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EXMO. SR. DR.

DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUBAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍ

NILTON DE SOUZA MOURA, brasileiro, solteiro, lavrador, inscrito no RG


3.652.141 SSP/PI e no CPF n° 799.403.403-97, residente na localidade Pico, Zona Rural
do município de Corrente - PI, e que se encontra atualmente encarcerado em
cumprimento de pena na Penitenciária de Bom Jesus, Piauí, vem, por meio do seu
advogado ao fim assinado (doc. 01), à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art.
621, I, do Código de Processo Penal c/c art. 246, I, do Regimento Interno do E. Tribunal
de Justiça do Estado do Piauí, ajuizar

REVISÃO CRIMINAL

de sentença condenatória proferida nos autos da ação penal nº 0000190-


16.2014.8.18.0027, pela qual foi condenado à pena de 29 anos de reclusão em regime
fechado, como incurso no art. 157, § 3° c/c art. 29 do Código Penal, o fazendo mediante
as razões de fato e de direito a seguirem expostas.

1. BREVE RELATÓRIO

O Requerente foi condenado à pena de 29 (vinte e nove) anos e 1 (um) mês em


regime inicialmente fechado, por entender o juízo de Corrente-PI que Nilton estaria
incurso no art. 157, § 3° c/c art. 29 do Código Penal, conforme teor do processo nº
0000190-16.2014.8.18.0027, que tramitou no presente juízo e já se encontra transitado
em julgado (doc. 02).

Acredita-se, no entanto, que há razões que ensejam a propositura desta ação de


revisão criminal para desconstituir o édito condenatório, em razão da existência de novas
provas a serem apresentadas, quais sejam, a oitiva de testemunhas que não prestaram
depoimento em momento oportuno à época da instrução processual, testemunhas que
foram coagidas a dar versão diferente dos fatos, como é o caso de Marcio Gladyson
Cunha Nogueira, que inclusive teve fala omitida em termo de depoimento policial, por
exemplo, como será provado nesta ação, bem como de outras testemunhas que afirmam
categoricamente que Nilton estava em local diverso quando da ocorrência do crime.

Foi proposta, para subsidiar a propositura desta revisão criminal, uma ação
de justificação criminal, que culminou na oitiva de 3 testemunhas. Em decisão, o
juízo da vara única de corrente acolheu a manifestação ministerial e determinou a
produção das provas testemunhais consistentes na oitiva de Márcio Gladyson Cunha
Nogueira, Claudimiro Nunes Nogueira e Raimundo Augusto, que foram ouvidas sob
o crivo do contraditório e embasam a propositura desta ação revisional.

2. DO CABIMENTO DA REVISÃO CRIMINAL

Prevista no art. 621 do Código de Processo Penal, a revisão criminal é uma ação
impugnativa contra sentença condenatória transitada em julgado que, apesar de disposta
no capítulo que trata dos recursos em geral, não é considerada como recurso pela maioria
da doutrina, mas, sim, como remédio jurídico processual com vistas a anulação ou
desconstituição da sentença proferida, objetivando superar erro judiciário no Processo
Penal.

Sendo a justiça feita por homens, ela está sujeita a erros, assim como qualquer
outra atividade humana, e, como forma de evitar a perpetuação de uma condenação
injusta, que prejudica não somente o réu, mas também a sociedade, vez que passará a
desacreditar na Justiça, se admite, em casos excepcionalíssimos, o instituto da revisão
criminal. São três os casos em que é cabível a revisão criminal, consoante disciplina o art.
621 do CPP:

Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:


I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso
da lei penal ou à evidência dos autos;
II - quando a sentença condenatória se fundar em
depoimentos, exames ou documentos comprovadamente
falsos;
III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de
inocência do condenado ou de circunstância que determine ou
autorize diminuição especial da pena.

