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Linhas da Cidade
Somos feitos de linhas, indivíduos ou grupos, escreveu Gilles Deleuze. Uma vida consiste no
entrelaçamento de linhas — as que nos inscrevem ou estabilizam, as que carreiam transformações ou as que
todo o tempo nos atraem para o imprevisível (“linhas de fuga”). Os movimentos ao longo das linhas
compõem redes ou rizomas, conjuntos sempre extensíveis em que os pontos são nós e que se inscrevem no
espaço aberto de multiplicidades e conexões. Pensar em termos de rizoma gera uma epistemologia que toma
os fenômenos que estudamos como processos, arranjos transitórios de linhas que se lançam em múltiplas
direções. Tim Ingold, inspirado pelo pensamento do rizoma na obra de Deleuze e Guattari, se propõe a fazer
um estudo da vida das linhas.
Na Antropologia — apesar da ênfase em modelos sedentários que predominou no passado e que em
algum grau hoje persiste — em vários momentos emergiu um pensamento da rede/rizoma. Os grupos sociais
são móveis, cada qual com sua dinâmica entre a estase e a variação. Marcel Mauss viu nas trocas de
presentes em grupos não-ocidentais entrelaçamentos pelos nós da reciprocidade formando circuitos de
“prestações totais” nunca totalizadas, em constante processo e mergulhados numa “atmosfera de liberdade e
obrigação”. Assim também Victor Turner (a partir do trabalho de Arnold Van Gennep sobre os ritos de
passagem) com o conceito de liminaridade, por exemplo, e Marc Augé com a concepção de não-lugares,
além de outras experimentações.
Assinale-se que a etnografia, método que floresceu na Antropologia e que tem sido praticado em
muitos outros campos, como na Sociologia e na Comunicação, tem se mostrado, com os problemas férteis
que coloca à atividade de pesquisa e pelos modos participativos que propõe, especialmente adequada para dar
conta das dinâmicas das linhas.
Muito importante ainda para nossas preocupações no curso, notemos que o campo da Comunicação,
que se constituía no início do século XX, recepcionou o pensamento do rizoma desde essa época em algumas
construções do interacionismo simbólico no contexto da Escola de Chicago, a partir microssociologia de
Gabriel Tarde e com o pensamento de C. H. Cooley. A teoria ator-rede, que trabalha com um campo em
movimento, tem informado muitas pesquisas em Comunicação.
Percebe-se, finalmente, que se possa falar em linhas da cidade. Como busquei explorar em muitos
trabalhos, a cidade emerge como fenômeno de comunicação, relação e transação. Em seu melhor, o meio
urbano heterogêneo gera um tipo de trânsito, uma dinâmica das linhas em que somos impelidos por
transformações, desvios, numa lógica de micro-limiares e do imprevisível. Na cidade a rede/rizoma se realiza
não menos nas infraestruturas que a atravessam e compõem. Em nosso curso nos interessam sobretudo as
redes de transporte coletivo. Vamos estudar etnografias dos espaços públicos e dos modais de transporte.
Nosso trabalho se desenvolve basicamente em três movimentos, que descrevo abaixo associados com
parte da bibliografia.
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escola de Comunicação – Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Linha: Mídia e Mediações Socioculturais
Disciplina: ECS748/ECS848 – Comunicação e Sociedade
Profs.: Janice Caiafa Turma: 9335/15315
Horário: Quarta-feira, 13h30 às 16h30 Carga Horária: 60 horas/aula
Créditos: 4.0 Grupo: Campos Fundamentais Curso: Mestrado e Doutorado - Eletiva
Os alunos deverão entregar um trabalho final que tematize as questões do curso e utilize a bibliografia
estudada.
BRAGA, J. L. Cap. 10. O que a comunicação transforma? In: BRAGA, J. L.; FERREIRA, J.; FAUSTO
NETO, A.; GOMES, P. G. (Org.). 10 perguntas para a produção de conhecimento em comunicação. São
Leopoldo, R.S.: Ed. UNISINOS, 2019.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Introduction: Rhizome. Mille Plateaux. Capitalisme et Schizophrénie. Paris:
Les Éditions de Minuit, 1980
———— 1440 – Le Lisse et le Strié. Mille Plateaux. Capitalisme et Schizophrénie. Paris: Les Éditions de
Minuit, 1980
[Volumes 1 e 5 da edição brasileira]
INGOLD, T. Lines: a Brief History. London and New York: Routledge, 2007.
SODRÉ, M. Pensando a sociedade incivil, suas manifestações e alternativas: entrevista concedida a Pedro
Barreto Pereira. Revista Mídia e Cotidiano, Vol. 14, N. 3, set/dez de 2020.
TURNER, V. The Forest of Symbols. Ithaca and London: Cornell University Press, 1970.
Etnografias e Cartografias
CAIAFA, J. Sobre a etnografia e sua relevância no campo da comunicação. Questões Transversais. Revista
de Epistemologias da Comunicação, Vol. 7, N. 14, julho-dezembro 2019.
