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Sistema Nervoso Introdução

Generalidades sobre o sistema nervoso 16


Desenvolvimento e estrutura do
encéfalo 20
16 Introdução

Generalidades sobre o sistema Circuitos funcionais (E, F)


nervoso O sistema nervoso, o organismo e o meio am-
biente estão funcionalmente inter-relaciona-
Desenvolvimento e divisão (A-D) dos. Estímulos do meio ambiente (estímulos
O sistema nervoso serve para transmitir in- exteroceptivos) (E9) são transmitidos pelas
Introdução

formações. Nas formas de vida primitivas (A), células sensitivas (E10), através de nervos
esta função é exercida pelas próprias células sensitivos (aferentes) (E11), para o SNC
sensitivas (A-C1). Elas são excitadas por es- (E12). O SNC responde enviando instruções
tímulos do meio ambiente e os impulsos são aos músculos (E14), através dos nervos
conduzidos, através de seus processos, para motores (eferentes) (E13). O controle e a
as células musculares (A-C2). Assim ocorre regulação das respostas musculares (E15)
a mais simples reação a estímulos externos são realizados por células sensitivas nos
(células sensitivas com processos isolados músculos, por um mecanismo de retroalimen-
são encontradas, na espécie humana, apenas tação (feedback) através dos nervos sensiti-
no epitélio olfatório). Nos organismos diferen- vos (E16) até o SNC. Esta via aferente não
ciados (B), entre a célula sensorial e a célula transmite estímulos do meio ambiente, mas
muscular, está inserida uma célula adicional, apenas estímulos do interior do corpo (estí-
que transmite a informação: a célula nervo- mulos proprioceptivos). Portanto, distin-
sa (neurônio) (BC3). Ela é capaz de transmitir guem-se uma sensibilidade exteroceptiva e
o estímulo para várias células musculares ou uma sensibilidade proprioceptiva.
outras células nervosas, formando então uma Entretanto, o organismo não só reage ao meio
rede nervosa (C). O corpo humano também ambiente como também atua espontanea-
contém uma rede disseminada deste tipo, e mente. Também nestes casos há um circuito
todas as vísceras, vasos sangüíneos e glân- funcional correspondente: a ação provocada
dulas são inervados por ela, sendo chamada pelo SNC, através de nervos eferentes (F17),
sistema nervoso autônomo (vegetativo é registrada pelos órgãos dos sentidos, e esta
ou visceral), que pode ser dividido em duas informação retorna ao SNC, através de nervos
partes antagônicas, uma parte simpática e aferentes (F11) (reaferência). Dependendo de
uma parte parassimpática*, que juntas são o resultado corresponder ao desejado ou não,
responsáveis pela manutenção de um meio impulsos adicionais são enviados pelo SNC
interno constante (homeostase). com a finalidade de aumentar ou diminuir a
Nos animais vertebrados, além do sistema ner- ação (F13). Um grande número desses circui-
voso autônomo, existe um sistema nervoso tos forma a base da atividade nervosa.
somático, que consiste no sistema nervoso Assim como se distingue uma sensibilidade
central, SNC (encéfalo e medula espinal), e exteroceptiva (pele, mucosa), uma sensibili-
no sistema nervoso periférico (nervos para dade proprioceptiva (receptores musculares e
cabeça, tronco e membros). Servem para a per- tendíneos) e uma inervação sensitiva autôno-
cepção consciente, o movimento voluntário e a ma visceral, também a atividade motora pode
interação de informações (integração). ser dividida em ações motoras somáticas
O SNC se desenvolve da placa neural (D4) da ecotrópicas (músculos estriados voluntá-
ectoderme, que se transforma em sulco neural rios), relacionadas ao meio ambiente, e ações
(D5) e que depois forma o tubo neural (D6). motoras viscerais idiotrópicas (músculos
Finalmente, o tubo neural se diferencia na viscerais lisos), relativas ao meio interno.
medula espinal (D7) e no encéfalo (D8).

