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12. Xenofobia o anü-semitismo que não me considerem rigoroso ao afirmar aqú que o papel que
aceitararn representar é degradante.
Muito curiosamente, o anti-semitismo dos dirigentes soviéticcs
O corolário desta ideologia chauvinista é que a Nomenclatura' se desencadeou brutalmente quando da guerra que opôs setr país ;)
qu. úo cessa de proclamar 1eu internacionalismo, cultiva, na ver- ír
Alemanha hitlerista. Esta lepra dava a impressão de se ter p(írüâ-
ã;á.;;; prejulgadoi e a descontiança de seus súditos apara com qual- l
para levá-los ver neste um gado desde as linhas alemãs, para, finalmente, contaminar as alta-c
quer'inaiviauo de origem estrangeira,
esferas da Nomenclatura. Entretanto, a aparência era enganosa, o§
suspeito, um espião em potencial, um inimigo' Jr
' Paia os diptomatas, jornalistas e turistas estrangeiros, a vigi- 'lt; i
nomenclaturistas que Stalin jogara em todos os escalões do Fartido
\I c da administração durante a Ejovchtchina trrziam já consigr: o gsr-
lância constanti da KGB se traduz por diversos aborrecimentos:
es-
quartos de ho-t:Irigilân- .t me perene do anti-semitismo.
o\
cutas telefônicas, revista de bagagens nos
Se bem que na época ainda fosse permitido a Kaganovitch e a
cias. Os estrangeiros, que residem perÍnanentemente na UK»'
con-
que' no tempo {: Mekhlis, todos dois judeus, participar do círculo dos familiares
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frontam-se, a tódo momento, com uma desconfiança de Stalin, e a Losovki e Maiski, judeus igualmente, de exercer as
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de Stalin, acarretava, quase inevitavelmente, catástrofes' - {r
t da Uni- funções de adjuntos de Molotov, Comissário para os Negócios Hx-
t, A vida de Alfred Stô"kli, um companheiro de estudos teriores, sem dúvida seus dias naqueles postos estavam contados. A
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versidade de Moscou, dá um bom exemplo do que ó o destino re-
jamais foi chamado a se J, próxima geração judia não teria mais acesso a eles.
t;;;;ã; " esses infelizes. Durante a §luerra' Durante a primavera de 7944, quando se realizou o tecruta"
portanto' Em I
alistar em virtude á" trãt origens iuíças, suspeitas,
(estava estudan- mento dos jovens diplomados da Universidade de Moscou (entre
1948, quando ,. pt.puiuuu putãttfender sua tese
depois c-ondenado os quais, estava eu) para ocupar postos políticos importantes no
iá .rfui,ir*o), foi ;;eso p"ü MGB, torturado,
oito
a
Krêmlin ou na Escola Superior Diplomática, os serviços deisrmi-
zi ,.ot de piisão, ,uu i"t" foi queimada' Foi libertado anos
nados realizaram inquéritos aprofundados visando determinar se al-
ã"i, t"ra" depois'd;" íi cong."r*. o único motivo desta tragédia
1
guns entre nós eram judeus ou tinham judeus na família. lvlikhail
foi que ele tinha um nome estrangeiro' No Alexandrovitch Siline, chefe de administração do enquadramento do
O anti-semitismo da Nomeniatura é igual à sua xenofobia' o trots- t Comissariado clo Povo para os Negócios Exteriores, futuro irürhai
início, ela se inclinou para ele sob o disfarce de luta contra
cosmopolitas apátridas' xador na Tchecoslováquia, realizou pesquisas sobre meu t,lotlre.
il;;;, depois sob o âo combate contra oscombate contra o sionis- I Quando, finalmente, descobriu que, na sua origem. poderia te: sido
c em nossos dias sob o quase transparente
usado pelos papas, declarou.me com ar satisfeito: "Está beç1" rão
mo. Esses diferentes rótulos só servem para esconder mal o anti- I há judeus entre os papas!"
'"*iti'I]loinveteradoqueosnomenclaturistasherdaramdeSeumelo Quando Svetlana Stalina desposou Gricha Morosov (Grici:a ti-
social anterio., p.rpàtuado na sua nova comunidade de classe'
É I
" seu anti-semi- nha russificado seu nome, pois seu pai chamava-se apenas h{oics)"
tle bom_tom, entre ds nomenclaturistas, demonstrar ,l
se deve Stalin ficou extremamente aborrecido e nem quis encontrar-se eÍ)ít-r
rismo; se um de seu-s propagandistas procura negá--lo' não. o genro. Quando Svetlana se divorciou, Malenkov também se âpr*li-
Não se deve tam-
,.i.aitu, nele, pois estí môntinclo .cscaradamente' judeus soviéticos sou a mandar embora seu genro Vladimir Schamberg (os dois fa'
bóm dar o menor cróclito aos pcquenos grupos de {lr
ram, mais tarde, ,rneus colegas no Instituto de Economia Mur:i1ial e
cnvia em missão ero exterior a fim de
;;;- ; s.;r"rariado do c. c. títulos das Relaçóes fnternacionais, em Moscou).
demonstrar, graças a seus e aos postos importantes que {
Atualmente, a classe dos nomenclaturistas não comporta mais.
u.upo*. qu"-ot judeus da União Soviótica sito tratados com tanta praticamente, judeus. Só resta um ocupando um rosto particular"
consideração quanto os russos' Na realidade, pode-se contar
nos
de mente elevado, Venjamin Dymchits, um dos vice-presicletttes dil Con-
dedos da mão os judeus que ascenderam a postos responsabili-
selho de Ministros da URSS. Além dele, não sc encontra sinal tl*
ilade: o General D.ugrnski, Herói da União Soviética; Tchakovski' iudeu, seja no Politburo, no Secretariado. ou no aparelho do C. C.
redator_chef e da Lítãraturnaia Gazeta; o Profcssor Zivs,
Diretor-
Políticos e Juríclicos cla Academia rlo PCUS, afora alguns meio-judeus empregados pelo aparelho do
Àaiunto do Instituto de Estudos l: Partido, que se dizem russos e usam nomes russos: fgor Sokolov e
de Ciências: Guililov, professor no Instituto cle Ciôncias Sociais
do
pcus; conheci Alexandre Berkov, consultores do Departamento Internacional do
c. c. do mais'algumas outras raríssimas exceç(-)es.
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C. C. Que eu saiba, um único judeu, o talentoso Lev l\{endeleviteh"
:rlguns. são pessoas muitõ simpáticas e muito dotada!' mas
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é empregado no Ministério dos Negócios Exteriores. A Nomencla- URSS-RDA. Na época, eu era vice-presidente desta comissão e, no
tura retribuiu bem sua atividade, durante duas décadas, no seio dos dia indicado, tinha ido ao C. C. apresentar a lista dos membros para
serviços secretos soviéticos. aprovação.
ôs efetivos da KGB contam com um pequeno numero de ju- Eis o texto da passagem relatando aqueles acontecimentos: "Às
deus, não ocupando ali nenhr:m posto importante. A situação é idên- 16 horas, no C. C. no gabinete de Kuznetsov. Ele me levou pata o
tica nas repúblicas federais. Nos corredores do C, C,, conta-se, com gabihete do novo chefe do setor de História, Khromov. . . Consul-
uma piscaôela significativa, a que ponto foi difícil escolher um ju- tou a lista dos membros da comissão, e riscou os nomes de judeus
deu (chapiro) para ocupar o posto de Primeiro secretário do co- (exceto os de Minz, Smirine e Davidovitch): Drabkine em virtude
mitê Regiànuí O'o pCUS, de Éirotidjan (região autônoma judia)' da cítica da obra de Gefter; Melamid por causa da entrevista ao
e se acréscenta que Chapiro pode estar certo de conservar o poSto Spiegel; Tartakovski, que devia ser substituído por seu chefe de
até seu último suipiro, póis ninguém está disposto a ter de novo um setor Malich; Kremer, "por plovocar a sensibilidade dos camaradas
trabalhão infernal para descobrir a ave rara. da RDA em matéria de questão nacional". Por outrb lado, ficou
Os nomenclatüristas não permitem aos judeus fazerem catreira plenamenre satisfeito ao ver o nome de Smirnov, pois foi ele quem
no mundo científico senão contra a vontade, mas no jornalismo e cohdenou Siniavski e Daniel. Pediu-me que fosse comunicar tudo a
na música as possibilidades são bem melhores. os mcio-judeus, co' Khvostov e não levasse mais de uma semana para Íazê-lo. Nossa
mo Arbatov é Inosemtsev, usam um norue de família russo, têm entrevlsta deveria permanecer estritamente confidencial.
mais vantagens, pois os dois são membros da Acadernia de Ciências' Muito angustiado, dirigi-me ao Instituto de História para as-
diretores dã instituto e candidatos do C. C., mas são casos excepcio- slstlr ali à celebração do 8 de março. Os judeus vão pensar que fui
nais. No quadro das instituições científicas' os nomcs de
judeus são cu quem tornou a iniciativa! Telefono a Khvostov, ele aprova ime-
iluatmenté riscados das listâs tanto quanto se pode fazê-lo. Além diatamente tudo." Tomei essas notas naquela mesma noite, são mi-
d"o mais, a publicação de suas obfas é tão reduzida quanto possível'
nhas reações imediatas, não reflexões redigidas mais tarde.
,ecrsá*-ft qruiqrrrt viagem ao exterior (mesnro aos países do Durante a primavera de 1949, a campanha contra o cosmopoli-
"Leste) sob os" mais diversos pretextos, o que f-az corn .qu€, para um trsmo atingia seu auge; o Professor Goloventchenko tinha sido nc-
que se dirigir cm missão ao exte- rneado chefe adjunto do departamento de propaganda do C. C.,
,ude.u, seja rnais fácil emigrar do
rior. tendo-lhe sido confiada a coordenação da campanha. Era um ucra-
página do meu diário a fim de ilustrar os emba-
vou citar uma ^opostos' nrano, de rosto redondo, sem envergadura, mas consciencioso, que
raços que thes são fsto se passou na quinta-feira, 4 de tinha sido antes professor assistente de literatura na Escola Slrpe-
'de rir:r na qual eu preparava minha tese. Quando ile uma reunião dos
*ãtço 7971, na sede do C. C. do I'CUS, no Dcpartamento de
Ciêntias e Institutos Pedagógicos. Estão presentcs o inspetor deste nrembros aüvos do Partido em Podolsk (nas proximidades de Mos-
departamento, Kuznetso.r, e o diretor do setor tÍc Ciôncias Históri- cou), declarou: "Vejamos, falamos de cosmopolitismo, mas o que
.ur, Khto*ov. Os judeus implicados são Minz, membro da Acade- rluer dizer, afinal, esta palavra? Expressa mais simplesmente, numa
mia; Smirine, membro corréspondente da Academia dc Ciências; linguagem acessível aos trabalhadores, significa que todos esses Moi-
Davidovitch, vice-Presidente da comissão de Historiadores URSS- sés e todos esses Abraãos só sorrham em tomar nossos lugares."
RDA; Drabkine, titular de um doutorado de história e autor de um I'ronunciou essas palavras no fim da campanha, e Stalin aproveitou
liwo volumoso sobre a revolução alemã de novemhro de 1918. para pôr termo à sua missão, e Goloventchenko voltou à nossa es-
igualmente publicado na RDA; Gefter, co-autor e editor de uma cola.
oibra violenfamente criticada: Melamid (aliás, Professor Melnikov), O estilo mudou depois, os burocratas da Nomenclatura não ex-
especialista da RFA (ele teve alguns aborrecimentos _depois de uma
primem mais seus pensa,Ínentos tão cruamente, mas, eln conversas
enirevista ao jornal alemão Der Spiegel); Tartakovski. colaborador a'dois, tive ocasião de ouvir deles palavras bastante significativas,
particularmente a teoria segundo a qual os judeus corromperiam to-
do Tnstituto dê Marxismo-Leninismo iunto ao C. C.; Kremer' chefe
dos"aqueles com quem entrassem em contacto; bastaria que um ju-
f,e departamento no Instituto de Estudos do Movimento Operário
[nternacional. Os não iudeus: L. N. Smirnov, Presidente da Corte deu conseguisse aninhar-se em uma família para que todos os seus
Suprema da URSS; o acadêmico Khvostov. Presidente da Academia membros fossem infectados pelo veneno judeu e levados para uma
de Gências Pedagógicas da uRss e da comissão de Historiadores situação inferior. A este respeito, os nomenclaturistas freqüentemen-

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te fazem alusão ao fato de que Ilitch (como chamam, mútas vczʧ, to não são as únicas penas correntes na URSS: os órgãos de segu-
Brejnev) é casado com uma judia, mas se apressam a acrescentar rança dispõem de poderes quase discricionários, têm toda a über-
que há muito tempo não vive mais com ela. Gostam também de dade para preparar um castigo adaptado ao "delinqüente", que po-
Iembrar que Molotov desposou uma judia. derá parecer anódino a um estrangeiro, mas constituirá uma sanção
Como vemos, pois, a xenofobia e o anti-semitismo são senti- para o rebelde.
mentos ainda mais profundos do que o respeito servil para com o§ Esta condenação não visa fazer compreender que a Nomencla-
altos dignitários do regime, uma vez que são os cünponentes orgâ- tura tinha razão, mas que é melhor estar de acor«lo ern tudo coru
nicos indissolúveis da ideologia da Nomenclatura. ela. Nos círculos intelectuaiss soviéticos, ouve-se freqüentemente ci-
tar o provórbio "Amarra-se o burro à vontade do dono". Os no-
menclaturistas se satisfazem plenamente coÍn a atitude que preconi-
13. tJ front ideológico zam, pois, se não acreditam mais na possibilidade de convencer seus
súditos, acreditam, contudo, que eles abandonaram qualquer espe-
Os propagandistas da Nomenclatura não cessam de afirmar que rança de ser um dia libertados do conformismo idtnlógico. Pouco
a luta ideológica do socialismo real contra seus adversários necossi- importa que tenham consciência de "amarrar o burro à vontade do
ta uma mobilização permanente. Para descrevê-la, recorrem a ex- dono", contanto que continuem a "amarrar o butro".
pressões tomadas da linguagem milils; front ideológico, adversário
A classe dos nomenclaturistas teme, mais do que tudo, que ou-
ideológico, etc. O lront ideolígico se subdivide em setores: econG tras idéias diferentes das suas cheguem aos ouvidos de seus súditos,
mico, filosófico, histórico, literário e outros. A classe dos nomen- que vozes portadoras de pensamentos críticos venham confundir a
claturistas exige combatividade, diligência, intolerância, ódio irredu- harmonia do lront ideológico e incitar os soviéticos a deixarem o
tível e outras virtudes de cão de guarda, da parte daqueles que es- coro dos "cordeiros". Para enfrentar tal eventualidade, ela toma me-
tão nos postos de vanguarda daquele lronÍ. didas radicais.
Entre as numerosas lendas que correm no Ocidente a respeito lmaginemos que estamos na Uníão Soviética: ligamos nosso
da União Soviética figura aquela que afirma que a propaganda no- rádio, vozes emitidas por uma estação estrangeira se fazem ouvir, c
menclaturista é de uma eficácia extraordinária, quase goebbelsiana, subitamente um ruído de serra insuportável, um estrídulo indefinida-
e que, por conseguinte, os cidadãos soviéticos, no seu todo, são bol- nrente modulado. Uma voz acaba de ser abafada através de uma
chéviques convictos. Nada de mais falso: na realidade, é pratica- cstação de cobertura, e não se poderá mais ouvir a emissora estran-
mente impossível encontrar um comunista convicto na URSS, e a gcira, embora se saiba que ela continua a transmitir em russo ou
propaganda nomenclaturista nem mesmo se dá ao trabalho de pro- cm uma outra das línguas nacionais da URSS.
curar fazer crer às pessoas que o que ela proclama é verdade. Os nomenclaturistas enchem-lhe os ouvidos a firn de que você
Com seu lront ideolígico, a Nomenclatura visa a um outro atvo. não a possa ouvir. Para eles, entretanto, o caso é diferente: aquelas
Visa, por meio de uma verdadeira lavagem cerebral, a incutir nos crnissões são gravadas, seu conteúdo é transcrito p_ela Agência Tass
cidadãos soviéticos uma certa fraseologia, e a fazê-los compreender c pelo Comitê de Rádio antes de serem reproduzidas nu*r jornal se-
que se trata, para eles, de se exprimir da maneira que ela lhes im- creto que os altos dignitários da Nomenclatura lêern, então, calma-
põe, e não de outra maneira. mente. Nas grandes cidades da Rússia e nas capitais das repúblicas
Esses constrangimentos lingüísticos impostos à população em Íederais, podem-se ver as torres clessas estações de cobertura; elas
geral, e a todos os intelectuais em particular, se traduzem por duas custam muito caro, pois são verdadeiros emissores dctados de uma
singularidades. A propaganda soviética não se esforça mais em ex- aparelhagem onerosa, manipulada por um pessoai bastante qualifi-
plicar suas fórmulas e seus slogans aos leitores ou ouüntes de modo cado, mas, em lugar de difundir informações, emitem ondas desti-
a convencê-los; limita-se a repeti-los incansavelmente até gue este- nadas a abafar vozes.
iam gravados em todas as memórias. Por outro lado, quando alguém Esta técnica não é, entretanto, muito eficaz, pois basta afastar-
ousa pôr em dúvida a veracidade das assertivas de seus propagan- se alguns quilômetros de Moscou, ou de uma cidade na qual se en-
distas, ou Ínesmo declarar o contrário, a Nomenclatura não procura contre rl-ma dessas estações, parâ captar as emissões desejadas quase
instruí-lo, esclarecê-lo, mas castigá-lo: propaganda e terror são inse- sem inierferência. No entanto, não deduzamos apressadamente que
paráveis. O campo de trabalhos forçados e o pelotão de fuzilamen- esta cobertura é inoperante: é nas grandes cidades que a intelligent-

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sic está concentrada, Ê ela é, pois. quase completameiiÍe cortada
das A lei relativa à responsabilidade coletiva dos membros da fa-
pela }{cmenciatura' mília de 'rm fugitivo foi revogadq e o parágrafo 58 foi riscado do
emissões estrangeiras confundidas
Código Penal, mas substitúdo pelo parágrafo 64 que proclama que
Há 30 anos que esta prática áe cr-rrifusão de emissões de rádio a fuga para o exterior e a Íecusa de voltar constituem ainda atos
va-
é feita na URSS' Úurante êste perítitl<'', o§ alvos dessa-c estações
que as emissões em de traição. Este parágrafo está em total contradição com os com-
riaram ba-qtante. Houve um tempo em tocias
promissos internacionais assumidos pelo Estado soviético, que de-
iãg"" *r.u pror"nientes do exteiior §íafiI ctlrtadas, depais rút§ ne-
corÍem das convenções e acordos seguintes: I) da Declaração Uni-
nhima. Hoje, sorneni" o, programas rja Rádio l-ibertó e da Rádio versal dos Direitos do Homem adotada pela Assembléia-Geral das
Éi." É"oofi são objeto ae criidactos aterrtos da parte dos.técnicos Nações Unidas, de 10 de dezembro de 1948, e notadamente do ar-
soviéticos. Entretanto, o Comitô de R'árlio Íci encarregqqs ,q"
torilar
tigo l3l2 í'Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país,
a- recepçao das outrás eurissões em lírrr'.ua russa tão difícil quanto
di- inclusive o-seu, e de voltar para seu pâís."rz A União Soviética, que
oossíve!. e é, pois, ."* 11e'1iic1ncia, qt'd as emissoras soviéticas
<1e mírsicà e vr*.içàades nas mesmas fre,qüências se atrsteve de votar esta resolução, aprovou-a depois. 2) do artigo
í;ã;;'p;r;á;í '; (rl) da Convenção Internacional para o Fim de Todas as Formas
à" ouaui ut-ilizadas pelas csiações estrangeiras. os,nomenclaturistas
pelas- estações ,;tc Drscriminação Racial adotada pela Assembléia-Geral das Naçíles
;ã" ;;;;r;à refutât a âÍgumentaçã.o desenvolvida. a ajuda dos meios t.inidas a 31 de dezembro de 1965, que reproduz os termos do ar-
preferem :eduzI-las ao iiiêncio com
".t.uág"irut, um erro se pedissem a proi- tig+ 13/2 da Declaração Universal dos Direitos do Homem. A URSS
á; ffi áitpâ..' A*l*r,;, que cometeriam
ratrfic,.ru esta convenção em 1969. 3) do Pacto Internacional rela-
úiça'o a"Ui, já cu.:, até ô inomento, os ocidentais não
protestaram
'ivi-'r &os direitos civis e
políticos de 16 de dezembro de 1966, cujo
contra essas prátiilâs da guerra fria' ariip«i t^212 afirma também: "Toda pessoa tem o direito de deixar
nr,raiüuer país, inclusive o seu." A União Soviética assinou e ratificou
14. A liberdade de viaiar, vista pela Nompnclatura cr:te -Pacto em t973; a Ucrânia e a Bielo-Rússia, as duas Repúblicas
iederais representadas na ONU, fizeram o mesmo. O Pacto entrou
O que fazer, quando a ditadura da Nomenclatura o desenco- r:rn vigcr em março de 1976.
,u;u trntà a ponto dL você não ter mais gosto para nada'
e se tornar x.rlmos, pois, que a União Soviética não se contentou em reco-
insensível: o rumor do vento nas Íolhagens cas bétulas, o marulhar i;i:*cer formalmente o direito à liberdade de deslocamento procla-
que agita o Volga, as imensidões de um país que se estende do pólo rrrijn nela Declaração Universal dos Direitos do Homem; ratifican-
i. t.fio"t subtrãpicais e possui costas que vão de um oceano a ou io r, dita Convenção e o Pacto, empenhou-se firmemente em autori-
.4a!' se-r:1 nacionais a se dirigirem livremente ao exterior.
tro?
A resposta que lhe dita o bom senso seria: partir' Aiúm disso, o artigo t2l3 do Pacto define as condições nas
,.;ueis r:rn Estado signatário pode apresentar limitações a este «.lireito,
A classe dos nomenclaturistas sabe que muitos de seus súditos r liui de reduzir qualquer restrição ao míni,mo; asseverar notadamen-
,lescjarn
----'N; fugir; que conr:ltrsão ela tira disto'l í,,: q!:e a promulgação de uma lei especificando esta restrição é um
*pâ." ,t* §toiir, o sirnples desejo de deb;ar a {lniãc Sovié-
tica era cànsirjerado c mais gtar,e dos ciimes contra a segurança
do ;rí3cedente daquele. Ora, a União Soviética jamais adotou lei noti-
58 do Córtigo Pcna! da íiçenCo esta limitação. De resto, ela jamais fez votar lei estipulando
Estadr:. O irilt';meute céleúe parágrafc'
exprc-csamente o direito de seus cidadãos de deixar o país, se bem
RSIFSCaRússiae:<t!pula','aqrteafugapâreocstrangeiroouaÍe-
'cc-,usioeiados iiue seja feita esta obrigação a todos os países contratantes, pelo ar-
cusa í-1e vtltar erâm atõs de arlf:r traição; os culpados
de prisâo' tito 12 12 do Pacto, a de "tomar as disposições legislativas e outras
,,ra*ri"* ser conCenaclos à morte ou e ulna )onga pena um' militar necessárias à garantia dos direitos reconhecidos no referido Pacto".lt
J {iue, na rnalorle ilcs casos, dava no mesnio' Quando
iiesertá.v;t, a lei previa não :romenl.e pesadas penas de prisão para A URSS comprometeu-se, pois, claramente, em fazer adotar a
deser- legislação requerida e a fundamentar a prática sobre o respeito a
iodos os membros cla famíiia 'que estavaa a par do projeto ,de esta. Poderia, entretanto. ser tentada a justificar seu desrespeito ao
rnas tarnbóm o banircento claqueles que ignoravtrn tudo' Todos
ção, Pacto. alegando a inexistência desta lei em sua legislação, e que o
à*-*.ÀU.or da famíiia de unr miiitãr se tórnavam reféns. Na prática, Soviete Supremo poderia levar muito tempo para aprová-la. Isto
esta lei se aplicava às famílias de todos os fugitivos, militares ou arriscaria durar muito tempo. já que tal lei jamais foi elaborada nem
não. Os tempos mudaram. mas não tanto.

324 t25
deração os fatores que militarr em favor de sua volta (família, posto
estudada na união soviética (a própria constituição de 1977_siien- elcvado, bens materiais e privilégios, apartamento, datcha, móveis,
.óUr. o direito do cidadão de deixar o território da URSS). idade, conhecimento ou não de línguas estrangeiras, possibilidade
"iáo Este caminho se rcvela igualmente se.m saída, pois a legislação
des- de encontrar um emprego na sua especialidade, etc.); de outro lado,
soviética não autoriza o desenvolvimento de urna argumentação os fatores que, na visão da Nomenclatura, estimulam o clésejo laten=
;; ttpr os "Prirrcípios da legislação.civil.da URSS" (§ 129), assim te que há em todos os cidadãos soviéticos de deixar o país (dificul-
o, ..Frincípiàs da Justiça soviética", enunciam uma regrâ se- dades no trabalho, problemas famiüares ou ,materiais, vexames que
"o,oà
gundo a qual, crto de conflito entre uma lei em vlgor na URSS ele ou seus parentes sofrem por parte da Nomenclatura, parentes
E ur" "À assumidcr pela União Soviótica no quaclro d-.e um
expatriados, boas chances de encontrar um emprego no setor de ati-
á.ãrã" internacional, a normá internacional tem precedência. Como
"orrp.omisso
vidade correspondente à sua formação, domínio de uma língua es-
acabamos de expor, a norrna legislativa não interessa, trlas sim a trangeira, etc.). O resultado desta equação nos permite esboçar o
rt
ãor- à"àronr internacionais citados acima, e ela diz: Todo cidadão perfil do cidadão soviético que tem as mais fortes oportunidades de
um cidadão soviérico no caso que nos interessa - tem o direito ser enviado ao exterior: ele é membro do Partido, teve um êxito
-de deixar qualquer país, inclusive o seu a União Soviéiica'
profissional excepcional; pai de família preocupado com o futuro de
A teoria é" clara, Ítias. na prá.tica, a -
classe dos nomenclaturistas
seus filhos ganha bem sua vida, possui um apartamento e ama dab
se recusa a Jnanter os Cônlpr6lnisSos resuitantes dos aCordOs qUe ela cha; nem ele nem nenhum de seus parentes próximos jamais foram
iatificou num esprii ,le ttitente . Continua a controlar com todo o víti,rnas dos órgãos de segurança soviéticos, nem expulsos do Par-
rigor os deslocamentos no extt rior de seus nacionais' A prclpaganda tido; não possui parentes vivendo no estrangeiro, não fala nenhuma
."1ietú não pára dc trombr:tear que é uma ciportunidade inestintá- língua estrangeira, não tem mais esperança de encontrar um empre-
vel ter nasciclà cidadão rta URSS, mas isto só serve para esconder go na sua especialidade ou só possui qualificações insuficientes.
,-"orri"çao íntirna dos nomenclaturistas, qual seja a de que o país Entretanto, mesmo sem se libertar de sua extrema descontiança,
se ewaziaria se eles se decidissem autorizar o livre deslocamento a Nomenclatura envia um cidadão modelo em missão ao exterior,
de seus súçlitos para fora das fronteiras da união soviéhca. A exis- mas continua a vigiá-lo a distância, e só se tranqüiliza após ter ad-
tência de um imenso aparelho repressivc, e esta convicção nos diz quirido a certeza de que ele voltará ao pais.
à, upr."iução real que a Nomenilatu* tem sobre a fiCelidade da Na gíria dos serviços do pessoal das administrações soviéticas,
pãp"iuçao soviética, estando-se longe da imagem idílica transmitida as pessoas são divididas em "aptas para viagem" (vyezdnye) e "inap-
poÍ sua propaganda. tas para viagem" (nevyezdnye). A categoria das "aptas para via-
É horrivelmei:te compiicado deixar a União Soviética' seja pa- gem" um punhado de felizardos agrupa, em gerai, os chefes
,, ,*u pariida definitiva, seja para uma viagemumde de dias' A
Ce que quaiquer
-alguns
seus súditos' e seus- partidários, e a dos "inaptos -para viagem" reúne os mortais
Nomenclàtura está convencidâ
comuns.
lt.rfunao que seja um mrnuto a séu dómínio, está pronto, qualquer É curioso constatar que o Ministério dos Negócios Exteriores
que'r";u a sua iáade, a abanclonar seus parentes, seus amigos' seu da União Soviética conta com um número apreciável de funcioná-
apartamenti), seu emprego e seus b-ens paia ir viver num país inde- rios classificados na categoria de "inaptos para viagem"; não são
pãna.rt. da'Nornenc|atu-*ra, e ali refazer sua vida. O sistema de atri- unicamente os empregados do aparelho técnico-administrativo (con-
[uiçao dos vistos de saída para os países Íora do bioco oriental per- tadores, bibliotecários, arquiüstas), mas também alguns diploma-
-segue, pois. em seu toclo, o úuico objetivo de impedir qualquer fuga'
" Éàtu-re, é claro, tie selecionar indivíduos dig,os de confiança,
tas.
Os indivíduos incluídos no tipo descrito acima não são. entre-
mas a escoliia não se faz, como se poderia esperar, unicamente coln tanto, os únicos a viajar para além das fronteiras da URSS. Com
base em critirios poiiiicos. pois expêriôncias cntéis mostraram à No- efeito, alguns elementos podem ir ao exterior, e mesmo ser integra-
menclatura que rnuitos daqueles que demonstravam uma devoçao dos na categoria dos "aptos para úagem" se têm, no ponto de vista
servil quando faziam carreita no seu seio não hesitaram em escâpar da Nomenclatura, motivos imperiosos para não deixar a União So-
o mais depressa possivel na prirneira oportunidade. um funcionário viética. Artsimovitch, membro da Academia de Ciências, foi assim
do C. C. áo pCÚS expiicou-me que o problema da lealdade dos in- autorizado a se dirigir ao estrangeiro, se bem que não pertencesse
áiuiáro. que se dirigiam para os paísês capitalistas- constituía uma ao Partido e fosse conhecido por seu catátet contestador. Era um
equação Oltícit ae reiolver' Por urn lado, é preciso levar em consi-

3n
326
preocupaçâo: livrar-se dele. Lembro-me ainda do boato que corria
tisico notável, um dos pais da bomba atómica soviética, herói do 'roUre Éresidente do Comitê Sindical 6o
à plssidirrm da Acldemia
trabalho sociaüsta, que morava num pavilhão confortável, gozava de Ciências da URSS (chegôu-se a falar em sua substituição) por-
de uma renda ,mensãl (não compreendidos honorários) 15 vezes qu" ,,ru, viagens só o levivarn aos paíl-:s socialistas; i{ que iamais
superior ao salário médio de um trabalhador sovréüco, e natural- ià aos países-capitalistas, isto devia significar que se duvidava de sua
màote dispunha de uma datchtt e de um carro oficial com moto- lealdade nas alias esferas. Por consêguinte, basta a um intrigante
rista. desejoso de compronieter um rival proceder de maneira que este
O caso de Piotr Leonidovitch Kapitsa, outro membro eminente
tenhâ seu visto dô saída recusado pelâs autoridades. Fui testemunha
da Academia de Ciências da URSS, é ainda mais complexo' Este dos diferentes rnétodos empregados com esta finúdade, que vão
físico de renorne passou sua juventude na Inglaterra,,ali trabalhava desde a denúncia comum á Cômissão de Viagens ao Exterior do
quando foi convidado a ir à União Soviética a fim de se informar Ó.-C. Oo PCUS até a mais elaborada manobra psicológica' Os ór'
I sobre os métodos de trabalho de seus laboratórios de Física; aceitou gãos da No,menclatura raramente concedem esses vistos, mesmo que
Ll'r o convite, foi à União Soviética, de onde não o deixaram mais par- ãão po.sam ter a mais ínfima suspeita contÍa o postulalte, mas to-
tir de voiia. Stalin esperava que Kapitsa preparasse a bomba atômi- dos às pretextos lhes são bons pára negáJo. A -despeito de todas
ca russa; para isto, mandou éonstruir para ele, em Moscou, um ins- as declárações, de todas as convenções e de todos os pactos que
tituto de Física bem equipado. No parque imenso que o cercava' suoostamente garantem a liberdade de deslocamento de seus cida-
edificaram-lhe uma villa- dê dois andáres, que ele ocupa ainda hoje. dããs, a União-Soviética continua fiel a seu velho princípio: proibi-
Não se pensava, é claro, e,m deixá-lo sair do país, nem que fosse ção de se dirigir ao exterior!
por uma^hora; entretanto, no início-dos anos 60, Khruchtchev' após
ãonu"rrr. pesioalmente com o acadêmico, concedeu-lhe autorização
para ir a países socialistas. Depois, no segundo lustro dos anos óc, 15. "Oformlenie', a o üsto de saída
à septuagánário pôde ir à Suécia par-a- uma estada muito curt'a' mas
ioOut ur!r".urçà.s forarn tomadas. Já estava velho, seus filhos Ser- Em quaiquer país não socialista, quando §e tem a intenção de
g;;i enOrei tinham feito carreira na Academia de Ciências. Ka- se dirigir âo eiteriór, passa-se em casa para pegar a carteira de iden-
"
f,itsa voltou, pois, ao lar, não sem antes ter
tido o pÍazelr de- fazer tidadelu o passaporte, comprâ-se uma passagem e §e põe a.cami-
ãoir",
"- Í.it pela espinha de seus carcereiros cla Nomenclatura. nho. Nos paises do socialismo real, deve-se obter uma autorização
Dirigiu-se, sem âutorizaçao, da Srrécia- paÍa a Dinamarca, de onde especial, que só é conseguida após negociações cansativas,- e que
-"Oformlenie".
que O "Oformlenie", 9ü9 precede a obtenção
,unão, um telegtama ão Í'residium da Academia, anunciandofrios se^ chama
retardaria um pouco sua volta, o que pÍovocou, é certo' suores-
de uma autorização, segue o mesmo esquema quer se trate de uma
à- ufiuo, nomenclaturistas do C. C. ã da KGB. adquiridos Afinal, os cálculos estada de 24 horas ou de viírios anos. É a lógica, no fim das contas,
destes últimos se revelaram exatos, os hábitos durante
pois, para fugir basta atÍavessar a fronteira soviética Por um rninuto
ãqrrit* décadas foram mais fortes do que o desejo muito ttatural
ieqoei. Quanlo a este ponto, os regulamentos em vigor na -Embai-
que ete sentia de se vingar do seqüestro e cativeiro' xaâa da União Soviética em Berlim Oriental são múto sintomá-
..inaptos para viagem"^forneceu
it^ruic"çao em-..aptos" e ticos.
O.proble-
matéÍia putu inttigus com risultados, por vezes' trágicos'- que Quando um cidadão soüético se encontra em deslocamento em
;;;â;'rãá" ,"r-t"duzido a uma situãção típic_a: um indivíduo
visto de saída, Berlim Oriental, soücita freqüentemente autorização para visitar os
q*rlã"ir't*".-üaúo na Finlândia viu recusado seu as supostas ra- setores ocidentais da cidade; ela lhe é abruptamente recusada sob
com efeito,
; t;;; de ir passar as férias no cáucaso. superiores o pretexto de que tal üagem só pode ser realizada apfs decisão do
da Nomenclatura
;õ.r ã;;Júa e de que as instâncias
oe Íugr' e C"- C. do PCÚS. Em janeiro de 1968, desembarcando em Berlim
suspeitavam abertamente de que ele acaricia o proJeto
proveniente de Francfurt-sobre-o-Meno, fui à Embaixada
Oriental, -Soviética
um traidor em potencial. A ôrganiza-eãg do Partido e seus chefes
da União para ali deixar as malas, e aproveitei para soli-
;ã; õü ii."i in.rn.íveis a ãste sinal dedireção. desconfiança. Tndo se
da administracão citar ser levado a Bêrlim Ocidental por algumas horas. Meu pedido
iriãiJ ão nível do comitê clo partido e da
reservas sotrre suscitou uma viva inquietação entre os altos funcionários da embai-
ou da empresa que o emprega: começam-se a emitir
chefes s6 têm uma xada..A idéia de umá tentativa de evasão levava-os a um tal estado
sua tealdade, ,ruâu de pràmõção para ele, seus

329
328
de pânico que acabava por obnubilá-los, se bem que não lhes pa- em missão aos países socialistas ou, mais raro ainda, para todos os
recesse excluído o fato de que eu tivesse vindo da República Federal países do mundo.
corn a única finalidade de deixar com eles minhas bagagens em de- é concedido-em conta-gotas, como tes-
Esse tipo de passaporte
pósito ante,s de voltar a me refugiar lá passando por Berlim Oci- temúha o nú."rô ínfimo de membros do gigantesco complexo da
dental. Ácademia de Ciências da URSS, pertencentes todos à comissão para
O sirnples desejo expresso por um cidadão não basta para a ,.ãiuUoruçao científica multilaterà entre os países socialistas, a obter
obtenção de uma autorização de saída do território. Ela só pode ser "vistos e,rL aberto" (válidos para e§ses mesmos países)' Um certo
concedida nos seguintes casos: 1) pedido de autorização de missão número desses vistos, muito pàqueno também, é concedido a funcio-
I no exterior feita pelo serviço que emprega o solicitante; 2) Íeco- nários do Ministério dos Negóciôs Exteriores e do Comércio Exterior'
mendação de uma organização (sindicato ou organização social) A classe dos nomenclãtrristas deixou-se apanhar em sua pró-
I pedindo a atribuição de um bônus de üagem turística, ou de um pria armadilha, e o burocrata da Nomenclatura não pode-, ele tam-
I
título de admissão numa casa de repouso estrangeira ao requerente; [CÀ, ir para onde quer. Em 1969,'quando o aparelho-do Partido
3) um convite particular da parte de um órgão estrangeiro ou de Comunisia da Atemãnha mudou-se da RDA para a RFA, fui tes-
paÍentes residentes no exterior. temunha da satisfação manifestada pelos altos responsáveis por aque-
A permissão de saída é entregue pelas segúntes administrações: te partido à idéia àe tornar-se tituiar de um passaporte alemão-oci-
no prirniero caso (missão no exterior), por um departamento do-C.C' dental e poder, doravante, deslocar-se sem entraves; contudo, aquela
ao pCUS (há muito tempo chamado Comissão de Viagens ao Exte- mudança não significava, aparentemente, uma promoção -para eles,
rior do C.C. do PCUS); no segundo (turismo), pela Comissão de já que, fazendo -parte
da clãsse dirigente da RDA, iriam ficar redu'
Viagens ao Exterior de um Comitê de cidade, de um Comitê de re- 'riAot
á categoria de simples permanentes de ,m pequeno partido de
gião ou do c.c. do P.c. de uma república federal. No terceiro caso,
oposição na República Federal da Alemanha.
ãfinal (viagem particular), pelo serviço de vistos e registros-(-OVlR), ^ ô p.o."sso de obtenção de um üsto de saída compreende tres
que depenãe db Ministérió dos Negó9i91 Internos da URSS, mas
está, ná realidade. sob o controle da KGB.
fases: i ) Constituição dâ "dossiê de saída"; 2) Exame do dossiê
e tomada de decisãoi 3) Entrega do passaporte com o visto de saída,
Essas instâncias podem conceder a autorização de saida, mas
não a execução dela,-pois isto é o apanágio do C.C. do PCUS, e entrega de divisas estrangeiras e do documento de transporte'
mais particuiarmente do Secretariado do C.C. O p,ape-l dos-órgãos ó dossiê de saída d-eve conter os diversos documentos requeri
de diieção se limita, por vezes, ao "assentimcnto" (Soglasie)' Os dos,asaber:l)omaisimportanteéocertificadode.morali<lade'
membros e os candidalos do C.C. do PCUS não podem evitar o que atesta, por exemplo, que:^"serviline Ivan Ivanovitch, nascido em
assentimento do Secretário quando têm de viajar para o exterior; iõà0, a" nácionalidad"'ror.u, membro do PCUS, colaborador cien-
nesses casos, uma simples deõisão da Comissão do C.C. não é sufi- tífico'no Instituto dos Problemas Diversos da Academia de ciências
ciente, e o mesmo acóntece para todos os ,membros do aparelho do da URSS, fez prova, no quadro de sua atividade no Instituto' de
C.C. que são chamados a se deslocarem para o estrangeiro' ;;rliá;; ãigri* de. um áentista altamente qualificado,.especializa-
Mem-
Há algumas exceções na aplicação das regras-que acabamos de do no domínió de. . É autor de diversos estudos científicos.
úro ,tiuo da organização do Partido, responsável po.r uT grupo de
mencionar.] os militares pertencentes às unidades do Exército sovié- ao exterior (segue-se a
agitação. Enviaáo várias vezes em rnissão
tico estacionadas nos paises do Pacto de Varsóvia podem dirigir-se em primeiro Iu-
aos países referentes munidos de documentg! que lhes são entregues itilà"; países visitados, com os países socialistasserviline é casado
pelo^ Ministério da Defesa da união soviética, sem intewenção do nãrl a"roi. o, puir* o camarada
"-upitatistas).
:;.i i" ;d, fih;;. cànsciência política desenvolvida, moral irre-
b.C. Uotu regulamentação particular se aplica igualmente-às saídas
ilegais dos ag-entes Aa fCg e do Serviço Central de Infnrmações pràensível, leva uma vida recatada'
(G"RU) do únistério da Defesa; são, entretanto, controladas pelo A dirtção, o Comitê do Partido e o Comitê Sindical do Instituto
DepaÍamento do C.C. do PCUS. dos problemas niveisás da Academia de ciências da uRss reco-
Existe um número restrito de passaportes proüdos de "vistos mendam o camaradí Serviline I' I' para uma missão de caráter cien-

em aberto", significando que o c.c. do Pctls tomou a decisão de ;íi'ü;-(;;ít, com uma duração de (número de dias)' a contar
"oÍrla
habilitar, duração de um ano, seus titulares a se dirigirem de (data Prevista Para a Partida)'
"om
i3I
330
Este certificado aprovado pelo Comitê do Partido na se§são
foi Íestações internacionais para as quais Íoi enviado. etc' Um único
de (data). Sessão nú,mero ( )." O fac-símile deste documento deve pã"iá-J aigno de interesie: estipuú que se deve estar de acordo com
ser assinado pelo "triângulo", isto é, pelo chefe de setor, pelo secre- ã ÉrUui*rOa da URSS no paíi hóspede sobre o conteúdo de qual-
tário de setor e pelo responsável pela organização sindical. ,qúr A"ctaração que deva sêr feita ã imprensa ou ao rádio daquele
O certificado de moralidade é submetido ao Comitê do Partido à.r*o país. A leitura das "linhas diretivas" é mais judiciosa.
para ali
quan-
reali-
áo ," trátu de uma delegação que se dirige ao exterior
do Instituto para aprovação. É necessário ainda fazer menção ali à são
data e ao número da sessâo do Comitê, durante a qual foi aprovado ,", n"g*i"ções importintãs, pôis neste_ãaso elas contra-assina-
este documento, e deverá, em último lugar, ser assinado pelo "gran- ã;;'i". secretário do C.C. do PCUS. Se se pretende partir. para
de triângulo" (o diretor, o secretário do Partido e o Presidente do ã ã"i"rioi numa viagem particular, não há necessidade das "linhas
Comitê Sindical do Instituto), e portar o selo do Instituto. O origi- diretivas", -ur, por-orrtrà lado, tem rie se pagar. a taxa requerida
nal desta peça é juntado ao dossiê de Serviline, conservado no ser- p"ro ,irto ae sáíâa: 30 rublos pam tm país socialista, 200 para um
iaís capitalista (o salário mensàl médio é de 167 rublos).
I Ainda no
viço de pessoal. Começa, então, a segunda fase. O pÍocesso é trans-
iuso Oà uma viagem particular, o dossiê deveú ter um certificado
,1

mitido ao Comitê de Distrito do PCIIS, o certificado de moralidade


desde
chega à Comissão de Viagens ao Exterior do Cornitê de Distrito, que Ae domicitio dadõ pelô sídico do prédio da pessoa, atesta-ndo
convoca Serviline para uma entrevista: os três membros da cornissâo quando ela mora nãquele lugar; um atestado do empregador- especi-
lhe fazem, durante um quarto de hora, a pergunta fatídica para saber Íicando a natureza di seu tiabalho, o montante de seu salário e o
por que ele tem necessidade de viajar ao exterior. Se ele con§egue ,úrrro de dias de dispensa a que tem direito'
causar boa impressão, os membros da comissão, por sua vez, atir- Completado, afinàI, o processo', a -administração das -relações
marão que são favoráveis à viagem do postulante. Baseando-se nesta exteriores'da Academia de Õiências da união soviética redige uma
apreciação, o secretário do comitê de distrito escreverá "Aprovado. .urt" roUr"rita pelo secretário científico principal do P.residiumcarta da
O Secretário do Comitê de Distrito do PCUS (assinatura)" sobre o Academia cle Ciências, especificando despesas' O dossiê e
-
a
certificado de moralidade e ali colocará o selo do comitê. O certifi- são, então, enviados, por um correio secreto, ao C'C' do PCUS' O
cado de moralidade está agora, afinal, pronto. "Oíonnlenie" atinge ãgotu segunda fa§e, a da deliberação e da
2. O questionário de saída. Deve ser preenchido em duas vias- lomada de decisão.
"
sendo necessário, entretanto, além disso, juntar ullrr curriculum vitae odossiêchegaaodepartamentodeviagensaoexteriordoC.C.
manuscrito (também em duas üas). do PCUS q,re, cómo já àissemos acima, é um órgão híbrido do
3. lJm curriculum vitae sinóptico (chamado obiektivka) con- õ.C. aa fCb. São iixados prazos para a entrada dos processos:
tendo os dados essenciais de sua biografia e a lista cronológica das para "as viagens aos países capitalistas, 45 dias antes da partida' e
escolas freqüentadas por Serviline, seus diferentes empregos e sua enviados com
colocação hierárquica.
ã0;"* os-países roôiulirta.. Se os documentos são um pedido espe-
átruio, o secietário científico principal deve dirigir
4. Uma certidão médica atestando o bom estado de saúde de cial ao departamento rogando-1he qüe examine o proces§o a despeito
Serviline portando a menção "clinicamente são" e a indicação de fazendo sentir
que o exáme foi feito na perspectiva de uma viagem em (país) de
do atraso registrado. Eit geral, o C.C. concorda. mas
de sua-parte. O necessário à to-
úma duração de (número de dias). Para obter este certificado, deve to" r" trata-de um obséqúo um
Prazo
país capitalista não
mada de decisão referenie a uma viagem a
ser examinado por um grande número de especialistas, fazer um ser reduzido a ülenos
exame de sangue e um de urina. O certificado deve ser assinado pode, mesmo em caso de extrema urgência,
pelo médico eiaminador e pelo médico'principal (ou seu adjunto). de uma semana, pois o procedimento é muito complicado'
5. Seis fotos de identidade. Dois inspetores são encarregados ilelo departamento de viagens
6. As "linhas diretivas". São assinadas pelo diretor do Insti- j"nto --ó.C a" examinar essel procéssos, seldo o primeiro com'
petente para as ur"g.n, ao exteriôr dos membros da Academia
de
tuto. depois contra-assinadas pelo Secretário da Seção rÍl Academia decidiu enviar
de Ciências, que é membro do Presidium da Academia' É uma Ionga Gencias, e o segundã para o país ao qual a Academia
de
enumeração de banalidades que indica, entre outras coisas, que é seu colaboradorl O piimeiro transmitê o dossiê ao departamento
preciso rêspeitar a linha da política externa da União Soviética, es- d+ il-C. pair *pina,, e o eegundo a um dos dois departa-
forçar-se por explicar-lhe o sentido, participar ativamente das mani- "ier"im internacionai.. S" se trata dã uma viagem a um país capi.
mcntos

