre (T6) A1, A3, A6, A7, A10
B1, A5, B3, B4, B5,
Tipo 2: Dobradura (T2)
B6, B7 e B8
B1, A5, B3, B4, B5,
Tipo 2: Lírio da Esperança (T3)
B6, B7, B8, A3, A6
Grupo 2 em IEM III
Tipo 2: Plantação de Maçãs (T4) B4, A3, A6
Como já dito, em IEM III, o(a) participante A5 iniciou as etapas para formação das
habilidades juntamente com os novos participantes conforme sua zona de desenvolvimento real
até então. Já os participantes A3 e A6 realizaram as tarefas T3 e T4 como meios de verificação
das habilidades, possivelmente desenvolvidas na ASPD proposta ao grupo anterior, quando
automatizadas.
Por questão de ordem das tarefas, no momento, são apresentados os resultados e análises
das ações do G2, que continua nas etapas materializada, verbal externa (verificadas com a
realização de tarefas do tipo 2) e com a tentativa de formação da linguagem interna para si
(verificadas com a realização da prova diagnóstica final). Posteriormente, serão apresentados
os resultados e análises de G1, que prosseguiu na tentativa de realizar tarefas do tipo 3, com o
desafio de novas práticas de modelagem.
Em resumo, a tarefa do tipo 1 foi aplicada na etapa materializada, em dupla (etapa
materializada) e comentada oralmente. Os estudantes enfrentaram as contradições dessas
tarefas, mediados pela BOA materializada com bons níveis de desempenho. Em T2 (Salto da
Rã), foi oportunizado que compartilhassem ideias e procedimentos para determinação da
solução, porém, na escrita, deveria constar seu modo próprio de dissertar os argumentos.
Com o intuito de diminuir o compartilhamento, as tarefas do tipo 2 (T2 e T3) foram
individuais e a ação verbal foi escrita. Para cumprir a operação 6 do EBOCA, isto é, atualizar
outros conceitos e procedimentos conhecidos que possam estar vinculados ao desconhecido, foi
permitido ao estudante consultar a professora ou livros, virtuais e/ou físicos, para relembrar
algum conceito já estudado no Ensino Médio.
188
Por esse ângulo, como incentivado desde o início da ASPD de MM, o participante
poderia utilizar softwares matemáticos para colaborar na construção dos modelos. Em todo o
desenvolvimento da atividade, a professora esteve atenta aos indicadores qualitativos das ações
dos estudantes.
Já na Prova Diagnóstica Final (PDF), não foi cedida consulta, nem o uso do cartão de
orientação, justamente para verificar se o acadêmico internalizaria as ações. Em função disso,
enfrentaria as contradições de um novo problema discente.
A fim de verificar o desenvolvimento da ASPD de MM, no que concerne às ações
realizadas por cada estudante de G2, foi organizado, individualmente, a tabela dos níveis
alcançados (1 a 5) em todas as tarefas desde o início da intervenção, como o exemplo da Tabela
27 do(a) participante B1. Além dos resultados das tarefas indicadas no Quadro 35, constam
também os resultados das tarefas em dupla (TD) e o Salto da Rã (T1). Cada quadro dispõe da
média de cada ação (M.A) por estudante e ainda da média dos níveis das ações com relação à
tarefa (M.T).
Tabela 27 - Médias geradas a partir dos resultados das tarefas realizadas na ASPD de MM por B1
B1 1ªA 2ªA 3ªA 4ªA Total M. T
TD 5 5 5 5 20 5
T1 5 5 1 3 14 3,5
T2 5 5 5 5 20 5
T3 5 5 2 1 13 3,25
PDF 2 2 1 1 6 1,5
M. A 4,4 4,4 2,8 3 14,6 3,65
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
É importante salientar que os resultados dos cálculos são gerados em planilhas do Excel,
sujeitos aos arredondamentos do próprio programa. Das informações tabeladas de cada
estudante (Apêndice), foram agrupadas as médias dos níveis da ações alcançados em cada tarefa
(Tabela 28), além das médias dos níveis de cada ação executada (Tabela 29).