* N. de T. É comum chamá-las simplesmente sistema simpá-


tico e sistema parassimpático.
Desenvolvimento do Sistema Nervoso, Circuitos Funcionais 17

A-C Modelos de sistemas nervosos primitivos (segundo Parker e Bethe) 1


1 1

Introdução
3
3
2
2
A B
A Célula sensorial com um processo para a célula muscular
B Célula nervosa como ligação entre uma célula
sensorial e uma célula muscular C Rede nervosa difusa 2

10 11 12
4
9

15 13 16

14

E Circuito funcional: reação do


organismo a um estímulo ambiental

7 8

14 13 12
17

7 8

11

7 10

D Desenvolvimento 8
embrionário do SNC: medula espinal F Circuito funcional: ação do organismo
à esquerda, encéfalo à direita no meio ambiente
18 Introdução

Posição do sistema nervoso no corpo As partes inferiores do encéfalo, que conti-


(A, B) nuam com a medula espinal, são conhecidas,
O sistema nervoso central (SNC) está di- em conjunto, como tronco encefálico (cinza-
vidido em encéfalo (A1) e medula espinal claro) (B7). A parte anterior do encéfalo é
(ME) (A2). O encéfalo se localiza na cavidade chamada cérebro (cinza) (B8).
Introdução

do crânio, recoberto por uma cápsula óssea; As várias partes do tronco encefálico têm
a medula espinal se situa no canal vertebral, uma arquitetura uniforme (estrutura deriva-
encerrada pela coluna vertebral (óssea). Am- da da placa basal e da placa alar, como na
bos são envolvidos pelas meninges encefálica medula espinal, pág. 26 C). Nervos espinais
e espinal, que limitam um espaço preenchido verdadeiros emergem delas, assim como da
pelo líquido cerebrospinal. Dessa maneira, medula espinal. Como na medula espinal,
o SNC é protegido em todos os lados por pa- durante o desenvolvimento embrionário, eles
redes ósseas e por um amortecedor hidráulico se localizam na corda dorsal. Todas estas ca-
(coxim liquórico). racterísticas diferenciam o tronco encefálico
Os nervos periféricos passam através de fo- do cérebro. A classificação aqui citada difere
rames na base do crânio (nervos cranianos) e da oficial, na qual o diencéfalo é considerado
através de forames intervertebrais (nervos es- como parte do tronco encefálico*.
pinais) (A3) em direção aos músculos e à pele. O cérebro, prosencéfalo, consiste em duas
Na região dos membros, primeiro eles formam partes, o diencéfalo e o telencéfalo. No
plexos nervosos, o plexo braquial (A4) e o cérebro maduro, o telencéfalo forma os dois
plexo lombossacral (A5), nos quais as fibras hemisférios cerebrais. Entre eles se localiza o
nervosas da medula espinal mesclam-se entre diencéfalo.
si, de tal maneira que os nervos terminais dos A9 Cerebelo.
membros contêm fibras nervosas de vários
nervos espinais (págs. 84 e 94). Na entrada
das fibras nervosas aferentes nos nervos há
gânglios (A6), pequenos corpos ovais que
contêm células nervosas sensitivas.
Na descrição da posição das estruturas en-
cefálicas, os termos “superior” e “inferior” e
“anterior” e “posterior” se mostram inexatos
devido aos vários eixos cerebrais (B). Como
resultado da posição ereta da espécie huma-
na, aparece uma flexura (angulação) no tubo
neural: o eixo da medula espinal tem direção
quase vertical, enquanto o do cérebro, ao con-
trário, é horizontal (eixo de Forel, laranja)
e o eixo das partes inferiores do encéfalo é
oblíquo (eixo de Meynert, violeta). Os ter-
mos de posicionamento estão de acordo com
esses eixos: a extremidade frontal do eixo é
conhecida como oral ou rostral (os, boca; ros-
trum, proa de navio), a posterior como caudal * N. de T. A afirmação não é mais correta, referindo-se a
(cauda, rabo), a inferior como basal ou ven- uma divisão antiga, usada apenas por alguns autores
anglo-saxônicos (como, por exemplo, Manter e Gatz). A
tral (venter, abdome) e a superior como dorsal Terminologia Anatômica atual divide o tronco encefálico
(dorsum, dorso). em bulbo ou medula oblonga, ponte e mesencéfalo.
Posição do Sistema Nervoso 19