333
3.J2
talista, um pedido de informações é transmitido simultanea,rrente ao eram mais ameaçados com sanções, mas continuava necessário ler
departamento da KGB competente para o país correspondente. e assinar as prescrições, as quais não tinham mudado. Suponhamos
Se se trata de uma viagem a um dos países do Pacto de Varsó- que tudo corra bem, e o departa,mento de viagens tome a decisão de
i,ia, não é uecessário se dirigir à KGB. Antes da construção do Muro autorizar a Academia de Ciências a enviar o postulante em missão
de Berlim, seu pronuncia,mento era necessário, se alguém tivesse de ao país determinado por uma certa estada. A decisão é registrada e
ir à RDA, pois, deste país, era muito simples passar para o Ocidente. recebe um número de ordem; seu teor, algumas linhas numa folha
Temos aí um novo exemplo da maneira pela qual os nomencla- de papel, é comunicado, o mais rápido possível, por intermédio de
turistas cobrem sua retaguaÍda quando têm uma decisão a tomar: um mensageiro da KGB, à Academia de Ciências e à Administração
a re;ponsabilidade desta decisão incumbe a um tão grande número Consular do Ministério dos Negócios Exteriores da União Soviética,
ll
de pessoas que, no fim das contas, todo mundo, quer dizer, ninguém,, Se a partida é iminente, a comunicação da decisão é feita por telefone.
,ttr
é responsárel. No departamento de ciências e no departamento in- Tenha sido o processo apresentado dentro ou fora dos prazos,
rllt
terracional toma-se ciência do processo do candidato e redige-se unr de qualquer maneira a decisão só será tomada muito pouco tempo
ll,l
relatório -- positivo ou negativo. Será assinado pelos dois depar- antes da hora prevista para a partida. O Ministério dos Negócios
tamentos ou, se há acordo anterior. somente pelo chefe-adjunto e Exteriores deve, pois, fazer o pedido do visto de saída muito tempo
pelo chefe de setor. O documento é, em scguida, dirigido ao depar- antes, e a Academia providenciar uma passagem (de trem ou de
tamento de viagens ao exterior. Neste ínterim, chegou a resposta avião) sem saber se será utilizada. Não se trata de um caso fortuito,
da KGB. pois se a pessoa está projetando fugir, não lhe deixarão tempo para
Se as duas respostas são positivas, o postulante está suscetível fazer os preparativos; além disso, o cidadão soviético que espera sua
de ser convocado paÍa uma entrevista. No tempo de Stalin, toda autorização de saída do território, estando geralmente persuadido de
pessoa autorizada a viajar ao estrangeiro deveria apresentar-se ao que é submetido a uma vigilância reforçada, fará todo o possível para
C.C. para uma entrevista. Ela compreendia todo um grupo de pes- evitar fazer algo que seja suscetível, a seu ver, de despertar suspeitas,
soas nomeadas para postos no exterior, .e se desenrolava, por vezes, mesmo que não pense, de rnodo algum, em fugir.
sob a direção do carnarada Strunnikov em pessoa, adjunto ao chefe Ocasionalmente, o C.C. recusa o visto de saída; esta decisão é
de setor do pessoal destacado no estrangeiro, que existia, então, den- perfeitamente arbitrária, é a expressão do desprezo que a Nomen-
tro da administração do pessoal do C.C. Nesta ocasião, tinha de se clatura sente por seus subordinados. Um motivo freqüentemente
ler de cabo a rabo o texto das prescrições sobre o comportamento invocado para esta recusa é que o postulante já foi ao exterior du-
dos cidadãos soüéticos no exterior. Estas prescrições nada tinham rante o ano em curso. Ora, o serviço que decidiu enviá-lo em missão
de espantoso para a época: proibição de estabelecer relações pessoais sabe-o muito bem, assim como o comitê de distrito do Partido. O
com a população local, pôr-se em guarda contra as provocações, en- que fazer, então, com as numerosas horas de trabalho dedicadas,
trar em contacto com a representação diplomática soviética à menor em diferentes escalões, ao exame daquele processo, pára, no fim
dificuldade. Detinha-se em prescrições ridículas do tipo: não ficar das contas, receber tal resposta? Mas quem teria a ousadia de fazer
sozinho no compartimento de um tÍem noturno em companhia de tal pergunta ao departamento do C.C.? Todos aparentam descobrir
uma pessoa estranha do sexto oposto; pedir, se fosse o caso, ao chefe que o postulante já fora ao exterior, e se peÍguntam como isto lhes
do trem para lhe arranjar um lugar ern outro compartimento; não pudera escapar. O aparelho do C.C. não sofre a menor contradição,
entrar em contacto com os comunistas do país hospedeiro, não parti- mas se ela se apresentar, tentará tomar uma revanche impiedosa.
cipar de sui reuniões a menos oue tenha recebido ordem expressa Qualquer um que tiver a ousadia de Íazet esta pergunta terâ a cer-
neste sentiuu. Informavam secamente à pessoa que teria de prestar teza de não receber autorização de saída do território durante anos.
contas "aléur do aspecto jurídico legal" por qualquer infração a essas Mesmo os nomenclaturistas incontestavelmente "aptos para via-
prescrições. Ninguém ignorava que isto significava condenação por gem" podem ser vítimas do arbítrio e do desprezo do C.C. do PCUS,
\ma troika, e, pois, deportação para um campo de concentraÇão ou se não pertencem ao núcleo da Nomenclatura. Assim, no período
até mesmo pena de morte. No período pós-stalinista, a atmosfera se 70-71, quando eu era vice-presidente da comissão de historiadores
desanuviou; as entrevistas tornaram-se individuais, e foram conduzi- URSS-RDA, vi o departamento dos órgãos administrativos do C.C.
das num tom amigável. Somente eram convocados aqueles que, após recusar uma missão de alguns dias na DRA a Lev N. Smirnov, que
uma interrupção muito longa, seguiam de novo para o exterior. Não era, na época, Presidente da Corte Suprema da RSFS da Rírssia (é

-t 34 335
conservados em casa por seus titulares, e só lhes são entregues quan-
âsora Presidente da Corte Suprema da URSS), sob o
pretexto de
em curso em do de uma viagem).
la e qué havia muitos processos
totu à Suécia,'rooãs
ã"rá
"r" para ocupa-tá. qú-realizei'. com a aiuda Neste momento, o passaporte já está com o visto de entrada no
Moscou o§ e§forços
ã fito de obter a autori- país de destino e corn o visto de saída; é, então, enviado por urn
ã;ã"pfi;nto ãe ci6ncias do C.C., õom
oriental foram mensageiro à Academia de Ciências da URSS, onde é entÍegue ao
;;d;';;;;; aiii " úü"; par.a s-e dirigir a Berlim
ad'ministrativos não reconside- feliz beneficiário pelo responsável encarregado dos passaportes da
em vão. O departamenio O.i. órgãos
Administração das Relações Exteriores, após ter sido acusado seu
rou sua recusa. recebimento. Ao mesmo tempo, apreendem a carteira de identidade
Ocorreu um caso semelhante no fim dos anos
60' quando o
para surpresa gg.al' o pedido de auto- da pessoa, que é trancada num cofre até a volta do interessado. Por
I
Secretariado do C.C. rejeitou, seu turno, os membros do Partido e do Komsomol devem entregar
ifrãç*-6" saiaa Ae M.'t. Iiiliionchtcúikov, Primeiro Vice-Presiden-
dirigir-se ao. exte- seu cartão de membro, respectivamente, ao C.C. do PCUS e ao C.C.
uRss, que
llt;r

i" ãà a"ua.mia de ciências da deveria


l
do Komsomol, durante sua estada no estrangeiÍo.
para ali encontrai-r, *. representántes do
lLlrl ocidentais movimen-
rior-p'og*u.t. Entregam também à pessoa uma certa soma de divisas estran-
Millionchtchikov, h* jÍ avisara, por- telegrama'
sua
io geiras, cujo montante, severamente regulamentado, está diretamente
irabalho durante vários dias segui-
chegada, não compai;;; seu ligado ao país para onde se é enviado. Se a pessoa vai em delegação,
áãri--*titicado pela afronta " que lhe tinham feito sofrer. Não se
é o seçretário da delegação quem as entrega no aüão. Se se vai só,
ã.rL uo."ut o .ôtú át.tu tt.otu no fato de que 9le e1a de alta
suspeito
recebe-se uma ordem que permite retirar as divisas do Banco do
de querer passar para o Ocidente, nem ver aí considerações Comércio ExteÍior da URSS. A pessoa precisa apanhar a passagem
tão bem
oolítica (Millionchtchikov conhecia o movimento Pugwash de trem ou de aüão no serviço de transporte da Academia.
;il. "^il;;il"aà);
a expücação mais sirnples é que
a um
a Nomen-
de seus A pessoa será vigiada até o último segundo, podendo ser reti-
;il; Iitt" qr.tià.iemutui, como
que é
é seu
ela, e
costume'
ninguám mais' que éa rada do trem ou do avião para ser avisada de que seu visto de saída
suUordinaaos de alta hierarquia foi anulado, o que explica que, sob Stalin, inventaram um ditado:
dona do jogo. "tlm'uf!' de alívio só deve ser dado depois de se ter passado Czop"
O que acontece depois, quando a decisão tomada écumpridas' positiva?
(Czop é um posto fronteiriço situado na fronteira ocidental da União
Eis-nãs iÁ"gáOo, à últinia fasi das tormalidades a
serem
ela com- Soviética).
t"* ãt.-...? oUrlgaioriamente muito curta, como iá lil9tio--visto de Durante esta última vigilância, a Nomenclatura não desprezará
preende diversas do.passaporte.com
"p;;;;á;
das divisàs "ntrega
estrangeiias e dó documento de transporte. o menor detalhe. Eis um exe,mplo: um dos economistas mais bri-
!âiJu,-intr.ga
-em na lhantes do Instituto de Economia Mundial e de Relações Internacio-
ôorro todos os países, existeÍn três úpos de passaportes
de serviço nais da Academia de Ciências da URSS, o Professor Anikine, deveria
União Soviética: os passaportes comuns' os
passaportes
os-três tipos são válidos ser enviado em missão aos Estados Unidos, para ali trabalhar por
;';;;;;õrrt", aiprããaiicos. Na teoria, uma par- vários anos a serviço da ONU; seu pedido de visto foi aceito, entre-
pui" tãá", os países-. os passaportes soviéticos apresentam garamJhe seu passaporte e sua passagem de avião. Foi, então, que
aos países d-o trazem o
ticularidade: no ca§o de uma viagem "LI9'
da RSFS da Rússia; aque- surgiu. um antigo camarada de classe que o perdera de vista há uma
*f" ã" üiristério dós Negócios Eiteriores o do Ministério dos eternidade; este lhe pediu que fizesse algumas co,mpras para ele em
i;-;;; "*a uiagei-""otrI país capitalisra,
um cidadão rc- Nova York, e lhe entregou 200 dólares para isto. Anikine não
i.I.íO.iãt Exteriorés da URS§' Destà maneira' se pro' ousou recusar e aceitou o dinheiro. Na véspera de sua partida para
,iáíi"" que obteve ú visto de saída para a Tchecoslováquia
Federal. da' Alema- Nova York, Anikine foi obrigado a se apresentar diante da Comissão
cura passar paÍa a .l*ttiu ou paÍa a República
ao ver o selo da RSFS de Viagens ao Exterior do C.C., onde lhe perguntaram, inocentg-
nha, a polícia tcUecáãe ironteiras o impeâirá
mente, se ele não tinha diüsas estrangeiras em sua posse (o que é
da Rússia em seu PassaPorte' oficialmente proibido). Anikine ficou muito confuso, mas logo lhe
consular do Ministério dos
um funcionariã-ãr'Áa.inistração passaporre
retira o do postulante do declararam que sabiam de tudo, que ele tinha a intenção de violar
Negócios rxteriores-dã-ÚRss ter recebido a co- as prescrições em vigor em matéria de viagem ao exterior, e que.
cofre, no qual se .r*"tt"*, imedi-atamànte
ãpós
oi não sãci nessas condições, rião lhe era mais permitido viajar aos Estados Uni-
municação aa ae"itàã õ; Ú;ú" Soviética'
passaportes

337
i36
dentro do Instituto' obtém uma recusa da parte dos nomenclaturistas locais, prova da
dos. Após uma longa sucessão de humilhações pouoa confiança política que eles lhe concedem, o destino que lhe
;;;;.;-ãtudo, seniiu-se que feliz em manter,i,l,l3,1l%o reserva o futuro nada tem de invejável. É, em grande parte, por este
parecem sar( casteto de
Essas formalidades, motivo, que a ,maioria dos soúéticos que viajam ao exterior, seja em
para os países do Leste' com a única
Kafka, são válidas igualmente missão ou por turismo, é originária de Moscou, se bem que a pt>
a afr-eciação -d-a KGB' . -
il;..reiç";" q"" "áí "tcessârioentre'1967 e 1968' as missões nos pulação da capital represente apenas 3Vo da da União Soviéiica.
Durante um curto f"iioao, Tal é a realidade das viagens ao exterior para os cidadãos so-
sem decisão do c.c. do
oaíses do coMECOI.i fiã;;.realizar-se pela comissão viéticos. A prática se afasta consideravelmente da teoria, e notada-
"rêii."i,;õ;ilp*":os dossiês eram examinados
pàtiái'- Se Ci0n3i-11 mente dos compromissos internacionais assumidos pela Nomenclatu-
1,,]
de viagens junto ao A" Academia 1"-#: ra. Dfícil, em tais condições, colocar, na Eesma categoria, aqueles
iil matidade). se esta comissão aprovava a mrssao,
iãrilãiã"i Àtaup.n#^;;í;-";ti'uãa seres desesperados, que obrigam um piloto da Aeroflot a levá-los
peto comitc de Estado das
l.
a decisão ..u e{ão'.-c-![!car a para o Ocidente, com os terroristas que desviam um avião para a
llrrr ôic]r-"i*1 ãas récnicas, e o requerentesimplificação
PodiS:.
considerável; Líbia ou para o Iêmen do Sul.
arrumar as maras. Isto representava _uma prático quanto antes'
;;il qu" o sistemi "áitioor.r" O"p"iai" tão pouco
dai variações de humor
qanhava em esclarecil#;';;áã t6. Uma fronteira afenolhada
il'ffi ;&t,;rr;;ç#;;i,". &q; àpotinvasão uma
da rchecoslováqúa'
decisão do Secretaria'
a nova regulamentação ^ór;;ifu,
iãiãtttogàdu Esta expressão nos é familis desde a nossa mais tenra infân-
do do c.c. do pcú: di missão nos países socialistas cia; a Nomenclatura se esforça em nos incutir que os imperialistas
aprovação. do C.C' No
tiveram, nouurn"n,","à"-t;t'sufietidos à esperam com irnpaciência o momento propício paÍa nos atacar de
do C'C', reconhece-se abertamente que o
ili.t"'seio do aparelrto pretexto' Os nomenclaturistas' todos os lados, mas que os gloriosos guaidas-fronteiriços soviéticos
caso tcheco nada mais foi do que um estão atentos em seus postos, e aferrolham a fronteira, impedindo,
sem trabattio por ôausa da criação da nova co-
ã.ãtútá* iicado m"iãt com mldo de ter de voltar pâre postos assim, que os espiões e os sabotadores encarregados de se infiltrar
missão, simplesment" ha União Soviética ali penetrem. Ainda hoje, ela conta a mesma
6ir"il-;"[ ; um "vertuchka" nem à "KÍemliovka"
ffiffi"ffiif
conseguiram
das vantagens de uma vigi- história aos jovens soüéticos.
mais estrito sobie as viagens dos O cidadão soviético deixou de acreditar neste conto de fadas,
lância maior "oou.rr"".iã'sã"ieàri"ao
e Ae .i- e toma progressivamente consciência do fato de que o ferrolho
cidadãos soviéticos * p-"lr* .ocialistas, países que se tinham reve-
"o"ttot"
passado nos milhares de quilômetros de fronteiras da URSS não
taao Oe uma duvi.dosa lealdade' foi colocado ali com a finalidade de impedir o acesso do território
Para os que residem nas repúblicas federais'
ao exterioi' e também mais perigoso do que pelos imperialistas, mas de proibir que os cidadãos soviéticos fu-
difícil ii
é ainda mais"iauaaáJto'iéti"ot
-Êm que jam à dominação da Nomenclatura. Tomou-se como hábito com-
Dara os moscovitas. Moscou' não -é raro encontrar pessoas
;pre;;t* um pedido de autorização de saída, parar a fronteira soviética com a cerca de aÍarne farpado de um
ffii.#;'ã;il;ã; ãs conseqrcncias desagradáveis
ffil;;il-ã;;; ;;ú -eue
acarre-
no intenor; com
campo de concentração; não me ocorre melhor imagem do que esta,
ainda que deformada. As fronteiras da União Soviética são efetiva-
;;;;;*r.u. Bíu, são muito mais
-ã" -nu,merosas
enviados a Moscou' mas mente equipadas como as cercas de um campo de concentração. A
efeito, os processot t"iau ali não são
a Qug.dizem Nomenclatura suspeita que a totalidade dos habitantes do país está
aos comitês centrais ;;tT;t. ãas repúblicas
emitir uma':T:i*
-que
deve opmrao pronta a utitizar-se de todos os meios para procurar fugir, e é con-
e é o Bureau ao ô.ó'-au república pode ser^enviado veniente, pois, empregar todos os meios para impedilos. Esta fron-
o pro""..o
favorável. uma vez-ttâa1sta-opiniao,
'cc' d-o Écus' Mãs' como iá des- teira não pode ser assimilada a algumas fronteiras ocidentais de
ao deDartamento d; ü|e;-ãt
ila;#;il;;; ;";';í-ãã õ'c' á" p'c' o" uma pois' repúbrica rederar
aqueles que
ccrtos países socialistas, que apresentam em primeiro plano uma
quantidade de postos de combate e campos minados.
são'
constitui seu Orgao ie-&tçã"' I{uito
poucos
de versáteis e vaido- Os soviéticos, como não são enamorados do modernismo no
ousam apresentar-s" ái""t" á"quela.asiembléia que refere a fronteiras, não instalaram ali aparelhos de tiro que
sos sátrapas, n" d;;;" -não
viaglm ao estrangeiio' muito
Se a
agra-
pessoa disparam automaticamente como na RDA, mas elas são, contud-,
"*p-.,iiçã
dável, certamento, ;;;1;"*"mente'
i'ditpe"sável'

339
338
podem ser vistas lá' pôr de pé, mas se prende numa outra armadilha." No dizer de um
bem equipadas, e algumas inovações técnicas soviética é obie- guarda-flonteiriço soviético, "quanto mais se procura livrar-se, mais
A segurança au. troniii'áã üil;;ú"tt da União
to de um ensino "tp!áJ;;;;út da KGB e do Ministério dcr íe prende às armadilhas. Verificamos a eficácia deste dispositivo
;É9d; à categoria de uma ciência' durãnte exercícios: devíamos tentar atravessar o dispositivo, mas
[nterior, e se acha,
"t;il;
Como não possuímos nenhum material
que trlta d"tP llY:" nenhum de nós conseguiu livrar-se dele".2o
procurar descrever rapidamente as lns- 3) A zona neutra, também chamada terra de ninguém. Se bem
ciência, vamos, no da fron- que não pertença a ninguém, os guardas-fronteiriços soviéticos pa-
;;üü ,ã. ãiúori"ntã"io,i,ãi'ãL ãteoiu'çu. de um trecho 'ela' típico do inte-
vindo lrulham-na dois a dois, armados de pistolas-metralhadoras e acom-
teira soviéti"u. Qoanáo"; ilffi ;i. d5'.g"
para
três zonas drsuntas: panhados por cães.
rior do país, atravessa do territorio i'mediata- Os chefes de posto devem fazer variar os horários dos tumos
1. A zona tt""ãtiçi itto e, a. porçãodesta zona têm neces§i- de guarda e os itinerários das patrulhas freqüentemente, de qanei
tt mente adjacente à ft;;;'ü' o- babitàntà
1r,,
dade de uma permissáã óspeciat
para residir ali' e é feita menção' ra á complicar ainda mais a tarefa dos candidatos à travessia ilegal
de fronteiriços. Pata da fronteira. Os fronteiriços não têm o direito de penetrar na teÍÍa
na sua carteira a" iaã"tiàãã;t il qualidade por'ü' exige-se de ninguém (a despeito da menção feita nas suas carteiras de iden-
tÍansitar
ter acesso a esta zona, ainda ql9-:eia'!ara sáo feitos pelos tidadef senão sob a vigilância de dois soldados armados, após ter
uma autorizuçao iiifi"ia. .
ós controles
"rpJliJi'Au Todo indivídYl1': obtido u,rna autorização suplementar. A ordem de abrir fogo que,
destacamento* r.p""iiiL â"ãil;;-tronteiriços' e verifica-se minu- para os ocidentais, evoca rnais a fronteira da RDA, está há muito
autorizado, surpreendido nésta zona' é preso'
ciosamente o motivo-invocado de
sua prL..nc" no setor proibido- tempo em vigor entre os guardas-fronteiriços soviéticos.
põr uma centena de me- Por ter abatido um fugitivo, um guarda-fronteiriço receberá a
Z. A zona fortiiicada. Ela estende
se
ot "êtto número de disposi- medalha "por heroísmo" do governo, ainda que não possa dar pro'
tros de largura. Esta zona comporta va de uma coragem excepcional por atirar com uma pistola-metra-
ôs qlais eis uma lista:
iiiàtãtàt ?ironteiriços", entrej"tp"í" que se apóia em estacas de thadora nas costas de um homem desarmado. Os instrutores polí-
a) Uma ,"0" àJ"u''u*" metal'^Esta rede é entre- ticos contam aos guardas-fronteiriços a lústória edificante de um
cimento recoberta ;;;;;-p;gãtd

passagem' cuia abertura pode ser chefe de posto que, tendo conseguido atravessar a fronteira, foi sur-
cortada por numero."t pã'ttÀ de
observaçáo' Quando preendido por cidadãos soviéticos e abatido.2l Esforça-se, porém,
comandada a distância ã partir dos pos-tos de
em capturar os fugitivos vivos (a denominação oficial de seu delito
:,::*-U:t",ruryii:1i-ffif ,:!J"ll"Jlãl"n:'.''ffi - é violação de fronteira), mas não é certo que isto possa vir a ser
de células telefônicas a seu favor. Se o "violador de fronteira" consegue, não obstante
cial responsável peü seíor' Postes munidos que
i;â#ffi;;;;'Jü""J;;ã;;; de ninsuém (zona neutra) tudo, vencer todos os obstáculos, será objeto, em todos os lugares
;;'fronteira' e os guardãs-fronteiriços ali podem em que isto seja possível, de uma perseguição implacável. Grupos
:ü;'.%1*il;
que n-o cinturão' A rede de arame de militares soviéticos se dirigem regularmente a Berlim Ocidental
lisar o fone de baixa tensão' o menor para procurar deter trânsfugas. Acontecia o mesmo durante a ocu-
"ã'"tí'p"'ã'rado
uma corrente
contacto provoca t'i"{i;d;;t"
-o ã ii" condutor ou do envoltório pação da Áustria, quando soldados soviéticos eiam regularmente
alarme no post<t
"i;J"';';";;;rià;;;r
da proteção O" -"tJ, loe taz soar um sinal de enviados aos setores de Viena ocupados pelas tropas ocidentais para
ali descobrir fugitivos.
u"
""Jit$:;ois do arame farpado vem um declive de 5 a' 6 rnetros Essas "caças" não se limitam aos paises europeus sob ocupa-
t"iru? regularmente'revolvida de maneira a que ção soviética. Enviaram emissários "diplomáticos" armados a Ev-
de largura,
eventuais
"u;, ii i.,r.ãi, pãguau* táo nítidas qualrtg possível'
fugitivos
dokia Petrova, mulher de um residente da KGB, que pedira asilo
político na Austrália. O General-de-Exército P. K. Ponomarenko,
c)Vema"po;J,"Àá.i"á".a""estacasdemadeirabaixasepon- Embaixador da URSS nos Países Baixos, ex-Primeiro Secretário do
tou"àl na vegetação e nas C. C. do P.C. da Bielo-Rússia, e durante a guerra Chefe do Estado-
um outro "dispositivo" é escondido
de aranha de armadilhas Maior do movimento de partisans organizado pela NKVD, não
moitas: trata-se d" #ã;;;àIatiá teia
as rnoitas correndo' e pren- deixou a ninguém o cuidado de arrastar à força, até o primeiro
de fio de aço. "Se um fugitiv.o. atravessa
por terra' pÍocura' então' se avião de particla, um turista soviético de nome Golub, que pedira
rle o pé ,urna d."as ariiadilhas' cai
341
310
no pugilato doctnnento çlassificado como top secret, Ela se intittrla: "Classifi-
asilo. O embaixador Íecebeu e deu mais de um soco a ca- cação alfabéi.ica dos agentes empregados pelos serviços de informa-
voltar a Moscou, onde lhe confiaram
ãí" t.-*Áúu; teve de
dos Partidos cornunistas" çôes estrangeiros, traidores da pátria, membros de organizações an-
ilil;;-?ú?l0dos Itegais áe Trabatho ri-soviéticas ú outros criminosos procurados. . . " Mas aqueles, cujos
ã. fr.titotà de Ciênciaí Sociais do C' C' do PCUS'
-" do território da união nomes figuranr ali, não são espiões, são indivíduos que fugiram da
;-;i; áos tugitirãs além das fronteiras legal'- Do lado swiético' IJRSS"
Sorié1ica oao poa"-innã"ui q"ufquer base
;";;;";-""r^io o tuto á; q"t as autoridadãs dos países ooidentais
ação' e que- acei- Um exemplar deste tipo de registro chegou ao Ocidente
,áã ir,ãÃitào q"*ao ou i"àii'uçao deste tipo de levados de seu
em
,, ttâ"ti"Àts -soviéticós lejam 1976:. ali eranl enumerados, por ordem alfabética, os nomes de fu-
tarão tacitamente quJ
"t
iãiritOri" nacional-como escrauõs fugitivos. Esta
suposição se re- gitivos estabelecidos no estraltgeiro, considerados ccmo "traidores
o comandante de um da pátria" e condenados à revelia a longas penas de prisão (de 1O
vela, por vezes, exatã. it*utu-tt ainãa como
l
l1lll

lrtil
navio ameri.uno Kudirka, marinheiro e dissidente a 25 anos) ou à prsns capital. O que ressalta deste exemplar é que
"ni.goo-si*ur
rJ"ãiô q"à ." ,ttugiã'* "q:t" barco quando navegava 'em águas a iustiça soviótica se recu-ca até hoje a introduzir o princÍpio da
àoído de- pancada sob os prescrição. Com efeito, menciona ainda o nome de Igor Gusenko,
internacionais' Sirnasiái imediatamente
complacente; e depois enviado para um carn-
;iil; J. comandante-"á-Ú'oiáo gx-funcionário dos scrviços de códigos da Ernbaixada da União So-
po de concentração Soviética' O mínimo que se sabe é uiética no Car;adá que denunciou às autoridades deste país os agen-
socialistas) se vê tes soviéticos que ali se entregavam à espionagem nuclear, isto há
oue a Finlândia (e .ãÀ nrui, forte razão os países
entregar às autoridãdes soviéticas os fugi- mais cle 30 anos. As sentenças pronunciadas há várias décadas con-
;#;á., ilüàil;;; g;'?t do. direito de asilo em seu solo' tinuam em vigor.B
tivos que acreditarani'pãa.i
neste domínio' Os nomenclaturistas tentaram, muitas vezes, fazer executar es-
É preciso frisar quJ í-Ú;tãã Soviética se mostra'
;; ;"' um vizinho tão obsequioso: otto Ku- sas sentenças, e fugitivcls foram vítirnas de rapto ou assassinato, e
;"í;t;;";n".iaá cohtra a Finlândia' no fim de elaboraram o que eles próprios chamam uma "técnica especial"
usinen que, apos o'u'úo" touúi"o ..Govemo
1g3g, tomou a trentã dà um Pooular Finlandês" não foi (Speztechnika) para a realização desses assassínios. Nos anos 50'
extraditado para a Éi,r-atãi", Àas eleito membro do Presidium e utiiizavam uma pistola elétrica silenciosa, disfarçada num maço de
Secretário dó C. C. do PCUS.
cigarros, que atirava balas dum-dum com cianureto. Por volta do
"--- mãos abanando do fim desses mesmos anos 50, fabricaram um novo modelo, um apa-
ü;;il-quando ãr, *iuaores -voltam deefeito'
qlou,,ao ;;;; pit-ttõ"s não surtem os nomencla- relho de bolso que podia projetar ácido pússico, contido numa
da KGB' ampola, no rosto da vítima, e a simples inalação dos vapores de
turistas não renuncirtt a tí, tingança.
"*t.riàí-ão Através de agentes
;ü;i;õG ",, aipü-uiur-"
'ã. de vigiar os.emigrados, cianureto bastava para provocar um enfarte instantâneo; dissipan-
"r;*ràgados
pior". calúnial sobre estes. Para isto, fazem do-se os vapores. se houvesse autópsia, esta só concluía pcr uma
;;-o-".,ã espalhai f,[titáá"' ou falsificados pelo serviço de con- morte devitla a um ataque cardíaco típico. Esta técnica permitia,
circular documentos-
i.à-inirtÃução da KGB; procuram, geralmente'
fazet crer que estes pois, dissirnular a arrla e o crime. A opinião pública foi posta a
;ü;;G são impostor"s, ou então. criminosos comuns' ou mesmo par dessas proezas da tócnica soviética graças a dois oficiais da
agentes da KGB, ; ô;; caso' demonstra' como já KGB que recusaram cometer os assassínios de que tinham sido en-
"ã*à 'Arti-o da pouca estima carregados, e passaram para o Ocidente, Khokhlov em 1953, e Sta-
sublinhei acima, u ãorl.idn.ia que têm os "órgãos"
de que gozam. chinski em 196[. Figuram no registro das pessoas procuradas, e
de siegf ried nuulc!, .!1^o":'^"u:i,9" todos dois foram condenados à morte à revelia. Khokhlov já foi
"rã;;;;.rssínio ã;"""1" a
c"r.ãl"".ioiJ""ã'ffiÀ,
*t:Xl
priTly.eia de re77'-:--*,'^':l- vítirna de um atentado, em Francfurt, onde utilizaram a última pa-
lavra das técnicas especiais: lun veneno radiativo.
|)dltLaLttç uu1;ã"^ü;";.ü,':.p91:d:i:o:'":.::,,,:,"Í'i*',W
ild#ffi us,sv ",i
richten, organizar, ur u a revolução' uma' "lista
r^^ ^rimina- As declarações de Khokhlov e de Stachinski nos informaram
l;#'J,1À""fHffi;,;; q*r ilu'' "os criminosos
'""iúàá "uuo
escritos 9',":1:'j::
mais ::T::::
procura-
de que existiu. no quadro cle pessoal dos serviços de segurança so-
viéticos, uma seção especializaJa em assassinatos políticos e raptos
fim ã" póa"r revelar
sos bursueses, a
il' ""'il;Ü;.;;;à; ã;-;';d" antigo"'P Na união Soviética' no estrangeiro. No fim da guerra, esta seção era conhecida sob o
se tornou realidade' Esta lista é um nome de Spezburo, charnando-se depois Seção n." 13, em seguida
este sonho há muito tempo
343
342
+a

V. Os agentes da KGB apelidaram-na de 'Seção dos


assuntos
Seção
delicados" (otdet ,"áíríin aàtl' o General Sudoplatov
^dirigiu'
especial' f:i t-11:
durante muito tempo, .tiu ,tputiição um tanto " nao caltl
após a eliminação de Beria: sua família' enttetauto'
""iuJo
;;;;r;;^ça; uma dáma Sudoplatov, muito bonita aliás' ocupa-se NOTAS
il t;;; àe'.rp"tá"ulos no húel para os convidados estrangeiros
do C. C., na Rua Plotnikov. ttl- l. Lenin, Obrus, Éditions Sociales, t. 24, pág. 29.
Essas intormações foram abunclatltemente comenladas 1>or 2. Lenin, Obras, t. 28, Pâe. 251 .
ela se intc-
da a imprensa não ããminaOa pela Nomeuclatura' mas 3. Constituição (Lei Fundamental) tla U.R.S'S'. Moscou' 1977'
um {ato inr-
ressou, sobretudo, p"iot A.tutf'ei técnicos, e clesprezott 4. Pravda de 30109/1977'
I

de uma decirão do C' C' 5. Àlexander Galitch, Pesni, Francfurt, 1969, páC. 9.
t, cada assissinoro corlseqüência Cf. Vladimir Gusarov, Moi papa ubil Miclnelsa, Franclurt, 1978' pág l15'
lrortunte, " ó.
lr
7. Lenin, Polnoc solbranie socinenii, t. 54, pág. 384 (Não fígura na ediçáo
delica-
O organismo encarregado da realização dos "ass.untos da R.D.A.).
C' C' S. Boris Bajanor', Ich war Stalins Sekretrjr, Francfurt, 19'17, pág' 60'
l

ciiplomáticos do
aor" pur.J" ser um departímento dos quadros 1). Edward H. Crtt, A History ol Soviet Rtrjsia, Nova York, 1951, l'a parte'
áÀ pcus. Foi dirigiJà, durante algum tempo, por-l' S' Taniuch-
p/ag. 204-205.
mis-
kin", untigo Embaiiaàor nos Estadõs Urridos e na China' Essacanti- Io. sobre o mesmo assunto: R. Medvedev, J. Medvedey: Khruchtchev, The
reriosa re[artição era atojada num edifÍcio situado cliante
da yeorsin power. No'ta York, 1976, pâg. 7Ç78'
na do C. C., que abrigava igualmente,a Comissão de
Viagens ao i l. Voprosy rlrorii KPSS, 1976, n." 12, pá9. 33-16'
Ê*t.rior: junto áo C.-õ: Ái aíividaaes da comissão dos quadros rli- 12. Sverlanâ Alliluieva, Zwanxig Briele art einen Freuttd (VittÍe Cartas a
entendido, ao envio ao exteriot' íJm Amisa), Pâ5. 282.
ãià-aii.,it não se limitavam, bem espiões e agentes
l3. P. Miliuliov, kossiia na perelome, t. 1, Paris, 1921 , pâg' 193'pâg' 76'
ã" p"tr."f diplomático, mas destacava também de missões "espe-
l.í. Ilia Ehrenbure, Zizn'i gibet'Nikolaja Kurbova, Moscou' 1923,
da KGB, entre estes oi matadores encarregados i5. lbíd., pâs. 8.
ciais". Nas suas L'Ii,ntirias, Khokhlov relatá que recebeu suas ins- 16. Flermann Pórzgcn, Ein Land ohne Golt (íJma Terra §ern Deus), Franc-
que sabem. furt, 1936, Pâ9. 70'
ir*ç0.. o" paniuchkine em' pessoa. -os nomenclaturislas nada dc l7 . ÍIuman Rigtrti A compílation ol Internaticnal lnstrumettts of tlrc uniled
et pour catlse, qu" o nor" á" u^ departamettto não revela
Nations. Nova York, 1973, Pag. 2'
porianto, chamá-lo' enlre eles' "o
suas atividades ieais, escolheram,
do
I8. Ibid., pâe.25.
;;;;.ih; de Paniuchtine". Mais cedo ou mais tarde' os: arquivos 19. Ibid., píg. 8.
por se abrir, e será, então' possível (c n.itrito instrtt- 10. Posev, 1977, n." 4, Pág.3'l .
C. C. acabarão
ll. Ibíd., pág. 11.
tivo) aos pesquisadores consultarem os docunrentos qtte passaranr
12. Citado por Die Zeit, 06105/19]7.
por este serviço.
Íncs-
13. Posev. 1976, n.' 12, Pág. 29-31.
As fronteiras soviéticas são aferrolhadas' com cadeadooficial
mo, e o arco deste é constituído tanto pela anlável
que controla o seu "ra"uAo
passaporte no âeroporto de Chemeretvo quanto
i"io fun.ionáriouananomaiadoi armado com seu írcido (prússico) cianí-
drico, co,m ,au radiativo ou Seu "guat'da-chuva húlgaro"' Os
quent
"órgãos" são seus mecanismos internos, e é a Nomenclatura
posiui a chave deste cadeado'
Essas poucas páginas não bastarialn para tratar
exaustlvamett-
mas podemos
t. a, páritüa interna'da classe clos nolrenclaturistas.
a st-'rhrc este a'-
clefinir-lhes as linhas mestras. Resta muito escre\ter
para preencher uma obra em 1'{1i11r volunres' Se
sunto. o bastante
a pessoa não se preocupasse com detalhes' somente a conclusão niÍr'
,u'riaria, o poder soviético é a ditadura da Noltrenclttlura'

345
344
VII. UMA CLASSE QUE ASPIRA
À HEGEMONIA MUNPru-
I

)
lll

lrtrt

O mundo do socialismo se alarga, o do capitolismo


se retrai, Em todos os lugares, o socialismo sucederó
inevitavelmente ao capitolismo. Tat é lei
a objetiva
da evolução sociol. O imperiilismo é impotente
paru deter o irresistÍvel processo de tibertaçfu.
Á época atual, cujo conteúdo essencial é a passagem
do capitolismo ao socialismo, é a da luta dos dcis
sisÍemas sociais opostos, é a época em qtu
os lrovo§
novos se engajam no caminho iocialisto,
a época do
triunlo do socielismo e do comunhmo em escalo
mundial-

programa do pCUS,
XXII C.ongresso,
outubro de 1961.

