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1. Introdução
Os cenários integrados são importantes ferramentas para o planejamento regional sustentável.
Eles combinam uma grande quantidade de conhecimento quantitativo e qualitativo, e
transmitem os resultados de uma análise integral de forma transparente e compreensível. Ao
mesmo tempo, a geração de cenários contribui para estimar cómo um futuro incerto pode
reagir e cómo éste poder ser influenciado pelas decisões feitas hoje. Idealmente, derivam-se
cenários através dos grupos de cientistas, de administradores públicos e das partes
interessadas.
social
econômica
ecológica Análise
Integrada
Planejamento
Regional
para o comunicação
Desenvolvimento interdisciplinar
Sustentável
Cenários:
eqüidade imagens
entre as consistentes
gerações de futuros
alternativos
Um cenário não faz predições do futuro nem pode ser qualificado pela sua probabilidade. Os
cenários são imagens alternativas do futuro. Assim, eles devem ser imagens plausíveis e
possíveis do futuro, e também suficientemente ricos em indicadores para contribuir na toma
de decisões. Esses possíveis futuros podem demonstrar o impacto que occorreria devido a um
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Material para o Workshop SRH-WAVES para cenários conjuntos em Ceará Cenário
2. Metodologia
É aqui descrita uma metodologia para derivar cenários quali- e quantitativos, nos quais o
conhecimento qualitativo e as idéias são combinadas com a modelação matemática
quantitativa. Assim, a metodologia inclui uma análise integrada dos sistemas. A Figura 2
mostra de forma concisa as etapas a serem tomadas no desenvolvimento de cenários pelos
grupos interdisciplinares de pesquisadores e, preferentemente, dos tomadores de decisão e
interessados.
No próximo passo (Etapa 4), são gerados os cenários qualitativos através da escritura, numa
forma narrativa, das imagens alternativas e possíveis do futuro. Os cenários de referência
descrevem futuros plausíveis sem nenhuma intervenção específica das normas e/ou controles
do sistema. Eles também servem como linhas básicas para a avaliação do impacto das
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A quantificação dos cenários (Etapa 5) é geralmente um passo que requer mais trabalho. Ele
abrange a quantificação das principais forças e a computação dos futuros estágios do sistema,
p.ex. através dos indicadores. As forças principais ( driving forces ) são definidas como
aquelas variáveis que não podem ser computadas pelo modelo mas que são requeridas como
entradas ao modelo. Para fazer as suposições numéricas sobre o desenvolvimento futuro de
certas forças principais são primeiro analisadas as suas evoluções históricas. Logo, são
definidos os valores numéricos futuros das forças principais que refletem o respectivo cenário
qualitativo. Certo cuidado tem que se adotar ao quantificar numa forma consistente aquelas
forças principais que são correlacionadas entre si. Além do mais, deve-se tomar em conta que
diferentes forças principais atuam em diferentes escalas espaciais. Por exemplo, tanto o efeito
das concentrações de gas que aceleram o efeito estufa como alguns preços dos produtos
agrícolas são forças principais numa escala global (escala maior) que afetam unidades
espaciais menores como os estados do Brasil. É pouco provável que essas forças principais
sejam afetadas por qualquer ação adotada na escala do estado (escala menor). Então, ao se
definir as forças principais que podem ser influenciadas na escala do estado, dever-se-ia
procurar a consistência com o desenvolvimento das forças principais na escala global
(consistência espacial). Uma vez que todas as entradas necessárias para os vários modelos são
definidas, os modelos podem ser usados para o cómputo dos indicadores do sistema sob os
diferentes cenários de referência e/ou de intervenção.
O último passo é avaliação dos cenários, particularmente daqueles de intervenção. Para
encontrar a intervenção ou projeto de “forma ótima” há três critérios a usar: eficiência,
eqüidade e sustentabilidade ecológica. Embora a clássica análise de “custo-benefício” de uma
intervenção qualquer não é o suficiente para avaliar a eficiência da intervenção, nem a sua
eqüidade (no sentido de “paridade”) e nem a sua sustentabilidade ecológica, uma análise
ampliada que inclua benefícios externos é, teóricamente, uma abordagem apropriada. Porém,
ela requer da quantificação monetária dos efeitos ambientais e dos efeitos que têm um critério
de eqüidade, o qual é difícil de avaliar. Assim, a análise através de critérios múltiples pode ser
uma alternativa para uma avaliação orientada à sustentabilidade dos cenários de intervenção.
Nas análises por critérios múltiples é primeiro definido de qué medida um certo valor de um
indicador satisfaz um determinado critério. Então, os diferentes critérios são ponderados numa
forma transparente, de preferência através de um processo participativo que inclua aos
tomadores de decisão e aos interessados. Por exemplo, assim pode ser decidido se
determinados objetivos do PBI no curto prazo são mais importantes do que certos objetivos
ecológicos a longo prazo. Num processo de planejamento regional, os passos entre a Etapa 3 e
a Etapa 6 podem ser repetidos. Depois do primeiro cómputo e avaliação dos indicadores do
sistema, as definições dos indicadores podem ser novamente aprimoradas e novas
intervenções podem cobrar importância.
