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Unidade II
5 ESTRATÉGIAS INTERSETORIAIS DE PREVENÇÃO E CONTROLE DAS DCNT
A ingestão elevada de açúcares é um dos componentes do padrão alimentar que tem sido associado
ao desenvolvimento de obesidade e DCNT nas investigações científicas. O excesso de açúcar nos
alimentos ou nas dietas contribui para a elevada densidade calórica, que por sua vez ocasiona um
balanço energético positivo, ou seja, ocasiona um consumo calórico maior do que as necessidades
com os gastos de energia do corpo, e isso pode levar ao acúmulo de tecido adiposo e aumento do
peso corporal.
O teor de açúcar das dietas é composto pelos monossacarídeos e dissacarídeos adicionados aos
alimentos e bebidas em preparações, como pelos açúcares contidos nos alimentos, adicionados no
momento do consumo e adicionados em alimentos e bebidas industrializados, além do mel, xaropes e
sucos de frutas com adição de açúcar. A população brasileira ingere boa parte dos açúcares de forma
embutida nos alimentos e bebidas ultraprocessados.
Em especial, as bebidas açucaradas têm um excesso de calorias que se somam à ingestão calórica
total, ocasionando uma dieta prejudicial à saúde, que leva ao excesso de peso e obesidade e associada
ao maior risco de desenvolver DCNT (BEZERRA; ALENCAR, 2018).
Essas considerações a respeito do consumo de açúcar motivaram a OMS a publicar a Diretriz: ingestão
de açúcares por adultos e crianças (OMS, 2015).
Também se preconiza que a diretriz seja utilizada para elaborar intervenções em saúde pública
focalizadas na redução da ingestão de açúcares (OMS, 2015).
A recomendação atual é para uma baixa ingestão de açúcares livres ao longo de toda a vida e tanto
em adultos como em crianças. A recomendação firme é para que o consumo diário não ultrapasse
10% das calorias ingeridas diariamente em uma dieta saudável. Maiores benefícios à saúde podem ser
alcançados se o consumo diário de açúcar for reduzido para 5% das calorias ingeridas (ou cerca de
25 g de açúcar por dia).
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NUTRIÇÃO INTERDISCIPLINAR
Alguns alimentos como frutas, verduras, legumes e leite fresco contêm açúcar naturalmente em sua
composição e não devem ser computados nessa restrição. O consumo dos alimentos in natura deve ser
promovido e estimulado para toda a população, em todas as faixas etárias, estando de acordo com as
recomendações do Guia alimentar para a população brasileira.
Essa diretriz da OMS inclui uma série de orientações classificadas como de forte impacto e são
recomendadas para a implementação em políticas públicas. O conjunto dessas recomendações está
apresentado no quadro seguinte e deve ser implementado pelos países no sentido de contribuir com
informações para que a população possa fazer escolhas mais saudáveis e consequentemente reduzir o
consumo de açúcar.
Saiba mais
Leia:
5.2 Ações do governo brasileiro para redução de gorduras trans, açúcar e sódio
A regulação e controle dos alimentos constituem uma diretriz da PNAN. O objetivo é garantir a
inocuidade e qualidade nutricional dos alimentos, controlando e prevenindo os riscos à saúde. Esses
atributos se enquadram como premissas diante do atual cenário epidemiológico e da necessidade de
promoção da alimentação adequada e saudável e de proteção da saúde.
diferentes setores do governo e da sociedade (BRASIL, 2013a). Logo, envolve ações direcionadas ao
sistema e ao ambiente alimentar, que são componentes fundantes no contexto da segurança alimentar
e nutricional e do controle dos fatores de risco para as DCNT.
Nesse sentido, sugere-se que o monitoramento da qualidade dos alimentos deve considerar,
além dos aspectos sanitários (microbiológicos e toxicológicos), o seu perfil nutricional, como o teor
de macro e micronutrientes, articulando-se com a reformulação do perfil nutricional dos alimentos
ultraprocessados, com vistas à redução de gorduras, açúcares e sódio (MARTINS, 2019).
