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Foi nessas condições que o Estado Soviético julgou poder fazer sossegadamente o

que não tinha querido fazer por preço algum dois anos antes, e que passou dos métodos do
comunismo de guerraaos do mercado que foi criada a Nova Política Econômica.
Nas nossas longitudes não se compreendeu direito a NEP, e mesmo houve enganos
grosseiros a seu respeito (M. Herriot por exemplo). O que se imaginou em geral foi um
recuo precipitado dos bolchevistas porque eles se tinham inconsideravelmente lançado na
socialização econômica e essa provara não ser viável.
Não se tratava em absoluto disso: como já se explicou antes, os bolchevistas haviam
julgado que era de boa ordem, por parte de organizadores de envergadura, acabar
completamente uma revolução que ainda não estava acabada. Sabiam muito bem que
agindo dessa maneira, deviam aumentar a obstrução e a desordem econômicas. Mas não
foi senão depois de haver limpado totalmente a situação política, que lhes pareceu possível
admitir uma certa inicitativa de oportunismo econômico. “A diferença entre os
revolucionários e reformistas, já dizia alguém que nem sempre falara assim (Trotsky), é
que os revolucionários não admitem o reformismo senão depois da tomada de poder pelo
proletariado”. A fórmula do nascente poder soviético foi: “Farei concessões, se necessário
for, mas quando tiver vencido, e não antes.”.
Portanto, no que dizia respeito ao camponeses e ao trigo, substituiu-se “a tomada do
excedente das recoltas” ̶ sistema entre todos o mais explosivo ̶ pelo imposto em espécie
autorizando a venda livre de excedentes. A circulação monetária foi reconstituída. Medidas
foram tomadas para estabilizar o rublo. As empresas de Estado foram colocadas numa base
comercial. Os salários estabelecidos de acordo com a qualificação e o rendimento. E como
acontecia que o Estado tinha nas mãos mais empresas do que podia ele próprio administrar
(já que tinha tudo nas suas mãos), alugou por um determinado período um certo número
dessas empresas a empreiteiros particulares.
Após a aplicação desta política se admitia, como se pode ver, um bom numero de
concessões por parte dos bolchevistas ̶ em 1922 ̶ a situação se “restabelecia” da seguinte
maneira nas suas linhas gerais: as estradas de ferro, propriedade do Estado (63.000
quilômetros de trilhos, 8000.000 empregados) já forneciam um terço do movimento antes
da guerra. Nos campos, 95% das terras cultiváveis, nominalmente pertencentes ao Estado,
ficavam “no gozo econômico” (o que quer mais ou menos dizer, apesar das restrições de
duração e certas sujeições, “quanto à posse”) de camponeses que pagavam um imposto em
espécie de 300 milhões de pouds 1 de centeio numa colheita que chegou então a atingir três
quartos da de antes da guerra. Quanto às empresas industriais, todas elas pertenciam ao

1
Unidade de medida para peso, empregada na Rússia e queivalente a 16,38 kgs. (N. do T.).
Estado; mas o Estado não explorava senão 4.000 (é verdade que com um milhão de
operários), e arrendava 4.000 (de menor importância e empregando 80.000 operários). O
capital privado se formava e desenvolvia no comércio interior. Representava ele 30% do
conjunto na circulação comercial interior. O comércio exterior conservado monopólio do
Estado, representava, na soma de antes da guerra, um quarto da importação, e a vigésima
parte da exportação.
O mercado estava recriado, mas a posição do Estado Operário era, politicamente,
perigosa, arrastada para direita. Paralelamente ao “processus socialista”, tinha-se criado um
novo “processus capitalista” (sobretudo no campo) ̶ e tratava-se de opor a isso uma
resistência obstinada.
Na luta que se delineava “o poder proletário tinha por si forças mais desenvolvidas o
país. Em suma, desepenhava no mefcado o papel de um proprietário, de um comprador e de
um vendedor mais poderoso que os outros, e além do mais tinha a força politica” ( e antes
de tudo o poder fiscal que lhe garantia uma arma financeira e lhe permitia certos lucros
suplementares sobre a adminsitração privada). “A burguesia tinha por si a experiência e as
ligações com o capital estrangeiro” (Relatório ao IV Congresso, 1922).
Era o começo de um duelo em que estavam em jogo coisas infinitamente graves,
consequências sociais e morais incalculáveis. Para uns e para os outros, o grande objetivo
era, no seio a Rússia, país agrícola, a conquista do mercado camponês. Os camponses, cuja
parte pobre e explorada ajudara a Revolução desconfiavam entao desses revolucionários
que lhes haviam dado a terra mas que lhes tinham tomado o trigo. O camponês russo,
realista, mas de vistas curtas, já havia demonstrado sinais de resistência violenta. Do ponto
de vista do acordo com o campo, a NEP, graças a algumas portas abertas à iniciativa e aos
benefícios particulares, e aos seus regulamentos que ão tinham mais o aspecto de
requisições brutais, cujas despesas eram integralmente pagas pelo campo, era de uma
importância capital.
