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SUMÁRIO
RESUMO
1
Promotor de Justiça Titular da 32ª Promotoria de Justiça de Florianópolis/SC com atribuição para
o Meio Ambiente; Mestrando do Curso de Mestrado em Ciências Jurídicas UNIVALI com dupla
titulação com a Universidade de Alicante - IUACA, membro da diretoria da ABRAMPA,
Especialista em Direito Processual Civil e Direito Público na UNOCHAPECÓ, Professor das
Disciplinas de Direito Ambiental e de Prática de Direitos Difusos e Coletivos da Escola do
Ministério Pública de Santa Catarina, Especialista em Direito Processual Civil e Direito Público na
UNOCHAPECÓ, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, endereço eletrônico:
plocatelli@mpsc.mp.br.
2
Advogado. Membro das Comissões de Meio Ambiente do Conselho Federal da OAB e do
Instituto dos Advogados Brasileiros. Mestre e Doutor em Direitos Difusos e Coletivos pela PUC-
SP. Pós-Doutor e Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciência Jurídica da
UNIVALI. Professor visitante da Widener University – Delaware Law School (EUA) e da
Universidad de Alicante (ES), endereço eletrônico: marcelo@buzaglodandantas.adv.br.
1
permanente e a Súmula n. 613 do STJ, que não aceita a aplicação da teoria do
fato consumado em temas ambientais, agrava ainda mais o deslinde dos conflitos.
Enfrentar esse desafio, incorporando as dimensões da sustentabilidade é o que
se propõe, de forma que os diversos agentes envolvidos, desde os que atuam no
ramo do direito até nas áreas técnicas, possam discuti-lo.
INTRODUÇÃO
2
Para tanto, o artigo está dividido em três itens. No primeiro, tratando
da separação dos poderes, da soberania do poder legislativo, por sua
característica representatividade, e do judiciário enquanto intérprete do
ordenamento jurídico.
3
Para o presente trabalho foi utilizado: PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica:
teoria e prática. 14 ed. ver., atual. e ampl. Florianópolis: Empório Modara, 2018.
3
1 A SEPARAÇÃO DOS PODERES
Por intermédio de Montesquieu que a Teoria da Separação dos
Poderes foi agregada ao constitucionalismo. Na obra “O espírito das leis”, publicada
em 1748, é apresentada a ideia de três poderes harmônicos e independentes entre
si, sendo eles o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário. A
separação dos poderes é uma maneira de se alcançar a limitação do poder estatal
mediante a desconcentração, divisão e racionalização das suas respectivas
funções4.
Bobbio5 afirma que “não há teoria política que não parta de alguma
maneira, direta ou indiretamente, de uma definição de “poder” e de uma análise do
fenômeno do poder”, citando Bertrand Russel (1938), segundo o qual aquele
consiste na “produção dos efeitos desejados”. Bobbio6 define três formas de poder,
“a tipologia assim chamada dos três poderes – econômico, ideológico e político, ou
seja, da riqueza do saber e da força”.
4
Pedro Abreu explica, ainda, que “Montesquieu, foi, para Heller, na verdade, o primeiro filósofo a
cumprir, de modo pragmático, o intuito de explicar o Estado e a atividade política pela totalidade das
circunstâncias concretas, naturais e sociais”. ABREU, Pedro Manoel. Processo e democracia: o
processo jurisdicional como um locus da democracia participativa e da cidadania inclusiva no estado
democrático de direito. São Paulo: Conceito Editorial, 2011, p. 83.
5
BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade: Para uma teoria geral da política. 14. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2007, p. 76.
6
BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade, 2007, p. 82.
7
ABREU, Pedro Manoel. Processo e democracia, 2011, p. 83 et seq.
Pedro Manoel Abreu8 nos ensina que a doutrina da separação dos
poderes inovou em relação ao pensamento inicial aristotélico, estabelecendo a
atuação autônoma e independente, tanto no seu aspecto estrutural e físico, quanto
na seara administrativa, de maneira a garantir um controle recíproco, evitando a
concentração do poder.