No presente caso, temos que a revisão criminal é medida possível para


desconstituir a sentença condenatória proferida em desfavor do Revisionando, uma vez
que preenche os requisitos para tanto: há sentença condenatória transitada em julgado,
a qual foi proferida com base em depoimento falso do corréu na ação de origem, bem
como há, nos autos, a existência de novas provas que atestam a inocência do autor desta
revisão. Dito isto, tecer-se-á comentários sobre os motivos pelos quais a sentença
condenatória foi proferida em contrariedade à lei e à evidência dos autos.

3. RAZÕES DA REVISÃO CRIMINAL – AÇÃO PRECEDIDA DE JUSTIFICAÇÃO PARA


PRODUÇÃO DAS NOVAS PROVAS – NEGATIVA DE AUTORIA – IN DUBIO PRO
REO

A presente revisão foi precedida de competente ação de justificação criminal, ação


nº 0000111-27.2020.8.18.0027. A oitiva das testemunhas Márcio Gladyson Cunha
Nogueira, Claudimiro Nunes Nogueira e Raimundo Augusto, ouvidos em sede de
justificação, já demonstra a necessidade de cassação da sentença condenatória, ou, no
mínimo, robustecem de forma suficiente o in dubio pro reo, também autorizando o
provimento desta ação.

Pois bem, veja-se o que disserem, na presença do juiz e do Ministério


Público, as testemunhas:

MÁRCIO GLADYSON CUNHA NOGUEIRA


 = Resposta da testemunha.
Perguntas do advogado:
Você se recorda do fato que originou esse processo? A
ação penal que o Seu Nilton respondeu juntamente com o
senhor conhecido como TAM?
 Mais ou menos;
Na época dos fatos, seu Márcio, o senhor chegou a ser
ouvido na delegacia. O senhor confirma?
 Sim.
O senhor se recorda do que viu naquele dia na delegacia?
Qual foi seu depoimento?
 Sim.
O senhor se recorda de ter sido omitido alguma declaração
do senhor naquele fatídico dia? Na delegacia?
 Seguinte, eu me recordo, o TAM, ele era molecote e ele sempre
passava na casa da minha mãe pedindo serviço e comida,
certo? Então, ele passava, pedia comida, pedia pra limpar o
quintal, a gente dava comida e dava roupa pra ele e passou a
sempre frequentar lá, pedindo essas coisas. E, quando
aconteceu o fato, eu não sabia de nada. Eu to na casa da minha
mãe quando ele procura pra dizer que tinha acontecido esse
problema de que ele tava sendo intimado e o que que eu
acharia, que ele fugisse, ou que ele fosse ser ouvido. Eu
disse você vai ser ouvido. Aí ele procurou ... eu procurei se
ele tinha feito o fato, ele disse que sim. Aí ele falou assim:
fui eu. Aí eu disse assim: então faz o seguinte, vai ser ouvido.
Aí ele disse: mas eu vou ser preso. Não, vai ser ouvido, você vai
ser só ouvido, pra ele não fugir. Ele tava na moto com outra
pessoa e assim ele fez, ele foi até a delegacia ser ouvido e foi
ouvido e por lá mesmo ficou.
Certo. Nesse momento, seu Márcio, o TAM relatou ao senhor
se teria cometido o crime sozinho ou com a ajuda de
alguém?
 Ele não citou nome de segunda pessoa não. Ele disse que
tinha cometido o crime.
Mas nem citou o nome de ninguém nem disse se tinha sido
sozinho?
 Ele disse que tinha feito o crime, né? Não citou nomes de
segundos não, nem terceiros.
Entendi. O senhor se recorda dele ter dito pro senhor o
nome do Nilton?
 Não, em nenhum momento ele falou esse nome.
Certo. Seu Márcio, só pra gente encerrar as minhas
perguntas. É... quando o senhor foi ser ouvido na delegacia,
o senhor se recorda de como você foi tratado lá? O senhor
se recorda se precisou chamar um advogado? Porque a
situação teria ficado um pouco tensa na delegacia?
 Exatamente.
O senhor pode relatar pra gente o que aconteceu?
 Eu falei a minha versão, né? Eu falei minha versão. Quando eu
falei a minha versão, o delegado na época, se eu não me
engano, era... Rodrigo... não lembro, parece que era Rodrigo.
Ele disse que se eu não falasse a verdade, eu ia preso, eu
disse a verdade é essa que to falando.
 E ele não, mas tem que mudar. Aí me chamou pra ser ouvido
já com outra pessoa, aí ele do meu lado, aí foi na hora que
eu pedi se eu podia chamar meu irmão que é advogado e ele
disse tenta uma vez aí, e graças a Deus a primeira vez que
eu tentei, eu consegui, meu irmão chegou lá.
Então, ele teria dito pro senhor que você teria que mudar o
seu depoimento?
 Exatamente.
E o que você disse pra ele nesse dia, foi o que você disse
pra gente aqui agora, nessa audiência?
 É, a mesma coisa.
 Inclusive ele até me chamou, me chamou não, chamou preso né
e botou tete a tete comigo.
Quem foi a pessoa que tava sendo ouvida junto com o
senhor, seu Márcio, que ele chamou?
 Ele chamou o TAM.
O TAM, entendi.
 Pra mim falar na cara, no rosto dele.
E, nesse momento, você teria dito que o TAM disse ao
senhor que teria cometido o crime?
 Disse.
E foi nesse momento que o delegado pediu que o senhor
mudasse?
 Aí o delegado começou a zangar lá e mandando que eu tinha
que depor, é... mudar senão eu ia preso.
Mas, mudar em que sentido, seu Márcio? Ele chegou a dizer
o que ele queria que o senhor mudasse?
 Não, disse que era pra eu mudar o depoimento aí, mas o que
eu sabia era isso e eu só podia dizer só isso.
Entendi. Satisfeito, Excelência.

