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Recordações do Escrivão Isaías Caminha

autor: Lima Barreto movimento: Pré-modernismo

Isaías Caminha é um mulato que relata sua vida mundana no Rio de Janeiro. Nascido no interior do estado,
certa ocasião lê um artigo de jornal contendo ofensas às pessoas de sua raça e resolve partir para estudar
na capital, sua intenção era combater esse tipo de postura. Traz consigo uma carta de recomendação
dirigida a certo deputado, mas não consegue ter acesso a ele. Atribui à sua condição racial o insucesso na
busca por uma colocação. Recebe dinheiro da mãe, que acrescenta aos rendimentos que obtém escrevendo
os trabalhos universitários de um amigo estudante de Direito. Ao mesmo tempo, percebe o prestígio que
cronistas e repórteres têm junto à população. Aproveita-se do contato casual que mantém com o jornalista
Ivã Rostóloff na boêmia carioca e consegue um convite para trabalhar na redação do jornal “O Globo”. 

Ali conhece as pessoas envolvidas com o meio jornalístico da capital, como o diretor Ricardo Loberant, que
consegue sucesso com matérias sensacionalistas, e Frederico Lourenço do Couto, o Floc, crítico literário
que, embora seja tido como homem dotado de cultura superior, só consegue produzir as poucas linhas de
sua contribuição diária depois de grande esforço intelectual. Isaías consegue uma colocação como contínuo.
A redação do jornal é descrita como um lugar imundo, a despeito da campanha que o jornal move contra as
péssimas condições de higiene do Hospício Nacional de Alienados. Agindo com a mesma hipocrisia, Floc,
em sua coluna, cobre de elogios pessoas de seu círculo de amizades e membros da alta sociedade.
Logo, Isaías adquire a mesma empáfia de seus colegas, passando a usar alguns ternos que lhe são
fornecidos por Ivã Rostóloff. Os amigos mais humildes, que ele conheceu nos primeiros tempos de Rio de
Janeiro, são abandonados. A notícia da morte da mãe não o abala muito.
Certa noite, quando o sofrimento de Floc para escrever sua crônica diária se torna insuportável para ele, o
jornalista se mata com um tiro na cabeça. Isaías é encarregado de avisar o diretor Ricardo Loberant do
ocorrido. Como se trata de algo urgente, acabam por revelar ao contínuo o paradeiro de Loberant: a casa da
amante.

De posse desse segredo, consegue do chefe um tratamento de maior consideração, subindo gradativamente
na hierarquia do jornal. Em dois meses, sai da condição de contínuo para a de repórter da Marinha, posto no
qual é bajulado por oficiais que pretendem obter alguma nota favorável na imprensa. Suas relações com
Loberant se estreitam cada vez mais e eles se tornam companheiros de boêmia. 
Um dia, envolvido em reflexões, Isaías compara sua vida presente com os sonhos utópicos alimentados na
juventude e fica um tanto decepcionado. Resolve abandonar a redação, a despeito dos pedidos do diretor
para que permaneça ali. Essa decisão, contudo, não significa uma correção de conduta: Isaías abandona a
amargura que se apodera dele e se torna político

Sobre o autor
Os subúrbios cariocas já tinham sido objeto de interesse da literatura no século XIX, com a obra de Machado
de Assis por exemplo. O aspecto diferencial de Lima Barreto consiste no fato de que, nele, os subúrbios são
tomados pela pobreza, mostrada do ponto de vista dos desvalidos

Importância do livro
Lima Barreto escreve em um momento de grande prestígio da atividade intelectual. A fundação da Academia
Brasileira de Letras, em 1897, foi um dos marcos dessa valorização. Recordações do Escrivão Isaías
Caminha mostra outra visão dos intelectuais, retratados como seres mesquinhos e movidos por ambições
pessoais.

