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O CRONOTOPO EM VIAGENS NA MINHA TERRA

Esse trabalho é fruto de uma pesquisa O tema do trabalho é a apresentação do conceito de cronotopo, desenvolvido
por Mikhail Bakhtin, a partir do romance Viagens na minha terra (1846), escrito por Almeida Garrett. Este conceito
compreende a inseparabilidade das categorias de espaço e tempo presentes na literatura. Uma de suas funções é de
distinguir autores particulares e gêneros ou subgêneros literários, como os diferentes tipos de romance, a partir da
maneira em que retratam as relações espaço-temporais em suas narrativas. O objetivo geral desse trabalho é demonstrar
o cronotopo no romance de Garrett. Os objetivos específicos são: retomar o percurso do pensamento de Bakhtin a partir
da obra que produziu ao longo de sua vida; apresentar a origem do cronotopo e sua aplicação no ensaio As formas do
tempo e do cronotopo (1937-1938); e analisar as formas do tempo e do espaço em Viagens na minha terra e como os
dois estão interligados. A justificação do tema trabalhado se dá pela importância da obra de Almeida Garrett para o
começo da prosa literária portuguesa e pela fertilidade do cronotopo no campo dos estudos literários no Brasil. A
literatura selecionada para fundamentar o conteúdo teórico do trabalho inclui as versões inglesa e portuguesa biografia
epônima de Mikhail Bakhtin, escrita por Katerina Clark e Michael Holquist (1984) e traduzida por J. Guinsburg (2008),
respectivamente; o ensaio As formas do tempo e do cronotopo traduzido por Paulo Bezerra (2018); e o livro Bakhtin e o
cronotopo: reflexões, aplicações, perspectivas organizado por Nele Bemong et al. (2015). A metodologia do
desenvolvimento desse trabalho envolve o levantamento bibliográfico de livros, artigos científicos, artigos de revista
científica, monografias, dissertações de mestrado, teses de doutorado e outros textos relevantes ao tema da pesquisa;
foram feitos até então levantamentos da fortuna crítica de Mikhail Bakhtin e do cronotopo. O levantamento foi feito
online a partir de acesso a base de dados bibliográfica e bibliotecas universitárias digitais. Selecionando as obras
levantadas, inicia-se uma leitura exploratória, para determinar se o material possui informações relacionadas ao tema,
seguido por uma leitura analítica do texto, tendo como objetivo a seleção de segmentos relevantes. Em seguida, são
feitos fichamentos de citação mantidos em arquivos de docx. para cada texto lido, assim disponibilizando trechos para
serem citados direta ou indiretamente no trabalho. Para se compreender o conceito de cronotopo e sua função na
literatura, deve ser feita a leitura de As formas do tempo e do cronotopo, obra esta em que o conceito desempenha papel
central nos ensaios de Bakhtin sobre a teoria de romance. A partir dessa leitura, será possível fazer uma análise desse
conceito literário presente no objeto de estudo. O primeiro capítulo do trabalho traça o percurso do pensamento de
Mikhail Bakhtin a partir da biografia escrita por Clark e Holquist. Durante a pesquisa, foram identificados e descritos
três períodos principais no projeto intelectual que Bakhtin elaborou ao longo de sua vida. A primeira fase é de enfoque
filosófico, em que Bakhtin, a partir de um diálogo com o neokantismo e a fenomenologia, escreve uma série de textos
entre 1918 e 1924 que lidam com o problema da ética no mundo da experiência cotidiana. Esses textos compõem um
projeto mais amplo que nunca foi terminado, o qual Clark e Holquist denominam A arquitetônica da respondibilidade.
A segunda fase, de 1924 até 1929, consiste no diálogo com as correntes intelectuais da época (o freudismo, o marxismo,
o formalismo, linguística, fisiologia, etc.) (CLARK, HOLQUIST, p. 31) durante qual tempo escreveu e publicou muitas
de suas obras mais marcantes, dentre as quais se figura Marxismo e filosofia da linguagem (1929). No terceiro período,
de 1929 até 1945, volta seu foco para a área de literatura ao escrever que escreve sobre a poética de Dostoievski,
elabora um projeto de teoria sobre a evolução e a natureza singular do gênero romance, e explora a cultura da Idade
Média e o Renascimento retratado pelo escritor François Rabelais em seu livro Gargântua e Pantagruel. O segundo
capítulo se trata da elaboração do conceito de cronotopo em um dos quatro ensaios elaborados sobre o romance, As
formas do tempo e do cronotopo (1937-1938). O conceito é usado para analisar as diferenças entre seis tipos de
romance datados da Grécia Antiga à Idade Média: o romance aventuresco de provação; o romance aventuresco e de
costumes; o romance biográfico e autobiográfico; o romance de cavalaria; a obra rabelaisiana e o romance idílico.
No atual momento, os dois primeiro objetivos específicos estão completos e a primeira leitura de Viagens na minha
terra está realizada, mas a leitura da fortuna crítica da obra literária e a análise de sua representação do tempo e o
espaço estão em andamento, e portanto, o objetivo principal ainda há de ser alcançado.

Referências

BEMONG, N. et al. (orgs.). Bakhtin e o cronotopo: reflexões, aplicações, perspectivas. São Paulo: Parábola Editorial, 2015. 248 p.
BAKHTIN, M. M. Teoria do romance II: As formas do tempo e do cronotopo. Tradução, prefácio, notas e glossário de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2018. 228
p.
CLARK, Katerina; HOLQUIST, Michael. Mikhail Bakhtin. Boston: Harvard University Press, 1984.
______; ______. Mikhail Bakhtin. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2008.
FIORIN, J. L. Introdução ao pensamento de Bakhtin. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2020. 160 p.
GARRETT, A. Viagens na minha terra. 2º ed. Barueri: Ciranda Cultural, 2017. 223p.

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