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São Bernardo: aplicação da dialética social nos personagens.

por Antônia Comassetto, turma 302.

Ao ler e analisar o livro temos vários pontos a serem analisados para interpretá-lo
bem. Do ponto de vista social, temos a trajetória de um homem em direção ao
poder. Do ponto de vista psicológico, o embrutecimento de sua alma, obtido na
mesma medida de seu enriquecimento. Isso pode ser visto nas relações do
personagem principal e seus pensamentos e forma narrativa. A obra é repleta de
personagens interessantíssimos, porém para seguir os limites do trabalho irei
analisar os que considero destaque, estes são: Paulo Honório, Madalena, Casimiro
Lopes, Luís Padilha e Azevendo Gondim.
O livro traz uma crítica ao sistema capitalista que coisifica o homem, no qual as
relações humanas são dotadas de preços e transformadas em mercadorias, e faz
isso por meio da visão do opressor. A maior demonstração disso é o protagonista,
Paulo Honório, ao qual interessa somente quem pode lhe oferecer alguma
vantagem, seja pecuniária ou política. Como latifundiário, o personagem-narrador
não se preocupa com a qualidade de vida de seus funcionários, mas sim com a
capacidade de produção de cada um deles.
Durante a criação do livro o Brasil vivia a ascensão de Vargas ao poder, e sua
indisposição de abandoná-lo, conduzindo o país à ditadura, processo similar ao de
Paulo, que quando jovem cria uma obsessão com a terra de São Bernardo e faz
daquilo sua vida, sem se importar com o que faz ao longo do caminho para o poder,
recorrendo ao uso de violência e corrompendo aqueles de cujo apoio necessitava,
mesmo que isso o leve à solidão e ruína que vemos no fim do livro, no qual só o
resta a obediência de seus empregados, seu filho e Casimiro. Ele é um personagem
composto de medos e tensões, o que traduz o clima da época. Ao ter como contexto
a era Vargas suas ações o fortalecem como agricultor e o tornam um homem
influente. O narrador-personagem tem plena consciência de que é apenas um bruto
forçado às incumbências da profissão, o latifundiário brasileiro. Diante disso
podemos ver que ele é um exemplo de tantos outros pois com a crise política veio
sua decadência econômica.
Madalena surge como possibilidade de redenção para o anti-herói Honório por
meio de uma relação amorosa, porém quando se casam viram um retrato da
opressão e censura que os indefesos sofrem de quem tem poder, além de provar
mais uma vez que até a relação com maior chance de conexão emocional serve
apenas como meio para um fim para o homem de poder, neste cenário o objetivo
sendo um herdeiro para as terras. Mesmo que no caso apresentado muitas das
dificuldades do casal fossem fruto da paranoia de Paulo e sua incapacidade de ver
além da sua bolha, Madalena representava muito do que seu marido se opunha,
afinal era defensora dos valores humanistas e pensava por si mesma, negando ser
tratada como apenas mais um objeto de seu esposo. Ademais, o livro retrata o
mundo dos homens, tal qual a voz da mulher nem sequer é reconhecida, cenário
trazido à tona na República Velha, tal como é demonstrado também em Dom
Casmurro. Entretanto seus valores seriam úteis para Honorio, pois por ser
professora seria capaz de educar os funcionários da fazenda, dando poder de votos
por alfabetização, o que serve para seus ideais conservadores e sua influência na
sociedade, todavia a mulher tenta melhorar as condições de vida dos empregados,
o que piora o comportamento autoritário do marido. No fim seu suicído, carregado
de uma mensagem, que mesmo os que se defendem acabam por ser apagados
pelos influentes, torna o narrador fraco e inútil politicamente.
Para completar o quadro da época temos Casimiro Lopes, o cão fiel que apenas
segue ordens, e “desfruta” de violentar quem seu dono crê necessário, apesar de se
retratado por vezes como amigo de Honório serve como seu braço direito para
ações que não seriam consideradas corretas do proprietário de terras, apesar de
Paulo já ter feito sua cota de violência. Serve como retrato da data, no qual tal
relação era comum. Temos também Luís Padilha, a imagem da decadência física,
financeira e moral, era herdeiro de São Bernardo porém se entrega para apostas,
dívidas e bebidas e se torna peão de Honório, vendendo-o as terras e trabalhando
na sua escola para educar os funcionários da fazenda e agradar o governador.
Ainda podemos falar de Azevedo Gondim, jornalista amigo e aliado a Paulo Honório,
que ajuda a criar tudo o que Honório necessita.
Referências bibliográficas:

LIRA, Miriã. São Bernardo – Graciliano Ramos. Cola da Web Disponível em:
https://www.coladaweb.com/resumos/sao-bernardo Acesso em: 13/08/2023
GODOY, Arnaldo. São Bernardo, de Graciliano Ramos: a solidão do poder e o
fantasma das memórias. ConJur. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021-abr-04/sao-bernardo-graciliano-solidao-poder-fantas
ma-memorias Acesso em: 13/08/2023
MARCÍLIO, Fernando. São Bernardo. Educação Globo. Disponível em:
http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/sao-bernardo.html
Acesso em: 13/08/2023
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1990.

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