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MUDANÇAS CAUSADAS PELA NOVA ROTULAGEM NUTRICIONAL DOS


ALIMENTOS EMBALADOS: REVISÃO

Chapter · March 2022


DOI: 10.53934/9786599539657-35

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Jenisson Linike Costa Gonçalves Matheus Péricles Silva Láscaris


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Capítulo 35

MUDANÇAS CAUSADAS PELA NOVA ROTULAGEM


NUTRICIONAL DOS ALIMENTOS EMBALADOS: REVISÃO
Jenisson Linike Costa Gonçalves1; Carolina Natalie Fontes Arôxa2, Matheus Péricles Silva
Láscaris3, Maria Terezinha Santos Leite Neta4

1
Estudante do Curso de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos – PROCTA – UFS; E-
mail: jenissonlinike@gmail.com, 2Estudante do Curso de Engenharia de Alimentos – CCET – UFS; E-
mail: carolzinha_aroxa@hotmail.com; , 3Estudante do Curso de Engenharia de Alimentos – CCET –
UFS; E-mail: matheus1709@hotmail.com; 4Docente/pesquisador do Programa de Pós-graduação em
Ciência e Tecnologia de Alimentos – PROCTA – UFS. E-mail: terezinhaleite@gmail.com.

Resumo: A rotulagem nutricional de alimentos embalados é fundamental para promoção


de saúde pública, da alimentação adequada e saudável e para o combate à obesidade e às
doenças crônicas não transmissíveis. Apesar disso, as informações utilizadas nos rótulos
dos alimentos podem ser de difícil entendimento ao consumidor, gerando dúvida quanto
à saudabilidade dos mesmos. Nesse contexto, se faz necessário o uso de informações de
fácil entendimento para leigos, como a rotulagem nutricional frontal (front-of-pack),
utilizada em mais de 40 países e aprovada no Brasil através da Resolução RDC Nº
429/2020 (rotulagem nutricional dos alimentos embalados) e da Instrução Normativa Nº
75/2020 (requisitos técnicos para declaração da rotulagem nutricional nos alimentos
embalados). Diante do exposto, o objetivo da presente revisão foi comparar a nova
legislação para rotulagem nutricional de alimentos embalados e as resoluções revogadas,
com foco nas mudanças ocorridas na tabela de informação nutricional, nas alegações
nutricionais e a introdução da rotulagem nutricional frontal nos rótulos dos alimentos.
Foram observadas diversas alterações com relação ao âmbito de aplicação, valores diários
de referência (VDR) dos nutrientes de declaração obrigatória, conteúdo e regras de
formatação da tabela nutricional e da rotulagem nutricional frontal, adição ou alteração
de critérios de composição para determinados nutrientes e seus atributos nutricionais,
entre outros. A nova rotulagem nutricional de alimentos embalados representa um grande
avanço no marco regulatório de alimentos, mas trará muitos desafios aos profissionais,
órgãos fiscalizadores e para sociedade.

Palavras–chave: Alegações nutricionais; rotulagem nutricional frontal; rótulos de


alimentos; tabela de informação nutricional.

INTRODUÇÃO

A alimentação humana pode ser considerada um fator essencial para determinação


da qualidade de vida de uma população, pois a disponibilidade de nutrientes essenciais
interfere diretamente na saúde dos indivíduos (1). O padrão de consumo alimentar no
Brasil e no mundo é mutável ao longo dos anos, por diversos fatores como demanda,

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renda, urbanização e globalização (1). Com a crescente inserção da mulher no mercado
de trabalho, houve uma notável mudança na disponibilização de alimentos pela indústria,
que passou a fornecer uma grande quantidade de produtos pré-preparados ou prontos para
consumo, com altos níveis de açúcares, gorduras e sódio (1). Isso ocorreu em razão da
redução do tempo disponível para o preparo de refeições de maneira tradicional, com
grande parte das refeições sendo feitas fora de casa, o que induz ao consumo de alimentos
industrializados de rápida preparação em detrimento de alimentos in natura e
minimamente processados (2).