Tabela 28 - Média dos níveis das ações por aluno em cada tarefa de G2 na ASPD de MM
ALUNOS MTD MT1 MT2 MT3 MT4 MPDF M.G.T
B1 5 3,5 5 3,25 ---- 1,5 3,65
A5 3,75 3,5 4,25 3,75 ---- 4,25 3,9
B3 3,75 3,75 2 4 ---- 5 3,7
B4 4,25 4,25 2,25 4,25 5 5 4,16
B5 3,75 3,5 3 3,25 ---- 4 3,5
B6 5 3 5 2 ---- 2,75 3,55
B7 3,75 3,5 3,75 2 ---- 2 3
B8 4,25 4,25 5 5 ---- 2,25 4,15
MTD: Média da Tarefa em Dupla; MT1: Média de T1; MT2: Média de T2; MT3: Média de
T3; MT4: Média de T4; MPDF: Média da Prova Diagnóstica Final; M.G.T: Média geral das
tarefas
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
189
É possível verificar, na Tabela 28, o transcorrer das médias das tarefas do tipo 1 para
tarefas do tipo 2. Diferenças mais expressivas de desempenho de uma tarefa a outra parece
ocorrer com B6. Com B8, nota-se uma diferença significativa dos níveis alcançados em todas
as tarefas e na prova diagnóstica final e, com B7, o desempenho na execução correta das ações
caiu em T3 e PDF.
Os demais mantêm uma boa constância ou relativamente boa no decorrer da atividade.
Em linhas gerais, este é um bom indício do desenvolvimento das habilidades dos estudantes na
prática de modelagem, considerando que as contradições evoluem em graus de
novidade/dificuldade a cada tipo de tarefa.
Para um olhar pontual, diretamente sobre as habilidades requeridas, a Tabela 29 refere-
se apenas às ações realizadas pelos estudantes na ASPD de MM. Com os resultados na Tabela
29, observa-se que a ação de formular o problema discente foi realizada corretamente em quase
todas as tarefas propostas ao G2.
Apenas o(a) estudante B1 cometeu equívocos em três operações dessa ação na prova
diagnóstica final. Tal fato significa que a turma compreendeu qual o elemento a ser buscado,
identificando os elementos conhecidos, relacionando aos elementos desconhecidos,
reconhecendo a necessidade de associá-los aos conceitos e procedimentos corretos, a fim de
possibilitar a determinação de uma solução.
Tabela 31 - Distribuição de frequência por intervalo de categorias de níveis das tarefas da PDI
Cat. Freq. %Freq.
[4;8[ 1 13%
[8;12[ 6 74%
[12;16[ 1 13%
[16;20] 0 0
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
Tabela 32 - Distribuição de frequência por intervalo de categorias de níveis das tarefas da ASPD
Cat. Freq. %Freq.
[4;8[ 0 0
[8;12[ 0 0
191
[12;16[ 6 75%
[16;20] 2 25%
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
consultas à professora, aos colegas e ao cartão de orientação na realização das tarefas T1, T2,
T3 e T4 (no caso de B1), indicado por Totalmente, Parcialmente ou Pouco independente.
Nas tarefas TD e T1, houve intensa consulta por parte dos estudantes do cartão de
orientação e compartilhamento na busca da compreensão do como realizar as ações, do saber
fazer e do saber explicar. As consultas e compartilhamentos diminuíram ao ponto de B4 e B8
apenas consultarem raramente o cartão de orientação e B1, A5, B3, B5, B6 e B7 consultarem
circunstancialmente a professora pesquisadora e o cartão de orientação, contudo, ainda era
perceptível consultas de B7 aos colegas, configurando insegurança na execução das operações.
O grau de generalização trata da realização das ações em uma nova situação problema.
Por ser uma BOA do tipo 3, o EBOCA de MM foi elaborado de forma a orientar os estudantes
em diversas situações problemas de modelagem matemática em diferentes confrontos. De
acordo com Talízina (2009, p. 408), generalização se dá inicialmente nas características das
ações da base orientadora e depois os “os alunos têm que utilizar este esquema durante a solução
de problemas que requerem a aplicação destas características”.
A generalização foi averiguada a partir da superação das contradições mediante
execução correta das ações na determinação do modelo e solução da situação problema proposta
na prova diagnóstica final. Quanto à prova diagnóstica final A, foi proposta aos estudantes A5,
B3, B4, B6 e B7.