8
ABREU, Pedro Manoel. Processo e democracia, 2011, p. 83.
9
BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade, 2007, p. 112.
5
O poder legislativo surge como soberano pois cria novas regras,
definindo os limites de nossos direitos e regulando nossas necessidades, como um
garçom que delimita nosso rol de opções quando nos apresenta o cardápio do que
tem a oferecer. Frequentemente o legislativo constrói “menus” simbólicos que
raramente são atendidos pelo executor, deixando o cliente (cidadão) faminto.
10
Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos
desta Lei:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros,
desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: (Incluído pela Lei nº 12.727, de
2012).
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de
largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros
de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos)
metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos)
metros;
[...]
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm>. Acesso
em: 14 jan. 2019.
6
para as margens dos cursos d’água. O mesmo Código Florestal disciplina, mais
adiante, a referida modalidade de regularização, desde que realizado o devido
estudo socioambiental, elencando seus requisitos, bem como desde que ocorra,
entre outras exigências, a comprovação da melhoria das condições de
sustentabilidade urbano-ambiental, considerados o uso adequado dos recursos
hídricos, a não ocupação das áreas de risco e a proteção das unidades de
conservação, quando for o caso11. E vai além, pois ao permitir a regularização
ambiental para fins específicos ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água,
desde que seja mantida a faixa não edificável com largura mínima de 15 (quinze)
metros de cada lado.12
11
Lei n. 12.651/12, Art. 64 [...]
V - comprovação da melhoria das condições de sustentabilidade urbano-ambiental, considerados o
uso adequado dos recursos hídricos, a não ocupação das áreas de risco e a proteção das unidades
de conservação, quando for o caso;
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm>. Acesso
em: 14 jan. 2019.
12
Lei n. 12.651/12, Art. 65 [...]
§ 2o Para fins da regularização ambiental prevista no caput, ao longo dos rios ou de qualquer curso
d'água, será mantida faixa não edificável com largura mínima de 15 (quinze) metros de cada lado.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm>. Acesso
em: 14 jan. 2019.
13
Conforme Art.8º, parágrafo único e art. 16 § 1º e 2º do Decreto n. 9.310/18. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/Decreto/D9310.htm> Acesso em: 14 jan.
2019.
7
Outra situação prevista no Código Florestal que excepciona a regra do
art. 4º14, diz respeito às áreas ripárias rurais, que obedecerão um escalonamento de
acordo com a área do imóvel15 e independentemente do tamanho do curso d’água16.
14
O Código Florestal traz outras exceções, possibilitando a intervenção ou a supressão de vegetação
nativa em APP, relacionadas as hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo
impacto ambiental. Entre as hipóteses relacionadas dentro dos conceitos acima, encontramos no art.
3º, VIII, “b”, do citado Código, como de utilidade pública, as obras de infraestrutura destinadas aos
serviços públicos para fins urbanísticos e, no seu inciso IX, “d”, como de interesse social, para fins de
regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados predominantemente por população de
baixa renda.
15
Lei n. 12.561/12, Art. 61-A. (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
(Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012). [...]
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm>. Acesso
em: 14 jan. 2019.
16
Diga-se de passagem, reconhecida sua constitucionalidade por maioria pelo STF na ADI 4902,
vencidos Min. Marco Aurélio e Levandowski, e em parte Min Fachin. Disponível em:
<http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4355128>. Acesso em: 14 jan. 2019.
8
Ferrajoli17 esclarece que a discricionariedade judicial é totalmente
distinta da discricionariedade política ou técnica, já que baseada numa atividade
cognitiva e que, de forma alguma, chega a constituir um governo de juízes, conforme
segue:
17
FERRAJOLI, Luigi. Principia iuris: Teoría del derecho y de la democracia. Madrid: Trotta, 2013, p.