Essa diferença de comportamento alimentar pode ser exemplificada pela pesquisa


de orçamentos familiares (2008-2009) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), que traz uma análise do consumo alimentar pessoal no Brasil, a qual
mostrou que as médias de consumo per capita/dia para população da zona rural foram
muito maiores para alimentos como arroz, feijão, batata-doce, mandioca, farinha de
mandioca, manga, tangerina, peixes frescos, peixes salgados e carnes salgadas, enquanto
que para população da zona urbana, destacaram-se os produtos alimentícios prontos para
consumo ou processados, como pão de sal, biscoitos recheados, iogurtes, vitaminas,
sanduíches, salgados fritos e assados, pizzas, refrigerantes, sucos e cerveja (2).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há uma forte relação entre esse
padrão de consumo alimentar e problemas de saúde que envolvem alimentação e nutrição,
o que é evidenciado pelo aumento de casos de obesidade, doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT) e alergias alimentares (3). Diante desse cenário, é evidente a
necessidade de estratégias de promoção da saúde que englobem uma alimentação
adequada e saudável, a fim de reverter o atual perfil epidemiológico (4) (5).

Ações regulatórias figuram entre as estratégias que podem ser utilizadas para
promoção da saúde, e nesse caso, a legislação de alimentos é fundamental para mudanças
efetivas. O padrão de consumo da população muda em função do tempo e o mesmo ocorre
com os regulamentos técnicos de identidade e qualidade dos alimentos e da rotulagem
dos mesmos (6). Devido ao seu impacto, a rotulagem nutricional dos alimentos embalados
passou a ser utilizada como instrumento para promoção de saúde pública, para promoção
da alimentação adequada e saudável e para o combate à obesidade e DCNT (7), tendo a
sua primeira resolução completa publicada em 2003 pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) com a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 360/03 -
Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados (8).

Apesar dos avanços, a linguagem utilizada nos rótulos pode ser de difícil
entendimento para os consumidores (9), o que alerta para a necessidade da utilização de
informações mais claras e de fácil entendimento para leigos, a exemplo da rotulagem
nutricional frontal (front-of-pack, FOP) que já é utilizada em mais de 40 países, como
Chile, Peru, Uruguai, Equador e Bolívia, e no Brasil, foi aprovada através da RDC Nº 429
(Dispõe sobre a rotulagem nutricional dos alimentos embalados) e da Instrução
Normativa Nº 75 (Estabelece os requisitos técnicos para declaração da rotulagem
nutricional nos alimentos embalados), ambas de 8 de outubro de 2020, as quais entram
em vigor 24 meses após a publicação (10) (11). Diante disso, o objetivo da presente
revisão foi trazer uma comparação entre a nova legislação para rotulagem nutricional de
alimentos embalados e das resoluções revogadas, com foco em exemplificar as mudanças

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ocorridas na tabela de informação nutricional, nas alegações nutricionais e a introdução
da rotulagem nutricional frontal nos rótulos dos alimentos.

NOVA ROTULAGEM NUTRICIONAL DOS ALIMENTOS EMBALADOS

A rotulagem nutricional é toda declaração com objetivo de informar ao


consumidor sobre as propriedades nutricionais do alimento, englobando a tabela de
informação nutricional, a rotulagem nutricional frontal e as alegações nutricionais (10).
Com a publicação da RDC nº 429/2020 ocorreram muitas mudanças nas regras da
rotulagem nutricional, e dessa forma, as seguintes resoluções foram revogadas, em sua
totalidade: RDC nº 359/2003 (regulamento técnico de porções de alimentos embalados
para fins de rotulagem nutricional) (12), RDC nº 360/ 2003 (regulamento técnico sobre
rotulagem nutricional de alimentos embalados) (8), RDC nº 163/2006 (complementação
das resoluções RDC nº 359/2003 e RDC nº 360/2003) (13), RDC nº 48/2010 (fator de
conversão para o cálculo do valor energético do eritritol) (14) e RDC nº 54/2012
(regulamento técnico sobre informação nutricional complementar) (15).

A RDC nº 429/2020 que dispõe sobre a rotulagem nutricional dos alimentos


embalados se aplica a todos os alimentos embalados na ausência do consumidor, inclusive
bebidas, ingredientes, aditivos e coadjuvantes de tecnologia, estando incluídos aqueles
destinados exclusivamente ao processamento industrial ou aos serviços de alimentação
(10). A resolução divide-se em 6 capítulos: disposições preliminares, da tabela de
informação nutricional, da rotulagem nutricional frontal, das alegações nutricionais, da
determinação do conteúdo de constituintes da rotulagem nutricional, disposições
transitórias. Este último traz os prazos a serem cumpridos, os itens de outras resoluções e
portarias que tiveram sua redação modificada; os itens e as resoluções revogadas (10).