Os bolchevistas, que são os homens menos cegos enquanto ao futuro, sabiam que
todo o porvir do Estado socialista se baseava no acordo entre a economia produtora do
campo e a da cidade (como aliás, a própria Revolução, só se realizara por que os
camponeses em seu conjunto tinham aceito ̶ as vezes até auxiliado ̶ ou não tinham
reagido contra ela. Mas os novos senhores, se bem que proclamado explicitamente esse
grande acordo eventual e indicando mesmo as suas etapas, deixavam provisóriamente
paralizada a indústria pesada, a eletrificação, as perspectivas de construção consciente da
economia, e as grandes obras nacionais. O programa era o de consolidar a Revolução
através de um período de planos inelineados permitindo proceder a alguns reparos
indispensáveis, e preparar os caminhos. Penetrava-se tanto quanto possível o campo pela
cooperação, e por outro lado, declarava-se bem alto que se estava no caminho do
capitalismo ao socialismo, se bem que “inconparávelmente mais perto do ponto de partida
que do de chegada”.
Afirmava-se solenemente em Moscou: “O Estado não faz concessões industriais, e
nao assina convenções comerciais, senão quando nem umas nem outras podem solapar os
fundamentos de sua economia”.
Lembram-se os leitores as caçoadas e mesmo as gargalhadas que essas declarações
provocavam nos meios bem pensantes? Os que, no nosso país, eimavam em dizer: “Tenham
confiança nos bolchevistas”, ficavam numa posicção bastante ingrata. “ah os irredutíveis
revolucionários estão se chegando! murumurava a sabedoria das outras nações. É evidente:
eles esboçam o primeiro passo de recuo, a volta aos bons velhos métodos capitalistas. E o
começo do fim de uma louca tentativa socialista!”
Quando, em 1921, Tchitcherin encontrou-se com o Sr. Colrat, representante da
França, esse interrompeu brutalmente o Comissário do Povo nos Negócios Estrangeiros,
que havia começado a falar ̶ , dizendo-lhe que os bolchevistas não tinham direito de se
meter a falar de economia políticaem vista da desorganização da economia em seu país.
Não tenho a honra de conhecer o Sr. Colrat, mas digo que é um tolo. Na melhor hipótese, se
julgamento sumário só poderia ter algum valor ou significado se os bolchevistas tivessem
tempo de aplicar seus métodos econômicos no território de que se tinham feito herdeiros ̶
o que não era evidentemente o caso. mas o Sr. Colrat não erao único a dizer bobagens. (Nós
as marcaremos nas costas da pessoas que as proferiram pomposamente quando se sentiam
apoiados pelas risadas dos comparsas.)
“O Estado não deixará que sejam solapados os fundamentos de sua economia”.
Compreende-se, aliás, que nossos republicanos conservadores do ocidente, nossos políticos
transformistas, considerem inverossímil que homens políticos cumpram estritamente seus
compromissos e sigam uma direção reta. Que processo novo é esse? Isso faz parte da
originalidade dessas curiosas personagens orientais. Talvez seja uma moda que acabarão
por imprimir à politica. De qualquer forma, quando proclamaram veementemente “Não
deixaremos ludibriar” essa boa gente tinha razão. E eram ainda mais honestos por anunciar
sua isenção.
“Estão se chegando?...” Não, Sr. Ministro; nao, Sr. Barão, eles não se chegavam. E
bem depressa as fisionomias dos capitalistas se enconprindaram até a caricatura.
Bem poucos anos após essa estréia, todos podiam constatar que os bolchevistas
realizavam inteiramente seus objetivos, retornavam as empresas, reduziam gradualmente a
parte do capital privado, e que saíam integralmente vitoriosos do período de trabalho
econômico encimado pelo estandarte da NEP. Os compromissos entre o capitalismo e o
socialismo, entre a empresa privada e a empresa coletiva ̶ o casamento da carpa e do
coelho ̶ eram, com efeito momentâneos; o deslumbramento do campitalismo mundial ante
a nep era, com efeito, devido ao reflexo de um fogo de palha; e o homem da NEP era agora
apenas um personagem antiquado que só prestava para figurar nos palcos do teatro como
tipo pitoresco de anos historicamente defuntos.
Assim é o oportunismo e eis o que significa. A grandeza de Lenin e o homem que
trabalhava a seu lado naquele meio caótico e oscilante, foi ter tido o senso do oportunismo
realista. Se vos perguntam “o oportunismo é bom ou mau?”, não respondei. Não o podeis.
O oportunismo ̶ naturalmente refiro-me à palavra num sentido geral e não no sentido
pejorativo especial que elas às vezes tem ̶ pode ser bom ou mau. pode preparar a vitória,
pode preparar a derrota. Ficar com o que ele pode ter de útil, é um dever; não agir assim, é
um erro. Em certas circunstâncias o sectarismo não passa de um medo da responsabilidade.
As vezes é muito cômodo ser intratável cem por cento e se refugiar na torre de marlim da
pureza, quando tudo em redor titubeia e desmorona. Outras vezes, não se deve, demaneira
alguma, abandonar a intransigência. É preciso saber ser honesto, e a boa vontade não basta
para se cumprir o dever no momento em que esse toma uma certa envergadura. Em 1921,
aqueles que mereciam ser tratados de oportunsitas, no mau sentido da palavra, não eram os
que aprovavam a NEP, mas sim aqueles que se lhe opunham. Isso porque eles sacrificavam
o futuro ao presente, ao passo que o conteúdo retificado da palavara oportunismo deve ser:
sacrificar o presente ao futuro. O oportunismo de Lenin e Stalin ̶ e de todos os grandes
estrategistas ̶ é um passo atrás para dois adiante. Para os inábeis e os atemorizados, e
também para os socialistas titubeantes inconscientemente ou não, procuram uma
escapatória, são dois passos atrás para um adiante.
