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CELULAR PARA UMA METODOLOGIA ATIVA

Renan C. P. Soares
Professor de História do Centro Universitário Internacional UNINTER

Grupo de trabalho: História Social: diferentes contextos e novas tecnologias de comunicação

RESUMO

A geração dos chamados nativos digitais cresceu em um mundo de permanente movimento onde as
tecnologias audiovisuais, principalmente os celulares, fazem parte do seu cotidiano. Para maioria
destes estudantes, a disciplina de História é vista como entediante e afastada da sua realidade, quando
lecionada dentro dos marcos do ensino tradicional. Visando promover a motivação e o engajamento
dos estudantes do sexto ano, nos de conteúdos de Grécia Antiga, buscou-se desenvolver e aplicar uma
atividade pedagógica que utilizasse o aparelho celular como ferramenta principal, de maneira que
possibilitasse o desenvolvimento de estudantes ativos e permitir a produção de conhecimento. O
presente estudo configura-se como uma pesquisa de estudo de caso. Os sujeitos da pesquisa foram
os alunos de duas turmas do sexto ano do Ensino Fundamental de uma escola municipal da cidade de
Petrópolis. Os dados obtidos por meio da observação foram analisados qualitativamente. Esta pesquisa
busca verificar o quanto o uso da tecnologia audiovisual, focando nos celulares como recursos didáticos
são capazes de motivar e engajar os estudantes e possibilitar uma participação ativa no processo de
aprendizagem.

Palavras-Chave: ensino; história; Grécia; fotonovela; metodologia ativa

INTRODUÇÃO

O mundo está cada vez mais conectado. O avanço das Tecnologias de


Informação e Comunicação (TIC) transformou a maneira com que as pessoas se
comunicam e como o conhecimento é divulgado. É neste mundo que nasceram os
jovens estudantes de hoje, chamados de “nativos digitais” (PRENSKY, 2001).
Porém, algumas escolas continuam reproduzindo um ensino tradicional
descolado da realidade em que estes jovens estudantes estão inseridos. Neste
cenário, o celular passou a ser encarado como um dos maiores problemas
enfrentados pelos educadores. Em consequência não é incomum ver placas proibindo
o uso do celular e leis estaduais, municipais e federais que alinham-se a esta visão.
Nos últimos anos, o celular tornou-se o principal meio de acesso à internet,
principalmente entre as classes D e E (DOMICÍLIOS, 2016). Quando tratamos da
escola pública, este é, portanto, a principal forma de conexão dos estudantes.
Proibindo, simplesmente, o celular, cria-se, assim, um abismo entre a escola
e o estudante. Esta dicotomia pode levar há um quadro de desmotivação. São comuns
as reclamações dos professores acerca do desinteresse dos alunos. Porém esse
desinteresse é, em geral, direcionado àquele ensino praticado. Eles estão motivados
a realizar outras atividades, principalmente aquelas que envolvam o uso do celular.
Portanto, é preciso buscar estratégias que possibilitem quebrar este quadro
de desmotivação na escola. Os educadores que se apropriam do celular como
ferramenta pedagógica poderão ressignificar a utilização do aparelho para estes
jovens, ampliando suas possibilidades e reconectando o aluno com o ambiente
escolar.
A disciplina de História apresenta peculiaridades que podem desmotivar ainda
mais o jovem estudante. O ensino tradicional valorizava a memorização das datas e
os grandes feitos dos homens importantes. Para muitos jovens este tipo de História
não fazia sentido, pois não fazia relações com o mundo ao seu redor.
(BITTENCOURT, 2014)
O celular poderá contribuir como ferramenta na construção de um ensino de
História onde os estudantes são protagonistas do processo. Este trabalho apresenta
a análise de uma experiência prática de utilização do celular como ferramenta
pedagógica no ensino de História.