MARIA DA GLÓRIA É a mais velha das três Marias. Teve um tutor até a maioridade, por ser órfã de pai e mãe, e foi ele quem
cuidou de todos os seus negócios. Maria da Glória é rica e sabe administrar com muita firmeza os seus bens. Está noiva de
Afonso (João Paulo Adour) e mostra-se muito apegada à imagem do pai.
MARIA AUGUSTA [GUTA] Quando volta do colégio, onde estudou com Maria José (Gloria Pires) e Maria da Glória (Maitê
Proença), Guta vai morar com o pai, Conrado (Mauro Mendonça), e a madrasta, Lourdes (Elizabeth Hartman). A jovem é órfã
de mãe (Márcia Couto) e guarda uma doce lembrança da infância. Seu desejo é ter vida própria, trabalhar, sem depender da
família. Passa a morar na casa de Maria José quando a reencontra. Tem quatro irmãos por parte de pai: Rodrigo (Peter
Maciel), Jorge (Marcio Cardoso), Marcelo (Marcelo Diamond) e Eduardo (Alessandro Horácio)
MARIA JOSÉ Não admite a separação de seus pais – Dona Júlia (Elizabeth Gasper) e Ramiro (José Augusto Branco), pais
também de Luciano (Luís Filipe de Lima) –, devido ao sofrimento que tal mudança causou à sua mãe. É professora primária,
muito religiosa, mas nada carola. Evita envolver-se amorosamente, com medo de sofrer como a mãe. É extremamente
carente.
Paulo Honório, fazendeiro embrutecido, viúvo e solitário, aos cinqüenta anos decide escrever um livro para rever e
entender sua vida. Inicialmente, imagina elaborar o livro com a colaboração de padre Silvestre, do advogado João
Nogueira e de Azevedo Gondim, um jornalista, que seria responsável por reescrever em linguagem literária o relato. A
escritura a tantas mãos é frustrada. Paulo Honório, então, desfaz o compromisso. Passa a construir a narrativa,
solitariamente, e, durante quatro meses, sentado à mesa da sala de jantar, fumando cachimbo e bebendo café,
recupera lembranças, como se sentisse obrigado a escrever  e, emocionadamente, expõe e analisa a própria vida.

A narrativa de Paulo Honório

Paulo Honório foi um menino órfão, criado por uma negra doceira _ . Na infância, para sobreviver, guiava um cego e
vendia cocadas. Mais tarde, passou a trabalhar na roça. Até dezoito anos trabalhou duro no sertão. Nessa época, já se
mostrava um homem rude, hostil, quando, por desejo de lavar a honra, esfaqueia João Fagundes, matuto que se
envolve com Germana, uma mulher que o iniciara sexualmente _ . É preso por três anos, nove meses e quinze dias.
Durante a prisão, aprende a ler com o sapateiro Joaquim, esquece Germana e pensa apenas em juntar dinheiro, assim
que ganhasse liberdade.

Sai da cadeia, empresta a juro, do agiota Pereira, cem mil-réis e passa a negociar  redes, gado, e todo o tipo de
miudeza pelo sertão. Enfrenta  hostilidades, injustiças, sede, fome. Resolve impasses comerciais com ameaças e armas
na mão, até que, com certas economias, retorna, em companhia de Casimiro Lopes, para sua terra, Viçosa, com o
desejo inabalável de adquirir São Bernardo, a fazenda onde fora trabalhador alugado.

Para  realizar seu intento, Paulo Honório inicia um jogo de intenções veladas e uma amizade falsa com Luís Padilha,
herdeiro de São Bernardo, moço apaixonado por jogo, mulheres e bebida. Aos poucos, Paulo Honório ganha a
confiança de Luís Padilha, filho de seu antigo patrão. Passa a incentivar e financiar projetos errados e ingênuos do
inexperiente Padilha, com a intenção calculada de promover a ruína econômica e financeira do dono de São Bernardo
_ . Com promissórias vencidas e pressionado violentamente por Paulo Honório, Luís Padilha se vê forçado a entregar a
fazenda por um valor insignificante