A expressâo "candiclato à- hegemonia mundial', é bem


cida dos Ieirores de jornais soviétic"oJ-s"*irao conhe-
ra desisnar porên-cias imperiaristãr
-ôil;;r., há muil;;;io p"-
-as
perialismo franco-britânico,.'depois otiJ"rã,"'â'" r.-
^dá uo uf,*ao e ao americano. Em
nossos dias, o leitor. soviético uma ãituo"tu ãirt.xJu
pressão, tanto foi renisada.; entretanto,
iste conceito não é "JJu "*-
poii existe-i"ár.rrt" um candidatototalmente
a rege-
*Tl11,*r*ff.,...n,r0à,

l. A Nomenclatura, uma classe agressiva

A propaganda da No.menclatura afirma que a porítica


da união soviética é pacÍfica, externa
,"É-rir;i.s fato de que não exis-
347
por Lenin nada mais eram do que "comerciantes", e a questão da
tem, no quadro do socialismo teal, nem classes nem grupos cujos
-justifiquem
uma política expansionista e agressiva: a so- revolução mundial nada mais era do que um acessório.r Mas a No-
interesses
menclatura não renunciou à idéia de dominar os povos estrangeiros,
ciedade soviéticá se compõe de trabalhadore§, colcozianos e inte-
e pôs em banho-maria seus planos a longo pÍazo.
lectuais ativos, e que vantagens tirariam, pois, de uma agressão?
Já falamos no Capítulo IV da primazia que ela concedeu à in-
Ela diz a verdade, nem os trabalhadores nem tampouco 9s colco-
dústria pesada corn a finalidade de constituir um potencial militar
zianos ou os intelectuais tirariam proveito de uma política agressiva
digno de uma grande potência. O equipamento da máqúna de guer-
e expansionista. Mas a sociedade soviética não compreende apenas
ra do Estado nomenclaturista se fazia tendo por pano de Íundo a
esteJ grupos: à sua frente está a classe dos nomenclaturistas; seu
propaganda, pois a Nomenclatura não parava de repetir que os im-
atribuío êssencial não é a propriedade, mas o poder: a extensão
perialistas estavam a ponto de atacar a União Soviética. Não era a
deste poder determina a ampüdão de seus privilégios, inclusive a
parte ãa propriedade gole,tiul que ca99 de seus membros con- Alemanha nazista que ela visava naquela época, pois a cooperação
só -umduas possibilidades no
há militar entre a URSS e a Alemanha era ainda importante.
segue apropriar-se individualmente.
que tange ã este ponto: L. a parte rndivid'ral que consiste,- para O exame dos jornais soviéticos de 1930 nos mostra que a No-
escalar o maior número possível de es- menclatura justificava seus armamentos pela ameaça de uma "Cru-
,úerclaturiíta, em zada contra a URSS", que teria sido convocada pelo Papa. Depois,
"àda
calões na hierarquia; 2. a via coletiva, o cre§cimento da "proprie-
Stalin perguntara de brincadeira: "De quantas divisões dispõe o
dade socialista".
a Nomenclatura sabe gue seus mem- Papa?", mas, em 1930, a Nomenclatura parecia aparentar que con-
Quem conheça de perto siderava a cruzada moral do Papa uma séria ameaça militar à
bros só dão importância aos imperativos de suas carreiras: eles lhes
URSS.
ditam a todo momento suas condutas e setui pensamentos. Ora, os
nomenctaturistas desenvolveram ao máximo o sentfunento de sua
A ameaça surgida com o III Reich não conseguiu também pôr
um freio ao apetite expansionista da Nomenclatura; pelo contrário,
comunidade de interesse, e estão, portanto, inegavelmente, prontos
a agir como classe; esta faculdade resulta da estrutura da Nomen- os sucessos iniciais de Hitler só fizeram agucá-lo. Em vista dos
acordos secretos feitos com o Führer, ela conseguiu, durante o pri-
datíra, classe que se apropriou coletivamente do poder e da "pro- meiro ano da Segunda Guerra Mundial, apoderar-se da Ucrânia
priedade sociâlista".
' No íntimo, ela se entrega à exploração dos produtores de base; Ocidental, da Bielo-Rússia Ocidental, da Letônia, da Lituânia, da
Estônia, da Bessarábia o da Bucovina Setentrional. Os bardos da
como pudemos veÍ no capítulo IV, o sistema econômico que ela
Nomenclatura puderam novamente entoar cantos de vitória: na vés-
criou ô catacteriza pelos iendi,rnentos muito baixos, e uma rnelho- pera da guerra, durante a qual deveria encontrar a morte, o jovem
ria sensível da produtividade não pode .conceber-se sem urna mu- poeta Pavel Kogan profetizava com exaltação:
dança de sistemã, inaceitável para ela, já que poria fim-a seu mo-
nopólio. Só lhe resta, pois, a perspectiva de uma expaesão externa,
do estabeiecimento de seu domínio sobre países estrangeiros e â ex-
As águas dos Ganges em nassos calcanhares
ploração de suas riquezas.
Itíotamos no campo de honra.
' Antes da Revolução, os leninistas proclamavam que concecle- Que do lapão a Londres brilhem
riam uma independência total a todas as colônias da Rússia iza- E mínha pritia e nra grandeza.r
rista, mas, corn- Lenin ainda vivo, elas foram todas dominadas pela
força sob os mais diversos pretextos, e integradas à União. Em tV20' EIas brilharam efetivamente até o Japão: as Curilas. ilhas si-
tuadas ao norte deste país, foram incorporadas à União Soviética.
o governo bolchevista procurou apoderar-se da Polônia; um "gover-
nJ soviético da Polônia", do qual Dzerjinski, Chefe da Tcheka, se- A Nomenclatura conservou as presas que Hitler lhe deixou em troca
ria membro, estava nos planos do Exército Vermelho. As canÇões de sua neutralidade na gueÍra que travava com as democracias oci-
da cavalaria vermelha, novamente constituída, proclamavam: "VaÍ- dentais, depois as que as democracias ocidentais lhe tinham cedido
sóvia para nós! Berlim para nós!", e os escritores soviéticos tla épo-
ao preço de seu apoio na luta contra o nazismo.
ca faziam coro: "A Europa para nós!" Aquelas democracias se sentiam obrigadas a retribuir a resis-
Fracassado o primeiro ataque, tiveram de se retirar de Varsí> tência oposta por uma Nomenclatura que, na verdade, só procurava
via. Em 1922, na Conferência de Gênova, os delegados enviados salvar sua pele; e deram prova de sua generosidade. A Nomencla-

349
348
mística, mas sim a conseqüência direta de sua sede insaciável de
Iura soviética obteve a Pússia Oriental; alé,m disso, a Polônia, a poder, seu bem mais caro, e de seu desejo desenfreado de aumen-
Bulgária, a Tchecoslováquia, a Hungria, a Romênia, a Iugoslávia. a tar uma propriedade que se choca com os limites impostos peln pro-
Albânia, o leste da Alemanha e da Áustria, o Norte da Coréia pas- dutividade muito fraca, inerente à economia socialisla. É errado
sÍuam à sua dominação; e a Finlândia foi submetida a seu bel-pra- afirmar que não existe, na União Soviética, classe que tenhn inte^
zer. Pode-se apreciar a importância do presente l'ecebido olhando- resse em conduzir uma política expansionista e agressiva, pois cla
se para um globo terrestre. Esses presentes foram dados de boa von- existe realmente:'é a classe dominante da URSS, a classo dos no-
tadã quando a relação de forças não os justificavam de modo al- menclaturistas.
gum. Nao foi por causa desses territórios que se chegou à guerra
iria, mas porque ficou claro que a Nomenclatura stalinista ainda
não estava saiisfeita. A Alemanha Oriental não the bastava, ela 2. A tradição
qucria tzrmbém a Alemanha Ocidental; o leste da Áustria também
riiio, cla qucria o país todo; o norte da Coréia muito menos, queria Um dia, perguntei ao Professor V. M. Khvostov, chefe da ad-
Inrrrbúnr ó srtl, alóm da Grécia, de Trieste, dos Dardanelos, Kars e ministraÇão central dos arquivos do Ministério dos Negócios Exte-
Altlrrlrirrr, o ttortc do Irã, a China, a Indochina, e atê mesmo uma ricres da URSS, e membro da Academia de Ciências: "Vladimir
colôrrirr nu África, a Somírlia ex-italiana. Voltemos novamente a um Mikhailovitch, entendo por que os pesquisadores soviéticos não te-
ghrllo lcrrcsllc tr cxrtntincmos as fronteiras que ela aspirava em 1952, nham acesso aos documentos diplomáticos posteriores a 1917, mas
conll)ntcnr(,-,lrrs cotrr rls lirttitcs dos territórios que ela controlava 10 por que os da diplomacia tzarista da segunda metade do século XfX,
1rrrt$ lrrlt's, çttt l()42, tlttlttttlo a frcnte, cercando Leningrado, se es- também são inacessíveis?"
tcnrlia utú o lrollc tkr (líttcaso, ltassando por Moscou e Stalingrado; Khvostov respondeu-rne com uma voz seca, separando bem as
vemos, assiru, ató <lnclc a N«tnrcnclatura tinha conseguido plantar paiavras: "Porque, desde aquela época, a diplomacia mssa se con-
srras garras, e não renttnciara a abocanhá-los: Cuba, o Iêmen do frontou com problemas de política externa análogos aos que conhe-
Sul, Angola, Etiópia, Afeganistão, Vietname, Laos, Camboia, vie- cemos, e foi levada, em certos casos, a tomar decisões idênticas às
ram engrossar o grupo dos países nos quais ela conseguiu instalar- nossas. Não temos, pois, nenhum interesse que se saiba disto." Não
se com um êxito mais ou menos grande. se tratavan portanto, da parte da Nomenclatura, do medo que se
Suas garras, por vezes, fecham-se no vazio, outras vezes con- pudesse descobrir semelhanças fortuitas, mas da continuação de uma
seguem agárrar tudo, e o que nos interessa, em primeiro lugar, não tradição, de uma verdadeira conivência entre sua diplomacia e a da
sãó tanto os resultados de sua política expansionista, mas sim seu nobreza tzarista.
cxpansionisnlo como tal, pois ele jamais esteve ausente de suas cOn- Vejamos o que Marx escreveu sobre os objetivos e os métodos
siricrnçiir.s s«r[re p()lílica qxterior. Para ilustrar isto, vamos contaÍ desta política, que se perpetuou até nossos dias: "A Rússia é, sem
rurrrr rirrr.rlolrr lirlriLr dns Mctnúri«,r' tk: ('lrtrrchill: cm 1945, clurante
contestação, uma nação de conquistadores. . .'b É claro que jamais
11t ltrltrlltnlt. tll'r.t'ct'irlo pelos irlglescs, tltlltntltt «la Con{erôncia de se fez menção desta espécie de texto na URSS. Prossigamos: "Para
Pulnrluru. Slrtlltt r'rrtttcr.'rttt, tlc tcpcttle, tt llctlir tls atllógrafoS das peS-
r'( )rr rrlltu,l rle tilrrlirr lrrillttrvtrrrl rlc tlivCrtimento e de ilustrar a "aversão" da Rússia pelos acréscimos territoriais, vou
uutr lrt+!urnll't
'hurtrnt I'rrr lrt rlr' l,ttuttly rhtis t'/iliccs tlc vinho, e o olhei
enumerar uma parte das conquistas que ela realizou desde Pedro,
lrrrttt
lmttt rlo ltettln I )a rhrlx prvttritttttos, tÍe tttn só gole. os cáliceS, tro-
o Grande: as fronteiras russas aumentaram de cerca: 700 Iéguas
na direção de Berlim, Dresde e Viena; 500 léguas na direcão de
r,iiltlt ttil] nllut rlo trrottltt','itttt'ttlrl. Ao cabo de um momentO, ele Constantinopla; 650 léguas na direção.de Estocolmo; 1.00O léguas
rllrrp "§r'\'rrrít[ nllo tto'i llrtrlt'rcttl lllcsmo dar um porto no Mar de na direcão de Teerã."a (Desde a época de Marx, elas aumentarâm
M/ltrrrrrril, lrilrlnrrnrol. 1tr'lo lllcllos, dispor de uma base em Alexan-
ainda mais.) "Entretanto, a Rírssia persegue seus objetivos de nma
rlrrlpnllx "q ( )$ rrttlrillntfos (pclos quais jamais se interessou), o
maneira traclicional que não ilctifica em nada a admiração cxccp-
h,tit,lr,(rle tluc ttiio gostava), tudo isto nada mais era do que ence- cional que os políticos europerr" -he devotam. O êxito desta nolÍtica
11(llr), pois cl1 ulna base para a frota soviética o que o interessava
r errlrrrcrrlt:.
hereditária é, certamente, uma prova da fraqueza «las potôncias oci-
l)c acordo com sua nâtureza, a Nomenclatura é uma classe ex- dentais, mas sua monotonia, seus estereótipos. são, ao mcsnro tcm-
prrrrsionista, portanto, agressiva; sua agressividade não é de essência po, o reflexo da barbárie interna da Rírssia."6 Empregando a pala-

351
350

DA E.F.E.I. (t
vnr l)url)úric, Marx se deixa levar por seus sentimentos, mas o setr'
tido ó claro; faz alusão ao atraso da Rússia feudal, e por Rússia, Esta classe preparou órgãos encarregados da planificação do
ele não entende nem o país, nem o povo, mas a classe dominanto sua política externa. No fim dos anos 60, criou um "Departamonto
de então. O Estado nomenclaturista, cujos defensores clamavam para a planificação das atividades externas" (UPVD) dentro do or-
bem alto, quando de sua criação, que romperia definitivamente com ganograma do Ministério dos Negócios Exteriores da URSS. O pri-
toda a politica da Rússia tzarista, na realidade nada mais faz do meirõ chefe foi V. S. Semionov, Ministro-Adjunto dos Negócios
que proiseguir, com determinação, a política expansionista dos tza- Exteriores (atualmente Embaixador em Bonn), um diplomata expe'
res. rimentado e prudente. Tinha I. I. Ilitchev com substituto, ex-alto
comissário da União Soviética na Áustria, ex-diretor da terceira se-
ção européia do Ministério dos Negócios Exteriores. Anteriormente,
3. Uma política externa planificada foi general e chefe do Serviço Central de Inforrnações do Ministério
da Defesa (GRU) sob Stalin. Quando Semionov foi chamado para
A política externa é uma resultante da política interna, é a chefiar a delegação que devia participar das negociações sobre a li-
expressãô do regime nacional sobre o cenário internacional. Lenin mitação das armas estratégicas (SALT), foi substituído por A. V.
insistiu bastante sobre este ponto: "sepatar a 'política externa' da Kovalev, um dos jovens adjuntos do Ministério dos Negócios Exte-
política em geral ou, com mais forte razáo, opor a política externa riores; conheci-o ao tempo em que ele era primeiro secretário. A
à poÍtica interna é uma idéia radicalmente falsa, não marxista, anti' decisão do C.C. do PCUS, quando da criação do UPVD, previa
ciéntífica.'a A dominação que exeÍce a classe dos nomenclaturistas uma espécie de instituto de pesquisa científica no seio do Ministério
sobre a União Soviética é um verdadeiro monopólio não limitado dos Negócios Exteriores. Verbas particularmente elevadas foram
por nenhum controle parlamentar, nenhuma oposição. A planifica- destinadas aos funcionários qualificados do UPVD (eles tinham os
ção econômica decorre direta,mente do monopólio da Nomenclatura títulos de conselheiros, conselheiros superiores e conselheiros princi-
no domínio econômico; seu monopóliô político provoca, da mesma pais, sendo esta última categoria rnais reitrita), equiparados, de fato,
maneira, a planificação de sua política externa, o que, além do mais, aos vencimentos dos professores da Academia de Ciências. Entre
faz sua força, Com efeito, as democracias parlamentares não estão os responsáveis por este serviço, estava Liudmila Alexeevna Gvichia-
em condições de rivalizar com o Estado nomenclaturista nesta ma- ni, filha de Kossyguin.
téria, pois seus governos só podem, no melhor dos casos, pÍogÍamar Tendo como modelo a da União Soviética, foram criadas seções
sua política para a duração de uma legislatura, de uma eleição a encarregadas da planificação da política externa nos Ministérios dos
outral na prática, nem mesmo fazem isso. Negócios Exteriores da maior parte dos países da Europa Oriental.
Logo após a disputa eleitoral, a política dos partidos ocidentais, Entretanto, pão se deve, por isso, acreditar que sejam elas que ela-
quer estejam no governo ou na oposição, se resume, -em vista de boram os pianos de suas respectivas políticas externas. O Professor
sua completa dependência do eleitorado, à preparação das próximas Harry Wünsche, que se encontra à frente da seção correspondente
eleições. Uma üez que, na democracia parlamentar, o objetivo de do Ministério dos Negócios Exteriores da RDA, revelou-me no que
um partido é a obtenção de uma maioria eleitoral, e que todos os
consisiia, no essencial, a tarefa desses órgãos: "Só podemos tomar
meios lhe são bons para conseguir este fim, pode-se assistir a um
certas ,medidas restritas de planificação, pois a política exterior pro-
fenômeno singular no domínio da política externa: é considerada
priamente dita é definida não por nós, mas pelo C.C.". O mesmo
como boa, não aquela que se revela benéfica Para o Estado, mas qerve para o UPVD: "Nossa diplomacia é subordinada ao C.C.",
âquela que per,mite ao partido no governo assegurar um máximo ds
vótos. É preciso tomar consciência desta fraqueza que salta aos olhos como já o afirmava Lenin.T
de todos os trânsfugas dos países subjugados peia Nomenclatura.
Nesses países não há eleições verdadeiras, elas se limitam à coloca-
4. Agressão como defesa
ção em uma urna de uma lista dos nomes que o eleitor não escolheu;
é, pois, possível planificar ali a política externa a longo prazo, sem
ter de se preocupar com a opinião pública, e levando em conta Até agora, só se tratou da agressividade e do expansionismo da
apenas os interesses de classe da Nomenclatura. Nomenclatura, mas, na realidade, ela não poderia estar fazendo nada
mais do que se defender? No Ocidente há pessoas muito sérias quo
352
353
acham que os dirigentes soviéticos sofram de trma n*sessidade doen- colocaclos «Jiante da escolha entre o caminho "japonês", que leva a
tia de segurança nacional. urna sociedade do tipo ocidental, e o caminho "cubano", que leva
No ''juramento" que prestou sobre o túmulo iiç Le,nin, Stalin a urlra sociedade do tipo soviético. O primeiro fez do Japão militar-
proclamou: "Lenin jamais considerou a república dos.sovietes corno rista um país próspero e pacífico, tendo um crescimento econômico
um fim em si, sempre a considerou corrlo o eio irecessárir"r ao reÍorço rer.tiginoso: o segundo f.ez de Cuba a ilha das plarítaçôes de
do movirnento revolucionário nos países do Ocidente e do C)riente, caua-de-açúcar e dos lugares de prazer- um país economica,mente
como o elo indispensável à vitória dos trabalhadores do mundo ii:tei- arruinado, uma potência beücosa gue envia- suas tropas para a con-
ro sobre o capital. Lenin sabia que só e§ta conüepção era justa, não quista da África.
apenas do ponto de vista internacional, ,rnas tarnbém do da salva- A Nomenclatura teme que os países do Terceiro Mundo esco-
guarda da República dos Sovietes."s Eis Für que Lenin e Stalin eram lhanr o canrinho japonês e venham a reforçar o sistema ocidental
áe opinião que a palavra de ordem, incansavelmente repetida por cm escala mundial, permitindo-lhe não somente subsistir, mas triun-
Lenin, de "República mundtal dos Suvietes", era absolutamente essen- iar. Ela procura, então, forçar os países em vias de desenvolvimento
cial à sobrevivênçia da UR.SS. a optar pela solução cubana, daí seu expansionismo neocolonialista
Como uma classe que afirma, de maneira "científica", que sua principalmente na Ásia, África e em outras regiões do Terceiro
dominação nada mais é do que uma etapa no caminho que leva Mundo.
inelutavelmente a hunuiriidade inteira paÍa um futuro radioso pode A noção de defensiva é, portanto, um dos Íundamentos de sua
sentir-se ameaçada pela existência de um outro sistema, pretensa- agressividade, representando mesmo o elemento mais perigoso ile
mente destinado à ruíua? A resposta é simples: seu palavrório sobre sua política intransigente de expansão. Esta afirmação nada tem
a "vitória inevitável do comunismo em escaia mundial" nada mais de paradoxal, sendo mesrno perfeitamente lógica: se o expansionis-
é do que propaganda destinada a desmoralizar o Ocidente e a fazer mo Íosse apenas um capricho da Nogrenclatura, ela poderia renun-
comprêender à população soviética que toda esperança de mudança ciar a ele imediatamente, mâs, uma vez que isto acarretaria, para
é ilusória. ela, perder seu poderio, seus privilégios e, por isso, sua existência
Na realidade, a convicção da Nornenclatura não se funda nas cle classe, está excluída a possibilidade de que ela renuncie àquele
profecias apocalípticas, pois ela não ignora que o nível de vida dos algum dia. Restaria estudar os meios de se precaver contra esta
países ocidentais é muito superior ao da URSS e que sua população agressividade e este expansionismo, o problema é, pois, complexo e
goza de um grau de liberdade inimaginável paÍa o cidadão soviético; implica um exame adequado que não é o propósito desta obra. Não
iabe igualmente que seus súditos são informados de tudo aquilo, e vamos, portanto, examinar a maneira de se opor a ele, mas, antes,
que ela só consegue contê-los por uma intimidação de todos os mo- conro é impossível se opor a ele.
mentos; mas não pode ter êxito eterno com esta íntimidação, e pensa Seria perder tempo quêrer demonstrar à NomenclatuÍa que o
com terror no dia em que seus súditos se cansarão de seu medo Ocidente não está entregue à tarefa de destruir seu poderio e liqui-
-
perpétuo. dar o sistema de socialismo real, e que não repÍesenta, por isso, ne-
A Nomenclattrra crê nesta eventualidade apenas pelo fato da nhum perigo para ela; a Nomenclatura tem certeza de que o Oci-
existência de um Ocidente livre e opulento, que mostra a seus súditos denle é uma ameaça. Esta ameaça não é divisada sob a forma de um
que o sistema capitalista oferece, a despeito de certas imperfeições, ataque direto (não obstante o que afirma sua propaganda), mas sob
padrões de vida superiores. Uma vez que não se trata de uma atitude a. mais perniciosa desestabilização interna (de que ela não fala ja-
provocadora do Ocidente. mas de uma realidade irrefutável, nem mais). Para deixar de ser um exempkr incômodo, o Ocidente deve-
iua "boa conduta" nem a distensão poderiam fazer desviar os diri- ria sacrificar sua liberdade e sua prosperidade, tudo o que o diferen-
gentes soviéticos de sua linha geral, e fazê-los desistir de seu projeto cia tão vantajosamente do socialismo real.
de aniquilamento do sistema liberal. Os nomenclaturistas seguem Há incompatibilidade entre os dois sistemas que existem atual-
a mesma linha nos países do Terceiro lvíundo. Lenin e Stalin tinham mente no mundo: não podem convergir, pois diferem fundamental-
afirmado que. uma vez liquidado o colonialismo, Estados do tipo mente, a sua coexistência só poderia ser, numa perspectiva histórica,
soviético surgiriam por todos os lados sotrre suas ruínas; a realidade um fenômeno passageiro. O conteúclo dessa existência, pacífico ou
nem desmentiu nem confirmou esta previsão: após se tornarem Es- belicoso, só pode resumir-se a um combate opondo esses dois sis-
tados soberanos, as ex-colônias e os países dependentes se viram temas; o socialisrno real se esforça em eliminar o modelo capitalista.

'354 3s5
ouvia os contos horríveis apregoados pelod ocidentais, que irersistern
e lhe empresta intenções. idênticas a seu respeito. Eis a realidade. cnr ver antigos heróis nos burocratas.
Esses sonhadores estão érrados, é Evtuchenko quem está certo.
Que não he acusem, entretanto, de me alinhar ao lado dos partidá-
Nem o povo, nem a Nomenclatura querem a guerra, pois esta última
rios de uma guerra fria, apiesentando este argumento; nada mais
tem medo dela, embora o que a angustie não seja a eventualiclacle
tiz do que expor o que a Nomenclatura soviética rePete incansavel-
de perdas humanas que se contariam aos milhoes: seria esperar mui-
mente.
Já que é assim, há uma outra possibilidade, além da guerra? to da parte dos herdeiros de Lenin e de Stalin. A Nourenclatura
teJÍre uma guerra atômica, mas o sacrifício de uma multidão de indi-
víduos e os riscos do aniquilamento de nossa civilização pouccl lhe
5. Os russos querem a guerra?
importam; por uma vitória, ela estaria pronta a pagar uÍn preço
alto, enviaria milhões de seres humanos ao holocausto (como já o
A canção que tem este título é obra de Eugen Evtuchenko; é fez, irnpassivelmente, durante a Segunda Guerra Mundial), r:ras sob
uma canção triste muito popular que figura ritualmente nos progra- certas condições: a ceÍÍeza de que ela própria não estaria entre as
mr, *uti"ris que encerram-os festivais da paz. Ela responde, bem vítirnas, e que conservaria intacto seu poderio. Ora, o emprego de
entendido, pelá negativa à pergunta feita: os russos não querem a armas nucleares não garantiria a realização de nenhuma dessas con-
gueÍra, poií eles cónhecem, por experiência própria,.os males e os dições. A Nomenclatura poderia, evidentemente, tentar assegurar sua
Iacrifíciôs que ela implica. Mas, os russos não constituem um con- sobrevivência e a de seus acólitos com a construção de abrigos anti-
iunto homogêneo do qual emanaria uma vontade unânime: há,
de
atômicos (o que ela, aliás, jâ o fez sob o disfarce da defesa civil);
Lm lado, a população mssa (soviética), e do outro, a Nomenclatura entretanto, mesmo que as vidas oh! quâo preciosas dss ns-
russa (soviêtióa). A população da URSS sofreu, efetivamente, os - medidas não lhes -permitiria,rn
menclaturistas fossem poupadas, estas
horrorei da guerra: 20 milhões de mortos, 10 milhões de mutilados manter-se no poder, pois a guerra teria reduzido a nada os funda-
e de inválidú, e por isso pode-se afirmar, com certeza, .que ela não mentos de seu domínio, não teriam mais súditos sobre os quais reinar.
a deseja. Os nômenciaturistas têm uma outra experiência -guerreira: Os nomenclaturistas sabem que seu poderio não será mais do
arrogaram-se privilégios exorbitantes, notadamente aquele bem agra- que uma longínqua lembrança, quando, no fim da guerra atônrica,
dável que consiste em mandar seus concidadãos se fazerem mataf, deixarem suas cavernas de cimento armado para pisar o solo dc ex-
,oropôlirundo, ao mesmo tempo, em seu proveito, rações alimen- tensões desoladas, cuidadosamente desativadas por seus criados.
tares ãspeciais, promoções, medàlhas, e se atribuindo, em seguida, o
^da *giande
guerra nacional". A vitória conseguida Eis por que a Nomenclatura reclama com tanta insistência um
papel di herói
desarmamento nuclear. Trata-se, bem entendido, do desarrnarnento
ào'p..ço de terríveis destrui[ões fez cafu de novo, sob seu do6ínio, do adversário, não do seu, e daí também sua oposição a qualquer
súditos-estrangeiros antes inacessíveis, tornando os nomenclaturistas
controle internacional. Ela procura fazer passar seu medo da guerra
os senhores prestigiosos de uma potência mundial. nuclear pela preocupação da salvaguarda da humanidade.
Os russós nãõ querem a guerra, nem tampouco sua classe diri- A Nomenclatura não quer a guerra, ela quer a vitória; fixou a
gente, a Nomenclatuia. No Ocidente, um certo número de políticos
mesma a tarefa de vencer sem combater no conflito que opõe os dois
ãcha que o É,overno soviético não hesitaria em se lançar numa guerra
sistemas; para isto, procura fazer crer aos ocidentais que está deci
contra o Oõidente, que estaria notadamente disposto a isto, se os dida a lutar para lhe sugerir que o cornunismo é, no fim das contas,
ocidentais dessem mostras de rnuita intransigência e que, por conse- preferível a um cataclisma, e que é melhor ser vermelho do que estar
guinte, será preferível cederlhe em tudo. Essas apreensões_ só ser-
morto. A fim de atingir este objetivo, deixa supor que está resolvida
í"r, pam alêntar a Nomenclatura que toma. então, ares de mata- a dominar os elementos refratários e que, nessas condições, submis-
,orrà, para dar a impressão de que está pronta -para a luta' Ela são é sinônimo de realismo político. Todas essas ameaças nada mais
está realmente decidida a desencadear um conflito? De maneira ne-
são do que um gigantesco blefe.
nhuma. Tive ocasião, durante minhas viagens pelos anais variados
países, de estar ao lado de representantes de diversas classes diri-
Corn efeito, examinemos as experiências anteriores da Nomen-
gentes locais, nenhuma delas se distinguindo das outras pela bravura,
clatura. Que países ela atacou? 1.") Em 1920, a Polônia, ua auro-
ãrrs em nenhum tugar vi qualquer delas preocupada com sua pró-
ra de sua independência; 23) Em 1939, de novo a Potônia, quando
pria segurança, nemlão aprêensiva com seu bem-estar e sua carreira esta já estava vencida pelos exércitos hitleristas; 3.') Em 1939, a
quanto à Nómenclatura. Por vezes, tive o desejo de sorrir quando
3_í7

356
minúscula Finlândia; 4.") Em 1940, países corrcedidos por Hitler:
Letônia, Lituânia e Estônia; 5.') Bm 1944, a Bulgária, abandonada a Romênia se defenderia em caso de invasão, e guardas-fronteiriços
po, toOát os seus aliados; 6.") Em L945,o Japão, à beira {a clpi!5 romenos destruíram um blindado soviético, para apoiar aquelas de-
íúo,'i.') E* 1956, a Hungria, presa da revolução; 8'') Em 1968, clarações. Se bem que o potencial militar romeno nada tenha de
a Tctecosiováquia; 9.") Em 7979, o Afganistáo. Como podemos ver, extraordinário, a advertência se revelou suficiente; a Nomenclatura
seus "ataques"'foram numerosos, mas sempre se apoderop.de
países não teve mais o menor desejo de socorrer o socialismo romeno, nsm
prévias garantias: conseguiu_o. acor- tampouco o iugoslavo, e menos ainda o chinês. Se bem que esteja
fracos, à..rno assim tomando
"
ão ar'Hitler antes de empreendir a ocúpação da Polônia Oriental, ligada a Hanói por um tratado de amizade, não teve a audácia de
apoiar o Vietname militarmente quando da expedição punitiva chi-
ãã firfarAia, da Letônia, àa Liruânia e da Estônia; os Estados Uni-
dos e a Inglaterra aprovaram as guerras contra o Japão e a Bulgá-
nesa de 1979.
gária; a Cf,it oútos países sócialistas se prgnlSciararn a favor E, em todas as ocasiões, vindo do Ocidente, o coro dos medro-
" "
da luta contra a Hungriai a invasão da Tchecoslováquia foi.realiza-
sos se faz ouvir: "Vocês estão completamente loucos! Nem pensem
ortrot países do Pacto de Varsóvia, e só em se defender, os soviéticos vão liquidá-los facilmente!" Mas a
da em colaboração
ocorreu quandoie t"ue "õ*a cefiezi de que não seria encontrada qual- Nomenclatura não liquida aqueles que se defendem, dedica-se ape-
quer resisiência militar. A Nomenclatura se apodera dos fracos, mas nas àqueles que renunciam: Dubcek, que não ousou se opor à inva-
choca com uma resistência? são soviética, leva hoje uma vida de empregadinho perseguido. Tito
o- que ela faz quando se polônia a enfrentou, e ela o adulou enquanto ele viveu, e foi demonstrar sua
'_Énr 1g20, quando a recusou ceder e reconhecer o "Go-
áa Polônia' preparado pelos ocupantes.' Lenin-apres- "pena" quando de seus funerais.
verno soviético A Nomenclatura ataca o fraco e teme o forte, tripudia sobre
sou-sea Íazer a paz. Em i93b, a Leiônia, a Lituânia e aàE'stônia
URSSI o covarde e recua diante do inflexível, seguindo a lição de Lenin
,ãi"raáru* sem iesistência, e a Nomenclatura as integrou escapou que citava um provérbio russo: "Se te cedem, bate; se te resistem,
u Éúanaiu se defendeu, permaneceu um soberano'
Estado
populares. 'No fim da Segunda Guerra, foge!" Sobre este princípio repousa toda a sabedoria política da No-
ão à.rtino das demôcraóiás menclatura, pronta a conqústar o rnundo, se o deixarem fazêJo;
os soviéticos tentaram tomar o controle do Azerbaijão iraniano, mas
bater em pronta a fugir, se resistirem.
i""ta tn"t opôs uma resistência feroz, e eles durantedeciüco
tiveram
anos'
;;tr"d;. Deixaram igualmente a Grécia, onde,
de tornar 6.
i" tg++ a 1949, atilçaram a gueÍrâ civil na esp-erança Coexistência pacífica e distensão
ãão"f" pui, uma democracia pofular' A despeito d",t?.111'::i:i- Se o caminho que a Nomenclaiura segue, e que deve levar à
çás e dás injúrias ignobeis, com
que Stalin.e os seus cobrrram a rugos-
pois hegemonia mundial, não é o da guerra, qual é, então? A esta per-
ia"iu ã" fiio, nãoiizeram a menor tentativa para-ocupar o país, gunta, a própria Nomenclatura responde com a fórmula: "Coexistên-
;;ú;- que iiiam contar com sua resistência' O bloqueio-de-Berlirn
1O anos cia rracífica entre países de ordens sociais diferentes."
em 1948, o ultimato de Khruchtchev a esta mesma cidade Fica-se feliz de que o medo de uma guerra a tenha levado
impor a-co-nclusão de um tratado de paz a
-ãir ir"i., que visavam com condições ditadas pelos soviéticos: não fazer seu o princípio da coexistência pacífica, mas não se deve enga-
uãr aoir nótaàos alemães nar e imaginar que isto seja a garantia de uma paz sem nuvens. e
;;;;"i" mais falar dele quando ficou claro que os ocidentais não
relrções internacionais idflicas. Precisamos dar crédito ao fato quo
capitulariam. a Nomenclatura iamais procuÍou esconder: no programa do pCUS,
que
Nomenclatura roÍnpe o combate em todos os lugares Sm a coexistência pacífica é definida como "a forma específica de Iuta
resistem a ela; aconteceu de novo em 1962, qualdo- ela instalou
de classes na arena internacional".
iÀnr"t". óbu, desencadeando, assim' uma crise internacional; Entretanto, seus políticos e seus ideólogos se mostram avaros
if;;;;"ão"* áir't" da resolução americana, e embarcou de volta desta definicão em seus discursos, livros e artigos destinados ao pú-
r"u. fozu"t"s, às pressas, sob a vigilância ostensiva da Força Aérea blico estrangeiro. Usam os mesmos processos dã I.enin, e mencionam
do.Pacto
ã;;EUA. ApOs á invasáo da Tcheloslováquia pelas tropas perguntavam' o caráter de classe da coexistência pacífica sornente em pronostas
de Varsóvia, enquanto alguns políticos -ocidentais se
subordinadas, mergulhadas numa onda verbal gabando as virtudes
;;*';;;ú.tiâ, "ond" iriani parár. as divisões soviéticas,fezosaber
Governo
que da paz e da amizade. IJm born exemplo disto nos é fornecido pelo
;r*|oj d; nada ignora a iespeito da Nomenclatura,
Íivro, publicado na Áustria pelo jornalista soviético Vladlen Kuznet-

358
359
I
I
um termo a ela, esforço-me simplesmente em pôr em evidência que
nada mais é do que uma Íórmula "aceitável para Íodos os democra-
sov: I Política Distensão lnternacional do Ponto de vista sovié'
de tas", substituída pela de coexistência pacífica. Serve para esconder
rr.r; em Moscou especialmente para o Ocidente, não foi di- o fato de que esta última não implica somente paz e atizade, mas
"r".ito
tundido na URSS.0 que é também uma forma particular de luta de classes em esca'
Quanto a mim, expus-me às reações hostis por parte das.auto- la planetária, quer dizer, a luta da Nomenclatura pela hegemonia
ridadÀ soviéticas quurOo publiquei, na imprensa alemã-ocidental' mundial.
aitigos expondo as tãses oficiais.rd A fórmulf "détente internacional"
é o-mehór meio que descobriram para camuflar o caráter de classe
ãu .ãã*iut6ncia patífica, e tornou-íe tão corriqueiro em noss.os dias 7. Os Iimites da coexistência pacífica
sobre seu exato significado.
q""-"i,g"i- ," àá uo tiabalho de refletir
d" U.*"qu" os políticos dos mais diversos países- {inq9m .que não Conhecendo-se a concepção que a Nomenclatura f.az da coexis-
há atternàtiua pãra a détente, um bom número deles ficaria muito tência pacífica, nada há de surpreendente no fato de que ela tenha
lÀburuçudo se lhes perguntassem o que é esta distensão no fim das rigorosamente the delimitado os contornos.
;"!|,. E o que e éta ãm definitivof Em que se diferencia da coe- O primeiro timite é de ordem ideológica; na URSS, insiste-se
xistência pacífica? incansavelmente em que não poderia haver coexistência pacífica en-
Esta'última se define na perspectiva da luta de classes, é a forma tre os dois sistemas no carnpo ideológico. Esta limitação é impor-
de luta de classes que reina êntrê os dois sistemas antagônicos, res- tante.
p"ft*iã ã- tL"ii" leirinista. Por outro lado, détente é ,.om- conceito O objetivo principal do combate ideológico que a Nomenclatura
intencionalmente mais nebuloso, que não é função do $e
classe:
uma tensão internacio- trava com o Ocidente não é, certamente, o de estabelecer a supe-
ü-u; completamente entre quem reina conseguir esta rioridade do socialismo real com a ajuda de uma argumentação irre-
;ã-; pàt q"ô não se precisa ã- maneira de como esta fónnu-la em futável, pois ela compreendeu há muito tempo que só lhe é possível
ãi.t"nráo. ôs políticos ão Partido, que pus€ram
convencer os pequenos grupos que, por diversos motivos, desejam
circulação, sabem muito bem que ela -nada tem de leninista;
e
não a toieram -nem na a destruição do sistqma ocidental, e estão dispostos a aceitar facit-
.st, i-p.ó"isão do termo não foi querida,-comunista. mente a propaganda vinda do outro lado. A tarefa essencial desto
i-;r;;il soviética nem na imprensa A palavra distensão
internacional, "combate ideológico" consiste, de fato, em manter a combatividade
í;-;;t"-ão arsenal tático db movimento comunista
para.todos dos súditos da Nomenclatura e dos comunistas do mundo inteiro
;;rá; ;" categoria dos "programas e
-movimento
slogans aceitáveis
que é preciso lançar num nível elevado, agitando, sem descanso, o espantalho capitalista.
os democratus'I A tática ào ensina
Esta propaganda de todos os momentos lhe dá a garantia de que os
este tipo de programa e de slogan quan$o se torna necessário asse'
quJnão-apoiariam ,,n prosrama aberta- comunistas do exterior, e seu próprio povo, não levam a sério o rnito
;;;;;-ã-;;"iiitj a" forças uma triagêm dos diferentes pontos do da amizade com o Ocidente, que eles sabem, pelo contrário, que o
;i;," comunista. Fazie inimigo é o Ocidente, e que as demonstraÇões de amizade são ma-
n.onrua, comunista, e retém-se aqueles que, servindo aos obietivos nobras táticas dos políticos do PCUS. Destarte, ela própria afirma
ilil;4"-;o*rni.ir, podem ser, üma vei isolados do contexto dos
num seniido humanista, na- que a intensidade do combate ideológico não poderia diminuir a
;;"j"i;;ã úo-"n"fátirra, interpretados
(pacifismo, etc'); são' então' despeito da coexistência pacífica. Mantu<m esta mobilizacão ideoló-
quáe ae uma moral não comunista
alusão ao conceito de classe' de ma- gica para o momento necessáno, pois ainda tem na memória seu
reformulados sem mais fazer
Eis o que fracasso no inverno 1939-194A, quando lanÇou o Exército sovrêtico,
,"iiu u ,"forçar a interpretação não comunista' 9 preciso sem preparacão ideológica, sobre a Finlândia, e encontrou a incom-
por détente. i'[ada'mais é do que a forma' visa fazer es-
"rt"rO.. a tômar este termo ao pé da preensão dos solclados (nos meses que precedetam a invasão. nelo
;;;;.; o'conteúdo, levar o que coexistência pacíficl
Ocidente
significa contrário, tinha sido concluído um pacto de assistência fino-soviéti-
i"iru, fazer_lhe esquecer .não co). A mesma causa rrroduziu idêntico efeito quando da nrimeira
-- "
cordialidade harmoniósa, mal defrontação dos dois sistemas' fase da guerra entre a União Soviética e a Alemanha hitlerista. pe-
É; gostaria de insistir mais uma vez sobre o fato de que' apesar ríodo do pacto'germano-soviético (do outono de 1939 a 22 de
de tudo,"a distensão é preferível à guerra fria, e não é contra
a dis-
tensão que peço para se ficar em guarda, mas contra uma falsa iunho de 1941), por falta de uma prévia propaganda antifascista.
int"ipretàçao dà sôu real significado. Não preconizo que se ponha
361

360
Pode-se indagar qual é o sentido desta propaganda, já que a ciedades socialista e capitalista, sejam econônticas. políticas, militares,
Nomenclatura. soviética não tem a intenção de desencadear uma estruturais ou morais. A Nomenclatura substituiu, portanto, a ttoçáo
gueÍra contra o Ocidente. É preciso não perder de vista que, se de equiiíbrio das forças rnilitares pela de relação de forças entre
ela terne a guerra, isto é apenas por causa da relação atual de forças; classes.
se ela conseguir modificar esta relação em seu benefício, de maneira Esta concepçâo ó rnais realista clo que a ocidental, mesmo apli-
que um ataque não traga riscos, perderia toda a apreensão e passa- cada aos problemas puramente militares. A guerra do Vietname de-
ria ao ataque sem hesitar. Excluindo o domínio ideológico da coe- monstrou (para feliz surpresa da Nomenclatura) que, a despeito de
xistência pacífica, a Nomenclatura mostra claramente que ela pensa uma superioridade militar esmagadora, os Estados Unidos podiam
seriamente em empreender uma guerra contra o Ocidente. Duas perder uma guerra por cÉrusa de sua fragilidade psicológica e moral.
outras limitações vêm reforçar esta conclusão: sua Íecusa em inte- Na mesma ordem de idéias, só se podem fazer reservas sobre a in-
grar as lutas de libertação nacional e de emancipação social dentro condicionalidade de atitude das tropas das democracias populares
para com as divisões sovióticas estacionadas em seu território. Com
da coexistência pacífica.
efeito, não se pode esquecer que uma de suas funçóes essenciais é
No que conceÍne às primeiras, a Nomenclatura afirma que os controlar aliados, no fim das contas, não rnuito fiéis.
conflitos armados que ela apóia militaÍmente no Terceiro Mundo 'l
entram no quadro da distensão; a finalidade dessas confrontações é,
É com espanto que o visitante vindo dos países do Lestc toma
conhecimento das sábias especulações da imprensâ "bem informada"
entretanto, a afirmação de sua posição nas regiões referidas e, por-
tanto, a ruptura do equilíbrio de forças a favor dos países socialistas.
e dos políticos ocidentais visando determinar se a União Soviética
aspira ou não estabelecer sua supremacia. Ele se faz outras pergun-
Não estender o campo da coexistência pacífica às lutas de libertação
nacional equivale, pois, a incitar o Ocidente a prosseguir em sua
tas. Gostaria de saber por que os ocidentais ainda não compreende-
política de détente, esforçando-se, ao ,mesmo tempo, em romper o ram o que é evidente para o mais atrasado dos escolares soviéticos,
ou seja, que a URSS se empenha em ultrapassar o Ocidente em todos
equilíbrio das forças planetárias em detrimento deste. Quanto às
os domínios; pergunta-se igualmente como podem dar prova de tanta
lutas de emancipação social, temos aí o caso de uma fórmula caba.
cegueira e não ter ainda toniacÍo consciência deste objetivo depois de
lística que a URSS ainda não julgou explicar bem. Parece tratar'se
dos conflitos sociais, desenrolando-se no Ocidente, suscetíveis de dar
60 anos. É realmente difícil responder a tais perguntas.
um dia nascimento às "revoluções proletárias". Se se toma a fórmu-
A classe dirigente soviética e, a seu exemplo, as dos Estados
satéiites, esforçam-se conscientemente em consolidar suas posições,
la ao pé da letra, chega-se à conclusão de que a Nomenclatura se
reserva o direito de intervir militarmente a fim de levar seu apoio
tanto no terreno militar quanto nos outros, a fim de enfraquecer o
Ocidente tanto quanto possa. Nem sempre o consegue, Ionge disso:
a uma dessas "lutas de emancipação social". na perseguição de seu desígnio ela se vê entravada pela fraca pro-
Tudo depende, pois, da relação de força internacional, e os pró- dutividade e o peso do aparelho econômico socialista, e o descon-
prios políticos da Nomenclatura o admitem: reconhecem, sem ro- tentamento de seus súditos constitui tm handicap suplernentar. Em
deios, que a coexistência pacífica é função da relação de força entre suma, o trabalho que ela tem é muito mal remunerado em seu re-
os dois sistemas. torno. Entretanto, como ela dá prova de uma bela perse'rerança,
{ acaba. ao termo de várias décadas, por registrar certos sucessos. Se
8. A relação de força intprnacional i bem que a propaganda soviética esboce um quadro bastante vanta-
foso para ela no que se refere à atual relação de força, é necessário
Já que a coexistência pacífica é uma forma de luta de classes, i reconhecer que, desde a época de Lenin, aquela relação, indubita-
a relação de força deve, como em todo cornbate, representar um 1
velmente, se deslocou a favor da Nomenclatura.
papel preponderante. Tenta persuadir o mundo inteiro de qtre, em virtude de leis
Quais são as forças em disputa? No Ocidente, quando se trata t inelutáveis da história, aquela relação não pára de evoluir a favor
de relação de força entre os dois sistemas, pensa-se, normalmente, do campo socialista. É claro que isto nada mais é do que um pro-
no equilíbrio entre as forças armadas da OTAN e as do Pacto de duto de sua imaginação: tal lei não existe, e aquela relação sofre
Varsóvia. A Nomenclatura situa o problema em uma perspectiva variacões nos dois sentidos. No fim dos anos 50, no curso do pri-
mais ampla: conta a integralidade das forças de que dispõem as so- nelro período do Governo Khruchtchev, ela atingiu um rnáximo a