METODOLOGIA

O trabalho foi aplicado com estudantes do sexto ano de uma escola pública
municipal lozalizada no município de Petrópolis-RJ. Após uma aula expositiva de
Grécia Antiga dividiu-se a turma em grupos contendo entre quatro a seis pessoas.
Cada grupo deveria escolher um mito grego para trabalhar, dentre uma série de
possibilidades.
Após a escolha dos mitos, cada grupo deveria montar uma fotonovela do mito
que escolheu, com dez fotos exatas, tiradas com o celular e sem qualquer tipo de
legenda. Os atores da fotonovela seriam os próprios membros do grupo. O professor,
então, explicou a definição de fotonovela e mostrou alguns exemplos. Também foi
importante o professor apresentar a estrutura básica de uma narrativa.
O professor explicou e deu dicas técnicas de como bater as fotos. Nesta etapa
os exemplos também são importantes, visto que, a maioria dos estudantes do sexto
ano do ensino fundamental, desconhecem tais técnicas.
O número rígido de fotos permitidas tinha o objetivo de estimular o
planejamento prévio da fotonovela. Após estas explicações, os grupos deveriam
montar um roteiro da fotonovela. O roteiro seria montado a partir de uma pesquisa
prévia sobre o mito que foi escolhido. Neste roteiro, que o grupo deveria concluir em
casa e trazer na aula seguinte, conteria o planejamento das dez fotos da fotonovela.
No encontro seguinte, os grupos trouxeram o roteiro e apresentaram suas
ideias para o professor, um de cada vez. O professor, então, pôde orientar os roteiros
dando dicas para potencializar sua produção. Ao final desta etapa, os grupos puderam
dar início à produção da fotonovela em si. O espaço para esta produção foi o pátio da
escola, ou a própria sala de aula, mediante autorização prévia do corpo de direção.
Os grupos tinham até o final dos três tempos para encerrarem a produção da
fotonovela e passarem as fotos para o professor, que armazenaria em um pendrive.
Por fim, no terceiro e último encontro de três tempos desde que foi iniciada a
dinâmica, cada grupo iria apresentou o resultado de sua produção. Inicialmente os
grupos deveriam passar as fotos em sequência, sem nada falar, mas dando tempo
para os demais observarem cada foto. Terminada as dez fotos, os demais grupos
deveriam, primeiro, tentar adivinhar de que mito a apresentação daquele grupo se
tratava. Depois, repassando foto por foto, a turma, em conjunto, deveria tentar
entender o que o grupo quis demonstrar com cada foto. Só então, o grupo revelaria o
que significava cada foto, repassando-as novamente. Nesta etapa, professor e os
demais alunos, poderiam dar dicas de como melhorar cada foto, para que a intenção
inicial dos estudantes ficasse mais evidente.
A observação atenta e participativa do professor foi excenssial na colheta de
dados para a elaboração essa pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os métodos tradicionais de ensino, já não são suficientes para dialogar com


os estudantes atuais. Moran (2015, p. 16) afirma que
Os métodos tradicionais, [...] faziam sentido quando o acesso à
informação era difícil. Com a Internet e a divulgação aberta de muitos
cursos e materiais, podemos aprender em qualquer lugar, a qualquer
hora e com muitas pessoas diferentes.

A atividade aqui analisada fugia dessa perspectiva tradicional. Porém,


justamente por apresentar um recurso novo, uma série de dificuldade foram
observadas.
Nesse cenário o papel mediador do professor foi de suma importância. Numa
metodologia ativa, o professor torna-se mediador. Borges e Alencar (2014, p. 123)
descrevem o papel do professor apontando que
o educador, além de transmissor de conhecimento, deve atuar na
mediação do aprendizado, usando recursos didáticos que favoreça o
aprendizado crítico-reflexivo do estudante, de forma ativa e
motivadora.

Na atividade, o professor propôs mudanças pontuais nos roteiros


apresentados.
Essas dificuldades não diminuíram a animação dos estudantes com a
proposta. O motivo da animação era claro: usar o celular durante a aula e não precisar
ficar dentro de sala.
Pedagogicamente o uso do celular também foi ótimo. Dar ao estudante o
poder de produzir seu próprio material audiovisual, constrói uma prática pedagógica
que possibilita o protoganismo estudantil.
O uso do celular trabalha com a linguagem de multimídia que, segundo o autor
tem diversas vantagens, pois
A construção do conhecimento, a partir do processamento
multimídico, é mais ‘livre’, menos rígida, com conexões mais abertas,
que passam pelo sensorial, pelo emocional e pela organização do
racional. (MORAN, 2013, p. 20)

Motivados pela atividade proposta, os estudantes se engajaram mais no


estudo do tema. Durante a apresentação das fotonovelas, o envolvimento foi ainda
maior. A proposta de tentar adivinhar o mito do grupo que se apresentava e a história
a partir das fotografias, criou um clima de desafio e tensão, que motivou e envolveu
os estudantes na dinâmica.
Assim, evidencia a ideia de que, quando o estudante é protagonista do
processo de ensino-aprendizagem, o seu envolvimento é também maior. Coll (2000
apud PEREIRA, (2017, p. 3) sintetiza o conceito de Metodologias Ativas, como sendo
“aquelas que levam à autonomia do aluno e ao autogerenciamento. O estudante é
corresponsável por seu próprio processo de formação, o autor da sua própria
aprendizagem”. Isso foi alcançado na presente atividade.
Esse clima de empolgação, com a necessária mediação do professor, permitiu
que eles olhassem para as fotografias buscando analisar todos os seus elementos
envolvidos. Essa observação é importante para quando se analisa fontes imagéticas.
A apresentação revelou também que os grupos se esforçaram e, para o ano
escolar em questão, tiveram grande êxito adaptar a linguagem escrita para a visual.