Proprietário da fazenda, Paulo Honório canaliza todo o seu espírito empreendedor e transforma as terras abandonadas
de São Bernardo. Com a ajuda de Casimiro Lopes, manda matar Mendonça, fazendeiro vizinho, estendendo, assim,    os
limites das próprias terras. Consegue empréstimos em bancos, investe em máquinas, na plantação de algodão e
mamona e desenvolve a fruticultura. Constrói estradas para escoar os produtos, impõe-se um ritmo exaustivo de
trabalho, torna-se cada vez mais bruto, violento, comete injustiças, mete-se em  negociatas. Estabelece uma rede de
relacionamentos úteis que lhe garantem impunidade: conta com o apoio de Gondim, jornalista adulador, conquista
Padre Silvestre e o advogado Nogueira, que o auxilia em trapaças e manipula, de acordo com os seus interesses, os
políticos do local.
São Bernardo prospera e Paulo Honório contrata Sr. Ribeiro para escrituração dos livros de contabilidade; constrói uma
escola para alfabetizar os empregados e, principalmente, para agradar ao governador de Alagoas. Contrata Padilha
como professor, manda  buscar  a velha Margarida, a negra doceira que o criara, e lhe arranja moradia na fazenda.
Certa manhã, vivendo a satisfação da prosperidade, Paulo Honório decide casar-se, não porque estivesse enamorado
por alguma mulher;   a idéia de casamento lhe vem, quando percebe que necessitaria de um herdeiro para suas ricas
terras. Começa, então,   a elaborar mentalmente a mulher que procurava; chegou a avaliar a adequação das filhas e
irmãs dos amigos. Nenhuma lhe agradava, até que conhece, na casa do juiz Magalhães, Madalena, uma professora
primária. Impressionado com a moça, decide casar-se. Com a mesma energia, praticidade e determinação com que
gerencia sua propriedade, toma informações sobre a vida de Madalena e, como em uma negociação, convence-a a
casar-se com ele
Madalena e sua tia Glória chegam à fazenda e, oito dias após o casamento, Paulo Honório se dá conta de que a rotina
começa a ser alterada. Madalena, com sua delicadeza e humanidade, acode as necessidades de mestre Caetano,
interessa-se pela vida dos empregados, dá opiniões sobre o trabalho precário do professor Luís Padilha, exige a compra
de variados materiais pedagógicos e passa a dividir as tarefas de escrituração com Seu Ribeiro. Esse comportamento
de Madalena, aos poucos, vai  incomodando profundamente Paulo Honório, que a imaginava uma frágil normalista.
Iniciam-se as brigas entre o casal: evidencia-se a personalidade violenta de Paulo Honório.
Desorientado por não dominar a mulher como controlava todas as pessoas à sua volta, Paulo Honório revela um ciúme
excessivo; torna-se cada vez mais agressivo e expande os maus tratos a todos, que de algum modo, convivem com a
mulher _ . O nascimento do filho não lhe ameniza as desconfianças; é torturado por fantasias de infidelidade, julga-se
traído por Madalena.
Certa noite, durante a visita de Dr. Magalhães, Paulo Honório percebe que o juiz e Madalena conversam animadamente.
Este fato lhe acrescenta mais dúvidas sobre a infidelidade da mulher. Durante a madrugada, atormenta-se   por imaginar
o prazer que um intelectual, como Dr. Magalhães, poderia despertar em Madalena. Compara-se ao juiz, sente-se bruto,
inculto, convence-se de que a traição de Madalena era inevitável. Acusa-a grosseiramente de envolver-se com outros
homens, numa cena de extraordinário ciúme. No dia
seguinte, encontra Madalena muito abatida, escrevendo uma carta. Aproxima-se da mulher e lê o endereço de Azevedo
Gondim. Novamente, descontrola-se e exige que Madalena lhe entregue a carta. Discutem violentamente, Madalena
rasga os papéis e acusa-o de assassino _ . Mais tarde, Paulo Honório acalma-se e percebe a brutalidade cometida; na
verdade, sabia que Madalena era honesta.  No entanto, não se esquecia do insulto. Acredita que Padilha teria revelado
a verdade sobre o assassinato de Mendonça. Procura-o com a intenção de expulsá-lo da fazenda, quando o empregado
lhe garante fidelidade e obediência, afirmando que Madalena  soubera do fato por meio da população que contava
várias histórias sobre a vida do marido.
As dúvidas sobre a infidelidade da mulher tornavam-se intoleráveis. Durante a noite, Paulo Honório passa a ter  delírios:
ouve passos, ruídos, convence-se da presença de amantes da mulher, enquanto esta encolhia-se na cama, não
suportando tantas agressões e desconfianças. Agrava-se o sofrimento e a solidão de Madalena, que já não resiste aos
ciúmes brutais e à tirania do marido. Sente-se degradada em sua dignidade, humilhada, mostra-se, inclusive,
desinteressada pelo próprio filho _ .