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escola de Comunicação – Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Linha: Mídia e Mediações Socioculturais
Disciplina: ECS748/ECS848 – Comunicação e Sociedade
Profs.: Janice Caiafa Turma: 9335/15315
Horário: Quarta-feira, 13h30 às 16h30 Carga Horária: 60 horas/aula
Créditos: 4.0 Grupo: Campos Fundamentais Curso: Mestrado e Doutorado - Eletiva
KASTRUP, V. O método da cartografia e os quatro níveis da pesquisa intervenção. In: CASTRO, L. R. de;
BESSET, V. L. (Org.). Pesquisa-intervenção na infância e juventude. Rio de Janeiro: Nau, 2008.
OLIVEIRA, T. da C. Uma festa nos subúrbios cariocas: pessoas e coisas em torno de Cosme e Damião. GIS-
Gesto, Imagem e Som – Revista de Antropologia, Vol. 3, N. 1, julho 2018.
Redes Urbanas
CAIAFA, J. Cap. 9: Trocando de linha. Trilhos da cidade: viajar no metrô do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
7Letras, 2013.
————— Comunicação, tecnologia e território no metrô de São Paulo. Revista Mídia e Cotidiano, Vol.
12, N. 1, abril de 2018.
————— Comunicação, subjetividade e transporte nas cidades. Novos Olhares, Vol. 8, N. 1, 2019.
PAROCHIA, D. Quelques aspects historiques de la notion de réseau. Flux, N. 62, Octobre-Décembre 2005.
PICON, A. Os limites da inteligência: sobre os desafios enfrentados por cidades inteligentes. Revista Eco-
Pós, Comunicação Urbana, Vol. 20, N. 3, 2017.
SENNET, R. The Open City. LSA Cities. Essays/Urban Ages, Nov. 2006.
BATESON, G. Steps to an Ecology of Mind. Chicago and London: The University of Chicago Press, 200.
BRAGA, A. Sociabilidades digitais e a reconfiguração das relações sociais. Desigualdade & Diversidade –
Revista de Ciências Sociais da PUC-Rio, N. 9, ago/dez 2011.
BURROWES, P.; MACHADO, M.; RETT, L. Perspectivas (anti)metodológicas na pesquisa dos estudos de
consumo: aproximações entre cartografia, etnografia e pesquisa performativa. Texto apresentado no 32o
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escola de Comunicação – Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Linha: Mídia e Mediações Socioculturais
Disciplina: ECS748/ECS848 – Comunicação e Sociedade
Profs.: Janice Caiafa Turma: 9335/15315
Horário: Quarta-feira, 13h30 às 16h30 Carga Horária: 60 horas/aula
Créditos: 4.0 Grupo: Campos Fundamentais Curso: Mestrado e Doutorado - Eletiva
Encontro Anual da COMPÓS, São Paulo, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, 3 a 7 de julho de
2023.
CAIAFA, J. Parte 2. Cap. 1. A pesquisa etnográfica. Aventura das cidades: ensaios e etnografias. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2007.
CLASTRES, P. Crônica dos índios Guayaki. O que sabem os Aché, caçadores nômades do Paraguai.
Tradução Tânia Stolze Lima e Janice Caiafa. Rio de Janeiro: editora 34, 2020
DUPUY, G. L’urbanisme des Réseaux. Théories et méthodes. Paris: Armand Colin Éditeur, 1991
FRÚGOLI Jr, H. Pesquisas etnográficas e vivências: um olhar sobre a cidade de São Paulo. Ponto Urbe.
Revista do núcleo de antropologia urbana da USP, N. 18, 2016.
HYDE, Lewis. The Gift. Imagination and the Erotic Life of Property. New York: Vintage Books, 1983.
INGOLD, T. The Life of Lines. London and New York: Routledge, 2015.
LATOUR, B. Jamais fomos modernos. Tradução Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: editora 34, 1994.
LEMOS, A.; JOSGRILBERG, F (Org.). Comunicação e mobilidade: aspectos socioculturais das tecnologias
móveis de comunicação no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2009.
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escola de Comunicação – Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Linha: Mídia e Mediações Socioculturais
Disciplina: ECS748/ECS848 – Comunicação e Sociedade
Profs.: Janice Caiafa Turma: 9335/15315
Horário: Quarta-feira, 13h30 às 16h30 Carga Horária: 60 horas/aula
Créditos: 4.0 Grupo: Campos Fundamentais Curso: Mestrado e Doutorado - Eletiva
SÁ, G. J. da S. E. Estar ciente e fazer ciência: sobre encontros e transformações. Campos, Vol. 10, N. 1,
2009.
SCHÉRER, R. A humanidade múltipla e suas trocas. Entrevista a Janice Caiafa. Revista Eco-Pós,
Comunicação Urbana, Vol. 20, N. 3, 2017.
TARDE, G. Les lois sociales. Vol. IV, Esquisse d’une sociologie. Institut Synthélabo, 1999.
WAGNER, Roy. A invenção da cultura. Tradução Marcela Coelho de Souza e Alexandre Morales. São
Paulo: Cosac Naufy, 2010.