As declarações da testemunha Márcio Gladyson começam a desenhar o que é de


conhecimento geral na região onde Nilton morava: de que ele não participou desse
crime e fora compelido a confessar.

Márcio afirma, ainda, que sofreu forte pressão para que mudasse seu depoimento,
que por isso precisou chamar seu irmão, que é advogado, o que reforça a ideia de que
houve, ainda na delegacia, pressão e pressa na elucidação, ocasionando um
procedimento tumultuado, com indícios de tortura contra o sr. Nilton, que teria sido forçado
a confessar, como fora dito pela testemunha Raimundo Augusto, que será
detalhado.

Outro ponto que merece destaque é que o Tam, réu confesso, era uma pessoa
do convívio da testemunha, tanto que fora procurado, após o ocorrido, quando o Tam o
teria pedido orientações, momento em que ele confessou ter cometido o crime
sozinho, sem sequer citar o nome do sr. Nilton, tendo a testemunha orientado o Tam
no sentido de que ele fosse se apresentar na delegacia. Conforme detalhado, as
respostas da testemunha Márcio Gladyson reforçam a necessidade de procedência desta
revisão, para por fim ao cumprimento de uma pena injusta em face do autor.

No curso da Audiência do dia 05.08.2021, fora ouvido ainda o sr. Raimundo


Augusto, que foi um dos primeiros a chegar no local e ver a cena do crime. Nos
primeiros minutos de sua oitiva, espontaneamente, Raimundo Augusto contou com
riqueza de detalhes o estado de choque em que ele encontrou o Sr. Nilton, que foi
quem encontrou os corpos, junto com seu filho, logo cedo do dia. Disse ter
encontrado o Nilton estarrecido com tudo aquilo e, além disso, respondeu ao
seguinte:

RAIMUNDOAUGUSTO DA SILVA VIEIRA


 = Resposta da testemunha.