Uma tarde, na torre da igreja, vendo Marciano procurar corujas, Paulo Honório avalia, do alto, a paisagem da fazenda.
Detém o olhar nas extensas plantações, contempla com orgulho a propriedade, quando observa Madalena escrevendo.
Desce da torre, confere o trabalho dos empregados, e, defronte do escritório, encontra no chão a folha de uma carta. É,
então, tomado por intenso ódio e desconfiança. Lê e relê o fragmento de um texto e fica furioso por ter certeza de que
se tratava de uma correspondência destinada a um homem.

Decidido acabar com aquele tormento, sai à procura de Madalena. Encontra-a serena, na saída da igreja. Exige
explicações, exaspera-se, quer saber para quem a mulher escrevia. Madalena, de maneira meio estranha e
desanimada, lhe diz que as outras folhas que compunham a carta estavam sobre a bancada do escritório. Em seguida,
pede-lhe perdão pelos aborrecimentos e afirma que os ciúmes do marido estragaram a vida dos dois. Sugere-lhe que
seja amigo de tia Glória e sai da igreja. Paulo Honório passa a noite meio entorpecido no banco da sacristia.

Na manhã seguinte, quando chega a casa, ouve gritos horríveis. Madalena suicidara-se. Havia manchas de líquidos e
cacos de vidro no chão. Sobre a bancada, havia um envelope com uma carta de despedida para Paulo Honório. Faltava
uma página, exatamente  aquela  que ele havia encontrado, no dia anterior _ .

Após a morte de Madalena, D. Glória e Sr. Ribeiro deixam São Bernardo. Tem início a Revolução de 30, Padilha junta-
se aos revolucionários; Paulo Honório passa a ter dificuldades nos negócios. Os limites da fazenda estão sendo
discutidos judicialmente o Dr. Magalhães é afastado do cargo. Paulo Honório está abandonado.

Assim, em meio à profunda solidão, ouvindo insistentes pios de coruja, tendo Casimiro Lopes e o cachorro Tubarão por
perto, Paulo Honório compõe a sua narrativa. Sentado à mesa da sala, fumando cachimbo e bebendo café, restaura o
passado e percebe nitidamente a própria brutalidade; o processo de desumanização por que passou, enfrentando a vida
rude no sertão. Tem consciência de que sua vida, orientada para os interesses externos, não somente o tornou egoísta
e cruel, como também  destruiu estupidamente as pessoas de suas relações. Incapaz de transformar-se, Paulo Honório
busca algum sentido, algum equilíbrio para sua vida, refletindo sobre recordações e escrevendo a sua narrativa.
#criado por uma negra doceira, paulo honório foi um menino órfão que guiava um cego e vendia cocadas durante a
infância para conseguir algum dinheiro. depois começou a trabalhar na duro na roça até os dezoito anos. nessa época
ele esfaqueia joão fagundes, um homem que se envolve com a mulher com quem paulo honório teve sua primeira
relação sexual. então é preso e durante esse período aprende a ler com o sapateiro joaquim. a partir de então ele passa
somente a pensar em juntar dinheiro.

