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Juíza, Maria — Iniciarei lamentando por estar aqui, discutindo sobre uma política que
deveria ser nada discutível e apenas aceita. Pessoas negras são desfavorecidas e
pessoas negras são menosprezadas. Negros de todo o Brasil sofrem com o apagamento e
com a falta de oportunidades que ainda são aglomeradas em instituições, indústrias e
em outros locais nacional. Estar aqui, falando de racismo e das cotas raciais que não
foram respeitadas como deveriam, dou continuidade pedindo para o advogado
criminalista se pronunciar e iniciar argumentos sobre o porquê de as instituições não
terem de aceitar as cotas. Doutor Ricardo, por favor, se dirija aos júris.
Advogado criminalista Ricardo: Excelência, pela ordem, senhores que aqui estão, as
cotas raciais são injustas pelo verdadeiro fato de diminuírem a qualidade acadêmica e a
produção científica ao permitir que alunos com notas menores sejam admitidos em
detrimento dos alunos com notas maiores. Com as cotas raciais a uma divisão negativa
onde as sociedades são implantadas, gerando ódio em quem não foi aceito pela
universidade tendo notas maiores que os cotistas. As cotas raciais são injustas em
diversos pontos. Não é justo! As cotas raciais é uma maneira de os cotistas se
aproveitarem e ingressarem em universidades sem capacidade alguma.
Promotor Argolo — Senhora Jade, você tem plena consciência de que tudo que você
falar, poderá ser usado a seu favor e qualquer controvérsia que você disser, será usada
contra si próprio?
Promotor argolo — A senhora poderia nos dizer o que aconteceu no dia 17 de julho, na
instituição Brito Magalhães?
Jade — Sim, doutor! Naquele dia, foi uma grande turbulência, foi um grande caos.
Lembro-me muito bem, ao ter sido recusada por ser negra e por tentar usar as cotas
raciais, sendo humilhada em público ao me dizerem que meu lugar não seria buscando
uma vaga sem ter capacidade alguma. Disseram-me que meu lugar seria buscando a
inteligência que eu não tinha. — Jade se emociona e passa a chorar — Eu sei que sou
capaz, eu sei que fui em busca de algo que tenho capacidade e que posso… — Jade da
uma pausa na fala, olha pro lado oposto dos júris e respira fundo buscando as
palavras na profundidade extrema de seu espírito — Eu sei doutor que o que eu vivi
naquele dia, me fez pensar se sou realmente capaz de ingressar numa universidade
sendo ela pública ou privada. Eu sei que sou capaz, mas eles me fizeram sentir que sou
extremamente incapaz.
Promotor Argolo — A senhora tem alguma prova que afirme concretamente o que foi
vivido no dia citado pela própria?
Jade — Minha amiga que estava comigo, gravou tudo que aconteceu naquele dia.
Jade — Sim!
Advogado criminalista, Ricardo — E por qual motivo exato, o advogado de defesa não
nos apresentou esse vídeo, para defender seu caso? Seria pelo fato de você ter
mentido?
Advogado criminalista, Ricardo — Pelo contrário, estou pedindo que ela nos apresente
a prova que a própria diz ter. Enfim, sem mais perguntas.
Réu Carla Munhoz — É evidente que no Brasil a política de cotas se mostre inviável ao
se deparar que no Brasil a maior parte do país é composta por miscigenados , deste
modo essa política se mostra inconsistente com a realidade, sendo um meio de
privilegiar pessoas que muitas das vezes não possui a capacidade requerida para cursar o
ensino superior.
Carla Munhoz — O fato de eu estar aqui, não me torna errada ou racista. O fato de eu
estar aqui, significa que não aceito que uma política execute a oportunidade dos
estudantes capacitados, para fazer com que um estudante nada capacitado ingresse
numa instituição com alta qualidade como a minha. Eu sei que pra muitos, é um erro o que
disse e o que fiz no dia 17, mas pra minha instituição, foram ótimas atitudes.
Advogado criminalista — Você disse ter feito algo que para sua instituição, foram
ótimas atitudes. Você poderia nos dizer quais atitudes foram essas?
