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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÕES INTERNACIONAIS


TEORIA MICROECONÔMICA I
PROF. MARCELO S. PORTUGAL e VICTOR SANT’ANA
I SEMESTRE 2013
1º PROVA
x1  x2
1. Seja um consumidor com a função de utilidade de U  x1, x2   . Considere
1  x1  x2
também que o preço do bem 1 seja igual a p1 , o preço do bem 2 igual a p2 e a renda do consumidor
igual a b.
a) Encontre as demandas do consumidor para os bens 1 e 2. (1 ponto)
Montando o Langrangiano:
x1  x2
L    b  p1x1  p2 x2 
1  x1  x2
Fazendo as condições de primeira ordem:
 L  1 
    
1 2
  1  x1  x2  x1  x2  1  x1  x2   p1  0
 x1  2 x1 2 x1 

 L  1 
    
1 2
  1  x1  x2  x1  x2  1  x1  x2   p2  0
 x2  2 x2 2 x2 

 L  b  p1x1  p2 x2  0
 

Isolando  p1 na primeira equação,  p2 na segunda e dividindo uma equação pela outra,
temos:

p1 1 2 x1

  p 
 x2   1  x1
2

p2 1 2 x2    p2 

Substituindo na restrição orçamentária (terceira equação das condições de primeira ordem):


2
p 
p1x1  p2  1  x1  b
 p2 
Isolando para o bem 1, temos a demanda para esse bem:
bp2
x1  p1, p2 , b  
p1  p1  p2 
Por simetria, obtemos a demanda pelo bem 2:
bp1
x2  p1, p2 , b  
p2  p1  p2 
b) Defina o conceito de ilusão monetária e mostre que esse consumidor não sofre desse tipo de
problema. (0,5 ponto)
Ilusão monetária ocorre quando há um aumento igualmente proporcional nos preços e na
renda, o que levaria, caso o consumidor sofra desse problema, o indivíduo a mudar sua
demanda pelos bens, já que ele confunde a variação nominal como variação real.

Para mostrar que isso não ocorre, basta mostrar que as funções de demanda são homogêneas
de grau zero nos preços e na renda. Para um   0 :
 b p1  2bp1
x2   p1,  p2 ,  b     x2  p1, p2 , b 
 p2   p1   p2   2 p2  p1  p2 

 b p1  2bp1
x2   p1,  p2 ,  b    2  x2  p1, p2 , b 
 p2   p1   p2   p2  p1  p2 

c) Calcule a elasticidade-renda da demanda pelo bem 2. Comente esse resultado. (1 ponto)


Elasticidade-renda da demanda pelo bem 2 é dada pela seguinte fórmula:
x2 b
 2,b 
b x2
Para a demanda pelo bem 2, temos:
p2 b
 2,b  1
p1  p1  p2  x2
A elasticidade-renda por esse bem é unitária. Isso significa que um aumento na renda gera
um aumento na mesma proporção na demanda por esse bem, coeteris paribus.

d) Classifique os bens 1 e 2 como complementares ou substitutos e justifique. (0,5 ponto)


Para isso, verificaremos a elasticidade-preço cruzado:
x1 p2 b p2 bp2 p1  p1  p2  p1
1,2     0
p2 x1  p1  p2  x1  p1  p2 
2 2
bp2  p1  p2 
Como essa elasticidade é positiva, um aumento no preço do bem 2 gera aumento na
demanda pelo bem 1. Como esse aumento do preço do bem 2 também gera diminuição na
demanda pelo bem 2, os dois bens são substitutos.

2. Defina bens superiores, normais e inferiores. Mostre quais os formatos possíveis da curva de
Engel em cada caso (0,5 ponto). Para a curva de Engel expressa por ln x  ln k   3b    , em que
k e α são constantes positivas e b é a renda, indique, justificando a sua resposta, que tipo de bem
(normal, inferior ou superior), pode ser representado por essa função. (1,5 ponto)
Bens superiores são aqueles que um aumento na renda gera um aumento mais do que
proporcional na demanda. Os bens normais também sofrem um aumento de demanda frente
a uma aumento de renda, mas em uma proporção menor. Os bens inferiores são aqueles cuja
demanda diminui em resposta a um aumento na renda.
Curvas de Engel:
Inferior Normal Superior
x x x

b b b

Para a curva ln x  ln k   3b    , temos que x  ke 


 3b  
.
Fazendo a derivada dessa equação para a renda, temos:
x
 3ke 
 3 b  
0
b
Como essa curva é negativamente inclinada, o bem é inferior.

3. Ao sair de casa pela manhã um indivíduo tem que decidir se leva consigo um guarda-chuva. Se
chover e ele não tiver o guarda-chuva consigo, sua utilidade é de -4. Se chover e ele tiver levado o
guarda-chuva, sua utilidade é de -1. Se não chover, o esforço de carregar o guarda-chuva gera uma
utilidade de -1,5. Caso não chova e ele esteja sem guarda-chuva, sua utilidade é igual a zero.
Com chuva Sem chuva
Com guarda-chuva -1 -1,5
Sem guarda-chuva -4 0
a) Se a probabilidade de chuva é de 0,4, o indivíduo decidirá levar ou não o guarda-chuva? (1,0
ponto)
A utilidade esperada do consumidor levando guarda-chuva fica:
E Ucg    1 0,4    1,5  0,6   1,3

E a utilidade dele sem levar o guarda-chuva fica:


E Usg    4  0,4   1,6

Como a utilidade esperada é maior no primeiro caso, ele leva o guarda-chuva.


b) Qual a probabilidade deixaria o indivíduo indiferente entre levar ou não o guarda-chuva? (1,0
ponto)
Seja p a probabilidade de chover. Igualando as utilidades esperadas com guarda-chuva e sem
guarda-chuva, temos:
E Ucg   E Usg 
 1 p    1,5 1  p    4  p 
1
p
3
Logo, quando a probabilidade de chover for igual a um terço, o indivíduo será indiferente
entre levar ou não o guarda-chuva.
4. Classifique as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas e justifique o seu raciocínio de
forma detalhada.
a) É possível que todos os bens de uma economia sejam bens inferiores. (1,0 ponto)
Falso. Caso isso ocorresse, um aumento de renda faria com que o consumidor escolhesse um
vetor de quantidades menor do que antes, mas com expansão da curva de restrição
orçamentária. Assim, ele ficaria fora do ótimo, o que não é consistente com o pressuposto
racional da teoria.
b) Se o consumidor é propenso ao risco, a sua função de utilidade esperada em relação à renda é
côncava. (1,0 ponto)
Falso. O indivíduo propenso ao risco tem uma função convexa de utilidade esperada em
relação à renda. Pois, para esse indivíduo, é melhor entrar em uma loteria do que receber o
valor esperado com certeza.
c) Em uma função de utilidade do tipo U  x1, x2   min3x1,5x2  , os dois bens são substitutos
perfeitos. (1,0 ponto)
Essa função é do tipo Leontieff e suas curvas de indiferença são no formato de um “L”.
Nesse caso, o consumidor escolhe a sua cesta de bens com proporções fixas. Logo, para
cada parte de bem 1 adquirido, será adquirido uma parte de bem 2, sempre mantendo a
mesma proporção entre um e outro. Essa característica é de bens complementares perfeitos.

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