De acordo com os resultados que antecedem a prova diagnóstica final, esses
participantes registravam média em torno de 3,5 nos níveis das tarefas. Logo, notava-se
necessidade de maiores evidências de internalização das ações que abarcavam as contradições
na determinação de modelos e tomadas de decisão, a partir da identificação dos dados
informativos disponíveis na tarefa (característica do tipo 2), compreensão do evento a ser
modelado, seleção dos conceitos e procedimentos que estão associados aos dados (conhecido)
193
e o que se deseja (desconhecido), sem descuidar do controle das operações para validação dos
resultados.
A contradição da ação de formular o problema discente foi superada e executada
corretamente por todos os estudantes. Em vista disso, identificaram: nas operações 1 e 2, a
existência de uma taxa fixa, cujo número de ligações e o custo das ligações não eram
informados; nas operações 3 e 4, o plano mais vantajoso, com menos custos relacionados à
quantidade de ligações (uma vez que o minuto por ligação não foi informado), além disso,
reconheceram a contradição, a necessidade de buscar as relações de comportamento dos dois
planos de telefonia para responder o problema discente.
A contradição de construir núcleo conceitual e procedimental condizente a essa situação
problema foi superada pelos estudantes A5, B3 e B5. No caso de B7, associou o conceito de
soma (Figura 43) relativa à operação 5 (OP5) e assumiu erroneamente a estratégia de montar
uma tabela com resultados da soma do número de ligações ao valor fixo e à taxa por ligação de
cada plano (Figura 44). O que por sua vez afetou o resultado final.
Já o caso de B6 chamou atenção. Por mais que tenha realizado corretamente a seleção
do conceito e procedimento e até mesmo determinar o modelo que descreve os custos por
ligação de cada plano (Figura 45), o(a) discente não possuía estratégia para conectar o modelo
recém encontrado ao desconhecido, o elemento desejado. Tal fato impossibilitou uma análise
mais completa para a resposta ao problema discente.
194
Os resultados foram ponderados a fim de ser mais fiel ao que o(a) discente desenvolveu
na atividade, como no caso de B5 e B6, que ainda estão em processo de internalização
200
A1 5 5 1 1 12
A10 5 5 1 1 12
A5 1 1 1 1 4
Média 4,33 4,33 3 1,5 13,16
Mediana 5 5 3 1,5 14,5
Moda 5 5 5 2 17
D.P 1,63 1,63 2,19 0,54 5,11
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
operações da segunda ação estavam pontuadas, uma a uma, com alto grau de detalhamento,
atenção a cada ponto.
O compartilhamento dos resultados foi um momento empolgante para os discentes,
posto que todos ficaram atentos e observando se havia discrepância entre as probabilidades de
acertos encontradas. Em seguida, a professora incentivou o grupo a refletir sobre as informações
tabeladas e a conjecturar a medida do diâmetro ideal. Mesmo não identificando valores
idênticos, os acadêmicos chegaram a um consenso e determinaram o intervalo de valores de
probabilidade nos 50% de acertos de lançamentos do disco.
A professora pesquisadora sugeriu a plotagem dos pontos encontrados (P(d),d) =
(probabilidade de ganho com relação ao diâmetro, diâmetro) no GeoGebra, para estimar a
função que representa o fenômeno estudado a partir do ajuste de curva. Depois de aprender ou
relembrar como manipular o recurso e, após algumas tentativas, três estudantes reconheceram
a função quadrática do campo de Regressão Polinomial como a função que melhor representa
a função de ganho com relação ao diâmetro do disco.
Figura 58 - Operação 8 de A6
Os modelos encontrados por A6, A3 e A7 foram f(x) = 0,1x2 − 0,6x + 0,89, g(x) = 0,1x2
− 0,64x + 1,01 e p(x) = 0,11x2 − 0,66x + 1 respectivamente. Portanto, pode-se considerar que
o experimento gerou modelos bem próximos. Com desvio padrão de 0,098489, os três discentes
responderam corretamente e obtiveram valores aproximados do diâmetro ideal: 0,93 cm por
A3; 0,74 cm por A6; 0,88 cm por A7. O ajuste de curva selecionado por A1 gerou uma função
polinomial de grau 5 e, na resposta ao problema discente, A1 afirmou que o diâmetro
encontrado é “de mais ou menos de 0,3cm”.