362 i63
Iavor da Nonicne latura: a nlortc dc Stalin c o atratltltltl() l)lo[',1'cssiv(r
dos scus piores nrctodos permitirarn aos nomcnclutttt islls r',itttltitt A passagen cia Europa para o cxntpo llomenclatufista faria,
provisoriamente o apoio da populaçào soviética. Alúnl clo tnais, lt pois, peirder a balança a fal'or da Nornsnclatura- Os qLle, ra Améri-
aliança com :r China era ainda uma realidade, o movimcnto cotl'ltt- ll ca, falam altivamente em su barricar, sc tlccessítrio, tla "fortaleza
nista internacional sc caracterizava por seu monolitismo, e a No- americana", cleyeriam ilclugar-sc que pcrspectivas se ofcreceriam aos
menclatura oirtinhl sucijssos no calniro militar, conseguindo, ntltaclu- Estados Unidos, se tivesscm de elrfreutar uma Nomcnclatura dona
mente. fabricar cngenhos balísticos antes dos Estados Unidos. De da massa continental coberta pela Europa, Asia. África' uma No'
resto, esta e\ ohlÇão parecia reforçar-se, a Nomenclatura esperava menclatura que se entregaria, além do mais, a um trabalho de sapa
que o lfunclamcnto iminente do sistema colonial provocasse i, cria- ern seu próprio território. A integridade da Europa Ocidental c
ção cle novas dcmocracias populares, e esperava rnudanças benéficas essencial, pois é ela que determina a resposta à pergunta feita pot
na Eui'opa: a passagem para o campo socialista da Espanha, de [-enin: "Quem vencerá quem?"
Portugal e da Grécia. Depois, entretanto, a relação de força evoluiu Isto não impede, de maneira alguma, a Nornenclatura de passat
em seu prejuízo e. a despeito da intensificação da fabricação de ar- ao ataque simultaneamente em outras partes do muncio' No sul da
mamentos, nào conseguiu remediar esta deterioração. Europa e no sul das repúblicas soviéticas da Ásia Central se esten-
No entanto, o Ociclente não deveria acreditar na existôncia cle dem as vastas superfícies dos países do Terceiro Mundo. Ela lançou
uma lei hist«'lrica inversa que favorecia o crescimento de seu poderio uma ofensiva nesta direção, tendo como objetivo instaurar ali, por
de urna rnaneira cluasc miraculosa, sem que fizesse o menor esforço todos os lados, Estados do tipo "democracia popular" (os prcjetados
nesse senticlo, e que provocaria, correlatamente, o enfraquecimento para o Terceiro Mundo são, para lvloscou, "Estados nacionais de-
da União Soviótica e de seus vassalos. Uma tal lei não existe: em mocrírticos"). E se isto ainda não está no domínio do possível, ela
toda relaçi1o de força. como em todo confronto, vence aquele que cspcrÍr conseguir uma "finlandizaçáo" adaptada às possibiliclades do
comete menos erros. e clá. prova de mais clarividência e resoluqão, bloco África-Ásia.
dispondo cle reservas mais importantes, e sabendo utilizá-las melhor. A Índia tle Indira Gandhi (antes da dcrrubada, e depois da
Se se clesse conta dos inconvenientes inerentes à sociedade socialista volta dcsta) nos fornece um bo,m exemplo do que poderia ser este
e. à política da Nomenclatura, o Ocidente tomaria a dianteira de ma- tipo dc "finlandização". A Finlândia ó certametrte um peclueno
neira irreversível, mas é detido peias fraquezas intrínsecas cle seu país. cnquanto que a India ó imcnsa e conta com uma população
próprio sistema social. muito mais numerosa do que a da União Soviótica, mas, a despeito
clcssas diferenças flagrarttes, as relações que ela mantinha, sob Indira
Gandhi, com a URSS lembravam as que existem entre a Finlândia
9. A vitrlria do socialismo real em escala mundial e Moscou. Dnrante este período, a Nomenclatura soube explorar o
medo sentido pelos dirigentes indianos diante da China para torná-
Eis o objetiro declarado da Nomenclatura, aplicando o princi [os conciliadores e receptivos a seus conselhos.
pio leninistit que preconiza llrocurar o ponto fraco do adversário e Durante os últimos 15 anos, a Ãfrica viu nascer numerosos go'
aí concentrar seu ataque: cla tenta sua chance em diversas partes vemos do tipo clas democracias populares. Um Estado do Terceiro
cio planeta. É na Europa que procecle com mais método, ainda que Mundo deve reunir um certo nítmero de condições antes de ostentar
com bastante circunspecçâo. A Europa não constitui, propriamente o label de "país de orientação socialista" pela Nomenclatura. Ela
dito, o ponto fraco do campo ocidental, mas, sempre segundo Lenin, não leva em consideração nem o nível de desenvolvimento das forcas
"eia constitui o elo Earticular que convém agarrar corn todas as for- produtivas nem a importância da classe operária, nem mesmo a exis-
ças para ter toda a corrente na mão".11
tência de um partido comunista: as tomadas de posição pró-ociden-
Atualmente, a producão industrial dos países socialistas repre- tais ou pró-soviéticas do regime considerado constituem para ela o
senta mais de um terço do total mundial. Se a Europa Ocidental critério essencial deste reconhecimento. Disso resultam certas flutua-
caíssc sob o controle da Nomenclatura, esta proporção aumentaria ções nas apreciacões que a propaganda da No,menclatura faz sobre
consideravelmente. assegurando-lhe assim uma predominância abso- a natureza dos resimes oolíticos dos diversos Estados do Terceiro
luta neste setor primordial. Ocorreria o mesmo em termos de mão- Mrrndo. Os nartidos baatistas, no poder na Síria e no fraque, foram,
de-obra e potencial científico. 6l,rrrnts muilo tempo, tarados r1e fascistas. e agora são considerados
como democráticos e revolucionários. Kadhafi, que ela tratava ante-
364
365
riormente de reaciouiirirl litseista o Iattutico, traus[ortttou-sc dcpois terra que se estende do sul ató perto do norte do continente sul-
cm cstadista progrcssista c sociirlistl. l)clo contrário, Sekr'I'urú, antcs americano, poderia, por causa de sua posição geográfica, constituir
adulado e alinhado cnlre os sociulis(lrs, tlrr nrelhor, comunistas, tctn a base ideal de um movimento de partisans comunistas para os di*
agora o cepticismo da 1:r'oprrgirrrtlu sovictica clcsde que aumentou a versos países Iatino-americanos.
influéncia chinesa nir ('iuirró (nir srur clloca, aconteceu o mesmo conl Enquanto espera, a Nomenclatura não se limita a quercr edificar
klodibo Keita no IMrili). sociedades socialistas nos países do Terceiro Mundo e da Europa
A atitude dos governantcs 1'lorlcr sr:r' tlc:cisiva. Assim, a Repúbli- Ocidental, visa igualmente a América do Norte, a Austrália e a Nova
ca Centro-Africana poclcria, aos ollror; tlc Moscou, constituir um Es- Zelândia. Documentos oficiais do PCUS e de outros partidos comu-
tado nacionaidemocriitico pcrfcilanrcnlt: itcci(;ivcl: l)ara isto, bastaria nistas afirmam, co,m vigor, que o socialismo não pararâ nas portas
Bokassa declarar-se Secretírrio-(lcral tlo I)rrrlitkl, nrandar o imperia- de nenhum país do planeta, que ele represenÍa o futuro radioso da
lismo americauo para os quintos do in[clrto. c proclatnar seu devo- lrumanidade inteira.
iamento inclefcctível aos iclcais socialistas; lllas, cnl Iugar disto, pro- Radicalismo verbal? Não! É realmente o plano da classe dos
clamou-se Imperador, dc.rnonstranclo, scrl'l ctluívoco, a orientação nomenclaturistas. Sob a eapa de socialismo real para todos, ela pro-
pouco socialista de scu rcgintc. cura instaurar sua hegemonia sobre a totalidade do planeta.
Seria um crro qucrcr nrinirtrizitt' o intpacto da polílica seguida Não se deixa desanimar pelo fato de que a passagem ao socia-
pela Nomenclatura nesscs paíscs, 1'lois cla sal'rc jogar conr a hostili- lismo real nem sempre é sinônimo de submissão à sua ditadura, como
dade que os povos do Terr:eiro Mundo votarn a sctls antigos coloni- o provam as experiências chinesa, iugoslava, albanesa e noÍte-corea-
zadores e sua propensão a considerar os ocidentais como rccoloni- na. Numerosos ocidentais acham que, levando-se em conta esses
zadores em poterlcial, quer possuam colônias ou não. Bem curiosa' dados, os dirigentes soviéticos prefeririam renunciar a promover o
mente, a União Soviética, últinra potência cr:lonial do mundo, figura socialisrno nos países em que seu advento poderia não ser acompa-
do lado anticolonialista na opinião dos políticos do 'ferceiro Mundo. nhaclo dc um rcconhecimcnto de sua suseraria. Esta opinião é erra-
O desenvolvimento econônrico constitui o problema essencial da maior cla, pois partc' clo princípio clc quc a aspiração da Nomenclatura à he-
parte desses países. Neste domínio, o Ocidente thes pocleria ser de qcnronia mundial nacla mais ó do que uma vulgar fanfarronada,
muito mais valia do que a URSS, e conseqüentemente o Ocidente
q',ranclo, cle fato, ó uma neccssidade para ela, como já destacamos.
seria o aliado natural do Terceiro Mundo. Mas, a Nomenclatura
[{ii urna outra opinião que surge de tempos em tempos no Ocidente:
lançou um slogan afirmartdo o contrário, e ele foi levado a sério
seguudo ela, seria possível conter a agressividade da Nomenclaiura,
nos círculos políticos do Terceiro Mundo; eis aí um dos êxitos mais
pagandoJhe um tributo que consistiria em ajudáJa a vencer as difi
importantes de sua diplomacia e de sua propaganda, pois lhe per-
culdades que encontra tanto nos países do Leste quanto na União
mitiu ganhar o apoio sistcmático de um certo número de países do
Tercciro Mundo dentro das Naçiles Unidas e em outros organismos Soviótica. É o conteúdo da famosa "doutrina Sonnenfeld" que afir-
internacionais. A intervenção soviótica no Afeganistão provocou mava que os Estados Unidos deveriam dar mão forte aos dirigentes
uma ccrta muclança: no Terceiro Mundo, vozes começaram a se fa- sovióticos para lhes permitir estabelecer boas relações "orgânicas"
zer ouvir para denunciar a política neo-colonialista da URSS nos com os povos dos outros países do Leste. Alexander Yanov, que
países em vias de desenvolvimento. Mas, com toda a evidência, le- emigrou da URSS para os Estados Unidos, enunciou idiias bem
vará muito tempo antes que esta tomada de consciência repercuta semelhantes quando recomendou aos ocidentais apoiar a "nova clas-
sobre a política externa deste país. se" soviética.12
A Nomenclatura dá igualmente uma importância tocla particular O defeito desses raciocínios é que eles desprezam um dado fun-
aos problemas latino-americanos, e concebeu alguns proictos relati- damental: é impossível libertar-se do expansionismo e da agressivi-
vos àquela região. Ela os considera como pertenccntes i\ csfera de dade da Nomenclatura, mesmo pagando-lhe tributo, pois eles cons-
influência dos Estaccs Unidos, e se fixou como obictivo iníiltrar-se tituem as características fundamentais desta classe. Quando muito,
ali a fim de abrir uma nova frente, evitando muito scr aparthado pode-se, deixando-lhe como alimento povos e países aliados po-
em flagrante delito por Washingtcn. Cuba reprcscrtlit trnt l.rltpcl im- tenciais ganhar tempo enquanto ela está ocupada -em devorá-los
portante nesses planos. Ela esperava muitíssitno r,l«r ('hilc. Enr tr4os- - mas, quando o último prazo se esgotar, e quando se
e digeri-los;
cou, ouvia-se falar há muito tempo que o Chile, tlclglttl:r faixa de estiver à beira do abismo, não restará ,rnais nenhum aliarlo.

i66 367
de uma vida paradisíaca comparável à dos nomenclaturistas sovié-
É claro que existc uma outra linha de conduta possívcl, mas ticos.
não está nas minhas intençôes dar conselhos políticos, quaisquer que Isto significa que, entre os dirigentes dos partidos comunistas
sejam, dentro desta obra. de todos os países, não se encontram idealistas verdadeiros prontos
a se erguer contra as injustiças da sociedade moderna e a lutar pela
10. O movimento cclmunistl internacional: o instrumento da No' fclicidade do povo? Não responderei a esta pergunta de nri,r-'ira
menclatura catcgórica, mas, na União Soviética e em outros países soctalistas,
a espécie de comunistas idealistas já se extinguiu há muito tempo.
De acordo com a dctinição oficial, o movimetlto comunista in- Vivi numerosos anos na URSS, mas foi somente no Ocidente que
ternacional engloba os paíscs socialistas e os partidos comunistas dos tive ocasião de encontrar comunistas convictos, ainda que eu não
países fora deste sistema. Os ideólogos da Nomenclatura o descre- saiba se estava,Ín à frente dos PCs ocidentais. Entre os militantes de
vem "como a força política ntais influente do mundo".13 O movi- basc desses partidos há, bem entendido, muitos idealistas e indiví-
mento agrupa cerca de 90 partidos contando, no total, 50.000'000 tluos honrados; no caso de uma tomada de poder pelos comunistas,
de membros.l4 Esta visão do ,rnovimento reflete a nostalgia da No- o rlcstino que os esp€ra é o da velha guarda leninista na União So-
menclatura, saudosa da ópoca abcnçoada do monolitismo. E, entre- viúlica. Se chego a duvidar da convicção de seus chefes é porque,
tanto, este movirnento jamais foi monolítico: para dar a aparência cnlro os dirigentes comunistas que conheci em diversos países, sem-
dc uma bela unidade, devc-se esquecer piedosamente a IV Interna- l)rc ctlcontrei o mesmo devotamento em acompanhar a menor va-
cional de Trotski e a existência da Iugoslávia e de seu partido co- riaçiio da linha geral do PCUS, e a mesma paixão pelos problemas
munista. Agora, a desunião no seio do movirnento comunista inter- <lo tritica e de propaganda; as condições de vida de seus compatrio-
nacional atingiu tal grau que se vêem países governados pelos co- lirs os clcixavam indiferentes, e isto no melhor dos casos: durante
munistas em guerra entre si. Levando em conta esses dados, vamos runr aluroç<l na cantinit do lrrstituto de Ciências Sociais do C.C. do
considerar, doravante, como movimento comunista internacional o l'(ltlS, ulrr clirigcnlc clo f)KP alernão-ocidental, que ali estava fazen-
conjunto dos partidos comunistas que não estão no poder, mas cujos rkl uru cslrigio, cortfi«ru-mc, c:otn arnargura, que os operários da Re-
dirigentes são vassalos da classe dos nomenclaturistas soviéticos. priblica licilcrirl viviarn tnttito bcnr, c por isso não se prcocupavam
Este movimento reúne, certamente, menos de 9 partidos, mas t'rn lcvitl o l)ittlickt ito poclcr.
são igualmente numerosos e estão implantados em quase todos os ('lrcgrr-sc l tluvi«lrrr nrais airtcla cla convicção clos camaradas
países do mundo. Os ausentes são de países como China, Iugoslávia, «lirigcntcs do I'Cl, t;uattclo se constata com que servilismo aceitam
Albânia, que, embora dirigidos pelos partidos comunistas, rompe- Iorlos os avatarcs cla política e da ideologia soviéticas. Cantaram,
ram com os nomenclaturistas soviéticos. Os partidos deste movi- crn urríssono, loas a Stalin, depois puseram-se a desmascará-lo, antes
mento apresentam diversos graus de dependência: a maior parte deles dc, cm seguida, atacar violentamente, em coro, aqueles que acaba-
não poderia sobreviver sem o apoio da URSS, mas, por outro lado, vanr dc desmascará-lo; ficaram todos extasiados pelo heroísmo cle
grandes partidos como os PCs italiano, francês ou espanhol provêm l'it<l antes de lamentar, em conjunto, que ele nada mais era do que
suas próprias necessidades, e podem, portanto, permitir-se o luxo de o chefe de um bando fascista e um espião; reabilitaram-no depois,
um eurocomunismo, com o qual os PCs austríaco e alemão, por como um todo emocionalmente, antes de taxar de revisionista o mes-
exemplo, têm de guardar distância. De resto, eis por que a brusca mo movimento; alegraram-se quando se anunciou q.ue o advento do
mudança de linha do PCF a favor da Nomenclatura soviética foi comunismo estava previsto para 1980 na União Soviética, o que não
uma surpresa para o mundo ocidental. os impediu, de modo algum, de se felicitar agora pelo aparecimento
O que esperam os dirigentes de todos esses partidos da parte inesperaclo de um "socialismo desenvolvido", uma etapa suplemen-
dos nomenclaturistas? Inicialrnente, esperam dinheiro a fim de poder tar e de longa duração. Esta enumeração poderia prosseguir por
levar uma vida tão agradável quanto a deles; de tempos em temoos' páginas inteiras.
querem ser convidados à União Soviética ou a outros países socialis- Os dirigentes dos PCs estrangeiros são ingênuos a ponto de
tas, a fim de se beneficiarem dos privilégios que os nomenclaturistas acreditar em tudo isto sem pestanejar? Certamente que não, pois são
conseguiram arrogar-se ali; enfim, e sobretudo, desejam ardentemen- tudo, menos ingênuos, o que nos leva, pois, a concluir que seu credo
te beneficiar-se do apoio da União Soviética e tomar o poder nos ss rcsume em: sem a ajuda da Nomenclatura é impossível a um PC
seus respectivos países graças a ela para aproveitar, por seu turno,
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chegar ao poder. [:stiio firnrcmente convencidos disto, e é por este Moscou. Por isso, ouve-se, freqüentemcnte dizer; "Temos de nos
motivo que, colocando-se ao serviço dela, aceitam pagar o preço irrformar a respeito junto de nossos amigos,"
exigido pela Nomenclatura soviética. Ambicionam tornar-se os che- A palavra "amigos" é um outro termo do jargão nomenclatu-
les de nomenclaturas vassalas, o que, desde agora, faz deles os dóceis rista, designando os componentes dos PCs estrangeiros, do mesmo
fióis dos nomenclaturistas da URSS. moclo que o termo "vizinhos" designa os empregados da KGB.
Os "amigos" podem informar sobre uma quantidade de assuntos;
os contatos têm lugar em todos os escalões, e podem chegar até o
Sabemos agora por que têm necessidade de sua ajuda, mas que l'olitburo do C.C. do PCUS.
vantagens a Nomenclatura tira de sua fidelidade? Eles lhe custam Os PCs estrangeiros representam assim um papel importante:
caro (preciosas divisas gue se vão), e estes partidos, freqüentamente, lornecem à Nomenclatura informações e conselhos necessários à
nada mais são do que grupinhos que, abandonados a si mesmos, nãro tlcfirr:ção de sua política exterior. Não há problema se as infor-
teriam a mínima possibilidade de se içar ao poder um dia. Essas rrrações que transrnitem a seus suseranos nomenclaturistas não se-
despesas são rentáveis para ela?
lirrn objetivas, já que são, pelo contrário, deformadas pelo prisma
São, pelo menos sob dois pontos de vista. ttc scus próprios interesses. Com efeito, seus dirigentes se preocupam
Por um lado, a tomada do poder em escala mundial pela No- t'nr fazer sentir a que ponto são insubstitúveis, e quanto é necessá-
menclatura resultaria no desencadeamento, em todos os países, de rio clar-lhes um apoio cada vez maior. Os nomenclaturistas estão
revoluções socialistas que levariam os PCs ao governo; eles são, t'onscientes deste fenômeno, mas confiam, entretanto, em suas in-
pois, indispensáveis, e como, por isso mesmo, aspiram eles pró- Í<rrnracões, pois acham, com toda a razáo, que os interesses de
prios, à tomada do poder, a concordância de seus interesses res- Moscou e os dos dirigentes dos PCs estrangeiros são idênticos.
pectivos é manifesta. A Nomenclatura pode, pois, confiar neles. E,m resumo, estas bases avançadas são mais do que fontes de
Como exemplo desta simbiose, pode-se evocar aqueles regi- informações e de conselhos, servindo para preencher as lacunas
mes fantoches que os conquistadores levaram na sua bagagem no tlcixadas pelos dossiês elaborados pelas embaixadas soviéticas.
Afeganistão e no Camboja. A Nomenclatura os utiliza como um Em 1960, o C.C. do PCUS autorizou os serviços secretos so-
biombo para esconder a realidade da ocupação, e as marionetes vióticos a recrutar..de novo agentcs entre os militantcs dos PCs
no poder desejam, acima de tudo, que esta ocupação prossiga. cstranqeiros.ls
Por outro lado, os dirigentes comunistas estrangeiros lhe pres- Por outro lado, a existôncia dc particlos comunistas na quase
tam desde agora serviços insignes. Seria errado minimizar as van- lotalidade dos países do mundo oferece possibilidades insuspeita-
tagens que a Nomenclatura soviética tira disto: os outros países rlas aos nomenclaturistas soviéticos em matéria de propaganda: ela
Íêm apenas representações oficiais, ao passo que a União Soviética lhcs permite lançar e orquestrar campanhas internacionais. Pouco
e seus aliados dispõem, além daquelas, de seu próprio partido no irnporta que elas não tenham nenhum eco nos países em que os
lugar, ainda que fracos em certos países. Contudo, estes partidos l)Cs são particularmente fracos; os órgãos de imprensa comunistas
grúpam autóctones, que têm um conhecimento perfeito de sua pá- t1ue, através do mundo, têm tiragens de milhões de exemplares.
tria, mantêm relações constantes com as mais diversas camadas noticiam a mais insignificante das manifestações.
sociais, e podem, pois, reunir informações capitais. Além do mais, Querem. assim. dar a impressão de que os "povos do mundo"
é interessante para a URSS que suas embaixadas sejam povoadas (sempre no jargão da Nomenclatura) reivindicam o que foi deci-
de nomenclaturistas que foram selecionados em função de critérios rlido pelo C.C. do PCUS. A fim de que essas campanhas interna-
políticos, ou graças às intervenções de amigos influentes; e estes t:iorrais tenham verdadeiramente a aparôncia de movimentos de
ielizes eleitos só pensam em compÍar mercadorias estrangeiras, e rnassa espoutâneos, e quc as organizações pró-comunistas parcçam
fazer carreira, eviiando, pois, qual(uer contato com as populações rcpresentativas a clespeito de sua incondicionalidade. devem asse-
locais, sempre considerado com uma enorme suspeita pela KGB. grrrar o concurso de não comunistas. Não se trata de atrair o pas-
Contra a opinião mais largamente espalhada no Ocidente, as em- sante. mas de apresentar personalidades que pertençam, tanto
baixadas soviéticas são, por conseguinte, muito mal informadas quanto possível, a organizações que todos sabem estar longe de
sobre os países que as acolhem, uma vez que o essencial de suas compartilharem os pontos de vista dos comunistas. Em reera geral,
informações provém de jornais que se poderia muito bem ler em scu impacto crescc proporcionalmente à distância que os separa

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do comunismo, arrastando, com efeito, em seu rastro sctls próprios
partidários, além daqueles de grupos que se situam cntrc aquelas O resultado seria idêntico se, incapaz de resistir a um hábito
e os comunistas. O fluxo de curiosos criado por si mesmo, aumen- contraído há muitos anos, alguém se pusesse a exigir o fim da
tando a confiança da população quanto ao movimento. guerra suja na Indochina após a retirada amcricana do Vietname
Que métodos os PCs estrangeiros usam para alcançar seus fins? áo Sul, no momento €m que o exército norte-vietnamita começou
Este tipo de atividade constitui uma parte importante de seu tra- sua ofensiva no Sul, sem se preocupar mais com o tratado de paz,
balho, cuja responsabilidade incumbe geralmente a um membro da ou ainda quando ele ocupou o Camboja. Por outro lado, quan§o
direção do Partido. Após a tomada do poder, seu interesse por da "expediÇão punitiva" q.re os chineses lançaram contra o Viet-
essas personalidades não comunistas cai rapidamente. Para que se narn" durante a primavera de 1979, ter-se-ia toda a liberdade para
amolar, já cumpriram seu papel; os "agradecimentos" incumbem retirar aquela palavra de ordem pacifista e progressista das ga-
agora aos órgãos de segurança. Entretanto, se isto parece útil por vetas, e apregoá-la bem alto.
considerações de política cxtcrna, os dirigentes comunistas insta- O motivó dessas vicissitudes é que os sons pacifistas e demo'
lados no governo criam uma "Frente Nacional", ou uma organi- cráticos dessas palavras de ordem nada mais são do que embuste,
zação semelhante, alguns membros da qual, liberados para isso, servindo, antes ae tudo, aos inte,resses da Nomenclatura' Pof "Paz!"
declaram, com ênfase, aos hóspedes estrangeiros (dando olhares ela entende: nacla de guerras nas regiões onde corleriam o risco
inquietos para o funcionário do C.C. encarregado de vigiá-los) que, de se tornar desvantajosas. "Proibição das armas nuclearesl" ou
a despeito de seu apoio ativo à linha do P.C. em todos os pontos, da "bomba de nêutróns" significa: deslocamento da relação de
eles são não comunistas, o que nada mais é do que um disfarce. força em proveito dos países do Leste (já que a suporioridade de
A elaboração de programas "aceitáveis para todos os demo- seu armamento convenóional é incontestável); "Desarmamento!" é
sinônimo de "Desarmamento do Ocidente!" Todas essas palavras
cratas" representa um papel importante nos planos da Nomen-
clatura. Eis algumas palavras de ordem do movimento comunista de ordem só visam uma coisa: favorecer o estabelecimento da su-
premacia da Nomenclatura em escala mundial.
internacional: "Pela pazt"', "Pelo desarmamento!"; "Pela proibição
das armas nucleares!"; "Pela proibição da bomba de nêutrons!"; O que pensar dos eminentes não comunistas ocidentais que
fazem süas essas palavras de ordem? Lenin os tratava de "idiotas
e mais: "Parem com a guerra suja! Paz no Vietname!", "Retirada úteis", o socialdemocrata alemão Mommer, por seu turno, via neles
das tropas estrangeiras!" "asnos de Tróia". Todos dois não levavam em consideração a
Depois da invasão da Tchecoslováquia pelas tropas soviéticas, pureza de suas intenções, mas sua pouca clarividência. Na verdade,
este último slogan não foi mais ouvido. Foi retomado por nume- deve-se tentar aconselhá-los a meditar um instante sobre o destino
rosos não comunistas que, na sua maioria, haviam condenado a que foi reservado a seus predecessores, nos países €m que se ins-
intervenção soviética de 1968. O que é estranho é que tenham re- tàurou o socialismo real. Deveriam perguntar a si mesmos se é
nunciado a isso depois. prudente desafiar o destino e f.azer com que coíram esses riscos
Para compreender o mecanismo da elaboração dos, "progra- seus partidos, seus países e eles próprios.
mas aceitáveis para todos os democratas", é preciso realizar a se- Áté o momento. não parecem ter tido muitas dúvidas, e graças
guinte experiênôia: procure-se lançar a palavra de ordem "Abaixo a seu apoio, em torno do qual faz uma publicidade exagerada, o
os tanques, essas armas ofenstvasl" Verltlcar-se-a que, lmeolata-
ofensivas!" Verificar-se-á imediata- movinrento comunista internacional continua a organizar campa-
mente, sem aumentar o tom de início, esta reivindicação não é nhas internacionais decretadas pelo C'C. do PCUS. Nenhuma outra
atual, que é nociva, objetivamente falando, pois desvia a -atenção forc'a política L< canaz de realizar tal proeza. e sob este aspecto o
do essencial: o banimento das armas nucleares. Obstinando-se, e movimento conrunista internacional é' efetivamente, a força mais
afirmando-se que esta palavra de ordem reclama o desarmamento, rrrfluente de nossa época.
e que é justamente dos blindados que os europeus têm mais,medo, E surpreenclente que a classe dos nomenclaturistas tenha em
repiicar-se-á vociferando que aquele slogan nada mais é do que tão alta eitima o papel dos PCs estrangeiros e de seus dirigentes?
uma provocação7 que quem o propaga nada mais é do que um Não. pois eles consêguem resultados que os nomenclaturistas de
reacionário, um inimigo da détente, um partidário da guerra fria hoje não são mais cápazes de obter: sem KGB, sem campos de
e um fascista. uabalho forçado. sem mesmo o poder de privar alguém de seus
nrt-io' de suhsistôrtcia. consegrlcm, só pcla forqa da persuasão. fazer
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eles ievam vida confortável, e quando se dirigem à União Soviética
com que os integrantes de seu partido homens livrcs ou a um de seus aliados, dispõem de datchas estatais, limusines
nada mais ser do que peões manipulados - aceitem
- pela Nontcnclatttra so- com motorista, acesso ao hospital do Kremlin ou aos outros esta-
viética, e isto sem mesmo haver retribuição; pelo contrÍrio. muito belecimentos hospitalares governamentais. Os dirigentes de menos
freqüentemente, são eles que devem fazer sacrifícios. O segredo importância são alojados gratuitamente no hotel do departamento
reside na habilidade de manipular a vasta gama dos scntimentos internacional do C.C. do PCUS, situado na Rua Plotnikov, ou em
humanos: paixão, versatilidade, prejulgamentos, inveja, conformis- um estabelecimento de classe equivalente quando estão num outro
mo, conservantismo, Iealdade, submissão à autoridade da direção, país socialista. Passeiam com os queridos hóspedes através do país,
repugnância em reconhecer seus próprios erros, vergonha, medo de onde são acolhidos nas melhores casas de repouso e com estada
passar por um renegado, de ser condenado pelos camaradas, medo nas mais famosas estações termais. Além disso, recebem suntuosos
de isolamento, da ruptura com amigos comunistas. Quando se presentes. Em suma, não é unicamente o amor desinteressado gue
entra num PC, quando se vê apanhado na rede de obrigações que eles sentem pela "pátria de todos os trabalhadores" que leva os
se estende até o mais modesto dos militantes, a solução fácil con- membros permanentes dos PCs estrangeiros a se dirigir à URSS.
siste em se afinar com o diapasão da maioria, seguir docilmente A Nomenclatura soviética não é mesquinha com as recompen-
o passo, conquistar lentamente a antiguidade que faz o orgulho de sas que distribui a seus vassalos estrangeiros, mas os evita se eles
todo bom comunista, desenvolver a sensação de pertencer ao gran- se mostram indisciplinados. Sob Stalin, não se tergiversava: "Nove
de exército do comunismo internacional e a de ser um herói lu- gramas de chumbo na nuca", era a fórmula. Nas suas Memórias,
tando contra uma ordem social injusta (o que é mais fácil no os que conseguiram escapaÍ da Ejovchtchina descrevem, em deta-
Ocidente, onde não haverá repressão). É infinitamente mais difícil Ihes, as batidas e as execuções sumárias de que foram vítimas os
tirar de si os recursos necessários para se libertar do Partido, para dirigentes comunistas estrangeiros que tinham seu domicflio na Rua
suportar o ostracismo e a vinganqa do PC e de seus simpatizantes, Gorki, no Hotel Lux (o hotel do Komintern que se chama agora
além de ser acolhido no outro lado com uma extrema desconfiança, Hotel Central). Muito tempo se passou desde então, os sobrevi-
por ter sido cr:munista e, portanto, um indivíduo pouco recomen- ventes voltaram a seus países, e os nomenclaturistas empÍegam
dável. outros métodos quando têm contas a ajustar com os membros per-
O talento dos dirigentes do PC é rernunerado em espócie so- manentes estrangeiros recalcitrantes.
nante e de peso pela Nomenclatura. Recebetn subsídios confortá' Utiiizam agora uma técnica que foi oficialmente batizada de
veis do PCUS ou dos outros partidos no poder nos países do "consolidação das forças sadias". Em outras palavras, esta fór-
Leste. Estes últimos preferem, em geral, entregar tais fundos a mula significa: busca de novos rostos destinados a substituir uma
emissários, de maneira que se possa chegar à stta origem somente direção que se tornou intratável. As "forças sadias" são convoca-
através de bancos. Entretanto, o incremento das clperações inter- das a Moscou para troca de pontos de vista, durante o que lhes
nacionais dos bancos soviéticos e a abertttra de sucursais em di- prometem apoiar seus preparativos para a derrubada da antiga
versos países, permitiram outras soluÇôes. A partir de então, os equipe dirigente. O político tcheco Smrkovsky narra-nos uma en-
nomenclaturistas mandam este dinheiro pelos circuitos bancários. trevista deste tipo: Brejnev, pessoalmente, tentou convencê-lo a se
As vias usadas permanecem misteriosas, mas a fonte de financia- opor a Dubcek, fazendo-lhe compreender, com um ar importante,
mento é um segredo de polichinelo. Outrossim, a imprensa alemã que, se ele aceitasse, como convinha, ser-lhe-ia concedido o posto
ocidental não ficou indignada, e chegou mesmo a rir bastante, de Primeiro-Secretário do P.C. tcheco.16 Smrkovsky declinou da
quando se descobriu que, de todos os partidos alemães, era o PC oferta, mas houve outros para aceitá-la: os atuais dirigentes tche-
local (DKP) cple pod'a gabar-se de ter em seu orçamento a cos. Por vezes, são as próprias "forças sadias" que tomam a ini-
rubrica "donativos" mais gorda, ultrapassahdo, neste setor, o ciativa. Em Moscou, conta-se que Jeannette Vermeersch, viúva de
CDU/CSU que ele qualifica, entretanto, de "principal partido dos Maurice Thorez, apareceu certo dia no C.C. do PCUS, para ali
monopólios e do grande capital alemão ocidental". Ninguóm iqnora dar livre curso à indignação que sentia diante da "linha revisionis-
que os misteriosos nrantenedores do DKP pertencem ao C.C. do ta" do PCF, e se propor como "força sadia".
SED (Partido Socialista Unificado alemão-oriental). A "consolidação das forças sadias" serviu mais de uma vez:
Os dirigentes dos PCs estrangeiros são vassalos generosamente em 1956, quando a Revolução Húngara causava grandes estragos,
retribuídos pela Nomenclatura. Nos seus respectivos paíscs, todos
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foi Kadar quem tomou a frente dessas forÇas; em 1969, na Áustria,
foi Friedl Fürnberg, antigo integrante do Komintern, Secretário- rrrcrrclrrlurl clcsacreditou para sempre o "socialismo real" como mo-
Geral do PC austríaco durante longos anos, que falava tão bem rltlo rr scr scguido: os partidos comunistas, à cata de um apoio,
o russo quanto o alemão, quem foi chamado para cristalizat as r;rrn nrio scja somente o do Comitê Ccntral do PCUS, mas também
"forças sadias", mas, tendo em vista sua veneranda idade, a pre- o rk» clcitorcs, se vêem obrigados a se livrar deste modelo, o em
sidência do Partido foi entregue a Franz Muhri, que rapidamente pnrliculnr da ditadura da Nomenclatura, dissimulada sob a aparên-
revisou suas posições. O método foi também aplicado à Espanha, ('nl (hl "ditadura do proletariado". As teorias leninistas, segundo
e levou à criação de um partido pró-soviético, presidido por Lister, rur rlrrris a "diatadura do proletariado" seria mais dernocrática do
que se opõe à direção eurocomunista do PCE. É provát'el que a rlrre rpralcprer outro tipo de república parlamentar, pcrderam seu
Nomenclatura tenha recorrido muitas vezes a este procedimento porlcr rlc atração. Os eurocomunistas preferem, pois, declarar que
para reduzir à sujeição seus vassalos do movimento comunista lrrrlrrs «rs clireitos e liberdades, de que gozam seus concidadãos, se-
internacional. rlrrrr rriio somente integralmente conservados, no caso do triunfo
Este movimento éo instrumento, com a ajuda do qual, ela rkr curocomunismo, mas também aumentaclos pela introdução de
espera concretizar sua aspiração à hegemonia mundial. O instru- rhrcitos novos em matéria social.
mento tem algo de velho, e está debilitado, mas continua a prestar O eurocomunismo não seria, pois, nada mais do que uma
apreciáveis serviços. lítica destinada a captar os votos dos eleitores? Os ocidentais de-
Podem reprovar-me por ter torcido as coisas a favor daqueles riludi«los, que se fazem esta pergunta, parecem não ter apreendido
que se acostumou a chamar de "antrcomunlstas
"anticomunistas pflmÚrvos",
primitivos" em lorlrr a amplidão da mutação política que recobre a tâtica dos eu-
lisonjeira) dos par-
virtude desta descrição (reconheçamo-la pouco llsonJefa) rrrcornunistas.
tidos comunistas ortodoxos? Certamente que não, pois acho que Os eurocomunistas, certamente, são comunistas. Eles próprios
é uma ótima idéia a de uma sociedade comunista sem classes, que <lcslacam as diferenças fundamentais que os separam dos socialde-
seria uma livre associação de produtores de bens materiais e espi- nrocratas. Mas eles se distinguem também dos partidos ortodoxos.
rituais livres de qualquer exploração. Mas, os nomenclaturistas e l,lstcs últimos têm um desprezo todo leninista pelo "cretinismo par-
seus acólitos estrangeiros só têm de comum com ela a terminologia lumentar" e só buscam nos parlamentos "tribunas legais" para
das profissões de fé mentirosas que marcam a edificação assídua grodcr promover a agitação política. Na verdade, a larefa principal
de sua hegemonia. «los partidos ortodoxos consiste, segundo sua própria confissão, em
A sociedade que construíram está em oposição ainda mais fla- prcparar o "exército político da revolução". Ele deverá estar pÍonto
-e o iistema capitalista com o ideal quando surgir uma verdadeira "situação revolucionária" (combi-
grante do que comunista; esta é
ã verdade, jâ é mais do que tempo para entendê-la. O verda- nando os seguintes fatores: fraqueza do poder, crise econômica
deiro anticomúnista não é o crítico do regime nomenclaturista, é aguda acometendo o povo em seu nível de vida, descontentamento
a ortodoxia dos partidos comunistas vassalos do Kremlin. «la população). Poder-se-á, então, dar o salto que levará ao poder.
Que papel repÍesentam os partidos ditos eurocomunistas? É este trabalho de preparação das tropas quo constitui a mais clara
É conveniente, antes de mais nada, notar que a expressão "eu- das preocupações de todos os PCs ortodoxos. Ora, isto, atualmente,
rocomunismo" é suscetível de induzir em erro. Os PCs da Europa é muito difícil. Eis por que os quadros desses partidos repousam
estão longe de ser todos "eurocomunistas". Por outro lado, deve-se suas esperanças na ajuda da Nomenclatura soviética, pois só ela
incluir neste número os PCs australiano e japonês. Seria mais exato lhes permitirá, nas condições atuais, conquistar o poder. Os qua-
denominar o eurocomunismo de "comunismo democrático" ou dros dos partidos eurocomunistas não r€pousam suas esperanças
"democomunismo". Tal denominação parecia mesmo que se im- no avanço vitorioso das divisões soviéticas, mas (como todos os
poria, mas, contudo, os eurocomunistas a rejeitaram, o que ilustra, partidos normais) nos sufrágios dos eleitores. Estão prontos para
mais uma yez, o carâter híbrido do eurocomunismo, que jamais consegui-los, repudiando o modelo dito do "socialismo real"; sa-
afirma nada senão pela metade. bem perfeitamente que despertarão assim o descontentamento e a
Objetivamente falando, o eurocomunismo nada mais é do que côlera da Nomenclatura soviética. O eurocomunismo, se bem que
um Íamo, entre outros, oriundo do mais ortodoxo movimento co' seja um ramo saído do tronco do comunismo ortodoxo, poderia,
munista internacional. A classe representada pelos homens da No- entretanto, ser independente deste tronco. Entretanto, esta secessão
parece ambígua. Toda uma série de fatores impede os eurocomu-
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vorável à União Soviética equivaleria, aos olhos da Nomenclatura,
nistas de se libertarem mais nitidamente. Os partidos eurocomu-
nistas de hoje só o são há. pouco, e a quase totalidade de seus
a uma finlandização dos países em questão.
membros foi educada num espírito de veneração ortodoxa ao "mo- Sim, mas a finlandização significa uma dependência do país
delo soviético". Diante de tal estado de espírito, é sempre possível para com a Nomenclatura soviética, certamente menor do que o
que se constitua, tanto no cume quanto na base, a famosa "conso- cstatuto de "democracia popular", ainda que sensível. Ora, sabe-se
lidação das forças sadias". Em segundo lugar, é hábito no Oci- (lue a Nomenclatura acerta suas contas impiedosamente com os
dente dar prova, no que se refere ao eurocomunismo, de muita "revisionistas" que têm a desgraça de se encontrar sob sua depen-
desconfiançâ e cepticismo, e os eurocomunistas se vêem privados dência: Iembrem-se do destino de Imre Nagy e de seus partidários,
do apoio eventuaf de numerosos setores da população sociologica- ou ainda o de Dubcek e dos seus. Na verdade, se há no euroco-
mente influentes. munismo um aspecto verdadeiramente misterioso, é justamente este
Nessas condições, os partidos eurocomunistas permanecem li- desconhecido que pesará sobre o destino dos dirigentes eurocomu-
gados à Nomenclatura soviética, e isto sob dois aspectos: o pri- nistas após sua vitória, e a maneira pela qual se apresentam diante
meiro, psicológico, e é, sem dúvida, o mais importante; depois, o cleste destino, quando colocarem seu país sob
o tacão dos senhores
material, ainda que este laço se revista das mais diversas formas. rla Nomenclatura soviética. Sabem muito bem que nem a volta à
Os dirigentes eurocomunistas não querem privar-se do apoio da ortodoxia nem os atos de contrição cheios de humildade permitirão
URSS, grande potência mundial, sabendo que o Ocidente não Í'ugir do acerto de contas. Os expurgos stalinistas demonstraram,
os ajudará a tomar o poder. com muita eloqüência, que a Nomenclatura não esquece nem per-
Estão aí, visivelrnente, os diferentes elementos que permitem doa jamais a menor falta venial cometida num passado mesmo
verificar a ambigiiidade e o ilogismo aparente dos eurocomunistas Iongínquo. Quando chegou a hora, reprovou-se aos oponentes arre-
no que se refere à natureza de suas relações com a Nomenclatura pcndidos tucio o que fizeram anteriormente, e seu arrependimento,
soviética. Assim, a despeito do fato de que os eurocomunistas não sua desistência de oposição foram colsiderados como engodos hi-
param de sublinhar que o socialismo é impensável sem a democra- pócr,tas. Todos foram liquidaclos.
ôia e não obstantê sua confissão de que a democracia vai mal
- se arriscam a tirar daí a única con- Os dirigentes dos partidos eurocomuuistas se eucontram hoje
na União Soviética
clusão que se impõe: - não
não há socialismo na URSS. Em lugar colocados diante desta escolha: <tu retrtmar para o seio da orto-
disso, os eurocomunistas saem por desvios: na URSS estaríamos doxia moscovita, e aí encontrar um apoio, e esperar melancolica-
nrente a hora de seu castigo: ou ir avante no caminho que thes
diante de um tipo primitivo de socialismo. Ou melhor ainda: há
permita passar do estado de vassalos da Nomenclatura soviética
tantos socialismos quantos países diferentes (se fossem lógicos con-
para o de dirigentes de partidos marxistas nacionais e independen-
sigó mesmos, diriam a mesma coisa do capitalismo, o que não é o
caso). É por isto que os dirigentes eurocomunistas adotaram uma tcs. As democracias parlamentares comDreendem as mais diversas
linha de compromisso com a Nomenclatura soviética. O que coÍlta, formações políticas, e não se proíbe a ninguém ser marxista. A
para os eleitores dos países €m que os partidos eurocomunistas se maior parte dos ocidentais desconfia dos eurocomr.rnistas não por-
apresentam nas eleições populares, são, antes de tudo, as questões que seiam marxistas, mas porque correm o risco cle se encastelar
de política interna, ao passo que os dirigentes soviéticos se inte- como corpos estranhos no Ocidente, como metástases da Nomen-
ressam, antes de mais nada, pela política externa dos países em clatura soviética.
questão. Os partidos eurocomunistas apóiam, pois, a linha externa Cada um dos particlos eurocomunistas será Ievado a realizar
da Nomenclatura soviética, contentando-se em emitir Íeservas nos uma escolha entre aquelas duas hipóteses, nunt futuro bem pró-
casos de agressão e de expansão verdadeiramente múto flagrantes. ximo.
O compromisso se revelou aceitável para a Nomenclatura,
cujas críticas ao eurocomunismo não têm relação com os ataques
da União Soviética aos comunistas iugoslavos, ou suas diatribes IJ. A caminho rle uma guerr,t mundial?
atuais contra o PC chinês. A despeito de uma opinião muito di-
fundida no Ocidente, a URSS desejaria ver os eurocomunistas A história deste século nos ensinou que a megalomania plane-
tomarem o poder. Sua vontade de adotar uma política externa fa- (l'rria leva à guerra e não à hegemonia mundial. Diante destà evi-

