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APRESENTAÇÃO
2º Excelentíssimo Senhor Doutor João Pedro Miranda, Fernanda Alves, Matheus Santos,
João Victor Moraes e Suzianny Santos, Meus Colegas, Eméritos Promotores de Justiça do
Estado do Pará .
6º José dos Santos - Vítima de Tão Bárbaro Crime - seus Familiares Aqui Presentes
Recebam o Bom Dia do Ministério Público;
A Vossas Excelências é entregue à Árdua Tarefa de Fazer Justiça a um Homem que Teve o
Seu Corpo Perfurado Por 1 facada desferida pela Ré, Rosa de Almeida, que Hoje se
Encontra para Prestar Contas do Ato Criminoso que Praticou.
Vossas Excelências Não Estão Aqui Guiados pelo Espírito da Misericórdia, mas Sim pelo
Espírito da Justiça. Toda Justiça vem do Alto, vem de Deus, nosso Criador, e Certamente
Deus nosso Pai não Aprovaria, como de Fato Não Aprova o Ato de Violência Perpetrado por
Rosa de Almeida ao Matar o Senhor José dos Santos
Eu Lembro a Vossas Excelências o Juramento Prestado essa Manhã de Julgarem Está
Causa com Imparcialidade e a Proferir a Vossa Decisão de Acordo com a Vossa
Consciência e os Ditames da Justiça.
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Vossas Excelências, Neste ato de horror, recordo aos senhores o caso de flor de lis, onde o
pastor teve sua vida ceifada por sua própria esposa, conhecida como a viuva negra.
essa citação da "Viúva Negra" ressoa não apenas como uma história sombria, mas também
como um alerta doloroso sobre os perigos dos relacionamentos que se acabam até
alcançarem extremos impensáveis. Neste tribunal, ao buscar justiça para José dos Santos,
confrontamos não apenas a crueldade brutal, mas também a traição de quem deveria ser o
seu ponto forte, seu braço direito, sua fiel escudeira.
Portanto, diante desse cenário trágico, faço um apelo à reflexão dos senhores sobre a
responsabilidade de garantir que a justiça não apenas puna a violência, mas também emita
uma contundente denúncia contra a traição de confiança. Que este tribunal se erga como
guardião dos que não podem mais falar, como um escudo contra as "Viúvas Negras" que
ceifam vidas e dilaceram famílias.
3. MATERIALIDADE E AUTORIA
Muito obrigado, excelentíssimo Dr. promotor, João Victor. Meritíssimo, comungo com todas
as palavras manifestadas pelos excelentíssimos Dr 's. promotores que me antecederam, e
ao cumprimentar vossa excelência, estendo meus cumprimentos a todos os presentes. Irei
agora proceder à peleja da acusação.
Excelentíssimos jurados, hoje temos em face um caso de homicídio - um crime vil, cruel, um
pecado mortal, tirar de outra pessoa o maior e mais bonito presente que Deus nos deu - a
vida. Mas antes de dar continuidade, eu pergunto a vossas excelências - o que é necessário
para se condenar alguém pela prática de um crime? A resposta - precisamos, primeiro,
deixar provado de forma cristalina a presença de dois elementos essenciais, obrigatórios: a
materialidade e a autoria. Sobre esses dois requisitos, irei dar uma breve explicação, a
começar pela materialidade - essa é a comprovação objetiva, concreta, da existência de um
crime, o conjunto de provas que demonstram que um crime de fato ocorreu; agora, em
relação à autoria, essa, nada mais é, que os elementos probatórios que apontam a pessoa,
o agente quem praticou o crime, o agente quem realizara todos os elementos do tipo penal
expresso em nosso ordenamento jurídico e os faz realidade em um caso concreto.
Passando agora para o caso que hoje enfrentamos, sobre o julgamento que hoje lidamos.