CONCLUSÕES

A tecnologia digital transformou o mundo em diversas áreas. O ser humano


também mudou. Os chamados nativos digitais cresceram em um mundo organizado
a partir da tecnologia digital. Desde a tenra infância, até a vida adulta estas pessoas
estão imersas em um mundo audiovisual, conectado e interativo.
Porém, muitas escolas permanecem na contramão destas transformações, ou
acompanhando-as muito lentamente. Isto gera uma situação onde seus estudantes
não se vêm identificados com aquele espaço, que lhe parece estranho. Por isso, esse
trabalho buscou analisar possibilidades de recuperar a motivação destes jovens
estudantes com a sala de aula.
A constatação de que vivemos em um mundo digital, aponta a solução para a
transformação da escola nesta direção. O aparelho celular tornou-se um símbolo da
evolução tecnológica dos novos tempos, ultrapassando em muito sua função original,
ele passa conter diversas funções que atraem os jovens. A escola que encara o celular
como inimigo da educação estará reforçando o distanciamento destes alunos com o
ensino. É preciso encarar o aparelho como uma ferramenta que ele é, e apontar as
possibilidades de seu uso pedagógico.
O celular em sala de aula também possibilita quebrar o papel passivo do
estudante no ensino tradicional, dotando-o de poder para produzir conhecimento. Em
poucas horas, os estudantes deste estudo, produziram material histórico utilizando
uma das ferramentas mais simples do celular: a câmera fotográfica.
O celular, portanto, permitiu a construção de estudantes ativos e autônomos.
Com a devida mediação do professor, foi possível motivar e engajá-los numa atividade
escolar, permitindo melhor absorção do conteúdo. A transformação do ensino passa,
necessariamente, pela reflexão de como utilizar as ferramentas digitais disponíveis
hoje, para construir uma prática pedagógica que estimule a formação de sujeitos
ativos, criativos e prontos para melhor interpretar e agir sobre a sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BITTENCOURT, C. As “tradições nacionais” e o ritual das festas cívicas. In.


PINSKY, J. (Org.). O Ensino de História e a Criação do Fato. São Paulo:
Contexto, 2014. p. 53-92

BORGES, T. S.; ALENCAR, G. Metodologias ativas na promoção da formação


crítica do estudante: o uso das metodologias ativas como recurso didático na
formação crítica do estudante do ensino superior. Cairu em Revista, Cairu, v. 3, n 4,
p. 119-143, Jul/Ago 2014.

COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. CENTRO DE ESTUDOS SOBRE


AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO. TIC Domicílios 2016:
Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação no Brasil. São
Paulo: CETIC.Br, 2016. Disponível em:
<https://cetic.br/media/analises/tic_domicilios_2016_coletiva_de_imprensa.pdf>
Acesso em: 01 de ago. 2019

MORAN, J. M. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias


audiovisuais e telemáticas. In: MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A.
Novas tecnologias e mediação pedagógica. 21. ed. Campinas: Papirus, 2013.

_____. Mudando a educação com metodologias ativas. In. SOUZA, C. A. e


MORALES, O. E. T. (Org.). Convergências Midiáticas, Educação e Cidania:
aproximações jovens. Ponta Grossa: PROEX/UEPG, 2015.

PEREIRA, T. A. Metodologias Ativas de Aprendizagem do Século XXI: integração


das tecnologias educacionais. In: CONGRESSO INTERNACIONAL ABED DE
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CIAED, 2017, Foz do Iguaçu, PR. Anais (on-line).
SãoPaulo: ABED, 2017. Disponível:
http://www.abed.org.br/congresso2017/trabalhos/pdf/407.pdf. Acesso em20 mai.
2018.

PRENSKY, M. Nativos Digitais, Imigrantes Digitais. On the Horizon, v.9, n. 5,


Outubro 2001. (NCB University Press). Tradução: Roberta de Moraes Jesus de
Souza. Disponível em:
<http://www.cp2.g12.br/moodle/mod/resource/view.php?id=4057> Acesso em: 15 de
dez de 2017

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