Âmbito de Aplicação

Anteriormente, o regulamento técnico de rotulagem nutricional não se aplicava ao


sal (cloreto de sódio), aos aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia, o que foi
modificado pela nova RDC nº 429/2020. As demais categorias as quais não necessitavam
de rotulagem nutricional, passaram a ter aplicação de forma voluntária, com exceção das
águas minerais naturais e as demais águas de consumo humano, desde que não tenham
adição de nutrientes essenciais, substâncias bioativas, alegações nutricionais ou de
propriedades funcionais e de saúde. A declaração de tabela de informação nutricional
passa a ser obrigatória para aqueles produtos destinados exclusivamente ao
processamento industrial e aos serviços de alimentação (8) (10).

Tabela de Informação Nutricional

A tabela de informação nutricional é a relação padronizada do conteúdo


energético, de nutrientes e de substâncias bioativas presentes no alimento, podendo estar
no rótulo do alimento em seus modelos vertical e horizontal, suas versões quebradas, no
modelo linear e no modelo agregado (10) (11). As mudanças na tabela nutricional incluem
a lista de nutrientes de declaração obrigatória, que passou a ter açúcares totais e açúcares
adicionados, além de valor energético, carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras

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saturadas, gorduras trans, fibra alimentar e sódio, que já constavam anteriormente. Em
algumas categorias de alimentos se faz necessário a declaração de outros nutrientes como
para sal hipossódico, alimentos para fins especiais, suplementos alimentares, alimentos
para dieta com restrição de lactose, sal iodado, farinhas de trigo e de milho enriquecidas
com ferro e ácido fólico, fórmulas dietoterápicas para erros inatos do metabolismo; devem
ser observadas as especificidades de cada caso (8) (10) (11).

Os valores diários de referência (VDR) dos nutrientes de declaração obrigatória


tiveram as suas quantidades modificadas (com exceção do valor energético – 2000 kcal,
carboidratos – 300 g, fibras alimentares – 25 g): proteínas de 75 para 50 g, gorduras totais
de 55 para 65 g, gorduras saturadas de 22 para 20 g e sódio de 2400 para 2000 mg.
Gorduras trans, que antes não possuíam VDR, passam a ter 2 g como referência. Açúcares
totais possuem VDR de 50 g. A maioria dos nutrientes de declaração voluntária, como as
vitaminas e minerais, tiveram os seus valores de ingestão diária recomendada
modificados; houve adição de novos nutrientes, os quais podem ser observados no Anexo
II da IN 75/2020 (8) (10) (11).

Os fatores de conversão (kcal/g) para o cálculo do valor energético dos alimentos


sofreram algumas alterações. Anteriormente, todos os polióis possuíam o fator 2,4, com
o Anexo XXII da IN 75/2020, houve a separação por tipo de poliol e adição dos
nutrientes: lactitol (2), xilitol (2,4), maltitol (2,1), sorbitol (2,6), manitol (1,6), isomalte
(2), tagatose (3) e fibras alimentares solúveis (2). O fator de conversão do eritritol,
definido pela revogada RDC Nº48/2010 como 0,2 kcal/g, agora passa a ser 0 (10) (11)
(14).

A expressão dos valores dos nutrientes sofreu algumas alterações: para valores
menores que 10 e maiores que 1, quando a primeira casa decimal for 0, pode-se declarar
os valores em números inteiros; para valores menores do que 1 expressos em miligramas
(mg) ou microgramas (μg), quando a segunda casa decimal for 0, pode-se declarar os
valores com apenas um dígito decimal. Foram adicionadas regras de arredondamento, que
não constavam no regulamento técnico da RDC 360/2003: manter o número interior, caso
a primeira casa decimal seja menor que 5; arredondar o número inteiro com 1 unidade,
caso a primeira casa decimal seja maior que 5; seguir esse padrão para as segundas e
terceiras casas decimais (8) (10) (11).

As quantidades não significativas de valor energético e nutrientes permanecem as


mesmas para valor energético (menor ou igual a 4 kcal), carboidratos, proteínas, gorduras
totais e fibras alimentares (menor ou igual a 0,5 g) e sódio (menor ou igual a 5 mg);
houveram mudanças para gorduras saturadas e gorduras trans (menor ou igual a 0,1 g);
adicionou-se informações para açúcares totais (menor ou igual a 0,5 g), açúcares
adicionados (sem açúcares adicionados), lactose (menor ou igual a 0,1 g) e colesterol
(menor ou igual a 5 mg). A forma de expressão dos valores não significativos deverá ser
“0” em todos os casos, anteriormente era aceito “zero” ou “não contém” (8) (10) (11).

