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Distopias

Dramaturgia:
Henrique Buglia
Isabelle Tuneli
Lucas Benedetti Elias

CIA Entulho de Teatro

2022
Prólogo

A vida é muito incerta. Por mais que nosso futuro já esteja traçado, nada sabemos
sobre o que está por vir. Desde que a humanidade tomou consciência sobre o destino,
sempre tentam prever o que virá. As pedras, as cartas - o homem desenvolveu
diversas formas de ler o futuro - o oráculo, a palma da mão - todas elas podem informar
o que acontecerá, para onde vamos - estrelas, búzios, folhas de chá - muitas maneiras
para descobrirmos e, mesmo sabendo o que acontecerá, nada podemos alterar… ou
podemos?
Cloto, Láquesis, Átropos;
Nascer, viver, morrer;
Passado, presente, futuro;
Origem… Trajeto… e Desfecho.
Para que possamos compreender o destino, é preciso que saibamos o que pode
ocasioná-lo.

Caos com som do tambor ao fundo, caos vai aumentando. Um som mais forte indica o
final da bagunça. Nesse momento, os atores se juntam ao centro em uma briga, cujo
todos estão ligados uns aos outros, em câmera lenta.

O ano é 3060. Todos aqueles que viviam no planeta Terra tiveram que lutar pela própria
sobrevivência. As ações do homem quanto ao meio ambiente finalmente tiveram
consequências.
Sim, as catástrofes naturais tomaram conta do Planeta (desfazem o bloco e vão
abrindo olhando o caos). Os mais espertos, ou sortudos, conseguiram embarcar nos 3
únicos foguetes que decolavam para o mais novo planeta Talston, agora habitado por
humanos. (os atores encenam a entrada na nave, todos com dinheiro nas mãos.
Henrique deixa de fora: Marina e Letícia.)
CENA 2 - ANNE CONSEGUE A PASSAGEM

Sem sua família e despreparada para qualquer chance de sobrevivência, Anne,


uma doce jovem, andava pelas ruas assustada com o estado do Planeta.

*Anne*: Nunca pensei que minha hora fosse chegar tão cedo, tenho apenas 17 anos,
havia muito ainda para viver... se bem que eu talvez tenha contribuído para a
destruição do planeta, sempre busquei me atentar a situação do meio ambiente, mas
nunca mudei meus hábitos... agora já é tarde.
Um velhinho, sentado em um banco, escutava a conversa da garota com si mesma.

*Velhinho*: Chegue mais perto doce menina, tenho algo a te dizer! Seja grata por tudo
que já lhe aconteceu, até pelos erros que cometeu, pois poderiam ser muito piores.
Agradeça pela vida e pelas oportunidades que ela lhe dá, como a de agora.... Te afirmo
jovem, não é a sua hora! Pegue essa passagem que me dei o luxo de comprar, antes
da pior descoberta da minha, não tão mais prolongada, vida. A doença que circula pelo
meu corpo causará minha morte, brevemente. Não há motivo para um mero idoso a
beira da morte ser egoísta e guardar a passagem para si próprio. Pegue, seja feliz e
aproveite sua renovada vida!
Viva, e lembre-se: A maior prova de coragem não é morrer lutando... mas sim lutar
para viver!
*Anne*: (emocionada com o discurso): Muito obrigada senhor, não sei nem como lhe
agradecer por essa chance única! Viverei minha vida inspirada em suas palavras.
Obrigada. (Sai)

Marjorie já está em cena, logo em seguida entra Ângela com a mala.

*Marjorie*: O mundo vai acabar!!


*Ângela*: Eu vi, eu li as notícias, a nave vai chegar e vai levar alguns de nós.
*Marjorie*: E você vem comigo nessa nave.
*Ângela*: Não, não, Ma, eu não tenho condições, não posso deixar minha mãe, ela
está adoecida.
*Marjorie*: Venha Ângela, por favor, venha comigo…
*Ângela*: Me desculpe amiga, mas eu não tenho como ir, não posso deixar minha
família, não tenho condições de ir.
*Marjorie*: Mas eu comprei a passagem, eu comprei nossos bilhetes, olha tem o seu
nome! Mostra a passagem para Ângela
*Marjorie*: Venha, por favor, por mim, por nós, pela nossa amizade, vamos mudar de
vida, venha.
*Ângela*: Vo-você comprou…
*Marjorie*: EU COMPREI! VAI FAZER SUA MALA!
*Ângela*: Tá bom, eu vou com você, vou fazer a minha mala e vamos se encontrar na
estação.