Mais uma vez, o marxismo nos ensina: uma palavra é uma palavra, isto é, nada em si
mesma. As fórmulas só valem em função o uso que delas se faz, e pode haver um muno de
diferenças entre dois fenômenos que se exprimem, gramaticamente, de maneira identica. O
marxismo é um relativismo absoluto. É, no final das contas, uma questao de marxistas.
(Nem mesmo uma questão de Karl Marx. Marx é um grande homem não por causa do seu
nome, mas por que é o mais cnsequente dos marxistas.).
A fato é que o mesmo homem de 1903 a 1912 tudo havia feito, com uma pertinância
imperiosa que “ultrapassava” tantos dos seus companheiros, para cortar em dois um partido
revolucionário, no entanto perseguido e dizimado pelo tsarismo ̶ e que agia dessa maneira
precisamente por que esse partido necessitava de todas as suas forças ̶ consentiu, quando o
partido venceu, que transingisse em múltiplos pontos com métodos burgueses. Enganam-se
os que imaginam haver aí contradição ̶ pois Lenin, ditador dos fatos, tinha também razão
num e noutro caso.
Assim aparece a linha que Lenin intitulava “a curva da linha reta”. Bela e possante
fórmula que não significa: arabescos, reviravoltas, piruetas mas que se faz pensar na retidão
da circunferência das latitudes, ou na curvatura do espaço segundo Eisntein.
Em meio de tudo isso, era preciso o quanto antes partir no grande caminho definitivo.
Reintegrar a economia no socialismo com as etapas necessárias, depois desenvolvê-las
sistematicamente.
Em 1922, no Xi Congresso do Partido, um ano após a introução da NEP, Lenin
considerava que “a retirada estava finda, e que era preciso pensar num reagrupamento na
escoha dos homens”. E depois do XI Congresso, Stalin foi nomeado Secretário Geral do
Comité Central do Partido Comunista russo. Organizou imediatmente, pode-se quase dizer:
reorganizou o partido, em função da estruturação da economia socialista nacional.
A situação permanecia tempestuosa. As grandes potências ainda não se tinham
desarmado, pelo menos secretamente. Tinham sido inúteis as tentativas de se obter qualquer
coisa delas, com exeção dos países Escandinavoz e da Alemanha, e com essa última fora
firmado o tratado de Rapallo que vinha trazer uma certa solidariedade (na miséria).
A Conferência de Gênova, com os outros grandes países, fracassou. O pretexto do
fracasso foi o repúdio das dívidas tsaristas pelos bolchevistas. As grandes potências
européias estavam em vias de reconstruir sua economia de após guerra, com 90 bilhões de
francos que os Estados Unidos lhes haviam emprestado para esse fim (independentemente
dos empréstimos anteriores para a guerra) ̶ e que as ditas grandes potências deviam um ia
recusar-se brilhantemente a reembolsar aos Estados Unidos, quando tendo feito uma
sensacional demarcação entre o dinheiro que lhes deviam, decidiram esquecer oficialmente
quele último e fazer entrar os recibos referentes a essas dívidas na categoria dos farrapos de
papel. E isso sem ter as razões morais invocadas pelo poder soviético para o repúdio das
dívidas tsaristas, razões que haviam sido, repetimos, proclamadas solenemente por
personalidades políticas russas das mais moderadas, antes da guerra, concernentes aos
empréstimos contratados por um governo déspota em vista de interesses particulares, e para
esmagar seu povo. Há uma diferença, convehamos, entre um governo revolucionário que
recusa sua solidariedade às dilapidações de um tsar inimigo de seus súditos, e esses
governos que negam sua propria assinatura (depois de haver extorquido ao vencido
indenizações de alta monta).
Num momento era que a maioria dos cidadãos soviético comiam milho em torno da
hipertrofia de alguns dirigentes da NEP, e que os dirigentes sub-alimentaos emagreciam,
lançaram-se todos ao trabalho de confeccionar o futuro.
Trabalho racional. Trabalho feito segundo as vistas do conjunto. Era preciso primeiro
desimpedir as diretivas principais. A teoria e a prática marxista tinham ali uma margem
astronômica. As duas eram conduzidas em conjunto, pois não há como a teoria para ensinar
à prática como fazer e começar no lugar exato. A teoria indica a trajetória do ponto de
partida do ponto de chegada. Se está correta, ela tem uma antena no futuro. Lenin diz e
Stalin repete que é a grande alavanca das coisas. Todos aqueles que observaram a obra de
Stalin reconhecem que é justamente a sua qualidade principal saber “compreender a
situação ao mesmo tempo na sua complexidade e nos detalhes, colocar o que há de mais
substancial no primeiro plano, aguçar toda a atenção sobre o que é mais importante no
momento”. Pode-se observar que os conhecedores ̶ como Kouibychev que dirigiu o Plano
de Estado ̶ quando falam das realizações de Stalin, não dizem apenas: ele fez isso e isso.
Dizem: ele fez isso a tempo.
O primeiro grande problema a vencer era o camponês. Esse prblema era, e o é ainda,
o mais transcendente da República Soviética.
Não evemos nos esquecer ̶ e convem repeti-lo, que as duas caracteríticas da Rússia
de então, era agrícola e atrasada. O terreno escalonado e pontilhado por Petrogrado, Odessa,
Tífilis, Vladivostok, Arkhangalesk, mantivera-se até então um país feudal, desordenado e
confuso, em redor das decorações do Kremlim, dos diamantes da coroa e dos altares da
icene, e com os rastros luminosos do Grão-duque e dos boyardos que se iam naquetear no
estrangeiro. Pouco tempo antes a metade das terras pertencia a 18.000 nobres, e outra
metade a 25 milhões de camponeses. A incoerência deste estado de coisas formigava por
toda parte. A indústria, muito atrasada tinha alguns centros (relativamente vastos)
alimentados quase na metase (43%) pelo capital estrangeiro.
