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Obra: KARNAL, Leandro et al. Décadas da discordância: 1920-1940. In: ______.

História dos
Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007, p. 197-215.

Tema: O contraste entre as histórias das décadas de 1920 e 1930 nos Estados Unidos da América.

Problema: O que levou os Estados Unidos a uma crise em 1930 que teve como consequência o fim
da prosperidade vivida por toda a década de 1920?

Objetivo: Mostrar quais os fatores sociais e econômicos que ocasionaram o grande crescimento no
consumo de bens nos Estados Unidos nos anos 20, mas que depois de uma década acabou
culminando em uma grave crise econômica no país e no mundo.

Argumentos:

 Os anos 1920 viram um crescimento econômico e a retomada do conservadorismo na


sociedade, política e cultura, contudo todas as restrições que também surgiram foram ofuscadas pela
economia robusta que acendeu a esperança da população. Porém, esse crescimento foi abalado pela
maior crise econômica da história do capitalismo: a “Grande Depressão.” O governo, incapaz de
resolver a crise, deu espaço para o surgimento de movimentos e cultura de protesto social (p. 197).
Em vários aspectos a explosão social e cultural dos anos 1930 foi uma continuação do
desencantamento da “nova era” (p.198).
 A NOVA ERA: IMAGEM E REALIDADE — crescimento econômico dos Estados Unidos
depois da breve recessão do período pós-guerra e da produção industrial, aumento da renda per
capita, queda no desemprego e na inflação. Avanços tecnológicos nos processos de produção e
outros bens de consumo criaram produtos inovadores a preços cada vez mais acessíveis. Circulavam
entre as massas produtos antes restritos aos ricos. O “jeito americano de viver” (american way of
life) tornou-se o slogan exaltado do período, com a ideia da liberdade associada ao consumo em vez
das mudanças nas relações de trabalho (p. 198).
 A influência da propaganda e das novas opções comerciais de lazer (como o cinema e os
esportes profissionais) havia suplantado a política como foco da preocupação pública. O sonho
americano da possibilidade de sucesso individual tinha sido aceito por quase todo mundo. Mas a
realidade era que riqueza econômica e poder político continuaram tendo distribuição muito desigual
na sociedade (p. 199). Seis milhões de famílias pobres, ou 42% do total da população, viviam com
menos de mil dólares por ano. Em 1920, metade da população americana ainda vivia em áreas
rurais, onde os mercados para produtos agrícolas não acompanhavam os passos da nova eficiência,
com os grandes agronegócios relegando a pequena fazenda familiar à posição de relíquia histórica.
As aspirações por reformas econômicas e sociais foram abaladas na contra-ofensiva das empresas,
governos e judiciário depois da derrota da explosão sindical de 1919 (p. 200).
 Os trabalhadores em geral sofreram na década, assim como mulheres, negros e imigrantes
tiveram que lidar também com discriminações e violências específicas, além da falta de interesse
dos sindicatos e do Estado por seus problemas. Sentimentos racistas contra estrangeiros e seus
descendentes fermentavam na população branca há várias décadas, em grande parte como uma
resposta aos problemas sociais – pobreza, doenças, conflito de classe – associados à vinda de
imigrantes (p. 201). Os chauvinistas pressionavam o governo por leis que restringissem a imigração.
O Ato de Imigração de 1924 reduziu o número de imigrantes admitidos. Novas categorias de
“cidadão” e “estrangeiro” foram formuladas com base em noções racistas e a fronteira dos Estados
Unidos começou a ser policiada pela primeira vez (p. 202).
 A obsessão, durante a Primeira Guerra, com o “Americanismo 100%” resultou num esforço
público e privado para “americanizar” imigrantes. Isso foi feito através do lançamento de programas
para ensinar História dos Estados Unidos, costumes e tradições americanas, bem como inglês. A
assistência social, tanto a caridade privada quanto a ajuda governamental, ficou restrita aos
“cidadãos” e passou a envolver programas de americanização (p. 203).
 MUDANÇAS SOCIAIS E DESAFIOS CULTURAIS NOS ANOS 1920 — Mudanças
sociais e econômicas continuaram produzindo protesto social e cultural. Escritores desencantados,
como John dos Passos, Sinclair Lewis, F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway e Gertrude Stein,
criticaram a futilidade da sociedade de consumo, as atitudes repressivas do Estado e das
corporações e as francas limitações à liberdade individual e aos direitos sociais no país. Porém,
reações à “sociedade moderna” não vieram somente da esquerda. Houve a defesa de valores
tradicionais, campanhas anti-seculares, proibição por lei, em 1920, da fabricação e venda de álcool
e o ressurgimento da Ku Klux Klan (KKK) (p. 203).
 Na comunidade negra a modernidade expressou-se numa série de movimentos e tendências
políticas radicais nesses anos. A decepção diante das traições das promessas do governo americano
em favor da autodeterminação e democracia para os oprimidos, depois da Primeira Guerra,
impulsionou muitos negros ativistas em direção ao que chamavam de “nacionalismo negro” (black
nationalism) (p. 204). Nos anos 20, o chamado “Renascimento do Harlem” – o florescimento da
arte e pensamento centralizado em um grupo de escritores, artistas, músicos e intelectuais negros de
Nova York – explorou as possibilidades da ação cultural e política por meio de uma consciência
positiva das heranças e tradições afro-americanas (p. 205).
 CRISE ECONÔMICA — As amplas esperanças da nova era faliram na “Quinta Negra”, 24
de outubro de 1929, quando a Bolsa de Valores nos Estados Unidos caiu em um terço, dando
origem à pior crise econômica na história do capitalismo mundial (p. 205). A taxa de desemprego
ficou durante a década inteira no nível de 20%. Países capitalistas tinham sofrido depressões
