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INFO MONEY

Acabou o namoro?
Dividendos da Petrobras são metade do recorde do
2º tri, mas atraem investidores; vale a pena entrar
na ação?
Confira 15 perguntas e respostas sobre os proventos, a data limite para
ter as ações na carteira e as perspectivas do mercado para a companhia
Por Katherine Rivas4 nov 2022 11h15-Atualizado 2 dias atrás

A Petrobras (PETR4;PETR3) anunciou nesta quinta-feira (3) que pagará


o valor total de R$ 43,7 bilhões em dividendos referentes ao terceiro
trimestre deste ano – o que corresponde a R$ 3,3489 por ação
preferencial e ordinária em circulação. O valor é cerca de metade do
anunciado no segundo trimestre, de R$ 87,8 bilhões.

A companhia reforçou em fato relevante que a aprovação deste


dividendo “é compatível com a sustentabilidade financeira da petrolífera
no curto, médio e longo prazo e que está alinhada ao compromisso de
geração de valor para a sociedade e para os acionistas, assim como às
melhores práticas da indústria mundial de petróleo e gás natural”.

Não foi, no entanto, um anúncio que agradou a gregos e troianos. Gleisi


Hoffmann, presidente do PT, criticou a proposta de distribuição. “Passada
a eleição, volta a sangria na Petrobras. Estão preparando a distribuição
de R$ 50 bilhões em dividendos. Não concordamos com essa política
que retira da empresa sua capacidade de investimento e só enriquece
acionistas. A Petrobras tem de servir ao povo brasileiro”, afirmou em sua
conta no Twitter.

Além disso, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a associação que


representa os petroleiros acionistas minoritários da Petrobras, a
Anapetro, apontaram que vão entrar na Justiça para tentar barrar a nova
distribuição de “megadividendo”.

Para o mercado, a resistência é um sinal de que o namoro com a


Petrobras está acabando, assim como a fase de dividendos polpudos.
Mesmo que a relação desgastada sobreviva, analistas avaliam que há
muitas incertezas relacionadas ao novo governo para incluir as ações da
companhia em uma estratégia de dividendos de longo prazo.
Segundo os agentes de mercado ouvidos pelo InfoMoney, a Petrobras –
que no segundo trimestre conquistou o título de maior pagadora de
dividendos do mundo, superando empresas como Nestlé, Rio Tinto,
China Mobile, Ecopetrol e Microsoft – pode não ter a chance de integrar
novamente essa lista tão cedo.

Para quem não possui as ações, mas se interessou pelos dividendos


recém-anunciados, o que fazer agora? Comprar os papéis ou
não? O InfoMoney consultou sete especialistas para responder as
principais dúvidas dos investidores sobre o assunto.

Foram consultados Ilan Arbetman, analista de research da Ativa


Investimentos; Flávio Conde, analista de ações da Levante; Luiz Barsi
Neto, economista e assessor do MMBarsi Investimentos; João Daronco,
analista da Suno Research; Sidney Lima, analista da Top Gain; Vicente
Guimarães, CEO da VG Research; e Luan Alves, head de equity da VG
Research. Confira:

Como vai ocorrer o novo pagamento de dividendos da Petrobras?

O pagamento será de R$ 3,35 por ação preferencial (PETR4) e ordinária


(PETR3) e ocorrerá em duas parcelas.

A primeira parcela, no valor de R$ 1,67 por ação, será depositada no


dia 20 de dezembro de 2022. Parte do valor corresponderá a dividendos
– que são isentos de tributação – no valor de R$ 1,16 por ação. Outra
parte virá na forma de juros sobre capital próprio (JCP) de R$ 0,52 por
ação. Lembrando que JCPs são tributados – portanto, deste valor será
descontado na fonte automaticamente o imposto de renda de 15%.

A segunda parcela, também no valor de R$ 1,67 por ação, será


depositada em 19 de janeiro de 2023. A divisão do pagamento entre
dividendos e JCP será definida no futuro e anunciada aos investidores
por meio de comunicado ao mercado.

Qual é a “data com” dos dividendos da Petrobras? E a “data ex”?

Para ter direito aos dividendos, o investidor precisará ter as ações em


carteira até o final do pregão do dia 21 de novembro de 2022, que é a
“data com” – ou seja, a data de corte para fazer jus aos proventos.