Ora, é pela indústria que um Estado moderno pode crescer. E pela indústria que se
transforma um grande terriório num grande país.
Mesmo do ponto de vista do camponês? Sim, mesmo o ponto de vista dos progressos
tanto econômicos como políticos do camponês: é por intermédio da indústria que se poderá
resolver a transformação socialista da aldeia.
Em consequência, “o centro de gravidade da economia tem que se deslocar no sentido
da indústria” (Stalin). Tudo isso é mais fácil de dizer do que fazer quando se está em
presença de oceanos assim nus, de campos, estepes, florestas. Mas deve-se começar a ter
esta audácia no papel branco.
É preciso que transformemos nosso país, de agrário em industrial, capaz de produzir
por si mesmo tudo que necessita. Eis aí o ponto capital, a base, da nossa linha geral.
Assim faça Stalin, Comissário do Povo para a Inspeção Operária e Camponesa.
Mas sua idéia, exatamente a mesma que a de Lenin, é que não basta dizer que se deve
proceder pelo caminho da indústria. É preciso escolher certas indústrias entre todas: “A
industrialização não significa o desenvolvimento geral de toda a indústria”. O “centro” a
economia, sua “base”, o único meio de fazer progredir a indústria toda, esta, proclama
Stalin, é o desenvolvimento da indústria pesada (metais, combustíveis, transportes), é “o
desenvolvimento da produção dos meios de produção”.
E isso queria dizer também: é o desenvolvimento de algo que, no momento em que se
fala, equivale mais ou menos a zero ̶ em razão o atrazo dos últimos séculos, do dilúvio dos
últimos anos, e também em razão da desordem ocasionada nos planos arquiqueturais da
economia pela instalação da NEP que ainda era preciso admitir por um certo tempo.
Mas Lenin havia peremptoriamente especificado “Se não encontrarmos os meios de
implantar e desenvolver a indústria, estamos liquidados como país civilizado e, com mais
motivo aind, como país socialista”. E Stalin diz coisas paralelas a propósito da indústria
pesada.
Aqui, devemos abrir uns parênteses para enchê-los com considerçações similares às
que já forem invocadas. Com efeito, trata-se mais uma vez, com relação a esta história de
indústria pesada, de uma combinação a longo prazo que a princípio parecia muito mais
racional: começar ̶ mais modestamente ̶ por reconstruir e desenvolver a indústria leve, a
dos tecidos, a do consumo, a da alimentação, permitindo abastecer a população, satisfazer
as necessidaes públicas imediatas, fazer calar as reclamações mais veementes... De resto, o
homem de neve, gosta mais de ter a impressão do que está começando pelo começo.
Era, mais uma vez o conflito que reaparecia (não desapareceu senão a pouco tempo)
entre a lógica gigante, entre as pessoas de vistas longas, com duas embaraçosas
preocupações do futuro, e as pessoas de vistas curtas, que não tem que se preocupar com
bagagens.
Ide do menor ao maior, diziam elas. Assim, diminuireis o sacrifício público,
encurtareis a era das privações, acalmareis as queixas, facilitareis a paz interna, em vez de
vos lançardes desabridamente no sistema do monumento na aldeia, e vos atirardes aos
recordes mundiais, quando não tendes o necessário suficiente.
Mas:
Vosso ponto de vista é falso, camaradas.
E a lógica e a paciência do futuro respondem pela boca de Stalin, e explicam: Sim,
distribuir-se-iam algumas satisfações imediatas às populações urbanas e às populações
rurais, se se começasse pela indpustria leve. E depois? Somente a indústria pesada pode
servir de alicerce à renovação industrial de um país. Somente o deevolvimento da indústria
pesada tornará possível a coletivização dos campos, isto é as grandes realizações sociais.
“A aliança entre o camponês e o operário pe necessária, constata Stalin. Mas não se
pode reeducar o camponês, destruir sua psicologia individualista, transformá-la em espírito
coletivista, e assim preparar o caminho para uma sociedade socialista, sem que isso tudo
seja feito na base de uma técnica nova, de um trabalho coletivo, de uma produção em
grande escala. Ou resolvemos essa tarefa e então viveremos definitvamente, ou dela nos
afastaremos, e então a volta ao capitalismo pode tornar-se inevitável”.
E além disso, há a questão da defesa nacional, que requer a indústria pesada. A defesa
nacional é sagrada. Certas palavras bonitas foram temperadas de todas as maneiras pela
cozinha o capitalismo. Não é razão para não se lhes dar pela primeira vez o seu verdadeiro
sentido. Odiosa onde ela significa cobiça e banditismo e “eu mais que você”, onde significa
ruína e suicídio, onde significa a primeira etapa do ataque nacional, ̶ a defesa nacional é
mais respeitável que a vida quando significa: etapa para o progresso, elevação acima da
escravidão, e prevenção brutal contra os países de rapina que só procuram um pretexto para
destruir o socialismo vivo ̶ e que tanto multiplicaram as tentativas concretas e efetivas
nesse sentido, que é preciso estar de má fé para contestar a intenção deles. Esse dever de
defesa social afasta toda confiança criminosa em relação às grandes potências. e trazuz o
desejo de que a aurora da Revolução Russa seja realmente uma aurora.