CENA 3 - ENTRADA NA NAVE

General se apresenta, enquanto os outros personagens arrumam o cenário

*General*: Boa tarde passageiros, sou a general Sanches e vou acompanhá-los e


comanda-los nessa viagem ao planeta Talston. Nossa viagem terá duração de 2 dias.
Tudo o que eu disser deve ser levado como lei, sem questionamentos. Alguém tem
alguma pergunta? Ótimo!
Otto entra em cena.
*Otto*: Então... você é quem foi designada ao cargo de General?
*General*: Sim, meu príncipe. Tenho certeza de que farei um ótimo serviço em Talston.
*Otto*: Assim espero. Ehr... por acaso você viu meu pai por aí? Não o vejo há um
tempo.
*General*: Não, meu príncipe. O perdi de vista nesse caos. Ele já deve ter entrado na
nave...
Todos que entrarem na nave se posicionam atrás para a montagem do foguete.

Marjorie e Ângela entram primeiro

*Ângela*: Eu fiz a mala, consegui!


*Marjorie*: Perfeito, a gente vai conseguir embarcar!
*Ângela*: Aí, eu tô com um pouco de medo…
*Marjorie*: Não tenha, vamos mudar de vida!!
*Ângela*: É verdade, vamos mesmo!!
*Marjorie*: Venha, tá na hora! (afobada) Aqui senhora!
*Ângela*: (No mesmo estado) Aqui está!
Juntas entram na nave.
Anne*: (contente, mas preocupada, olha, com tranquilidade, a paisagem)
*General*: Vamos menina, se apresse.

Anne apenas da um suspiro e entrega a passagem. Entrada do casal.

*Bianca*: (entra na frente gravando stories, sem demonstrar qualquer preocupação


com a situação em que estão) Bom dia seguimoreees! Tudo bem com vocês? Já estou
aqui na entrada da nave, (mostrando tudo) espero que hoje seja um dia muito
iluminado para vocês, já que é o último né?! Mas não o meu (risada vegana) Meu
amorzinho também está aqui comigo! (mostra seu marido, que responde apenas com
um sorriso forçado). É isso minhas florzinhas espero que aproveitem o último dia na
terra e para a galera que está a salvo na nave, eu vou criar uma rede social nova para
vocês acompanharem tudo do novo planeta (desliga o celular).

Enquanto isso, seu marido está logo atrás levando as malas, demonstrando
cansaço.

*Bianca*: Vai logo com essas malas eu tenho pressa (Diz em um tom soberbo).
*Marcelo*: Calma Mulher, essas malas estão pesadas (cansado). Para que tudo isso
de mala mesmo?
*Bianca*: Meu querido (debochando) eu quero ser a mais stylish de Talston, quero
holofotes em mim e em minhas roupas de marca. Agora vamos, entrega esse
passagem para a moça.

Entrada irmãos entram desesperados

*General*: Temos que partir, senhor.


*Otto*: espere mais um pouco.
*General*: Senhor não tem…
*Miguel*: POR FAVOR DEIXEM A GENTE ENTRAR, PRECISAMOS MUITO!!
*General*: Por um acaso os dois (olha com cara de desprezo) teriam o passagem?
*Miguel*: Infelizmente não temos como comprar.
*General*: Podem se retirar então.

Miguel se ajoelha e encosta no braço do “rei”, rapidamente a general se vira


para o homem no chão com um olhar agressivo. Ele solta o braço.

*Miguel*: Meu caro príncipe, deixe-nos entrar no foguete. Eu sei que há bondade no
seu coração, eu e minha irmã faremos qualquer tipo de serviço, só não nos deixe
morrer. (O homem está em prantos)

General acena um “não” com a cabeça.

*Otto*: Como eu sou uma pessoa muito benevolente e que se importa com o povo
vocês podem subir.
*General*: (Brava) Ok... Mas vocês tem que entrar agora pois já estamos partindo.
*Joana*: Espere só um minutinho pfv, nossa mãe tá doente, eu perdi ela na confusão
mas ela já deve estar vindo pfv
*General*: Não temos como esperar, ou vocês entram AGORA ou não entram mais.
*Joana*: (puxa miguel de lado) Não posso deixar minha mãe pra trás.
*Miguel*: TEMOS QUE IR, EU NÃO QUERO MORRER.
*Joana*: Ela é NOSSA MÃE E não vou deixar ela aqui.
*Miguel*: Ela falou pra gente ir, VAMOS.
*Joana*: NÃOOO.
*Miguel*: Eu não quero te perder também!
(Miguel puxa Joana para a nave)
*General*: Não deveria ter feito isso.
*Otto*: (Em tom bravo, se dirige à General) Espero que tenha ciência da posição que
está… (Indo para o centro) Meu povo (falando para a plateia)… estamos hoje deixando
nosso planeta. Uma esperança nos foi concedida! Uma chance nos foi dada: uma
chance de recomeçar! Podemos conviver em uma sociedade próspera e construtiva!
Dessa vez faremos a coisa certa! Não vamos cometer os mesmos erros do passado!
Serei o rei que o novo mundo precisa! Juro pela nossa nova Terra que farei o que for
preciso para que a ordem seja mantida! Hoje é o dia em que recomeçamos!... Hoje
recomeçamos… a nossa jornada em busca da paz! Então general, tudo certo?
*General*: Sim, preparar para decolagem