A declaração das quantidades na tabela de informação nutricional passar a ser


realizada com base na porção e medida caseira do alimento (definidas no Anexo V da IN
75/2020) e em 100 g (para alimentos sólidos e semissólidos) ou 100 mL (para alimentos
líquidos), informação que era opcional anteriormente. Deverá ser informada na tabela

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nutricional a quantidade de porções por embalagem do alimento, como exemplificado na
Figura 1, seguindo regras de arredondamento e formas de expressão do Anexo VI da IN
75/2020. Para embalagens múltiplas com alimentos distintos que não requerem consumo
em conjunto, deverá ser declarada as porções de cada produto, como mostra o modelo da
Figura 2. Deve ser declarado a %VD com base nos valores de VDR definidos e
considerando a porção do alimento; quando o nutriente não tiver VDR definido, a
informação deverá ficar vazia; quando a quantidade do nutriente for insignificante, deve-
se declarar como zero (8) (10) (11).

A nova tabela de informação nutricional deverá conter uma nota de rodapé com a
frase “*Percentual de valores diários fornecidos pela porção”, como mostra as Figuras 1
e 2. Anteriormente era utilizado “*% Valores Diários com base em uma dieta de 2.000
kcal ou 8400 kJ. Seus valores diários podem ser maiores ou menores dependendo de suas
necessidades energéticas” (8) (10) (11).

Figura 1 – Novos modelos vertical e horizontal de tabela de informação nutricional


Fonte: (11).

Figura 2 – Modelo agregado de tabela de informação nutricional para embalagens múltiplas


Fonte: (11).

Com a RDC 429/2020, a tabela de informação nutricional deve estar localizada


no mesmo painel da lista de ingredientes, em superfície contínua, com caracteres e linhas
de cor preta e em fundo branco, independente da cor da embalagem, seguindo os
tamanhos, fontes e espaçamentos definidos pela IN 75/2020. Anteriormente, não eram
citadas tais especificações, exceto com relação ao conteúdo da tabela (8) (10) (11).

Rotulagem Nutricional Frontal

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A rotulagem nutricional frontal (RNF) é definida como a declaração padronizada
simplificada do alto conteúdo de nutrientes específicos no painel principal do rótulo do
alimento (10). A aprovação desse tipo de declaração ocorreu através da agenda regulatória
do triênio 2021-2023 da ANVISA, pelo item de aperfeiçoamento da regulamentação da
rotulagem de alimentos embalados que tem como objetivo garantir o acesso seguro da
população a produtos e serviços sujeitos à vigilância sanitária (16). A RNF será
obrigatória nos rótulos dos alimentos embalados na ausência do consumidor, os quais, em
sua composição, igualem ou ultrapassem os limites críticos de açúcares adicionados,
gorduras saturadas ou sódio, conforme a Tabela 1.
Tabela 1 – Limite crítico dos nutrientes para rotulagem nutricional frontal
Nutrientes Alimentos sólidos ou semissólidos Alimentos líquidos
Açúcares
adicionados
15 por 100 g do alimento 7,5 g por 100 ml do alimento.
Gorduras
saturadas
6 g por 100 g do alimento. 3 g por 100 ml do alimento.
Sódio 600 mg por 100 g do alimento. 300 mg por 100 ml do alimento.
Fonte: Adaptado de (11).

Algumas categorias de alimentos são vedadas da declaração de RNF, desde que


não sejam adicionados de ingredientes que agreguem açúcares adicionados ou valor
nutricional significativo de gorduras saturadas ou de sódio ao produto, são elas: frutas,
hortaliças, leguminosas, tubérculos, cereais, nozes, castanhas, sementes e cogumelos;
farinhas; carnes e pescados embalados, refrigerados ou congelados; ovos; leites
fermentados e queijos (10) (11). A RNF também está vedada para leites de todas as
espécies de animais mamíferos; leite em pó; azeite de oliva e outros óleos vegetais,
prensados a frio ou refinados; sal destinado ao consumo humano; fórmulas infantis;
fórmulas para nutrição enteral; alimentos para controle de peso; suplementos alimentares;
bebidas alcoólicas, produtos destinados exclusivamente ao processamento industrial e aos
serviços de alimentação; aditivos e coadjuvantes de tecnologia; fórmulas dietoterápicas
para erros inatos do metabolismo (10) (11).

