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31/07/2005 - Proteção à Vida Uterina

Bom dia,

Comentarei, hoje, uma questão recentemente cobrada pelo Cespe,


sobre o direito fundamental à vida.

É o seguinte o enunciado da questão do Cespe:

“A Constituição da República protege todas as formas de vida,


inclusive a uterina.”

Essa questão foi cobrada no concurso da Polícia Rodoviária Federal,


realizado em 2004.

Antes, porém, algumas palavras especialmente destinadas a alguns


alunos meus, de Brasília, que se mostraram estressados nesta última
semana, em face da autorização do Ministério do Planejamento para
a realização de vários concursos públicos (os comentários também
são válidos para candidatos de outras localidades, desde que se
façam as devidas adequações).

Nos últimos dias, o Ministério do Planejamento autorizou a realização


de vários concursos públicos, dentre os quais destacamos: Auditor e
Técnico da Receita Federal (2400 vagas); Analista, Procurador e
Técnico do Banco Central (390 vagas); Agente Executivo da Comissão
de Valores Mobiliários (54 vagas).

Vale lembrar, também, que já foi publicado o edital para o


preenchimento dos cargos de Gestor e Analista de Planejamento e
Orçamento do Ministério do Planejamento (200 vagas) e que,
certamente, será publicado em breve o edital para o cargo de
Analista do Tribunal de Contas da União, concurso já previamente
autorizado para os próximos anos.

Isso para não falar nos concursos mais esperados pelos brasilienses,
que são os do Poder Legislativo (Câmara dos Deputados, Senado
Federal e Câmara Legislativa do Distrito Federal).

Bem, diante de tantos concursos, vem o estresse: qual concurso


fazer?

De fato, a escolha não é nada fácil.

Mas, acredito que há alguns aspectos que devem ser considerados


por todos os candidatos nessa escolha, a seguir apontados:

1) TEMPO DE PREPARAÇÃO
O tempo médio de preparação até a aprovação é um aspecto que
deve ser levado em conta, com maturidade. Se o candidato tem
pressa, se está desempregado, deve optar por um concurso que exija
menos conhecimento, que seja menos procurado. Se o candidato está
em situação confortável, num bom emprego, e quer apenas mudar de
vida, poderá candidatar-se a uma vaga num grande concurso, que
seja definitivo em sua vida.

Melhor esclarecendo. Há concursos que exigem conteúdo


programático abreviado, como os para técnico e analista dos tribunais
do Poder Judiciário. Em concursos como esses, que normalmente só
exigem as disciplinas básicas (português, direito constitucional,
direito administrativo e informática) e noções de alguns ramos do
Direito (processual civil, civil etc.), o candidato poderá ser aprovado
em menos de seis meses de estudo, a depender de sua
determinação.

Por outro lado, há concursos nacionais que exigem uma maior


preparação, nas mais diferentes disciplinas. É o caso, por exemplo,
dos concursos jurídicos e de Auditor-Fiscal da Receita Federal. Este
último, por exemplo, exige mais de uma dezena de disciplinas, nas
mais variadas áreas de conhecimento: português, estatística,
matemática financeira, língua estrangeira, contabilidade, direito
tributário, direito constitucional, direito administrativo, comércio
internacional (no próximo, fala-se também na possibilidade de se
exigir economia, finanças públicas, direito previdenciário,
informática).

O candidato deve ter em mente que existem disciplinas que, por


maior que seja sua inteligência, exigem tempo para uma eficaz
assimilação. É o caso de contabilidade, por exemplo. Não se aprende
contabilidade da noite para o dia; é uma disciplina que exige um
certo tempo para o aprendizado, a viagem pelo mundo dos débitos e
créditos exige paciência...

Moral da história: o candidato deve definir bem os seus objetivos,


decidindo por um ou outro concurso, levando em conta a sua “pressa”
na aprovação.

2) PERFIL PARA O TRABALHO

Na minha experiência como preparador para concursos, desde o ano


de 1997, eu diria que a maioria dos candidatos presta concursos
pensando, exclusivamente, no quesito “remuneração” – o que é um
equívoco.

Acredito que essa estratégia pode ser válida para o candidato que
está desempregado, ou muito insatisfeito no emprego, ou com
grande necessidade financeira. Mas, se esse não é o seu caso, não
seja imediatista.

Eu tenho vários ex-alunos que fizeram isso, prestaram concurso


pensando exclusivamente no quesito “remuneração”, foram
aprovados, mas não conseguiram permanecer no cargo nem por seis
meses. Aliás, alguns desistiram já na segunda etapa do concurso. É o
caso, por exemplo, dos concursos das polícias – polícia civil, polícia
federal -, que certamente exigem candidatos com um mínimo de
perfil para a atividade. Enfim, se a pessoa tem pavor à arma de fogo,
não deve prestar concurso para as polícias, pensando somente na
retribuição financeira!

3) DISPOSIÇÃO PARA MUDANÇA DE VIDA

Esse é outro fator que deve ser avaliado com cautela. Os chamados
concursos nacionais – Polícia Federal, Receita Federal etc. –
normalmente oferecem vagas para as mais diversas localidades do
País, e o candidato deve avaliar previamente os prós e contras de
uma mudança radical de vida.

