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Hugo Marques
GEG, Porto, Portugal, hmarques@geg-engineering.com
José Cunha
GEG, Porto, Portugal, jcunha@geg-engineering.com
Manuel Cardoso
GEG, Porto, Portugal, mcardoso@geg-engineering.com
Resumo
O presente artigo procura descrever o processo de analise e caracterização da estrutura existente bem
como a avaliação do impacto das alterações necessárias e respetivas soluções estruturais propostas.
Este icónico edifício da cidade do Porto foi projetado pelo arquiteto Márcio Freitas em 1969 para a
sede do Jornal de Notícias e junta-se às torres próximas do lado Norte da Rua de Gonçalo Cristóvão
(1962) e do Hotel D. Henrique (1965). Constituído por uma torre de escritórios assente sobre um pódio
destinado às rotativas do jornal, destaca-se na silhueta da cidade conjugando coerentemente o uso
com a sua forma, exibindo alçados diversificados e protagonizados pelas molduras em granito
salientes. Expõe ainda a arte urbana de Charters de Almeida para o viaduto que se eleva do solo. Se,
no passado, a sua construção obrigou à demolição da Escola Prática Comercial Raul Dória, no futuro,
permitirá a sua renovação como unidade hoteleira de luxo e, no topo, um volume de vidro, com um
restaurante com vista sobre a cidade [1].
O edifício de tardoz será demolido e no seu lugar surgirá um novo volume com quartos nos pisos
elevados e áreas técnicas nos pisos enterrados. A realização destas caves numa área consolidada e
junto à torre existente revela-se especialmente complexa.
A intervenção projetada procurou adaptar e prolongar a vida útil desta estrutura que tem
características singulares e cuja conservação permitirá preservar este edifício tão marcante da cidade
do Porto para usufruto de todos.
1 INTRODUÇÃO
No presente artigo procura-se descrever as estruturas do edifício existente, ainda em funcionamento,
e que se pretende preservar e reabilitar. É ainda apresentada a proposta para a estrutura do novo
volume que vai substituir o edifício onde se realizava a impressão dos jornais, permitindo assim a
adaptação do espaço de modo a funcionar no futuro como unidade hoteleira. A intervenção prevista
pretende ainda devolver a este imóvel uma imagem de destaque na silhueta da cidade do Porto.
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Para apoiar a intervenção na estrutura existente, além do levantamento geométrico, teve-se por base
os elementos originais do projecto obtidos nos arquivos do município e fotografias que registam a
evolução da construção. Foi realizada ainda uma campanha de prospeção geológico geotécnica.
A BeC
O edifício A é composto por uma estrutura de betão armado com 18 pisos elevados e 2 pisos
enterrados, com diferentes áreas, sendo os pisos do embasamento maiores. O edifício apresenta um
bom estado de conservação, não tendo sido identificada qualquer patologia grave em todas as visitas
realizadas com o edifício ainda em funcionamento. No entanto, oportunamente, uma inspeção mais
aprofundada terá lugar após remoção dos revestimentos. A estrutura do edifício é caracterizada por
pórticos espaciais em betão armado que estão ligados pelas lajes e vigas às paredes do núcleo de betão
armado. Os pavimentos são constituídos por lajes com nervuras e espessura constante de 0,27m,
apoiadas em vigas rasas no interior e vigas aparentes na periferia (‘Fig. 3’).
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Na memória descritiva do projeto original está referido que a fim de aumentar a rigidez global
horizontal do Edifício, foram consideradas vigas diagonais de betão de cada um dos lados do edifício
desde os níveis da cave até o nível 11, conforme ilustrado na ‘Fig. 4’.
O betão adotado na superestrutura do edifício apresenta uma resistência com 180 K/cm2 a uma idade
t> 7 dias (‘Figs. 5 e 6’), correspondente ao betão B225 de acordo com o REBA [2] (1967) e cujas
propriedades são semelhante às do betão da classe C20/25 de acordo com NP EN 1992-1-1[3].
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As características do betão adotado nas fundações do edifício e nas paredes de contenção apresentam
características de resistência mais baixas, 150 K/cm2 para uma idade t> 7 dias (‘Fig. 7’). As
características são semelhantes ao betão da classe C16 /20 de acordo com a norma NP EN 1992-1-1[3].
Em relação às armaduras estas são nervuradas e da classe A40T [1] o que corresponde sensivelmente
à classe A400NR (E449) (‘Fig. 8’).
No que diz respeito às fundações estas são constituídas por fundações isoladas com forma tronco-
piramidal invertida, tipo poço (‘Fig.9’). Os alinhamentos de pilares mais próximos do talude para a linha
de metro da estação da Trindade são travados por vigas lintel.
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3.1 Edifício A
Em termos funcionais o edifício A, além de albergar a receção, vai ser ocupado essencialmente com
quartos e no topo serão adicionados dois pisos, suportados por uma estrutura metálica, nos quais
funcionará um bar e restaurante panorâmico integrados num volume de vidro. Por forma a reduzir as
forças transmitidas à estrutura existente, a solução foi desenvolvida com o objetivo de reduzir ao
máximo o peso próprio da estrutura. Assim, adotou-se para ambos os pisos, uma solução de lajes
mistas com recurso a chapa colaborante com espessura total de 0,13m apoiada em perfis metálicos
(secções da família HEA ou HEB) ou nas estruturas existentes de betão (Fig. 11’).