No dia em que Stalin, resumindo de maneira ampla s coisas dizia, alguns anos mais
tarde, que o primeiro fundamento do Estado soviético era a aliança entre o operário e o
camponês, e o segundo, a união entre as nacionalidades, acrescentou que a terceira era o
Exército Vermelho.
Portanto, a indústria pesada é o “primeiro elo”, para empregar ma terminologia a
gosto dos homens que, no seu país, mudam o abstrato em concreto.
Mas não bastava empreender a indústria pesada, Era preciso multiplicar a tarefa,
decidindo agir com rapidez. Atrasos por demais longos teriam falseadoo sentido dessa
conquista, e arrastao os piores perigos. Demorar-se demais na esterilidade provisória dos
estaleiros imensos, era dar oportunidade aos riscos da derrota. Portanto, ritmo acelerado.
E, nesse ponto, surge imediatamente um outro obstáculo implacável: falta de técnicos,
e a Técnica é ao mesmo tempo máquinas e homens. Ali também, naquela tribulação do
recrutamento da direção técnica, foram usados meios amplos, à primeira vista
desconcertantes. Havia duas alternativas, explicou mais tarde Stalin (recentemente: ouvi
isso pelo rádio enquanto corrigia as provas deste livro) . . . “duas alternativas: a que
consistia em educar primeiro os técnicos ̶ coisa que levaria uns dez anos ̶ , e depois,
construir as máquinas e forjar os quadros. Escolhemos esta segunda solução. Dela
resultaram às vezes alguns erros e deteriorações. Mas ganhamos o que era mais preciso: o
tempo, e adquirimos, premios pela necessidade, os técnicos que faltavam. No final das
contas, ganhamos muito mais do que perdemos”. Um grande novo êxito da sábia e sagás
tenacidade bolchevista. “Vencemos ̶ e é de justiça”, acrescenta Stalin em 1935.
Mas, na época, esse atropelo, juntando-se à mudança dos velhos métodos de
graduação, não estava ao gosto de todo mundo, mesmo nas esferas dos responsáveis.
Alguns faziam cara feia. Stalin os vai buscar nos seus cantos e os instiga, “esses filhinhos
de chinelas, roupão e carapuça de dormir, que abordam os problemas da construção
socialista somente do ponto de vista da tranquilidade das suas existências”.
Assim, por sobre as ruínas atuais, as brumas do futuro se povoam de gigantescas
sulhuetas industriais. Lá longe, à frente do primeiro plano terra-a-terra de onde surgem
destroços ̶ as nuvens e luminosidades tomam a forma de torres de trabalho, de altos
fornos, de diques e de arcos de pontes que formam negros arco-íris. Nas estepes, ou nos
desertos férteis dos campos, aparecem, superpostos como numa montagem fotográfica,
usinas, conjuntos de usinas: cidaes encouraçadas. Em torno dos oasis científicos e da
harmonia socialista dos formigueiros humanos, as planícies cultivadas são recortadas em
xadrez, em losângulos, desenham os vai-vem convergentes os tratores, numa irradiação
quilométrica. E no mapa, a tessitura ds trilhos e estradas...
Os andamentos deviam começar a se graduas desde o fim da guerra civil, e partir
novamente em grandes etapas medidas e calculadas. 1921, 1925, 1927.
As cooperativas de consumo são impulsionadas intensamente, sobretudo no campo. E
preciso intensificar metodicamente a sua criação e crescimento. “A cooperação é a estrada
larda que conduz ao socialismo” (Lenin). E evidente que ela coletivisa a imaginação,
estabelece uma atmosfera de comunidade, e introduz hábitos socialistas na aritmética
prática da vida. Além do mais, as cooperativas de consumo permitiam que fosse pouco a
pouco empurrado para fora o comércio privao, reduzindo até a inanição os intermediários
particulares e servindo elas próprias de intermedárias entre os trsusts do Estado e os
consumidores. Depois então se organizaria em grande cooperativas de produção.
Ao mesmo tempo, o poder decretou toda uma série de medidas de racionalização, de
economias, de luta contra o desperdício, e pelo aumento de rendimento; pelo reforçamento
da disciplina e assiduidade do trabalho.
... Mas tudo isso não tomou corpo e pôs realmente a vivier senão quando se agrupou
em torno da Eletrificação.
A eletrificação foi a raiz concreta que ligou toda a enorme indústria ideal à terra.
Lenin vira o papel da corrente elétrica no mundo futuro que o cercava ̶ num
momento em que ninguém podia ver isso, enquanto a NEP caminhava a passo lento, e
quando se estava em plena dança das esperanças capitalistas nas feridas ainda não
cicatrizadas do povo assassinado.
A idéia que brotara do solo foi chamada Goerlo (palavra que tinha as iniciais de
diversas palavras: Estado, Eletricidade, Rússia.)