Regulação Controle
Regulamentação da venda e propaganda de Rotulagem nutricional
alimentos em cantinas escolares
Regulamentação da publicidade direcionada ao Cantinas saudáveis nas escolas
público infantil
Rotulagem de produtos dirigidos a lactentes Espaços que favoreçam a amamentação
A Organização Panamericana de Saúde (Opas) publicou em 2016 um modelo de perfil nutricional, que
se trata de um instrumento para classificar os alimentos processados e ultraprocessados que contenham
uma quantidade excessiva de açúcares livres, sal, gorduras totais, gorduras saturadas e ácidos graxos
trans. Essa análise poderia contribuir para as informações da rotulagem nutricional frontal.
A rotulagem nutricional dos alimentos pode ser uma medida de controle de grande contribuição
para a promoção da alimentação saudável, tendo em vista que o acesso à informação a respeito das
características nutricionais do alimento pode apoiar escolhas mais saudáveis. Já existem evidências de
que a informação nutricional suplementar, colocada na parte frontal da embalagem, com mensagens
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NUTRIÇÃO INTERDISCIPLINAR
e símbolos simples e de fácil visualização, é favorável para a compreensão dos consumidores e pode
influenciar a decisão de compra de alimentos (MARTINS, 2019).
Uma agenda de redução de danos em relação ao consumo de alimentos ultraprocessados foi proposta
no âmbito da PNAN, sendo reforçada com o plano de ações estratégicas para o enfrentamento das DCNT
no Brasil (2011-2022) e na estratégia intersetorial de prevenção e controle da obesidade, intencionando
o planejamento da reformulação dos alimentos. No entanto, as decisões de regulação e controle são
enfraquecidas pelas ações de representação do setor produtivo (indústria de alimentos e bebidas), para
quem tais intervenções não são interessantes do ponto de vista financeiro, de maneira que muito pouco
se evoluiu nas deliberações dessas estratégias.
Assim como acontece com o consumo de açúcar, o consumo excessivo de sódio pela população
brasileira é proveniente principalmente de sua adição direta nas refeições e também relacionado ao
consumo de alimentos processados e ultraprocessados. Os dados da pesquisa de orçamentos familiares
(POF) de 2008-2009 mostraram que o consumo de sódio é igual a 4,7 gramas por pessoa por dia, o que
excede em mais de duas vezes a recomendação da OMS, de até 2 gramas diários.
O Ministério da Saúde assinou acordos voluntários com o setor produtivo de alimentos por meio de
termos de compromisso com metas bianuais para redução dos teores de sódio em diferentes alimentos.
Em uma análise sobre esses acordos, o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) disse que representam
um esforço do governo para lidar com os problemas relacionados às DCNT, porém são ações isoladas
no contexto da regulação dos alimentos e, sendo assim, apresentam baixo potencial de resolução. São
acordos voluntários e as metas de redução não são expressivas; portanto, apresentam fragilidades que
devem ser revistas (INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA, 2014).
Observação
A promoção de saúde no Brasil é consolidada no âmbito do SUS por meio da Política Nacional de
Promoção da Saúde (PNPS), publicada em 2006 e reformulada em 2014. A PNPS tem como objetivo
principal “promover a equidade e a melhoria das condições e dos modos de viver, ampliando a
potencialidade da saúde individual e coletiva e reduzindo vulnerabilidades e riscos à saúde decorrentes
dos determinantes sociais, econômicos, políticos, culturais e ambientais” (BRASIL, 2014d).
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Unidade II
participação social e intersetorialidade, entre outros. Tal abordagem propõe modificar os modos de
organizar, planejar, realizar e avaliar o trabalho em saúde (LOCH et al., 2021).
As ações e projetos em saúde devem ser pautados nessa política. Uma proposição central é deslocar
o foco da doença para a valorização dos sujeitos em sua potência de criação da própria vida, produzindo
a autonomia nos processos de cuidado à saúde. Nessa perspectiva, a promoção de saúde coloca os
sujeitos – usuários e profissionais de saúde – como protagonistas no processo de produção de saúde
(CAMPOS; BARROS; CASTRO, 2004).