Paulo Honório: personagem central e narrador do livro homem Rude e violento da sua vida trabalho para conseguir o
que quer não mais esforços e nem meios vindo a praticar diversos atos antiéticos
Negra Margarida: doceira que cuidou de Paulo Honório durante a infância
Salustiano Padilha: ex dono da Fazenda São Bernardo e pai de Luiz
Luiz Padilha: após a morte do pai herdou a fazenda nós se entregou a bebida jogos e as mulheres vítima dos planos de
Paulo Honório vê se individado e é obrigado a vender a fazenda
Madalena: professora primária que foram criada pela tia casa-se com Paulo Honório instruído e educada tem opinião
própria e forte o que desagrada o seu marido
Dona Glória: tia de Madalena
Seu Ribeiro: senhor que trabalha na fazenda fica próximo de Madalena Joaquim sapateiro ensina Paulo Honório a ler na
prisão
Azevedo Gondim: jornalista amigo de Paulo Honório havia sido encarregado de escrever as histórias narrador mais por
utilizar uma linguagem mais erudita desentende-se com Paulo Honório Casimiro Lopes amigo antigo de Paulo Honório
executa as ordens dele sem pestanejar
Mendonça: dono da fazenda Bonsucesso é assassinado para que Paulo Honório possa aumentar as áreas de sua
fazenda Doutor Magalhães juiz amigo de Paulo Honório
Em seu quarto romance, As três Marias, a escritora cearense Rachel de Queiroz foi ainda mais fundo em um tema que
já estava presente em todas as suas obras anteriores: o papel da mulher na sociedade. A história tem início nos pátios e
salas de aula de um colégio interno dirigido por freiras: Maria Augusta, Maria da Glória e Maria José são amigas
inseparáveis que ganham de seus colegas e professores o apelido de "As Três Marias". À noite, deitadas na grama e
olhando para o céu, as meninas se reconhecem na constelação com a qual dividem o nome. A estrela de cima é Maria
da Glória, resplandecente e próxima. Maria José se identifica com a da outra ponta, pequenina e trêmula. A do meio,
serena e de luz azulada, é Maria Augusta - ou simplesmente Guta, como sempre preferiu ser chamada.

Com o passar do tempo, Maria da Glória se transforma em uma dedicada mãe de família e Maria José se entrega por
completo à religião. Guta, por outro lado, não se sente capaz de seguir os passos de nenhuma de suas velhas
companheiras. Apesar de sua formação conservadora e rígida, ela sempre desejou ir muito além dos portões e muros
daquele internato. Seus instintos a instigavam a procurar e explorar novos mundos. Assim, Guta termina a colégio e
corre em busca de sua independência. Seu ideal é viver sozinha, seguir seu próprio caminho, livrar-se da família,
romper todas as raízes, ser completamente livre. A realidade, no entanto, se mostra muito diferente daquilo que estava
descrito nos romances açucarados e livros de poesia que passavam de mão em mão entre as adolescentes sonhadoras.
Guta descobre o amor, mas através dele é também apresentada à desilusão e à morte
As três marias, estrelas alinhadas que são referência no céu do hemisfério sul, parte da constelação Orion, têm brilhos
diferentes. Uma irradia uma luz mais firme, outra é mais fugidia ou mais hesitante: assim também é a personalidade das três
amigas que compõem o romance mais autobiográfico da brasileira Rachel de Queiroz, lançado em 1939.