“Li seu plano de Eletrificação da Rússia”, escreveu Stalin a Lenin, em março de
1921. “E” o esboço magistral de um plano econômico, verdadeiro plano de conjunto,
verdadeiro plano de Estado, em toda a acepção da palavra. E a única tentativa da nossa
época para colocar a superestrutura da Rússia, economicamente atrasada, sobre uma base
técnica industrial “verdadeiramente real” e a única possível nas condições atuais... De que
adiantam as dezenas de “planos de conjunto” que, para nossa vergonha, são publicados na
imprensa? Um balbúcio de crianças nada mais... Lembram-se o plano de Trotsky, o ano
passado, suas teses sobre o “renascimento econômico da Rússia” por meio de uma vasta
utilização a mão-de-obra não qualificada das massas camponeseas e operárias (exército dp
trabalho), nas ruínas da indústria de antes da guerra. Que pobreza, que “primitivismo” em
comparação com o plano do Goerlo! Dir-se-ia um artíficie da Idade Média tomando uma
atitude de herói de Ibsen. Minha opinião? 1º Não desperdiçar mais um spo minuto com
tagarelice sobre esse plano; 2º Começar 2 imediatamente a realização prática da questão; 3º
Subordinar aos interesses desse começo de trabalhos pelo menos um terço de nosso
trabalho (dois terços serão necessários para as necessidades “correntes”, ̶ materiais e
homens); 4º Como os colaboradores do Goelro, apesar de todas as suas boas qualidades,
não tem um bom senso prático (nos artigos sente-se a impotência professoral), na Comissão
dos Planos devem figurar homens práticos; 5º A Pravda, as Isventia e sobretudo a
Ekonomitscheskaria Schisn devem se ocupar da popularização do “plano de eletrificação”,
para anunciá-lo e para divulgar os detalhes concretos, sem perder de vista que não existe
senão um “plano econômico de conjunto”, o “plano de eletrificação”, que todos os outros
“planos” não passam de tagarelices inputeis e prejudiciais”.
A eletricidade passa a ser o eixo central da futura reconstrução continental, que toda
ela decorrerá desse pilone. As fontes hidroelétricas, quase férricas, já materializam as
grandes formas do grande progresso coletivo.
“O socialismo, diz Lenin, são os soviets mais a eletrificação”. E uma toda poderosa
reunião de idéias e de coisas que liga e une entidades entre as quais parecem não ter

2
As partes em itálico foram sublinhadas por Lenin.
nenhuma relação entre si. Seria possível caminhar-se por muito tempo através o socialismo,
ou através a eletricidade, sem encontrar essa fórmula. Tem-se a impressão de estar
misturando batatas e laranjas, contrariamente ao que recomendam os professores aos aunos
das escolas primárias. Na realidade, é colocar a formidável estrutura material em cheio na
idéia, Isso assemelha-se a uma fórmula de álgebra. Assemelha-se também à grande
objurgação do Genesis: Que seja feita a luz.
Esse plano de taumaturgo que fazia sair de todos os recantos milhões de cavalos-
vapor, esse projeto de eletrificação, pareceu comico e absurdo ao Ocidente. Wells, o
eminente esxritor inglês ̶ que se especializou em visões de futuro ̶ fêz-se o porta- voz dos
espíritos autorizados cujo senso do ridículo se chocava com essa oretensão soviética.
Quando em 1921, Lenin lhe disse: “Eletrificaremos a Rússia Européia e a Rússia Asiática”,
ele achou isso cômico, Não a idéia em si, (explica ele que se a Inglaterra tivesse tido a
idéia, isso seria mais compreensível, porque a Inglaterra tem os meios), mas nesse país
ignorante onde não havia senao ruínas, e emanando do “homenzinho do Kremlin”, a coisa
parecia-lhe inverossímil. E ainda por cima o profeta bolchevista, com o seu pobre cérebro
ofuscado, falava em 100.000 tratores na Rússia, do futuro, numa ocasião em que os tratores
soviéticos podiam sercontados nos dedos da mão. Wells, o técnico literário dos tempos
futuros, a única vez que a sua visão foi controlada, viu errado o futuro. Que não daria ele
para apagar da sua obra a página devido à qual os escolares da U.R.S.S mostram-se
atualmente tão duros para com ele!
No VIIIº Congresso dos Soviets e no 4º Congresso da Internacional Comunista, o
Plano de Eletrificação e a Comissão para a Eletrificação crescem e se sistematizam em
Planos de Estado. Essa Comissão começou sobretudo a funcionar ativamente quando a
U.R.S.S., após um longo período de readaptação e de rajustamento das instalações
industriais existentes, enveredou pelo caminho das instalações novas de granes proporções.
Foi então que se deu a série dos Planos de Cinco Anos, que não eram senão partes de
Planos mais extensos, tensos.
Esse processo gigantesco da “planificação” que lança sua rede por sobre países
inteiros e por sobre longos períodos, é um produto soviético. Ma a idéia deixou marcas por
todo o universo. Se fez concretamente seu caminho na U.R.S.S., o fez em outras partes,
abstrata e verbalmente. A União Soviética nunca pôde pedir coisa alguma emprestada aos
grandes países. Os grandes países é que dela receberam certos empréstimos importantes,
entre outros esse processo. Aproveitaram até mesmo a noção da economia dirigida,
enfeitada com alguma pretensões internacionais. “Economia dirigida”, balbuciante
homenagem do capitalismo ao socialismo!
Sim: economia dirigida. Não há outro meio para o gênero humano se tirar de apuros.
E é bem isso, efetivamente, a panacéa universal. Mas quem diz: direção, diz: unficação, e
quem diz: capitalismo, diz: anarquia (tanto do ponto de vista nacional quanto do ponto de
vista internacional)... Se a palavra: “dirigida” não tem um inteiro conteúdo nacional, não
tem um verdadeiro conteúdo internacional, não significa nada, e nada vale, nem do interior,
nem do exterior. A economia dirigida é como a paz: ela não viverá nunca se se começa por
cortá-la em pedaços.
