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A prática do abate ritual de animais é uma tradição presente em diversas religiões,

especialmente nas de matriz africana. No entanto, essas religiões têm sido alvo de
perseguição ao longo da história, principalmente por parte dos grupos dominantes, incluindo
as religiões tradicionais cristãs. Tal preconceito religioso revela-se como uma forma de
discriminação étnica, na qual as religiões majoritariamente seguidas por brancos reprimem as
religiões majoritariamente praticadas por negros. Em meio a essa dinâmica, surge um conflito
constitucional que envolve questões fundamentais de liberdade e igualdade, dentro de um
contexto social marcado pela pluralidade.

Os rituais de sacrifício desempenham um papel central nas religiões de matriz africana.


Essas práticas ritualísticas envolvem a oferta de animais, geralmente aves, cabras, ovelhas ou
outros animais, como forma de estabelecer uma conexão entre os praticantes e as divindades,
espíritos ancestrais e forças da natureza.

É importante ressaltar que o abate ritual de animais é realizado dentro de um contexto


sagrado e com profundo respeito pela vida dos seres envolvidos. Os rituais de sacrifício são
conduzidos por sacerdotes ou sacerdotisas treinadas, que possuem conhecimentos específicos
sobre as tradições e os protocolos adequados para essas práticas.

Os sacrifícios são realizados com o intuito de estabelecer uma relação de reciprocidade e


equilíbrio com o divino. Acredita-se que ao oferecer a vida do animal, está sendo criada uma
conexão espiritual entre o humano e o divino, permitindo a comunicação, a cura, a proteção e
a manifestação dos poderes das entidades espirituais.

Antes do ritual propriamente dito, são realizadas preparações meticulosas. São escolhidos
animais saudáveis, que passam por cuidados especiais e são alimentados adequadamente.
Além disso, a comunicação com os espíritos é estabelecida por meio de orações, cânticos e
invocações, a fim de obter permissão e bênçãos para o sacrifício.

Durante a cerimônia, o animal é abatido de forma rápida e precisa, em um processo que


busca minimizar o sofrimento. A carne e outros elementos do animal sacrificado são
utilizados em seguida, de acordo com as práticas específicas de cada religião, podendo ser
consumidos em refeições coletivas, utilizados em rituais de cura, distribuídos entre os
participantes ou mesmo compartilhados com a comunidade.

É importante destacar que, para as religiões de matriz africana, o sacrifício não é visto como
um ato de crueldade ou violência gratuita, mas sim como um gesto sagrado e simbólico de
renovação e fortalecimento dos laços espirituais. Essas práticas são fundamentadas na crença
de que os seres humanos são parte integrante de um todo maior, que inclui a natureza e as
forças espirituais, e que a harmonia e o equilíbrio podem ser alcançados por meio dessas
oferendas.

Em uma sessão realizada no dia 28/03/2019, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF)
concluiu a análise do Recurso Extraordinário (RE) 494.601 e decidiu que o sacrifício ritual de
animais em cultos de religiões de matriz africana é considerado constitucional. O julgamento
estava suspenso desde o ano anterior devido a um pedido de vista feito pelo ministro
Alexandre de Moraes. A decisão do STF acompanhou o posicionamento defendido pela
Procuradoria-Geral da República (PGR), a qual afirmou que o abate ritual está amparado pela
liberdade religiosa garantida pela Constituição.

Estava em debate a análise de um pedido apresentado pelo Ministério Público do Estado do


Rio Grande do Sul (MP/RS) questionando a constitucionalidade da Lei 12.131/2004 do
referido estado. Essa lei estabelece que o sacrifício ritual em cultos e liturgias das religiões de
matriz africana é permitido, desde que seja realizado de forma adequada, sem excessos ou
crueldade. Além disso, um acórdão emitido pelo Tribunal de Justiça (TJRS) também
considerou essa lei como estando em conformidade com a Constituição.

Art. 1º - Fica acrescentado parágrafo único ao art. 2º da Lei nº 11.915, de 21 de maio de


2003, que institui o Código Estadual de Proteção aos Animais, no âmbito do Estado do Rio
Grande do Sul, com a seguinte redação:
“Art. 2º - ............... Parágrafo único - Não se enquadra nessa vedação o livre exercício dos
cultos e liturgias das religiões de matriz africana.”

De acordo com o julgamento realizado na quinta-feira, o ministro Alexandre de Moraes


expressou a opinião de que o Ministério Público estadual, autor da ação, e outras instituições
envolvidas nas discussões no Supremo Tribunal Federal (STF) apresentaram a questão de
forma "preconceituosa". Os ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Ricardo
Lewandowski, Luiz Fux, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia e o presidente Dias Toffoli também
votaram a favor de autorizar a prática do sacrifício de animais em cultos religiosos e
reconhecer o direito de todas as religiões de realizarem tais rituais. O ministro Celso de Mello
não esteve presente na sessão.
Segundo o ministro Luís Roberto Barroso, existe desconhecimento em relação à forma como
os rituais das religiões de matriz africana são conduzidos.

https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/
noticias/stf-decide-que-sacrificio-de-animais-e-constitucional-cdhm-apoiou-movimentos-
sociais-junto-ao-tribunal#:~:text=Na%20noite%20desta%20quinta%2Dfeira,tribunais%20de
%20todo%20o%20pa%C3%ADs.

https://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/sacrificio-ritual-de-animais-em-cultos-de-religioes-
de-matriz-africana-e-constitucional-defende-mpf

ROTHENBURG, W. C.; STROPPA, T. Sacrifício ritual e crueldade contra animais: um caso


de sustentabilidade cultural. Veredas do Direito, Belo Horizonte, v. 17, n. 37, p. 295-322,
jan.-abr. 2020. Disponível em: http://
revista.domhelder.edu.br/index.php/veredas/article/view/1626.lAcesso em: dia mês. ano.

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