Alem destes pisos, no Edifício A, a principal intervenção resulta da necessidade de incorporar uma
caixa de escadas de emergência adicional e a demolição de parte das lajes existentes. Em certas zonas
as lajes tiveram que ser reforçadas com vigas metálicas, que por sua vez serão ligadas às vigas e pilares
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existentes. A nova escada de emergência será composta por pilares e vigas metálicas e serão
contraventada pelas lajes da estrutura existentes.
Ao nível do piso 0 e caves serão introduzidos mezaninos técnicos que também são realizados com
recurso a estrutura mista. A pala da entrada também será demolida e reconstruída em estrutura
metálica com um novo desenho.
Em termos de carregamento o valor da sobrecarga associada a uma ocupação equivalente a quartos
de hotel é inferior à sobrecarga a considerar no caso de escritórios, o que resulta numa redução teórica
dos valores das sobrecargas atuantes na estrutura após a requalificação em curso. Atendendo a este
facto e apesar de serem adicionados dois pisos ao nível da cobertura, o somatório das sobrecargas
considerando todos os pisos do edifício, é semelhante ao valor assumido no projeto original.
Apesar do descrito optou-se por aplicar soluções de reforço ao nível de algumas das fundações
existentes garantindo-se assim o seu recalçamento, conforme será descrito adiante, que irá viabilizar
a escavação das novas caves na sua imediata vizinhança.
A estabilidade global do edifício é garantida pelos núcleos rígidos de betão e o funcionamento conjunto
com os diafragmas rígidos constituídos pelas lajes dos diversos pisos. O edifício apresenta ainda 3 caves
enterradas.
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O layout de arquitetura para o piso 0 é bastante diferente dos pisos superiores. A estrutura ao nível
do piso 1 é, por isso, também distinta dos restantes pisos de modo a realizar a transferência de cargas
dos pilares dos pisos superiores para uma malha de apoios completamente distinta nos pisos
inferiores. Várias opções foram estudadas e para controlar eficazmente as deformações ocasionadas
pela supressão dos pilares na periferia e a solução adotada consistiu na introdução de uma laje de
transferência. Esta laje é formada por uma grelha de vigas altas, lançadas em duas direções ortogonais,
e apoiada no canto sudoeste por um pilar em betão com uma forma tronco cónica.
As vigas em betão armado que constituem a grelha de suporte do piso de transferência apresentam
secções diversas e alturas que variam entre 1,00m e 1,40m (‘Fig. 13’).
O pilar do canto sudoeste, atendendo à sua localização e enquadramento arquitetónico, tem uma
forma singular e tem sobretudo de garantir o bom desempenho estrutural, já que se trata de um
elemento fulcral no sistema proposto (‘Fig. 14’). Este pilar recebe, ao nível do piso 0, uma carga vertical
de aproximadamente 23 300 kN em Estado Limite Último.
Atendendo a todos os requisitos que este elemento deve obedecer, tanto estruturais como
arquitetónicos e construtivos, a forma final resultou numa combinação de paredes laterais com 0,25m
de espessura que materializam as formas curvas das quatro faces, complementada com quatro septos
interiores com espessura de 0,25m, que conferem a rigidez e estabilidade ao conjunto e que por sua
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vez se ligam a um núcleo com secção maciça 1,35x1,35m2 que se prolonga desde o piso 1 até ao nível
da fundação (‘Fig. 15’).
4 SOLUÇÕES DE REFORÇO
Por forma a garantir a transferência das forças da estrutura existente às novas microestacas, houve
ainda necessidade de recorrer à aplicação de pré-esforço e uma betonagem complementar, conforme
ilustrado na ‘Fig. 17’. Os varões de pré-esforço terão de transmitir à estrutura uma força útil de
aproximadamente 1200kN para mobilizar o atrito necessário.
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Figura 19 – Planta do piso 02 com localização dos perfis de reforço e esquema de apoio
5 CONCLUSÕES
Neste artigo procurou-se apresentar as estruturas existentes que serão reabilitadas bem como as
novas estruturas que irão conferir uma nova funcionalidade ao edifício. Descreveram-se as principais
soluções adotadas, que recorreram a diferentes materiais e conceitos estruturais, permitindo obter o
resultado final apresentado.
É de realçar ainda que a utilização da metodologia BIM revelou-se fundamental ao longo das diferentes
fases de projeto. Por um lado, tendo por base um levantamento preliminar das estruturas existentes,
foi possível identificar todas as demolições e impacto das mesmas. Esta foi também uma ferramenta
fundamental na coordenação dos projetos das diferentes especialidades e arquitetura garantindo-se
que as soluções são compatíveis e que antecipadamente foram resolvidos os conflitos mais
significativos.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à equipa de arquitectura OODA a oportunidade de colaboração neste projecto
desafiante.
REFERÊNCIAS
[1] OODA. (2019) Concept Design JN Hotel 61 p.
[2] REBA (1967) – Regulamento de Estruturas de Betão Armado - decreto nº47723. Diário do
Governo, I Série, nº 19 de 20 de maio de 1967.
[3] NP EN 1992-1-1. 2010, Eurocódigo 2 – Projeto de estruturas de betão. Parte 1-1: Regras gerais e
regras para edifícios. Lisboa: IPQ. 259 p.
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