A intersetorialidade, por sua vez, deve ser compreendida como um processo de construção
compartilhada: os conhecimentos e técnicas dos setores envolvidos são trocados e incorporados entre
os setores envolvidos. Cada setor envolvido deve adotar a abertura para dialogar, estabelecendo vínculos
de corresponsabilidade e cogestão pela melhoria da qualidade de vida da população.
Um conceito fundamental sobre a promoção da saúde é que para se atingir saúde e qualidade de
vida, um conjunto de condições de vida e de trabalho deve ser alcançado, e que, portanto, o oferecimento
isolado de um dado serviço não é suficiente. Nessa direção, se faz necessária a formação de alianças
e parcerias, e por isso a intersetorialidade nas ações é uma estratégia central. Devido à complexidade
dos determinantes dos processos saúde-doença, se reconhece que o setor saúde isoladamente não é
suficiente para suprir as demandas de saúde da população, de maneira que as ações de saúde terão
maior efetividade quando forem articuladas a outros setores da sociedade (BUSS; RAMOS, 2000).
Embora fundamental, a intersetorialidade não é a única estratégia ou definitiva, tendo em vista que
as ações de promoção em saúde devem ser desenvolvidas de acordo com as demandas dos diversos
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A mobilização social, portanto, é uma condição importante para um outro aspecto bastante
desejado na promoção de saúde, que é a autonomia na produção de saúde. A promoção da saúde
se destina também para a ampliação do controle ou domínio dos indivíduos e comunidades sobre os
determinantes de sua saúde. A autonomia é uma categoria norteadora para os modos de viver que
sejam promotores de saúde. Podemos dizer, portanto, que a promoção da saúde busca ampliação da
autonomia de indivíduos e comunidades (FLEURY-TEIXEIRA et al., 2008).
A promoção da saúde busca a melhoria da qualidade de vida da população. Para ser efetiva e eficaz,
deve ser operada de forma proativa. Para favorecer a realização das ações de promoção da saúde,
Campos, Barros e Castro (2004) propuseram eixos temáticos e eixos de atuação para serem aplicados
na organização e desenvolvimento de métodos de intervenções para a promoção da saúde, que estão
apresentados nos quadros a seguir.
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Unidade II
A alimentação e nutrição se posicionam entre as áreas de trabalho prioritárias desses eixos temáticos
propostos para a promoção da saúde. Entendemos alimentação e nutrição como requisitos básicos para
a promoção e proteção da saúde, e, como um direito humano fundamental, possibilita a afirmação
plena do potencial de crescimento e desenvolvimento humano com qualidade de vida e cidadania
(VALENTE, 2002).
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NUTRIÇÃO INTERDISCIPLINAR
• Articulação de saberes técnicos e populares: as ações de promoção a saúde exigem uma maior
aproximação dos profissionais com a realidade dos indivíduos e das populações, a partir da criação
de espaços democráticos e participativos. A aproximação, o diálogo, a valorização do lugar de fala
dos sujeitos, o reconhecimento sobre os contextos nos quais os comportamentos se dão, das
condições de estímulos positivos e de obstáculos para a realização da saúde se caracterizam como
pontos favoráveis para melhores respostas às demandas de saúde e nutrição. É recomendado
que abordagens persuasivas e ações verticais devem ser substituídas por estratégias mais amplas
provenientes da relação profissional-paciente, a partir do somatório de saberes técnicos e populares.
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• Educação popular: a educação popular, por sua vez, compreende todos os aspectos já discutidos.
Deve envolver atividades direcionadas a mudança comportamental, informações sobre políticas
públicas vigentes, assim como o incentivo ao exercício permanente dos diretos e deveres,
especialmente os relacionados à alimentação (FERREIRA; MAGALHÃES, 2007).
A atuação do nutricionista na promoção da saúde, portanto, requer uma postura proativa, criativa,
comprometida e principalmente contextualizada com as demandas sociais. Como ferramentas
importantes para essa atuação, destacam-se as parcerias setoriais, o somatório de saberes técnicos
e populares, a superação do modelo biomédico dominante com a incorporação da visão integral dos
indivíduos e a habilidade técnica com ênfase na educação nutricional.