Montagem foguete, som foguete

*General*: Chegamos, senhor! (para Otto) Já podemos desembarcar (para os


viajantes)

Rapha e Lucas saem de cena e continuam a leitura do prólogo.

*Rapha*: Começar uma nova história não foi fácil, mas chegamos até aqui! Um Planeta
de pequeno número populacional governado por um único rei, chamado Otto, após o
sumiço de seu pai durante o caos na Terra.
Enquanto a fala ocorre, todos saem de suas posições e “exploram” com o olhar
onde estão. Todos andam, e algumas pessoas arrumam os lixos como se fossem
mesas.

*Pietra*: Porém, nem tudo é perfeito. A diversidade cultural unida em Talston era
imensa, ocasionando diversas repressões, ofensas e preconceitos, por parte do povo.
(todos sentados com seus pares)

CENA 4 – MEDIDAS

*Bianca*: Olha amor que planeta mais lindo, olha essas árvores essa vegetação
*Marcelo*: Sim meu amor, é tudo tão lindo, a única coisa que estraga essa planeta são
as pessoas.
*Bianca*: Realmente, eu soube que teve algumas pessoas que vieram de favor. Olha
quanta gente feia (fala olhando e apontando para pessoas da platéia), sabe o que é
isso docinho? Um bando de pobre!!

As pessoas em volta se revoltam e começam uma briga com o casal. Nessa


hora a General e rei entram.

*General*: Silêncio! Apresentando o grandioso Rei Otto 2 Filho de Otto 1 Imperador de


todo o planeta Talston! Tem um comunicado muito importante a todos

Todos demonstram respeito ao rei ao colocarem a mão direita fechada no peito


esquerdo (toda vez que o rei entra)

*Otto*: Meu caro povo, chegou aos meus ouvidos diversas reclamações em relação às
aparências das pessoas. (Todos respondem sim) Visando a paz de nosso povo,
medidas foram tomadas! (Todos comemoram) Primeiro Decreto: à partir de agora,
acessórios não serão permitidos. Todos usarão roupas presas e cabelos pretos. (Todos
se olham confusos)
*General*: (o ajuda). Ao contrário senhor…
*Otto*: Ah, digo... roupas pretas e cabelos presos. Não se preocupem. Tudo será
providenciado pelos serviços reais... visando a paz de nosso povo.
Movimentação, retirando roupa colorida e acessórios e comentários sobre o
decreto. Enquanto isso, general vistoria todos. Uma pessoa(Joana) não quer retirar seu
acessório.

*General*: Retire isso já!


*Joana*: Eu não posso.
*General*, insistindo em tom arrogante: Tire agora, isso não é um pedido.
*Joana*: (trêmula e aumentando seu tom de voz). Não vou tirar, é uma lembrança da
minha mãe. (olhando para o acessório com dó)
*General*: Então venha comigo (a puxa pelo braço)
*Miguel*: Para onde você está levando ela? (preocupado)
*General*: Quer ser levado também?

Miguel se afasta deixando que levem sua irmã

*General* (Vê que todos estão parados olhando a situação) Voltem ao afazeres de
vocês!
*Joana*: (preocupada) Para onde você está me levando?...

Todos se aproximam em uma meia lua e comentam sobre o primeiro decreto.

*Miguel*: Pelo menos estamos todos iguais agora.


*Bianca*: Iguais não, porque tem umas cores ai (passando o dedo na pele e sendo
racista) que deveriam ser padrão, mas é cota que fala ne?
Marcelo: Ah sim é cota
Briga
*General*: Silencio! Apresentando o grandioso Rei Otto 2 Filho de Otto 1 Imperador de
todo o planeta Talston! Tem um comunicado muito importante a todos.
*Otto*: Meu caro povo, chegou aos meus ouvidos diversas reclamações em relação às
raças das pessoas. (Todos respondem sim) Visando a paz de nosso povo, medidas
foram tomadas! (Todos comemoram) Segundo Decreto: A partir de agora, todos usarão
máscaras, que cobrirão todo o rosto. (vozes de fundo: ã? que? mas eu gosto do meu
rosto…) Não se preocupem. Tudo será providenciado pelos serviços reais... visando a
paz de nosso povo.
-Joana entra, distribuindo as máscaras. General ordena, com duas palmas, que
todos a coloquem.
-Comentários sobre o decreto junto da movimentação

*Joana*: Mas e agora como vamos saber quem é quem?

