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Vídeo do assalto

1º Cena (Tribunal)
Todos estão de pé até que o juiz diga para se sentarem.
João:
- Bom dia a todas as entidades presentes. Hoje, dia 28 de março de 2022, dou início à
sessão do tribunal sobre o caso do assalto à mão armada do dia 23 de março de 2022,
ocorrido às 07:43h, em Miranda do Douro. Este assalto teve como alvo um bar da
Escola Básica e Secundária de Miranda do Douro, onde os réus terão roubado cerca de
105 euros, 3 pacotes de sumo de laranja da marca Bongo e 25 garrafas de água da
marca Vitalis. Foi-me dado o vídeo, gravado da câmara de segurança do local em
questão, onde podemos ver o momento exato em que os assaltantes cometeram o
crime. Nesta gravação é possível observar também que a arma foi apontada à
funcionária escolar.
Temos aqui presentes, à minha direita, a arguida Minnie com exceção da arguida
Mickey, que não pôde estar presente hoje, devido a assuntos pessoais, sendo estes,
acusados pelos crimes de assalto à mão armada, e a sua respetiva advogada, Doutora
Margarida. À minha esquerda, estão presentes o Doutor Pato Donald, acompanhado
de uma testemunha, a Sra. Daisy. Peço, desde já, aos presentes advogados que
comuniquem ao tribunal a sua posição acerca deste acontecimento, e os seus
respetivos argumentos e factos que possam acrescentar algo. Começo por dar a
palavra à Doutora Margarida, pode-se levantar.
[Íris levanta-se]
Íris:
- Obrigado, meritíssimo juíz. Em defesa dos assaltantes, o assalto resultou do facto
deste casal ter um filho com uma doença terminal, daí terem de pagar hospital e
tratamentos muito caros, para os quais não têm dinheiro.
- Obrigado, meritíssimo juíz. Bom dia a todos os presentes, bom dia dr. Pato Donald.
Estou aqui presente para representar os meus clientes, Sr. Mickey e Minnie, acusados
do assalto ao já referido, bar escolar. Este assalto resultou do facto do casal ter um
filho com uma doença terminal, daí terem de pagar hospital e tratamentos muito
caros, para os quais não têm dinheiro.
Todos os acontecimentos resultam da sequência de causas e efeitos traduzidos pelas
leis da natureza. Os meus clientes não tiveram culpa do seu filho ter adoecido, daí
terem que lidar com acontecimentos traduzidos pela lei da natureza, o que não é justo.
João:
- Senhor Pato Donald, deseja dar a sua posição de defesa?
[Laurent levanta-se]
Laurent:
- Sim, meritíssimo juíz. Primeiramente, bom dia a todos os presentes. Em defesa do bar
da escola, e da funcionária atacada, existem maneiras mais morais para resolver
problemas financeiros. Se existe livre-arbítrio, os arguidos poderiam ter escolhido
resolver este problema de outra maneira. E principalmente, ter escolhido não ameaçar
uma funcionária escolar.
João:
- Peço a vossa atenção para o seguinte: Apesar das circunstâncias, que realmente eram
complicadas, os arguidos poderiam ter tomado outra decisão, tendo em conta que
nenhuma parte foi obrigada a tomar qualquer escolha.
[Íris levanta-se]
Íris:
- Senhor juíz, posso intervir?
João:
- Sim, pode.
Íris:
- Reuni os dados necessários, onde posso comprovar que os meus clientes pediram
ajuda à segurança social, mas a mesma foi recusada, juntamente com vários pedidos
de aumentar o salário nos seus empregos. Mesmo não sendo obrigados por uma
identidade em específico, foram obrigados pelas circunstâncias, já que não lhes foi
apresentada nenhuma outra saída.