Introdução
2
4

5 5

A Posição do sistema nervoso central no corpo

Dorsal
8

Oral

Caudal Oral

Ventral
7
Dorsal
Ventral B Eixos cerebrais: secção sagital
Caudal mediana do encéfalo
20 Introdução

Desenvolvimento e estrutura a partir da vesícula cerebral, enquanto do


soalho do diencéfalo se formam o primórdio
do encéfalo da hipófise (B13) (pág. 214 B) e a eminência
Desenvolvimento do encéfalo (A-D) mamilar (B14). Da flexura pontina se origina
O selamento do sulco neural em tubo neural um sulco transverso profundo (B15), entre o
primórdio cerebelar e o bulbo: a superfície in-
Introdução

se inicia no nível mais superior da medula


cervical. Daí, o fechamento se dirige oralmen- ferior do cerebelo se localiza contra a parede
te até a extremidade rostral do encéfalo (neu- posterior, delgada e membranácea, da medula
róporo oral, depois lâmina terminal) e, em espinal (pág. 299 E).
direção caudal, até o final da medula espinal. No quarto mês de gestação, os hemisférios
O desenvolvimento ulterior no SNC continua cerebrais começam a crescer em demasia so-
nas mesmas direções. Portanto, as partes do bre a outra parte do cérebro (C). O telencéfa-
encéfalo não amadurecem ao mesmo tempo, lo, que no início se desenvolveu mais lenta-
mas em épocas diferentes (amadurecimento mente do que o restante do encéfalo, agora
heterocronológico). tem o crescimento mais rápido (pág. 184 A).
Na região cefálica, o tubo neural se dilata em A região média da face lateral do hemisfério
várias vesículas (pág. 184 A). A vesícula mais cresce menos rapidamente e é recoberta pe-
rostral será o futuro cérebro ou prosencéfalo las áreas adjacentes. Esta é a ínsula (CD16).
(amarelo e vermelho), e as vesículas posterio- No sexto mês de gestação, a ínsula ainda é
res formarão o futuro tronco encefálico (azul). visível externamente (D). Nas antes lisas su-
Simultaneamente, desenvolvem-se duas fle- perfícies dos hemisférios, aparecem agora os
xuras no tubo neural, a flexura parietal (A1) e primeiros sulcos e giros. As paredes do tubo
a flexura cervical (A2). Embora neste estádio neural e das vesículas encefálicas, antes del-
inicial o tronco encefálico ainda seja uma es- gadas, tornam-se espessas durante o curso do
trutura uniforme, já é possível identificar as desenvolvimento. Elas contêm os neurônios e
futuras áreas do bulbo ou medula oblonga as vias nervosas, formando a real substância
(A-D3), ponte (A-D4), cerebelo (azul-escuro) cerebral (desenvolvimento do cérebro, pág.
(A-D5) e mesencéfalo (verde) (A-C6). O tron- 222).
co encefálico se desenvolve mais rapidamente Através da parede anterior do telencéfalo
do que o prosencéfalo: no segundo mês de ímpar, fibras nervosas passam de um hemis-
gestação, o telencéfalo ainda é uma vesícula fério para o outro. Nesta parte espessada da
de paredes finas (A), enquanto a diferencia- parede, a placa comissural, desenvolve-se o
ção celular no tronco encefálico já se iniciou conjunto de comissuras, que liga os dois he-
(emergência dos nervos cranianos) (A7). A misférios. A maior delas é o corpo caloso
vesícula óptica (pág. 360 A), que se desenvol- (E). A prolongada direção caudal do aumento
ve a partir do diencéfalo (vermelho) (AB8), de tamanho dos hemisférios durante o desen-
invagina-se no cálice óptico (A9). Anterior- volvimento resulta depois em uma extensão
mente a ele se localiza a vesícula cerebral caudal, de tal maneira que o diencéfalo acaba
(telencéfalo, amarelo) (A-D10), inicialmente ficando totalmente encoberto.
ímpar (telencéfalo ímpar), que logo se estende
para ambos os lados para formar os dois he-
misférios cerebrais.
No terceiro mês de gestação, o prosencéfalo
(B) se alarga. O sulco telediencefálico (B11)
separa o telencéfalo do diencéfalo. O primór-
dio do bulbo olfatório (B-D12) se desenvolve
Desenvolvimento do Encéfalo 21