*Angela*: Ah você ainda é a Joana ne?


Bianca: Joana? Eu tive uma empregada com esse nome...
Ângela: E qual o seu nome querida?
Bianca: Bianca
Angela: Nome de rodada né..

Todos falam ao mesmo tempo, nova discussão

*General*: Silencio! Apresentando o grandioso Rei Otto 2 Filho de Otto 1 Imperador de


todo o planeta Talston! Tem um comunicado muito importante a todos!
*Otto*: Meu caro povo, chegou aos meus ouvidos diversas reclamações em relação
aos nomes das pessoas. (respondem que não)
*General*: Sim ou não?
*todos*: Sim
*Otto*: Visando a paz de nosso povo, medidas foram tomadas!
(Silêncio)
*General*: APLAUDAM!
(Palmas)
*Otto*: Terceiro Decreto: à partir de agora, todos possuirão números, os quais
substituirão seus verdadeiros nomes… (expressões do povo que demonstram
indignação) Visando a paz de nosso povo.
*General*: Todos agora chamarão número 3!
*Marina*: Mas eu gosto mais do número 6…
(General a olha com um olhar ameaçador)
*Marina*: Mas ta ótimo porque 3 é a metade de 6 né…

Bloco reclamando, falando das profissões, nova discussão (todos falando juntos)
*General*: Silencio! Apresentando o grandioso Rei Otto II vocês sabem o resto.
*Otto*: Meu caro povo, chegou aos meus ouvidos diversas reclamações em relação às
profissões das pessoas (ninguém responde). Visando a paz de nosso povo, medidas
foram tomadas! (O rei percebe o silencio e continua) Quarto Decreto: à partir de agora,
todos trabalharão somente nos serviços reais (insatisfação do povo). Vocês não têm
opção. Quem não estiver de acordo passará fome... Passará frio... E será condenado à
morte...Visando a paz de nosso povo.

Movimentação trabalho máquina em bloco (criado anteriormente). Saem em fila, após o


som que indica o fim do trabalho.

Fatum: O ser humano faz de tudo para alcançar o inalcançável… até mesmo cavar a
própria cova, ativar a própria bomba. Será que algum dia vão perceber o verdadeiro
erro que sempre cometem? Talvez esse seja o destino da humanidade: errar.
Mesmo com a chance que possuem de consertar as coisas, o poder os amaldiçoa.
Eis a verdade: “Dê poder ao homem… e veja quem ele realmente é.”

CENA 5 – DISCUSSÃO ENTRE AS AMIGAS

As amigas se encontram em casa, após o trabalho.


*Ângela*: Eu não aguento mais, eu não aguento mais esse Rei ditando regra, olha se
ele falar mais uma regra eu juro que eu enfio no... Melhor nem comentar onde eu
enfiaria.
*Marjorie*: Aí eu também tô cansada, não posso mais usar meu cabelo do jeito que eu
quero, não posso fazer nada.
*Ângela*: Eu tô de saco cheio desse lugar, desse Rei, dessas pessoas, até de você eu
tô de saco cheio.
*Marjorie*: Saco cheio de mim? Você fala como se tivesse sendo super fácil.
*Ângela*: Aí realmente é muito difícil pra você, até porque não foi você quem teve que
abandonar sua família, seu lar, sua mãe, é não foi você né?
*Marjorie*: Não fala assim, Ângela. Eu te tirei da miséria, o mundo estava acabando,
você iria virar pó. Não foi fácil pra mim também.
*Ângela*: Ah é, ter dinheiro e condições é muito difícil!
*Marjorie*: Para, para, para de ser egoísta e de só pensar em você, eu te tirei daquele
fim de mundo, eu tentei te ajudar!
*Ângela*: MAS VOCÊ ME TIROU DA CASA DO CAPETA E ME TROUXE PARA O CU
DELE!! Marjorie em nenhum momento eu pedi a sua ajuda, eu nunca pedi para estar
aqui, eu nunca quis, você quem me trouxe e eu que sou egoísta?
*Marjorie*: Tá vendo você só sabe falar de você, só pensa em você e em como você
se sentiu.
*Ângela*: É, eu que sou egoísta, eu que pedi para a minha amiga vir junto comigo, já
que a minha família não é capaz de me dar amor e carinho. Marjorie, vamos ser
sinceras, você sempre teve inveja da minha família, não éramos os mais ricos, mas
tínhamos amor e carinho.
*Marjorie*: NÃO FALA ASSIM! VOCÊ SÓ VEIO PORQUE A SUA MÃE PEDIU!
*Ângela*: Agora, agora eu entendi porque você insistiu tanto, minha mãe queria que eu
fosse, talvez você no fundo nem quisesse que eu viesse com você…
*Marjorie*: Também não foi só isso, eu queria que você viesse, mas a sua mãe
queria tanto quanto eu…
*Ângela*: Você nem me queria aqui (falar quase chorando, voz trêmula).
-Neste momento Ângela olha para o seu pulso e vê as horas, é hora de
retornar ao trabalho.
*Ângela*: Deu a hora de voltar ao meu trabalho (prende o cabelo enquanto fala) já que
você é tão generosa, tão bondosa, vou aproveitar as oportunidades que você me dá,
nossa senhora generosidade.
*Marjorie*: Vai, vai lá. Um ótimo trabalho pra você (em tom de ironia/grosso)
-Ângela sai andando e Marjorie também, ambas para o lado contrário