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3. Aplicações
Com o objetivo de esclarecer o acima mencionado, é aqui apresentado um exemplo resumido
de cómo essa metodologia de desenvolvimento de cenários foi aplicada dentro do programa
WAVES (Water Availability, Vulnerability of Ecosystems and Society in the Northeast of
Brazil) para a análise integrada e o planejamento regional. Um grupo de trabalho
interdisciplinário derivou cenários para os estados do Piauí e do Ceará, nos quais os
problemas mais urgentes, entre os quais há escassez d’água e baixa produtividade agrícola,
foram atendidos.
Te re s in a
Fo rta l e za a nd P e c é m
Co a sta l re g io n
S ou th e r n pa r t o f P ia u í
La r g e p ote n ti al wa te r re s o ur ce s in C e ar á
La r g e p ote n ti al wa te r re s o ur ce s in P ia u í
S ma l l p o te n tia l w a te r r e so u rc e s in C e a rá
S ma l l p o te n tia l w a te r r e so u rc e s in P ia u í
W E
Figura 3: Discretização espacial dos cenários: oito regiões dos cenários na área de estudo do
Piauí e Ceará.
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3.3 Indicadores
Um indicador potencial de escassez hídrica é a relação entre o uso e a disponibilidade d’água
renovável. Isso é calculado para cada um dos 332 municípios mencionados. O uso d’água é
definido como o uso d’água extraída dentro do município, no entanto a disponibilidade d’água
é a soma do volume superficial criado dentro desse município e da descarga líquida que
ingressa a esse município. Esse último valor é o restante entre o volume natural d’água e o
volume do uso consuntivo dos municípios a montante do município de estudo. Ao comparar
os valores médios de longo período, quando o quociente entre o uso d’água extraída e a
disponibilidade d’água é superior a 0,4 é suposto que o município sofre de escassez hídrica.
No entanto, esse índice de escassez nãõ reflete os problemas de escassez que resultam da
variabilidade sazonal e/ou inter-anual.
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3.5 Quantificação
Quantificação das forças principais
Uma importante força para o uso do solo e d’água é a população. É analisado o aumento
histórico da população da América Latina, do Brasil e do PI e CE, e são levados em conta os
cenários de escala global e do Brasil para um futuro desenvolvimento populacional. São feitas
suposições sobre a tasa de natalidade, de mortalidade e das migrações para fora do estados
para calcular um cenário da força da população no PI e CE em geral.
Uma outra força principal é a fração da população que está conetada à rede pública de
abastecimento. Um cenário de intervenção é representado pela mudança no número da
população conetada à rede pública d’água no futuro. A Tabela 1 mostra as condições atuais e
as situações supostas para o ano 2025 nos dois cenários de referência e os dois de intervenção.
Os dois cenários de intervenção diferem enquanto aos respectivos cenários de referência só
pela fração de população que é conetada à rede pública.
Tabela 1: Quantificação das principais forças; fração da população conetada à rede pública
d’água
Fração da população conetada à rede pública
d’água [%]
Região do cenário 1997 2025 2025 2025 2025
RS A* RS B* IS A* IS B*
Teresina 93,6 95 95 97 97
Área Metropolitana de Fortaleza e Pecem 68,3 80 80 98 98
Região do litoral 30,5 60 45 79 75
Sul do Piauí 41,6 50 50 58 66
Regiões com alto potencial de recursos 41,5 55 55 66 75
hídricos (PI)
Regiões com alto potencial de recursos 37,1 50 50 70 79
hídricos (CE)
Regiões com alto potencial de recursos 22,1 30 30 46 51
hídricos (PI)
Regiões com alto potencial de recursos 33,7 40 40 62 66
hídricos (CE)
* RS: cenário de referência / IS: cenário de intervenção
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No cenário globalizado (RS A), o número de municípios que sofrem com a escassez d’água
no ano 2025 (i.e. com um índice de escassez hídrica maior a 0,4) aumentam um 120 % se
comparado com o número de hoje em dia; no entanto, para o cenário decentralizado (RS B)
esse aumento é de só o 20 %. O maior estresse hídrico é devido ao forte aumento do uso
d’água (Tabela 2), na medida que o cenário de mudança climática aplicado não leva a uma
significativa mudança da disponibilidade ou oferta natural d’água. As diferenças entre RS A e
RS B são fundamentalmente um resultado de uma muito maior área de irrigação no RS A,
para a produção de cultivos de alto retorno econômico. Conforme ambos cenários, o uso
doméstico d’água não terá um muito aumento no futuro, o que fará que a sua parte no uso
total d’água diminua (Tabela 2). Isso é explicado pela suposta alta elasticidade do preço do
uso doméstico d’água (comunicada na literatura brasileira) e pelo aumento dos preços que
continuam a tendência da última década do Século XX. A intervenção da “expansão do
abastecimento público d’água” leva só a pequenos incrementos do uso doméstico d’água
(mais do 5 % do uso hídrico total). O número de municípios que sofrem de escassez hídrica
não é afetado pela intervenção. Poder-se-ia concluir, assim, que ainda numa forte expansão do
abastecimento público d’água não intensificaria o problema de escassez hídrica sempre e
quando o uso doméstico d’água seja manejado com um apropriado preço. Porém, deve-se
considerar que o índice da escassez hídrica é baseado em valóres médios de longo período e
desconsidera a variabilidade intra- e inter-anual da oferta e uso d’água.