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Dramaturgia:
Henrique Buglia
Isabelle Tuneli
Lucas Benedetti Elias
2022
Prólogo
A vida é muito incerta. Por mais que nosso futuro já esteja traçado, nada sabemos
sobre o que está por vir. Desde que a humanidade tomou consciência sobre o destino,
sempre tentam prever o que virá. As pedras, as cartas - o homem desenvolveu
diversas formas de ler o futuro - o oráculo, a palma da mão - todas elas podem informar
o que acontecerá, para onde vamos - estrelas, búzios, folhas de chá - muitas maneiras
para descobrirmos e, mesmo sabendo o que acontecerá, nada podemos alterar… ou
podemos?
Cloto, Láquesis, Átropos;
Nascer, viver, morrer;
Passado, presente, futuro;
Origem… Trajeto… e Desfecho.
Para que possamos compreender o destino, é preciso que saibamos o que pode
ocasioná-lo.
Caos com som do tambor ao fundo, caos vai aumentando. Um som mais forte indica o
final da bagunça. Nesse momento, os atores se juntam ao centro em uma briga, cujo
todos estão ligados uns aos outros, em câmera lenta.
O ano é 3060. Todos aqueles que viviam no planeta Terra tiveram que lutar pela própria
sobrevivência. As ações do homem quanto ao meio ambiente finalmente tiveram
consequências.
Sim, as catástrofes naturais tomaram conta do Planeta (desfazem o bloco e vão
abrindo olhando o caos). Os mais espertos, ou sortudos, conseguiram embarcar nos 3
únicos foguetes que decolavam para o mais novo planeta Talston, agora habitado por
humanos. (os atores encenam a entrada na nave, todos com dinheiro nas mãos.
Henrique deixa de fora: Marina e Letícia.)
CENA 2 - ANNE CONSEGUE A PASSAGEM
*Anne*: Nunca pensei que minha hora fosse chegar tão cedo, tenho apenas 17 anos,
havia muito ainda para viver... se bem que eu talvez tenha contribuído para a
destruição do planeta, sempre busquei me atentar a situação do meio ambiente, mas
nunca mudei meus hábitos... agora já é tarde.
Um velhinho, sentado em um banco, escutava a conversa da garota com si mesma.
*Velhinho*: Chegue mais perto doce menina, tenho algo a te dizer! Seja grata por tudo
que já lhe aconteceu, até pelos erros que cometeu, pois poderiam ser muito piores.
Agradeça pela vida e pelas oportunidades que ela lhe dá, como a de agora.... Te afirmo
jovem, não é a sua hora! Pegue essa passagem que me dei o luxo de comprar, antes
da pior descoberta da minha, não tão mais prolongada, vida. A doença que circula pelo
meu corpo causará minha morte, brevemente. Não há motivo para um mero idoso a
beira da morte ser egoísta e guardar a passagem para si próprio. Pegue, seja feliz e
aproveite sua renovada vida!
Viva, e lembre-se: A maior prova de coragem não é morrer lutando... mas sim lutar
para viver!
*Anne*: (emocionada com o discurso): Muito obrigada senhor, não sei nem como lhe
agradecer por essa chance única! Viverei minha vida inspirada em suas palavras.
Obrigada. (Sai)
Enquanto isso, seu marido está logo atrás levando as malas, demonstrando
cansaço.
*Bianca*: Vai logo com essas malas eu tenho pressa (Diz em um tom soberbo).
*Marcelo*: Calma Mulher, essas malas estão pesadas (cansado). Para que tudo isso
de mala mesmo?
*Bianca*: Meu querido (debochando) eu quero ser a mais stylish de Talston, quero
holofotes em mim e em minhas roupas de marca. Agora vamos, entrega esse
passagem para a moça.
*Miguel*: Meu caro príncipe, deixe-nos entrar no foguete. Eu sei que há bondade no
seu coração, eu e minha irmã faremos qualquer tipo de serviço, só não nos deixe
morrer. (O homem está em prantos)
*Otto*: Como eu sou uma pessoa muito benevolente e que se importa com o povo
vocês podem subir.
*General*: (Brava) Ok... Mas vocês tem que entrar agora pois já estamos partindo.
*Joana*: Espere só um minutinho pfv, nossa mãe tá doente, eu perdi ela na confusão
mas ela já deve estar vindo pfv
*General*: Não temos como esperar, ou vocês entram AGORA ou não entram mais.
*Joana*: (puxa miguel de lado) Não posso deixar minha mãe pra trás.
*Miguel*: TEMOS QUE IR, EU NÃO QUERO MORRER.
*Joana*: Ela é NOSSA MÃE E não vou deixar ela aqui.
*Miguel*: Ela falou pra gente ir, VAMOS.
*Joana*: NÃOOO.
*Miguel*: Eu não quero te perder também!