2 A-D Encéfalo de embrião huma-


no com diferentes compri-
5 3 mentos vértex-cóccix (CR)
6
4
1

Introdução
8 7
9
14
10 6
11
5

A Embrião com CR B Embrião com CR


de 10 mm de 27 mm
15
10

8
13 4

12

10

6
16
5

12 4
C Embrião com CR
de 53 mm 3

10

16

12
4
5
3

E Desenvolvimento E Encéfalo de feto com


do corpo caloso comprimento de 33 cm
22 Introdução

Estrutura do encéfalo (A-E) O diencéfalo (cinza-escuro em C, D) e o tron-


Generalidades co encefálico são quase totalmente recober-
tos pelos hemisférios cerebrais, de tal forma
Cada parte individual do cérebro contém es- que são visíveis apenas na base do encéfalo
paços de formas e tamanhos variáveis. A ou em uma secção sagital. Uma secção sagital
cavidade primária do tubo neural e das ve- mediana (D) mostra as partes do tronco ence-
Introdução

sículas encefálicas sofre um grande estreita- fálico, bulbo (D13), ponte (D14) e mesen-
mento, devido ao espessamento das paredes. céfalo (D15), e o cerebelo (D16). O quarto
Na medula espinal de vertebrados inferiores, ventrículo (D2) é mostrado em secção sagital.
ela permanece como o canal central. Na espé- O cerebelo repousa sob seu teto em forma de
cie humana, ocorre um fechamento completo tenda. O terceiro ventrículo (D3) está aberto
(obliteração). Apenas poucas células do reves- ao longo de toda a sua largura. Na sua parte
timento prévio da parede marcam, em uma rostral, os forames interventriculares (D4) se
secção transversal da medula espinal, o local abrem no ventrículo lateral. O corpo caloso
original do canal central (A1). A cavidade per- (D17), que se situa acima do terceiro ventrí-
siste no interior do encéfalo, formando o sis- culo, é uma lâmina de fibras nervosas trans-
tema ventricular (pág. 296), preenchido por versais que unem os dois hemisférios.
um fluido claro, o líquido cerebrospinal. Na re-
gião do bulbo e da ponte, encontra-se o quar- Peso do encéfalo
to ventrículo (AD2). Após a cavidade sofrer
um estreitamento no mesencéfalo, aparece o O peso médio de um encéfalo humano varia
terceiro ventrículo (CD3), que se localiza entre 1.250 g e 1.600 g, dependendo do peso
no diencéfalo, e em cujas paredes laterais se do corpo: um indivíduo de maior compleição
abrem os forames interventriculares (forames geralmente tem um encéfalo mais pesado. O
de Monro) (C-E4) em direção aos ventrículos peso médio de um encéfalo masculino é 1.350
laterais (CE5) (primeiro e segundo ventrí- g e, de um feminino, 1.250 g. Ao redor dos 20
culos*) nos dois hemisférios cerebrais. anos de idade, o encéfalo atinge o seu peso
máximo. Nos idosos, há uma diminuição do
O ventrículo lateral tem uma forma encurva- peso do encéfalo por causa da atrofia relacio-
da (E) e, por isso, é cortado duas vezes (C) em nada à idade. O peso do encéfalo não é indi-
uma secção frontal do hemisfério. Essa forma, cativo do grau de inteligência do indivíduo.
quase descrevendo um semicírculo, é produzi- A pesquisa de cérebros de pessoas eminentes
da pelo crescimento dos hemisférios (rotação (“cérebros de elite”) mostra variações usuais.
dos hemisférios, pág. 222 C) que, durante o
desenvolvimento, não se estendem igualmen-
te em todas as direções. O meio do semicírculo
forma a ínsula. Ela se situa na profundidade
da parede lateral do hemisfério, no soalho
da fossa lateral (C6), recoberta pelas partes
adjacentes, os opérculos (C7), de tal maneira
que a superfície do hemisfério mostra apenas
uma fissura profunda, o sulco lateral (sulco de
Sílvio) (BC8). O hemisfério está dividido em
vários lobos cerebrais (B) (pág. 228): lobo
frontal (B9), lobo parietal (B10), lobo occi-
pital (B11) e lobo temporal (B12).