João:
- Dr. Pato Donald, pretende expor a sua opinião?
Laurent:
- Por favor, meritíssimo juíz.
João:
- Quando quiser, pode começar.
Laurent:
- Certo. Doutora Margarida, existe sempre outra saída. Existem até vários
contraexemplos, mas trouxe um em específico. Está aqui presente a Senhora Daisy,
que um dia, se encontrou na mesma situação que os assaltantes, mas que nunca
desistiu para dar tudo, mas tudo ao seu filho! Senhor juíz, peço-lhe que me permita
dar a palavra à minha testemunha.
João:
- Com certeza. Senhora Daisy, pode dirigir-se aqui á minha frente, se fizer favor, e,
quando quiser dar o seu contributo para a defesa do dr. Pato Donald, é só ligar o
microfone.
Ana:
- Bom dia a todos, bom dia Sr. Meritíssimo. Fui convidada pelo Dr. Pato Donald, para
contar a minha história. Há 10 anos o meu filho adoeceu e os seus tratamentos
ultrapassavam muito o meu orçamento, mas procurei ajuda e recebi algumas doações.
Arranjei também um segundo emprego
(interrupção - Íris)
[Íris levanta-se]
Íris:
- Tem provas disso?!
[Agora todos falam ao mesmo tempo]
João:
- Ordem, por favor.
Ana:
- Eu não lhe admito que duvide daquilo que eu passei, só EU sei o que passei e só EU
sei o que precisei fazer pelo meu filho!!
João:
- Um de cada vez!
Laurent:
- Calma, para de falar!!! Assim ainda vou perder este caso.
Ana:
- Nunca tive de roubar ninguém para ter dinheiro!
João:
- ORDEM NO TRIBUNAL! Acalmem-se! Preciso que falo um de cada vez! Só assim
podemos prosseguir. Peço que as testemunhas e os doutores advogados se dirijam aos
seus respetivos assentos. E só aí retomaremos a audiência.
--------------- Tempo ----------------
[Todos regressam aos seus lugares]
João:
- Muito bem. Continuemos. Fazendo um balanço do que foi anteriormente dito pelas
defesas. A Sr. Minnie e o Sr. Mickey passaram por uma situação complicada, que os fez
tomar esta triste decisão de assaltar o bar da EBS de Miranda do Douro. Porém, vimos
agora com este contraexemplo, da Sra. Daisy, que passou por uma situação muito
semelhante, mas seguiu outo caminho mais moral, não precisando de cometer um
crime para ultrapassar a sua situação. Dr. Pato Donald, tem algo mais a acrescentar a
este testemunho?
Laurent:
- Não, Sr. Meritíssimo.
João:
- Muito bem. Podemos então prosseguir. Dra. Margarida, diga-nos então, calmamente,
o que tem a dizer sobre o testemunho apresentado pelo Dr. Pato Donald.
[De modo agitado e num tom de voz alto]
Íris:
- Eu só aceito esta testemunha se o Dr. Donald trouxer provas…
João:
- Eu disse, calmamente.
Íris:
- Exijo provas sobre o que está a ser dito!
João:
- Muito bem. Doutor Pato Donald, tem como provar o que foi dito pela Sr. Daisy?
Laurent:
- Sim, meritíssimo, posso fazer um pedido dos contratos de trabalho e dos movimentos
bancários da minha cliente, onde se pode ver a receção de doações. E se me permite,
gostaria de acrescentar algo.
João:
- Prossiga, Dr. Pato Donald.
Laurent:
- Esta história que ouvimos, prova-nos que nunca estamos determinados nas nossas
escolhas, e podemos sempre ter outra escolha, porque temos livre-arbítrio. A minha
cliente viu-se, assim como os arguidos, numa situação muito complicada, onde teve a
escolha de tomar uma decisão. Pois temos sempre a liberdade de tomar as decisões
que queremos.
João:
- Dr. Margarida, após as afirmações dadas, tem algo a acrescentar?
Íris:
- Só quando tiver as provas que pedi, Sr. Meritíssimo.
João:
- Por enquanto, proponho que os réus sejam condenados a 1 ano e meio de prisão. O
que diz a audiência quanto a esta proposta?
[Levantam as placas]
João:
- Muito bem, na próxima semana serão levadas em conta estas propostas, mas podem
ser alteradas se, no entanto, surgirem mais informações sobre o caso. Terminamos por
hoje a 1ª sessão de tribunal e voltaremos, então, daqui a 1 semana.
[Arrumar a sala, e colocar 3 cadeiras no meio da sala, em frente ao quadro interativo]

