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LITERATURA

RESOLUÇÕES
Honório relata as deformidades de seu lado humano,
CAPÍTULO 12 como se sua brutalidade tivesse uma tradução física. Ele
se vê disforme, um monstro. No contexto do romance, a
Geração de 30: Fase de (Re)Construção monstruosidade da personagem Paulo Honório justifica-se
Prosa III: Graciliano Ramos com base nas deformações que a propriedade e o capita-
lismo imprimiram sobre a sua personalidade. Como mostra
o fragmento, a personagem enxerga a si mesma de forma
PARA COMPREENDER distorcida, tomando consciência, no final do romance, de
que é um homem arrasado. Ele se vê como uma criatura
01 Espera-se que o aluno ligue o termo lágrimas aos senti- abominável e repulsiva, um homem rude e sem sentimen-
mentos de tristeza e compadecimento e, com isso, rela- tos ("dedos enormes e coração miúdo"), resultado de sua
cione o título da exposição à ausência de chuvas em profissão.
regiões sertanejas, onde a população sofre com a falta de
água.
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01 Espera-se que o aluno evidencie que a cachorra Baleia, ao
02 Resposta pessoal. É possível que sejam citadas tanto uma
noção de compadecimento causada pelo tema da expo- longo de todo o romance, sonha, sente alegria, tristeza e
sição quanto de felicidade pela associação da chuva às dor. Sentimentos de afeição e de medo são atribuídos à
noções de abundância e fertilidade. Baleia, como se nota no momento de sua morte. Em con-
traponto, Fabiano não se relaciona bem com os demais,
tem dificuldade de se comunicar, pouco demonstra senti-
03 Nota-se, no trecho apresentado de Vidas secas, que a mentos e raciocínio. Nesse sentido, o fato de Fabiano ser
paisagem descrita potencializa o sentimento de rudeza e forçado, pelas circunstâncias, a eliminar o maior símbolo
angústia das personagens, em especial de Fabiano, cuja de humanidade em sua família apenas reforça sua condi-
situação miserável o faz pensar em matar um de seus ção de embrutecimento.
filhos, que se encontra moribundo perante à seca.

04 Enquanto a paisagem simulada pela instalação Lágrimas ATIVIDADES PARA SALA


de São Pedro remete à prosperidade prometida pelas
chuvas, o texto descreve uma paisagem desértica e sem
vida, construída com a referência a um rio seco, percebida 01 a) Os trechos do enunciado apresentam, entre outros,
por meio das passagens: “[...] a folhagem dos juazeiros a sucessão de sentimentos e emoções da família de
apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga Fabiano enquanto observam as festividades de Natal
rala” e “A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso na cidade. No primeiro excerto, os meninos maravi-
salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O voo lham-se com tantas luzes e gente, e assustam-se com
negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos o ambiente da igreja e das lojas, que desconheciam.
moribundos”. No segundo, Sinha Vitória está aflita com a situação
de Fabiano, que tinha se embriagado e ficara deitado
05 Percebe-se que ambas as obras trazem perspectivas sobre no chão, dormindo pesadamente. Em ambos os tre-
a população sertaneja, contemplando aspectos como sua chos, está presente o conflito de quem vive em abso-
religiosidade (observe, no texto, o uso das expressões luta situação de precariedade e rudeza e estranha o
“condenado do diabo” e “excomungado”) e os impactos mundo dos mais afortunados, que têm acesso ao luxo
sociais que a seca causa em sua vida – enquanto uma des- e à abastança.
taca esperança, outra retrata sofrimento. b) O mundo retratado na obra Vidas secas é revelador
do sofrimento dos que vivem em condições sub-hu-
manas no Sertão nordestino, submetidos aos rigores
Agora é com você – Pág. 7 do clima e ao isolamento social, o que lhes embota o
01 Resposta pessoal. Espera-se que o aluno infira que a raciocínio e provoca o ressecamento do ser. Assim, em
crise de identidade de Paulo Honório em relação à pró- um espaço em que impera o silêncio apenas entrecor-
pria imagem, que considera monstruosa e defeituosa, é tado pelos gritos dos animais, as personagens adqui-
consequência de seu sentimento de responsabilidade rem as mesmas características, tornando-se cada
quanto à destruição que provocou na vida de todos ao seu vez mais “bichos” e menos “gente”. No excerto 2,
redor, sobretudo dele próprio e de Madalena, sua esposa. Sinha Vitória procura perceber o meio que a cerca