* N. de T. Por convenção, o primeiro é o esquerdo e o segun-


do é o direito.
Estrutura do Encéfalo, Generalidades 23

2 2
1

Medula espinal

Introdução
Bulbo
Ponte Mesencéfalo
A Secções da medula espinal e do tronco
encefálico (tamanhos reais e proporcionais)

10

9
8
5 4

11

12

17 B Esquema da vista lateral do cérebro


7
6
8
7

3 5

C Esquema de secção frontal


do cérebro
17
4
3

15 16
14
5 2 13
4
D Esquema de secção sagital
(mediana) do cérebro

E Esquema de secção sagital


(paramediana) do cérebro
24 Introdução

Face súpero-lateral (A, B) aberto. A fusão de suas duas paredes forma a


Os dois hemisférios cerebrais recobrem todas aderência intertalâmica (C18). Acima dela
as outras partes do cérebro, de maneira que se curva o fórnice (C19). Na parede anterior
apenas o cerebelo (A1) e o tronco encefá- do terceiro ventrículo se localiza a comissu-
lico (A2) são visíveis. A superfície do hemis- ra anterior (C20) (fibras nervosas cruzadas
do rinencéfalo, entre outras), no seu soalho
Introdução

fério cerebral é reconhecida pelos numerosos


sulcos e giros. Sob a superfície elevada dos está o quiasma óptico (C21), a hipófise
giros, localiza-se o córtex cerebral, o supre- (C22) e os dois corpos mamilares (C23) e,
mo órgão nervoso, de cuja integridade depen- na sua parede posterior, encontra-se a glân-
dem a consciência, a memória, os processos dula pineal (C24).
mentais e a atividade voluntária. Por causa Através do forame interventricular (de Mon-
da formação de sulcos e giros, a extensão do ro) (C25), o terceiro ventrículo se comunica
córtex cerebral é grandemente aumentada. com o ventrículo lateral do hemisfério cere-
Apenas um terço do córtex cerebral está na bral. Caudalmente, ele se continua no aque-
superfície do hemisfério cerebral; dois terços duto do mesencéfalo (de Sílvio) (C26), que
se localizam profundamente nos sulcos. Na se expande abaixo do cerebelo para formar o
vista posterior (B), os hemisférios cerebrais quarto ventrículo (C27), em forma de tenda.
estão separados por um sulco profundo, a Na superfície seccionada do cerebelo (C28),
fissura longitudinal do cérebro (B3). Na os sulcos e giros formam a chamada árvore
superfície lateral, situa-se o sulco lateral da vida. Rostral ao cerebelo, encontra-se a lâ-
(de Sílvio) (A4). Uma secção frontal (pág. 22, mina do teto (C29) do mesencéfalo (um relé
230 e 232) mostra claramente que este não intermediário das vias óptica e auditiva). Na
é um mero sulco, pois na sua profundidade base do tronco encefálico, a ponte (C30) se
se localiza um espaço, a fossa lateral do projeta anteriormente e ultrapassa o bulbo
cérebro. (C31), que está unido à medula espinal.
A extremidade anterior do hemisfério cerebral C32 Plexo corióideo.
é chamada pólo frontal (A5), e a posterior,
pólo occipital (A6). O hemisfério cerebral é
dividido em vários lobos: lobo frontal (AC7),
separado do lobo parietal (AC9) pelo sulco
central (A8), lobo occipital (A10) e lobo
temporal (A11). O sulco central separa o
giro pré-central (A12) (área do controle
motor voluntário) do giro pós-central (A13)
(área da sensibilidade). Juntos, esses giros
são conhecidos como área central.