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NUTRIÇÃO INTERDISCIPLINAR
Observação
A alimentação saudável está no bojo das ações de promoção da saúde e é a principal finalidade das
práticas de educação executadas pelo nutricionista, buscando a prevenção de doenças e agravos por
meio de estímulo à adesão de hábitos mais saudáveis.
A produção social de saúde está pautada na troca de informações e experiências entre os profissionais,
indivíduos e comunidade, tendo como recurso a educação em saúde. É uma proposição multiprofissional
para estimular a autonomia na escolha dos hábitos alimentares saudáveis.
Comunicação social pode ser definida por conjunto de normas, implícitas ou explícitas, que regem a
forma com que interagem os indivíduos de uma mesma cultura. Nesse sentido, a comunicação social é
a expressão da cultura (FAO, 1999).
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Unidade II
sujeitos possuidores de saberes diferentes se articulam a partir de interesses comuns (CRUZ, 2020). Essa
prática envolve recursos pedagógicos e metodológicos com o objetivo de estimular a participação das
pessoas envolvidas, ampliando o universo de respostas, envolvendo as condições de trabalho e vida da
comunidade. Esse processo formativo resulta de uma construção compartilhada de conhecimentos,
incentivada pela participação das pessoas, que têm importância central, promovendo envolvimento e
responsabilização (BRUTSCHER, 2012).
Pretende-se, portanto, que essas pessoas tragam suas ideias, suas críticas, suas iniciativas e sua
criatividade. Esse direcionamento permitirá um processo educativo baseado em uma relação de vínculo,
resultando na construção conjunta de conhecimento teórico e prático, transformando vivências em
novas possibilidades de cuidado em saúde, ao mesmo tempo que possibilita o respeito à autonomia e à
identidade dos indivíduos (CRUZ, 2020).
O planejamento de uma ação de educação em saúde deve ser pautado na interlocução entre educador
e educando, na interação com a comunidade, utilizando estratégias ativas. Os materiais empregados
devem ser voltados para a prática, devem facilitar as vivências e a aplicação dos conceitos ao cotidiano
e devem estar contextualizados à realidade dos indivíduos.
Dessa forma, as ações de educação em saúde são centradas no indivíduo e na comunidade e são
as demandas que partem deles que direcionarão o planejamento das ações. Essas demandas devem
ser trabalhadas de forma contextualizada e por meio de metodologias ativas que envolvam a
participação do indivíduo. Um planejamento bem elaborado irá contribuir com o desenvolvimento
de ferramentas pessoais e habilidades que apoiarão o educando na transformação de sua realidade.
A avaliação é uma etapa importante que permitirá adequações necessárias para maior efetividade
das intervenções.
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NUTRIÇÃO INTERDISCIPLINAR
Saiba mais
Os problemas de nutrição em saúde pública têm se mostrado relevantes por sua magnitude e
impactos para a sociedade, ao mesmo tempo em que o enfrentamento consiste em uma complexidade
de fatores. A promoção da saúde, em sua compreensão ampla de uma construção de autonomia para que
a população encontre condições de produção de saúde, tem sido proposta como um caminho promissor.
Esse conjunto de circunstâncias tem exigido dos profissionais da nutrição um aprimoramento de seu
protagonismo na construção de ações educativas e sociais, por meio de projetos e programas. A nutrição
social se propõe a adotar estratégias coerentes com as realidades e problemáticas locais, que podem
estar relacionadas à fome e à miséria, às deficiências nutricionais e também aos problemas derivados da
má alimentação, destacando a segurança alimentar e nutricional como um referencial para a busca de
melhorias e resolução dos problemas nutricionais (CRUZ, 2020).
As ações do profissional em nutrição social devem ser norteadas por alguns fundamentos. O incentivo,
apoio e proteção da saúde são princípios norteadores, considerando que a saúde é também um
resultado de um padrão alimentar adequado. Além disso, as iniciativas devem estar alinhadas com as
políticas públicas de alimentação e nutrição, tais como a reorientação dos serviços de saúde, aderindo
à integralidade no cuidado nutricional e à qualificação para o atendimento das demandas. A criação de
ambientes saudáveis e o desenvolvimento de habilidade pessoais em prol da promoção da saúde são
outros direcionamentos importantes. As estratégias desenvolvidas devem ter em foco a efetivação do
DHAA (GUERRA; CERVATO-MANCUSO; BEZERRA, 2019).
