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“(...) Não estou acostumado a pensar. (...) O que é certo é que, a respeito de
letras, sou versado em estatística, pecuária, agricultura, escrituração mercantil,
conhecimentos inúteis neste gênero (…) saindo daí, a minha ignorância é
completa. E não vou, está claro, aos cinqüenta anos, munir-me de noções que não
obtive na mocidade”(RAMOS, 1934, p.12).
Ainda hoje, existe os “Honórios”, burguesia atual que age de modo indiferente com a
sociedade lacaia. Isso acontece muito na sociedade contemporânea, como um advogado quando
está iniciando sua carreira, precisa de apoio – bem como qualquer iniciante na sua área de
trabalho –, pede ajuda e resolve casos que não lhe trará tanto dinheiro, entretanto quando se
torna juiz, por exemplo, seu modo de agir diante muitas pessoas se difere do que era
anteriormente a sua nova posição e, consequentemente, precisa adotar um semblante mais rígido
diante de seus funcionários, subordinados e representando assim uma verdade em ambos tempos
– passado e presente.
No primeiro percurso, onde Honório almeja pela Fazenda São Bernardo a todo custo e sua
personalidade inicial continua intacta e sem demarcações de suas decepções e desconfiança
quanto ao próximo, marcam o seu grande sonho. Já o segundo percurso refere-se ao sonho de
Honório se tornando realidade: compra da Fazenda que tanto desejava. A partir desse momento, a
aparência e essência passa a ser contraditória: na primeira, parecia realmente humano, sem
crueldade; na segunda, um homem ambicioso, sempre pensando no capitalismo, representando
o realismo crítico da estrutura econômica social perversa do Nordeste.
Sendo assim, essas atitudes rebuscas marcam uma característica do homem tradicional
que Honório era, entretanto com pensamentos sempre ambiciosos e determinado visando o lucro,
o capitalismo, demarcando assim a passagem para o homem moderno e alimentando uma ideia
de desenvolvimentismo. Logo, isso ressalta a divergência entre o poder e a fraqueza (os senhores
e os empregados), o moderno e o arcaico (evolução do homem como a de Honório), feminino e
masculino (discordância entre Madalena e Paulo), sonho e realidade, ciúme e desapego (situação
de Honório em relação a relacionamentos), bem como psicológico e social que,
consequentemente, remete a ascensão e decadência de Paulo Honório.
Sua visão de mundo é totalmente centrada em uma relação de poder entre “opressor” e
“oprimido”. Todas essas condutas frisam sua ideologia capitalista sobre a divisão do trabalho e as
pessoas que dependem do seu poder ficam submisso a possíveis desumanizações.
“Antes de iniciar este livro imaginei construí-lo pela divisão do trabalho” (RAMOS,
1978, p.7).