Que a idéia de Plano Econômico seja uma idéia exclusivamente soviética, não é tanto
por motivo de prioridade, mas por um motivo orgânico. Nos países capitalistas, as
iniciativas e as prerrogativas particulares, a multiplicidade e as divergências do interesse em
jogo na obra econômica, tornam impossível qualquer plano de conjunto: a prova está,
quando menos nao seja, nos esforços e trapaças postos em prática todos os anos, nas
vésperar do último termo, e muitas vezes depois, para conferir aos nossos orçamentos da
despeza pública uma aparência de equilíbrio. O mesmo não se dá com o Estado socialista
que realiza uma edificação estritamente lógica e de interesse público matematicamente
puro, e em que a coletividade dirigente é ao mesmo tempo legisladora, executora,
proprietária e beneficiária.
Não obstante, o Plano Quinquenal soviético, quando anunciado com seu luxo de
detalhes e precisões, despertou (mais uma vez) os sorrisos das figuras ocidentais. Sorriam
de que? Essa gente, cujas estatísticas econômicas eram retrógradas e deliquescentes, e que
fechavam lamentavelmente o cortejo das estatísticas econômicas mundiais ̶ oferenciam-
nos cifras fantásticas... situando-as no futuro? Faziam rebrilhar metragens de trabalhos não
começados. Quando se lhes perguntava: “Como vai, no seu país, tal ou tal indústria?”,
respondiam “Veja o que ela vai ser dentro de cinco anos”, e se lançavam em
grandiloquentes perspectivas remotas.
E como podíamos nós nos impedir de pensar, a propósito dessas estatísticas nas
nuvens, nas belas promessas de que são tão prodígios nossos políticos em moda, em relação
aos cidadãos em geral, e aos eleitores em particular? Não podíamos deixar de considerar
que seria uma originalidade nossa levar a sério os compromissos de um ministro ou de um
governo.
Era impraticável, sob os nossos céus, pregar a confiança nas cifras moscovitas. SEria
preciso muito sectarismo para acreditar em tal coisa! diziam uns.
Outros diziam: as cifras do Plano Quinquenal são uma ficção, pois são altas demais.
Um tal deslocamento de recursos só é possível num período de guerra, sob a ameaça dos
canhões.
Escrevi em 1928, (sou eu, Barbusse que fala), que “no Plano Quinquenal em
andamento, não se tratava de especulações feitas sobre algarismos e palavras por burocratas
e literatos, tratava-se de diretrizes positivas; que se devia considerar as cifras do Gosplan
(Plano de Estado) mais como conquistas alcançadas que como indicações”, “e, concluia eu:
quando os bolchevistas nos afirmam que em 1931 a indústria soviética terá aumentado de
8%, que 7 bilhões de rublos terão sio invetidos na reabilitação econômica, que as estações
hidroelétricas atingirão 3 milhões e 500.000 quilowatts de força, etc..., é preciso acreditar
que essas coisas já existem virtualmente...”
...Ora, se nas cifras acima não foram realizadas exatamente, na data indicada, é que
todas elas foram ultrapassadas.
Agora, a verificação é feita do “valor real” das cifras dos Planos, ao passo que ̶ com
o desenrolar dos anos ̶ essas cifras passaram das zonas vagas do futuro, para as zonas
fotográficas do presente. A porcentagem de cifras que não foram atingidas é absolutamente
insignificamente, poder-se-ia mesmo dizer, inexistente. Em muitos pontos, foram
ultrapassadas. Os planos econômicos soviéticos na realidade se transformaram para 109%
em 1922-23; para 105 % de 1923 a 1925, emtodos os princípais capítulos para não falar
senão os primeiros.
Ninguém pode se admirar. Evidentemente é nos planos materialistas que se encontra a
maior dose de inteligência. E em vista das formas racionais do socialismo e seus contatos
diretos e simplificados com a realidade precisa, é rigorosamente normal que as previsões do
plano concretizem com exatidão ̶ por mais árdua que seja a surva traçada. “Seria magia, se
não fosse socialismo” disse Stalin.
Mas se as teorias socialistas se transformam assim em grandes coisas, nao é somente
devido á inteligência humana, é também por causa do coração humano. É necessário um
outro impulso que não a lógica para criar a obra lógica em tal proporção. A vontade? A
própria vontade não basta ainda. É preciso entusiasmo. Por meio da ideologia socialista e
por meio da ação direta do Partido (ele representa para as massas o guia magistral, e é
também aquele que impulsiona), é preciso obter a colaboração da multidão dos que
trbalahm: a quantidade e a qualidade. Sem uma colaboração espontânea, decidida, ardente,
da classe operária, nada se pode fazer. Portanto: “despertar nela as forças ciradoras abafadas
pelo capitalismo”, “armar o operário de entusiasmo pelo trabalho”. Qualificação técnica,
mas também qualificação moral. E a aliança dessas uas forças, aliás parentes, que torna
possível o super-trabalho.
Entusiasmo pelo trabalho? Os economistas capitalistas consideram isso uma
teapeação. Afirmam que nunca se conseguirá nada do operário senão com incentivo do
lucro. Velho método que os sistema capitalista empregou sempre que pode (hoje em dia isso
lhe é cada vez mais difícil). A fórmula: “Enriqueçam-se”, isso dá sempre bom resultao com
as multidões capitalistas: (resulta mesmo perfeitamente na sua ruína).