Os programas delineados nesse sentido devem ter como meta a melhora do estado de segurança
alimentar e nutricional nas comunidades, e, para tanto, são necessárias reflexões críticas a respeito da
exigibilidade do DHAA, dedicando iniciativas de formação para processos emancipatórios, no sentido
do fortalecimento sociopolítico e empoderamento dos sujeitos envolvidos. A atuação do nutricionista
requer uma intensa reflexão sobre o seu compromisso social e seu papel no enfrentamento cotidiano de
condições sociais resultantes de opressão, injustiça e desumanização, às quais uma parcela significativa
da população brasileira está exposta, e que resulta nas desigualdades no acesso à alimentação saudável,
impactando no estado de saúde e de nutrição (CRUZ; MELO NETO, 2014).
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Unidade II
A atuação crítica da nutrição social requer o engajamento e o compromisso com a realidade social e
para isso é importante buscar espaços e oportunidades sistemáticas de conviver com o território e seus
grupos sociais. A imersão na realidade sobre a qual se pretende atuar é fundamental para identificar
barreiras relativas à qualidade de vida, à emancipação e ao controle sobre a vida e o trabalho. Ao olhar
para a pessoa que vive em insegurança alimentar e nutricional, por exemplo, é preciso tratá-la como
membro de uma comunidade, como gente que tem um dia a dia, um espaço próprio, composto por
subjetividades e envolto por determinantes sociais e pelas múltiplas e complexas relações entre homem
e alimento que se concretizam na prática social da alimentação.
Para que os programas em nutrição social sejam efetivos, é importante que sejam bem construídos
e estruturados, e que partam de um referencial teórico metodológico. Para essa finalidade, adotaremos
como exemplo o planejamento de políticas públicas, adaptado para programas sociais, como uma
estrutura robusta para o delineamento de intervenções.
A formulação de políticas públicas, como exemplo para o plano de intervenção em nutrição social,
envolve um ciclo de diversas fases: identificação dos problemas, definição da agenda, seleção de soluções,
tomada de decisões, implementação e monitoramento e avaliação (JAIME, 2019).
Identificação do
problema
Monitoramento e Definição da
avaliação agenda
Seleção de
Implementação soluções
Tomada de
decisão
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NUTRIÇÃO INTERDISCIPLINAR
A etapa seguinte é a tomada de decisão, na qual os gestores optam por uma proposta a partir
das opções avaliadas na seleção de soluções. Devem ser levados em consideração a definição das
metas do programa, as estratégias de monitoramento e avaliação, o planejamento de recursos e
dos instrumentos de implementação e também o tempo disponível e o tempo necessário para a
intervenção e avaliação de resultados.
A implementação deve ser bem planejada, dando importância para os compromissos assumidos, os
recursos humanos, financeiros e materiais disponíveis, bem como os limites situacionais para a execução
das propostas. A implementação é um processo dinâmico, que pode estar suscetível a intercorrências,
e por isso precisa estar flexível a necessidades de adaptação, sendo possível identificar obstáculos para
o alcance do resultado desejado, corrigir erros e rever decisões. Nessa direção, os instrumentos de
monitoramento e avaliação são fundamentais.
Assim como para as políticas públicas, é importante que os programas de intervenção em nutrição
social sejam transparentes e explícitos, constituam-se em ações que promovam o acesso aos direitos
coletivos e de cidadania, o bem-estar e a justiça social.
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Unidade II
Horta comunitária
Mobilização da comunidade para levantar
Implementação recursos junto à administração pública regional
Organização do trabalho de integrantes da
comunidade para a manutenção da horta
Produção da horta
Monitoramento Disponibilidade de hortaliças nos domicílios
Consumo de hortaliças pelos moradores
De acordo com a Resolução n. 600 do Conselho Federal dos Nutricionistas (CFN, 2018), define‑se
como uma das áreas de atuação a nutrição na cadeia de produção na indústria e no comércio de
alimentos, na qual se realizam atividadess de desenvolvimento, produção e comércio de produtos
relacionados à alimentação e nutrição. Na subárea da indústria de alimentos, uma das possibilidades
de atuação do nutricionista é no âmbito da promoção de produtos, compreendendo atividades como
desenvolver material técnico-científico para a divulgação de produtos, elaborar receituários de
preparações para consumidores, realizar demonstrações técnicas de produtos, entre outras.