CENA 6 - RECLAMAÇÃO DO CASAL

-Movimentação de trabalho (3 abaixo e 3 em cima). O casal reclama um do


outro sem saber que são eles mesmos.
*Bianca*: Ai eu to cansada daquele cara, que eu chamo de marido. (fala e olha para o
lado esperando uma resposta).
*Marcelo*: Isso é porque essa dai não viu minha mulher (dá uma risada). Ela é
insuportável e vive pensando só nela. (Também espera uma resposta, mas sem
sucesso).
*Bianca*: E meu marido, que vive tocando músicas para mim (da uma risadinha) como
se tocasse bem né.
*Marcelo*: Minha esposa só liga para aparência, que, pensando bem, é a única coisa
que ela tem de bom!
*Bianca*: E ele então, que se veste como se ainda estivéssemos nos anos 2000, tenho
até vergonha de sair com ele.
Antes era a profissão que salvava, mas agora que não tem mais…
*Marcelo*: Pois é, pelo menos antes ela fingia que era agradável, porque agora não
tem nada que salve!
*Bianca*: Ele devia mais é que me agradecer, porque se não fosse eu, ele
nunca arranjaria uma esposa!
*Marcelo*: Ela vive me pedindo coisa o tempo todo, ninguém merece!
(todos saem após o som que indica o final do trabalho, os membros do casal vão para
lados apostos)

Casal se encontra em casa.


Cada um entra de um lado
(Enquanto falam, vão se aproximando)
*Bianca*: Oi meu bombonzinhoooo
*Marcelo*: Oi minha rainhaaaa
*Bianca*: Quem é o meu docinho de coco?
*Marcelo*: Eu (com voz fofa e abrindo seus braços)
Os dois se abraçam e sentam no sofá
*Marcelo*: Como foi seu dia, razão do meu viver?
*Bianca*: Igual todos os outros né, bobinho
*Marcelo*: Pois eu tenho uma fofoca! No trabalho tinha uma mulher que não parava de
falar mal do marido, acredita?
*Bianca*: Nossa vida, sério?
*Marcelo*: Pois é, falava o quanto seu marido se vestia mal…
*Bianca*: Jura? Bem... hoje, no trabalho, tinha um cara reclamando da esposa, falando
que ela vive pedindo coisa o tempo todo...
*Marcelo*: Nossa... ela também falou que o marido dela canta mal... mesmo eu tendo
certeza de que ele faz isso com muito amor...
*Bianca*: ...ele também disse que a beleza é a única coisa que se salva nela... mas
estou certa de que ela é muito talentosa!
*Marcelo*: ...ela disse que o marido dela nunca arranjaria uma esposa...
*Bianca*: Então... eu sou insuportável, é isso mesmo?!
*Marcelo*: Quer dizer então que você só casou comigo porque eu era médico?!

(se levantam e começam a falar ironicamente de forma fofa)


(vão se afastando enquanto falam)
*Bianca*: Quer saber de uma coisa? EU te transformei em alguém! Sem mim você não
seria nada, meu docinho!
*Marcelo*: Nada disso, coelhinha! O MEU emprego nos sustentou esse tempo todo!
*Bianca*: Haha! Ai, meu bom bom!... Pelo menos eu não me visto de uma forma tão
brega, né?...
*Marcelo*: Pelo menos eu tinha um emprego de verdade, não é xuxu?
*Bianca*: Da forma que canta mal, podia ter ficado na Terra, né meu ursinho?!
*Marcelo*:Ai, minha vida... tantas amantes e eu fui escolher VOCÊ pra vir comigo?!