A “data ex” será no dia seguinte, 22 de novembro de 2022. Quem


comprar as ações a partir desta data já não terá mais direito aos
dividendos de R$ 3,35.
Neste mesmo dia, a cotação dos papéis da Petrobras deve sofrer um
ajuste, descontando o valor dos dividendos. Por exemplo, se PETR4
fechar cotada a R$ 30 no dia 21, ela abrirá negociada a R$ 26,65 no dia
22.

Que erros um investidor pode cometer em torno da “data ex” de


uma ação?

Segundo Vicente Guimarães, CEO da VG Research, um erro comum que


deve ser evitado pelos investidores é comprar as ações na “data com”
para receber os dividendos e vender no dia seguinte, na “data ex”, com
um preço menor e a ação em queda. Isso porque o investidor recebe o
dividendo, mas acaba realizando um prejuízo. Essa é uma prática
comum entre investidores iniciantes, diz Guimarães.

De onde serão deduzidos os R$ 43,7 bilhões pagos como


dividendos?

Segundo fato relevante da companhia, do valor de R$ 3,35 por ação, um


total de R$ 3,14 por ação se refere a uma antecipação da remuneração
aos acionistas relativa ao exercício de 2022 e será declarado com base
no balanço de 30 de setembro de 2022. Já os R$ 0,20 por ação restantes
serão pagos a partir da conta de reservas de retenção de lucros
constantes no balanço de 2021.

Como funciona a política de dividendos da Petrobras? Qual é a


frequência dos pagamentos?

A Petrobras estabelece como remuneração mínima anual o valor de US$


4 bilhões para exercícios em que o preço médio do petróleo do tipo Brent
for superior a US$ 40 o barril. Este valor poderá ser distribuído
independentemente do nível de endividamento da empresa. Os valores
são iguais tanto para PETR4 quanto para PETR3.

Já em caso de uma dívida bruta igual ou inferior a US$ 65 bilhões e de


resultado positivo acumulado, a Petrobras deverá distribuir aos seus
acionistas 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e os
investimentos, desde que isso não comprometa a sustentabilidade da
companhia.

Segundo a política de dividendos, a remuneração dos acionistas da


Petrobras deverá ser feita trimestralmente.
A Petrobras possui dividendos mínimos obrigatórios correspondentes a
25% do Lucro Líquido Ajustado. A companhia poderá ainda, em casos
excepcionais, realizar o pagamento de dividendos extraordinários,
superando o valor anual estabelecido acima.

Para quem não possui as ações, vale a pena comprar agora para
receber os dividendos?

Para alguns especialistas consultados pelo InfoMoney, sob a ótica de


usufruir apenas dos dividendos de R$ 3,35, pode valer a pena – mas
essa não é uma visão consensual. É preciso ressaltar ainda que a
companhia não oferece nenhuma garantia de repetir essa remuneração
em 2023.

Flávio Conde, da Levante, destaca que as ações da Petrobras ainda não


incorporaram os dividendos anunciados nas cotações. Ele exemplifica
com PETR4, que estavam cotadas a R$ 29,80 nesta quinta-feira (3),
antes do anúncio dos proventos, e fecharam o dia em R$ 29,95,
precificando apenas R$ 0,15 centavos do dividendo.

Ilan Arbetman, da Ativa, reforça que não há certeza de que no futuro a


Petrobras pagará dividendos desse porte novamente. “Pode ter sido o
último grande dividendo da Petrobras”, afirma. Ele acredita que a
companhia poderá passar a fazer investimentos maiores em refino e
geração renovável, o que naturalmente reduziria o valor para a
distribuição de proventos.

“Não acreditamos que comprar Petrobras hoje para uma estratégia de


dividendos seja certo ou simétrico”, afirma Arbetman. “Se for comprar
apenas para capturar esse dividendo único, até pode ser. Mas
normalmente, quando se pensa em dividendos, a expectativa é de uma
alocação de longo prazo, em busca de uma distribuição recorrente. Já
não podemos prever isso pra Petrobras hoje”.

Sidney Lima, da Top Gain, por sua vez, não recomenda comprar a ação
da Petrobras apenas para receber os dividendos atuais, já que as
cotações serão ajustadas na “data ex”, descontando o valor. “Na prática
seria trocar 6 por meia dúzia”, diz, destacando que a transição política
tem trazido uma série de incertezas em relação ao negócio da estatal.

Para quem já tem Petrobras, vale a pena manter as ações em uma


estratégia de dividendos? Até quando?
Para os investidores que já têm posição na empresa, Arbetman acredita
que o ideal é mantê-la até pelo menos a “data ex” para assegurar o
recebimento dos R$ 3,35.