204
O modelo poderia ser colocado à prova e até mesmo testado com simulação direta de
lançamentos do disco com a medida do diâmetro encontrada, todavia, nenhum estudante
utilizou procedimento de validação. Por outro lado, reservaram um momento de ponderações
para ainda tecer algumas considerações relevantes, tal como A6 (Figura 59).
A7 5 5 5 3 18
A10 5 5 5 3 18
Média 5 5 5 3,8 18,8
Mediana 5 5 5 3 18
Moda 5 5 5 3 18
D.P 0 0 0 1,09 1,09
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
determinar o conhecimento a ser buscado, uma vez que o próprio estudante origina o objeto de
interesse.
Alguns participantes trouxeram temas que fazem parte de seu cotidiano ou preferências.
No caso de A3, captou elementos de uma história fictícia de um Anime21 para compor sua
problemática (Figura 60). Nesse sentido, é pertinente sublinhar que situações concretas não são
obrigatórias em sala de aula22, diferentemente da perspectiva dos modeladores profissionais23.
Dos vários exemplos, cita-se o de Araújo (2000), que em seu relato de pesquisa aponta
um grupo de alunas que criou uma situação problema imaginária (a temperatura no decorrer do
ano de uma cidade fictícia). Tal situação foi abordada igualmente em termos matemáticos como
uma situação concreta.
A primeira ação foi realizada com sucesso por todos os participantes. Ao núcleo
conceitual e procedimental, foi recomentado que fossem considerados conteúdos do Ensino
Médio para atender a ementa da disciplina do curso.
Cada estudante enfrentou a contradição de arquitetar a estratégia de resolução de acordo
com suas experiências e novas práticas da atividade de modelagem acrescentadas ao seu sistema
de conhecimento. Recorrendo também à atualização (OP 6), os estudantes montaram seus
esquemas aplicados na segunda e terceira ações, transcritas ao Quadro 37.
Na ação de controle, os acadêmicos averiguaram se as condições do problema discente
não foram violadas, se havia erros relacionados aos cálculos. Na ação verbal, foi solicitado além
da apresentação oral, também a escrita. Todo o processo foi realizado corretamente, porém, é
possível encontrar pequenos equívocos, como o de A1 ao definir na forma escrita seu objeto de
21
Tipo de desenho animado produzido no Japão.
22
Modelagem no âmbito da Educação Matemática.
23
Modelagem no âmbito da Matemática Aplicada.
207
busca como sendo a frequência de pessoas albinas, que, na realidade, seria a frequência relativa
de pessoas albinas.
Além disso, alguns erros relacionados à escrita da Língua Portuguesa também podem
ser encontrados nas resoluções dos estudantes. Os estudantes A3 e A6 exploraram os resultados
encontrados, principalmente em suas apresentações, ao prever ou indicar melhores decisões a
partir dos modelos que retratam a situação problema proposta. Isso rendeu o nível 5 nessa ação,
conforme já mostrado na Tabela 38.
Assim como em G2, para ajudar nas análises, os resultados foram organizados por ação
realizada por cada estudante nas tarefas em toda a ASPD de MM. Como exemplo, a Tabela 39
refere-se às ações do(a) participante A1.
De todas as tabelas organizadas por estudante, gerou-se a Tabela 40, que consta a média
geral alcançada na realização de todas as tarefas propostas ao G1. Os estudantes A3 e A6
alcançaram um excelente desempenho geral de 4,56 e a tarefa T6 rendeu as maiores médias ao
G1.
Tabela 40 - Média dos níveis das ações por aluno em cada tarefa de G1 na ASPD de MM
ALUNOS MTD MT1 MT5 MT6 M.G.T
A1 4,25 4 3 4,5 3,93
A3 4,25 4,75 4,25 5 4,56
A6 4,25 4,75 4,25 5 4,56
A7 4 1 4,25 4,5 3,43
A10 3,75 4 3 4,5 3,81
MTD: Média da Tarefa em Dupla, MT1: Média de T1, MT5:
Média de T5, MT6: Média de T6, M.G.T: Média geral das
tarefas
Fonte: Elaborado pela autora (2021).
Da Tabela 39, também foi possível extrair, especificamente, as médias das quatro ações
organizadas na Tabela 41. Assim como em G2, as ações de formular o problema discente,
construir o núcleo conceitual e procedimental e resolver o problema discentes são as mais
executadas corretamente. O(a) participante A7 não entregou a tarefa T1 e A10 encontrou
obstáculos na resolução da tarefa em dupla TD.