75.
18
FERRAJOLI, Luigi. Principia iuris: Teoría del derecho y de la democracia. Madrid: Trotta, 2013, p.
73.
9
Nesse sentido, recentes mudanças processuais trouxeram alguns
institutos visando propiciar segurança jurídica e celeridade às decisões. A busca da
razoabilidade, da proporcionalidade e da eficiência orienta as chamadas súmulas
persuasivas.
19
Lei n. 13.105/2015, Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas
e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior
Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm >. Acesso
em: 14 jan. 2019.
20
Constituição Federal, Art. 103-A, O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por
provocação, mediante reiteradas decisões sobre matéria constitucional, na imprensa oficial, terá
efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em lei. [...]. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 14 jan. 2019.
21
PROCESSUAL – STJ - JURISPRUDÊNCIA - NECESSIDADE DE QUE SEJA
OBSERVADA. O STJ foi concebido para um escopo especial: orientar a aplicação da lei federal e
unificar-lhe a interpretação, em todo o Brasil. Se assim ocorre, é necessário que sua
10
Nesse passo, merece destaque a constatação de que o atual CPC
retirou a regra do livre convencimento motivado como pregava o artigo 131 do
CPC/73, restando o convencimento motivado (art. 371, CPC), em que o
magistrado, quando do julgamento, deve-se pautar nas provas do processo e
também na observância da jurisprudência dos tribunais, sobretudo do STJ e do
STF, já que lhes incumbe a derradeira opinião em matéria infraconstitucional e
constitucional, respectivamente.
jurisprudência seja observada, para se manter firme e coerente. Assim sempre ocorreu em relação
ao STF, de quem o STJ é sucessor, nesse mister. Em verdade, o Poder Judiciário mantém
sagrado compromisso com a justiça e a segurança. Se deixarmos que nossa jurisprudência varie
ao sabor das convicções pessoais, estaremos prestando um desserviço a nossas instituições. Se
nós – os integrantes da Corte – não observarmos as decisões que ajudamos a formar, estaremos
dando sinal, para que os demais órgãos judiciários façam o mesmo. Estou certo de que, em
acontecendo isso, perde sentido a existência de nossa Corte. Melhor será extingui-la. (AgRg nos
EREsp 593.309/DFRS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, CORTE ESPECIAL,
julgado em 26/10/2005, DJ 23/11/2005, p. 154). Disponível em: <
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=
%28%28%22HUMBERTO+GOMES+DE+BARROS%22%29.MIN.%29+E+
%28%22HUMBERTO+GOMES+DE+BARROS
%22%29.MIN.&ementa=NECESSIDADE+DE+QUE+SEJA+OBSERVADA&b=ACOR&thesaurus=J
URIDICO&p=true>. Acesso em: 14 jan. 2019.
11
contentar-se com a simples ocupação ou sustentar que a área do entorno está
amplamente antropizada e de ocupação consolidada, pode trazer questionamentos
à decisão e levar à invalidade por ausência de fundamentação, nos termos do art.
489, § 1º, II, do CPC22.
22
Art. 489. São elementos essenciais da sentença:
[...]
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão, que:
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no
caso; [...]
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm >. Acesso
em: 14 jan. 2019.
23
É importante salientar que a antiga definição de área urbana consolidada prevista no art. 47 da Lei
n. 11.977/09 foi revogada pela Lei n. 13.465/2017. A nova legislação, no art. 11, contemplou, para fins
de regularização fundiária urbana os conceitos de núcleo urbano (inciso I); núcleo urbano informal
(inciso II) e de núcleo urbano informal consolidado (inciso III).
24
ABREU, Pedro Manoel. DESAFIOS POLÍTICOS E MORAIS DO JUIZ E DO SISTEMA DE JUSTIÇA
NA CENA CONTEMPORÂNEA. In: Carla Pife; Francisco R. de Oliveira Neto; Maria Chiara Locai.