(Miguel puxa Joana para a nave)
*General*: Não deveria ter feito isso.
*Otto*: (Em tom bravo, se dirige à General) Espero que tenha ciência da posição que
está… (Indo para o centro) Meu povo (falando para a plateia)… estamos hoje deixando
nosso planeta. Uma esperança nos foi concedida! Uma chance nos foi dada: uma
chance de recomeçar! Podemos conviver em uma sociedade próspera e construtiva!
Dessa vez faremos a coisa certa! Não vamos cometer os mesmos erros do passado!
Serei o rei que o novo mundo precisa! Juro pela nossa nova Terra que farei o que for
preciso para que a ordem seja mantida! Hoje é o dia em que recomeçamos!... Hoje
recomeçamos… a nossa jornada em busca da paz! Então general, tudo certo?
*General*: Sim, preparar para decolagem
*Rapha*: Começar uma nova história não foi fácil, mas chegamos até aqui! Um Planeta
de pequeno número populacional governado por um único rei, chamado Otto, após o
sumiço de seu pai durante o caos na Terra.
Enquanto a fala ocorre, todos saem de suas posições e “exploram” com o olhar
onde estão. Todos andam, e algumas pessoas arrumam os lixos como se fossem
mesas.
*Pietra*: Porém, nem tudo é perfeito. A diversidade cultural unida em Talston era
imensa, ocasionando diversas repressões, ofensas e preconceitos, por parte do povo.
(todos sentados com seus pares)
CENA 4 – MEDIDAS
*Bianca*: Olha amor que planeta mais lindo, olha essas árvores essa vegetação
*Marcelo*: Sim meu amor, é tudo tão lindo, a única coisa que estraga essa planeta são
as pessoas.
*Bianca*: Realmente, eu soube que teve algumas pessoas que vieram de favor. Olha
quanta gente feia (fala olhando e apontando para pessoas da platéia), sabe o que é
isso docinho? Um bando de pobre!!
*Otto*: Meu caro povo, chegou aos meus ouvidos diversas reclamações em relação às
aparências das pessoas. (Todos respondem sim) Visando a paz de nosso povo,
medidas foram tomadas! (Todos comemoram) Primeiro Decreto: à partir de agora,
acessórios não serão permitidos. Todos usarão roupas presas e cabelos pretos. (Todos
se olham confusos)
*General*: (o ajuda). Ao contrário senhor…
*Otto*: Ah, digo... roupas pretas e cabelos presos. Não se preocupem. Tudo será
providenciado pelos serviços reais... visando a paz de nosso povo.
Movimentação, retirando roupa colorida e acessórios e comentários sobre o
decreto. Enquanto isso, general vistoria todos. Uma pessoa(Joana) não quer retirar seu
acessório.
*General* (Vê que todos estão parados olhando a situação) Voltem ao afazeres de
vocês!
*Joana*: (preocupada) Para onde você está me levando?...
Bloco reclamando, falando das profissões, nova discussão (todos falando juntos)
*General*: Silencio! Apresentando o grandioso Rei Otto II vocês sabem o resto.
*Otto*: Meu caro povo, chegou aos meus ouvidos diversas reclamações em relação às
profissões das pessoas (ninguém responde). Visando a paz de nosso povo, medidas
foram tomadas! (O rei percebe o silencio e continua) Quarto Decreto: à partir de agora,
todos trabalharão somente nos serviços reais (insatisfação do povo). Vocês não têm
opção. Quem não estiver de acordo passará fome... Passará frio... E será condenado à
morte...Visando a paz de nosso povo.
Fatum: O ser humano faz de tudo para alcançar o inalcançável… até mesmo cavar a
própria cova, ativar a própria bomba. Será que algum dia vão perceber o verdadeiro
erro que sempre cometem? Talvez esse seja o destino da humanidade: errar.
Mesmo com a chance que possuem de consertar as coisas, o poder os amaldiçoa.
Eis a verdade: “Dê poder ao homem… e veja quem ele realmente é.”
*Joana*: Ai, olha o que a gente tá tendo que fazer… olha a situação que você tá
fazendo a gente passar!
*Miguel*: Para de reclamar, pelo menos estamos vivos!
*Joana*: Estamos vivos a que custo? Estamos sendo feitos de escravos! A MÃE TÁ
MORTA E A CULPA É SUA!
*Miguel*: A mãe iria morrer de qualquer jeito, e fala baixo!
*Joana*: Não! Eu não vou falar baixo! Isso é um absurdo! Eles não podem nos reprimir
assim!
*Miguel*: Joana, eu tô avisando, você vai ferrar nós dois! Você quer que sejamos
presos?
*Joana*: Mais presa do que já estou? Impossível! Talvez nos matem… mas é melhor
morrer em luta do que viver que nem uma escrava!