Eu falo aqui com convicção, NÃO restam dúvidas quanto a presença desses dois
elementos. Primeiramente, sobre a materialidade que mencionei a pouco: a injusta vítima, o
senhor José, morto covardemente com uma facada em seu peito, faca essa que perfurou
seu coração conforme consta no laudo da necropsia do cadáver; e o objeto utilizado, como
já fora narrado, uma peixeira com uma lâmina de 17,2 centímetros, uma arma feita para
matar - as duas perícias juntadas nos autos do processo nas páginas 130 e 196. O golpe
dado foi feito da direita para a esquerda, de baixo para cima, um golpe com a clara e
exclusiva intenção de matar, e quem diz isso não sou eu - humilde promotor de justiça - mas
sim, a consagrada professora Neusa Bittar, médica e advogada, especialista em medicina
legal, referência em sua área - em seu livro de título Medicina Legal e Noções de
Criminalística, na página 179 - ela asserta: golpes, lesões que demonstram a clara intenção
de matar situam-se no precórdio, a região do coração. E se tamanha mortalidade do golpe
dado não bastasse, a pobre vítima ainda sofreu, agonizou, já esfaqueado, a beira de sua
morte, teve por seus últimos atos de vida, tentar andar até seu quarto, se apoiando nas
paredes, se arrastando, clamando por ajuda, ajuda essa que nunca chegou - a perícia no
local do crime COMPROVA ISSO, constante nas páginas 179 a 190 dos autos, fora
encontrado sangue no chão, nas paredes e por fim, o local em que a vítima deu seu último
suspiro.
No mesmo sentido, os três policiais militares que foram até o local, que investigaram a cena
do crime, foram unânimes, uníssonos em seus relatos, ratificados nas páginas 12 a 15,
uníssonos em dizer que não havia mais ninguém na casa que poderia ter cometido tal ato
se não a ré, todos falaram que a assassina era Rosa de Almeida, ela demonstrava claros
sinais de embriaguez, os policiais encontraram a arma, a peixeira utilizada por ela, e por
fim, todos eles relatam que a acusada confessara o crime.
Todas as provas deste processo, laudo pericial, depoimentos, confissão, são suficientes.
Por isso não deve prosperar tentativa de levantar a tese de insuficiência de provas.
Excelências, percebam que esta mulher que hoje está aqui para receber a resposta da
justiça por sua conduta, veio para MATAR uma pobre vítima, um senhor trabalhador. Essa
viúva negra veio para tentar contra o bem mais precioso, o bem jurídico que QUALQUER
ordenamento NO MUNDO tenta proteger: A VIDA.
E nem venha a defesa levantar qualquer tese de legítima defesa. Excelências, não houve
legítima defesa neste caso. A legítima defesa está prevista no artigo 25 do código penal
brasileiro, como vocês podem ver:
"Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários,
repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem".
Neste caso temos um ASSASSINATO que não cabe o privilégio da legítima defesa. A ré
visivelmente agiu com dolo, tentou ceifar a vida da vítima por motivo FÚTIL e ainda se
utilizou de um instrumento para matar. Não uma faca para cortar pão e SIM uma PEIXEIRA.
Excelências, nobres jurados e juradas, vossas excelências estão hoje neste ato da justiça
pública para exercerem o papel de juízes de fato, para fazer a Justiça. Vossas excelências
não são juízes togados, como o excelentíssimo doutor Ivanildo Ferreira Alves, porém são
representantes do povo tanto quanto ele. A constituição federal consagrou o tribunal do júri
para que a própria sociedade venha a julgar seus semelhantes, e esta é a vossa missão
hoje.
O primeiro quesito que lhes será formulado é: se há materialidade neste fato. E vossas
excelências deverão responder que SIM. Houve materialidade neste fato, porquanto eu e
meus colegas da promotoria de justiça já explanados longamente as provas de
materialidade, isto é, de que houve sim um crime.