Afinal, se a ida para os Estados do Acre e Amapá pode ser uma


aventura para um candidato solteiro (afinal, estará perto do Caribe!),
para um candidato que possui família estruturada em Brasília - com
moradia própria, filhos em idade escolar etc. – pode ser dificultoso.
Para uma candidata brasiliense, que até hoje teve como maior
aventura passear no “Píer 21” nos finais de semana, ter que trabalhar
como Agente da Polícia Federal num posto móvel sobre as águas do
Rio Amazonas pode não ser tão tranqüilo assim (Mac Donalds, Daslu,
nem pensar!)!

4) EVITE MUDANÇAS RADICAIS

Há alguns concursos que exigem disciplinas e conteúdos muito


próximos, enquanto outros exigem matérias completamente
diferentes.

Se o candidato estuda para algum concurso de tribunal do Poder


Judiciário (Superior Tribunal de Justiça, por exemplo), certamente
estará se preparando, também, para outros concursos de tribunais do
Poder Judiciário, que cobram praticamente as mesmas disciplinas.
Normalmente, de um concurso para outro só há mudança na
legislação específica – regimento interno – e em alguns poucos ramos
do Direito (se o concurso é do Tribunal Superior do Trabalho,
certamente será cobrado Direito do Trabalho – e assim por diante).

De igual forma, se o candidato está estudando para algum concurso


na área de gestão pública (gestor público do Ministério do
Planejamento, por exemplo), certamente aproveitará muito de seu
estudo para outros concursos congêneres (Analista de Planejamento
e Orçamento do Ministério do Planejamento, Analista de Finanças e
Controle da Secretaria do Tesouro Nacional etc.).

Portanto, as mudanças de direção nos estudos devem observar essas


semelhanças nos conteúdos programáticos exigidos. Não faz sentido
um candidato que já estudou muito para os concursos dos tribunais
do Poder Judiciário, de uma hora para outra, mudar completamente
de foco, em razão da publicação de um edital para fiscal do Ibama!

Mudanças radicais na preparação, entre concursos que não guardam


nenhuma similitude em termos disciplinas, acarretam grandes
prejuízos, com a perda de todo um aprendizado...

5) O QUE VOCÊ QUER? PASSAR LOGO “EM ALGUM” CONCURSO, OU


SER APROVADO “NO SEU CONCURSO”?

Os candidatos que têm perfeitamente delineado um objetivo


alcançam muito mais rapidamente a aprovação num concurso
público.

Avalie bem, considere os comentários do item 1, acima, e programe


seus estudos, no médio ou longo prazo, de acordo com os seus
objetivos. Para alguns, ser aprovado em qualquer concurso público é
lucro; para outros, não.

Se você está sob pressão, se precisa urgentemente ser aprovado em


algum concurso, seja modesto, comece devagar, por concursos
menos procurados. Depois, já aprovado e trabalhando, longe da
pressão, prepare-se para o concurso dos seus sonhos...

Agora, se você está sem pressa, escolha o cargo dos seus sonhos,
programe os seus estudos no médio prazo e seja persistente até a
aprovação, resolvendo de vez a sua vida em termos de realização
profissional...

Pense bem nesses aspectos suscitados – e, se as dúvidas persistirem,


a nossa conversa continua por e-mail
(vicente@pontodosconcursos.com.br).

Vamos, finalmente, aos comentários à questão do Cespe: “A


Constituição da República protege todas as formas de vida, inclusive
a uterina.”

O enunciado está CERTO, conforme comentários abaixo.


A Constituição Federal assegura textualmente o direito fundamental à
vida (art. 5º, caput), ao prescrever que “todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida” (...).

O direito à vida é considerado o mais fundamental dos direitos, pois


somente a partir dele tem início o exercício dos demais direitos
constitucionalmente protegidos. Com efeito, não se pode falar em
gozo dos demais direitos constitucionais - liberdade, igualdade,
segurança, propriedade etc. - sem, previamente, assegurar-se a
inviolabilidade do direito à vida.

Ao consagrar o direito à vida, a Constituição Federal impõe ao Estado


o dever de bem assegurá-lo, sob dupla concepção: (a) o direito a
permanecer vivo; (b) o direito de viver dignamente, usufruindo os
outros valores fundamentais protegidos pelo texto constitucional,
como a saúde, a educação, a segurança, a assistência aos
hipossuficientes etc.

O início da proteção do direito à vida é aquele em que surge a


chamada “vida viável”, com o início da gravidez, como resultado da
fecundação do óvulo pelo espermatozóide. Inicia-se, então, a
proteção do ordenamento constitucional, pois desde a gestação
temos um ser distinto do pai e da mãe. Por isso se diz que a
Constituição protege a vida de forma geral, inclusive a uterina.

Se a vida uterina não recebesse tutela jurídica, a proteção do direito


à vida não seria completa, pois a vida poderia ser impedida,
interrompida logo depois da concepção.

Aliás, a condenação do aborto pelo ordenamento jurídico brasileiro é


a maior prova de que a proteção à vida alcança também o nascituro,
em momento anterior ao seu nascimento (Código Penal, art. 124).

Até breve,

Vicente Paulo

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