Perguntas do advogado:
Seu Raimundo, o senhor, lá na delegacia, entrevistou o seu
TAM, conhecido como TAM?
 Entrevistei sim, porque essa história se você... Vocês
permitem que eu possa contar como eu vi a história toda? Só
pra responder o que vocês me perguntarem.
Por mim, você pode contar, seu Raimundo.
 Então, nós, eu conversei com o seu Nilton, ele me narrou a
história, eu tirei algumas fotos, né. É... o Lenon me chamou pra
retornar pra cidade, é... eu precisava voltar pra rádio, pro
estúdio, pra eu falar do fato e o Lenon convidou o seu Nilton pra
vir com ele até a delegacia pra ele dizer como é que foi que ele
chegou lá na fazenda e tinha encontrado essa cena e era só isso
que ele queria fazer, não tinha mais nada, era só isso aí. Mas,
esse crime foi uma repercussão muito grande, o estado
precisava mostrar pra sociedade os autores e isso foi uma coisa
assim que eu achei um dos crimes, sou repórter há 40 anos, foi
o crime elucidado com maior rapidez na nossa cidade, então
muitas forças policiais chegaram no mesmo dia, o Nilton veio
até a delegacia, veio dentro do carro, eu conversei muito
com ele, o Lenon (agente de polícia) também e ele contando
a história muito estarrecido, que na região dele um negócio
daquele era um absurdo, aquela história que falei lá no
início.
 Chegando na delegacia, o seu Nilton entrou pra registrar
alguma coisa lá com o Lenon e eu falei: pois eu vou pro estúdio
né, e corri pro estúdio e fui narrar o que eu vi lá, passar pra
população, a população começou a chegar na porta da
delegacia. No mesmo dia chegou, chegaram muitos policiais, a
polícia civil ... é... lá de Teresina né, que veio, muita gente,
muitos policiais, gente estranha que eu não conhecia e, no meio
deles, tinha um daqui e eles, eu saí, fui pro estúdio, quando eu
voltei de tardezinha já, seu Nilton já estava como acusado né.
Parece que foi no mesmo dia, salvo engano, e aí eles
começaram a investigar e me chamaram como repórter no
momento em que os dois teriam confessado o crime né, aí venha
pra cá pra gravar, porque eles acabaram de confessar, então o
repórter era importante, o repórter era... estar aqui nesse
momento né, e eu imediatamente já desci pra lá, isso aí era,
acredito, por volta de umas 3 (três) horas da tarde, eu acho que
era por aí e eu adentrei na delegacia, lá no gabinete do
delegado, na sala do delegado e eu, no momento aqui eu não
lembro, não sei se era o João, Ricardo, era uma coisa assim, ele
hoje tá em Parnaíba.
 Eles... o investigador que veio de Teresina falou: olha ta
aqui o TAM, aí eu fale: ah, beleza, então eu entrevisto primeiro
o TAM, aí eu fui, entrevistei o TAM, fiz todos os
questionamentos, ele comentando o crime como se fosse a
maior normalidade do mundo, muito frio, muito tranquilo, já
era meio conhecido, inclusive já tinha trabalhado lá em casa
em alguns momentos, mas achei muito frio contando a
história. Aí ele, na entrevista, ele colocou o seu Nilton na
história, eu disse: e aí, você cometeu o crime sozinho? Aí ele
falou que não, que não foi eu não, mas com um linguajar meio
de gíria, aquela coisa irônica, aí ele colocou o seu Nilton no meio,
aí tudo bem, terminei a entrevista com ele, a entrevista durou aí
aproximadamente 6 minutos, 6 a 7 minutos.
 Aí eu pedi pra eles trazerem o outro preso, que era o seu