Dessa forma, o profissional tem a possibilidade de atuar com o marketing nutricional, uma
importante forma de diferenciação de produtos que vem sendo cada vez mais utilizada pela indústria
alimentícia. A meta dessa estratégia de marketing é fornecer ao consumidor informações de caráter
nutricional sobre os produtos alimentícios, que possam se articular com o processo de escolha.
Para essas finalidades, utilizam-se as tabelas de valores nutricionais presentes nos rótulos
dos alimentos e também a propaganda nutricional, e esses instrumentos são regulamentados
por legislações específicas em cada país. O composto de informações nutricionais a respeito de
um produto pode ser uma ferramenta importante para informar a população sobre a qualidade
nutricional dos alimentos, podendo contribuir para o processo de educação alimentar no contexto
do incentivo às escolhas saudáveis. No entanto, depende da formulação adequada e utilização
correta de tais informações.
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NUTRIÇÃO INTERDISCIPLINAR
Os profissionais de nutrição que atuam na indústria de alimentos devem estar amparados por preceitos
éticos e comprometidos com a saúde pública, compreendendo que essas estratégias podem ser fortes
influenciadoras do consumo alimentar. A difusão de informações claras e corretas deve ser amplamente
adotada e fiscalizada de forma que o consumidor possa optar conscientemente por um produto no
momento da aquisição, e indústria e consumidor possam obter benefícios de tal relacionamento.
Nas últimas décadas, diante do aumento explosivo da obesidade e das DCNT, tem se ampliado as
discussões sobre o papel da indústria de alimentos nesses desfechos de saúde pública, que são tão
onerosos para a sociedade.
A mudança nos padrões alimentares caracterizada pela tendência de aumento do consumo dos
alimentos ultraprocessados e de redução dos alimentos in natura e minimamente processados tem sido
descrita como um dos principais fatores de risco modificáveis das DCNT, trazendo a reflexão sobre a
importância de se identificar e atuar sobre os fatores que, por sua vez, modulam esse consumo.
Com relação ao papel da publicidade de alimentos, estudos apontam que grande parte da
publicidade televisiva de alimentos e bebidas está relacionada a produtos com alto teor de gorduras,
açúcares e sódio, sendo praticamente inexistentes anúncios de alimentos saudáveis, como grãos
integrais, frutas e hortaliças. No Brasil, verifica-se não apenas a baixa qualidade nutricional dos
produtos anunciados – geralmente de alto valor calórico e contendo elevada quantidade de
gorduras, açúcares e sódio –, mas também a utilização de estratégias publicitárias destinadas
a explorar populações mais vulneráveis – como o uso de personagens de desenhos animados e
anúncios destinados ao público infantil (MAIA et al., 2017).
A influência da indústria nas escolhas alimentares é notável e inclui estratégias que buscam conquistar
o apoio desde consumidores a profissionais de saúde, incluindo nutricionistas, professores e estudantes
de nutrição para induzir a recomendação de seus alimentos, em especial aqueles propagandeados
como “saudáveis”, mas que muitas vezes se enquadram na categoria de ultraprocessados (NUNES;
NASCIMENTO; BANDONI, 2016).
Dessa maneira, deve-se observar atentamente possíveis relações de conflitos de interesses que
podem emergir entre profissionais de saúde, pesquisadores, docentes e entidades de classes profissionais
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Unidade II
com as indústrias de alimentos. Os conflitos de interesse podem ser compreendidos como condições que
comprometem, de maneira imprópria, interesses primordiais de saúde pública, em função de interesses
secundários (BRASIL, 2013d).