econômicas no passado, mas nunca enfrentaram uma crise tão severa, longa, e mundial. No fim de
1932, a produção industrial mundial havia diminuído mais de 33%. As principais causas da
Depressão foram a falta de diversificação nos setores produtivos que ao quebrar não puderam ser
compensados pelo resto da economia; a distribuição desigual de renda e a dependência que o
bancos tinham dos empréstimos, que não foram pagos quando a economia tombou (p.206).
 TEMPOS DUROS — Extrema miséria da Grande Depressão. No campo e na cidade,
americanos nunca haviam enfrentado tanta pobreza, choque social e desespero quanto nos anos
1930 (p. 206). Além de ser abatida pela falência econômica, uma grande área do país sofreu uma
seca devastadora, que fez a renda familiar nas pequenas propriedades cair. Centenas de milhares
migraram para cidades ou empregaram-se nos agronegócios, onde trabalhavam por salários
baixíssimos. Nas cidades industriais, as condições de vida tornaram-se igualmente miseráveis por
conta das altas taxas de desemprego (p.207).
 Favelas proliferaram nas periferias das cidades do Oeste. Mudou a vida econômica e social
das famílias durante a Depressão, que passaram a fazer roupas em casa, hortas e até morar juntas
para economizarem. Muitos homens abandonaram suas famílias. Nas fábricas, muitas mulheres
perderam trabalho para os homens, mas ainda assim, em 1939, 25% mais mulheres estavam
trabalhando do que em 1930. Os negros sofreram mais, pois brancos desempregados começaram
preencher as anteriormente reservadas aos negros. Ocorreu desemprego massivo de mulheres
negras, contudo 38% das negras estavam empregadas em 1939 comparado a 24% das mulheres
brancas. Ainda assim a prostituição tornou-se uma das poucas opções para algumas (p. 208).
Imigrantes e americanos de ascendência latino-americana e asiática foram pressionados a ceder seus
empregos para brancos desempregados na Costa Oeste e no Sudoeste. Governos federais, estaduais
e municipais implementaram um programa de “Repatriação Mexicana” (p. 209).
 O NEW DEAL DE FRANKLIN DELANO ROOSEVELT — O presidente Hoover e o
Congresso, controlado pelos republicanos, tomaram algumas medidas moderadas que tiveram
pouco impacto dado o tamanho da crise. O candidato do Partido Democrata à presidência, Franklin
Delano Roosevelt, ganhou as eleições de 1932 com a promessa de restaurar a confiança na
economia e sociedade e em 1933 e 1934, lançou o primeiro New Deal – um pacote de reformas para
promover a recuperação industrial e agrícola, regular o sistema financeiro e providenciar mais
assistência social e obras públicas (p. 209). Contudo os novos órgãos públicos mostraram-se
ineficientes, a economia piorou e desafios significativos foram levantados pela esquerda e por
organizações populistas. Roosevelt lançou o segundo New Deal em 1935, com programas
ampliados de assistência social emergencial, impostos sobre fortunas privadas, um sistema de
relações industriais que incentivou a sindicalização e a previdência social para os desempregados,
crianças, deficientes e aposentados. Não recuperou a economia nem redistribuiu renda, mas trouxe
em alguma medida segurança econômica para muita gente. Entretanto esses esforços excluíram os
menos favorecidos como as mulheres e os negros que trabalhavam como empregados domésticos
ou no campo (p. 210).
 CULTURA DO PROTESTO: “A RESPOSTA DE BAIXO” — A década de 1930 é
frequentemente chamada a “Década Vermelha”. Os esforços persistentes de sindicalistas e radicais,
especialmente o Partido Comunista dos Estados Unidos ( CPUSA), inspiraram grande parte da
população. Alguns sindicatos e movimentos sociais organizaram esquemas de auto-ajuda, outros
fizeram protestos espontâneos por reivindicações imediatas. Em 1934 greves enormes sob a
liderança da base e socialistas e comunistas em São Francisco (estivadores), Mineápolis
(caminhoneiros) e Toledo (metalúrgicos) obtiveram ganhos impressionantes que inspiraram
operários na nação como um todo (p. 211-212). Comunistas tornaram-se líderes importantes nesse
novo sindicalismo, ampliando a agenda sindical às lutas contra a discriminação racial e sexual.
Porém, no fim dos anos 1930, os líderes sindicais, inclusive comunistas fiéis à Frente Popular,
frequentemente inclinaram-se à política de colaboração com as empresas e ao controle burocrático
“de cima”.
 O impacto da crise econômica e as novas alternativas políticas chegaram a influenciar muito
a indústria cultural, como o cinema. Os populares “filmes de gangster” relataram os políticos
corruptos e a miséria econômica, as “comédias” ridicularizaram instituições tradicionais e
convenções sociais e sexuais da classe média (p. 212). Tais explorações culturais provocaram
bastante protesto de grupos religiosos e políticos conservadores, forçando os chefes de estúdios a
censurarem suas produções. Conscientemente, na segunda metade da década, os diretores de
programas de rádio e filmes de Hollywood concentraram-se no “escapismo”. O mundo
hollywoodiano da fantasia cultivava a crença nas possibilidades de sucesso individual, na
capacidade do governo em proteger cidadãos contra o crime e numa visão da América como uma
sociedade sem classes (p. 213).
 “BOA VIZINHANÇA” E SEGUNDA GUERRA MUNDIAL — Sob os presidentes Hoover
e Roosevelt foi implementada a Política da Boa Vizinhança, que pretendia pôr fim às abertas
intervenções militares na América Latina em favor de relações econômicas mais estreitas.
Roosevelt assinou vários acordos comerciais com países latino-americanos e os investimentos dos
Estados Unidos na região triplicaram entre 1934 e 1941, aumentando sua influência política por
meio do controle econômico. A entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial eclipsaria
as políticas domésticas de reforma, trazendo mobilização total, emprego pleno e novas agitações
sociais e políticas relacionadas à definição da liberdade e ao sonho americano (p. 214-215).