Secção mediana (C)


Entre os hemisférios cerebrais se localiza o
diencéfalo (C14) e acima dele está o corpo
caloso (C15), que liga os dois hemisférios
cerebrais. O corpo caloso forma uma lâmina
de fibras nervosas cujo arco oral circunda
uma delgada parte da parede do hemisfério
cerebral, o septo pelúcido (C16) (comp. pág.
236 B18). O terceiro ventrículo (C17) está
Estrutura do Encéfalo, Face Súpero-Lateral e Secção Mediana 25

9
8
7

Introdução
13

12 10

5
6
4

11
1
2
3

A Vista lateral do encéfalo

32 14
B Vista posterior

7 24

29

19
15
16
18
25

17

26

27
28
20 21
30
22 23
31
C Secção sagital mediana do encéfalo, com
a face medial do hemisfério cerebral direito
26 Introdução

Base do cérebro (A) tua internamente**. A distribuição é, portan-


A base do cérebro apresenta uma visão geral to, oposta àquela da medula espinal.
do tronco encefálico, das superfícies ventrais A disposição na medula espinal representa
do lobo frontal (A1), do lobo temporal (A2) e uma condição primitiva, como nos peixes e
da base do diencéfalo. A fissura longitudinal anfíbios, que consiste em uma posição peri-
Introdução

do cérebro (A3) separa os dois lobos frontais, ventricular das células nervosas até mesmo
em cuja superfície basal, bilateralmente, lo- no telencéfalo. O córtex cerebral, que repre-
caliza-se o lobo olfatório, com o bulbo olfató- senta o mais alto grau de organização, está
rio (A4) e o trato olfatório (A5). O trato se completamente desenvolvido apenas nos
divide, no trígono olfatório (A6), em duas mamíferos.
estrias olfatórias, que delimitam a substân-
cia perfurada anterior (A7), através da qual Divisão em zonas longitudinais (C)
penetram muitos vasos. No quiasma óptico Durante o desenvolvimento embrionário, o
(A8), onde os nn. ópticos (A9) se cruzam, tubo neural pode ser dividido em zonas longi-
inicia-se a base do diencéfalo, com a hipófise tudinais: a metade ventral da parede lateral,
(A10) e os corpos mamilares (A11). Caudal- denominada lâmina basal (C19), que se di-
mente, a ponte (A12), salientando-se ante- ferencia precocemente e é considerada como
riormente, continua-se com o bulbo (A13). o local de origem das células nervosas moto-
Muitos nervos cranianos emergem do tronco ras, e a metade dorsal da parede lateral, cha-
encefálico. No cerebelo, distinguem-se o ver- mada lâmina alar (C20), que se diferencia
me do cerebelo (A14), medial e profundo, e os tardiamente e é considerada como o local de
dois hemisférios do cerebelo (A15). origem das células nervosas sensitivas. Entre
as lâminas basal e alar existe uma área (C21)
Substância branca e substância cinzenta da qual se originam as células nervosas
Se o encéfalo for seccionado em fatias, reco- autônomas. Esta arquitetura zonal, no SNC,
nhecem-se na superfície de secção a subs- pode ser reconhecida na medula espinal e no
tância branca e a substância cinzenta. A tronco encefálico, e seu conhecimento facilita
substância cinzenta consiste em um acúmulo a compreensão da organização das diversas
de células nervosas, e a substância branca, partes do encéfalo.
de fibras nervosas, isto é, os processos das No diencéfalo e no telencéfalo, as estruturas
células nervosas aparecem claros por causa derivadas das lâminas basal e alar são difí-
de seu revestimento esbranquiçado (bainha ceis de identificar. Muitos autores não acei-
de mielina). Na medula espinal (B16), a tam esta divisão zonal no cérebro.
substância cinzenta se localiza no centro e
está totalmente envolvida pela substância
branca (vias ascendentes e descendentes).
No tronco encefálico (B17) e no diencéfalo,
a substância cinzenta e a substância branca
estão distribuídas de maneira variada*. As
áreas cinzentas são denominadas núcleos. No
telencéfalo (B18), a substância cinzenta se
localiza na margem externa e forma o córtex
cerebral, enquanto a substância branca se si-