Já para Conde, da Levante, o razoável é manter as ações da petrolífera


até o final deste ano, quando os investidores devem ter mais sinais do
como o governo Lula pretende lidar com a Petrobras.

Observando o longo prazo, Luiz Barsi Neto afirma que o investidor deve
buscar ações para uma carteira de dividendos almejando uma
recorrência de pagamentos de pelo menos cinco anos. “A Petrobrás, há
cinco anos, estava bem distante da distribuição dos últimos dois. Com os
recentes comentários do governo que assumirá em 2023, imaginamos
que a distribuição não continuará nos mesmos níveis”, afirma.

Em sua visão, ter uma ação em carteira focada em dividendos significa


acreditar que a empresa continuará entregando bons resultados no
futuro, sem escândalos de corrupção e distribuindo proventos aos seus
acionistas periodicamente. “Se ele não enxergar estas premissas na
empresa, não vê a Petrobras para uma carteira de dividendos”, cita.

Qual é o preço-teto de PETR4 para não pagar caro pela ação?

Conde, da Levante, calcula que o preço-teto de compra das ações da


Petrobras (PETR4) é de R$ 29,50, abaixo da cotação de fechamento
desta quinta-feira (3).

A Petrobras tem espaço para mais dividendos referentes ao quarto


trimestre de 2022?

 Segundo João Daronco, da Suno Research, nos últimos dois anos, a


valorização do petróleo do tipo Brent e o foco da empresa no seus
negócios prioritários, com desinvestimento de ativos para aumentar a
eficiência operacional, permitiu que a companhia gerasse um bom caixa
e conseguisse distribuir mais dividendos do que historicamente vinha
entregando. O endividamento baixo também favoreceu o pagamento de
100% do seu lucro (payout).

Contudo, no próximo governo, Daronco cita incertezas sobre a política de


destinação do lucro da empresa, que pode ser reinvestido em outras
atividades, tais como refinarias ou energia renovável. “Não sabemos
ainda qual será o plano seguido pela Petrobras, quem vai liderar a
empresa. Acho que 2023 será um ano de forte incerteza para a
companhia”, aponta.
Para Conde, da Levante, no quarto trimestre de 2022 – cujos resultados
serão divulgados em fevereiro ou março – a companhia ainda teria
capacidade operacional de ter um bom lucro e pagar dividendos
elevados. “Esse lucro seria alto por conta do preço da gasolina, do diesel
e do querosene de avião, que ainda estão elevados, acompanhando o
preço do Brent nos US$ 96”, avalia.

A dúvida dos analistas se refere ao fato de que tais dividendos serão


anunciados já durante o governo Lula. Não é possível saber se a
empresa optará por distribuir 90% ou 100% do lucro líquido, como fez
nos últimos trimestres, ou se reduzirá os pagamentos para o mínimo
estatutário de 25%.

É possível haver mudanças na política de dividendos da Petrobras


em 2023?

Os especialistas consultados pelo InfoMoney acreditam que há grandes


chances de a Petrobras distribuir apenas o mínimo obrigatório em 2023,
de 25% do seu lucro líquido ajustado.

Segundo Conde, como já sinalizado durante a campanha eleitoral, o


objetivo do governo Lula não é pagar dividendos e, sim, investir o
dinheiro excedente na construção de refinarias.

Luiz Barsi Neto diz que com uma nova equipe econômica no poder, o
Petrobras pode até mesmo não pagar dividendos. Ele cita que as
declarações de Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, de que “a
Petrobras tem de servir ao povo brasileiro” deixam claro que os lucros
distribuídos deveriam ser direcionados aos programas sociais.

Para Sidney Lima, a alteração da política de dividendos é totalmente


possível, considerando que esta atualmente possui condições
consideradas “flexíveis”.

Leia também:

A Petrobras terá condições de se manter como uma das maiores


pagadoras de dividendos no mundo em 2023?

Segundo a 35ª edição do Índice Global de Dividendos da gestora Janus


Henderson, a Petrobras conquistou o título de maior pagadora de
dividendos do mundo no segundo trimestre deste ano. Na avaliação dos
especialistas, no entanto, ela não deve repetir a proeza em 2023.
Embora a companhia tenha condições financeiras para isso, Conde
destaca que o governo Lula deve mudar o percentual de distribuição de
proventos, evitando que a companhia seja uma grande pagadora de
proventos.