(Org.). DIREITO, GLOBALIZAÇÃO E TRANSNACIONALIDADE (Coleção Principiologia Constitucional
e Política do Direito) : TOMO 04. 1ed.Itajaí: Univali, 2018, v. 04, p. 179. Disponível em: <
https://www.univali.br/vida-no-campus/editora-univali/e-books/Documents/ecjs/E-book
%202018%20DIREITO,%20GLOBALIZA%C3%87%C3%83O%20E%20TRANSNACIONALIDADE
%20-%20TOMO%2004.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2019.
12
princípios constitucionais e, ainda, ao abordar a obra de Garapon relata que esse
“destaca o poder crescente da justiça sobre a vida coletiva, de tal modo que nada
mais parece poder escapar ao controle do juiz. O magistrado manifesta-se
crescentemente em todos os setores da vida social. Na vida política, acentuou-se o
ativismo judicial”25.
Por certo, a intenção da Lei da Reurb foi tornar menos rígidas, não o
procedimento de regularização fundiária, mas as normas urbanísticas e ambientais
de forma a compatibilizar a necessidade da preservação do meio ambiente com as
atividades antrópicas já desenvolvidas nas urbes. Para tanto, a lei autoriza o
Município a dispensar os requisitos urbanísticos e edilícios, além de flexibilizar o
dever de recuperação de áreas de preservação permanente, permitindo a
manutenção das moradias de ocupantes de baixa renda e de outras instalações,
priorizando aquelas, distinguindo-as na própria normatização prevista tanto na lei da
Reurb quanto no Código Florestal.
15
recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas” (art. 3o, inciso II).
16
suas normas e flexibilizações não são autoaplicáveis, pelo contrário, a Reurb possui
um procedimento próprio, essencialmente formalista, regulatório e burocrático.
17
Entre estas condicionantes, encontra-se a imperiosa participação dos
entes públicos, principalmente os municipais; a comprovação dos requisitos para o
reconhecimento da consolidação do núcleo urbano informal, inclusive com a
definição de marcos ocupacionais; a imprescindibilidade do estudo técnico
socioambiental a demonstrar de forma pontual as melhorias ambientais
proporcionadas pela Reurb.
18
seriam passíveis de regularização. Tal fato leva a discussões interpretativas e
posicionamentos diversos de ordem prática.
31
MARCHESAN, Ana Maria Moreira. Súmulas: Não se admite a aplicação da teoria do fato
consumado em tema de Direito Ambiental. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, v. 91, n. 23, jul.
2018. Trimestral, p. 660.
32
NEVES, Danial Amorim Assumpção, Novo Código de Processo Civil Comentado, Salvador, Ed.
JusPodivm, 2016, p. 1486.
19
Tribunal de Justiça. Ana Marchesan33 discorre que o “[...]Tribunal da Cidadania
captou a recorrência do argumento do fato consumado em decisões ambientais e,
reiteradamente, passou a se pronunciar contra seu uso nesse ramo do Direito”34. A
autora aduz, ainda, que grande parte das decisões ambientais acolhem, além do
fato consumado ou situação consolidada, os princípios da razoabilidade e/ou da
proporcionalidade, sem um aprofundamento maior na sua aplicação.
33
“Na Promessa, incumprível, de crescimento econômico como mote para o desenvolvimento, o
discurso do fato consumado vem aparecendo – e talvez esmoreça após a edição da Súmula 613 –
como argumento central em diversas ações, como reforço argumentativo ou, na forma mais perversa,
travestido em cânones interpretativos clássicos, sem uma análise criteriosa e corajosa para romper
com o statuo quo [...]”.MARCHESAN, Ana Maria Moreira. Súmulas: Não se admite a aplicação da
teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, v.
91, n. 23, jul. 2018. Trimestral, p. 661.