* N. de T. No tronco encefálico, a substância cinzenta tam- ** N. de T. No telencéfalo também existe uma substância cin-
bém está localizada apenas no centro, mas de maneira zenta interna que forma, principalmente, os núcleos da
disseminada e não compacta como na medula espinal. base.
Base do Cérebro, Substâncias Branca e Cinzenta, Divisão em Zonas Longitudinais 27

Introdução
1

9 6
8 7
10
11 2
12

13

15

A Vista basal do encéfalo

14

16 17 18

B Distribuição da substância branca e da substância cinzenta

20

21

19

C Zonas longitudinais do SNC


28 Introdução

Evolução do encéfalo (A-C) tra uma diferença significativa entre o homem


Durante a evolução, o encéfalo dos vertebra- de Cro-Magnon e o homem atual (C).
dos desenvolveu-se até o órgão da inteligên- Durante a filogênese e a ontogênese, diversas
cia humana. Como os ascendentes das espé- partes do encéfalo se desenvolvem em dife-
cies estão extintos, o padrão escolhido pela rentes etapas. As partes que servem a funções
Introdução

evolução somente pode ser reconstruído com vitais elementares se desenvolvem antes e já
o auxílio de informações das espécies que estão presentes nos vertebrados inferiores.
conservaram uma estrutura encefálica primi- As partes relacionadas a funções mais dife-
tiva. Nos anfíbios e répteis, o telencéfalo (A1) renciadas se desenvolvem mais tardiamente
aparece como um apêndice do grande bulbo nos vertebrados superiores. Elas empurram
olfatório (A2), enquanto o mesencéfalo (A3) as partes desenvolvidas precocemente para
e o diencéfalo (A4) estão livres na superfície. a profundidade enquanto se arqueiam para
Entretanto, mesmo em um mamífero primi- fora (ficam proeminentes).
tivo, por exemplo, o ouriço (porco-espinho),
o telencéfalo se estende para além da parte
rostral do tronco encefálico e, nos prossímios,
recobre completamente o diencéfalo e o me-
sencéfalo. O desenvolvimento filogenético do
encéfalo consiste primariamente em um cres-
cente aumento do telencéfalo e no desloca-
mento das funções integrativas mais evoluí-
das para esta parte do encéfalo, configurando
uma verdadeira telencefalização. Estruturas
primitivas muito antigas ainda estão contidas
no encéfalo humano e se combinam com es-
truturas mais novas altamente diferenciadas.
Quando se fala, então, de partes antigas e
novas do encéfalo humano, isso se relacio-
na à evolução do mesmo. O encéfalo não é
um computador nem uma máquina pensante
construída sob o ponto de vista racional, mas
um órgão que foi se formando ao longo de in-
contáveis variações durante milhões de anos.
O desenvolvimento da forma do encéfa-
lo humano pode ser estudado por meio da
confecção de moldes de cavidades cranianas
de fósseis humanos (B, C). O molde positivo
da cavidade craniana (molde endocraniano)
constitui uma impressão grosseira da forma
do encéfalo. Comparando-se os moldes, o
aumento dos lobos temporal e frontal é notá-
vel. Enquanto surge uma nítida distinção do
Homo pekinensis em relação ao homem de
Neandertal, o primeiro a utilizar ferramentas
cortantes, e deste para o homem de Cro-Mag-
non (B), o pintor das cavernas, não se encon-
Evolução do Encéfalo 29

3 2 1 3
1
2
4
Sapo Crocodilo
4

Introdução
3

1
1
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4 Ouriço

A Desenvolvimento do encéfalo dos vertebrados Prossímio (Galago)

Gorila Homo pekinensis

Homem de Neandertal Homem de Cro-Magnon


B Molde endocraniano de gorila e fósseis humanos

C Molde endocraniano de Homo sapiens (vistas lateral e basal)

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