N regime socialista, o operário nao é em ebsoluto a mesma espécie de cidadão que no
regime capitalista. No regime capitalista, o operário é um forçado. Trabalha a contra-gosto,
porque não trabalha para si. Não lhe é mesmo difícil perceber que trabalha contra si
próprio. Urge, portanto, incitá-lo com estimulantes especiais: a moeda de cem vintens, a
esreita concepção do dever, a moral cristã e toda cólera de Deus. O outro sabe trabalhar
desabaladamente “pela glória”, porque a glória é a sua força e a sua elevação. E nos planos
materialistas que se encontra maior dose de ideal.
Mas não eram somente os capitalistas que dogmatizavam. Havia também, em certas
camadas do Partido, críticos que rumorejavam. Todos esses apelos à emulação socialista,
diziam aqueles camaradas, servem sobretudo para a agitação e a propaganda, mas contar
com isso para o trabalho prático e generalizado, é excessivo, e o camarada Stalin está se
adiantando demais. Mas Stalin garantia obstinadamente o valor real da emulação pela
causa, a necessidade econômica positiva desse impulso. Quando, alguns anos depois, ficou
averiguado que o entusiasmo dos operários era com efeito um acréscim de peso e de
volume enorme na marcha para a frente do trabalho, Stalin ganhou a vitória, que registrou
assim: “Este ano operamos uma transição decisiva.”.
Foi ainda pelo entusiasmo que se conseguiu resolver a questão da técnica. Como há
pouco vimos, este era um duro e severo problema. Precisava-se de técnicos, e entre os que
eram, ou poderiam ter sido, havia uma terrível porcentagm de traidores (estrangeiros e
nacionais). “A população nos derrotou pelo número na luta em campo aberto. Nós a
derrotaremos pela ciência”, predizia Paltchinski, o Deteriorador em chefe. Formaram-se às
pressas técnicos soviéticos, que aprenderam na metade de tempo e que em breve estavam à
altura de suas tarefas.
Esta emulação, que é como que uma racionalização espontânea e ardente de cada um
por si mesmo, em razão e um máximo de rendimento, e que ̶ dizia Lenin ̶ o socialismo,
longe de apagar, multiplicou, Stalin a define com a seguinte descrição: “O princípio da
emulação socialista traz: auxílio fraternal dos camaradas avançados aos retardatátios, em
benefício do progresso geral.
Quer isso dizer que nesse avanço não podem exisitir motivos puramente morais,
exageros e inabilidade? o próprio Stalin assinalou isso com relação às medidas absolutas ̶
pueril e demasiadamente absolutas para o momento ̶ tais como a equação matemática dos
salários e o nivelamento estreito ̶ medidas de carater assás rudimentar e demagógico que
as torna mais prejudiciais do que uteis ao desenvolvimento ainda tão jovem da
personalidade socialista individual e coletiva. Mais tarde falaremos desses esquemas
caricaturais do socialismo.
Mas pode-se dizer que o impulso irresistível das elites, a arremetida da boa vontade,
em massas, brigadas, exércitos, são um elemento ao mesmo tempo excepcional e
permanente da obra de edificação.
Outro impulso, outra mola: a auto-crítica. Stalin foi um dos promotores e defensores
encarniçados (em todas as ocasiões mas particularmente numa conferência do Partido em
1921), da “válvula da autocrítica”. O militante e o partido, em frações e em bloco, têm o
ever de usar desse direito, dessa arma que é uma auto-crítica. Deem esclarecer as faltas, os
erros, ser implacáveis para com as insuficiências, as fraquezas. Se não o fazem, tornam-se
responsáveis. É preciso saber ser também seu próprio vigia, se controlador. Que cada um se
colocque à altura de sua responsabilidade. E somente no socialismo que a palavra do
Reformador, mentirosa na sua boca, adquire um sentido na intepretação dos Livros: Que
cada um seja seu papa!
Um dia, que chegou com uma rapidez fulminante, Lenin cessou de existir.
Morreu a 21 de janeiro de 1924, com cinquenta e quatro anos.
Isso pareceu inacreditável a todos os homens que até então se haviam agrupado em
torno dele. (A morte nos força a acreditar no inacreditável). Eles não podiam se convencer
que tivesse msido abandonados por aquele que encarnava toda a Revolução Russa ̶ aquele
que a tinha idealizado, preparado, realizado, ea tinha salvo. Lenin, u mdos maiores
conquistaores da história e, de longe, o mais puro; o homem que, até agora mais fez pelos
homens.
“Quando o Partido se viu ófão de Lenin, quando perguntava a si mesmo: que faremos
nós sem o chefe genial? a voz calma de Stalin se ergueu para dezier que haveriam de
triunfar das dificuldades” (Kaganovich).
Alguns dias depois do falecimento de Lenin (que provocou um afluxo de adesões em
massa dos operários ao Partido, como se esses operários, observa e sublinha Radek
“Tentassem compensar pela colaboração e uma multidão de cérebros, o cérebro de gênio
que cessara de criar”), Stalin, numa grande soleniade dirigiu ao grande espectro familiar do
mestre, em nome do Partido, um adeus que tomu a forma de um juramento: “Ao nos deixar,
Lenin legou-nos o dever de manter elevado e puro o nobre título de membro do Partido
Comunista. Nós te juramos, camarada Lenin, cumprir com honra a tua vontade!”
Desde os primeiros passos do Poder Soviético, Stalin substituía Lenin, e continuou a
substituílo quando este desapareceu.
A razão disso foi sobretudo por que Lenin, desde muito, se desdobrara a si mesmo
dentro do Partido. Ele próprio o forjara, sólida e amplamente, em detalhe, com todos os
seus poderosos pontos de apoio, seu irresistível arranco para frente, e havia feito dele uma
máquina produtora de direção.

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