O apelido é dado logo no início do livro por uma freira do colégio interno em que se passa a primeira metade da história: por
estarem sempre juntas, em todos os cantos, Maria José, Maria Augusta e Glória foram logo designadas como As Três Marias,
título do livro.
(…) nossa comparação com as estrelas foi como uma embriaguez nova, um pretexto para fantasias, e devaneios. (…) À noite,
ficávamos no pátio, olhando as nossas estrelas, identificando-nos com elas. Glória era a primeira, rutilante e próxima. Maria
José escolheu a da outra ponta, pequenina e tremente. E a mim me coube a do meio, a melhor delas, talvez; uma estrela
serena de luz azulada, que seria decerto algum tranquilo sol aquecendo mundos distantes, mundos felizes, que eu só
imaginava noturnos e lunares.
A história é narrada em primeira pessoa por Maria Augusta, ou Guta, como a personagem prefere se apresentar. Depois da
morte da mãe e do casamento do pai com uma madrasta correta e bondosa, mas com a qual ela não se identifica, Guta é
enviada para o colégio interno.
Seu único escape da rotina e das regras rígidas é a amizade das três, que se fortalece pelos dramas comuns e também por
suas diferenças. Glória é órfã de mãe e pai, e veste seu luto com uma naturalidade que chega a espantar. Já Maria José teve a
família abandonada pela figura paterna, que foi viver com outra mulher e deixou a esposa sozinha para sustentar os filhos
pequenos.
O desfile de conflitos cotidianos, que se estende para as demais meninas do colégio – uma, de temperamento rebelde, acaba
“se perdendo” na vida, outra faz um péssimo casamento por se agarrar à primeira possibilidade de ascensão social – mostra
de certa forma a impotência das mulheres diante das esparsas opções que tinham diante de si. Entre o matrimônio e a vida
religiosa, quem não tinha vocação para uma ou outra coisa acaba em uma vida desgarrada da sociedade.
Nesses destinos entrecruzados, o perfil de Guta se aproxima cada vez mais do da própria autora. Com a formatura do colégio,
a personagem volta para casa, mas não aceita os deveres que lhe são impostos pela madrasta na arrumação da casa, na
cozinha, as tentativas de lhe ensinar como é cuidar de um lar. Guta decide voltar para Fortaleza, com um emprego de
datilógrafa, dividindo o quarto com Maria José, que precisa ajudar nas despesas da casa e no sustento dos irmãos.
Rachel de Queiroz dizia não ser feminista, uma afirmação que acaba rebatida por Heloísa Buarque de Hollanda no posfácio
da edição lançada pela TAG Livros, para quem a obra da autora talvez seja “nossa grande literatura feminista avant la lettre”.
Suas personagens, de fato, são bastante progressistas, assim como o foi colocar as mulheres no centro de um romance na
primeira metade do século passado, quando a literatura era toda dominada por vozes masculinas.
Mais interessante ainda neste livro em que as mulheres são protagonistas é o fato de que os papéis masculinos na vida das
três garotas estão quase sempre relegados a segundo plano. A todos os homens que aparecem nesta narrativa falta
determinação, protagonismo: parecem repetir as mesmas histórias de traição e derrocada que ouvimos há décadas,
enquanto as mulheres descobrem que podem ter destinos diferentes, solteiras, crentes, casadas, amadas, amantes,
emancipadas.
Enquanto Glória vive um casamento feliz, com a mesma devoção ao matrimônio que antes dedicava ao seu luto, e Maria José
segue um caminho religioso, Guta prefere a experimentação. Se envolve com um pintor mais velho, enfrenta o suicídio de
um amigo próximo, flerta ela mesma com a ideia da morte, se apaixona no Rio de Janeiro, em uma vida mais livre do que
imagina possível. Neste romance de formação sentimental de uma geração de mulheres, Queiroz já mostrava o poder da
emancipação feminina, décadas antes que esse fosse uma tema debatido pela sociedade.
As Três Irmãs também marcou, de certa forma, uma virada na produção literatura de Queiroz, por ter um cunho muito mais
autobiográfico do que suas obras anteriores, como O Quinze. Rachel também não se conformou com a vida de fazenda,
mudou-se para o Rio de Janeiro e se tornou escritora, em um ambiente dominado por homens.
IRACEMA
A história tem início quando Martim, português responsável por defender o território brasileiro de
outros invasores europeus, perde-se na mata, em localidade que hoje corresponde ao litoral do Ceará.
Iracema, índia tabajara que então repousava entre as árvores, assusta-se com a chegada do estranho, e
dispara uma flecha contra Martim. Ele não reage à agressão por ter sido alvejado por uma mulher,
e Iracema entende que feriu um inocente.
Em pacto de paz, Iracema leva o estrangeiro ferido para sua aldeia e para ter com seu pai, Araquém, o
pajé da tribo. Martim é recebido com grande hospitalidade, mas sua chegada não agrada a todos:
Irapuã, guerreiro tabajara apaixonado por Iracema, é o primeiro a desagradar-se.
Durante sua estadia na aldeia, Iracema e Martim aproximam-se e floresce, entre os dois, forte
atração. Contudo, Iracema tem um papel importante na tribo: é uma virgem consagrada a Tupã,
guardadora do segredo da jurema, um licor sagrado, que levava ao êxtase os índios tabajaras.
Entre festejos e batalhas com outras tribos — entre elas, a dos pitiguaras, aliados de Martim —
Iracema e o estrangeiro português envolvem-se amorosamente, e a índia quebra o voto de castidade,
o que significa uma condenação à morte. Martim, por sua vez, também é perseguido: Irapuã e seus
homens querem beber seu sangue. A aliança com os pitiguaras torna-o um inimigo ainda mais
indesejado.
Apaixonados, Iracema e Martim precisam fugir da aldeia tabajara antes que a tribo perceba que a
virgem rompeu o voto de castidade. Juntam-se a Poti, índio pitiguara, a quem Martim tratava como
irmão. Quando os tabajaras percebem a fuga, partem em perseguição aos amantes liderada por Irapuã
e Caiubi, o irmão de Iracema.
Acabam por encontrar a tribo pitiguara, e uma sangrenta batalha é travada. Caiubi e Irapuã agridem
violentamente Martin, e Iracema avança com ferocidade contra os dois, ferindo-os gravemente.
Prevendo a derrota, a tribo tabajara bate em retirada.

