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3.1.

DOENÇAS DE PLANTAS
A doença é o objeto central da fitopatologia, um fenômeno exclusivo dos seres vivos e,
como tal, matéria de estudo da biologia, a ciência da vida. A patologia, a exemplo da
fisiologia, trata do estudo das funções ou processos vitais dos seres vivos.

3.1.1. Características Básicas das Doenças de Plantas


Em primeiro lugar, devemos entender a doença como uma interferência em processos
fisiológicos da planta, levando-a ao desempenho anormal em suas funções vitais, como
na absorção e transporte da água e elementos minerais, na síntese do seu alimento ou na
sua utilização. Além disso, fica também claro que esta interferência é prejudicial à
planta, levando-a a uma redução de sua eficiência fisiológica. Esta interferência pode
ser entendida como um desequilíbrio no balanço energético da planta.

A doença, vista como um fenômeno biológico, tem, pois, uma conotação ampla,
independente dos fatores que a determina, ou seja, da sua causa, englobando não só as
alterações fisiológicas acarretadas por agentes infecciosos, tradicionalmente estudada
pelos fitopatologistas, como também por condições desfavoráveis do ambiente. Assim,
as deficiências ou desequilíbrios nutricionais desencadeados por solos de baixa
fertilidade, os distúrbios fisiológicos causados por deficiência hídrica ou excesso de
umidade, altas ou baixas temperaturas, etc., que levam a uma irritação celular contínua,
podem ser enquadrados dentro do conceito biológico de doença.

Quando a doença é causada por um organismo transmissível de uma planta para outra,
como fungos, bactérias, vírus, fitoplasmas e nematoides, a doença é considerada biótica.
Por outro lado, as doenças causadas por fatores desfavoráveis, do ambiente e, portanto,
não transmissíveis de planta, para planta, são chamadas de doenças abióticas. As
doenças bióticas e abióticas apresentam particularidades em relação ao aparecimento e
distribuição dos sintomas que são úteis para separá-las. Portanto, um Engenheiro
Agrônomo deve conhecer essas particularidades e usá-las para realizar diagnoses com
eficiência.

3.1.2. Causa da Doença


No caso das doenças infecciosas ou bióticas, microrganismos como fungos, oomicetos,
procatiotos (bactérias, fitoplasmas e espiroplasmas), nematoides, vírus, viroides e
alguns protozoários são os agentes causais caracterizados como patógenos típicos.
Outros organismos, como os insetos e ácaros podem, também, ser considerados
patógenos, quando acarretarem alterações fisiológicas na planta, características do
processo doença, como no caso das toxemias.
Os agentes causadores de doenças usualmente interagem com a planta, vivendo dentro
ou fora dela, invadindo seus tecidos, gerando, então, o processo infeccioso. O patógeno,
por sua vez, ao colonizar a planta, retira desta os nutrientes para o seu denvolvimento, o
que o caracteriza, nestas circunstâncias, como um parasita.

Existe, no entanto, um grupo pequeno de microrganismos (alguns fungos, bactérias e


algas) que causam doença, mas não vivem nos tecidos da planta, isto é, não se
comportam como parasitas. A maioria deles induz doença pela secreção de substâncias
tóxicas que são absorvidas pelas plantas.

Alelopatia, tipo de patogenicidade, sem envolvimento de parasitismo.

Existem muitas doenças nas quais as relações causais envolvem mais de um agente ou
fator patogênico, que atuam sequencial ou concomitantemente, podendo estes ser
bióticos (infecciosos) ou abióticos (não infecciosos).
No caso da etiologia sequencial, o patógeno ou faotr primário muda a reação do
hospedeiro ou da planta suscetível, usualmente alterando sua fisiologia, de tal forma que
o patógeno ou fator secundário possa ataca-la. No caso de atuação concomitante, os
patógenos ou fatores causais estabelecem uma relação ecológica próxima e
conjuntamente produzem sintomas que são diferentes daqueles induzidos por cada um
individualmente.

Outros tipos de doença de etiologia complexa bastante comuns são aqueles que
envolvem a atuação de fatores ambientais (condições extremas ou sub-ótimas de
temperatura, umidade, luz, nutrição, etc.) como fatores causais primários, no caso
abióticos, e de fungos, que atuam como patógenos secundários, causadores de cancros
ou lesões necróticas em caule de plantas lenhosas.

3.2. SINTOMATOLOGIA
Qualquer manifestação das reações da planta a um agente nocivo pode ser considerada
sintoma. Estruturas do patógeno, quando exteriorizadas no tecido doente, recebem o
nome genérico de sinal. Deste modo, uma lesão na folha do cafeeiro, exibindo
urediniósporos do fungo Hemileia vastatrix, é o sintoma da ferrugem do cafeeiro, onde
estão presentes sinais (esporos) do agente causal. Durante o desenvolvimento de uma
doença, diferentes sintomas sucedem-se em uma determinada sequência.