*Miguel*: Não vamos morrer se você parar com isso! É tudo para o nosso bem!
*Joana*: Do que você tá falando?! O que aconteceu com você? Eu nem te reconheço
mais!
*Miguel: Eu é que não tô te reconhecendo… foi sorte termos entrado no foguete! O Rei
nos deu a chance de vivermos, mas você é teimosa demais pra enxergar isso!
*Joana*: Viver? É disso que você chama essa escravidão? Eu não vou suportar mais!
(se levanta)
*Miguel*: (A segura pelo braço e cochicha) O que você tá fazendo?
*Joana*: Se você não é capaz de abrir seus olhos, vou me juntar com quem é! (Fala
abertamente) Eu não serei uma escrava desse Rei opressor! Eu me chamo Joana,
tenho 19 anos e vou lutar pela minha liberdade! Quem mais tá comigo?!
*Ângela*: (pensa por um tempo, até que decide se levantar)
*Marjorie*: (segura Ângela pelo braço e a puxa para baixo) Não Ângela, por favor, não
faça isso.
*Ângela*: O que você quer? Que eu fique parada enquanto nos fazem de escravas?
Não mesmo! Vou levantar e lutar!
*Marjorie*: Tá louca? Não posso arriscar te perder assim!
*Ângela*: Olhe em volta! A gente JÁ se perdeu! Tudo que resta agora é lutar! Eu vou
fazer isso por nós! (Se levanta novamente) Meu nome é Ângela! Eu também vou lutar
pela minha liberdade! Quem esse tal Rei Idi-Otto pensa que é?!
*Marcelo*: Sim… SIM! (Se levanta, todo feliz) Eu também vou lutar! Viva a liberdade!
Meu nome é…
(todos fazem sinais de silêncio, ou um “não “ com a cabeça, para Marcelo parar de falar
ao verem a general)
*General*: (Faz Marcelo ajoelhar-se e completa sua frase) …seu nome é N° 3!! Venha
comigo!! E vocês… continuem trabalhando! VAMOS!!! (Leva Marcelo consigo e sai de
cena)
(Todos saem de cena)
Otto “trabalhando”
General entra e prende o Médico
CENA 12 - BATALHA
Rebeldes se preparam para a batalha
*Anne*: Estamos cansados de nos esconder atrás das máscaras, cansamos de nos
apagar para se igualar ao nível da sociedade. Cada um de nós tem algo especial a
mostrar e isso não pode ser oprimido pela crença de um governante. Você pode tentar
nos igualar, mesmas roupas, mesmos rostos, mesmo emprego…mas nosso
pensamento, ideias e sentimentos nunca serão os mesmos. Por fora você pode nos
numerar, mas por trás desse uniforme imposto, sempre haverão pessoas,
completamente diferentes umas das outras, que em algum momento vão se cansar
dessa palhaçada toda com nós.
*Rei*: Vocês não conseguem entender que eu fiz tudo isso por vocês, para evitar a
destruição do mundo? Vocês não tem mais conflitos, todos são iguais!
*Joana*: Não temos mais conflitos? E do que você chama isso? Nós estamos
cansados de não podermos ser quem somos, (fala para o Miguel) quem realmente é
você? (Se volta para todos) isso, esse uniforme, esse rosto, isso realmente transparece
quem vocês são? (Fala para o todo) Sabe, eu conheci alguém que me ensinou a nunca
deixar quem você é escondido para se encaixar no padrão do outro. Essa pessoa tinha
muita cor e nunca deixou ninguém ditar as regras por ela! Ele tinha um gosto fora dos
padrões mas isso nunca o impediu de ser ele mesmo, e agora eu só queria ver
qualquer resquício dessa pessoa que eu conheci, e que hoje eu não reconheço por traz
da máscara. (olhando para Miguel) Eu não aceito viver nessas condições, cada um de
nós tem sua identidade e não estamos dispostos a abrir mão dela.
*Otto:* Vocês realmente não entendem! Nada mudou! Continuam sendo os mesmos
ignorantes que um dia ocuparam a Terra! Toda a liberdade tem um preço! Jurei garantir
a paz e a ordem, nem que isso custasse a minha vida! É incrível a incapacidade do ser
humano de ser gentil e fraterno! Tudo que fiz foi para que não caíssemos no mesmo
abismo de antes!
O ano é 3061. Todos aqueles que viviam no planeta Talston tiveram que lutar pela
própria sobrevivência. As ações do homem quanto aos próprio homens finalmente
tiveram consequências.
Sim, o preconceito, a discriminação e a desigualdade tomaram conta do Planeta.
Os mais espertos, ou sortudos, conseguiram embarcar para o mais novo planeta
Jaston, agora habitado por humanos.
(Todos falam datas futuras sobrepondo uma as outras. Blackout)
Fim