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L I T E RAT URA

(“Se ficasse calada, seria como um pé de mandacaru, 02 A


secando, morrendo”), mas a pobreza e a falta de ins-
Nas afirmativas I e II, estão contidos trechos da obra que
trução fazem com que a distância que a separa das
comprovam o egoísmo de Paulo Honório e a sua ânsia em
outras pessoas aumente cada dia mais. Assim, mais possuir, por mais que atitudes escusas fossem necessárias.
do que a seca e a miséria, a linguagem é que se confi-
gura como essência da humanidade: a capacidade de
comunicação. 03 D
O romance do regionalismo de 30 resgatou do Realismo-
02 C
-Naturalismo, sobretudo, as visões deterministas. Segundo
O romance S. Bernardo é narrado em 1a pessoa por Paulo – essas visões, o homem é considerado um produto do
Honório, que, quando criança, guiava um cego e vendia meio em que vive e, sendo hostilizado por esse meio,
cocadas feitas por uma mulher que o criava para conse- desumaniza-se; torna-se coisa, pelo processo de reifica-
guir algum dinheiro. A prisão deve-se ao fato de ter esfa- ção, ou bicho, pelo processo de zoomorfização, como está
queado João Fagundes, um homem que se envolve com assinalado na alternativa D.
a mulher com quem tivera sua primeira relação sexual.
Também as relações de Paulo Honório com os emprega-
dos da fazenda são conflituosas, tensas, assim como com 04 E
sua mulher, Madalena. Dessa forma, é correta apenas a Paulo Honório é bruto e homem de poucas palavras, fator
alternativa C. que contribui para a dificuldade da narrativa: adequar o
estilo desse narrador ao texto literário.
03 D
Enquanto Paulo Honório era homem bruto e inculto, 05 E
Madalena era letrada e ideologicamente esclarecida. O texto, narrado em discurso indireto e discurso indireto
Também a decisão do casamento não foi fruto de amor, livre por um narrador observador, mostra os pensamentos
mas sim do interesse de Paulo Honório em ter um her- da cachorra Baleia e a interação dela com a família a que
deiro para suas ricas terras. No entanto, o ciúme incon- pertence.
trolável de Paulo Honório provocou um esgotamento
emocional tão grave que Madalena se desinteressou 06 B
do próprio filho e se suicidou. Assim, é correta apenas a Como se percebe na referência que Graciliano faz, em
alternativa D. sua carta, aos “pensamentos” da personagem Baleia, o
“mundo de preás” é uma metáfora dos anseios por uma
04 D vida digna e pela justiça social.
A partir do Congresso Regionalista do Recife, organizado
por Gilberto Freyre, José Lins do Rego e José Américo de 07 D
Almeida, em 1926, a literatura brasileira assume uma ati- A personagem Fabiano, uma das protagonistas do romance
tude crítica e comprometida perante a realidade social. Vidas secas, sofre, como todas as personagens humanas
A geração regionalista dos anos de 1930 manteve-se da narrativa, um processo de zoomorfização, ou seja, uma
presa aos moldes do romance realista e naturalista do aproximação dos seres humanos aos modos e hábitos dos
século XIX, incorporando dos modernistas a linguagem animais.
seca e direta, a postura crítica e o coloquialismo, por
meio da transcrição do falar regional. 08 A
Graciliano Ramos viveu em várias cidades do Nordeste bra-
05 A sileiro e conheceu locais que, posteriormente, retrataria em
Paulo Honório é um homem simples, rude e ligado ao suas obras. Em Vidas secas, a personagem Fabiano é sujeita
popular. Seu estilo de narrativa seca assemelha-se muito à inclemência da seca e das injustiças sociais, fazendo parte
ao jeito moderno de narrar. Azevedo Gondim representa do universo regional que Graciliano descreve. Já em S.
uma necessidade clássica de elevar o saber literário e Bernardo, a personagem Paulo Honório enfrenta muitas
escrever de maneira forçosamente difícil. injustiças antes de adquirir a fazenda que dá nome ao livro.
Trata-se de experiências comumente associadas à região e
testemunhadas pelo autor durante suas vivências pessoais.
ATIVIDADES PROPOSTAS
09 D
01 D Tanto em Machado de Assis como em Graciliano Ramos
Paulo Honório resolveu escrever o livro no intuito de tentar percebe-se o pessimismo em relação à sociedade e às ins-
rever e entender os motivos que levaram ao fracasso de seu tituições, embora seja notável, em Graciliano, o desprezo
casamento com Madalena, recuperando lembranças de suas envolto por um realismo agressivo; e, em Machado, a fina
ações de outrora e, assim, fazendo uma análise de sua vida. ironia carregada do humor elegante.

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L IT ER ATU R A

10 B
Graciliano Ramos rompe com a linearidade temporal até
então em voga nos romances do século XIX. Essa fragmen-
tação na estrutura da obra reflete a própria fragmentação
das personagens ante o drama da sobrevivência.

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