Nilton, que eu tava também interessado em fazer a entrevista
com ele, porque eu saí pra entrevistar dois, aí quando eu falei
isso, traga o seu Nilton da cela pra eu entrevistar, aí eles falaram,
que foi uma coisa que me causou estranheza, que... é... não
iam trazer o seu Nilton, porque tava atordoado, uma hora ele
falava que tinha participado, outra hora ele falava que não, né,
então que deixasse a entrevista dele para depois. Eu ainda
questionei: poxa, mas eu queria entrevistar os dois, um repórter
que se preza, ele vai na fonte pegar tudo aquilo que tem que ser
informado, mas eles não permitiram que eu fizesse a
entrevista. Ao sair da sala, eu pude enxergar o rosto do seu
Nilton né, ele estranhou, a forma física que eu vi lá na hora
do crime, que eu cheguei lá, aliás, na hora que eu vi lá,
cheguei na fazenda e pra aquele momento, acredito que
umas 9, 10 horas, eu vi que existia uma transformação física
e eu entrei no carro e saí pra ir pra rádio e enxerguei o Dr.
Claudimiro, que era presidente da Ordem dos Advogados
Seccional de Corrente e eu entendia que pedia a interferência
da ordem, né, para acompanhar aquele depoimento, porque
pela experiência que eu tinha, que eu tenho, eu achei que tinha
uma coisa estranha naquele depoimento, naquela forma de
buscar uma prova e estranhei porque não deixaram eu
entrevistar, aí me mostraram só uma confissão, uma
confissão no celular, aonde perguntam como foi o corte do
facão, aí o seu Nilton diz, eu não sei se ainda existe esse
vídeo, aí o seu Nilton diz: não era pra dizer que foi assim?
Aí o investigador diz: não era pra dizer não, você que diz.
Então, subentende que existia uma certa ensinamento do
que seria dito pra valer num depoimento, preocupado com
isso, procurei o Dr. Claudimiro, ele disse para o Dr. Claudimiro,
procurei não, encontrei, coincidentemente, lá no posto
Primavera, ali na frente, eu tava descendo do carro, acho que
pra ir almoçar e eu falei pro Dr. Claudimiro: dr., socorre ali o
coitado que ta na delegacia, o seu Nilton, porque do jeito
que ele tá lá, ele vai dizer que matou tudo o quanto for morte
aqui em Corrente que não foram elucidadas, ele vai
confessar, porque ele tá complicado pra ele, sair daquilo ali,
dá um suporte pra ele lá, pelo menos pra ele ter legalmente
o direito de responder aquilo que tá correto, e aí logo depois,
aí ele ficou assim, pegou e entrou no carro e acredito que ele
nem almoçou, eu sei que, eu soube que ele foi depois lá na
delegacia, daí pra frente eu não sei mais.
 Só contar pra Vossas Excelências que eu recebi uma carta
uns 4 (quatro) meses depois de alguém que foi visitar seu Nilton
e ele mandou uma carta pra mim. Eu não sei se ainda tenho essa
carta, fiquei com medo de enfrentar um problema desses só,
porque hoje, do jeito que nós tamo vivendo aqui, você vai
contradizer coisa de polícia, o perigo é grande. Então, eu fiquei
na minha, já sou um repórter sofrido aqui, toda coisa que a gente
diz já é penalizado, então não vou entrar nessa, se tiver a
oportunidade algum dia eu digo. Mas ele mandou uma carta
confessando que tinja sido torturado, tinham botado saco
na cabeça, spray de pimenta, me pedindo socorro no rádio
né, porque ele confessou uma coisa que foi a força, foi a
base de tortura, então uma carta muito, assim, eu diria até