Na Tabela 42, tem-se um comparativo dos resultados advindos das tarefas aplicadas no
diagnóstico inicial com os resultados das tarefas aplicadas nas etapas da ASPD de MM.
O único caso de variação negativa nos dois grupos é A7, por conta da não execução de
algumas operações de controle e a não entrega da tarefa T1. No mais, todos obtiveram variações
positivas, diante de contradições em tarefas do tipo 1, 2 e 3 de modelação.
A partir dos resultados da Tabela 41, há uma tendência em afirmar que a primeira,
segunda e terceira ação estão assimiladas e a quarta está parcialmente assimilada pelos
estudantes de G1. Entretanto, é necessário cautela advinda da análise qualitativa na observação
dos indicadores qualitativos das ações.
A decisão de inserir tarefas do tipo 3 a G1 foi influenciada pelos níveis de desempenho
em torno de 4, obtidos nas tarefas TD e T1. Por outro lado, tal fato não indica formação
completa da ação verbal externa ou assimilação concreta das ações, mas que foi oferecida a
oportunidade de internalizar a BOA materializada sob o julgamento das contradições atribuídas
às tarefas do tipo 3, atingindo maior amplitude na prática de modelagem sob perspectiva da
EM.
No que concerne ao grau de generalização, foi necessária uma reflexão mais profunda
e analítica a respeito dos resultados da última tarefa. O G1 efetuou com sucesso a formulação
do problema e apresentou a situação de forma contextualizada, com dados advindos de diversas
fontes disponíveis na web, como artigos e manual de instruções. Toda essa dinâmica de
exploração e investigação enriqueceu a primeira ação, o que demonstra a generalização das
operações de identificar os elementos conhecidos e desconhecidos e determinar o conhecimento
a ser buscado.
Em termos de execução e controle, o G1 obteve um bom desempenho. No entanto,
alguns de seus membros não arriscaram explorar o tema escolhido com indagações mais
sofisticadas e desafiadoras, o que corroborou para uma resolução simplória e um tanto distante
da generalidade esperada, como no caso de A1 e A10.
210
Um esquema bem elaborado foi arquitetado por A7 para encontrar a solução desejada,
porém, o(a) estudante se limitou apenas a responder o problema discente. Os acadêmicos A3 e
A6 modelaram e ainda exploraram os resultados, com previsões e tomadas de decisão. Mesmo
diante de ótimos resultados quantitativos, o quesito generalização não foi alcançado por todos
de acordo com análise qualitativa.
No decorrer das tarefas, o componente de orientação passa por um processo de
diferenciação, cujos aspectos invariantes se destacam (generalização) cada vez mais. Tal
perspectiva exige do estudante a análise da situação problema e a decisão individual sobre o
que fazer (independência).
Na tarefa tipo 2 (T1), notaram-se indícios de independência relativa, com distintos
núcleos conceituais e procedimentais adotados pelos estudantes. Na tarefa tipo 3 (T5), houve
aparente agitação, inquietação na execução da tarefa diante do novo, fazendo com que
interagissem mais entre si, comparando resultados e direcionando mais perguntas à professora
pesquisadora. Assim, abriu-se um comparativo, como no G2 por meio da tarefa T1.
Ao transcrever as ações executadas na tarefa T5 em linguagem verbal externa, A3, A6
e A7 não solicitaram qualquer ajuda da professora pesquisadora. Na última tarefa, A6 e A7
conduziram todo o processo de modelagem e A3 apresentou apenas algumas dúvidas quanto ao
número de questionamentos. No caso de A1 e A10, as consultas foram mais frequentes,
conduzindo parcialmente o processo. Os resultados das análises do grau de independência estão
organizados na Tabela 43.
Diante das ponderações, não é possível afirmar que A1 e A10 assimilaram totalmente
as ações do EBOCA, considerando não haver indícios da completa abrangência de suas bases
orientadoras. Da mesma forma com A7, cujos componentes de orientação encontram-se
parcial/totalmente assimilados, pois ainda há falhas na ação de analisar o problema discente,
mesmo ocorrendo importantes avanços durante a atividade.
