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UNIVERSIDADE ROVUMA

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SÓCIAS

CURSO DE LICENCIATURA EM ANTROPOLOGIA 4 ANO

CADEIRA: ANTROPOLOGIA URBANA

Resumo sobre etnografias urbanas

Docente: PhD António A. Maia

Nome: Adilson Rabeca, Carmen Milton, Nádia Jacinto, Olímpio António.

O MÉTODO ETNOGRÁFICO

As categorias

As categorias pedaço, mancha, trajecto, pórtico e circuito serão retomadas a seguir, com mais
detalhes. Começando pela primeira delas e, tendo em vista as linhas que abriu para a formulação
das demais categorias, designa aquele espaço intermediário entre o privado (a casa) e o público,
onde se desenvolve uma sociabilidade básica, mais ampla que a fundada nos laços familiares,
porém mais densa, significativa e estável que as relações formais e individualizadas impostas
pela sociedade. Pessoas de pedaços diferentes, ou alguém em trânsito por um pedaço que não o
seu, são muito cautelosas: o conflito, a hostilidade estão sempre latentes, pois todo lugar fora do
pedaço é aquela parte desconhecida do mapa e, por tanto, do perigo, os símbolos, normas e
vivências permitem reconhecer as pessoas diferenciando-as; que termina por atribuir-lhes uma
identidade que pouco tem a ver com a produzida pela interpelação da sociedade mais ampla e
suas instituições.

Pesquisas, como também foi mostrada, permitiu a aplicação da categoria para outros contextos
para além da vizinhança.

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As manchas podem ser caracterizadas como áreas contiguas do espaço urbano dotadas de
equipamentos que marcam seus limites e viabilizam - cada qual com sua especificidade,
competindo ou complementando - uma actividade ou prática predominante:

Numa mancha de lazer os equipamentos podem ser bares, restaurantes, cinemas, teatros, o café
da esquina, os quais, seja por competição seja por complementação, concorrem para o mesmo
teto: constituir pontos de referência para a prática de determinadas actividades. Já uma mancha
caracterizada por actividades de saúde geralmente se constitui em torno de uma instituição do
tipo âncora.

Se a qualquer momento os membros de um pedaço podem eleger outro espaço como ponto de
referência e lugar de encontro, a mancha, ao contrário, resultado da relação e de fronteiras que
diversos estabelecimentos e equipamentos estabelecem entre si, está mais ancorada na paisagem
do que nos eventuais frequentadores. Assim, a mancha é mais aberta, acolhe um número maior e
mais diversificado de usuários e oferece a eles possibilidades de encontro.

Trajectos, aplicam-se a fluxos recorrentes no espaço mais abrangente da cidade e no interior das
manchas urbanas: é a extensão e, principalmente, a diversidade do espaço urbano além do bairro
que colocam a necessidade de deslocamentos, não aleatórios, por regiões mais distantes. Os
trajectos levam de um ponto a outro através dos pórticos: espaços, marcos e vazios na paisagem
urbana que configuram passagens, pois já não pertencem ao pedaço ou mancha de cá, mas ainda
não se situam nos de lá; além de constituírem espaços de transição, podem representar perigo,
pois são preferidos por figuras liminares e para a realização de rituais mágicos, lugares sombrios
que é preciso cruzar rapidamente...

Sobre as viagens dos barcos-recreio no Rio Amazonas: os pontos de embarque, os piers, entre a
terra e o rio, foram considerados pórticos, com suas regras próprias de permanência. Durante a
madrugada eram lugares perigosos para alguém de fora, mas não para algumas categorias
profissionais como os trabalhadores dos barcos ou até mesmo para. Moradores de rua
de Manaus, um pórtico que não deixa o circuito. Designa uma prática ou a oferta de determinado
serviço por meio de estabelecimentos, espaços e equipamentos que não mantêm entre si uma
relação de contiguidade espacial. A sociabilidade que possibilita por meio de encontros,

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comunicação e manejo de códigos é mais diversificada e ampla do que na mancha ou pedaço
com suas fronteiras ou localizações bem delimitadas:

O circuito une até espaços e equipamentos para além da cidade ou mesmo do país.

Procedimentos

Entretanto, toda essa discussão em torno da Antropologia, Sua aplicação, contudo, depende de
alguns procedimentos, e o primeiro deles que desenvolvi em artigo na revista Horizontes
Antropológicos (MAGNANI, 2009) - distingue a etnografia como "experiência" e como "prática.
A primeira alude a uma visão corrente sobre o fazer antropológico, com base em insights
reveladores em campo. Descreve essa atitude de se deixar afectar pelos imprevistos em campo,
pelas pistas apontadas pelos interlocutores. Já a prática etnográfica aponta para um aspecto
muitas vezes negligenciado ou deixado de lado: a cuidadosa preparação antes de partir para o
campo, a construção do projecto, a consulta à bibliografia já publicada, a busca de
contactos prévios.

O segundo procedimento, que estabelece a aproximação ao campo sintetizada na fórmula "de


perto e de dentro: diferentemente do que ocorre com abordagens voltadas para escalas macro, o
método etnográfico caracteriza-se como uma perspectiva "micro. Esta aproximação é tributária
da observação participante.

Vale principalmente para as primeiras entradas em campo, quando ainda não se tem muita ta-
miliaridade com o tema do trabalho. Anotados no caderno de campo à medida que são
observados, esses registos, diálogos com os interlocutores, uma frase chamativa aqui, outra
acolá, particularidades de género, detalhes do entorno, fotos, algum desenho - vão ser passados a
limpo, transcritos. E complementados nos sucessivos relatos de campo, então já. Num texto
ainda sem muita pretensão teórica, mas já com algum encadeamento, uma primeira narrativa.

Para concluir esta parte do livro, que começa na Antiguidade repassando as sucessivas
denominações derivadas dos encontros com o Outro, até chegar aos desafios impostos pela
escala e complexidade das cidades contemporâneas onde o Outro pode estar ao lado, mas ainda

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separado por diferenças de classe social, género, raça, faixa etária, entre outros marcadores, cabe
ressaltar o papel da Antropologia nessas trajectórias.

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