378 379
Não há nenhum motivo em colocar em dúvida a intenção,
nmitas vezes repetida pela Nomenclatura, de instaurar o socialis-
dência, certos meios ocidentais procuram, o que é bem compreen-
sível, dissimular os riscos de guerra minimizando os apetites hege-
lnrl real no mundo inteiro.
mônicos da Nomenclatura. Gosto de selecionar as lembranças que guardei de minha longa
rrtividade profissional na União Soviética, e uão acho nenhuma
Quando me encontrava numa capital ocidental, um eminente (luc me leve a duvidar da seriedade das aspirações da Nomencla-
representante do mundo dos negócios declarou-me que, em sua
opirião, não entrava nas intenções dos dirigentes soviéticos. esten- Iura à hegernonia mundial. Pelo contrário, a maneira de ser dos
dàr sua supremacia aos países da Europa Ocidental. Meu interlo- nourenclaturistas, suas conversas, seu comportamento, seus racio-
cutor passára cinco dias-em Moscou. Sua argumentação era sim- círrios são reveladores de suas intenções que thes parecem perfei-
ples e irrefutável: o governo soviético se compõe de pessoas pru- larnente naturais.
dentes (aprovei); os produtos à disposição da população soviética Estas intenções são particularmente perigosas porque têm uma
são raros^ e de baixa- qualidade (aprovei); clarividente como é, a tlirrârnica própria, que arrisca desencadear um ciclone geopolítico
(luc a Nomenclatura não deseja. Ora, assim como os indivíduos,
equipe dirigente soviética não pode ignorar que ali está trma con-
seqü-ência da fraca produtividade da economia socialista (aprovei), ls classes podem ver-se em situações inextricár,eis.
e (ue se ela tentasse implantar seu sistema no Ocidente, este de- Pelo seu encarniçarnento na perseguição deste objetivo, a No-
senvolveria ali condições de produção idênticas, o que não yermi- rnenclatura se vê envolvida, no plano internacional, em uma en-
tiria, portanto, melhorar o abastecimento da população soviética flronageni, arriscando-se a ter muito trabalho em se safar indene
graças à exportação de capitais e créditos ocidentais (aprovei). dcla. Julgue-se pelo que se segue:
;Veja você", disse ele à guisa de conclusão, "como eles próprios l. Sua megalomania violenta provocou o isolamento da URSS.
o afirmam, o alvo dos dirigentes soviéticos consiste em elevar o Com que aliados pode ela contar hoje? Os países do Leste são, é
nível dos abastecimentos, e conseqüentemente não podem desejar ccrto, países dependentes, mas não se os pode considerar como
vcrcladeiros aliados: a Tchecoslováquia, a Romênia, a Iugoslávia,
a transposição de seu sistema para o Ocidente, o que faz com rt Albânia demonstraram que a Nomenclatura deve manter tropas
que nuda tenhamos a temer." Este foi o único ponto sobre -o qual
clc ocupação em um país socialista para asscgurar sua lealdade.
áão concordei. Para entender por que este raciocínio, lógico em A República Popular da China, a ex-aliada privilegiada, é agora
si, é enganador, é preciso ter vivido mais de cinco dias na União o mais temível inimigo da Nomenclatura soviética. No Ocidente,
Soviética. rr euforia suscitada no início dos anos 70 pela distensão baixog,
Os fatos, infelizmente, são de uma extrema gravidade, e não cstando reduzida agora a afabilidades políticas. Os nomenclaturis-
se podo ignorar que: las acreditam, bem entendido, que este isolamento não pode ser
1. Não contente de preservar o império colonial da Rússia scnão a conseqüência de um "cerco", mas, na verdade. rrada mais
tzarista, a Nomenclatura aumentou consideravelmente seu território. ú do que a seqüência lógica de sua política hegemônica.
2. F;la tomou o controle de toda uma série de países na Eu- 2. A relação de força geopolítica deslocou-se, no curso dos
ropa, na Ásia, na África e na América. anos 60 e 70, em detrimento da Nomenclatura. Ela procura dis-
3. Ela tenta, com todas as snas forças, estender sua supre- farçar aumentando maciçamente seus armamentos, e se Iançando
macia a todos os países da Europa e do Oriente Próximo, assim cm operações militares no Terceiro Mundo; proceclendo assim, pro-
como a novas regiões da África e da Ásia. voca irrevitavelmente novas reações de defesa, que só faz com que
4. Rivaliza incansavelmente com os Estados unidos em todos aunrente seu isolamento.
os domínios, a fim cle minar suas posições no mundo (irlclusive na 3. Levando-se em conta esses elementos, ela só vê salvação
América Latina) numa submissão política da Europa Ocidental, cuja primeira fase
5. Financia e teleguia os partidos comunistas tle quase todos rcvestiria a forma de uma "finlandização". Espera com isso:
os países do mundo, reforça seus vassalos, e os prepara para a a) a asfixia da oposição interna, a resignação dos países do
to*ãda do poder em seus países respectivos' Leste.
6. Trava um combate inexorável com os PCs, no poder ou b) o saneamento radical das economias socialistas, e o desa-
não, que não estejam dispostos a fazer de seus países satélites de piirecimento da ameaça de uma segunda frente, política ou militar,
Moscou.
381

-184
no conflito que a opõe à República Popular da china. Esta última país não é função de suas visões expans.ionistas, mas da libe.dade
.t,.nt"uflOuOÉ poderia levar os dirigentei chineses a voltarem atrás, ô das boas condições de vida de seus habitantes.
e a restabelecêrem um eixo Moscou-Pequim' Os nomenclaturistas podem falar de grande'za, ellquanto se
Conseguidos estes pontos, nada mais restaria à Nomenclatura virem na obrigação de rnanter suas fronteiras hermeticamente fe-
do que aõediar e depôis conquistar. a "fortaleza americana" para c:hadas, a fim-de evitar que seus concidadãos fujam, etrquanto o
coloôar o ponto finai em seu§ desejos hegemônicos'^ Eis. .pgt .ql: mundo inteiro sabe que a população soviética é privada de liber-
ela concenira todos os seus esforços na Europa' A dlstrlbulçao dade e vive em condições difíceis?
as orientações
leográfica das tropas soviéticas revela claramente Qual é o maior: o Japão militarista dos anos 30 e 40
ou o
do Kremlin: os efetivos reunidos nas fronteiras da Eu- se viver
fiofiii.rt atualf Perguntem aos alemães ocidentais desejariam na
iopa Ocidental são três vezes superiores- aos que a Nomenclatura pseudogranãeza do Terceiro Reich. Não se poderia falar da gran-
ã.'rto.ou para a fronteira do Extremo Oriente, quando tudo evi- ãcza Aã um país cuja classe dirigente aspira à. tregemonia mundial,
-que
dencia quã u u*.uça militar, se há ameaça militar, encontra-se lá' pois é um o|letivo vai de éncontro eos iuteresses bem arrai-
Os dirigentes soviéticos são muito mal informados sobre o Ociden- gados de sua população.
te; sofrãm a influência de sua própria propaganda, e tecebem ' A tentativà àor -n**"oclaturistas está votada ao fracasso. A
apenas informações tendenciosas, por vezes até erradas, das dire- história já está rica de vários candidatos à hegemonia mundial:
çàes dos PCs ocidentais. Como Hitler em seu
tempo, contam com Alexandie, o Grande, Átila, Gengis Khan, Napoleão, Hitler ' ' '
á espírito de conciliação dos governos ocidentais, e estão conven- Todos fracassaram, todos fracassarão, e à Nomenclatura como os
cidos de que estes náo estão à altura de combater e capitularão. outros.
Como Hitler, arriscam, sem se dar conta, ultrapassar a medida' e
mergulhar o mundo em uma nova guerra mundial' sem o ter que-
rido.
Já dissemos que não é a guerra, mas a vitória o que deseja
a Nomenciatura. ora, o caminho que leva a esta vitória atravessa
a fronteira que separa a guerra da paz, e ela arrisca, pois, desen-
cadear uma nova conflagração planetária.
A relação de força global não permite aos nomenclaturistas
se iludirem sobre suas chánces de vitória, mas eles sempre desta-
cam as "contradições imperialistas" e as "forças pacíficas e realis-
tas", em uma palavru, ,i dita.rrsões entre ocidentais, o derrotismo
e o egoísmo Entregam-se a um cálculo ousado, que se re-
-errado cego.
velou p^ã Hitl"., mas, quando este tomou consciência dele,
o ponto de não retorno já tinhà sido atingido, e a guerra.mundial
devastava tudo. Para qré u história não se repita, é preciso deter
a Nomenclatura antes que seja tarde demais'
Pode-seafirmar,paraalíviodosnomenclaturistas,queelessão
r erdacleiros patr iotas.. que a grandeza da URSS reside
nos su-
cessos que ela colhe no camiriho que leva à hegemonia mundial'
. qr.r. "1., agem verdadeiramente no interesse de sua população?
E isto qre eies procuram sugerir a seus súditos'
embr aguez chauvinista e hegemônica pode .fazer. virar as
A
cabeças, . n'to], de um cidadão soviético já se deixou- levar PoÍ
isso, embora nào seja a maioria, longe disso' pois o homem de
nosso tempo tenl geralmente consciência de que a grandeza de seu

-)ô-1 383
VIII. UMA CLASSE, PARASIT'ÁRIA.
NOTAS

1. Lenin, Obras, Éditions Sociales, t. 33, pág. 268.


a Winston Churchill, The Second lYorld War (Á Segunda Guerra Mun-
iliat), t. 6, I-ondres, 1954, pág. 533.
3. Marx e Engels, Obros, l. 9, pâ9. 17.
4. Ibíd., pâe. 115-116.
5. Ibid., pâe. 235.
6. Lenin, Obras, Éditions Sociales, t. 23, p6g. 44-
7. Lenin, Cartas, t. 6, pâg, 254.
8. Stalin, Obras, l, 6, pâg. 45. Lutamos conlrf, o Tz,ar e suil Catle,
9. Vladlen Kumetsov, Internationole Entspannungspolítik. Aus santjetischer Contra tad.crs os inimigos agrupaCos à volta.
SÍclrr, Viena, 1973. Eles, nossos dirigenles, e$cadat ,le g!ória.
10. Michael Voslensky: Friedliche Koexistenz aus sowejetischer Síct. Int Conduziram+ros b vitória lotal.
Osteuropa, 1973 (A coexistência pacífica, ponto de vista soviético).
Ejusdem: Klassenkatnpf, Kalter Krteg, Krüteverhôltnis Koexistenz. In: Para nós, o trabalho nas ltndíções e nas minas,
Osteuropa (Luta de classes, guerra fria, relaçáo de força, coexistência). Em lutu de cíasse püra combsler o parítsrti.
Ejusdem: Die DDR unil frieilliche Koexistenz. In: Deutrchland-Árchív,
1975 (A RDA e a coexistência pacífica). Do lundo .lL silo.s límitstnes pretas
11. Lenin, Obros, Éditions Sociales, Í. 27, pâ9. 275, Eies n.os convoca$, à vitória rotal-
12. A. Yanov, Detente alter Brejnevz The domestic roots ol Soviet Foreign
policy. Berkeley, 19i7. Nem se Íaz idéiu do que ltabalhanos!
13. Die kommunistische W'eltbewegung. Abriss iler Strategie urul Taktík. Sem descattso, ilem sono, seln conter nem beber,
Frar'cfurtn 1973, pâ9, 9, (O movimento comunista internacional, Estra- E etes? Trcscatn seus carros Foblecias (Á Vitcrias
tégla e táÍica). Volsas
14. Ibíd., pâe. 42. tqor
15. The Penkovsky Papers, Nova York, 1965, pág. 81.
t6. Koiltinent (edição alemã). n.' 5. pág. 271, 316. E, em. segttitla, os Volgas pelos granCes ZlMs
E depois os Zllls pelos maiores Tthalkas
E, em seguida, os Tckaikas pelos tnaioles 'lILs.
Estatnos velhos agora, nossos cabelos estãa grisalhot.
Trabalho e ladiea têm sido nossa ':ida-
Estamos esgotados, ilnguém nos inveia.
.,.Caviar e champanha, Fazem um discutso?
Outra vez? Sempre ,iíória íoíú1"1
A. Galitch: Kogda ia i'ernus.

O capltulo final desta obra é consagrado ao parasitismo e à


moral di classe da Nomenclatura. Estes dois problem⧠se des-
tacam nitidamente dos temas abordados nos catr!ítulüs precedentes'
O caráter antagônico da sociedade no socialismo real, a gênese da
385
384
NomenclatuÍa, sua dominação, sua prática da exploração, seus pri- Lenin não estava, pois, errado, em ver em todo monopólio,
vilégios, sua política interna e externa: eis realidades concretas, e não apenas no monopólio capitalista, a causa principal do pu-
fáceis de localizar. A questão a ser abordada no presente capítulo rasitismo da ciasse dominante. O grau de degenerescência depende
sê-lo-á de maneira diferente, pois teremos de apelar para catego- clo volume do monopólio: quanto mais este monopólio se estende,
rias que, é certo, se manifestarn claramente na realidade, mas cuja rrrais a'concorrência-ê f.raca quer se trate de uma concorrência
descrição teórica teria algo de esquernático. O leitor encontrará, -
cconômica, política ou ideológica e sente dificuldades em atacar
pois, aqui, após uma introdução teórica, urna descrição, apoiada este monopólio, mais se
-'
acentuando a degenerescência parasitária
ern exernplos concretos, da Nomenclatura, tal como se apresenta da classe ãominante, sua transformação em uma casta esclerosada
a nós. O leitor, que jamais viu um nomenclaturista, fará, assimr que pesa sobre a sociedade, rouba-lhe sua substância, sem nada
uma idéia mais viva dessa classe
- de
ética, de sua natureza profunda. Deste
seu parasitismo, de sua
modo, gostaríamos de quo
lhe oferecer em troca.
Notam-se claramente no sistema capitalista sinais de parasi"
nos perdoasse pela liberdade que tomaremos. tismo. Mas, neste caso, trata-se de grupos industriais muito po-
tlerosos e não verdadeiros monopólios: a concorrência é, de fato,
mantida. Na sociedade capitalista atual, o parasitismo se manifesta
X.. À l{omenelatura tornou-se parasitária sob o aspecto de uma "tendência à estagnação e à putrefação, pró-
pria de todo monopólio".2
I.{o capílulo I deste livro foi citada a definição marxista de O problema é outro no seio do socialismo real, onde nada
classes. De fato, não deveria existir classe parasitária, pois cada csoapa ão monopólio da l{omenclatura. A classe nomenclaturista
classe ocupa um lugar definido no pÍocesso de produção social,
abafà, no nascedóuro, qualquer tentativa de acusar seu monopólio:
representando aí um certo papel. Uma classe torna-se parasitária
parasitismo e estagnação podem, pois, instalar-se nela à vontade'
desde o instante em que sua rentabilidade social diminui: esta
Retomando o esquema de Lenin, pode-se dizer que, como cla§se,
ciasse cc.rr:eça a cusiar mais à sociedado do que ela lhe rende. O
proÇesso se manifesta em dois níveis: os privilégios da classe à a Nomenclatura já foi muito mais longê do que o capitalismo no
t*ldón,;ia parasitária, quer dizer, a parte que ela s€ outorga do pro- caminho da degenerescência parasitária, ainda que, historicamente,
iiulo nacional coÍneça a aumenar, enquanto, simultaneamente, seu aparecimento tenha ocorrido mais tarde.
[:aixa o nível de sua própria contribuição para este produto. O E de fato: por que a Nomenclatura trabalhariâ? É uma classe
gran !:e-rú da lentabilidade social se situa no ponto de interseção de exploradores,
-
cujo nível de vida está assegurado graças ao tra-
balho dos outros. Como goza do monopólio da aliciação, tem à
;ir: rioi:r vsiútrt§. Se bern que se trate aí de fenômenos sociais com- sua disposição milhões de pessoas que controlam, em seu lugar,
ple,i,:s, cste esqucma, de aparência rnais geométrica, mantém todo
o processo de produção. A atmosfera de intimidação que ela man-
c seu valor.
tém na população, graças a uma gigantesca máquina policial, lhe
Por qr:e a Nornenclatura manifesta esta tendência ao parasi- permite exercer sua ditadura e fazer quase tudo no domínio da
tlr,xlo? FJão invoquemos aqui esta ou aquela falta de ardor no tra- política interna. Não ocorre o mesmo no domínio da política ex-
lr;:li,{r: <"rl ir*menclaturistas são, em regra geral, pessoas ativas. terna, e a Nomenclatura sabe que tem ainda muito a fazer nesse
;Lqri*iti p*rasitismo é cle origem social: decorre da posição de campo. Tudo o que faz a Nomenclatura é feito no seu interesse e
ciasse da i,{omenclatura. não no interesse da sociedade. Gozando de um poder ilimitado
Fde. origeru das tenrÍências parasitárias de uma classe domi- nos domínios político, econômico e ideológico, a Nomenclatura
ü&ille, *uccntra-se uma situaÇão de monopólio desta classe. conseguiu erguer tais defesas, e se isolar tão bem da população
l-inin escreveu em C Imperialisrno, Estágio Supremo do Ca- que, simplesmente, não tem mais necessidade de fazer a que quer
y;itr;listtw: "Entretanto, como todo monopólio, ele engendra inelu- que seja em favor da sociedade para permanecer no comando:
taveln-rcnte uma tendência à estagnação e à putrefação. Na medirÍa basta-lhe o mecanismo da ditadura.
em qus se cstatrelecem. ainria que momentaneamente, preços de Toda classe social defende seus próprios interesses, não existem
riiünopólio, isto faz desaparecer, até um certo ponto, os estimulan- classes. altruístas. Mas, uma classc dominante, cujo monopólio não
ics do proÊr€sscr técníco e, em seguida, de qualquer outro pro- ó total, deve, em troca de sua posição de poder, conceder algumas
greÍi5()."1 contrapartidas às outras classes. Mesmo isto é agora praticamente

J86 387
inútil para a l.{omenclatur,a, e i:rs aí a raeão prcfuilda de sua ra-
pida degenelescência parasitária. Pode-se admitir que, sem a Nomenclaturâ" a indústria pesada
' Ora-, esta ditadurã da Nomençlatura custa caro à URSS' soviética não teria atingido sert nívei atua!. Certarnente que se po-
De um ponto cie vista histtiricoo ltouve, de início, esPantosa§ dcria, durante o mesmo tempo, produztr mais bens de consumo,
peroas- üdu. humanas, perdas Ê't'!as quais a I'iorneneÍatura é fazer progredir a indústria leve e a indústria agroalimentícia. Mas,
"*
iesponsável. Ct Frotessnr I. À. Ktrrgarov-caicuiou a diferença enlie cm si mesmo, o estabelecimento de uma indústria pesada é uma
u ôifru tetirica da população, corrêsponriente a ulra evoir'lção de* boa coisa.
Àográfica normal, ê ôs ,ín reais, pàra o periodo i917-1959: Esta industrialização forçada nãcl constituiu um finn em
"ros
,ouÍiou-^ rnr 110 urilhiics de ailnas. Tai é o tributo em vidas si mesmo para a Nomenclatura. Foi para ela apenas uma etapa
hurnanas gue o país teve dr: pagar à cftadura da I'{omenclatr.lra. incvitável antes da preparação de uma indústria de armamentos.
Mais da metacle à"ssas vítimas sào pesiiols que fcram assassinadas, Se o poderio militar soviético atual é o que é, deve-o, com efeito,
executadas, aniquilaclas nos campos de concentração ou que mÔr- à Nomenclatura. Seria excelente se houvesse uma ameaça real de
reram dc fome.3 agressão contra a URSS. Inútil no caso conffário.
No preço a pagar está também a pobteza da,população' É a O balanço é indiscutivelmente positivo em alguns pontos: a
conseqüênciã Oa ãxptoraçâo, da incapacidade da Nomenclatura em lnoradia e os transportes são pouco custosos; a assistência médica
desenvolver a ec,:nomia do país, e adaptá-la às necessidades de seus ó gratuita; construíram casas de repouso; livros, jornais, ingressos
habitantes, em lugar de pensar unicamente em seus interesses de de teatro, cinema e concertos são igualmente baratos. Todas estas
classe. vantagens não representam, como já vimos, senão a contrapartida
I.{o preço a pagar, há, em seguida, este acréscimo contínuo do do fato de que o trabalho é mal remunerado. Do contrário, po-
consumo da Nomenclatura. E aí, não fazemos menção somente aos der-se-ia felicitar.
i"pá.to, gastronômicos e às datchas oficiais, mas, sobretudo, às As coisas também não andam mal no que se refere à pes-
,ãteriur-f,rimas e à força de trabalho dissipadas em proveito de quisa científica, apesar de suas estruturas burocráücas e pouco Íen-
interesses da classe: àquela enorme máquina de guerra, àquele
apa-
que nos leva táveis. O ensino soviético se poÍta bem, ainda que os estudantes
relho policial e ideol,ógico, àquele expansionismo soviéticos não tenham, verdadeiramente, uma vida fácil,
além das fronteiras. Os resultados obtidos são bastante mais significativos nas re-
No preço a pagar, enfim, a liquidação da liberdade, o sufoca- giões pouco desenvolvidas do que nas regiões já desenvolvidas da
mento de quatqrier" for*u de per.u-ento independente, o freio União.
ãforto às trbcas intelectuais natúrais entre cidadãos de um mosmo Podem-se apontar diferenças no que se refere a certas soluções
pàí* ou às trocas com o exterior. Dir-se-á que le trata,.neste caso' adotadas pela Nomenclatura. Existe, por exemplo, la IJRSS, um
àe elementos aparentemente bastante abstratos, imateriais. De fato, desemprego latente, que se opõe ao desemprego aparente dos países
o dano sofrido'por causa disso, pela sociedade soviética,istose situa
no plano intelectual. E apa- ocidentais. Uma tal fórmula apresenta, é certo, algumas vantagens,
tanto no plano haterial quanto
mas permite também manter os salários a um nível baixo, e au-
rece de úneira particulaimente nítidà ao nível das ciências e das mentar, portanto, a taxa de exploração. Poder-se-ia também apro-
técnicas.
var as tentativas da Nomenclatura para fazer cessar certas infra-
O jogo combinado desses fatores impediu a Rússia pós--tzarista ções à moral pública, se o efeito obtido tivesse relação com os re-
de se üni-r ao grupo de países altamente industrializados. Nem os sultados negativos, nesta matéria, da filosofia bastante laxista de
de uma poderosa
iíoii"i i"roluci"onàrios, ,irn o desenvolvimento de.que, sob o rei- Lenin e dos golpes que ele aplicou à religião. Há uma semelhança
indústria de armamentos podem mascaÍar o fato espantosa que se constata entre esta atitude da Nomenclatura e
nado da Nomenclatura, ã URSS continua um país, social e po-
A fatura é pesada, sobretudo P{ra uma as tentativas de Hitler para impor uma imagem "sadia e intacta"
iiti"u-"nt" atrasado. seu handicap do nacional-socialismo.
n"iaà, cujo problema essencial consisie em sobrepujar
histórico.
Eis aí quase tudo o que se poderia levar ao crédito da No-
deste domínio da No- menclatura, o que não é desprezível. Mas isto não contrabalança
Que benefício tem, pois, o país retirado os milhões de vítimas, a pobreza, a opressão, a manutenção de
menclatura?
uma condição de país atrasado.
388
389
do Estado analisam os mesmos problemas sob a óptica do Estado:
Bem entendido, a união soviética tem-se defrontado, como rrir realidade, o mesmo trabalho é feito duas vezes. O que significa,
outrÃ- paises, com dificuldacles objeÍ.ivas. Mas, no Ocidente, há a rta prática, qne duas pessoas se dedicam a cle. uma na seção do
(1.C., a outra no ministério, a começar pelo chefe de departamen-
tenclê,cia a exagerar essas 6ificuldades. Quantas vezes ouvi pessoas
rne dizerem: "Não se pode comparar a Rússia com os países to e o ministro.
ocidenta's. A Rússia ,.úpt" foi um país pobre!" Era. também o Na verdade, os rcsponsáveis não fazem, elcs rnesmos, o tra-
que eu acreditava vivia lá. Maí, depois, vi os países balho, e chegamos, por este caminho, à segunda forma de parasi-
- tisrno organizado no seio da Nomenclatura. Cada nomenclaturista
ócidentais, países quui" desprovidos de riquezas -naturais, cuja
"nquunto
economia, entretantq é floresôente. Compreendi, então, uma coisa: rlis,põe, com efeito, de vários adjuntos. Quanto mais elevado está
a Rússia é um país imensamente rico, mas que.sempre foi.gover- rra hierarquia, mais adjuntos tem. O Presidente do Presidir.lrrr do
nado de modo miserável: de início, os príncipes e os bojares Soviete Supremo dispõe de l6 adjuntos, o Presidente do [-'onselho
(grandes proprietários), depo:s os tzares e os nobres, e ho'je os se- rk: Ministros de 12, o Ministro dos Negócios Exteriores de 10. Até
cretários-gerais e a Nomenclatura. nos institutos de pes.quisa científica, o diretor, que é o único no-
rrronclaturista no posto, tem vários adjuntos. Se há apenas um
irrljunto, ou o instituto é minúsculo, ou seu diretor é um livre-pen-
2. As formas organizadas de parasitismo sirclor.
Lembro-me de uma conversa que tive com um alto funcioná-
Fara reforçar, coÍn fatos concretos, sua tese relativa ao ro- lio austríaco, quando eu ainda estava em Moscou. Perguntei-lhe:
bustecimento do caráter parasitário da classe capitalista, Leniu "(]uem ó o adjunto de ministro em seu país?" Meu interlocutor
evoca, etn O Imperialismo, Estágio Supremo do Capitatismo' .o arl- rlcu de ombros e me respondeu que tal posto não existia. "Mas
mento do nirmerà de rendeiros, quer dizer, de pessoas que ,"vivem tlucm faz, então, o trabalho do ministro?", perguntei-lhe um pouco
ãu ,"nou de ações,,.4 IJma tal afirmação faz injúria à inteligência srrrpreendido. "Mas o próprio ministro", retorquiu também surpreso.
de Lenin. Tratà-se, visivelmente, de um julgarnento apressado (o Nosso espanto se explicavq pelo fato de que pertencíamos a dois
Iivro foi escrito em seis meses) baseado em algumas o-bservações, rrruudos diferentes: era evidente, para mim, que um ministro não
mais ou menos fortuitas, que Lenin pudera fazer na Suíça de lloclia trabalhar sozinho, que dcveria ter alguém para tratar dos
1914
a 1916. A aquisição <le valores é uma forma de poupança que
l)rocessos. Para meu interlocutor, era também muito evidente que
não poderia sàr ássim'lada ao parasitismo' Uma sociedade' qual- rrrrr ministro faz as coisas s,ozinho, enquanto ocupar o cargo.
felicitar-se em ver pessoas pararem de Oficialmente, utiliza-se a seguinte fórmula: o ministro exerce
lu.r'qu. ela seja, só pode melhor investir' e contribuir' rr "d reção geral". A expressão "direção geral" pertence
iuttut o fruto d"' 'uo poupanÇa para Isto nada tem a ver nlcsmo modo que "direção do Partido" 2s linguajar da
do
- No-
ãrii*, para o desenvoív;mento dà indústria'
com parasitismo. rncnclatura, sendo que a primeira delas -é ainda mais difícil de
Pode-se demonstrar, por outro lado, que é muito mais categó- cxplicar. O sígnificado mais próximo seria "presidência de honra"
rico no que se retere ao parasitismo da Noinenclatura' ua medida ou "alto'patrocínio". E preciso compreender que o referido minis-
em que ie reveste agora de- formas organizadas' (ro dispõe de uma moradia principesca, que anda de Tchaika, que
Ürna das formaí mais importantes é constituída por este sis- participa dos plênos do C.C. e das sessões do Soviete Supremo,
tema de "duplo comando" que funciona a nível do aparelho o (lue ocupa um lugar na tribuna oficial em diversas solenidades.
do
Partido e do Estado Assina embaixo dos documentos importantes, que lhe foram pre-
A cacla ministério, ou a cada grupo de ministérios PCUS' de compe- parados por seus subordinados. Toma parte nas reuniões do Con-
tências próximas, corresponde yaa-seeao do C'C' do Na scllro de Ministros da URSS, faz tma anarição tímida no Po-
;;;;ilni""aiqricá oficial, um chefe de seção do-C'C'.se situa em
aii-
Iitburo ou no Secretariado do C.C., quando se discutem ali pro-
piaro mais aito do qu. ,r- ministro da Únião' O conjunto
-dapela hlcmas de sua competência. . . e quando é convidado. Aparece
íi;;ã"'-à;- -initte.io se encontra, pors, controlado e dirigiclo rros banquetes e nas recepÇões, realiza viagens ao exterior, inte-
;ü; .ái..rpora.nte do C.C. Poàe-se indagar-tt t'Tu. das, duas grando diversas delegações e empreende mui raramente um
ministério ou seção do C'C' - não será rnútll' - -
11iro de inspeção, de puro prestígio, pelas diversas empresas do
initâncias
-
Repete-se. tanto quanto se. possa' que os órgãos do Fartitlo país, que estão sob a tutela do seu ministério. Mas, sua tarefa
unutGà,i, os problemas sob a óptica do Partido, e que os órgãos
391
390
corn seu hcrmólogo
sesencial consiste em manter relações urnigáreis cle se contentava enr anotar o nonre de um de seus acljuntos que
e conl o primeiro adjunto
do C.C., isto é, o chefe de departamellto' deveria encarregar-se do processo correspondente. Este adjunto en-
ããste cn"te, assim como com o Vice-Presidentc do Conselho de
tem "a curatela" viava, então. o processo ao Diretor da AdministraÇão, acrescen-
Ministros que, como se diz tão elegantemente' larrdo-lhe substancial corncntário: "Para estudar e decidirr" O Di-
-- "ii".
de seu ministério.
é uma rctor da Adrninistraçâo, por seu turno, enviava o procésso para
a carga de alguma coisa" (em russo kurirot,at) meados scu adjunto. Este o dirigia ao serviço concernente com a menção:
da ti'nguaie;'á; Nomenclatura enr uso desde
um controle "Para execução." Como não há nomenclaturistas no esôalão se-
dos anos 50. A iaeia e de que o "curador" exerce
"*pr.*áà
"curatcla" guinte, o trabalho poderia começar. A supressão do ministério fi-
g.ruf-ioUr" o serviço de que 1em a carga' A 5e situa
"direçào getu1"' E o Inotivo pelo tt'ual zcra com que . esses especialistas da nota breve perdessem seus
em um nível inferior ao dé chefes ou postos, sem que, entretanto, deixassem de construir centrais elé-
é exercídu, nao apenas pclos
í i""ça" correspondente tricas no país.
*"ut i.it .i.o, ádluntos,
----óiu, mas também pelos adjutttos comuns'
Foi, por essa época, que, de súbito, uma pergunta me ocorreu
como já vimos, os adjuntos são numerosos. Eles se re- iro espírito: todos os nomenclaturistas não seriam, no fim das con-
partem pelos setores àa
icuratelá"' Os ministros estão sob a cura-
de Minisrros, as administra- tas, pârasitas? Hoje, sei responder a esta pergunta.
i;;-ã;r'ui."-pr".ia"riÃ-oo, oo conselho
adjuntos do chefe der Administração
iã* p.i""ip"ili sou'^àtoú o doi adjuntos do Chefe da Administra-
Central, as empresas 3. O ser cla Nomenclatura iletermina sua consciência
ção.
Isto se verifica bem na prática: o trabalho começa mas' em
ali onde
Marx escreveu: "Não é a consciência do homem que deter-
exceções'
termina a Nomenclatura' Existem, naturalmente' em que há
mina seu ser, mas, pelo contrário, é o ser social do hgmem que
regra geral, poo"-r"'*ài,tt qu"' em os lugares determina sua consciência."õ O ser social da Nomenclatura, que é
.todot só se trabalha
Nomenclatura, reina tãn,ue* um espírito
militarista; uma classe exploradora, privilegiada e parasitária, exercendo uin
de verdade no, ,"rrifás que não fãzem oarte da Nomenclatura' poder ditatorial, determina totalniente sua consciência.
de
No verão d" t;i;, Jotà.u.u*-re à áisposição da do
_ .Instituto de
Academia
Seus princípios morais, a Nom.enclatura os deve a dois pais,
Economia Mundial e áe Retações Internacionuis Lenin e Stali.n. Lenin pregava a boa nova aos jovens comunistas:
Ciências, onde eu ãntáo do' pesouisadores' os edifícios do "Toda esta moralidade que tem por ponto de partida conceitos ex-
"á ""' que acabava de tcriores à humanidade, exteriores às classes, nós a repelimos. (...)
Ministério au conri.l,ção-áut b*trais Etétricas'se encontrava lo-
ser suprimido por it'iu"t'tcttev' Esse ministério Afirmamos .que nossa mofal é inteiramente subordinada aos in-
do Kitaiski projezd, que abriga tcresses da luta'de classe. do proletariado"6 portanto, a
calizado em um dil;'il4;l soviético' Fo-
serviços áa Glavlit, a censura do Estado pelo minis-
asora os "ãr'iãrio"o.,;;i;;;
- sendo,"Afirmamos:.
luta pela instairração da ditadura da Nomenclatura.
tr;J: * deixadas
as. instalações d' moral o que contribui para a destruição da antiga sociedade de
ténio: o imensogaúr.t" do ministro, com suas paredes . recobertas erploradores e para a reunião de todos os trabalhadores em torno
do estilo Kremlin' com a do prolêtariado (...)"s quer para a edificação de uma
ã"- p"i"eit- a" ;rá;fu'" característicos vasta entrada; os gabi - por dizer,
aqueles que se proclamam, eles
sala de repouso contíg"u' os toaletes' uma nova classe de exploradores
netes espaçot.t oot'ããl'àtã' oo
ministro' igualmente com lambris; nreslnos, "a vanguarda do proletariado" a Nomenclatura à testa.
Éierárquicos menos ele-
os enormes to.ui, i"iãi'^àãt '"' escalões com seu alinhamento Stalin teorizava menos, mas tinha uma- maneira muito irnprespio-
vados; os exíguos gãúinttt' dos funcionários' nante de praticar esta nova moral.
cambadas' Depois que Os trabalhos realizados pelos sociólogos. .soviéticos no curso
cerrado pot -".u,'ãç'iiáüu['" e cadeiras
nossos olhos se fartaiam dessa anatomia
de um- ministro soviético' dos anos 20 há muito tempo já desapareceram das biblioÍecas
à""rgrÚtã*ãt,-.r,"io' J"-:curiosidade' na leitura dos registros de en- na URSS - - mostravam uma rápida degradação dos costumes
trada e saída dos ;;;;t;;, que tinham ficado sobre as mesas' De e revelar{am, no seio. da juventude, uma tendância ao egoísmo
acordo com o ,,t5^ 'ãt" 'ãiviços soviéticos' de
os secretários tinham
-
cínico e ao carreirismó. Comô o provâm os estudos empíricos
escrupulosamente ;t;i;;"d" àt observações seus 'superiores (então autorizados), o fenômeno estava em vias de aumentar:
do ministro era muito pouca: podia-qe, pois, dificilmente falar de '\obrevivência do capitalismo".
hierárquicos. a pessoal
"oniiiúição Qual seria, pois, a. evolução desta sociedade. onde só. se falava
392 393
e igualitários? Na ver- notnenclaturista do que a perda de seu §Íalus, deste status que é
agora de ideais revolucionários, coletivistas a alegria de sua vida.
Substi-
ããá", ui pesquisas ,ouiã "rt" a§sunro foram"oengaveradas.
novo homem so-
trl.ãir-t" toi g.unoes declamações sobre
viético" que ama profundamente o Partido e sua dirêção' e que Falamos da solidariedade de classe da Nomenclatura, daque-
trabalha áe maneirà desinteressada por sua pátria socialista' la frente unida que os nomenclaturistas apresentam a todos aque-
Ora. o fenômeno se explica tacilmente parq um .marxista' lcs que não fazem parte dela. Mas, há o reverso da medalha. E
Marx e Engels disseram: "Os pensamentos da classe dominante ou' este reverso é o sentimento de solidão que sente cada nomencla-
ráã-'ir*uãÍn] em todas as épocas, os pensamentos dominantes' rurista, perfeitamente consciente de que seus irmãos de classe são
em outras palavras, a .tussô que é a potência material dominante
também seus mais perigosos concorrentes, e que só o apóiam na
da sociedaàe é também a potência clominante espiritual."i A
pela. sociedade sovi- rncdida em que isto sirva a seus próprios interesses. Em caso con-
moral de classe da Nomenclatura se espalhou
isolados tenham trí'rrio, ficarão muito felizes em "largá-lo". Ele, que fala tão deci-
ãtü.- contuao, ainda que alguns grupos sociais
que ela se manifestou (e sivamente sobre aquele capitalismo em que o homem é o lobo do
,àtiio"-o contágio, toi i,u Noimencútuia homem, descobre que ele próprio nada mais é do que um lobo
se manifesta) em seu mais alto grau' numa matilha de lobos, cercado, é certo, por seus semelhantes,
Já o dissemos: os privilégioi e diversas injustiças' de que de se
nras, contudo, solitário e ameaçado. Uma tal situação é prova-
beneiicia o nomenclaturista não representam a-contraprestação
de-,ina deci- vclmente inevitável em toda "classe nova" de aventureiros rene-
o* iiáúurm torneciáó, Àu, u simplesdoconseqüência
,âã to*ua" po, ,.rt-órgáo- aitig"t't" Partido' Que lhe atribui gando sua origem de classe.
um posto e os prrvilegiãs a ele" inerentes' Somente um ambicioso' A filosofia da Nomenclatura encontrou sua expressão mais
i" da hierarquia pode'alcan- característica numa obra do poeta Eduardo Bagritski, que é conside-
il ffi; ,íp{, lalgar os escalões
só se através do rada como um clássico da literatura soviética:
;;; ;;" ;ultàdo. úo" --"in capitalista,
a' Nomenclatura
consegue
é .
dominada pelo
ãJprrii" áã-
"*pr".ndimento:
carreirismo' A época te dá a certeza
O carreiiismo constitui o traço cari
acterístico de sua mentali- De que é ela que te impõe tua solidão.
cle um Em volta, inimigos, impostores vis.
dade de classe. Todas as esperanças; todos os pensamentos
giram em torno de sua carreira' Como numa par- Nenhum amigo para te apertar a mão.
,ã-"r"tutrrista 'refletir sempre no lance seguinte' num Se a fpoca te ordena, sê mentiroso.
iiáã a" xadrez,? preciso Se a época te ordena, sê assassino.s*
pi*.airt."rà' qu" ih" permitirá ainda mais 'alto' "adqúirir
-su!i1
-,"gtu Tal
orestís.io". como se diz na gíria' é o estado de espírito comum
ouro: na Nomenclatura só se Para se ter uma idéia da maneira pela qual se manifesta uma
ã;;;;"i;*irü. »ui u de
tal atitude na vida cotidiana, ó melhor se interessar pelos casos
pãa"-.-* ,.gr.o de manter leu posto visando ao posto superior;
é o risco de se ver retroa- rndividuais do que pelas generalidades abstratas. É este o motivo
contentar-se com o que se tem correr
pclo qual concluo este capítulo com dois retratos: um, histórico,
Para conseguir o superior' o
gir, nâ maior parte ào, claborado a partir de documentos de arquivos; o outro, contem-
"u'o''
nomenclaturista deverá desenvolver mais esforços
'posto
do que a média
pot poríineo, baseado em minhas próprias observaçôes.
ilú; colegas. Do contrário, será ultrapassado ""11-l;
Não se deve, pois, ficar espantadg d'e que' nessa corrida'
ao
sqjam efica-
poder, todos os gJú.; ,à1u* .p""nitidos, deide que {. O secretário do Comitê de Distrito
zes. Em nenhum orito *úo vi tantas intrigas, n-em-tanlt
hipocri-
.iu íúu.çuda sob a ...fidelidade aos princípios do Partido" Bem
a Nomenclatura são Lembro-me de já ter experimentado um sentimento sernelhan-
entendido, as personalidadçs que compõem to. Eu era, então, jovem intérprete no Julgamento de Nuremberg,
que.não. hàja ünicamente celerados: exis-
bem diversas para a-11
c folheava fotocópias (dizia-se, na época, cópias "fotostáticas")
tem tarnbém no*.nólutrristas simpiáticos' Mas' quando as coisas tli documentos nazistas cheios de assinaturas, selos oficiais e diver-
;;-t;ã ;érias, é preciso esquecér os escrúpulos, do. contrário se
sus anotações. Fui acometido de um crescente sentimento de mal-
;;r; ; risco da eiclusão. E- nada é mais catastrófico para um