34
MARCHESAN, Ana Maria Moreira. Súmulas: Não se admite a aplicação da teoria do fato
consumado em tema de Direito Ambiental, 2018, p. 661.
35
Constituição da República, Art. 225. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 14 jan. 2019.
36
Súmula n. 613, Superior Tribunal de Justiça, 2018. Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula
%20adj1%20%27613%27).sub.#TIT1TEMA0>. Acesso em:15 jan. 2019.
37
Os precedentes são: REsp 948.921 (TJSP); AgRg no Rec. Em Mandado de Segurança 28.220
(TJDF); AgRg no REsp 1.497.346 e AgRg no REsp 1.494.681 (TJMS); AgRg no REsp 1.491.027
(TRF5-PB). MARCHESAN, Ana Maria Moreira. Súmulas: Não se admite a aplicação da teoria do fato
consumado em tema de Direito Ambiental. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, v. 91, n. 23, jul.
2018. Trimestral, p. 667.
38
MARCHESAN, Ana Maria Moreira. Súmulas: Não se admite a aplicação da teoria do fato
consumado em tema de Direito Ambiental. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, v. 91, n. 23, jul.
2018. Trimestral, p. 661.
20
simples consolidação da situação no tempo não pode ser suporte fático para tornar
legal uma conduta ilegal em sua origem.
Assim sendo, apesar dos julgados que deram origem à Súmula 613 do
STJ, tratarem inicialmente acerca da não perpetuação da poluição, pode-se indagar
se é válida a sua aplicação aos casos de ocupação em área de preservação
permanente, no sentido de que a teoria do fato consumado não se aplicaria na seara
ambiental como um todo, nele incluído o meio ambiente artificial. Tal fato poderia ser
sustentado em razão de que a existência de edificações de qualquer espécie em
39
AgInt no AgInt no AgInt no AREsp. 747.515/SC, Primeira Turma, Rel. Min. Regina Helena Costa,
DJe 15.10.2018; REsp 1.510.932/MS, Segunda Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, Dje 5.5.2017.
Disponível em: < http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=
%28%22REGINA+HELENA+COSTA
%22%29.MIN.&processo=747515&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true >. Acesso em: 25
fev.2019.
40
PROCESSUAL CIVIL. AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO. PREQUESTIONAMENTO
FICTO. OCORRÊNCIA. APLICAÇÃO DO DISPOSTO NO ART. 1.025 DO CPC DE 2015.
POSICIONAMENTO DA SEGUNDA TURMA EM TORNO DA CONSOLIDAÇÃO DAS NOVAS
TÉCNICAS PROCESSUAIS. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. ZONA URBANA.
APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL. PREJUÍZO AO MEIO AMBIENTE. DIREITO
ADQUIRIDO. TEORIA DO FATO CONSUMADO. CONSOLIDAÇÃO DA ÁREA URBANA.
INAPLICABILIDADE. (...) 3. A proteção ao meio ambiente não difere área urbana de rural, porquanto
ambas merecem a atenção em favor da garantia da qualidade de vida proporcionada pelo texto
constitucional, pelo Código Florestal e pelas demais normas legais sobre o tema. 4. Não há falar em
direito adquirido à manutenção de situação que gere prejuízo ao meio ambiente. 5.
Inaplicabilidade da teoria do fato consumado aos casos em que se alega a consolidação da área
urbana. 6. Recurso especial provido, determinando-se a demolição da construção. (STJ- REsp:
1667087 RS 2017/0085271-2, Relator: Ministro OG FERNANDES, Data de Julgamento: 07/08/2018,
T2- SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 13/08/2018) (grifo nosso). Disponível em: < https://
stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/612117638/recurso-especial-resp-1667087-rs-2017-0085271-2>.
Acesso em: 15 jan. 2019.
21
APP, sem qualquer autorização legal, desrespeitando os critérios técnicos e as
exceções legais de uso, poderia ensejar um notório poder poluidor
41
Lei 13.465/17 Art. 11. Para fins desta Lei, consideram-se:
[...]