O casal, então, refugia-se em uma praia deserta, onde Martim constrói uma cabana. Iracema passa
muito tempo sozinha enquanto o amado fiscaliza as costas, em expedições a mando do governo
português. Martim é constantemente tomado pela melancolia e nostalgia de sua terra natal, o que
entristece Iracema, que passa a pensar que sua morte seria, para ele, uma libertação.
Não muito tempo depois, Iracema descobre-se grávida, mas Martim precisa partir para defender,
junto a Poti, a tribo pitiguara, que está sob ataque. Iracema acaba tendo o filho sozinha, e batiza a
criança de Moacir, o nascido de seu sofrimento. Ferida pelo parto e pela tristeza profunda, o leite de
Iracema seca; Martim chega a tempo de Iracema entregar-lhe a criança e falecer logo em seguida.
Personagens
 Iracema, índia tabajara, guardadora do segredo da jurema, planta alucinógena;
 Martim, colonizador português, baseado em Martim Soares Moreno, primeiro colonizador
português do Ceará;
 Araquém, pajé tabajara e pai de Iracema;
 Caubi, guerreiro tabajara e irmão de Iracema;
 Irapuã, chefe dos tabajaras, principal inimigo de Martim;
 Andira, velho guerreiro, irmão de Araquém;
 Poti, guerreiro potiguara e aliado de Martim;
 Jacaúna, chefe dos potiguaras;
 Batuirité, velho sábio, avô de Poti;
 Moacir, filho de Iracema e Martim;
 Japi, cão de Martim.
“A Carteira do Meu Tio”
trata de forma bem-humorada
da política do Brasil do Segundo Império. Por intermédio de seu personagem principal,
o autor descreve o político brasileiro da época e que bem poderia ser o de hoje.
um sujeito que recém voltou de uma temporada de estudos da Europa onde o que mais fez foi ficar longe de estudos e
de qualquer coisa que o tirasse da farra. Para se safar do trabalho argumentou malandramente ao tio que gostaria de
ser político. Depois disso, se sucede um compromisso entre tio e sobrinho que resultam mais de uma imposição do
primeiro do que desejo do segundo que queria mesmo ficar no “dolce far niente”. A opção de ser político é, na verdade, a
ultima opção desta estratégia típica da classe dominante da época. Traço de uma sociedade escravocrata que tem
horror a tudo que implique trabalho como foi demonstrado com mais perfeição por Machado de Assis.
O protagonista da história é um jovem cujo tio financia sua viagem de estudos à Europa, na qual ele só se
preocupa em aproveitar a vida e faz tudo menos estudar. Na volta, inquirido pelo tio sobre seu futuro, decide
tornar-se um político, aquilo que considerava a melhor maneira de enriquecer e ter poder sem ter de
trabalhar tanto assim. O tio, reconhecendo, de início, no sobrinho duas características indispensáveis para
exercer essa profissão – era um impostor e um atrevido –, exige que antes de entrar na vida pública ele viaje
a cavalo pelo Brasil para conhecer seu povo e suas necessidades.