As estratégias educativas voltadas para a promoção da alimentação saudável são relevantes e merecem
ser investidas. No entanto, diante de um ambiente que favorece a adoção de padrões alimentares não
saudáveis e a ocorrência de doenças deles decorrentes, nenhuma estratégia educativa com foco no
indivíduo poderá, sozinha, reverter ou interromper o agravamento desse cenário, sendo imprescindível
complementá-la com a implementação de medidas regulatórias que interfiram no ambiente (GOMES;
CASTRO; MONTEIRO, 2010).
Lembrete
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NUTRIÇÃO INTERDISCIPLINAR
A atuação do nutricionista no campo da saúde pública está sustentada pelo Conselho Federal de
Nutricionistas por meio da Resolução n. 600 de 2018, que dispõe sobre as áreas de atuação e atribuições
profissionais. Nessa resolução, o campo da saúde coletiva está dividido em três subáreas (CFN, 2018):
• Subárea – atenção básica em saúde: gestão das ações de alimentação e nutrição e cuidado
nutricional.
A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde é a estrutura gestora das ações,
e a Vigilância Sanitária fica sob responsabilidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A execução das ações de vigilância fica sob responsabilidade dos estados e municípios, por meio da
coleta de dados nos territórios e alimentação dos sistemas de informação, que podem orientar as ações
prioritárias de promoção da saúde e prevenção de doenças. A vigilância em saúde está estruturada em
componentes, e cada um deles procura prevenir um conjunto de fatores considerados riscos à saúde,
conforme demonstrado no quadro a seguir.
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Unidade II
No escopo de ações da vigilância epidemiológica se situa a VAN, que propõe o monitoramento sobre
o estado nutricional nos grupos populacionais e a sua relação com o consumo alimentar.
Lembrete
Entre as ações de saúde, a vigilância sanitária se destaca pela qualificação profissional, que requer a
necessidade de equipes multiprofissionais que atuam com um objeto de caráter complexo e de extrema
responsabilidade, tal como a inspeção sanitária dos alimentos, e com uma finalidade valiosa de favorecer
a proteção da saúde da população (LEITE; OLIVEIRA, 2018).
A formação do nutricionista está proposta para a atuação no SUS e, além disso, destaca-se a diretriz
da PNAN, que diz respeito à garantia da segurança e qualidade dos alimentos, trazendo relevância do
nutricionista para o trabalho na fiscalização sanitária.
Essa importância é também definida pelo perfil de consumo de alimentos da população que se
desenha na atual realidade, decorrente de alterações socioeconômicas e alterações no estilo de vida,
inserido em um ambiente urbano e condicionado pelas formas de trabalho. Uma das características
desse perfil alimentar é a realização de refeições fora de casa ou de aquisição de alimentos prontos
para o consumo, por questões de conveniências atreladas aos ritmos estabelecidos pelo cotidiano
(BARROS et al., 2019).
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NUTRIÇÃO INTERDISCIPLINAR
No que concerne a esse perfil alimentar, a segurança dos alimentos ofertados é um aspecto
importante a se atentar e vigiar, prevenindo a ocorrência de doenças veiculadas por alimentos (DVA),
que podem ter implicações para a saúde pública e também para a movimentação econômica advinda
da comercialização de alimentos (BARROS et al., 2019).
A vigilância sanitária é, dessa forma, um importante setor para a segurança alimentar no quesito das
qualidades nutricionais e sanitárias, estabelecendo e fiscalizando critérios e parâmetros de produção,
manipulação, armazenamento, transporte, distribuição e consumo, que assegurem que o alimento
esteja livre de contaminações e alterações de natureza física, química e biológica que possam expor o
consumidor a complicações de saúde (BARROS et al., 2019).
A prevenção, proteção e promoção da saúde estão no escopo da atuação da vigilância sanitária, campos
nos quais se desenvolvem ações de regulamentação, como a criação de normas higiênico‑sanitárias
para a fabricação de determinado produto; a emissão de registros e autorizações, como para o
funcionamento de estabelecimentos; e de fiscalização e monitoramento, avaliando o cumprimento das
normas (NASCIMENTO; GABE; JAIME, 2019).