CENA 7 – ANNE INSATISFEITA


Anne chega em sua casa. Cansada, ela retira a máscara
Eu não aguento mais essa situação, eu tive outra chance e prometi que viveria a minha
vida, essa não sou eu!!! (Chateada),
Eu não suporto esse trabalho, cadê a criatividade?!!, essa roupa!! Eu tô cansada de me
esconder, eu tô cansada de me apagar eu tô cansada de perder minha identidade para
ser aceita, eu tô cansada de temer ir contra os padrões, eu não sou padrão, na verdade
com esse uniforme eu não sou ninguém, e já passou da hora de voltar a ser alguém
(Coloca uma echarpe e algumas pulseiras) essa sou eu, não vou mais me sufocar, me
apagar e me esconder por trás desse uniforme… chegou a hora de mudar.

CENA 8 – DISCUSSÃO DOS IRMÃOS E INÍCIO DA REVOLUÇÃO


Trabalho com as latas de lixo, os irmãos constróem o castelo.
Os irmãos começam a discutir.

*Joana*: Ai, olha o que a gente tá tendo que fazer… olha a situação que você tá
fazendo a gente passar!
*Miguel*: Para de reclamar, pelo menos estamos vivos!
*Joana*: Estamos vivos a que custo? Estamos sendo feitos de escravos! A MÃE TÁ
MORTA E A CULPA É SUA!
*Miguel*: A mãe iria morrer de qualquer jeito, e fala baixo!
*Joana*: Não! Eu não vou falar baixo! Isso é um absurdo! Eles não podem nos reprimir
assim!
*Miguel*: Joana, eu tô avisando, você vai ferrar nós dois! Você quer que sejamos
presos?
*Joana*: Mais presa do que já estou? Impossível! Talvez nos matem… mas é melhor
morrer em luta do que viver que nem uma escrava!
*Miguel*: Não vamos morrer se você parar com isso! É tudo para o nosso bem!
*Joana*: Do que você tá falando?! O que aconteceu com você? Eu nem te reconheço
mais!
*Miguel: Eu é que não tô te reconhecendo… foi sorte termos entrado no foguete! O Rei
nos deu a chance de vivermos, mas você é teimosa demais pra enxergar isso!
*Joana*: Viver? É disso que você chama essa escravidão? Eu não vou suportar mais!
(se levanta)
*Miguel*: (A segura pelo braço e cochicha) O que você tá fazendo?
*Joana*: Se você não é capaz de abrir seus olhos, vou me juntar com quem é! (Fala
abertamente) Eu não serei uma escrava desse Rei opressor! Eu me chamo Joana,
tenho 19 anos e vou lutar pela minha liberdade! Quem mais tá comigo?!
*Ângela*: (pensa por um tempo, até que decide se levantar)
*Marjorie*: (segura Ângela pelo braço e a puxa para baixo) Não Ângela, por favor, não
faça isso.
*Ângela*: O que você quer? Que eu fique parada enquanto nos fazem de escravas?
Não mesmo! Vou levantar e lutar!
*Marjorie*: Tá louca? Não posso arriscar te perder assim!
*Ângela*: Olhe em volta! A gente JÁ se perdeu! Tudo que resta agora é lutar! Eu vou
fazer isso por nós! (Se levanta novamente) Meu nome é Ângela! Eu também vou lutar
pela minha liberdade! Quem esse tal Rei Idi-Otto pensa que é?!
*Marcelo*: Sim… SIM! (Se levanta, todo feliz) Eu também vou lutar! Viva a liberdade!
Meu nome é…
(todos fazem sinais de silêncio, ou um “não “ com a cabeça, para Marcelo parar de falar
ao verem a general)
*General*: (Faz Marcelo ajoelhar-se e completa sua frase) …seu nome é N° 3!! Venha
comigo!! E vocês… continuem trabalhando! VAMOS!!! (Leva Marcelo consigo e sai de
cena)
(Todos saem de cena)

CENA 9 – MONÓLOGO MARJORIE

(Voltando para casa após o trabalho)