§ 2º Constatada a existência de núcleo urbano informal situado, total ou parcialmente, em área de
preservação permanente ou em área de unidade de conservação de uso sustentável ou de proteção
de mananciais definidas pela União, Estados ou Municípios, a Reurb observará, também, o disposto
nos arts. 64 e 65 da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, hipótese na qual se torna obrigatória a
elaboração de estudos técnicos, no âmbito da Reurb, que justifiquem as melhorias ambientais em
relação à situação de ocupação informal anterior, inclusive por meio de compensações ambientais,
quando for o caso. [...]. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2017/Lei/L13465.htm>. Acesso em: 14 jan. 2019.
42
Art. 64. Na Reurb-S dos núcleos urbanos informais que ocupam Áreas de Preservação Permanente,
a regularização fundiária será admitida por meio da aprovação do projeto de regularização fundiária,
na forma da lei específica de regularização fundiária urbana. (Redação dada pela Lei nº 13.465, de
2017) [...]
Art. 65. Na Reurb-E dos núcleos urbanos informais que ocupam Áreas de Preservação Permanente
não identificadas como áreas de risco, a regularização fundiária será admitida por meio da aprovação
do projeto de regularização fundiária, na forma da lei específica de regularização fundiária
urbana. (Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017)
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm >. Acesso
em: 09 out. 2019.
22
seja viável a permanência de edificações em APP sem acarretar novos danos
ambientais, ou minimizá-los ao máximo.
43
Art. 64. Na Reurb-S dos núcleos urbanos informais que ocupam Áreas de Preservação
Permanente, a regularização fundiária será admitida por meio da aprovação do projeto de
regularização fundiária, na forma da lei específica de regularização fundiária urbana. (Redação dada
pela Lei nº 13.465, de 2017)
[...]
§ 2º O estudo técnico mencionado no § 1º deverá conter, no mínimo, os seguintes elementos:
[...]
IV - recuperação de áreas degradadas e daquelas não passíveis de regularização;
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm >. Acesso
em: 09 out. 2019.
44
Art. 64 Na Reurb-S dos núcleos urbanos informais que ocupam Áreas de Preservação Permanente,
a regularização fundiária será admitida por meio da aprovação do projeto de regularização fundiária,
na forma da lei específica de regularização fundiária urbana. (Redação dada pela Lei nº 13.465, de
2017)
[...]
§ 2º O estudo técnico mencionado no § 1º deverá conter, no mínimo, os seguintes elementos:
[...]
V - comprovação da melhoria das condições de sustentabilidade urbano-ambiental, considerados o
uso adequado dos recursos hídricos, a não ocupação das áreas de risco e a proteção das unidades
de conservação, quando for o caso;
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm >. Acesso
em: 09 out. 2019.
23
O equilíbrio na atuação dos três poderes, quando da motivação de
seus atos administrativos, encontra na utilização da sustentabilidade45, como
premissa, respeitando as suas diversas dimensões.
Considerações Finais
49
FREITAS, Juarez, Sustentabilidade: Direito ao futuro, 2 ed. Belo Horizonte, Fórum, 2016, p. 62 et
seq.
25
áreas de preservação permanente, são exceções legais às regras gerais de
proteção de APP e, em tese, confronta diretamente com a não aceitação da teoria
do fato consumado em tema relacionado a direito ambiental, previsto na Súmula 613
do STJ, pois perpetuam as ocupações.
26
Uma vez aplicados os parâmetros de sustentabilidade e verificada a
impossibilidade de regularização, deve ser aplicada a Súmula n. 613 em seus
inteiros termos.
27
BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade: Para uma teoria geral da política.
14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. Tradução de: Marco Aurélio Nogueira.
29
busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/buscaForm.do#resultado_ancora>. Acesso em: 14
jan. 2019.
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