Contudo, Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, ainda enxerga uma luz


no fim do túnel, e destaca que a escolha do novo CEO da empresa em
2023 será fundamental para ter uma clareza sobre a política de
dividendos e alocação de recursos da empresa. “Se for uma pessoa de
mercado, com experiência no setor, a gente pode ver a continuidade de
alguns pilares da companhia. Mas se for um nome mais político, a tese
de desconstrução da Petrobras como uma grande pagadora de
dividendos ganha força”, avalia.
Embora a troca de CEO não seja obrigatória, o analista considera
improvável que o atual CEO e Conselho de Administração sejam
mantidos no novo governo. Mudanças podem ocorrer até março.

Arbetman também afirma que Lula deve ser recebido no novo mandato
com pouco espaço fiscal para executar as políticas sociais prometidos
em campanha. Desta forma, os dividendos das estatais como Petrobras,
poderiam contribuir muito na execução destas políticas.
Quais fatores podem beneficiar ou prejudicar os dividendos da
Petrobras no que resta de 2022 e em 2023? 

Segundo Lima, da Top Gain, a maior preocupação dos investidores está


na retirada do PPI (preço de paridade de importação), onde os preços da
gasolina e diesel estão em linha com o mercado internacional. “Isso
poderia descasar a relação entre receita e despesa e impactar
negativamente o caixa da empresa”, afirma. A pressão por reduzir os
dividendos também preocupa os acionistas.

Já no cenário externo, Conde destaca que a diminuição do consumo de


petróleo diante de uma recessão nos Estados Unidos e na Europa pode
fazer o preço do petróleo do tipo Brent despencar, o que prejudicaria o
lucro da empresa. “Se o petróleo do tipo Brent recuar até o patamar de
US$ 85 o barril seria um cenário de redução de receitas, menos geração
de caixa, e lucro líquido inferior, enquanto o custo da empresa
permanecerá o mesmo”, avalia.

A política de Covid zero da China também preocupa, segundo Lima,


dado que o país asiático é o maior consumidor do mundo.

PETR3 ou PETR4?

Em relação aos dividendos de R$ 3,35, Conde destaca que as ações


preferenciais da Petrobras estão cotadas R$ 3 mais baratas do que as
ordinárias, o que já garantiria um retorno em dividendos (dividend
yield) maior para o acionista. Nesta quinta (3), PETR4 fechou a R$ 29,95,
enquanto PETR3 encerrou os negócios a R$ 33,46.

Luiz Barsi Neto destaca que o investidor que busca ações com o objetivo
de receber dividendos deve optar sempre pela classe preferencial, que
possui preferência nos proventos distribuídos pelas empresas diante das
ordinárias.

Devo reinvestir os dividendos que receber da Petrobras?

Reinvestir os dividendos é uma prática muito recomendada para os


investidores que estão na fase de acumular patrimônio para viver de
renda. Contudo, os especialistas consultados pelo InfoMoney não
aconselham reinvestir os valores em novas ações da Petrobras.

“Acreditamos que existem empresas que são conhecidas por terem


distribuições periódicas de dividendos, que fazem parte de setores
perenes e que estejam mais descontadas e atrativas para alocar estes
recursos do que o reinvestimento em Petrobras”, afirma Barsi Neto.

Conde, da Levante, também compartilha esta visão e aconselha ao


investidor aplicar os dividendos recebidos da Petrobras na Eletrobras
para reduzir o risco estatal da carteira e também a exposição ao preço do
petróleo.

Na VG Research, a orientação aos clientes também é de reinvestir os


dividendos em outras empresas. Segundo Luan Alves, há opções
melhores e que não tenham ultrapassado o preço-teto de segurança.

Qual seria considerado um dividend yield adequado para a


Petrobras em 2023 e 2024?

Para a VG Research, a projeção é de dividendos de 15% ainda em 2023.


“O principal risco em 2023 é que a companhia mude a sua estratégia
comercial e de investimentos, especialmente no que se refere ao
programa de desinvestimento das refinarias”, destaca Alves.

Já para Sidney Lima, da Top Gain, a companhia deve ter um dividend


yield inferior a 10% durante todo o governo Lula, considerando que nas
gestões do PT os dividendos da petrolífera foram baixos.

Barsi Neto também acredita que o dividend yield para a companhia nessa


nova etapa seria entre 7% e 10% anuais.

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