*NOTÍCIA*
2º cena, personagens: Ana, Beatriz e João.
Diálogo:
[Para a televisão]
Ana:
- Coitados destes pais! Só queriam salvar o seu filho, agiram claramente com o
desespero! O assalto apenas resultou de uma sequência de causas e efeitos, eles não
tinham outra opção!
Beatriz:
- Há sempre outra opção! Como somos livres temos sempre que pagar pelos nossos
atos, e assim a responsabilidade daquilo que fazemos e das decisões que tomámos.
Ana:
- Mas eles foram obrigados pelas circunstâncias a fazer isso!
Beatriz:
- Ninguém é obrigado a tomar nenhuma decisão! Isso é aquilo que a defesa que os
ladrões está a tentar convencer o juiz!
Ana:
- Pelo que soube, até agora, a Dr. Margarida é a única pessoa consciente naquele
tribunal!
Ela tem a mesma opinião que eu, o nós temos a falsa sensação de que somos livres,
porque escolhemos fazer uma coisa em vez de outra, mas desconhecemos as causas
que determinam as nossas ações.

Beatriz:

- Mas como podes provar que as decisões humanas se baseiam numa cadeia causal
que ignoramos se não tens consciência de tal cadeia?

Ana:

- Ninguém acorda de manhã e decide que vai assaltar um banco só por que sim!

[Para de ler o Jornal, destapa a cara e intervém]

João:

- De assaltar um banco não sei, mas acordar e decidir iniciar uma guerra olhe que
talvez…

[Ana e Beatriz olham de lado para ele]

Ana:

- E o senhor é…?

João:

- O moderador desta conversa. Somos livres quando escolhemos fazer o que


desejamos. Não somos livres quando não podemos escolher fazer o que desejamos
fazer, por constrangimentos externos ou internos. Neste caso, os ladrões tinham uma
causa para fazer o que fizeram, mas foram obrigados?

Ana:

- Eles não tinham outra escolha!

Beatriz:

- Tinham!
Ana:
- Já ouviste falar da nova série portuguesa “Vanda”?!
Beatriz:
- Não, não ouvi. Porquê?
Ana:
- A série fala de uma mãe, que tem dois filhos, e que, de um momento para o outro lhe
tiram o dinheiro todo, ficando sem um tostão. Por não ter o dinheiro suficiente para
tratar dos filhos e de arranjar comida para os alimentar ela decide assaltar vários
bancos.
Beatriz:
- E então?
Ana:
- E então!? Esta mãe está na mesma situação que os assaltantes do bar da escola! Eles
tiveram uma causa para roubar assim como a mãe.
Beatriz:
- Mas há sempre uma opção de escolha! Ela poderia não ter assaltado o banco. Sabes o
que disse o filósofo Sigmund Freud?
Ana:
- Não faço a mínima ideia!
Beatriz:
- Ele disse “A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade
envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade.”
Estes assaltantes escolheram cometer o crime e sofreram as consequências. Por isso
eles tiveram liberdade de escolha!
João: Livre-arbítrio e determinismo. O primeiro está relacionado com a causa, o
segundo ao efeito. Tu és livre para escolher as sementes para plantar, mas os frutos são
determinados. Se quiseres mudar a colheita deves mudar a semente.
Ana: Foste tu que inventaste isso?
João: Por acaso não fui, mas é bonita, não é?
Ana: Ahh, sim, sim…..
Beatriz: Eu não concordo com essa frase.
Ana: Eu também não! Não seria melhor “Existem homens deterministas e
determinados, o segundo é a consequência do primeiro, logo é mais coerente a atitude
do primeiro.”.
Beatriz: E desta vez, foste tu que criaste essa frase?
Ana: Não, foi Nilton Mendonça, um determinista conhecido. Onde é que se meteu o
nosso amigo? Estava mesmo aqui! Olha! Deixou um papel!
Beatriz: O que é que diz?
Ana: Diz…. O que é isto??!!
Beatriz: Mostra!
(Ana mostra a carta à Beatriz)

Carta:

ACABA

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