Ai meu Deus, eu deixei ela ir (desespero), essa sensação denovo nãooooo.
(lamentando)
Por que faz isso consigo mesma? Por que não é sincera sobre o que sente? Por
que finge que é forte, quando na verdade está desmoronando por dentro? Para evitar
frustrações? Por isso se tornou tão fraca, mas com pensamentos tão exigentes?
O pior de tudo é que as vezes sinto com se não fosse mais eu. Olha o que fiz, deixei
a única pessoa que me importava ir embora, assim, como se ela não fosse nada para
mim. Crescendo com a família que cresci, já deveria saber que não consiguiria me
enxergar sozinha denovo, vivendo no meu próprio vazio.
Segundo o dicionário, medo é sensação gerada a partir de situações de perigo ou
da preocupação de que algo aconteça diferente do previsto, tendo função primordial e
biológica! Quando esse medo todo que sempre me desafiou e foi tão bom para mim se
tornou ruim?
Ele me cobre como um cobertor até a cabeça, me consumindo. Quanto mais me
tem, mais me atinge, e mais distante está de me deixar.

CENA 10 - AMEAÇA DE OTTO

Otto “trabalhando”
General entra e prende o Médico

Otto: O que está acontecendo? Quem é esse?


General: Um rebelde!
Otto: Rebelde?
General: Meu Rei, estive pensando… talvez seja melhor repensarmos algumas
medidas que tomamos para resolver o nosso problema.
Otto: Do que está falando, General?
General: Parece que o povo está cada vez mais revoltado… existem até grupos que
pensam em se rebelar!
Otto: Logo eles vão se acostumar, General! Lembre-se de que, aquele que ousar
desobedecer ao rei será condenado à morte! (*Médico: - Morte?!) – Fique tranquila
quanto a isso.
General: Mas meu rei… pode ser que corramos risco!
Otto: Não vamos correr risco algum, General… agora me deixe trabalhar!
General: Meu rei, devo insistir que…
(Otto se levanta bruscamente)
Otto: General! Devo lembrar-lhe que sou EU quem manda aqui! Você quer isso tanto
quanto eu! Você não quer uma sociedade onde não haja desigualdade alguma?
General: Meu rei, talvez não seja certo e nem seguro manter o povo tão distante da
liberdade! Talvez seja melhor esquecermos tudo isso, não acha? Afinal, tenho certeza
de que as pessoas podem resolver isso elas mesmas!
(Otto ri baixinho)
Otto: …você lembra a minha mãe… (Otto vira contra a General) …EU ODIAVA A
MINHA MÃE!! Ela também era contra os meus ideais e olha o destino que ela teve!
Quer que o mesmo aconteça com você?!
(Otto estala os dedos; seus servos se arrastam pelo chão e enroscam a General)
Se eu não salvar essas pessoas, elas não vão se salvar sozinhas! Sou o herói de um
novo mundo! Sei, por experiência, o que é melhor para todos!... Espero que eu tenha
sido claro.
(General se solta; os servos saem de cena)
General: Vai se arrepender disso, Otto!
Otto: É uma ameaça?
General: É uma promessa!
(General sai de cena; Otto chama sua ajudante/*mulher do casal*)

(Ela chega com outro brinquedo e Otto o apanha)


Otto: N°3…
Bianca: Sim, meu Rei.
Otto: Você acha mesmo que o povo pensa em se rebelar?
Bianca: Imagino que sim. Eu ouvi algumas pessoas comentando sobre.
Otto: Tenho que fazer alguma coisa a respeito… o que for necessário para instaurar a
paz. Vamos!
Marcelo: Espera! Por favor, não me deixe aqui! Posso ajudá-lo, me juntar a você! Por
favor, me dê mais uma chance!
Bianca: Tem certeza, meu Rei?
Otto: Bem… sou um Rei misericordioso… além de que toda ajuda é necessária!
(Otto solta o prisioneiro, estala os dedos, seus servos aparecem e se posicionam atrás
dele)
Otto: N°3, n°3, n°3, n°3… me acompanhem!
(Todos saem de cena)

CENA 11 – MONÓLOGO MIGUEL

(Voltando para a casa devastado)