Conclusão: Embora a década de vinte desse período tenha sido baseada em um grande crescimento
econômico nos Estados Unidos, o país não conseguiu superar as imensas diferenças sociais entre a
população, que colocaram muitas pessoas em situação de miséria, principalmente negros,
imigrantes e habitantes das regiões rurais. Com a quebra da bolsa de valores em 1929 o país
mergulhou em um período ainda mais sombrio, no qual as reformas oferecidas pelo governo quase
em nada ajudaram para mudar essa situação. A disputa por um emprego fomentaram as tensões
raciais e religiosas e até a industrial cultural foi influenciada. Primeiramente, ela mostrava em suas
obras a vida na Depressão e os tipos que com ela surgiram, porém, na segunda metade da década o
mundo hollywoodiano começou a surgir, trazendo para todos à fantasia de uma América de sucesso.

O fato é que os Estados Unidos sempre defendeu somente os interesses daqueles que
representavam a ideia do que seria um verdadeiro cidadão daquele país. Assim os piores trabalhos
foram relegados às camadas marginalizadas, mas no momento em que a crise afetou todos os
setores os negros e imigrantes foram obrigados a ceder sua única fonte de renda para os “reais”
americanos, que colocaram a culpa por todas as mazelas que assolaram o país nessa década na
crescente imigração anterior. Vejo que, acostumados com a ideia de que sempre poderiam ter tudo o
que quisessem, a população branca americana sofreu bastante com a Grande Depressão, contudo
continuou com a ideia de que a economia e a capacidade de consumir são muito mais importante até
do que ter alguns direitos políticos e sociais.

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