Depois lhes será questionado se a pessoa que hoje está no banco dos réus deve ser
absolvida. VEJAM QUE ABSURDO. Absolver uma pessoa capaz de cometer tamanha
crueldade? Para quê? Para vê-la cometendo mais e mais crimes? Não não não. De jeito
nenhum pode ser absolvida. Para fazer justiça e dar um passo no caminho da segurança
social, vossas excelências deverão responder NÃO para este quesito.
Ainda, lhes será questionado se há alguma causa de diminuição da pena neste crime, e
vossas excelências deverão responder que NÃO, pois não há causa de diminuição de pena.
Para finalizar, lhes será questionado se há qualificadora neste crime, e vossas excelências
deverão responder que SIM. Pois o crime foi cometido em circunstâncias que qualificam o
crime de homicídio.
Excelências, votando dessa forma vossas excelências estarão fazendo justiça pela
sociedade paraense, livrando esta sociedade do convívio com uma pessoa vil, criminosa e
violenta.
Era essa a explanação que o ministério público tinha para sustentar, e voltaremos para a
réplica caso necessário. Muito obrigada!
5. RÉPLICA
Muito obrigado, Excelentíssimo Dr. Juiz de Direito Ivanildo Alves. Agradeço também aos
meus caros colegas promotores que me antecederam.
Vossas excelências, nobres julgadores do povo, constituem hoje uma das mais lindas
expressões da nossa democracia: o tribunal do júri. Digo aos nobres julgadores que hoje
não é dia de perdão, é dia de sanção, hoje é dia de justiça.
Quando ingressei no Ministério Público, não fui nomeado Promotor de acusação, dessa
figura nunca me utilizei, fui nomeado Promotor de Justiça. E é justiça que veremos hoje. A
ré, além de ser uma assassina, também é uma mentirosa, pois se não fosse suficiente
matar o próprio marido como um cachorro, também mente de forma descarada, alegando
cinicamente legítima defesa. Que defesa é essa que tenta livrar a sua cliente da prisão
ignorando os fatos, as provas, somente se utilizando de ilações infundadas? Como
brilhantemente meus colegas promotores demonstraram ainda há pouco, através de laudos
periciais e outras provas robustas, a ré acertou um ponto vital da vítima, pois tinha a clara e
inequívoca intenção de matar, de tirar a vida do seu marido. Matou não para se defender,
matou por maldade.
Nobres julgadores do povo, trago um breve relato da minha infância: quando era garoto,
com mais ou menos 6 ou 7 anos de idade, fui ao supermercado do meu bairro com minha
mãe. Lá acabei derrubando um vidro de azeitona, por acidente. Minha mãe viu aquela cena
e ordenou que eu ficasse parado e relatasse tudo o que havia ocorrido para o gerente.
Assim fiz, confessei o meu erro e fui repreendido. Nesse momento, minha mãe formava um
homem, que sabe reconhecer os seus erros. E é exatamente essa a diferença entre esse
Promotor e a ré. Se a ré tivesse sido criada pela dona Lauriene Mendes Miranda, minha
mãe, estaria fitando a mãe da vítima, suplicando perdão, chorando lágrimas de sangue,
sangue do marido que matou, reconhecendo o pecado gravíssimo que cometeu.
Volto a afirmar que hoje não é dia de perdão, hoje é dia sanção. Os nobres julgadores são
justos, são guiados pela justiça. E tenho certeza que não deixarão impune a ré, cuja
culpabilidade restou comprovada neste tribunal.
Finalizo minha fala citando uma belíssima obra, “o caçador de pipas”, de Khaled Hosseini,
um escritor afegão brilhante, que diz que o único pecado que um homem pode cometer é
roubar. Quando um homem estupra uma moça, ele rouba a sua dignidade sexual. Quando
um homem sequestra seu semelhante, ele rouba a sua liberdade de ir e vir. Agora, quando
um homem mata outro, ele rouba uma vida, ele rouba todos os momentos felizes que a
vítima poderia ter com sua família, todos os momentos que aquela mãe enlutada poderia ter
ao lado de seu filho, que agora está morto.