39s
394
um extrato da ata de uma reunião do Orgburo. Eis o texto dessa
estar. Via clescnharem-se, atrás daqueles documentôs. vidas huma- carta, na qual já aparecem nomes históricos. Citemos in extenso:
nas trituradas por uma máquina administrativa desumana. Mais
tarde, experimentei o mcsmo sentimento ao folhear outros do- "Proletários de todos os países, uni-vos!
cumentos, que não cram de origem nazista, mas que provinham do Estritamente confidencial. Para mandar ds volta.
Comitô da I{egião Ocidental do PCUS' Estão' agoÍa, conservados Partido Comunista da União Soviética. Comitê Central.
em Washington. no qrle se chama de arquivos de Smolensk. Setor Especial n." P 2600. Exemplar nP 2403.
O Prolessor americano Merle Fainsod, já falecido, deu bas' Camarada Demenok!
tante ate nçito a eles.g Esta síntese não pretende ser exaustiva e Por ordem do camarada Stalin, nós lhe remetemos um extra-
nem esltotar tudo o que se pode obter daquelas fontes. Com mais to cstenográfico da sessão do Pleno do C.C. do PCUS realizada
forte razão, ater-me-ei aqui a um aspecto bem marcante. Trata-se cla 2l a 25 de dezembro de 1935.
de fazer reviver, na sua aparência banal e cotidiana, um persona- O Chefe do setor especial do C.C., A. Poskrebychev."ll
gem da Nomenclatura, do interior, tal como nos mostram esses
documentos de arquivos. Vê-se, pois, aparecer nitidamente o fio que liga o pai da
Lugar da ação: a pequena cidade de Kozelsk, um dos nume- Nomenclatura ao nomenclaturista de Kozelsk. O herói de nossa
rosos centros de distrito da região Ocidental. Época da ação: o narrativa nada mais é do que um provinciano qualquer, responsá-
ano de 1936, o da promulgação da Constituição stalinista, prelu- vcl por um distrito perdido na imensidão russa. Organicamente,
diando ela própria a Ejovchtchina. Eis os atores: Piotr Mikhailo- Íaz parte de um todo, qual seja, a Nomenclatura, graças ao qual
p«rdc comunicar-se com Stalin.
vich Demenok, Secretário do Comitê de Distrito de Kozelsk.
Vamos reencontrar Demenok no momento em que ele faz
Endereço: Rua Sovietskaia, antiga casa Chtchegolev. Nessa casa,
scu rclat«irio ao Sccrctário do Comitê da Região, Silman: "Levo
aparentemente confiscada ao antigo proprietário, vive tamMm o
adjunto de Demenok, Jossif Petrovich'Balobechko, Segundo Secre-
ílo sou conhccinrcnto (llrc, conro linha sido estabelecido, voltei a
Ílrcu l)()slo c rclonrci o traballro tlcsclc l6 de abril." E a primeira
tário do Comitê de Distrito. Terceiro personagem: A. Tsebur, tlrcfir tlrrc c§llcrava o sccrctário clc distrito ora a renovação dos
chefe da seçâo de distrito da NKVD e subtenente das forças de cartrics tkr Parti«lo, pois csla ó a fórmula estabelccida pela alta
segurança. arlrnirristraçiio tla Nortrcuclatura para procedcr a expurgos. Ao
São estes os dirigentes do setor de Kozelsk. Demenok e Balo- nívcl dir Uniiro, a açiio ó conduzida por Ejov, que ó, então, fun-
bechko não se contentam em chefiar os 420 comunistas da orga- cionririo do C.C., quc ainda não tinha sido nomeado Comissário
nização do Partido. Além disso, seus nornes aparecem - e não do Povo para os Negócios Internos. O exame dos cartões de mem-
são os únicos nestc caso num documento de título um pouco lrros tem por finalidade excluir os comunistas que desagradam à
-
enigmático: "Lista dos dirigentes e adjuntos do Comitê de Distri- di rcçao.
to ão PCVS, Kozelsk, aos quais é preciso fazer chegar com urgên- Na União Soviética, a expulsão do Partido tem conseqüên-
cia telegramas referentes à colocação em estado de alerta, a mano- cias clramáticas para o interessado. Tem-se o direito de ser um
bras e à mobilização."10 Nossos dois homens são, pois, como se "scnr partido": não se fará uma carreira extraordinária, mas,
diz, "soberanos e senhores da guerra". c:nfinr, poder-se-á viver. O expulso, por outro lado, fica como
Esta troika de dirigentes é supervisionada pelos secretários
I
lrrirlcudo a ferro em brasa. Vai passar a viver com uma espada
da região ocidental do PCUS em Kozelsk. Trata-se do Primeiro <lc Dâmocles sobre a cabeça. A ameaça de expulsão é suficiente
I

Secretãrio do Comitê de Região, Rumiantsev, e do Secretário do a classe dos nomenclaturistas para impor a obediência aos mem-
Comitê de Região, Silman (o nome é judeu: em 1936, os judeus I
I
bros do Partido.
ainda não tinham sido expulsos do aparelho do Partido). l7 Demenok não ignora nada disso. Isto lhe vai permitir adotar
Mas o horizonte dos governadores de Kozelsk não se limita- jl unl comportamento muito característico a seus semelhantes. A 17
va às aituras imponentes de Smolensk. Eis um maço com o selo: dc abril de 1936, no momento em que retoma suas atividades,
"secretariado do Comitê Central, Moscou, Staraia Ploschad, casa c()ntanr-se cinco expulsos, membros ou candidatos, na sua organi-
4 n." OBl43lIS." Remetente: o Orgburo do C.C. do PCUS. Des- ;i zaçl-r«r.1: Trôs semanas mais tarde, a 8 de maio, Demenok pode
tinatário: o camarada P. M' Demenok. Dirigem-lhe instruções e
397
396
rl
lil
anullciar, corn orgulho, ao con"ritê cla ltcgiiro, (lilc llroccdeu à quem nos deu a missão de recolher essas informações. Os ques-
exprrlsãro de 46 úembros e 36 cantliclittos.rrt l)crttctlok clitninou, tionários, devidamente preenchidos, deverão, imperativamente, ser
poitanto, do PCUS 207o dos efetivos clo rlistrito, tttn comunista devolvidos ao Comitê da Região, departamento de organizaçáo,
em cada cincol no mais tardar a 7 de maio. Não se esqueça de que nós mesmos
O golpe é. em si, muito rucle para as vítirttits. ll o ó ainda temos de mânter este prazo."lo Numa carta "estritamente Confi-
mais: nã perspectiva da grande Ejovchtchilta, (ltlc sc attuncia-, equi- dencial" de 28 de abril, o Comitê da Região afirma: "As pessoas
valc mesnro a uma condenação à morte -- s0 o ('tlrttitô de Dis- expulsas do Partido serão submetidas a uma vigilância especial.
trito deu ir sentcnça considerações políticas. [i o Sccrctário de É importante informar-se sobre seu local de trabalho, seu estado
Distrito sabia muito lrem o que fez quando escrcvcll qtlc um cer- de espírito e controlar os elementos hostis. Os secretários dos
to Ivan Gavrilovich Putsenine "foi excluído das [ilciras do Parti- comitês e das organizações do Partido ddverão receber instruçóes
do porque é oriuuclo de uma família de kulaks, tinha cabras e neste sentido."l7
uma máquilra de ordenhar em sua fazenda, e empregava assalari- Demenok, que tem a experiência da Nomenclatura, compre-
ados; qué desertou tliversas vezes na época da guerra civil e escon- cnde perfeitamente o sentido dessas significativas cartas. - Numa
deu toàos csscs fatos uo momento de sua adesão ao Partido".la carta ionsiderada secreta "Sobre os comunistas excluídos do Par-
Vai considerar-se a expressão "desertou diversas vezes na época tirlo", explica ao Comitê da Região: "Desde o recebimento da
da guerra civil" corno um motivo suficiente, com efeito, segundo carta do Comitê da Região, informei à organização do Partido
a iei, para que alguém seja passado pelas armas. sobre a obrigação de observar o estado de espírito e o comporta-
Toda péssoa expulsa do Partido por motivos políticos é um mento dos expulsos." A primeira denúncia não tardou: "Durante
morto em potencial. O Primeiro Secretário da Região, Rumiant- a assembléia iolene dos operários das fábricas de vidro, a 30 de
sev, dirige. a 2l de janeiro dc 1936, aos secretários de distrito abril, reunião à qual assisiiu um representante do Comitê de Dis-
uma diretiva estritamente confidencial: trito, o chamado Kupreienko, que é um expulso do Partido e que
chegou há um mês ãa Bielo-Rússia para trabalhar na fábrica de
"Por ocasião da viagem que farão para participar da confe- vi«lro, disse publicamente palavras anti-soviéticas. Declarou que
rôncia dos secretários do Comitê da Região, peço-lhe enviar-me nada mudou na vida dos trabalhadores e que era como antes da
pessoalmente informações sobre os seguintes pontos: 1. Qual é Revolução. Segun«lo ccrtas informações, este Kupreienko é um
ãtualmente o estado de espírito das pessoas expulsas do Partido antigo diretor ou diretor-adjunto de uma fábrica da Bielo-Rússia.
no seu distrito e como você foi levado a tal apreciação? 2. Pôde Estamos procurando saber quem ele é exatamente'"r8
constatar sinais clc uma atividade contra-revolucionária por parte Devoto e submisso, o secretário de Distrito vai alinhar essas
deste ou daquele grupo de expulsos ou por uma pessoa isolada? denúncias, que precipitarão, um após outro, seres humanos nas
3. Que mecliclas tomóu cont relação aos excluídos? Que medidas profundezas do Gulag. Eis aqui um outro exemplo:
acha inclispcrrs,áveis para abafar as manifestações contra-revolucio- "Ao Chefe da NKVD, o camarada Tsebur. Enviado também
nárias? 4. Entre as pessoas cxpulsas, quantas há que você consi- ao Procurador do Distrito, o camarada Kotcherguine. Do Comitê
dera pessoalmente como perigosas, social ou politicamente, ou de Distrito do PCUS de Kozelsk. o candidato Ivan vassilievich
cuja permanôncia em seu distrito constitui um possível perigo? Matveiev (antigo presidente do Colcoze 'Vida Nova' do soviete
Por que motivos? rural de Beldinsk), expulso em L934 do Partido por atentado à
"Para a coieta dess.rs informações, só o autorizo a pedir a co'
laboração clo Segundo Secretário e do responsável pela NKVD'"15 moral, abuso de poder e outros delitos, tentou, por diversas vezes,
A 29 de aoril. o Comitê da Região dirige às autoridades, em atacar o membro do Koms,omol Michine, presidente do colcoze,
uma carta "estritamente confidencial", um questionário referente camarada honesto e trabalhador, e proferiu ameaças de morte
às pessoas excluídas do Partido no momento da renovação dos contra ele. Continua a beber e a se entregar a atividades subver-
cartôes. sivas no colcoze. Tal comportamento provoca a indignação dos
O tom é insistente; "As questões que figuram no presente for- colcozianos. Além disso, Matveiev ó de origem kulok, eée entre-
mulário deverão ser objeto de respostas precisas e detalhadas. ga publicamente a atividades anti-soviéticas. A respeito,- peço que
Chamamos sua atenção para o fato de que foi o C.C. do PCUS íejam iniciados, com urgência, processos contra Matveiev, e que

399
398
a lei lhe seja aplicada com todo o rigor. Agradeceria se me infor-
massem sobre sua decisão até l0 de janeiro de 1936. secretário de um comitê de distrito do Partido pode enviar tal
O Secretário do Comitê de Distrito do PCUS Demenok a denúncia à NKVD?
3.1.1936."le IJm nomenclaturista não faz perguntas tão ingênuas. Deme-
Mais ainda: nok sabia muito bem que 12 anos antes não se prendiam pessoas
"Estritamente confidencial. NKVD, camqrrada Tsebur. Encon- por um discurso trots[ista. Além do mais, foi por este motivo
trou-se, a 22.1.1996, na casa do coícoziario Khromov Afanassi que.ele não enviou a denúncia na época. Mas, os tempos muda-
(Colcoze 'Outubro Vermelho' do soviete rural de Pluskov) um rãm, e ele aproveita para denunciar Kovalev. Ou outros, como o
retrato de Trotski. De acordo com nossas informações, Khromov prova o seguinte documento:
é um ser corrompido que se entrega a atividades de subversão no
colcoze. Denunciado pelo colcoziano Ulianov, foi às vias de fato
com o pai deste. Peço que seja aberto um inquérito e que se €sta- "Após ter tomado conhecimento da carta confidencial do C.C.
beleça a culpabilidade de Khromov. do PCUS sobre as atividades terroristas do grupo Zinoviev-Trots-
Demenok 5.2.1936.'a ki, lembrei-me do nome de certos trotskistas que se opuseram ao
Partido. Lembro-me de que, nos anos 25'26 eu era' então,
Secretário do Comitê de Distrito de Novozybok
- tivemos
um
O Secretário do Comitê de Distrito não se contenta em de- problema com um certo Karkutsevitch, de prengme Mickail, se
nunciar pessoas que estão próximas. Esforça-se por tirar da me- não me falha a memória. Membro do PCUS desde 1917, ferroviá-
mória o nome de pessoas que conheceu ocasionalmente e pelas rio, era responsável pela seção Agitprop do Comitê. Na época,
quais sentiu antipatia; aproveita a situação para se vingar, precipi- era um troiskista ativo. Não somente caluniava o Partido e seu
tando-as na impiedosa. engrenagem. Chefe, o camarada Stalin, mas chegava até a recusaÍ categorica-
"S€cret. Nesta. NKVD camarada Tsebur. mente estudar as resoluções do XIV Congresso, na rede de for-
-
Após ter tomado conhecimento da carta confidencial clo C.C. mação do Partido, alegando que estava em desacordo com essas
do pCUS referente às atividades terroristas do grupo Zinoviev- decisões, e que as considerava falsas. Na época, imediatamente o
Trotski e as lutas que travam com o Partido, lembrei-me de um destituímos de suas funções, recebeu uma advertência do Partido,
tal Kovalev seu pÍenome não me ocorre
-
que entrou para a e ignoro onde trabalha, mas lembro-me de que trabalhou na Bie-
organização -do Partido em Novozybkov, nos anos 2á.25, e que lo-Rússia no serviço de vigilância das vias férreas. É posível que
agia, aparentemente, a favor do centro trotskista, teneÍ» por obje; ainda não tenha sido desmascarado. comunico-lhe estas inÍorma-
tivo intittrar-se na organização do Partido. Numa reuniâo dos ati- ções a fim de facilitar a tomada das medidas necessárias.
vistas do Partido, pronunciou discursos trotskistas. A organização O Secretário do Comitê de Distrito do PCUS de Kozelsk,
do Partido, naquelá ocasião, refutou re.solutamente seus discursos; Demenok."z
mas é possível- que tenha continuado membro do Partido e que
não tenha sido ainda desmascarado como trotskista. Comunico-lhe
estas informações a fim de facilitar a tomada de medidas neces- É assim que o nomenclaturista Demenok prossegue em seu
sárias. Kovalév fez seus esfudos numa escola superior de Sverd- ódio durante anos contra um homem de quem se esquçceu até do
tosk. Ele próprio é originário do Distrito de Klimovsk (região prenome. Em 1926, fê-lo excluir do comitê de distrito, e aquele
Oeste), onde seu pai era bedel. homem, que é comunista desde 1917, teve de aceitar um emprego
O Secretário ão Comitê de Distrito do PCUS em Kozelsk, de guardá-linha. Logicamente, isto não bastaria para- -ac4lmar o
Demenok.'21 Secrãtário do Comité de Distrito? É conhecer mal a Nomenclatu-
ra. Dez anos depols, eis que se oferece a ocasião de destruir fisi-
cailente um homem que Ja arrastou na lama. E o'epistológrafo-
Ora, esta história acônteceu em 1Y24, no mesmo ano em que, matador redige sua carta âo comitê da região.
em virtude de uma resolução do C-C., iniciou-se uma grande Matadori Mas será que este homem não disse a si mesmo que
discusúo no Partido! Kovalev nada mais fizeru do que obedecer nada mais fez do que "lêvantar a lebre" e que a NKVD rcalizatát
às diretivas do C.C., participando da discussão: Daí, como o um inquérito objetivo? No fim das contas, não será Demenok
nada mais do quê um ingênuo? Não, não é um ingênuo,*Ç;gm efei-
400 dutorh\
t§/,r)It.r... \ â' ,S'
tâ\r^u^ J ti I Lo. Éf,8.t
to, Tsebur lhe envia regularmente .,otas estritamente confidenciais toclo aquele período, evitado o serviço, ou então desertado várias
sobre as pessoas expulsas pelo comitê do distrito. Depois de vezes'l Para o Chefe da NKVD as duas coisas são iguais: ele tem
Demenok, vamos também dar uma olhada nestes documentos: de encontrar algo a dizer contra aquele homem. E, no que con-
"Estritamente confidencial. Nota referente aos expulsos. Dis- cerne à lógica, ora, ninguém se irá preocupar com tais detalhes!
trito de Kozelsk. Lagutine, Dimitri Ivanovitch, nascido em 1898 "No tiabalho, bebe e corrompe os camponeses do colcoze;
(. . . ) Tem a seu encargo sua mulher, de 34 anos, e três filhos, mantém relações com elementos corrompidos, provocando, assim,
de 16, 14 e 11 anos. Antes de sua expulsão, era responsável pelo a desorganição do colcoze. Trabalha atualmente como simples
escritório de provisões de um sovcozp de madeira; é agora guar- carnponê1 num colcoze e seu comportamento influi sobre os
da de um entreposto de madeira; sua mulher faz arrumação na 611169. "::ir

Escola Técnica de Pedagogia." E não é preciso mais nada! Ouçamos o que é dito de um
Este homem, pois, já foi tripudiado por Demenok. Expulso outro colcoziauo, excluído do Partido, um tal de Stepine, que tem
do Partido, destituído de seu trabalho, empregado como guarda uma mulher e três filhos menores para alimentar:
de entreposto, com uma mulher, que faz arrumação, e três filhos "stepine bebe durante o trabalho no colcoze, trabalha a con-
menores para alimentar: o que mais é preciso para nosso nomen- tragosto, exerce uma influência de kulalç sobre os camponeses do
claturista? A destruição física. A nota termina com o seguinte colóoze: daí um descontentamento e ,rsuficiências na elecução
parágrafo: dos planos."s Como tudo é simples! ii que talenlo o de'ste res-
"Após sua expulsão, Lagutine se entregou a atos coutra-revo- ponsâvel pela NKVD de Kozelsk para reunir confusamente todas
ãs acusaçóes falsas que sua imaginação lhe.'possa fornecer para
lucionários visando ao Partido. Em dezembro, disse, em conversa
com seu colega de sovcoze Granine, e um outro intedocutor, que causar a perda de um homem, como esta nota referente a Ko-
os bolclevistas só Íecrutam pessoas de sua categôria; usou uma rotkov, eipulso do Partido, antigo Diretor da Escola Interdistri-
- tal de Mecânica de Tratores: "Na sua qualidade de Diretor de
expressão injuriosa para com um responsável pelo Partido, etc.
Em seguida, privado de emprego fixo, pôs-se a beber, depois Escola Interdistrital, recrutou um engenheiro, Kapatchinski, filho
encontrou um trabalho de guarda de entreposto de madeira. Pos- de padre, expulso da Academia Militar. Em Moscou, esteve em
sui um revólver de tipo Nagan." A assinatura de Tsebur está abai- contãcto corn Arsentiev, colaborador do pessoal do Comissariado
xo deste documento.s do Povo para a Agricultura, com quem procurou obter uma me-
lhoria.parà a escola, oferecendo-lhe propina' mas, no curso do ano
É tudo. O homem disse que os bolchevistas só recrutam pes- escolar, estudantes abandonaram os cursos a fim de voltar para
soas de sua categoria. E daí? Por acaso não se pode recrutar não
suas casas. Em 1934, Korotkov atrasou consideravelmente a repara-
bolchevistas ou então somente se preocupa em recrutar outras pes-
soas? Absolutamente. Teve uma expressão injuriosa para um diri- !ão do§ tratores, sabotando, assim, a prestação de serviço dessas
máquinas. Seu pai e seu irmão foram "dekulakizados"; mantém-
gente. Não se esclarece de quem se trata. Em todo caso, não pode
se em contato com eles e pensa em compraÍ uma casa. Possui
ser Stalin, do contrário seria dito na nota. Trata-se provavelmente diversos bens, e os expulsos Kats e Danilkine foram vistos em sua
do próprio Demenok. Por falta de imaginação, o Chefe da NKVD casa. Ignora-se o que falaram."2?
escreveu "etc.". Depois, evoca o revólver. Reconstitui-se sem tra-
O leitor achará, sem dúvida, divertida essa mixórdia saída da
balho o encaminhamento de seu pensamento; quer atentar contra pena do lugar-tenente dos serviços de segurança. Mas, nada há aí
a vida de um dirigente, é um terrorista! Ora, se o homem tem um para rir. Esse nomenclâturista mesquinho tem entre as mãos vidas
revólver é porque trabalha como vigia. Mas Tsebur quer manifes- humanas, e sente uma alegria maligna em acabar com elas.
tamente conseguir sua prisão. Mais uma carta endereçada a Demenol<: "Estritamente confi-
Ou mais isto: "Nota concernente aos expulsos. Putsenine, dencial. Série K. Quando da busca na casa de B. A. Gutovets,
casado, tem a seu encargo dois filhos de seis e quatro anos' No antigo membro do PCUS, encontrou-se um atestado de moralidade
momento do vcaso, era presidente do escritório da cooperaüva de passado em seu nome pelo responsável pelo Serviço de Finanças
consumidores de Koselsk." Qual é, pois, estg "caso"? "Putsenine do distrito, Drodzdov. Gutovets tem muito orgulho desse atesta-
é acüsado de ser oriundo de uma família de kulaks." Além disso: dg, que pensa usar no futuro." Segue uma anotação do punho de
"Durante toda a gueÍra civil evitou o serviço militar no Exército Tsebur: "FavoÍ apresentar a'questão Drodzdov na próxima reu-
Vermelho e desertou várias vezes.'t2a Mas, afinal: teria, durante nião do bureau.",S Ora, o atestado dado pelo infeliz Drodzdov, e

402 403
sejam colocadas na ordem do dia da próxima reunião do burea'u
que foianexado ao processo, não se refere absolutamcnte à mora- do Comite do Distrito. Uma vez pronunciada a expulsão, Rodine
lidade de Gutovets, mas simplesmente às suas qualidades «le tóc- c Michine serão detidos e enviados à prisão."rr: Os outros quatro
nico, que the permitiram ir a Leningrado para um estágio de estu- acusados não são membros do Partido, e podem, pois, , ser presos
dos no Instituto de Finanças e de Economia.:{} sem que Demenok tenha algo a ver com isso.
Nesse ínterim, Gutovets comparecera já diante de uma juris- Vimos as informações que a NKVD de Koselsk comunica a
dição especial do Tribunal de Justiça da Regiao Oeste, onde, com Demenok no que se refere ao trabalho a efetuar. Demenok não
vistas ao que dispunha o famoso .s 58-10, alínea I, foi condenado pode ser suspeito de idealismo. sabe perfeitamente que as,pessoas
a cinco anos de detenção, e de sua prisão escreveu uma denúncia qrl" a..anca do Partido para atirá-las nas garras da NKVD não
contra uma testemunha que tinha sido chamada à barra do tribu- podem, em caso algum, contar com qualquer instrução (e muito
nal quando de seu processo, e que acusou de ter sido, de 1926 a menos objetiva) de seu "caso"' E, entretanto, entrega-se, sem ces-
1927, responsáveI pela seita dos batistas.í3o IJ'nl tribunal soviético sar, à prócrtu de novas vítimas. Eis uma carta de seu próprio
independente enviou a carta de denúncia, sob a menção ultra-secre- punho:
ta, a Demenok "para todos os fins úteis".'31 Por causa dos "fins "Estritamente confidencial. Cidade de Kuznec, Comitê de Ci-
-
úteis", a testemunha foi expulsa do Partido, depois caiu sob as dade do PCUS.
garras de Tsebur, que o mandou para a mesma câmara especial De acordo com informações em nosso poder, o denominado
do Tribunal de Justiça da Região Oeste. Por seu turno, aquele Polosukhine Nikolai Ivanovitch, membro do Partido, antigo res-
homem escreveu uma denúncia contra uma testemunha chamada no ponsável pelo departamento de organização do comitê de circuns-
seu caso. O procedimento se transformou numa bola de neve e o crição clo Partidõ de 1922 a 1923, em Kuznec, e que trabalha
número das vítimas dos nomenclaturistas de Kozelsk não parou atualmente aqui, na Região oeste, na qualidade de diretor da nova
de crescer. linha da estráda de ferõ Tulai-sukhinitcho, participa, desde 1917,
Mas, isto ainda não é o bastante. O. Chefe da NKVD de de atividades trotskistas. Ele nada nos disse sobre isto. Rogamos
Kozelsk enviou uma nova carta a Demenok ("estritamente confi- que nos informe, com a maior brevidade possível, se Polosukhine
dencial, letra A"): "Sobre as pilhagens e os atos nocivos cometi- realmente levou a cabo atividades trotskistas e, em caso afirma-
dos no escritório de aprovisionamento de gaclo de Kozelsk." Ele tivc, indique-nos a clata e a natureza dessas atividades''zs
explica que a seção de distrito de Kozelsk da NKVD instruiu os Derneiok se agora para um certo Volkov, camponês de
'olta
colcoze,, que acaba de déixar o Exército Vermelho. Motivo? Vol-
p.ô.essoi de seis pessoas, das quais duas são membros do Parti-
ão. De que "ato nocivos" foram elas acusadas? Entregaram-se t<ov .,dêfendeu ativamente seus irmãos, que tinham sido condena-
"durante o uno de 1935 à bebída, cometeràm fraudes sobre -o peso dos por ações contra-revolucionárias".3a Karasev foi excluído do
e o número de cabeças de gado entre§ues, fizeram, com intenção partido pó.que perdeu seu cartão de candidato do Partido. Ora,
fraudulenta, 1;stas fictícias de animais, obtiveram um empréstimo Karasev incontrou depois aquele cartão: ele figura mesmo no pro-
do Baneo do Estado, entregaram-se a malversações de fundos cesso. Entretanto, a medidf rJe expulsão foi mantida, com todas
públicos e toleraram abates selvagens". Admitamos' Mas o que foi as conseqüências que traz para o interessado.3s
iazer lâ a NKVD e onde, pois, os atos nocivos? Haverá uma alu- seria, além oo mais. injuslo traçar um retrato terrível do
são a esses crimes na frase soguinte, que não brilha por sua clare- Secretário do comitê de Disirito. Demenok não está a salvo de
za? "Rodine bebia sistematicamente com seus subordinados e com acessos de humanidade. Eles são raros, é verdade, já que, no con-
pessoas estranhas ao serviço... E isto na sua qualidade de colabo- junto desses arquivos só se encontra um exemplo -de intervenção
iador do serviço de aprovisionamento'de gado, o que provocava positiva de sua parte: dessa vez, tratou-se de um velhaco que sou-
um atentado à moral de. todo o' qerviço.' Chegou-se ao ponto que be atrair suas simPatias.
os trabalhadores proferiam palavrôes" (como se,'até então, tives- A peça seguinte, que traz a menção "secreto", permite-nos'
sem usado expreisões apuradas em perfeito russo). Mas estas ao mesmo tempo, discernir as qualidades humanas de nosso herói
lamentáveis e confusas palavras têm uma conclusão dramática: e ilustrar a inàependência dos tribunais soviéticos'
..Secreto. Aó camarada Adrianov, Presidente do Tribunal de
"IJmq üez que a atividade criminosa do Diretor Rodine e do che-
fe do entreposto Michine foi suficientemente estabelecida P"l9t Justiça. Em virtude de uma decisão do tribunal popular do Distri-
documentos escritos e por outros indícios, peço que suas expulsões
405
404
to de Kozelsk, o Presldente do Colcoze 'Bolchevik', do Soviete
Rural de Slobodsk, Aldonine Philip, foi condcnado a dois anos Encontra-se, nos arquivos de Smolensk, a ata de uma reunião
de privação de liberdade por desvio de fundos pertencentes ao prolongada do Comitê de Distrito de Kozelsk, com clata de 4 de
colcoze e por uma tentativa de coito forçado com duas campone- agosto de 1936. A reunião foi dedicada à análise da carta confi-
sas. Peço-lhe examinar atentamente o ato de acusação de Aldo- dencial. Este documento é, infelizmente, muito longo para que
nine." possamos reproduzi-lo. Mas, podem-se Íazer alguns comentfuios
Segue uma descrição dos sucessos conseguidos pelo colcoze sobre essa reunião.
no domínio da produção, com esta conclusão: "O colcoze tem Participaram da mesma os membros do bureau do Comitê de
agora bases sólidas e se encontra no caminho certo para seu Distrito, nossos velhos conhecidos Demenok, Balobechko e Tse-
desenvolvimento socialista." Muito bem. E o que foi feito do des- bur (que era também, naturalmente, meu$ro do bureau); o reda-
vio de fundos e da tentativa de violação? Na verdade, "Aldonine tor-chefe do jornal do distrito, Kavtchenko, o o Presidente do
foi presiclente de um outro colcoze, o 'Iskra', do Soviete Rural Comitê Executivo do Soviete de Distrito, Krutov. É a fina flor
de Dragunsk, onde, levado por uma situação material difícil, des- da NomenclaÍura do distrito. Além disso, ali estão 12 membros
viou 200 rublos da caixa do colcoze. .. Contudo, é preciso levar do Pleno do Comitê de Distrito, 27 organaadores do Partido, 12
em conta que não lhe davam nem pão nem batatas do total pro- n:embros do que se chama o "ativo" de distrito do Partido e, afi-
duzido por esse colcoze. Mas, também é verdade que ele rtão agiu nal, reinando majestosamente, o Instrutor do Comitê rla Região,
corre amente no que se refere à distribuição dos fundos." Vejam Fedko. Demenok faz a leitnra da carta. É o costuine: as cartas
que indulgência! confideneiais do C.C. são lidas em voz alta para todos aqueles a
E quanto às camponesas do colcoze? quem se as quer comunicar, jamais individualmente. Depois, come-
"No que diz respeito à tentativa de violação contra Anna ça a discussão. A concessão da palavra obedece ao mesmo ritual.
Zenina, camponesa do colcoze, antiga chefe de brigada, examina- De início, destaca-se que a carta do C.C. vai dar um impulso
mos o caso no Comitê do Distrito... Não se pode imputar tal novo à organizaçâo do Partido na sua luta contra os inimigos do
tentativa a Aldonine. A própria Zenina declarou que dormira pro-
funclamente naquela noite. Mas, seu depoimento foi diferente dian-
povo, e que ela contribuirá para geforçar a vigilância política e a
te do tribunal." Terír dito a verdade no tribunal? Mas Demenok vigilância dc classe; depois, cada um dos intervenientes se esforça
não parou neste ponto, embora não tenha falado mais sobre a em suplantar o orador gue o precedeu em matéria de denúr-;irs.
segunda camponesa. Por outro lado: "É preciso levar em conta o Gorkhov: "Na organizução de abastecimento há um comuni:-
ta, Kozine recebeu uma advertência do Partido em virtude
fato de que Alclonine exerce também há seis anos a função de Pre-
siclente do colcoze. Seu colcoze é poderoso, um colcoze destacado.
- ele
de sua atitude conciliadora para com um trotskista. Soube que na
As coiheitas são excelentes. As tarefas são escrupulosamente cum- Escola do Partido, de Klintsy, havia um trotskistã, Gleiser (...)
pridas. PeÇo-ihe examinar mais atentamente, quando da instru- Penso que é absolntament€ necessário levar seu caso ao Comitô
ção, as acusações que lhe úo feitas. da Região do PCUS."
O Secretário do Comitê de Distrito do PCUS de Kozelsk, O Procuraclor do Distrito, Kotcherguine: "Soube que se
Demenok, 2l.lO.1936."rr' çmpregam na administração da nova linha de estrada de ferro
numerosos kulaks e antigos chefes de empresa que tiveram, eles
próprios, trabalhadores." (Que "trabalhadores" pequenos empre-
Esas coisas ainda hoje se escrevem, ou melhor, se falam pelo gados de estradas de ferro poderiam empregar? E esta estupidez
telefone. E os tribunais soviéticos independentes "estudam mais sai da boca de um procurador!)
acuradamente" e "levam em conta". O Secretário do Comitê de Distrito do Komsomol, Guirine,
A 29 de julho de 1936, o C.C. do PCUS dirigiu às organi- descobriu, num programa de jogos para jovens pioneiros, que the
zações nacionais do Partido uma carta confidencial "sobre os atos foi enviado, "ouestões contra-revolucionárias". "Assinalei o fato
terror stas do grupo Trotski-Zinoviev". O comentário dessa carta de- ao Comitê da Região do Komsomoi, e creio que o camarada Fed-
via servir de prelúdio aos grandes processos de Moscou, dos quais ko vai assinalá-lo ao Comitê da ttegião do Partido." O mais encar-
o primeiro se iniciou na segunda quinzena de agosto de 1936. riçado é o intelectual local, o diretor do bureau do distrito pan
a instrução popuiar, Golovine. Começa por declarar: "Está claro
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407
nossa vida é mais alegre. As palavras verídicas do Chefe do Par-
tido, o camarada Stalin, se aplicam inteiramente a nosso distrito."37
agora que há, entre nós, no posto-de tratores e de máquinas agfl- E, de fato, que alegria no Distrito de Kozelsk! Demenok envia
,- grupo de trotskistás." Depois, tenta jogar o descrédito ao Comitê de Região listas incessantemente renovadas e cada vez
sobre uma dai pessoas presentes: "Acho que o cam-arada Ser-
"ãtur
inais rohustas. O Secretário do Cc,mitê de Distrito procura sempre
guiuk, que trabáha com eles, deveria ter algumas idéias* sobre novas vítimas. Eis alguns nomes: "Trubinr, F'ilip lvanovich, rnem-
íuur átiuiaudes concretas. Que fale sobre isso ao Bureout'" Depois,
o intelectual local declara: "Sim, sinto, evidentemente, alguma des-
irrci rlo FCUS onde ingresscu ';m 1918
L:ut)rra civill
-" descie, pois, o inícro da
resp,onsável pelo rlepósita de óleo tio posto de tra-
confiança do comunista Deikine. Não é visto em parte alguma, -
tores e ,-ie máquinas a.grícolas, foi acr"lsado de trotskismo. A acusa-
não se mistura com o povo, não fala em público (. . ' ) Conheci q'ão foi, em seguida, retirada, e atualmenig exarninamos o caso
Entich, foi diretor de uma das fábricas de Brjansk de lv25 a l/26, tnais uma vez."
e foi expulso por causa de suas simpatias trotskistas. É preciso "Pomerantsev Leonid (. . . ) Pomerantsev foi despedido, assína
assinalá-lo ao iomitê da Reg'ão do PCUS." O chefe da milícia do {lue se descobrirarn suas ações trotskistas na casa de férias. Atual-
distrito, Antonov, mostra-sã preocupado: "Muitos desconhecidos meilte, trabaifra ainda na casa de férias de Vjazma. É preciso en-
andam por nosso distrito. Paréce-me indispe-nsável -proceder siste- contrar Pomerantsev." Ou então: "Landychev Pavel Alexandro-
maticaminte ao controle das carteiras de identidade, para eles e vitch, médico, rnembro do Partido, e M. V. Klimov, sem partido,
para todo mundo. Os incêndios florestais, que eclodiram recente- diretor de um curso secundário intensivo. Todos dois trabalham no
mente, levam-nos a supor que há todas as espécies de pessoas §oviete Rurai de Pokrr:vski, e se reúnem à noite com pessoas des-
suspeitas elementos Sem controle que trabalham na estrada conhecidas para discutir não se sabe que problemas obscuros."
-
de ferro. -Dificilmente se pode afirmar que nenhum desses indiví- "l,ukianov, chefe do pessoal volante na eitação de Kireyevsk, anti-
duos teve a ver com os incêndios florestais. Interroguei o respon- sovrético. O processo está em fase de.instrução."
sável pela construção da estrada de ferro, Polosukhine, sobre E mais adiante: "Kotsodoi, rnembro do Komsomol (prenome
aqueleJ incêndios que se multipicam há um certo tempo ao longo e outro sobrenorne ainda desconhecidos), lugar de trabalho ainda
dô trajeto seguido pela via férrea - e ele me respondeu: 'Em rrão estabelecido. Em 1929, trabalhava na cantina da cooperativa
todos ôs lugaies onãe temos trabalhado sempre houve incêndios.' de consumo da cidade, em contacto com um grupo trotskista. Des-
Esta resposia não me satisfaz. É indispensável tomar medidas cobriu-se na casa de Kotsodoi urn programa do movimento trots-
contra Polosukhine dentro do Comitê do Distrito." rista. Procuramos Kotsodoi e as ramificações (do caso).'l3a
E Fedko - o Instrutor do Comitê da Região - apresenta Esse distrito, onde os secretários do Cornitê de Distnto e o
novas denúncias: "Há em seu distrito muitas pessoas vindas de Chefe da NKVD procuram febrilmente rarnificações, é invadido
numerosos outros distritos. Se vieram para cá é porque a vigilân- pouco a pouco pelo obscurantismo medieval, pelo espírito da caça
cia bolchevique ainda não é perfeita aqui. sua organização deve às bruxas. É este espírito que anima os discursos servis que cita
ter por objetivo desenvolver, por todos os meios, a vigilância bol- voluptuosamente Demenok nas assembléias de trabalhadores: "Eis
chevique, éfazê-la aumentar. É preciso ir, Jem hesitar, até o fim, rninha proposta: o peiotão de execução é um castigo muito suave
e desmascarar qualquer pessoa que, pelo passado, teve o menor para bandidos como Kamenev e Zinoviev: é preciso acorrentá-los
contacto com o trotskismo, tenha sido este direta ou indiretamente." e andar com eles por Moscou, é preciso que eles próprios cavem
E, neste ponto, o Instrutor dá um exemplo: "Entre nós há. um tal suas sepulturas, depois devem ser entregues a todos, pois esta é
Matiuchine. É presidente do colcoze e organizador do Partido. Ele uma morte mais ignomin-osa do que a morte por fuzilamento." Ou
então: "Como alimentar nossos inimigos? Muito bem, certamente:
próprio confgssou ter tido, uma vez, em mãos, o programa trots-
é preciso fazê-los comer, durante uma semana, arenque, sem nada
LiSã. O"uo dizer que é impossível mantê-lo como organizador do lhes dar para beber, e em seguida executá-lo."3o
Partido."
Então, a vida não é alegre no Distrito de Kozelsk? Mas, outras
E, para concluir esta caça às bruxas, o Secretário do Comitê vozes so fazem ouvir, e essas preocupam o Secretário do Comitê
de Distrito, Demenok, toma novamente a palavra. Pede "ao C.C. de Distrito: "Voievodine, do Soviete Rural de Potresovsk: nada
que não hesite em tomar as mais rigorosas medidas contra os ini- posso dizer de Trotski. Não podemos formar uma opinião. De
migos e liquidáJos fisicamente". Depois, acrescenta sem se dar
conta da ironia de suas palavras: "Vivemos melhor, camaradas,
40q
408
Minha experiência é outra. Esforçar-me-ei, portanto, em evo-
maneira geral, ele não tem objetividade.-.Vocês nos enganam' Não car a jornada de um personagem radicalmente diferente do herói
fra-i""iAo". nem calçados." Estê Voievodine deixou ostensivamente de Soljenitsyne: trata-se aqui de um chefe de setor no Comitê
a. reunião.
Central do Partido Comunista da União Soviética. Chamá-lo-emos
No Colcoze ..Trabalho Livre", do soviete Rural de Maklinski, Denis Ivanovitch e lhe daremos um nome de família de acento
EreÀina fez publicamente a seguinte declaração: "Vocês dizem que ucraniano: Vokhuch. Sob Khruchtchev e Brejnev numerosos ca-
a vida se tórnou mais alegre, mas é preciso entregar-lh-es uma fidelidade à linha do Partido tornou-se
purt" lu uaca, do porco, ão carneiro, ãa firndição, da fazenda'
maradas ucranianos
proverbial - cuja
entraram para o aparelho do Cornitê Central. O per-
bnde vocês vêem a bela vida nisso?" -
sonagem Vokhuch é fictício, mas os fatos que vou descrever são
No Colcoze "8 de Março", do Sovlete R'ural de Grichinski' bem reais.
Evodkia Savelieva, antigo cattdidato do Partido, privado . depois do
.