O primeiro sintoma do ataque de H. vastatrix manifesta-se como uma pequena mancha


amarelada, de 1 a 2 mm de diâmetro, denominada “fleck”, na face inferior da folha, que
corresponde ao início da colonização dos tecidos do hospedeiro. Gradativamente, esta
mancha aumenta de tamanho, apresentando-se circular, até atingir 1 a 2 cm. A
sequência completa ou o conjunto de sintomas determinados por uma doença é
conhecido por quadro sintomatológico.

Vários critérios podem ser utilizados para a classificação de sintomas. De acordo com a
localização dos sintomas em relação ao patógeno, pode-se separá-los em dois grupos:
sintomas primários, resultantes da ação direta do patógeno nos órgãos que exibem os
sintomas, e sintomas secundários ou reflexo, exibidos pela planta em órgãos distantes
do local de ação do patógeno. Uma mancha foliar é exemplo do primeiro tipo e uma
murcha provocada por um patógeno radicular ou vascular é exemplo do segundo.

Alterações na fisiologia do hospedeiro (sintomas fisiológicos) podem ser verificadas


pelo aumento da respiração, aumento da transpiração, interferência nos processos de
síntese, etc.
Por sintoma morfológico entende-se qualquer alteração visível na forma ou anatomia
dos órgãos da planta decorrente de ação de um patógeno. Dependendo do tipo de
modificação exibida pelo órgão afetado, os sintomas morfológicos podem ser
classificados como necróticos ou plásticos.
Os sintomas necróticos são caracterizados pela degeneração do protoplasma, seguida de
morte de células, tecidos e órgãos.

 Amarelecimento – este sintoma é causado pela destruição da clorofila ou de


cloroplastos. É mais comum nas folhas, sendo observado em muitas doenças,
com intensidade variada, desde leve descoloração do verde normal até amarelo
brilhante.
 Encharcamento – também conhecido por anasarca, é identificado pelo aspecto
translúcido do tecido encharcado devido à liberação de águas das células para
os espaços intercelulares. É a primeira manifestação de muitas doenças que
apresentam sintomas necróticos, especialmente daquelas provocadas por
bactérias.
 Murcha – pode ser definido como o estado flácido das folhas ou brotos, devido
à falta de água, geralmente causada por distúrbios nos tecidos vascular ou
radicular. As células das folhas e de outros órgãos aéreos perdem a
turgescência, resultando em definhamento do tecido ou órgão. A murcha pode
ser permanente, resultando na morte dos órgãos afetados.
 Cancro – é o sintoma caracterizado por lesões necróticas, deprimidas, mais
frequentes nos tecidos corticais de caules, raízes e tubérculos. Este tipo de
sintoma é observado em folhas e frutos.
 Crestamento – este sintoma, também denominado requeima, refere-se à
necrose repentina que ocorre em órgãos aéreos (folhas, flores e brotações).
Normalmente a necrose se inicia pelos bordos, podendo progredir por toda a
extensão dos órgão atacados.
 “Damping-off” – este sintoma é caracterizado pelo tombamento da plântulas.
Se a podridão ocorrer antes da emergência da planta, diz-se que houve
“damping-off” de pré-emergência. Patógenos habitantes do solo como
Rhizoctonia, Pythium e Phytophthora são agente causais de “damping-off”, que
resulta na redução do estande de semeadura.
 Escaldadura – é o sintoma caracterizado por mudança na coloração da
superfície de órgãos aéreos, principalmente folhas. Seu aspecto visual lembra o
órgão escaldado por água fervente.
 Estria – também conhecida por listra, é uma lesão alongada, estreita, paralela à
nervura das folhas de gramíneas. Um exemplo típico deste sintoma é observado
na doença conhecida por estria vermelha da cana-de-açúcar.
 Gomose – a exsudação de goma (substâncias viscosas) a partir das lesões é um
sintoma de ocorrência frequente em certas espécies frutíferas, como o
abacaxizeiro, o pessegueiro e os citros, quando afetadas por patógenos que
colonizam o córtex ou o lenho.
 Mancha – a morte de tecidos foliares, que se tornam secos e pardos, é um
sintoma muito comum em doenças de plantas. A forma das manchas foliares
varia com o tipo de patógeno envolvido, podendo ser circular, com
pronunciadas zonas concêntricas, angulas, delimitada pelos feixes vasculares.
 Morte dos ponteiros – a morte progressiva de ponteiros e ramos jovens de
árvores aparece em algumas doenças, como da mela de plantas cítricas, atacadas
por espécies do gênero Phytophthora
 Mumificação – ocorre nas fases finais de certas doenças de frutos. Frutos
apodrecidos secam rapidamente, com consequente enrugamento e
escurecimento, formando uma massa dura, conhecida como múmia. É comum
em pêssego com podridão parda.

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