emocionante, pelo que eu conhecia, eu conheço todo
mundo de Corrente, o seu Nilton, eu entendi que a
expressão era a expressão da verdade.
 Então, assim, eu li na rádio essa carta, depois agora vieram
me convidar pra comunicar na audiência aqui e eu to fazendo
uma coisa aqui, não to sendo sensacionalista não, o que eu to
falando aqui é porque, um homem da comunicação, 40 anos, já
fiz várias coberturas policiais, dormir com a dúvida de que um
cidadão tava pagando por uma coisa que ele não fez é muito
ruim, eu não to dizendo aqui, pra mim ele ta sendo punido e
penalizado por uma irresponsabilidade do TAM. Na minha
opinião, o TAM matou sozinho, matou primeiro o seu Bil e
depois matou a esposa, porque é muito longe da rede aonde
o seu Bil tava para a cozinha, era um espaço muito grande,
ele podia perfeitamente fazer isso só. Então era isso aí, se
tiver mais algum questionamento, eu to pronto pra... mas pelo
menos minha consciência agora ta ficando tranquila.
Obrigado pelo seu esclarecimento. Deixa só eu fazer
algumas pontuações pra gente encerrar a minha parte. Dr.
Luciano deve ter as ponderações dele. Mas, então, quando
lá na delegacia o senhor terminou de entrevistar o TAM, e o
senhor viu o estado do Nilton, aparentava alguém que tinha
passado por algum... por algo difícil na delegacia, por algum
sinal de tortura, por algo do tipo?
 Bom, eu estranhei... eu acredito... ele... é complicado eu
falar diretamente que houve a tortura, porque eu não vi, mas que
dava pra imaginar que ele estava sob forte pressão psicológica,
né. Ele é um homem simples, um homem do mato, do interior,
não tinha costume com essas coisas. Eu to bem aqui falando
com os senhores, dá uma certa dificuldade, imagine uma pessoa
humilde que tá lá no interior arrudiado de polícia de tudo quanto
é lugar querendo achar um assassino, né. E aí, eu sei que foi
muito grande a pressão. O que ele conta na carta eu não
duvido.
E quando o senhor chegou à fazenda de manhã, só pra
deixar isso claro, o estado que o seu Nilton estava era
totalmente diferente do que o senhor viu na delegacia
enquanto saía?
 Totalmente, totalmente. A preocupação, lá na fazenda, o
jeito que ele tava era preocupado com uma pessoa da fazenda...
da região que ele disse que prestava serviço pra ele, que não
acontecia aquele tipo de coisa, que não esperava um negócio
daquele acontecer com ele. Pena que eu não gravei com ele,
porque quando eu ia gravar com ele, ele disse que tinha uma
pessoa no fundo, a esposa tava morta também. Pena que eu
não gravei com ele, porque eu tinha que ter gravado com ele,
né. Se tivesse gravado, tinha sido melhor.
Só uma última pergunta, esse vídeo em que o senhor relata
que alguém parece ensaiar um discurso confessional com
o Nilton, esse vídeo era um policial que fazia isso com ele?
Você chegou a ver esse vídeo?
 É, ele tava com 3 (três) policiais e um questionava, o
que tava questionando tava sentado. E eu lembro bem disso
e não sai da minha cabeça isso aqui. É... como é que você
deu o corte, como é que foi o corte do facão? Aí o seu Nilton
falou: não é pra dizer que foi assim? Ora, não é pra dizer,
então alguém disse pra ele que era pra dizer que foi daquele
jeito, porque ele ficou: não, então foi assim, eu entendi
naquele momento que ele não tinha participação naquilo.
Esse é o meu intento.

