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O texto "A Desmilitarização da Cultura" de Jean-Paul Sartre, publicado em

"Situations, VII", é um discurso que Sartre proferiu em 1962 e que foi


publicado no jornal "France-Observateur". Nesse discurso, Sartre discute a
relação entre cultura, política e responsabilidade dos intelectuais em um
contexto marcado pela Guerra Fria e pela manipulação da cultura em
função de interesses bélicos.

Sartre começa destacando a importância da cultura contemporânea,


enfatizando que a técnica está intrinsecamente ligada à cultura e que a
poesia desempenha um papel vital mesmo na vida de pessoas envolvidas
em campos técnicos, como o jovem soviético que ele menciona. Ele
ressalta que a cultura é uma consciência em constante evolução do
indivíduo sobre si mesmo e sobre o mundo em que vive.

O principal foco do discurso é a responsabilidade dos intelectuais e


artistas em relação à cultura e à sociedade. Sartre argumenta que é
fundamental que os intelectuais não permitam que a cultura seja
corrompida ou manipulada por agendas políticas, especialmente aquelas
relacionadas à guerra. Ele destaca que a cultura não deve ser usada como
uma "máquina de guerra" para propagar ideologias destrutivas.

Sartre adverte que a guerra fria e as disputas políticas estão distorcendo


os objetivos legítimos da técnica e da ciência. Ele menciona os "estragos
terríveis" causados por essa manipulação, onde recursos valiosos são
desperdiçados e a pesquisa científica é distorcida para atender a objetivos
bélicos. Ele enfatiza que os intelectuais têm a responsabilidade de
preservar a integridade da cultura e impedir que ela seja cooptada por
interesses políticos.

Além disso, Sartre aborda a relação entre particularismo nacional e


universalidade na cultura. Ele destaca a importância das obras culturais
serem enraizadas em sua história nacional e contexto, mas também
enfatiza que elas podem ser universais em potencial, contribuindo para
um entendimento mais amplo da condição humana.

Em resumo, o discurso "A Desmilitarização da Cultura" de Sartre é uma


reflexão sobre a responsabilidade dos intelectuais em relação à cultura, a
política e a guerra fria. Sartre argumenta que os intelectuais devem resistir
à manipulação da cultura para fins bélicos, garantindo que a cultura seja
preservada e enriquecida em vez de ser utilizada como um instrumento de
guerra e dominação.
O discurso de Jean-Paul Sartre intitulado "A Desmilitarização da Cultura"
foi proferido por Sartre durante uma conferência pública e
posteriormente publicado no jornal "France-Observateur" em 1962. Para
entender melhor o contexto desse discurso, é importante considerar os
elementos históricos e políticos que estavam em jogo na época:

1. Guerra Fria: O período pós-Segunda Guerra Mundial foi marcado


pela rivalidade entre as superpotências, Estados Unidos e União
Soviética, conhecido como Guerra Fria. A competição política e
ideológica entre os dois blocos, capitalista e comunista, influenciou
várias esferas da sociedade, incluindo a cultura.
2. Papel dos Intelectuais: Durante a Guerra Fria, muitos intelectuais se
encontraram diante da questão de como se posicionar em relação
às tensões políticas e aos sistemas ideológicos em conflito. Alguns
foram levados a se envolver na política e a apoiar agendas
específicas.
3. Manipulação da Cultura: Sartre estava preocupado com a
possibilidade de a cultura estar sendo manipulada e
instrumentalizada para fins políticos e bélicos. Ele via uma ameaça
na possibilidade de que obras literárias e artísticas fossem usadas
como ferramentas de propaganda em prol da guerra e do confronto
ideológico.
4. Responsabilidade dos Intelectuais: Sartre era um intelectual
influente e engajado, e ele sentia que os intelectuais tinham a
responsabilidade de agir em prol da justiça e da verdade. Ele via a
cultura como uma forma de conscientização e acreditava que os
artistas e escritores tinham a responsabilidade de evitar a
disseminação de mensagens prejudiciais.
5. Alienação e Juventude: Sartre estava preocupado com a alienação
da juventude e com o crescimento de comportamentos violentos
entre os jovens. Ele via essa alienação como resultado de uma
cultura que não estava oferecendo uma compreensão clara da
realidade e da sociedade.

No contexto dessas preocupações e considerando o cenário de tensões


políticas da época, o discurso de Sartre reflete sua visão sobre a cultura, a
responsabilidade dos intelectuais e a necessidade de preservar a
integridade da cultura em meio a agendas políticas. Ele buscava chamar a
atenção para os riscos de manipulação cultural e para o papel vital que os
intelectuais deveriam desempenhar na promoção da consciência lúcida e
do entendimento profundo da sociedade.

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