Ela se foi... e me deixou perdido, como eu sempre fui. Mas a diferença agora é
que eu to sozinho e acho que a Joana estava certa em me questionar “quem eu
realmente sou?”, “Quem eu me tornei?”. Será que sou mais um perdido no exílio dos
meu pensamento ou só mais uma pessoa que segue esse rei por medo.
É sempre difícil achar esse nosso “eu”, e acho que é por isso que não impedi ela
de ir. Porque ela sabe quem ela é, admiro isso. Sempre vivi querendo ser alguém que
não sou, querendo ocupar lugares que não são meus e que não me pertencem.
Tentando me encaixar em grupos que só me faziam mal e me machucavam.
A Joana não, sempre bem decidida sobre o quer. Por isso que as pessoas
gostavam dela, por isso que eu gosto dela, não só porque ela é minha irmã mais nova
mas porque ela sempre me apoiou também. Demorei muito para me aceitar e quando
isso acontceu ela tava lá, me dando força pra continuar vivendo, nem sei se posso
chamar isso de vida agora.
Nesse planeta eu fui me escondendo mais, me aproveitei das medidas do Rei
para continuar alimentando esse meu lado que ainda tem medo das pessoas. Eu fui
desaprendendo a ser quem eu era, do que eu gostava, mas o que mais me doeu foi ter
perdi minha essência, perdi meus motivos para continuar sendo eu.
É tão estranho falar que desaprendeu a ser você, ao mesmo tempo que, existo
eu não existo. Eu só to me escondendo por trás dessas máscaras. Mas agora acabou
minha mãe se foi, Joana se foi e... e aquele Miguel também.

CENA 12 - BATALHA
Rebeldes se preparam para a batalha
*Anne*: Estamos cansados de nos esconder atrás das máscaras, cansamos de nos
apagar para se igualar ao nível da sociedade. Cada um de nós tem algo especial a
mostrar e isso não pode ser oprimido pela crença de um governante. Você pode tentar
nos igualar, mesmas roupas, mesmos rostos, mesmo emprego…mas nosso
pensamento, ideias e sentimentos nunca serão os mesmos. Por fora você pode nos
numerar, mas por trás desse uniforme imposto, sempre haverão pessoas,
completamente diferentes umas das outras, que em algum momento vão se cansar
dessa palhaçada toda com nós.
*Rei*: Vocês não conseguem entender que eu fiz tudo isso por vocês, para evitar a
destruição do mundo? Vocês não tem mais conflitos, todos são iguais!
*Joana*: Não temos mais conflitos? E do que você chama isso? Nós estamos
cansados de não podermos ser quem somos, (fala para o Miguel) quem realmente é
você? (Se volta para todos) isso, esse uniforme, esse rosto, isso realmente transparece
quem vocês são? (Fala para o todo) Sabe, eu conheci alguém que me ensinou a nunca
deixar quem você é escondido para se encaixar no padrão do outro. Essa pessoa tinha
muita cor e nunca deixou ninguém ditar as regras por ela! Ele tinha um gosto fora dos
padrões mas isso nunca o impediu de ser ele mesmo, e agora eu só queria ver
qualquer resquício dessa pessoa que eu conheci, e que hoje eu não reconheço por traz
da máscara. (olhando para Miguel) Eu não aceito viver nessas condições, cada um de
nós tem sua identidade e não estamos dispostos a abrir mão dela.

*Otto:* Vocês realmente não entendem! Nada mudou! Continuam sendo os mesmos
ignorantes que um dia ocuparam a Terra! Toda a liberdade tem um preço! Jurei garantir
a paz e a ordem, nem que isso custasse a minha vida! É incrível a incapacidade do ser
humano de ser gentil e fraterno! Tudo que fiz foi para que não caíssemos no mesmo
abismo de antes!

General se junta aos rebeldes


General: Eu fui condizente com as suas ordens até que elas alcançaram o absurdo,
você não percebe que falhou? O povo está descontente! Sua ideia de solução só fez
com que todos o odiassem e a si mesmos. Os que estão do seu lado tem medo de se
revoltarem contra ti. Ninguém está feliz, o seu povo não tem fisionomia, ideais, nem
posicionamento! Eles trabalham como máquinas e vivem da mesma forma, esse é o
povo que você quer? Sem rosto, sem identidade, sem qualquer expectativa para o
futuro, um povo que apenas sobrevive, sem rumo, e que daqui alguns anos vai estar se
perguntando o motivo de ainda estar vivo.
*Otto:* Então é isso... preferem morrer a viver em ordem. Acham que isso é coragem,
mas não é. É como meu pai sempre disse: "A maior prova de coragem não é morrer
lutando..."
*Anne:* "...mas lutar pra viver!"

Começa a batalha volta Movimentação início (caos)

O ano é 3061. Todos aqueles que viviam no planeta Talston tiveram que lutar pela
própria sobrevivência. As ações do homem quanto aos próprio homens finalmente
tiveram consequências.
Sim, o preconceito, a discriminação e a desigualdade tomaram conta do Planeta.
Os mais espertos, ou sortudos, conseguiram embarcar para o mais novo planeta
Jaston, agora habitado por humanos.
(Todos falam datas futuras sobrepondo uma as outras. Blackout)

Fim

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