Perguntas do promotor de justiça:

Seu Raimundo Augusto, a gente escutou aí o seu


depoimento, eu vou lhe fazer só algumas perguntas pra
tentar esclarecer mais. O senhor conhecia... quando o
senhor fala seu Nil, o senhor quer dizer seu Nilton? Né?
 É, seu Nil de Nilton.
Certo. É... o senhor conhecia o seu Nilton?
 Conhecia sim.
E você conhecia o seu TAM também?
 Conhecia os dois.
O senhor foi o primeiro a chegar lá, né? Segundo as
informações que o senhor disse aí, repórter.
 Na hora que eu cheguei lá com o Lenon, só tinha o seu
Nilton. Então, repórter, acredito que fui o primeiro e único que foi
lá. É, eu cheguei muito cedo, mas aí logo depois chegou uns
policiais.
E o seu Nilton disse o que pro senhor? O que é que ele tava
fazendo lá?
 Seu Nilton tava na porteira né, quando nós fomos
chegando foi ele quem nos recebeu, já era 8 (oito) horas e aí ele
já foi matutão rapaz, já pensou um negócio desse na nossa
região, uma barbaridade, uma coisa desse tipo, demonstrando
muita comoção, né, com essa situação lá.
Mas por que que ele estava lá? Ele morava na fazenda? O
que ele tava fazendo lá?
 Ele ia trabalhar lá de manhã, segundo as informações que
tenho. Ele ia trabalhar de manhã, quando ele chegou pra
trabalhar, ele deparou com essa situação, porque à noite, ele
tinha no início da noite, ele, segundo ele, ele estava na casa de
farinha e o pessoal da região me confirmou, para o repórter,
o pessoal lá me confirmou isso.
Certo. O senhor disse que recebeu também uma carta do
seu Nilton, né?
 Recebi.
Ele tava preso na época?
 Tava preso.
O senhor disse, porque o senhor não entregou essa carta
para o senhor Claudemiron?
 Eu não entreguei a carta, porque segundo informações que
eu tinha, ele mandou essa carta para várias pessoas, o que
inclusive gerou a reabertura do processo. Segundo informações,
ele fez para várias pessoas, ele mandou cartas pedindo socorro
lá da delegacia... do presídio, e outros presos que me
encontrara, ao eu comentar essa minha suspeita, alguns presos
que estiveram lá na penitenciária de Bom Jesus e depois saíram
chegaram a me dizer que ele era um coitado inocente que tava
lá pagando por um crime que não cometeu quando eu comento
né, que às vezes eu comento dessa maneira que foi investigada.
O senhor chegou a acompanhar, como repórter, o decorrer
desse processo? O trâmite desse processo até o final?
 Algumas coisas, doutor. Algumas coisas.
Você sabe dizer se o seu Nilton foi acompanhado por
advogado todo o processo, se ele continuou confessando,
se ele contou que foi torturado pra confissão.
 Eu tenho a informação que nas audiências, é... o advogado
que ele tinha constituído primeiro, inclusive que tinha pagado um
valor de R$10.000, parece que ele não se empenhou na
defesa, não arrolou as testemunhas que eles pediam pra
arrolar e que, é..., inclusive com a audiência que houve aqui
em corrente, o juiz fazia algumas perguntas e ele, na
interpretação equivocada dele respondia e não tinha quem
desse o suporte legal pra ele se defender.
Mas ele era acompanhado de advogado?
 Eu não posso informar isso pro senhor. O que eu sei é que
o advogado que eles pagaram não cumpriu com o dever de
advogado, que ele deveria fazer.
O senhor lembra quem era o advogado? Se era da região?
 Dr., acho que era advogado aqui da região, mas eu prefiro
deixar aí, que aí nos autos deve ter o nome dele na inicial.
Mas o senhor sabe quem é?
 Eu vejo dizer, mas não posso afirmar uma coisa que eu não
tenho certeza.
Não, mas pode falar que o senhor tá como testemunha.
 Não, eu... o primeiro advogado que ele constituiu foi o dr.
Joaquim, dr. Joaquim Mascarenhas, foi o primeiro que ele
constituiu segundo eles, eu não vi nenhum documento provando
isso, mas o que eu sei é isso.
E teve mais algum? Você sabe dizer?
 Sei não. Não sei se teve alguém pela defensoria. Eu só sei
desses, porque foi no momento em que eu recebi esses
comunicados de tortura pra ele confessar o crime e veio na
carta que ele tinha constituído esse advogado, que o
advogado, as testemunhas que deveriam ter sido arroladas
no processo não foram ouvidas, né, o que eu sei desse
processo é isso.
E, na época, o senhor falou isso na sua rádio?
 Na audiência, eu lembro que eu fiz um comentário quando
ele teve uma audiência que ele veio de Bom Jesus e eu não
estava presente na audiência, mas algumas fontes me
informaram de uma resposta que ele teria dado equivocada e eu
lembro que eu comentei que também que o cara já é inocente,
aliás, humilde, de uma família humilde, aí vai pra uma audiência
dessa, já foi lá atrás, já suspeito de ter acontecido a quantidade
de coisas que aconteceram, de absurdo com ele, ele senta na
frente do juiz e aí vem um questionamento desses e ele fica
atordoado sem saber o que responder. E aí não tinha um
advogado lá do lado pra orientar. Segundo as informações que
eu recebi, o advogado que tava lá ficou calado, eu não sei quem
era o advogado.
Tá certo, existe mais alguma informação que você ache
importante falar?
 Dr., eu, a informação que pode, é..., ajudar no
esclarecimento melhor era que a justiça procurasse mais
pessoas, não sei se esse papel é da defesa ou da acusação,
não sei, mas que andasse lá na comunidade, conversasse
com as pessoas, chamasse a comunidade, porque a
comunidade em peso lá da região diz a mesma coisa, que
esse rapaz estava em uma casa de farinha lá na hora em que
estava acontecendo esses crimes pra lá e que a população
lá não acredita nisso. Eu acho que deveriam... a polícia
queria, naquele momento, mostrar o resultado de uma
investigação, mas não importa como ela tenha sido, já
estava contando na mão, ele arrolou o Nilton, o Nilton não
confessou né e teve os métodos que foram utilizados que
eu acho que não foram nada, é..., agradáveis.