Entre as regras estabelecidas pela RDC 429/2020 para declaração de RNF está a
obrigatoriedade do alerta ser impresso em cor 100% preta num fundo branco (a exemplo
da tabela nutricional); estar localizada na metade superior do painel principal em
superfície contínua; ter a mesma orientação do texto das demais informações do rótulo;
obedecer os requisitos específicos de formatação e seguir um dos modelos definidos na
nos Anexos XVII e XVIII da IN 75/2020 (10) (11), como ilustrado na Figura 3.

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Figura 3 – Modelos para declaração de rotulagem nutricional frontal com alerta de um, dois e três nutrientes,
respectivamente
Fonte: (11).

Algumas regras de formatação servem para que o alerta seja padronizado e não
cause confusão ao consumidor, a exemplo da área miníma dos modelos apresentados na
Figura 3, que deverá ser determinada pela % de ocupação do painel principal do rótulo.
Os demais requisitos específicos para formatação da RNF são posicionamento e relações
de tamanho, espessura e distância, como as bordas, margens, posição e tamanho da lupa;
a tipografia e o alinhamento; tamanho da fonte de acordo com a área do painel do rótulo,
de acordo com o Anexo XVIII da IN 75/2020 (11).

Alegações Nutricionais

Alegações nutricionais são as declarações que indicam que um alimento possui


propriedades nutricionais positivas relativas ao seu valor energético ou ao conteúdo de
nutrientes, contemplando as alegações de conteúdo absoluto e comparativo e de sem
adição (10). Fazem parte da rotulagem nutricional, mas tem declaração voluntária, ao
contrário da tabela de informação nutricional e da rotulagem nutricional frontal, que são
obrigatórias (10).

Anteriormente, a RDC 54/2012 (15), regulamento técnico sobre Informação


Nutricional Complementar (INC) era a legislação responsável pelas regras para
declaração de propriedades nutricionais. Com a publicação da RDC 429/2020 e da IN
75/2020, a resolução sobre INC foi revogada, passando a vigorar com o nome de alegação
nutricional e outras mudanças a fim de evitar contradições a respeito da RNF (10) (11).

Comparando os itens 4.2 e 4.3 da RDC 54/2012 (15) com o Anexo XIX da IN
75/2020, os termos autorizados para veiculação dos atributos nutricionais não foram
alterados, conforme a Tabela 2. Essas alegações não podem ser veiculadas em bebidas
alcoólicas e nas fórmulas dietoterápicas para erros inatos do metabolismo (10) (17).
Tabela 2 - Termos autorizados para declaração de alegações nutricionais
Atributos Termos autorizados para alegações nutricionais
Baixo baixo em... pouco..., baixo teor de..., leve em...
Muito baixo muito baixo em...
Não contém não contém..., livre de…, zero (0 ou 0%)…, sem..., isento de…
Sem adição de sem adição de..., zero adição de..., sem .... adicionado
Alto conteúdo alto conteúdo em..., rico em…, alto teor…
Fonte Fonte de…, com…, contém...
Reduzido reduzido em…, menos…, menor teor de…, light em…
Aumentado aumentado em…, mais…
Fonte: Adaptado de (11).

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Foram adicionados ou alterados alguns critérios de composição para determinados
nutrientes e seus atributos nutricionais em relação à RDC 54/2012, sendo eles: adição da
lactose na lista de nutrientes permitidos para alegação nutricional (não contém) com
composição máxima de 0,1 g por 100 g ou ml do produto tal como exposto à venda;
adição do atributo “sem adição de” para gorduras totais tendo como critério de
composição não conter gorduras ou óleos de origem animal ou vegetal adicionados, não
conter manteiga, margarina e cremes vegetais adicionados, não conter creme de leite e
derivados adicionados, e não conter ingredientes contenham os ingredientes anteriores
adicionados; alteração nos critérios de composição para proteínas, visto que o VDR desse
nutriente foi reduzido para 50 g, sendo assim, os critérios mínimos para “fonte” e “alto
conteúdo” são de 10% e 20% respectivamente, 5g e 10g, por porção de referência e por
embalagem individual quando for o caso, além disso, as quantidades de aminoácidos
essenciais da proteína adicionada devem atender aos valores definidos no Anexo XXI da
IN 75/2020; adição do atributo “aumentado” para vitaminas, com o critério do aumento
mínimo ser de 25% e o alimento de referência atender aos critérios para o atributo
nutricional fonte da vitamina ou mineral objeto da alegação (10) (11) (15).