Carla Munhoz — Recusei a entrada de uma estudante com o uso das cotas. Triturei os
documentos em que ela me apresentou e disse que o lugar dela, não era ali.
Juíza Maria — Senhora, Carla Munhoz, pode se retirar. Por favor, entre as 4
testemunhas.
Testemunhas: Laila, Paula, Isabel e Ana.
Ana — Tudo começou quando eu juntamente com minha amiga Jade, fomos para a
universidade Brito Magalhães, prontas para ingressar cada uma em uma área designada
que mais nos identificamos. Jade, ela sempre teve o sonho de se formar em pedagogia,
e ingressar com as cotas é um motivo para lutar e não se cansar perante a um país laico,
mas que pratica o preconceito pelos próprios brasileiros. Entrar como cotista não é a
questão de querer se aproveitar, mas querer vencer mais uma batalha. Quando Jade
apresentou seus documentos, sua nota do vestibular e disse querer ingressar com as
cotas, a diretora da universidade Brito Magalhães, disse em tom humilhante, que ali não
era o lugar dela. O lugar dela, seria buscando uma inteligência que ainda não existe para
pessoas como ela. No momento em que ouvi isso, peguei meu telefone e comecei a gravar.
Gravei cada minuto e cada segundo. Quando ela viu que eu estava gravando, ela chamou
um dos seguranças da instituição e pediu para nos tirar de lá, por estarmos agredindo a
imagem daquele local. O segurança estava extremamente grosso, e nos tirou de lá, como
se fossemos um saco lixo.
Ana — Sim!
Após o advogado criminalista assistir o vídeo e ficar em êxtase por ver a barbaridade
do acontecimento, ele se pronuncia e diz não ter mais nenhuma pergunta.
Ao a juíza assistir todas aquelas cenas, ela interfere e discursa — Acredito que
com o vídeo está claro o que aconteceu no dia 17, peço então, 15 minutos de intervalo
para que os júris possam tomar uma decisão. Não precisamos de mais nenhuma
testemunha, a não ser, que haja algo a mais que este vídeo.
Juíza Maria — Não estamos apenas tratando de cotas aqui. Após assistir esse vídeo,
estamos tratando também de racismo, e agressão. Está bem claro que não é uma
montagem como o senhor alega. Permitirei sim, que a ré tenha testemunhas, mas após as
testemunhas da ré, peço os 15 minutos de intervalo e após os 15 minutos teremos o
resultado. — juíza Maria, bate o martelo e convida a testemunha Laila.
Advogado criminalista — Senhora Laila, pode nos dizer o que aconteceu e o que não foi
mostrado no vídeo, sobre o acontecido do dia 17?
Laila — Eu não posso mentir. Laila fala, com nervosismo e medo, tomando conta de
todo seu corpo.
Laila — O que aconteceu foi o que exatamente está no vídeo. Desculpa senhora Clara,
eu não posso mentir. Laila fala com os olhos lacrimejando e com a voz trêmula de
nervosismo.
Após 15 minutos.
A juíza retorna, e com os júris têm o envelope que a decisão ali está. O guarda
toma em suas mãos o envelope, entrega a juíza Maria e ao abrir ela inicia a leitura
— Em meios ao vídeo, falas e defesas, afirmamos que existiu sim, o racismo, o
preconceito estrutural que fez com que existisse a exclusão de indivíduos numa
universidade pública e que deveria assolar a política de cotas. Maria, interrompe a
leitura e se posiciona ao advogados, ao promotor, aos júris e todos que ali estão e
inicia falando — ao ler a decisão dos júris, concluo que a ré é culpada e também afirmo
que a senhora Jade, terá o direito de usar as cotas e ter a escolha de ingressar na
instituição Brito Magalhães, ou na qual vinher decidir. A universidade Brito Magalhães
terá de pagar uma multa de 50 mil para a senhora Jade e 50 mil, para a senhora Ana,
por danos morais. Após o discurso, a juíza bate o martelo.