Não foi o barulho do martelo batend,: num pedaço de trilho,


direito de voto, entrega--se a uma agitação descarada: "Antigamen- perto da barraca do contramestre, que interrourpeu o sono de
te, trabalhavas para õ proprietário ãa terra e eras pago imediata- Denis Ivanovitch, mas o som melodioso de um despertador recen-
,nlrt". Agora, trabalhaí durante todo o ano no colcoze e não re- temente trazido da Suíça por ocasião de uma viagem oficial. Iva-
cebes nada."
novitch acabava de ter um sonho agradável: numa grande reunião
vassili Goreiikov, do colcoze "Trabalho Livre" do soviete realizada no seu gabinete, o Secretário do C.C,, ignorando od outros
Rural de Matchinski: "Não paguem impostos, pois eles só servem participantes, dirigira-se unicamente a ele, Vokhuch. Pedira-ihe sua
para os comissários aumentarem a pança-"ao
opiniâo, apertara-lhe a mão, fizera-o sentar-se em sua mesa, depois
Eis algo mais concreto ainda: '.o expulso do Partido Lagutine
subitamente desaparecera como volatilizado. Seus coiegas, então, se
declarou qu" or bolcheúistas são velhacos."al Numa convÊrsa com
,u*pon"r"i do colcoze, a muiher do .Instrutor Akimov declarou, Ievantaram, e esperaram, em uma atitude cheia de cleferência, que
apói o assassinato de Serguei Mironovich Kirov: "Que pena que Denis Ivanovitch quisesse dar-lhes suas instruçóes.
não tivessem matado Stalin'" Vokhuch se dirigiu, com um andar arrastado, para o banheiro.
E mais inquietante ainda: "I'{ikolai Novikov, do Colcoze Usava um belo pijama azul claro, aquele que recentemente adqui-
,stalin', do Sovieie Rural de Matchinski, antigo candidato do Par- rira numa loja parisiense, por um preço módico. Voktrruch não
tido, declarou: 'Se nos dessem afinas nesse momento, nós as usa- gosta de pijamas listrados e, sobretudo, dos pijamas com listras
ríamos contra o Parti«io e o Governo'."€ azuis e brancas, que lhe lembram o uniforme dos prisioneircls dos
são as primeiras centelhas do incêndio que se declarou cinco campos especiais. Em si, o apartamento não é mal, se bem que
arros mais tárde quando as tropas alemãs de invasão foram muito todas as instalações sanitárias estejam agrupadas numa peça única:
bem recebidas, e os soldados do Exército Vermelho se dirigiram sua mulher tem razão, é preciso pensar em mudar. Basta avisar
aos milhares e dezenas de milhares de votuntários se uniram às a seção administrativa do C.C. e discutir o problema com ela.
unidades de combate anticomunistas do General Vlassov. Enquanto sua mulher faz a cama, Denis Ivanovitch faz um
É com ódio e angústia no coração que o secretário do comitê pouco de ginástica. Concentra-se no abdômen: é que aquela ndí-
de distrito olha os primeiros clarões daquele incêndio, enquanto cula pança não pára de crescer. Na Policlínica do Kremlin, pres-
atira no papel suas denúncias e suas listas de proscritos - §em creveram-lhe duchas e ütassagens, mas nada adiantou. Não seria
imaginar qui, be- mais tarde, num país livre, homens as lerão d6 pç11c.*.i num regime?
^ caso
Após tomar sua ducha e se barbear, f)enis lvanovitch, que se
com nojo e desprezo.
perfuma com a loção após a barba importada, passa para a sala
de jantar. Ligeirn desjejum: um pouco de caviar, urn ovo cozido,
5. Uma jomada de Denis Ivanovitch presunto e chá. Çue pena não seja a hora do conhaque! Só o será
à noite. De c lalquer modo, não deve comer muito, pois pouco
E como vive, pois, em nossos dias, um nomenclaturista? Deve- depois vai har',:i um segundo desjejum.
se a Alexandre soljenitsyne a evocação de uma jornada de Ivan Precisamente às 8 h 35 min, Denis Ivanovitch atravessa a grossa
Denisovitch chukhov, o detido dos campos soviéticos. o Prêmio poria de seu edifício. É a hora ern que o carro oficial do Comitê
Nobel fala sobre o que ele conheceu: com efeito, passou vários Central vem buscá-lo. Mas, é melhor fazer com que o motorista
anos cle sua vida na companhia de pessoas como Chukhov.
4TT
410
-o.t elevador' do
o terrrpo de.descer pelo que correr
€sperc um minuto, coÍagem, telefonaria para o Secretário-Geral
o risco de ser notadó pltos vizintros pelos colegas,,esperando chemarn-no fami-
pei'mitir liarmente o "Generalny" - de
a chegada rio carro' Úr,i ho,"* de sua. pôsição,']ã:-L:.9: (J ri-Lo- flexões pregúçosas. - para ouvir sua voz baixo com in-
i* o"íru. Na verdade. o carro já está 1á, perto.da entrarla.
ciçt'ocracle' Não, decididamente, não chamará o ..Generalny,,, é uma idéia
torista não se levanta de seu lügar, pcis se está nunta infantil. Por outro lado, queira ou não, é preciso-telefonar a um
Vokhuch abre ele *"*o u p"ltto íaté mesrnc cs lrecretáris's do
de seus colaboradores. Ah! como detesta êsse tipo de conversa!
C.C. o Íazerc\) . r. o.o"."'cla votupiuosameirte na poltron-a rnacia
no-iugar da frente" perto do-motoriiia, colil qtte§r' muito
detnocra- E, afinal, é uma história muito aborrecida.
ilcamãtrte, inicia conversa. Ele
-Juventttdcr, lhe conra .
que, quando Írab-alhava Na véspera, pela manhã, o primeiro adjunto do chefe de
fumava dois cigarros a,caminho da departamento assinou o projeto relativo ao envio de uma delega-
no Donbass, na sua
fábrica. Mas, agora, iua mulher fez con; que parassc'
Na realidade' ção à Itália. Uma boa delegãçáo: lí estão'dois candidatos do Cõ.,
traúinou numa fábrica, e pàrou espontaneamente de um membro da Comissão Central de Revisão, e deputados ao So-
"i*-lúrit
úar quanrlo leu no semanário biedielia q.ue o fumo provoca viete supremo. o primeiro adjunto examinou cuidadosamente as
assinaturas no documento, segundo seu hábito. Até ai, tudo ia bem,
câncer pulmonar.
E àis que Moscou desfila diante dos olhosPerspectiva de Vokhuch: a e. ele disse, apondo sua assinatura: "IJma delegação como esta po-
a Kali- deria ser aprovada até mesmo pelo "Geneiainy,,!', Aí, eniào,
Perspectiva Kutusov. o Mr:scova, as avenidas'
u* Muralhas do-Kierntin, á Escola de Equitaçãn' o Bolchoi' Vokhuch, que sentia necessidade de aparecer, chámou, todo con-
"ir", a massa sombria tente, um de seus amigos no departamento geral: ..Vamos enviar-
o monumento ,o pti*"ito impressor, Fj9!gryr;'. (os lhe uma lista da delegação, e a direção do departamento ó de
do monumento Dzêrjinski, o edifício da KGB vtztnhos' pensa
eo opinião que se deverá submetê-la ao ..Generalny".t' Infelizmente, o
ell, e isto lhe apeJá o coração) ' Atrás, o Museu Pclitécnico
monurrento aos heróis de P1evila, começando à esquerda a ave- primeiro adjulto se lembrava perfeitamente do comentário que
a..siihueta ma- Íizera. Sem dúvida, preocupado, dissera a Vokhuch antes de tomar
;iã;, ;;A.rnto à direita se desenha pouco a pouco É o
;id'"- iló";nte cio edifício do Comitê Central'masali!decidido' the elevador:
Temos sua delegação em tão alta conta que a enviamos
Na entrada, um oficial da KGB, cortês' para- apreciação do "Generalny". Espero que tenha entendido que
pecle seu puraa, ,-u pequena caderneta de couro
vermelho es-
com atenção' I)e resto' nada com que eu estava brincando, não é?
curo, que o outro examinÀ mas de
se preocupar: não ;;- ã; de um sinal de desconfiança, escapam Vokhuch balbuciou vagamente uma resposta, e o prinneiro
o*i ota.*. Os "Sav. Otdel" - chefes de serviço adjunto, sempre apressado, enfiou-se no elevaáor. Vokhuc-h preci-
ã"rru totaalidade: o oficial se contenta' então' com uma breve pitou-se, então para seu gabinete, a fim de chamar seu ami§o do
posição de sentido para saudar o departamento geral; mas ele já tinha saído. Chamou, entãó, um
;;;á;ú;;iiitur. BrÀ ficará em
outro labinete no departamento geral, onde lhe explicaram que
Secretário do C.C.
---
Os funcionários se sucedem agora no grande saguão ^de e
en' o documento seguira, há duas horas, para o Secretariado do Se-
homens como ele fortes cretário-Geral.
trada. Vokhuch troca com seus colégas,
breves: amabilida-
bem alimentaaos, atlu*as frases ariáveis' mas Sim, era preciso, de qualquer maneira, telefonar naquela ma-
Nada claquelas efusões de intelec- nhã. Não muito cedo, certamente, senão haveria logo alguém que
des entre colegas, n"ada mais!
imaginaria que Vokhuch tinha feito uma bobagem. por oútro laão,
tuais!
com. uma inveja cuidadosamente dissi- não- seria possível tergiversar, do contrário o "Generalny" veria o
-o de ter olhado,
Depois -i"r"rrado
à hierarquia -- somente os "Sav - etudo
projeto ficaria bastante aborrecido e diria: "O que significa
-ufuOui etevador
direito a ele -
Otdel" e, naturalmJ.À; Secretário ao õ'C' têm
isto? Agora, tem de passar pelo meu gabinete, é? E a ádmis-
são de uma camareira numa casa de repouso também? eual foi
Denislvanovitctrtoma,oelevadorcomumquesobesilenciosamen. o idiota que teve esta idéia?" Vokhuch tremia só de pensai nisso:
te até seu andar. mesa à es- eles vão encontrar o culpado imediatamente.
Comoécalmoeagradável aout! Numa Pequena um livrinho Mas, era preciso também colocar-lhes a pulga atrás da orelha.
ouerda o tÍono do "Vertuchka"' I.ia gaveta dô meio,
the faltasse Por onde poderia passar esta lista? O caso tinha, é certo, uma
vermelho: o anuário telefônico do góverno. Se não pequena aparência internacional, mas era muito pouco para inte-

4t2
4t3
no caminho que leva a uma consoliciilQãc clo papei dirigente dc
ressaÍ o "Generalny". O melhor não seria' por isso' pedit
-a
nao
seu
es- I'artido.
;;;;;", Ándrei ivtikhailovitch... a lista, seguramente, e farejaria logo Na páglna 3, informações internecionair:: "Suce§sos das F'*rças
rava com ele. Além ãi;;;, este tipo tem antenas, tle Paz", 'iTornar a Détente: Irreversívcl!" Perfeito, perfeito. trInn
seiia chamar aquele felizardo. secre-
;;; ;;i; de Vokhuch.- úótnor início' ocupava-se as- scnador americano pede a retirada das tropas americanas Ca Eu-
tário. EIe teve uma un"" incrivel' De. .dos
Depois, teve ropa. Mas por quá os çamaradas do depariame-nto internacional
".r*^";;;úío
suntos
"t
noruegueses ;; departamento internacional. nío tc;lam este exemplo na Cornissão de Bruxelas para a Segu-
fulminante' Agora, m,enciona-se seu nome nos
co-
no Kremlin com sua foto na pri- rança l,uropéia? Este é que é um po!ítico realista.
municaclos finais dos encãntrJs A manchete qu€ se segue é bern neutra: "Entrevista de trrn-
meira página do pravíü..o secretário do secretário-Geral
..." É a não
enviar a papelada de um ga- l)rensa de Jirnmy Carter." Nada a assinaiar também aqui,
il; dr; ele nada Àais faz do que papóis fazem tremer o mundo' :;er uma pequena passagem' colocada en pessafit, aa conclusão:
ú-inJ" luru outro. Mas, alguns desies diz-se que o Presidinte pediu que se apóiem as exigências dos
decidiri ,ão"t'ltfo'ar logo' e respeitar a ordem habi-
Vokhuch
jornaii pelo Pravda' O ugr"ruoràs israelenses. Para saber o que Carter disse realmenie,
tual: de início, u iàii".á áã' começando
de primavera' bastará dirigir-se ao Vestnik, o boietim da Agência Tass.
eçiitorial ó dedicado uL.-,riais'p"p"átivos das semeaduras
Eis algo que se oeter" ao departamento de agricultura: inútil Ao pé da página, algumas notas tradicionais sobre os proce-
t'rnu nlhud"lu precisa' que ali figura a rlimentos dos dirigentes de Pequim. Um jornal árabe fala de urt
lê-lo. Basta vcr;ficar,-co*
inevitável citação Oo'
.õLn.iuú',. Vokhuóh sempre se lembra da- acordo secreto concluído entre o governo chinês, a Jurrta Militar
ro de 1964 -- na época' ele ainda não era chilena e o regime racista de Pretória. será que. o serviço- de con-
;,;;ü-";*hã àe outub em que se encontro" no- Pravda de tra-Informaçõei não se excedeu um pouco nesse caso? É preciso
chefe de setor
;^;"c.-úouto ,ouià - '*"ntuais transformações -no Ç'C,:- o nome
"onfitmução guardar um mínimo de verossimilhança. O que Pequirn poderia
de Khruchtctrev aesàparecera subitanrente do efetil'amente' ct-
jornal'. Mas'. nã9' razáo' O povo
é' [r"r"r de Pretória? Mas, talvez os colegas tenham a infor-
tudo está U.rn ugorai o nome do "Generalny" ácreditará: afinal, não foi nossa imprensa quem iançou
tarJo'Decretosreferentesadistinçóeshonoríficasatribuídas.amem- mação, mas um jornal árabe.
Íesta comemorativa' e a telefone interno (a antiga linha K6) toca. Do outro lado
^ringuém poi ocasiao de uma Vejamos o que diz a
bros da Academia, o
ãpãa.ià-, ão- apaoil"to,<lo C'C' do fio, a secretár,a do primeiro adjunto do chefe do departamento:
crônica da página 4: novo Embaixador junto à Re-
'; noriieaçaofoidochamado "Denis Ivanovitch, Ivan Petrovich pede-lhe que venha falar sohre
oública do charle, ;-;tig; a novas funções. Que
A decisão foi tomada a delegação na ftália!" Vokhuch consegue controlar a- voz, mas
ffiIià"í" .. Tiãrr,ii.r,r'àfri.unor
ao sãviere Supremo!
deram sea agrément. sente úm aperto na garganta. Será que a bomba explodiu-mesmo?
há três meses e o, imediaiamente
do Obkom* E ele, imbecil, ati, túnqtiilamente sentado, lendo jornais! Pode ser
Passemos a padr; 2: "Vida do Partido'" Pleno
tue, naquele interim, um assistente do "Generalny" tenha
telefo-
de Kustanai. Au tã;;éÃ' sao evocados' é claro' o-s preparativos
de
parágrafos para saber nado ao primeiro adjunto e que este se mostre louco raiva'
das semeadurur. guliu"i;; ; dois primeiros e.se utg"1*-9,u Como se àesculpar? Â quem ápelar para sanar esta desgraça?
se foram auo.auors Ls questoes dà o-rganização
se diz que o prl- Vokhuch se atira pêta pottu como se tivesse sido queimado
ãi."ç""-r..r*tário à ieuniaó. Não, simplesrnente
"rtistiu do comitê da região tomou a palavra. com água fervente. No entanto, no corredor, esforça-se por manter
,.iio
'-'-- a calma e a dignidade a firn de que ninguém com qüem cruza
ó uitigo teórico - "O Partido como Força Dirigente da So- juntos
uma leitura atenta' note sua agitaçãõ' É claro, são colegas,- esquiam nas en-
ciedade Soviética" -- merece' por outro lado' encontrar ali' mas' na são todos como- ratos:
interessantes para.se costas do ktlãrrn" realidade,
Há, talvez, nuanças' fármulas
sem motivo' Mas' o tema ao rnenor sinât de -
fraqueza de um deles, atiram-se sobre ele para
nois o Pravda;u*uit publica um artigo
ffi ;..A;;;;-"'-;ilunt.l Nu, situaçõei rápidas,-.publica-se. o edito- devorá-lo.
rial: LTnião oo iuitao e do
p"ovo". E o ediiorial de hoje acha Vokhuchentracalmamentenaante-saladoprimeiro.adjunto.
uria. existe muito forte e que é conveniente avançar agora com a cabeça faz uma saudação amável à velha secretária, mas
;;; "ti; sente um aperto no coração. Este é o momento, pensa -brusca-
(Nota do tradutor francês) mente,emquesurgemno"orpoascélulascanceÍosas.MaS,um
* Clblastnoj Konritet: Comitê Regional'
415
,1t4
está bem constitúda, ele assinará e será possível, então, quo §e
outro pensamento lhe acorre, que coloca imediatamente em fuga espalhe o boato no departamento de que o "Generalny" ficou
o câncãr: vou entrar em seu gabinete, que cara ele vai fazer? muito satisfeito e que cumprimentou Vokhuch. 'i'alvez que, naquele
Ora,'pois, -Oh! está sentado tranqüilamente' Não
o primeiro adjuríto momento, o primelro adjunto, todo Íeliz, apóie sua candÍdatura.
haverá, discussão. Que alívio! Mas, acima de tudo, é E eis Vokhuõh elevado à dignidade de "Sam Sav.", de adjunto
n."6rárià nâda deixar transparecer, nada! Dominar-se antes de clo chefe de departamento. "Sam Sav." afinal! Um enonne gabi-
responder. nete, uma secretária, um carro com motorista, especialmente cG'
O primeiro adjunto tern, ao mesmo tempo, o ar transtornaclo locado a seu serviço, não o Volga comum da garagem coletiva
e segurõ de si é seu estilo. Vai direto ao assunto: do C.C.; férias em uma datcha, em lugar da casa de repouso de
-
A p.opósito de sua delegação, não deseja, você mesmo, Kljazma; e, além disso, rendimentos suplementares, além de bônus
fazer- parte déla? Sempre enviamos_ consultores do _ departamento "Kremliovka". Mas, o essencial é o poder: o adjunto do chefe de
internacional. Mas, naô é uma obrigação. Posso falar a respeito departamento tem diversos setores a seu encargo; vê, todos os
com Sagladine e será você quem representará o aparelho' - cliás, o Secretário do C.C., participa, freqüentemente, das reuniões
vokhuch foi tomado por sentimentos contraditórios. É claro do Secretariado; nos lugares freqüentados pela alta hierarquia, co-
que seria bom ir passear em Roma, ali f-azer algumas compras, nhecem-no de vista, sua silhueta é familiar. Ah! Fazer parte da-
frrcr .r- pouco dê turismo. Mas, um segundo movimento, uma quela elite! Não há posto mais importante na hierarquia do Se-
espécie de^reflexo adquirido durante-longos anos passador no seio iretariado. () escalão seguinte, o de primeiro adjunto, já pertence
dá Nornenclatura, su[ere-lhe nada fazer: sobretudo, não aceitar, ir Nomenclatura do Politburo. Então, não será melhor correr riscos
,obrr,"t.t-*" à prova; ioltou há pouco da Suíça. Terceira etapa de c deixar o documento chegar ao destino? Audácia, audácia sempre!
sua reação: se'ele está pensandó seriamente em the mandar para Mas, a prudência, que se tornou em Vokhuch uma segunda
a ltálii, não será por que você proporcionou algo a ele? Mas, natureza, acába por doúiná-lo. Quan«Ío se tem um objetivo em
esta hipótese é prontameite afastada: qualquer um dos membros vista, é melhor aiacar de frente: os caminhos sinuosos são também
da delegação ficaria muito feliz em piestar serviço ao primeiro os mais arriscados. A assinatura do "Generalny" não lhe garante
adjunto." Se ele deseja verdadeiramenté que você vá, insistirá. E absoiutamente que ele será nomeado. Por outro lado, se surgirer:n
Vokhuch responde: dificuldades, póde-se ter a certeza de que não o seú. Durante
Não. Ivan Petrovich, nã.o conte comigo! Fstou tão -atare- lustros, lembrâr-se-á da falta que ele cometeu. É necessário recupe-
-
faCo no setor que quase não consigo dar conta de meu trabalho. rar o projeto de decreto, e rapidamente!
Nem tenho mais tempo de almoçár ao meio-dia. A Itáiia está Como antes de cada entrevista com um personagem lmportan-
i*.t"iau para mim. Àlé* disro, não sou muit_o partidário das te, Vokhuch anota a lápis o que deverá dizer' Cada palavra tem
viagens aô exterior, salvo em caso de.necessidade' de ser pesada. E depois, sobretudo, é preciso ser claro, não se
E espera: se o primeiro adjunto declara que a -viagem é in- ernbrulhàr. Falar num tom respeitoso, mas firme, pois este é o
dispensável, é porque ele está pêssoalmente interessado nela. Mas, estilo da casa. AIém do mais, é preciso que se sinta a que pcnto
o primeiro adjunto diz aPenas: Vokhuch deplora que o "Generalny" perca seu tempo com seme-
Como queira. O irabalho do setor está acima de tudo, é lhantes banalidades.
-
claro. Depois, num tom matreiro: Queria valorizar esta delegação Vokhuch se concentra antes de discar, no "Vertuchka", o nú-
- --
incluindo-'o nela, mas vejo que não está de acordo! rnero de quatro algarismos. Do outro lado da linha, a voz im-
vokhuch volta para-serl gabinete seguindo o tapete-Íosa claro passível do Secretário se faz ouvir.
com orla verde. Eitá conteãte consigo mesmo: recebeu a boa Vokhuch dá seu nome e seu departamento. Sabe que o Se-
ieaçao. Evidentemente, l0 dias na Itália não é coisa para se des- cretário vai folhear, a toda pressa, o anuário telefônico do "Ver-
jr"àur. Mas, ele tem ambições mais elevadas. Uq posto de adjunto tuchka" para encontrar seu prenome e sobrenome, que, em se-
ão chefe de departamento vai vag-ar: se o- primeiro adjunto apoiar guida, eúabulará conversa para f.azet acreditar que, do alto, eles
sua candidatura, suas chances serâo apreciáveis' conhecem todo mundo e são bem informados.
E um pensamento agradável lhe ocorre: no fim das contas' Desculpe-me incomodá-lo diz Vokhuch num tom calmo,
- pequeno
talvez não fenha sido um- mal que o projeto de decisão _referente mas-diferent€, cometemos um erro (é preciso um
ía"iegaçao tenha sido enviado-ao Secretário-Geral. A delegagão -
417
416
poucú Se ar:tÜerítica, roas o '"ná§'". uiiiir;:tÍrr de rreferêlcia ao cada detalhe. Vokhuch se lembra rie ililit ee seus condisctiruios,
;ieu", permitÉ meieÍ ;ro ca$ü L, priinleirú *-iiiSirntt'r; c()nrct suborciina- que zcmbava abertametite rlÊ:;sa extravlgância. Iira" e:'.1ãt!. epenas
do leai, Vokhuch aeeita, pois, a caiapuça): clivirlntos ontem ao Secretário do Comitê do Parti«Io na Univer*idade, tllas conscguiu
C.C. um projetr: de d*eisãri relativu a u{na iieiegação à- Itálie; sa- exrrulsar aquele brinr:alhão. Isso ncotttecetr I'14 pritnar,i:rt <1* i949,
bemos que os can;aia,las d* 4epartar**nto-gerai Prucerierir.r,t com na época da luta contra o cosmopolitism<.r. (l maianrliinho não
zelo e iiie cl.riarallr riireiameii'.» est§ d+.:itrnento. À tielegaSáa nátt enuontrcu mais trebalho, o qr,te c obrigtttr a partir pal'a a Asia Cert-
çstá mai constituíria, mâs o caso uão tú1n i:lnta importânr:iir pare tral. \rerificou*so Que aquele homem soíria de probiemas cardía-
ss tomar o tempú do "CetreralnY". -born cos, e morreu na Ásia Cenira.l, de eufalíe. em plena cairícr-ria. Sua
Iispcra algrrns segundos. Serta çtue o Secretário il*sse sua mãc foi ao Comitê do Partido; pôs-se a cltorar e a gritar: "Âssas'
opinião. Cornõ ,"rpuítu, ele se conterÍa'cc'm un-, '"Sim" seco, tlei- sinos!" Foi uma sorte quc seu adjunto para questões de organiza-
xànCo a Vakhuçh a iniciat;.ra cio p-r-arsegrlimento cofi) o monól<lgt,. ção estivesse ali, e ele conseguiu arrancar Vokhuch das garras da
iomo saber o que pensa aquele teilzardo? rnulher. Um renomado bonaclião aqilelo Sacha Clrapulov, um
* Naturalmente, você está em meihor uosição para julgar -- ex-tchequista. Perg'*ntou calman:elte à r'elha: "Se enteridi bem,
diz Vokhuch, ligeiramente lisonjeador -- mas acredttarnos que não cidadã, foi ao Comitê dc Fartido que fez alusão?" Ela sc calou
valha a pena incomodá-lo. Pr:deria, talvez, devoiver o processo imediatamente e desapareceu. Na época. quesiiollarâilr se deviam
Eos secrotários? clenunciá-la aos órgãos competenies. Sacht frii a favor, rras Vok'
Vokhuch prcculil, com todo o esiorço, fuer compreender a
n'Genetralny" bem
huch sentiu que havirr ali, da parie iios niemt='ros do cornitô, uma
seu interlocutõr que ele, Vokhuch, ccioca o I'atta de compreensão. Afinai de ccntas, eta a :m.ãel
aciina dcs ;ecretários couuns. Era preciso, pois, corrgr ri:*os- R.rccltemetile. i;llha-sJ envia-
o Secretário. - Diga-me, do a Praga, com uma bolsa, uni estudante de ciências que prepa-
Denis
Sim, tentro seu documento
- Ivanovitch - diz no
(sim, ele já o encontrou anuário), devo subrne' rat,a urna terceira tese. Mas não se rlcra autoriztçã.o de saidr. à
ter o projeto ao "Generalns/", ou mandá-lo de volta ao departa- sua mulher: corno não era iirrra grande pelv:naliiiaCe. aquelc bol-
mento? sista ia ter aborrecimentos com isto. Üia, sua muiher dese;ava
0 tom é cortês (é o ncvtl estilo), rnas é evidente que o Secre' muito ir a Praga. Conseguiu saber que dependia d*ie. 'V'ol'-huch,
tário não quer assumir a responsabilidade, e que não quer. tayo' que seu dossiê fosse enviado ao departa.ütetit{, rJe viagr:ls ao exis-
bém, por sua própria iniciativa, mandar de volta o dossiê aos rior. Alám disso, ele própriu lii* dlera e entender no rjia silr /.{ut
secretários. Desiartê, é melhor não correr riscos. E Vokhuch res- ela fora procurá-lo, tímida e ruborizada, ccm §etrg hel.-'s oihos cin-
ponde no mesmo tom: zentos, o vestido que destacava as foíLi?i1s cle seu beio corpo, e seu
Sim, acho que é melhor maniÍá-lo de volta. colar turquesa. Ele, então. lhe explico,: qrr* 'dma autorieaçãu de
-- Muito bem - diz o outro com uma voz neutra-' saída não era um caso iáeil, que havia muito trabalhcn em seu
Bem, eis um caso resolvido. O único inconveniente ó que as gabinete para se ocupar com aquiio, mas qüt, talver., porl';ria <iedi-
pessoas áo departamento-geral vão ficar a par do incidente. Mas, car-lhe alguns minutos, após o trabalho rio gatrinet*. É verdade
àfinal, o escânãalo foi eviiado. Bastará convidar os camaradas des- que, à noite, não a deixariam entrar no edifício rlo C.C.-' Mas
se departamento, homenageá-los de acordo com o figurino (pen- havia seu pequeno apartamento de uma peça rrâ Rua Pon'sojuz-
sar nô conhaque francês!), e será perdoado. naja. Ele não tirou o colar turquesa, cujas contas brLncavan sobre
Uma jovern, de aspecto portando pa!- a pele morena e pálida. E que irnporta se o olhar qirc eia lhe lan-
-da bastante sornbrio, -qma de
ta contendo despachos Agência Tass, entra no gabinete çou não era exatamente aquele que ele clesejaria? Ela rÍevia estar
Vokhuch. Ali, só se empregam jovens com tal- aparência para evi- contente agora, já que passeava às margens do lv{oldá';ia e na
tar mexericor. Pe.f"ito, pensa Úenis Ivanovitch, dando uma olha- velha cidadela.
dela rápida para ela, nãó se está ali pa11 aqu]l-or -Pa1a "a.tu.ilo" há As coisas são, evidentemente, mais fáceis corn as jovcns do
dançariàas, ieservadas aos altos dignitários. Vokhuch ainda não rrosso meio. Vokhuch conheceu, nuüa casa de repouso do C.C.,
tem direito àquilo. Deve cultuar a famflia soviética. uma instrutora muito ousada, que pertencia ao Comitê Regional
fnteressa-ie muito, na organização do Partido, por tudo o que de Voronej. Neste caso, não houve nem troca de olhareg. O úni-
se refere às mulheres. Se há um escândalo, a organização saboreia co problema para Vokhuch foi satisfazê-la.

4tB 4 l{)
Que mal há nisso? Os próprios pais d" tempo para escolher e comprar ainda aigumas coisinhas para levar
ceia -l]tl1::o,^tudu
vez, com u-ma- delega-
tintraà contra tal. Voktruch seguiu, de Marx' E para casa: frutas, uma caixa cle bombous de chocolate (marca
ção à RFA. F'ora. ui.iiut, Tii"t, a casa natal encontrá-la! -- quando cri'
",'i
ili -It qrt *ft soube que lvlarxpaitivera uma ligação e que. sua
Miçhka ou Nuka otnimi
- procurem
ança, já comia deles: vestígios da época da NEP). Não escoiherá
amante lhe dera iitt o. O do marxismo não reconheceu
-West- salmão defumado nem caviar; para o segundo desjejum; Vokhucb
"-
essa criança" Que escândalo se, em nossos dias'
Jenny von
prefere laticínios, como a Prostokvacha, mistura de leite coalha-
falen fosse ao comiiJ-J.-p"rtiao queixar-se de seu
marido! E
de ào com açúcar, queijo branco cremoso, e depois soldanela* no
i-ãüg*-ii'g*ir,-Vomr,"h ouvio dizãr, no Institutoduas Marxismo- que óleo de milho para evitar a arteriosclerose (recomendado com
il*i"i.rno, lue ele vivera, ao mesmo tempo,..com seu interlocutor
.jo-ven-s insistência pelos médicos do Kremlin!). E chá com algumas-Mich-
fuzilara
;ui, ilár! Naquela ocasião, vokluch E I-enin, com sua-IrenÊ kas. A atendentc do restaurante lhe dá um pouco de chá num
com o olhar. Mãs, era mesmo verdade' copo, e ele vai a uma das mesinhas laterais para se servir sozinho
Àonuna, que ele t.ui"ru respeitosamente' Vokhuch não era Lenin' de água quente. Quando Vokhuch faz sua dieta emagrecedora
*u*, ,uqulle dia, tinna traiado respeitosamente a jovem quando semairal (ãquele enornto ventre, uma verdadeira catástrofe!), não
eÍiiav3 em seu quarta. vai à cantina do C.C. para almoçar, faz, sirrplesmente uma ljgei-
Muitas reminiscências líricas, mas é preciso voltar ao traba' ra refeição aqui: coloca, entã.c», um pequeno c*bo numa xícara e
lho. Vejamos o gue diz a 'agência Tass' derrama água- fervendo por cima; isto forma uqt caldo perfumado
Vokhuch folheia i Vrttnik, aquele maço de papéis de má de champignons, na superfície do qual flutuam mesmo alguns'
quatidade. Mas, simultaneamente, côntinua a refletir sobre os
pro' pedacinhos.
bl.*ut do dia. B-eflexão e leitura se misturam' No salão, Vokhuch vê alguns colaboradores de §eu setor.
no seio dos partidos
-pioiiu*ion"it
Frotestos socialistas europeus contra as Dirige-lhes uma saudação cordial, mas §em procurar estabelecer
'RFA. Por qúe esta mania
err,uiiá"u. na Normal! um contacto maís fraterno. O costume assim o quer. Uma certa
de recusar nomear Úm iuiz unicamente por ser ele comunista? Felo sobriedade instalou-se nas relações pessoaig ao passo que, sr:b
não-
cunirário- veia-se o que acontece conosco: não se nomeiam Stalin, os superiores se comportavam como antigos combatentes do
ccmunistas. A proposito, é preciso resolver hoje qlelmo
-
o caso
Exército Vermelho: divertiam-se, davam-se tapinhas nâs co§tâs,
;;.d;i;;*,"-puttlaô que é pr§idente de uma comissão' Não nos
ou olhavam seus subordinados com um ar conelescendente" Restou
faltar* camaradas uqu'i ô P"'tido conta com 17'000'000 de
alguma coisa disso no comportamento dos mais antigos, daqueles
snem"bros.
- que se vão aposentar dentro em breve. Hoje, exige-se scbriedade,
Vejemos: na R'odésia, a despeito da segregação- foram
auto' polidez, ponderação e eficácia.
e negros. Enfirn, cntre um
No setor adotou-se o seguinte sistema: entre 9 e 11 horas, os
rizatlos os casamentos entre brancos
hom*m negro e branca' E elã concorda! Nada d* colaboradores de Vokhuú só o procuram em caso de urgência.
espanto nistol Se""tã-*ritt"r
se deixasse fazer, as estudantes da Universidade Impossível proceder de outra maneira, pois, do contrário, num dia
i-,íÀ,,,t t., aqui, se precipitariam todas sobre os estudantes negro§' como o de hoje, por exemplo, desfilariam todos t1o seu gabinete
Eis ;rl1:o i. anotar pita a entrevista com o vice-reitor' para demonstrar seu zelo. E como faria, então, para telefonar *o
úr"lze horas: o restairurante do c.c. abre suas
portas. É tem- secretário do "Generalny" diante deles? É portânto, um bom
Vokhuch' satisfeito' encami-
pt-r cle ir tomar s.!u,tao -ctesjejum' horário.
"
nha.-se para o ,"tturi?nt*. Conóeguiu resolver
o caso da delega- Voltando para seu gabinete, Vokhueh faz sua parada habi-
ção. Sentir-se em segurança, eis o.ideal' tual diante do quiosque de livros '_ um minuto, não mais, o tem'
Na sala fu*inoíi- btilttunao de limpeza' já- entraram y':as ft5 po para verificar se chegaram novidades. C)s jovens, por Yezes'
vitrine do restaurante pode-se ver tutlo aqul- param ali muito tempo para folhear as obras, mas isto não ó cou-
o*rrnu.. Atrás da alta paci-
1o que serve parâ i"*p*tirt , guta' Só resta ier um pouco de siderado muito bom: pode-se imaginar que eles não têm nada para.
à;J; ; tita: ira 6ês atendeãtes eNada apenas duas ou três pessoas
de parecido com a fila
fazer. Pelo contrário, é preciso dar a impressãn rtre que há fraba-
;;;;;r; aiunt" o. .uáu "-a delas' lho, mas que se sabe organizá-lo e Cividir o ternpü. É a síntese
do Gastronont, na "iaua". Além disso, aqui, as atendentes, não o
;;tp;;ü;;t n mais á"pttt*u possível como no Gastronom' Tem-se . Colza lartârica. (Nota do tradutor francês)

420 42Í
Lyssenko, mas isto não é motivo para ignorá-lo como cientista...
entre o élan revolucionário russo e a eficácia americana, para usal
uma fórmula de Stalin. Que cabeça! - Vokhuch
de
estava satisfeito com sua astúcia. Se fosse um judeu
pura linhagem, nada a criticar, mas aquele que não faz parte
Os colaboradores de Vokhuch nào vão tardar a aparecer' lJm da corja sionista... Vokhuch se tornou bonachão: Você conhe-
deles já mete a cabeça pela porta entreaberta: ce a expressão: "Amai-nos, mesmo que sejamos -negros, mesmo
entr&r, Denis Ivanovitch?
-ComPode-se
um gesto, Vokhuch o convida a entrar. Chama-se Schvet-
que seJamos brancos, amai-nos de qualquer maneira."
Schvetsov zombou:
sov, acaba de-entrar para o C.C., após ter saído da Academia de Negros ou brancos, de qualquer maneira, não gosto deles!
ciências sociais. vokhuch não sente nenhuma simpatia particular -Denis Ivanovitch sorriu: aquele genrq não gosta de judeus,
por este janota. Mas ele t€m um sogro general-de-divisão, destaca- mas, assim mesmo, deixou passar dois na lista. Vokhuch retomou
ào no Estado-Maior. Vokhuch é, pois, particularmente amável' o tom oficial:
Schevetsov lhe apresenta uma lista: Composição da Comissão aproveítar a ocasião para acertar um outro
Búlgara-soviética de biologia. Enviada pela Academia de ciências, - Poderíamos
problema pendente. Por quanto ainda vai-se manter um sem-par-
para exame, com a aprovação do Presidium da Academia. tido como Wenskii na Vice-Presidência da Comissão?
Há signatárioi abaixo? ..-- pergunta Vokhuch, prudente- O "genrozinho de seu sogro" sorriu:
mente. .- Um bolchevista sem partido! é uma forma de
EIe não esqueccrá jaurais o erro que quase cometeu rlo início expressão um pouco caduca. Ela lembra - Sim,
o subjetivismo (quase
de sua carreira como chefe de setor. Sua carreira estaria por um disse a época de Khruchtchev, mas, no último momento, preferiu
fio, se ele tivesse aprovado a composição de uma comisúo dentro a expressão oficial). Disseram-me que há protestos nas células e
da qual se insinuarà uma pessoa, ãtrevida, que assinara uma peti- que nos propuseram como substituto o Secretário do Partido no
ção em favor de Siniavski e Daniel. Felizmente, ele fora colocado Instituto de Biologia.
a paÍ a tempo e pôde riscá-la da lista. Do contrário, teria tido Era exato: duas camaradas do Partido tinham vindo procurá-
aborrecimentos cspantosos! Io, uma após a outra (a primeira tinha trabalhado anteriormente
Schvetsov ri. nos órgãos de segurança, e a outra na Confederação Sindical Mun-
Não. Denis lvanovitch, não há signatários. Por outro lado,
-- dial) para lhe declarar, ambas, que a Biologia é uma ciência rele.
não está excluírla a possibilielade de que alguns camaradas não vante do Partido, e que não há lugar, dentro da Comissão Búlga-
sigam para rr exterior. ro-Soviética para especialistas sem partido. Na verdade, elas não
Há, Êois, judeus na lista. suger;ram o nome do Secretário do Partido como possível candi-
-_ Quem? -- perguntou Vokhuch em um tom breve' dato, pela única razão de que elas próprias queriam o lugar. Mas
Corn- a ponta ào 1ápis, Schretsov fez duas marcas quase invi- Vokhuch tomou sua decisão: vai elim:nar aquele intelectual e subs-
síveis diante^ do nome úos interessados. Eram nomes de origem tituilo peio Secretário do Partido. Nem pensar naquelas duas
russa: aí *stá a prova cle que essas pessoas se adaptaram! E este boas mulheres e seus excessos de zelo!
'genrozi:rhc de sàu sogro" que nada disse a respeito! Schvetsov, que, no fundo, fazia parte do grupo dos intelec-
_-Seráqueteremosdediminuiralista?Oucolocaroutros 'tuais, falou, um pouco hesitante:
Vokhrrch, polidamente. Se eles viajarem,
nomcs?
- sugeriu o - Comissão?.
na Mas é um bom especialista. E fala búlgaro.
- Este
luem fará, po,-is, trabalho em seu lugar
- Mas,
áo *"r-o'tempo, dizia a si mesmo que se afastasse os dois judeus, - ele o motivo por que o mantivemos até este estágio do
projeto: serviu na preparação da Comissão
- erplicou,
paci-
vai-se murmurar. na Academia de Ciências que o Aparelho é anti- entemente, Vokhuch. Mas, agora iá ultrapassamos esta etapa.
semita. -
AIém do mais, os comunistas estão-se queixando. Eliminemo-
Schvetscv limitou-sea dar de ombros: lo, pois!
-- Foi a Academia que os ProPôs. Schvetsov não está inteiramente convencido:
Ctra. ora! A Academial Khrúchtchev quase a fechou! Vokhuch
encontiou rapidamente a solução: - E o que se vai dizer a ele?
Fale a respeito com o Secretário do Partido, será mesmo
Vamós suprimir um nome na lista e substituir por um
-- o - se não se descobrir nenhuma falta profissional. Até o Sol
diabo
outro. Coniieço no Instituto um tal de Blank. Foi partidário de
423
422
temmanchas.-Vokhuchnãoconseguemaisescondersuairri- Sujeito de coragem! Casar-se com esta espécie de pessoal
;üà"'-f úa pior áã. r,ipot.t"', 'océ comunicará a opinião da Riscar!
offiruçaol ão Turtiáo. iããe aizór também q:: ot j"lTid.11 oút- Vejo aqui uma mulher doutorada em ciências, cujo filho
Àãirt "a" estão conterú", "o- seu trabalho' Ele não irá verificar' - para
partiu e jamais voltou.
fazer turismo na Inglaterra,
.- Vokhuch torna-se persuasivo: - Você não precisa demonstrar O celerado; não voltou para sua pátria' Certamente, está pas'
complexo de culpa na presença dele' Você é uma pessoa que um
respon- seando pela Rua Regent, admirando as vitrines. Foi assim que sua
sávei, trabalha nõ upur.iho aó c.c' Ele, nada mais é do mãe o educou! Risquem-na!
serr-partido. Não lhe pode exigir contas' Fsta Zina, meui cumprimentos! Que colaboradora! Comcr ela
todos iguais, aqueles prediletinhos da alta: não
possuem faz para estar a par de tudo? Será que seu marido é quem confe'
São
-combatividíde
uma bolchevistai têm mentalidade de filisteus! re o catálogo, na Lubianka?
no gabinete com Estes três cumpriram dezessete anos de prisão - prosse-
O colaborador preferido de Vokhuch entra a única mulher do -
gtte Zina com uma voz menos tranqüila mas foram reabilita-
um andar desenvoltd: é Zinaida Ivanovna,
é de ãosl (Zinaida franze o nariz.) Reabilitaram- também Soljenitsyne.
setor.'É ,.u pr.rou'táif uinau ao C,C' dos Komsomols; das Sim. mas isto não tem nada a ver com o caso. Os livros ter-
boa família: seu marido irabalha na KGB' Traz o catálogo
minaram. Os autores vão-se queixar, enviar cartas. É uma pesada
ããiiO.t Nauka (Ciência). A atualidade. política .dos, temas. esco- responsahilidade a tomar.
thidos será controlada pelo setor de edição' Aqui' sÓ se lnteressa -
Zitaida Ivanovna, PêÇâ, pois, conselho aos secretários do
pelos autores. Vokhuch- pergunta brincando: - do Partido concluiu Vokhuch. Mas, atenção para
Comitê
E quem temos
L quvul Lwrur como autores? O acadêmico Sakharov tal- este ponto não temos
-
- opinião sobre o assunto. Por outro lado,
-
vez? Ou até mesmo SoljenitsYne?
os qüatro primeiros devem desaparecer do catálogo. fnforme a res-
Sim, na coleção "Pornografia" - exclama Zinaida,
e
peitô o Seior de Edição. Para eles, pode dizer que temos falta de
- caem na gargalhada.
ambos papel.
Na verdade, esd;;ieção não existe entre nós' -Bt:9"*11"; Zinaida precisa ser freada, mas também apoiada.
,, ,_'8.,ãã**à, vãttr"t'nao
''"íi-,ã'--lpôde resistir à tentação de folhear,
Vokhuch almoça sempre às 15h 15min. Só lhe resta, pois,
l"d*r:"ffi;",^êri* initrutora deqt?
-- - - J^.^^-oulárrall
o. nã?,
"#- 9':g:1u1:'j muito pouco tempo para ler as minutas do Secretariado dc C.C.
aq"ilà'ilã'i;;;;;-rr; voronej' Um achado para
Denis Ivanovitch mergulha na leitura familiar destes volumes ver-
os fotógrafos! Gostaria que melhos cartonados; càda frase ali tem força de lei. Eis uma lei-
Sublinhei sete títulos - explica Zinaida' - tura que eleva a alma: sente-se associado intimamente àquele
-
fossem riscados da lista'
é mesmo bas' poder soberano que toma decisões lapidares.
Zinaida nao deixa passar nada' Muitas vezes' Precisamenre às 13h 15min, Vokhuch enfia seu confortável
títulos que irão apare-
tante severa. Ora, nó "àtátogo só figuram casaco de lhama, com reflexos que parecem seda (ele o comprou
cer proximamente, sendo livrãs que
j? se encontram' pois' na edi-
em Dusseldorf, onde passou uns dias a convite do DKP*; a rua
toÍa.
ZinaiÍu: É onde o comprou tinhà um nome esguisito: Rua "Ko"; mas que
Olhe, Lifchiz, por belas lojas!). Sua postura é digna (afinal de crntas, ele é um
prosseguiu
-queexemplo - constituir uma tatsa -repu-
seu -quafio íítrrlo. Pot ajudá-lo a "Sav. Séktor", chefe de setor), mas não minuciosa (afinal, não é
tação científica? chefe-adjunto de departamento!). quando avança pelo- corredor de
É justo. Risca-se Lifchiz';Iconografia tapete rosa claro. Inútil apressar-se pois, na verdade, l3o tem
Um terna comô e Iconoplastia- de. Puchkin"'
fome. Mas, também não sé trata de llanar. São previstos 45 minu-
'--
vai -
interessa. u qrr"toi A bispoi e a comerciantes de ícones? tos para a refeição. Naturalmente, ninguém controla, oficialmente,
Íu-UCrn é vàrdade. Risq-uemos' O que Puchkin tem a
ver
mas Vokhuch sabe muito bem que é, precisamente por estes peque-
com isso? r
é' a nos detalhes, que um comunistà pode provar que tem -consciência
Aqui. tometemos uma grande negligência' O autor em de seus deverei. Não se pode roubar do Partido um único minu-
-
filha de Ràsengolz, que foi condenado no processo cle Moscou
1938. Ela usa o nome do marido' t Partido C.omunista alemão-ocidental. §ota do tradutor francês)