Anteriormente, as declarações de propriedade nutricionais podiam ser redigidas


no idioma oficial do país de consumo (português ou espanhol), com a RDC 429/2020, as
alegações devem ser escritas em português. O termo light permitido para alegações
nutricionais de conteúdo comparativo não precisa ser traduzido. Quando no mesmo
produto houver a declaração de rotulagem nutricional frontal, as alegações nutricionais
não poderão estar localizadas na metade superior do painel principal, nem utilizar
caracteres de tamanho superior aos utilizados para RNF (10) (11) (15).

CONCLUSÕES

A nova rotulagem nutricional de alimentos embalados é um importante passo no


marco regulatório das legislações de alimentos e pode ter um impacto positivo na vida do
consumidor, facilitando o entendimento sobre a saudabilidade dos alimentos e permitindo
uma compra mais consciente com base nas necessidades nutricionais do individuo.

Apesar dos avanços, a novidade trazida com o modelo da lupa de rotulagem


nutricional frontal (RNF) gera controvérsias entre especialistas, sendo apontado como um
modelo não ideal. Além disso, as indústrias de alimentos terão o desafio de reformular os
seus produtos, caso não queiram ultrapassar os limites críticos de açúcares adicionados,
gorduras saturadas e sódio nos alimentos, e com isso, ficarem isentas de declarar o alerta
de RNF; os designers que trabalham com o desenvolvimento de rótulo terão o desafio de
atender às especifidades do esquema de RNF e harmonizar essa informação com as
demais, deixando o rótulo final visivelmente atrativo; os consumidores terão a tarefa de
estarem atentos a essas mudanças, comparando os produtos disponíveis no mercado; e
por fim, os órgãos fiscalizadores terão o dever de acompanhar a forma como essas novas
informações serão recebidas pelo consumidor e o impacto que as mesmas terão.

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Editora Agron Food Academy 315


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Embalados para Fins de Rotulagem Nutricional. Diário Oficial da União, nº 251, de 26
de dezembro de 2003 [acesso em 28 Out 2021]. Disponível em:
http://antigo.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_359_2003_COMP.pdf/1e8
60ef6-10e6-404b-81e2-87aae8cfd53a.

13. Ministério da Saúde (Brasil). Resolução da Diretoria Colegiada - RDC Nº 163, de


17 de agosto de 2006, aprova o documento sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos
Embalados (Complementação das Resoluções-RDC nº 359 e RDC nº 360, de 23 de
dezembro de 2003). Diário Oficial da União, nº 160, de 21 de agosto de 2006 [acesso em
28 Out 2021]. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-
br/assuntos/inspecao/produtos-vegetal/legislacao-1/biblioteca-de-normas-vinhos-e-
bebidas/resolucao-rdc-no-163-de-17-de-agosto-de-2006.pdf/view.

14. Ministério da Saúde (Brasil). Resolução da Diretoria Colegiada - RDC Nº 48 de


5 de novembro de 2010, dispõe sobre o fator de conversão para o cálculo do valor
energético do eritritol. Diário Oficial da União, nº 213, de 8 de novembro de 2010 [acesso
em 28 Out 2021]. Disponível em:
http://antigo.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_48_2010_.pdf/158d45d9-
2463-4c1a-b00c-7eb2122deaf9.

15. Ministério da Saúde (Brasil). Resolução da Diretoria Colegiada - RDC Nº 54, de


12 de novembro de 2012, dispõe sobre o Regulamento Técnico sobre Informação
Nutricional Complementar. Diário Oficial da União, novembro de 2012 [acesso em 28
Out 2021]. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-
br/assuntos/inspecao/produtos-vegetal/legislacao-1/biblioteca-de-normas-vinhos-e-
bebidas/resolucao-rdc-no-54-de-12-de-novembro-de-2012.pdf/view.

16. Ministério da Saúde (Brasil). Agenda Regulatória Triênio 2021-2023, aAprova a


Agenda Regulatória da Anvisa para o triênio 2021-2023. Diário Oficial da União, nº 95,
21 de maio de 2021 [acesso em 28 Out 2021]. Disponível em:
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/agenda-regulatoria-trienio-2021-2023-321232834.

Editora Agron Food Academy 316


17. Ministério da Saúde (Brasil). Resolução de Diretoria Colegiada - RDC Nº 460,
de 21 de dezembro de 2020, dispõe sobre os requisitos sanitários das fórmulas
dietoterápicas para erros inatos do metabolismo. Diário Oficial da União, nº 245, 23 de
dezembro de 2020 [acesso em 28 Out 2021]. Disponível em:
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-de-diretoria-colegiada-rdc-n-460-de-21-
de-dezembro-de-2020-295779608.

Editora Agron Food Academy 317

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