Nesta viagem, o autor fornece uma rica e bem-humorada imagem da política e dos políticos da época, que
impressiona pela semelhança com a época atual.
O perfil do sobrinho do meu tio e os demais perfis de políticos ali traçados com tintas satíricas e bem
humoradas são atemporais. Podemos encaixar neles uma leva imensa de políticos de hoje e ontem. Até a
constituição de 1824, chamada por ele de “A Defunta” tem muito a ver com a de 1988 que está se
adefuntando aceleradamente após o golpe. Para ser justo ela  já vinha em processo de degradação desde
sua promulgação. As poderosas forças contrarias, as chamadas  “forças ocultas” de Jânio Quadros,  de hoje
contra a constituição cidadão de 1988 são, no fundo, as mesmas da época do Império.
Um problema ao se transpor para agora a critica de Macedo aos políticos diz respeito ao seu caráter
generalizante que muito se assemelha a critica dos neoliberais. Carollina comenta que este viés tinha sua
razão de ser na época dado a hegemonia da política conciliatória no Império. No entanto, a pintura do quadro
conciliatório pode todo ele ser transposto e plasmado como representação do fazer político na sua pior
acepção. Se o modelo macediano de conciliação não se adapta na íntegra ao período petista de Lula e Dilma,
dado os avanços sociais ocorridos a despeito da conciliação por cima firmada via Carta aos Brasileiros, ele
agora, no período pós- golpe, ressurge plenamente.
Toda a sem cerimonia antidemocrática da Casa Grande, termo criado por Mino Carta para designar a elite
brasileira, está de novo no comando da cena política. Em todos os pontos que se quiser analisar a proposta
em curso percebe- se o norte do retrocesso social, econômico e politico buscando instaurar  um tempo
senão igual pelo menos tendo como  meta o período do império  onde as forças do “status quo” conseguiam 
agir e fazer valer seus privilégios e interesses  atropelando as salvaguardas constitucionais da nação e do
povo.
O ceticismo do sobrinho do meu tio que mais revela do que esconde sua sabujice ideológica reacionária e
falta de caráter  se repete “ipsis litteris” nos dias de hoje através seus milhões de descendentes diretos que
depois de praticarem uma militância hiperativa saindo as ruas empunhando a bandeira brasileira, vestindo-
se de verde- amarelo e votando em Aécio como paladino da luta contra a corrupção do governo petista,
adotam, espertamente, um discurso cético de ocasião afirmando que os políticos são todos iguais. Se aquela
militância contra a corrupção refletisse de fato um anseio politico real  legitimo e virtuoso estes mesmos
estariam hoje militando com mais denodo e determinação contra o atual estado de coisas comandado sob o
governo golpista de Temer. Depreende-se deste só aparente paradoxo que o ceticismo de hoje e a militância
de ontem de parte significativa da classe media e classe media alta são iguais aos do sobrinho do meu tio na
sua devoção e submissão  aos valores hegemônicos da Casa Grande.

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