424 425
to de trabalho. Após a refeição, aliás, pode-se repousar no gabi- tc lhe faz tm sinal com a cabeça em agradecimento. Perfeito!
Pode ser que se lembre, r m dia, de Vokhuch, se, por acaso, tiveÍ
nete.
Não ó um longo caminho a percorrer. Eis a igrejinha, de- apa- de recomendar alguém para um posto de responsabilidade.
13h 52min: volta ao setor. Vokhuch poderia, evidentemente,
rência muito pitorés"a, ao lad.o ãa nova cantina do C.C.. Stalin
pensar em dar uma volta na avenida que se abre diante do C.C.:
mandou derrubar muitas igrejas deste tipo. Um gênio, sim. Mas,
após a refeição, o primeiro adjunto tôm o hábito de passear ali'
tinha suas bizarrias. Aniquilar inimigos, de acordo, mas por que
Não se pode prever seu humor. Talvez desejasse manter uma con-
se preocupar com igrejasf Seria preferível servir-se delas para ali
,ersa. I\,ias, pôde também fazer uma observação cáustica,-do tipo:
ensinar patriotismo ao povo; haveria menos pessoas para passar "Está passeando, mas já terminou seu trabalho no setor?"
ao lado inimigo.
Chegando à porta envidraçada, Vokhuch mostra seu passe de
E melhor resistir à tentação e voltar diretamente para o gabi-
nete.
capa de couro a um jovem à paisana que o examina atentamente'
Pendura seu casaco é o chapéu num cabide' Não há perigo de
Um pensamento atravessa subitamente o espírito - d:- Vok-
roubo, pois se está em casa. Dirige-se para as .caixas. Decide-se huch: e se meus subordinados tiverem a mesma reação? Ele res-
ponde a si mesmo, sem hesitação: E então? Vai ficar por isso
pelo caidápio dietéti:o (é preciso lutar decididamente contra a
gordura; pôr outro lado, o cardápio comum não seria de "bom- mesmo, pois não estão fora das normas.
Chegando ao gabinete, concede a si mesmo uma meia hora de
tom" para um "Sav. Sektor").
sesta. Não dispõe, para isso, de uma sala contígua, pois, afinal,
O buÍÍet dietético fica no esgundo andar. O elevador é peque- não é Secretário do C.C. (note-se que são esses que têm menos
poi' qu" o fizeram, assim, tão pequeno? No salão de refei-
necessidade dela: após a refeição, voltam para casa para ali se
r1o
- túdo eitá calmo e tranqüilo. Proiurando o lugar onde se vai
ções, deitar em seu suntuoso quarto de dormir). Mas, o pesioal de sua'
ientar em seu nível, deve-se evitar a promiscuidade com o pes-
- seção compreende essas coisas, e jamais o incomodam antes das
soal técnico vokhuch descobre o chefe do Departamento de
- numa mesinha, conversando. Basta-lhe sentar-se'
14h 45min. Eis, pois, Vokhuch cochilando numa cadeira dura
Cultura, sentado (para evitar as hêmorróidas), perto' de sua escrivaninAa, ornada
despreocupadamente, numa mpsa vizinha, capl3l seu olhar, - depois
cõm aquele "ys11gshka", guo é o seu orgulho. Assim que a cam-
cumprimentá{o. Vokhuch ob-§erva, às -escondidas, aquele homem um timbre abafado, muito discretg
cuidàdosamente penteado, de silhueta ainda iovem, e- cuia posiç{o
painha tocar
em seu posto.- - ele estará
é muito delicada-. O MinisÍro da Cultura, seu subordinado, é can- Tocá o telefone. Do outro lado do fio, o'Reitor da Universi-
didato ao Politburo. Como lhe dar ordens? E como não dá-las,
dade Lumumba. Não é uma universidade muito grande, mas tem
uma vez que seu departamento foi criado para isso? Vai conseguir?
importância política: com efeito, recebe os estudantes dos países
Vokhúch não gósta de almoçar com seus colegas' Se ele esco-
em vias de desenvolvimento e os do Japão; esta a ruzáo'pela
lher sempre os mesmos comênsais, vai-se falar de um bando; mas qual, desde a fundação, Khruchtchev concedeu um "Vertuchka"
é impossível mudar durante todo o tempo, do contrário seria pre- ao Reitor. Esse homem sério, membro da Nomenclatura, não se
ciso iazer a rodada de todos os chefes de setor. Nem se pode pen-
mostra precisamente adulador, mas afeta um tom de uma amabi-
sar em privar com o pessoal miúdo. Vokhuch age da mesma maneira. Isto faz ilarte do
lidade
Vofhuch come com calma. Começa por beber kumy (leite de "rtt"-u.
novo estilo adotado no C.C. nas relações de trabalho. Mas, além
jumenta), depois come suâ soldanela com óleo de milho (para
disso, Vokhuch precisa do Reitor. Realmente, gostaria de elimi-
evitar a arteriosclerose, do contrário acaba por se esquecer até do nar, com toda a calma, do C.C. seu adjunto Chabanov. E o
nome e sobrenome de seus próprios superiores!)' uma meia por- método mais simples consiste em se liwar dele, nomeando'o vice-
ção de sopa de polpa de cenoura com torrada, um pouco de car- reitor da "Universidade da Amizade". Mas, é preciso que o Rei-
ne de vacà assada, com arroz, ameixal com creme e açúcar (para tor concorde com isto.
a digestão), geléia de groselha com nata batida (vitamina C!)' Vokhuch sabe muito bem como persuadir o Reitor. Com efei-
Comê tranqüilamente sem deixar de observar as ações e os gestos to, foi marcado um encontro para as 15 horas com o atual Vice-
do chefe do departamento. O Chefe acaba de encerrar uma con- Reitor da Universidade. Este Íepresenta o papel de éoúissfuio
versa, e seu olhar imperioso percolTe agora a sala. É o momento
político: é o responsável pela formàção ideológica dos estudantes.
que Vokhuch escolheu para lhe dirigir um sorriso amável: o che-

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tor. Isto significa que Vokhuch apreciou cortetamente a situação
O Reitor quer fazer entender a Vokhuch qy9 -q ele, Reitor, quem na Reitoria, e que pode, pois, dar agora o golpe de mestre.
dirige a Universidade, não o Vice-Reito-r' Vokhuch não se enga- - Ono jo-go, num tom de voz oficial não- poderia limitar-
trabalho de formação dos estudantes diz Vokhuch,
ooü na realmente um conflito entre o Reitor e seu substituto, o entrando
-
que significa que o Reitor não está em boa posição, p que não se a reuniões,-a soirées ou a projeções de filmes, nem a entrevis.
ionseguirá nada daquele ambicioso. tas entre educadores e estudantes. O trabaiho de formação consis-
fokhuch não g-osta do Vice-Reitor. Como homem sério e te, antes de mais nada, em criar, no seio da coletividade estudan-
seguro de si, não ú deixará levar por aquele grandalhão insolen- til, um clima tal que não seja mais tolerada nenhuma transgressão
te, em que o terno (aliás, um terno- mal passado) cai quase táo à moral comunista. Esperamos esta atitude, antes de tudo, dos
;;; q"ilú uma tiara de úispo- num burro'-É.. precisopara usar o velho estudantes soviéticos. A decisão do C.C. diz que, assegurando-se
áeãat. É preciso dizer quê há pessoas inflúentes apreciar uma formação comum aos estudantes soviéticos e aos estudantes
uq"ãf" anos 3O,'que-lhes lembra sua juventude' Mas o estrangeiros, pode-se exercer uma influência positiva sobre, estes
".tifo'Oot
uáh""o é astuto. Assim que- saiu de uma escola superior de Peda-
últimos. Mas, nem sempre acontece assim (e neste ponto Vokhuch
gogia, sem nenhum destáque, enfiou-se logo no aparelho, entÍan-
eleva a voz), e não podemos furtar-nos à nossa responsabilidade
ãJ"- contacto imediato com os órgãos. Foram eles que o propu- diante de uma situação deste gênero.
seram paÍa o posto de secretário do Partidg na universidade da Enquanto fala, Vokhuch dirige um olhar penetrante a §eu
Amizade. O seior estudantil que ele dirige é uma verdadeira fiüal interlocutor: o homem calvo está visivelmente confuso diante
dos órgãos, o que faz com que ele represente, ao me§no tempo, daquele tom e daquelas expressões políticas. Tudo vai bem, é pre-
ã-"puiãrno'" o, "uirirhos". Óomo queier o Reitor, engenhei- ciso forçar mais!
ro àe profissão, rivalize com um tipo 'ie
destes?
informados de que alguns estudantes soviéticos,
- Fomos
rapazes e moças, da Universidade Lumumba, tiveram um compor-
d" -irrlstro, tem relações; o vice-Reitor terá também trabalho em tamento incorreto, escandaloso mesmo. Em lugar de dar um exem-
se tivrar dísso. O importante é que ambos entendam muito bem plo de honra, jovens soviéticas, membros do Komsomol, tiveram
ô" é Vokhuch quem detém a cháve da situação' O vencedor será uma conduta propriamente indecente, desculpe-me por ter de
a'quete que se a seu lado, o quê faz com que ambos irão empregar esta palavra! Vokhuch abandona um pouco §eu tom
aot u, rrum acordo para aceitar como vice-reitor o candidato -
"olo"u, de
oficial para exclamar: Lembre-se da expressão de Engels em
Íokhuch. Mas, não'seria mau baixar um Pouco o topete daquele -
Origem da Família: entre vocês há também o reino da promiscui-
Vice-Reitor. dade!
Este raciocínio tomou apenas alguns segundos de Vokhuch' diz o Vice-Reitor, aceitando a crítica'
- O
Sim que
Além disso, esta rapidez de ieação á comum a todos os membros -
aconteceu lá-é absolutamente escandaloso, sempre o disse. Os
ãã apareho: do contrário, não p9q91an perma.":::1- o1 \t-1?1. comitês de distrito nos enviam estudantes...; em outros tempos,
clatuia. Aqui, no C.C., não há violinistas ou pintores cle comrn- têJo-iam corrido com eles. Mas, o que fazer? Vocês querem que
!ãr, pot outro lado, todos sabem contorcer-se depressa e
tomar a
eu lhes coloque cintos de castidade, como na Idade Média?
--- decisão. se abre, percúe-se a,calva do Vice-Reitor' Vokhuch
boa Vokhuch ignora deliberadamente a brincadeira e continua no
A t;;ia mesmo tom:
--'ó;1úiio, vai
cumprimenta-o friaménie: é necessário. intimidá-lo' As eventuais falhas do comitê de distrito não desculpam a
levá-lo a desembuchar tudo o que- tem^dentro
Íalta- de trabalho de formação junto aos estudantes. Inútil escon-
dele, de modô a revelar seu jo§o e mostrar seus trunfos' O rosto der que há ali manifestação de uma atitude negativa da parte de
ãe íotn""n fica impassível enquanto seu interlocutor lhe fala de certos elementos. Não se trata de cintos, trata-se do fato de que
seu trabalho or^ estudantes. O Vice-ReitÔr é um -homem de
"o- algumas estudantes, longe de pensar em constituir uma sadia famí-
experiência. Confessa de boa vontade seus' eÍÍos: "Não
vimos
d"-ryTl': .1,oi3. d;I= lia soviética, enforçam-se em aproveitar o tempo que têm de pas-
áii": .;;$..-iti-; il.. . .:', maso fato
. .fá-lo,de que n{o toi ele
não foi ele quÇm sar na Universidade para desposar um estrangeiro e deixar depois
iibrirtit'oôohr-"
*bsirtit-nênhu-a
;oáã-"i";o"
dúvida sobre
o Rei- o país.
quem "permitiu que",.ma§, em primeiro lugar,
429
428
que tenha revogado a lei de 47 qte proibia Vokhuch sabe o que vai pensar o careca: vai compreender
- Uma pena se
que uma comissão do C.C. fará do Reitor o principal responsável
os casamentos
A
com estrangeiÍos
lei foi revogada - disse oVokhuch,
concordou
Vice-Reitor.
secamente. por todas as falhas da Universidade.
Diversas -
- considerações nos levaram a tolerar, em tun bom núme-- O Vice-Reitor vai embora, apri,; ter, longa e calorosamente,
ro de casos, os casamentos entre estudantes soviéticos e estudantes apertado a mào de Vokhuch. E evidente que não se pode ter con-
de países em vias de desenvolvimento. Mas, o Comitê Central trança neste bandido. O que é certo e que ele não irá procurar seus
jamãis pretendeu que a Universidade da Amizade se transiormas- amigos para confirmar as palavras de Vokhuch: evitará qualquer
se em ágência matrimonial. E Vokhuch assesta o último golpe: conflito com o aparelho do C.C., a despeito da inquietação que
-
é sério. Seus camaradas propuseram criar urta Comis- sente à idóia de que o novo vice-reitor poderia suplantá-lo.
-sãoOdocaso
C.C. que teria por tarefa fazer um inquénto sobre o nível Etapa seguinte: o Reitor. Vokhuch disca de novo um número
de trabalho ideológico realizado na Universidade Lumumba, no no "Vertuchka". Seu tom de voz é amável e amigável.
nào o ignora, acabo de receber a visita de seu
que tange tanto aos estudantes soviéticos quanto aos estrangeiros.
- Percebeu-se uma certa angústia no olhar do Vice-Reitor. - Como
adjunto. Tivemos uma longa entrevista a respeito de certas carên-
Vokhuch registrou o fato com satisfação. Um e outro sabiann mui' cias constatadas no trabalho ideológico de sua seção. Certamente,
to bem quJ o envio de uma comissão só podetia traz.er aborreci- ele próprio lhe relatará o conteúdo de nossa conversa. Aqui, no
mentos aà Vice-Reitor. Bem, ei-lo intimidado: é melhor'dar um setor, não acreditamos que seja necessário o envio de uma comis-
pouco de marcha à ré, do contriário ele é capaz de- se precipitar são à Universidade (o Reitor concorda com gosto) mas com uma
para seus amlgos e protetores do aparelho; na realidade, ninguém condição: que Vassili Pavlovitch concentre doravante suas ativida-
deseja criar uma tal comissão. des na seçào que e a dele. Podemos, se nos fizerem o pedido, des-
Aqui, por outro lado, somos de opiniáo, Vassili Pavlo- tacar um de nossos camaradas para ocupar as funçôes de Segundo
- que
vitch, podemos resolver o caso sem comissão disse Vokhuch, Vice-Reitor, pois sei que o cargo está livre. Se achar que a coisa
que se tornou apaziguador. De minha parte, -acho que- a seção é possível, basta-lhe dirigir um pedido nesse sentido ao C.C. pelo
de estudantes não é a única - responsável e que o Reitor não canal miuisteriai. Acho que a resposta será positiva. Não se pen-
demonstrou muito espírito partidário em seu trabalho.
- E, subi-
tamente, passando ao tratamento íntimo, Vokhuch acrescenta, con'
sará mais na comissão de inquérito.
O Reitor imediatamente se declara de acordo, e expressa seus
não há ninguém do aparelho a não ser
- É e os lá
fidencial: que agradccinrerrlt(-r:,. J\.i11 r.,ertlade, tinha escolha?
você; o Reitor vice-reitores nada mais são do que simples É preciso agora conversar com o primeiro adjunto para pre-
especialistas. A tarefa é difícil Para um homem sozinhq é preci- parar o terreno. Senão, aquele insolente do Vice-Reitor será o pri-
so que você seja ajudado. meiro a se precipitar. O primeiro adjunto, que não está a par de
14, impressão de angústia desapareceu; o olhar perdeu sua inpo- nada, vai cair das nuvensl Que escândalo! n sempre assim: os
lência, o lnterlocutor está agora transbordante de reconhecimento. mais temerosos são aqueles que trabalham no seio do aparelho,
Chegou
-- Seo momento de abordar o essencial: os nossos.
a Universidade se dirigir ao Comitê Central, pelo canal Vokhuch calculou bem: o piimeiro adjunto é de abordagem
ministerial, e pedir que se destaque um colaborador do aparelho mais fácil no fim do dia; aiém disso, conversa de bom grado corn
para um posto de vice-reitor, acho que o pedido _será satisfeito. os chefes de setor. Denis lvar,.rvitch tira o fone do "Vertuchka";
Sua posiçào na Reitoria será, desse modo, reforçada, e imediata- disca lentamente e com cuidado o número do primeiro adjunto.
mente a comissão ficará sem objeto. Ivan Petrovitch? Vokhuch no aparelho. Desculpe-me inco-
Eis uma decisão no espírito do Partido exclama o Vice- -
modá-lo, mas poderia vê-lo por alguns minutos?
-
Re'tor. Hâ muito tempo que isto já -
deveria ter sido feito, De novo, o corredor e seu tapete. Chegando à recepção é
-
Denis Ivanovitch! É também minha falta: teria solucionado o pro- uma sala muito grande, mas de dimensões menores do que a- do
blema mais cedo. A concordância do Comitê do Partido, eu a chefe de departamento, mais bem colocado na hierarquia
conseguirei sem esforço, mas será qug o _Reitor _não se vai opor? Vokhuch cumprimenta, pela segunda vez, a secretária .de olhar
-l Falaremos com o Reitor diz Vokhuch, com voz §uave. atento. Ela mudou muito, envelheceu. Somente o olhar continuou
Ele compreenderá que é uma-necessidade. Para que lhe servi- o mesmo. Na juventude, ela fez a guerra, foi uma atiradora de
- uma comissão?
ria elite. É uma boa camarada.

430 4Jl
oprimeiroadjuntoestásentadoemsuaescrivaninha,nofun. E como vê as coisas?
do dã 'peça. SoU úma ptaca de vidro,.a lista telefônica do C.C. não -Iarga a presa. - pergunta o primeiro adjunto, que
Faz um movimento enérgico com a cabeça: Muito bem, chegou o momento de realizar a manobra:
o Depois, com a mão' convlda-o a
- O
que traz aqui? Ivan Petrovitch, que se encontraria facilmentg nos
sentar-se' - - Acho,
§etores próximos do meu, alguém para preencher o cargo...
Vokhuch se senta com um movlmÉ lnto desembaraçado' mas O olhar enérgico do primeiro adjunto suavizou-se:
resoeitoso. Sabe que nuãu ao primeiro a{iunto, Sua fisio- Você tem cada uma. Nos setores próximos do seu! E por
"t"upu (cúdado! não se deve
;;ff;";; t"rrá iúLitãÀ.nte que -não propõe alguém do seu setor? Não tem ninguém que sirva?
preocupáda
---'-
Íorçar!): Ele mordeu a isca. Trata-se de fingir resistir, a fim de que o
Ivan Petrovitch, a situação na Universidade da Amizade outro não tenha saída.
,a preocupaçãot' acabo dã ter uma conversa com o Vice-
Petrovitch, há, na verdade, muitíssimo a fazer no meu
--"ur*Os^estudántés perderampergqnt-a
Reitor.
--- toda moderação, " -. - eIvan
setor, me é absolutamente impossível deixar sair alguém!
Problema político?
-iuuo o primeiro..adiuntgt
Absoluta."rtq
- Pàtro"vitch, é um problema de moral O tom do primeiro adjunto torna-se ríspido:
-
(o rorto-áá-liimeiro âdjunto se desaluvia). Mas, a moral se rela- - E acha que os outros têm mais disfi:nibilidade do que você?
Proponha alguém do seu setor que o ap.riarei!
à"r;-;; "'pãiiti"u (o primeiro adjunto fica de orelha em pé). Chegou o momento de mostrar as cartas:
iúgu-ru lá que seria conveniente reforçar a representação do O posto de vice-reitor só pode ser ocupado por um docen-
paiiao na Ràitoria. O Reitor me informou que têm a intenção de - alto
do ministério, a fim de lhe ped-ir te de nível. Tenho um único titular de doutorado do Estado
n[;,u, o c.c., por intermédio entre meus colaboradores, que é Chabanov. Mas, vamos assim
que destaquem um de nossos colaboradores a fim de nomeá-Io ficar privados de seus serviços!
p;" posto de vice-reitor de Ciências Sociais, que está vago' que não? Chabanov é um tipo capaz, é certo. Mas,
"- O ;ue respondeu?
-
replica, imediatamente' o primeiro
- - Por
pessoas como ele podem igualmente prestàr serviços à Universida-
adjunto. de. Como vice-reitor, ele teria direito ao título de professor. E,
Vokhuch esperava pela pergunta' Todas as palavras de sua
além do mais, é uma IJniversidade grande, ele pode muito bem
---:-O são, Pois, medidas:
resposta ser eleito depois membro correspondente da Academia de Ciên-
quá podia dizer, Ivan petrovitch? Aconselhei-lhes a se cias. Assim que a carta do ministério chegar ao C.C., vou dis-
dirigir uo i.C., se acham conveniente' O problema poderá
ser
cutir o assunto com ele, e o nomearemos.
examinado aqui. Ivan Petrovitch, você me parte o coração! (Vokhuch faz
Isso mesmo. Vokhuch está agora a coberto' notadamente
no
com o Reitor e o Yice-Reitor' todo- o possível para que seu desespero pareça real.) Deixar par-.
que concerne a suas conversas
tir Chabanov! E quem você vai me dar para o lugar?
ôij.tiru"r.nte, não se lhe pode ter usado linguagem
- responde o primeiro
-reprovar
ãúti; - o rásto fica por cónta da subietividade'adjunto.está inte- - Vou
adjunto,
encontrar alguém para você
tranqüilo.
Em qr"o, JJá'pensandof (O primeiro E enquanto Vokhuch meneia a cabeça em desespero, o pri-
-
ressado. Acrescenta, meiã se;o'; Seiá que acha gu9
se deve refor-
meiro adjunto acrescenta:
U"t"ersidade' acrescentando-lhe você próprio?
::
;;;; Bem, está solucionado o problema. Há mais alguma coisa?
O rosto espantado de Vokhuch faz com que o primeiro
adjun-
a tranqüi-
- Não, nada responde Vokhuch em tom lastimoso, e se
to entenda que tomou um caminho errado' Apressa-se - Mas, o primeiro
levanta. - adjunto subitamente sorri:
lizar Denis Ivanovitch. Diga-me uma coisa: está abrindo mão desse Chabanov
_Estoubrincando.Nãotemosaintençãodeolargar(uma - facilmente. Você não tinha preparado isto?
sensação de serenidade' feliz se espalha por todo
o corpo de muito
a me propor? Aquilo não estava previsto. Vokhuch se'lamenta:
Vokhuch). Então, tem alguém
-no Por favor, Ivan Petrovitch! Peço"lhe que o mantenha comi-
Vokhuch modes-
não pensei assunto
-. rêsponde
- AindaQueria, antes, ter sua opmrao' go, -e você me diz que sou eu que quero fazer nomeá-lo Vice-
tamente. Reitor!
-
432 433
sorr. ir: fonemas, pois os chefes não precisam mais dele. Vokhuch chama
O primeiro adjunto continua a um
Não, uo.e ,ràã.ã-pi"pot' Além disso' estou de
acordo' carro.
- Não levará muito tempo em ser atendido. A garagem das via-
num tom d" intt*iaot - .Não é o pessoal
caso de
Depois, turas do C.C. não fica longe. Pode, pois, começar a colocar o
-Chabanov que me interessa' O que me interessa é o funcionilnen-
casaco (o casaco de Dusseldorf) e se dirigir lentamente PaÍa a
to harmonioro ,rgrür ao t.toi. E é você quem évocê o^responsável
saída, com um Passo tranqüilo, como cabe a um Íesponsável do
"
;;r-;1"-ú;ãà t"rtõ o fato de que escolha mesmo as
C.C. Eis o tapôte rosa sobre o soalho encerado, a, escadaria, o
"otttra
com quem quer trabalhar' Está claro?
E-
pessoas
tentar segundo vestíbülo, mais barulhento. Funcioniários continuam a sair,
Confuso, Vofnuán voltou para seu gabinete' fmpgl$vet se não ,ã. u hora do prque já passou. O oficial da KGB sxamina psli-
primeiro-ãdil;à; iois ele pãrêebe tudo' Aliás' -atençãõ,
a pequena cauerneta de capa de couro'
damente, mas com
fosse assim, jamais -"ú; ;á;iro- adjunto'
"ortu-r-áiio Aqueles que' decidida-
ou ao Secre' Do lado de fora: escuridão, vento e neve. Na frente do edi-
mente, galgaram o. L."ufO"t que levam ao Politburo fício do c.c. não há neve congelada. varredores tiram cúdado-
tariado do c.c. .ao *iãáa.liros gênios. os
intelectuais zombam
oÚro é samente a camada congelada com instrumentos pontudos; por me-
estupidamente: uqo"ú tipà a" Pol';tburo
é fraco' aquele
dida de precaução, esfalha-se atê ateia vermelha na calçada' Do
;#".r#;ã iãil;.-r.iãi.áriauoe, os imbecis e os inexperientes
contrárioi haveria o riico de um Secretário do C.C. escorregar ao
.áã
'-- "f.*. Não, os indivíduos do Politburo são gênios' subir no carro.
í"- u*rdo, gênios, mas podem revelar-se, ocasionalmentlr Per- O Volga preto se aproxima. Pára' A neve de Moscou range
aquele funâm-
feitos incapur"s. qoeá u""àitutio que Malenkov'quedas na sua sob os prrãrrs,- Passa-se ãiante do monumento aos vencedores de
bulo de talento, q* ,"-pt" souberã evitar as - Plevna; à esquerda, o Museu Politécnico, à direita o- C.C' do
ascensão para as uri"t*, iao t" manteria
rem mesmo dois anos Komsomol, delois os dois edifícios geminados da Praça Dzerjinski:
alçou ao poder' a Lubianka, que abriga a KGB e a NKYD. Desce-se &goÍa ao
no poder? Vejamos Beria: durante anos' ele se
-"Ufi-pát a" cadáveres, e, uma-vez atingido-o qule' não se tongo de uma-extensa-avenida. A loja O Universo das Crianças é
"i.á quatiã-;;;";: o" até' mesmo Khruchtchev' Não ,pe-oas entrevista, e já se percebe um pedaço do Teatro Muly,
manteve .enão
o-tinha tirado dàpois as colunatas do Bolchoi, a estação do metrô Dom Soyuzov,
era verdadeiramente alguém importante' Stalin iá E' mesmo lá'
de seu lugar. Mandoo-o- d" Moscou paÍa a Ucrània' o prédio do Conselho dos Ministros da URSS. Durante um curto
posto- ãe orimeiro secretário porque insiante, vêem-se brilhar as luzes da Rua Gorki. Mas, logo a
ã.U". ti.ri retirado ae seu icidades alrícolas"' Dgno,is'.! claro' viatura prossegue seu caminho: o Hotel Nacional, o edifício da
zombava daquelas
"ttiu"nut
Khruchtchev uingor-." ãe Stalin' Mas' ãpós
a morte deste' Vivo' Intourist (antiga Embaixada americana), a velha Universidade de
Moscou. À esquerda, a extensa silhueta do Kremlin, que encobre
ninguém o teria ousado' -r Í ^-:- +^-LÁr evi-
arrr íaiin, que grande homem! Lenin também' por um instante o prédio da Escola de Equitação.
Stalin
- permitiu g:'"t-::ld:deira- Vokhuch não tem nenhum desejo de falar com o motorista.
dentemente, .u, .J"-í"tti"o "'ao lhe
que terminou a guer- Após algumas observações sobre o tempo, sobre a neve, retoma o
ãrri" a" poder. A paralisia o abateu oassimpoder' fio de seus pensamentos.
ru-"itn. Stalin soube o gosto que tem Ei-lo, pois, atravessando Moscou, enquanto ela passeia em
uma nova ronda
O dia ae trauámt"tetmi"ou' Vokhúch fazSeus alguma parte, à noite, em Praga. As luzes já se acendertm na
nos gabinet", ao ,Jãt (é isto a democracia!) '
colaboradores
di§pondo cada um de um tele- Praça Wenceslau. Soa o relógio da velha Prefeitura. Por que pensa
trabalham aoi, tuaa gaüinete, nela em lugar da instrutora de Voronej, com seu corpo queimado
".
iããt p"t.our a" ,r-u lifia interna' Vokhuch discute rapidamente
pelo Sol? Simplesmente porque, naquele dia, seu olhar desceu-lhe
" mundo já quel em. bora' e
as tarefas do dia r"g"irú". Mas .todo -i1 de voltar
idéia até o fundo dà alma. Denis, seja honesto consigo mesmo: confesse
;nrdã Íornu"n-"rã sente muito contente com-a que ela o olhou com desprezo, como um animal repugnante. E,
para casa.
término do trabalho' depois, aquele olhar transmitia também seu sentimento de impo-
Demora-se, em geral, 20 minutos após o tência, e ôs esforços desajeitados que ela f.aÀa para esconder
que a 9y*ãt, o veja
Ninguém trabalha à";;iÉ, mas- é o"""ttá'io Nada de tele' aquele desprezo. Ela não queria que você se aborrecesse, que vol-
deixar o edifício ãd;iJ-6-ãemais funcionârios. tasse atrás em sua promessa. Ela desejava aquela viagem.

435
434
distribúção comum. Fazem-se, pois, algumas cópias para os qua-
Afinal, para que servem as reminiscências? Aquela esposa de dros §uperiores que mal há nisso? A atmosfera dessas projeções
trm simples estudante com ares de princesa! Deveria senrir-se ü- - A pessoa
é muito agradável. está entre seus pares, entre a getrte
sonjeada de que um chefe de setor se interessasse por ela cla Nomenclatura exceção, talvez, de alguns artistas, alguns
Aquela expressão de desespero impotente, ele a viu em nu- intelectuais produtores. Mas, o cinema não lhe diz nada hoje.
merosos olhares: a mãe que gritava "assassinos!", as pessoas que No C.C., projetam também filmes estrangeiros não destinados
ele tinha criticado ou expulsado do Partido; todos o tinham olhado ao grande público. A sessão tem lugar todas as quintas-feiras. Mas
com aquela expressão de impotência. Vokhuch despreza este tipo de maniÍestação reservada, como a
Mas, afinal, é bom que as pessoas o olhem assim! Há algumas cantina, à noite, aos datilógrafos e secretários. Sentir-se-ia incri-
semanas, Vokhuch tivera um terrível pesadelo; estava no edifício velmente aborrecido se tivesse de aparecer por lá.
do C.C. e, de repente, percebeu que o local estava vazio. Desceu Poder-se-ia também comer fora, e depois ir, com a mulher,
à entrada: nenhum guarda. Sentiu-se gelado de medo: a qualquer ao teatro. Os ingressos são baratos: no Bolchoi, os lugares mais
instante, os passantes iriam entrar. E, de fato, ei-los que chegam caros não passam de três rublos e meio. Esses ingressos não são,
em ondas compactas. Ele se dirigiu para o elevador, como se nada naturalmente, destinados ao público. E é um sistema bem cômodo:
estivesse acontecendo, mas o elevador comum estava parado em beneficia-se dos lugares reservados ao C.C., e se fica na platéia,
outro andar, e o elevador reservado aos secretários estava fechado. na primeira ou segunda fila. Também ali, está-se entre os seus,
Neste ínterim, os cidadãos se tinham reunido, e o olhavam em si- salvo se, por vezes, houver embaixadores estrangeiros. Mas isto
lêncio. Com ela: com desprezo. Como se ele fosse um piolho, tem um atrativo suplementar: toma-se consciência do lugar que
uma espécie de parasita. Mas, seus olhares não traíam o desespero se ocupa na sociedade.
impotente: pelo contrário, lia-se neles uma força. Acordou, então, Ora, Vokhuch está saturado de teatros e de concertos: dentro
com o coração aos saltos, suando angustiado, e precisou de muito de suas funções oficiais, é obrigado. a acompanhar àqueles lugares
as delegações estrangeiÍas, ou ali assistir a espetáculos após sessões
tempo para voltar à calma.
solenes ou conferências. Não, hoje ele não irá a parte alguma. Vai
Mas, tem de ser assim: para eles, a impotência, pÍua nós, o
repousar e usar o tempo refletindo sobre a melhor maneira de
poder. Depois, é preciso expulsar esses penmmentos impoÍunos,
e pensar em algo mais agradável. Dentro de alguns instantes, es- 1cel9ry1 sua promoção ao cargo de chefe adjunto de departamento.
Às 10 horas vai deitar-se: a saúde é a condição sine qua non de
tará em casa; sua mulher, certamente, terâ preparado uma su- qualquer promoção.
culenta refeição: sa.lmão defumado, caviar, queijo, assado, ananás. Enquanto o elevador sobe sem ruído aos andares superiores,
Ele não gosta nem do conhaque búlgaro Liska, nem do conhaque -
e depois quando entra no apartamento e pendura seu caiaco de
árabe, somente do armênio, do georgiano e, é claro, do co' lhama com reflexos sedosos, Denis Ivanovitch faz, como de cos-
nhaque francês. Conversará com s€us -
filhos, e trocará. também al- tume, o balanço do dia. No total, foi uma jornada de trabalho
gumas palavras com sua mulher. müto positiva, uma jornada que nada toldou, quase feliz: afas-
Poder-se-á pensar num passeio, como se pode fazer- quando tado o risco de escândalo a propósito da delegaçãô à Itália; elimi-
se é alguém cuito. Na sua qualidade de "Sav. Sektor" do C.C., n-a93 a tentação de ir à Itrália; riscadas da óomissão búlgaro-so-
pode asiistir a qualquer projêção de filme no Ministério da Cul- viétic-a as pessoas indesejáveis; eliminados do catálogo os lutores
iura ou na "Casà do Filme". Uma boa idéia, essas projeções. Ali duvidosos. E vokhuch ainda obrigou a universidadã da Amizade
se vêem os filmes mais diversos, vindos de numerosos países. Se a solicitar ao aparelho a nomeação de um novo vice-reitor, e con-
se consideram as coisas sob um ângulo ünicamente jurídico, pode-
leguiu, do primeiro adjunto a permissão para deslocar Chabanov.
se dizer que se trata de filmes roubados: são "cópias piratas" reali- Se todos os dias pudessem ser preenchidoJ de modo tão útil!
zadas a paÍir de películas tomadas por empréstimo pelo Comitê Por esta jornada de trabalho, Denis Ivanovitch recebeu um
Estatal para o Cinema, junto aos órgãos internacionais responsá-
veis, a fim de examiná-las para uma eventual compÍa jamais :441i" _10 -vezes superior ao salário de um operário de base na
- que divisas
ocoÍre. Por outro lado,, seríamos muito idiotas se déssemos
União Soviética.
A-classe parasiüária está no poder: em Kozelsk, em Moscou,
aos capitaüstas, uma vez que, de qualquer maneira, não é dese- em todo o país.
jável, por motivos ideológicos, incluir estes filmes no circuito de

436 437
d
fl
Vamos fazeruma úlfima citação de um poema escrito por
Alexander Galitch, no fim de sua üda: i
A Lua, colada no céu vermelho, rl
Tal um número de Gulag.
Na cid,ade, região, república, NOTAS
. Em todo lugar: comitês do Partido,
Tendo, nas suas salas pflblicas, L L.cnin. í)ára.ç. L.rlitions Sociales, l. 22. pá9. 298.
Retratos daquele bando 2. I ltid.
Dos grandes diigentes do Partido. 3. Conf. I.A. Kairganc,r': Nqcii §S.çR i russkij uoplos, Francfurt-sobre-o-Me-
no, 196i. pág. 30-3i.
Lobos, nos salões de fumar, +, Lenin, Oltras, Éclitions Sociales, t. 22, pág. 298.
Empunatn as pesso* cotno cães, .5. lvlarx e Errgels. Obras, 1.3, pâg.46.
6. Lenin. Ohras, Editions Sociales, t. 31, pág. 301-303.
E depois, embriagados pot sua glória, "/. Ir4arx e Engels. A Idt'ologia Alemà, Éditions Sociales, Paris, 1968, pág.75.
Fumam nos seus Volgas pretos, l{. Eduard Ilogr:vski. Sricltott'orenija i poen1,, lv{oscou, Leningrado, 1964,
E se vão, contentes, tudo está bem! pág. 126.
9. Merle Fainsod, Smolensk under Soviet Rr.r/e, Cambridge, Massachusetts.
Datchas do Estado: que esplendor! 195 8.

Neste luxo, a noite é boa. r0 National Archives, Washington D.C., "Smolensk Archive", Microfilme
Tiras dedicados a toda volta, RS 921, lolio lOO (American Historical Association, microficha T 88,
rolo 123, bobina 57).
Pois ninguérn deve saber.* I I. Ibíd., tolha 76.
t2. Ihid.
13. lbid., f olha 95.
14. Ibid., folha 12.
l-5. Ibid., Íolha 131.
16. Ibíd., folha 94.
17 . Ibid., folhas 97-98.
lll . Ibid., folha 96.
19. Iáid., folha 1.
20. Ibid., folha 271.
1l . Ibid., folha 123.
22. lbid., folha 124.
23. /áid., folhas 133-l-14
l{. lbid., folhas 124-1.15.
25. /árd., folha 138.
26. Ibitl., folha 142.
27 . Ibid.. folha 139.
28. Ibid.. folha 65.
29. lbid.. folha 66.
30. lbid.. folha 15.
3l . lbid.. f olha 34.
-12. 1áü., folhas 4-3-46.
-13. 1ál., folhas 223-224.
3,+. Ibid.. f olha 157.
35. /áid., folha 153.
36. Ibid,, folha 2A4.
37. Ibid., folhas 277-283.
438
139
\
38. IáÍd., folhas 303-304.
39. Iárd., folhas 306307.
40. Iárd., folhas 307-308.
4t. Ibrd., folha 300. CONCLUSÃO
42. Iárd., folha 305.
43. Alexander Galitch, Kogda ja verrrus, Francfurt-sobre-o.Meno, 1977,
pág. 56.

Vocês o sabem agora. O programa do partido


(.lrria, soviótica promeria que, -antes de 19g0, ,-" Corqunista da
ro"rÉãuã"
rrrurista sem classes teria sido edificada para o essenciar. Desde
"o-
193ó, a sociedade sovíética é definida como uma sociedade ..sem
itrrtalt.nismos". Ora, hoje, em 19g0, ainda não se pode dizer que
irs classes e os antagonismos de crasses tenham sido suprimidôs:
l socicdade soviét.ica continua antagonista.
Lenin e Stalin criaram uma .inova ciasse,,, cuja base foi a
<lrganização dos revolucionários profissionais. Dépois qo"
or-
"rtu
ganização se apoderou do poder, viu-se aparecei a Nomenclatura
de Stalin, que se tornou a classe dirigente da uniáo soviética.
A Nomenclatura é uma classe de exploradores € de privile_
giados' Foi o,poder que lhe permiliu as.en,ier à riqueza e'não a
riqueza que lhe. permitiu ascênder ao poder. a pofitú aá No_
nrenclatura consiste em ass_entar seu poãer ditatoriàl no plano in-
terno e estendê-lo ao mundo inteiro.
Á, Nomenclatura tem certas rearizações positivas em seu ativo.
Mas, ela se transforma cada vez mais-.rn L*a classe parasitária.
Do ponto de vista histórico, seu rendirnento social é nulo, e seu
desejo obstinado de dominação mu,dial é cheio de riscos de
SUerras.
Se quisessem deter esse perigo, todos os países que estão sob
a tutela de Moscou deveriarn praticar resolutamente uma política
de paz e de sesurança, uma poiítica sem medo e sem ilusõ"'r. puru
Ievar a cabo r.'i política, é importante conhecer bem a natureza
profunda da Nonrenclatura. Este livro terá atingido seu objetivo se
contribuir efetivamente para torná-la conhecida]
vamos deixar a Nomencratura no momerlto em que era vive
suas ma': belas horas. praqa Vermelha, 7 cle novembro. Sob os
p'roderosos sons de uma marcha mililar, no meio de salvas
de honra,

141
440
a Nomenclatura celebra um aniversário ctre seu poder com uma I Mas, é agora que a Nomenclatura vai cúnhecer seu instante
paraCa militar e um grande desfile que durará várias horas. Mc- de apoteose. Cinqüenta lotgos minutos de felicidade enquanto des-
rnento único: pode-se afinal vê-"los" em gruPo, em lugar de per* I filam os soldados em passo estritamente cadenciado, os blindados
cebê-los ocasionalmente em seus SILs ou Tchaikas, em sua:r ;'esi-
I passando com o barulho das lagartas, os foguetes, superdimensio-
dências de chefes ou sentados à mesa da Presirlêncla. Onde en- rrados. Como eles sorriem à vista riesses foguetes, como estão fe-
contrar reunida uma tal quantidade de non:enclaturistas senãcr nas lizcs! É suu ftxça que cresce, eomo avalanch;r, sobre a llraça Ver-
tribunas perto do mausoléu traquele dia solene? nrclha, nas fileiras atentas da KGH. ú sua íorça que obriga o pla-
Ei-los de pé scbre os deqraus de pedra clas tribunas, ao,uilles ncta inlciro a voltar seus olhares para aqueir; lugar" a ouvir suas
r.()zcs, ír trerier diante deles.
hornens troncudos, de ros;tos grüsseiic,s, autoritários, acoripanha-
Cos de suas gordas Êsirosas, seu: filhos bern nutridos, de bochechas
Vanio-ilos despeCir da Nomenclatura quando ela vive estc mo-
r)lcntír de êxtase. Saudemos aqueles bojares ilue se apertaÍn em
verrnelhas. LIsam todos roup&s de irrverfto. O vento vaiic a praça,
volla cia pirâmide do mausoléu, -onde repousa uma múrnia, diante
drapejando as trandeiras, e os ficcos rJa nove de novembro fusti- tlc uur cenário de muralhas medievais. Deixeuc.r-icrs" Fascinadcs
gam us rostos. Os casacos são íeitos de fazendas inglesas de pri- por seu próprio poder, permanecem ali, de pé dianie das tumbas
meira qualidade ; usam-se peles suaves, luxuosos astracãs, gorros da muralha do Kremiin, como em um cemitério. E o vento de no-
de pele. Mas há uma lei não escrita da Nomenclatura que é res- vcrrrtrro, incansável. espalha flocos de neve sobre aqueie universo
peitada aqui: todas essas roupas luxuosas tão devem ser nem que merguiha no cutono.
rnuito justas nem usadas com muita elegância. As mulheres não
se devem maquiar. É o último e rnodesto tributo pago ao mito da
origem prclletátia da Nomenclatura, àquele ideal de democracia
que ela finge respeitar.
Dez horas menos três minütos. Todas as cabeças se voltarn
na direção do mausoléu, os pais-nomenclaturistas suspenclem seus
filhos nos ombros. Dentro de alguns instantes, os chefes da classe
nomenclaturista vão aparecer no alto clo mausoléu, sua passarela
de comando. Ei-los! À frenie, o Secretário-Geral, depois, a âlguma
distância, os outros, dispostos -"egundo uma rigorosa ordem. A classe
da Nomenclatura aplaude e responde à saudação dos chefes' Ciaro,
ela não está no máusoléu, mas a seus pés: os que estão de pé, lâ
no alto, são os suseranos. E quando o universo contcmpla este
punhado de dignitários, contempla, de fato, a Nomenclatura.
À paisana, oficiais da KGB, com braçadeiras vermelhas, im-
pedem, com cofiesia, mas corn firmeza, os nornenclaturistas do
menor importância, que foram colocados nas tribunas afastadas,
de entrar nas tribunas reservadas à fina flor' Tem-se o direito
de passar de uma tribuna para outra, mas unicarnente se se afastat
do mausoléu. Eis como se desenha concretamente no espaço a pi-
râmÍde da Nomenclatura: a ponta repousa no mausoléu.
Dez horas, início da parada. Virá, em seguida, o desfile dos
fiéis "representantes da clásse laboriosa", portando retratos glgan-
tescos dos chefes da Nomenclatura, bandeirolas com s/ogans e o§
números do Plano. Depois, será a recepção no Kremlin, os fun-
cionários da Nomenclatura sentados numa ordem hierárquica im-
pecável, e os embaixadores da quase totalidade dos países do mun-
do festejarão o aniversário da Revolução de Outubro.
443
442
IMPRESSO POR TAVARES & RISI ÃO
- GRÁFICA E EDITORA DE, LIVROS
LTDA., À RUA 20 DE ABRIL, 23. SAI,A
i.IO8. RIO DE JANEIRO. R.J-
pRoc:.......8.1M

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Âutor:Vostensky, Michel S, 2720 V93nr--
Auton: Voslensklz- Michel S,
título:A Nomenkl utr"u,
tí tulo t

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Devo I ução

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