Ao prosseguirem a ASPD de MM em IEM III, verificou-se a assimilação do EBOCA
de modelagem dos estudantes A3 e A6. Os participantes desenvolveram a capacidade de
identificar as situações problemas (T3 eT4), nas quais os invariantes estavam presentes e, sem
o uso do cartão de orientação, desencadearam as ações necessárias à busca da solução do
problema discente. Na Tabela 45, consta a estimativa da etapa de formação mental dos
estudantes de G1.
A maioria dos estudantes compreende que analisar a solução está relacionado a detectar
erros, revisar o caminho percorrido, validar modelo, verificar algo relevante a considerar etc.
Alguns discentes encontraram obstáculos na execução dessa ação, mencionados nas falas “essa
foi a que mais tive dificuldade, um pouco mais complicada” conforme transcrito ao Quadro 42,
o que de fato refletiu nos resultados referentes a ação em evidência.
Quanto à consciência das ações, 78,6 % dizem estar consciente do que precisam realizar
no processo de modelagem e 21,4% mais ou menos conscientes.
que você aprendeu nas Alguns procedimentos computacionais como a regressão linear do GeoGebra
tarefas propostas. para conseguirmos modelar um comportamento dos dados e prever um
possível resultado. Outro fato foi termos que fixar alguns valores que eram
desconhecidos, mas que precisavam ser definidos para conseguirmos chegar
em uma solução da tarefa.
Aprendi a definir um plano de resolução, e com esse plano, definir o
conhecimento a ser buscado podendo aplicar o mesmo problema em variadas
séries diferentes, ensino médio, fundamental ou superior.
Ao passar das aulas, as ações foram se tornando muito natural de ser feita, um
exemplo é que um dia eu estava no ônibus com a XXXX e um amigo me mandou
mensagem para ajudar ele em uma questão do salário dele, então ele me
passou algumas informações e queria saber quanto era o salário total, eu e a
XXXX começamos a resolver, separamos os elementos que nós tínhamos e os
que não tínhamos, fomos modelando o problema e achamos o resultado, foi
uma coisa tão natural que só depois paramos pra pensar que nós tínhamos
feitos exatamente o que fazíamos nas aulas, modelar o problema.
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
Diante de tudo que já foi exposto, a estimativa de estágio ou etapa de formação mental
resultante da Atividade de Situações Problema Discente de Modelagem Matemática dos
estudantes participantes desta pesquisa está organizada no Quadro 47.
Quadro 47 - Quadro geral de estágio de internalização das ações alcançadas pelos participantes
B5
B6 Forma Materializada
B7
A1
A10
A5
A7 Linguagem Verbal Externa
B1
B3
B8
B4 Linguagem Verbal Externa para Si
A3
Forma Mental
A6
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
Nesse sentido, é importante ressaltar que B5, B6, A7 e B8 estão avançados nos estágios
em que estão indicados. É reconhecido aqui que B5 e B6 possuem indicativos de explanação e
assimilação parciais, característicos da formação da ação verbal externa, porém, incompletos.
Da mesma forma, alguns indicadores do estágio da linguagem externa para si já podem ser
reconhecidos nas ações de A7 e B8.
De acordo com a leitura do Gráfico 6, 23% dos participantes estão na forma
materializada das ações, isto é, a parte da ação que permanece relacionada a suas representações
(GALPERIN, 2013). O ponto de partida para prosseguir na formação das habilidades está
218
consolidado, posto que experenciaram por completo a etapa do fazer e realizar as tarefas com
situações problemas de algumas contradições esperadas para a prática de modelagem, mesmo
com apoio dos colegas e da professora pesquisadora, continuando na zona de desenvolvimento
próximo.
15% Materializada
23%
8% Verbal Externa
Verbal Externa para Si
54% Mental
A quarta ação tem papel fundamental no controle das ações anteriores. Entraves na
análise da solução não é um caso não é isolado desta pesquisa. Ao final de seu estudo sobre o
processo de aprendizagem da orientação da ação de controle na resolução de problemas
matemáticos, Gonçalves (2020, p. 185) sublinha que:
[...] as lacunas na formação dos discentes ou ainda a inexperiência com ações
conscientes de controle, balizadas em orientações sistematizadas, indicam para a
necessidade urgente de inserção do controle da aprendizagem desde os primeiros
níveis de ensino.
CONSIDERAÇÕES
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APÊNDICES
ANEXOS
242
243