A normatização sanitária para essa finalidade se dá por meio do conhecimento técnico multidisciplinar
apoiado em estruturas de políticas e serviços vinculados ao SUS. O nutricionista está entre a composição
de multiprofissionais habilitados para as funções de vigilância sanitária, conforme proposto pela
Resolução n. 600 (CFN, 2018).
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Unidade II
Resumo
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NUTRIÇÃO INTERDISCIPLINAR
Exercícios
“Você sabe quanto deve ser o seu consumo de açúcar por dia?
Descubra a quantidade ideal para incluir o ingrediente nas refeições de forma saudável
Por trás do bolo de chocolate no café da manhã e da pizza no jantar, esconde-se um dos maiores
vilões da saúde: o açúcar refinado. O perigo do ingrediente está no excesso, que pode ocasionar graves
problemas para o organismo. É por isso que se atentar ao correto consumo de açúcar por dia é parte
fundamental da dieta.
Além disso, o açúcar em excesso aumenta a quantidade de calorias ingerida durante o dia e, por
consequência, pode desequilibrar a equação que conta o quanto de calorias o seu corpo gasta
diariamente e o quanto você está consumindo por meio da alimentação.
Ou seja, não existe segredo: para manter um peso corporal saudável e assegurar a ingestão
ideal de nutrientes, é preciso sustentar o equilíbrio calórico na dieta. Para te ajudar nessa
tarefa, confira a seguir as recomendações do consumo de açúcar por dia para cada grupo e
ajuste a sua alimentação.
Por causar esse desequilíbrio de calorias no corpo, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
recomenda que, independentemente da idade ou do gênero, todas as pessoas tenham uma baixa
ingestão de açúcares livres ao longo de toda a vida.
A OMS também sugere que o consumo desses açúcares livres não ultrapasse 5% do total
energético diário. E esses valores podem ser diferentes para homens, mulheres e crianças. Confira
quais são eles a seguir.
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Unidade II
Veja a seguir uma indicação da American Heart Association (AHA) para saber qual deve ser o
seu consumo de açúcar por dia.
Homens adultos
De acordo com as diretrizes da AHA, a maioria dos homens deve, no máximo, ter 150 calorias de
consumo de açúcar por dia. Isso é equivalente a 38 g ou 9 colheres (chá) de açúcar. Esse valor pode
ser comparado com um copo de iogurte de morango ou uma latinha de refrigerante sabor cola.
Mulheres adultas
As mulheres não devem consumir mais do que 100 calorias em açúcar por dia. Isso é em torno
de 25 g ou 6 colheres (chá) de açúcar, ou o equivalente a uma lata de chá gelado processado.
Vale ressaltar que tanto para adultos como para crianças, a OMS recomenda reduzir a ingestão
de açúcares livres a menos de 10% da ingestão calórica total. Porém, a entidade acredita que o
ideal seria uma redução ainda maior, de 5%.”
II – O açúcar ingerido em excesso gera saciedade e, por isso, reduz a quantidade total de calorias
ingeridas diariamente pelo indivíduo.
III – O consumo diário de açúcares livres não deve ultrapassar 5% do peso do indivíduo.
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NUTRIÇÃO INTERDISCIPLINAR
A) I, II e III.
B) I, apenas.
C) II, apenas.
D) III, apenas.
E) I e II, apenas.
I – Afirmativa correta.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: segundo o texto, “a OMS também sugere que o consumo desses açúcares livres
não ultrapasse 5% do total energético diário”.
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Unidade II
Questão 2. Os três eixos temáticos para a promoção da saúde são os apresentados a seguir.
• Modos de viver.
• Ambientes.
I – O respeito à diversidade sexual e a equidade de gênero, raça/etnia e cor fazem parte do eixo
“modos de viver”.
III – A redução da prevalência das doenças ocupacionais faz parte do eixo “ambientes”.
A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) III, apenas.
D) I e III, apenas.
E) I, II e III.
Análise da questão
As áreas de trabalho prioritárias do eixo temático “modos de viver” são as listadas a seguir.
• Alimentação e nutrição.
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NUTRIÇÃO INTERDISCIPLINAR
• Envelhecimento.
• Violência.
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REFERÊNCIAS
Audiovisuais
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