Como se pode observar, o depoimento do Sr. Raimundo Augusto é ainda mais


revelador. Evidencia, portanto, a necessidade de procedência desta revisão. Para evitar
redundância, apenas destaca-se que, dentre tudo exposto pela testemunha, tem-se o
suficiente para que seja cassado o édito condenatório em face de Nilton. A testemunha
traz fortes indícios de A) Tortura. B) Pressão psicológica. C) Relata um sentimento
geral e uma informação massiva de que Nilton estava numa casa de farinha no dia
do ocorrido. Não se pode olvidar, ainda, o já dito pela outra testemunha, de que o
TAM, antes de ir à delegacia, se aconselhou com ele e confessou ter feito tudo
sozinho, e após os acontecimentos na delegacia, teria citado o nome de Nilton.

Uma coisa é certa: se este tribunal não se convencer de que Nilton não
participou do crime, há, no mínimo, dúvida razoável sobre a sua real participação,
e isso, por si, deve ser suficiente até mesmo na mínima aplicação do in dubio pro
reo.
A jurisprudência é firme em absolver o acusado nos casos em que não há uma
comprovação indubitável da autoria. É firme a ideia que, na dúvida, se deve absolver,
para não dar espaço para cumprimento de pena injusta, quando não se tem razoável
certeza sobre a autoria. Leia-se:

APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSO MINISTERIAL.LATROCÍNIO.


AUTORIA DELITIVA. DEPOIMENTO DE TESTEMUNHA
INDIRETA NÃO AMPARADO POR OUTROS ELEMENTOS DE
PROVA. ABSOLVIÇÃO. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. 1. A existência de dúvidas acerca da autoria do
crime impõe a absolvição em decorrência da aplicação do
princípio in dubio pro reo. 2. Além de haver divergência nos
depoimentos testemunhais na fase inquisitiva e judicial acerca
da participação do réu no delito, o depoimento de testemunha
indireta (ouvir dizer), sem amparo em outras provas, não
autoriza a condenação, razão pela qual, impõe-se a
manutenção da sentença absolutória, nos moldes do artigo
386, VII, do CPP. 3. Recurso conhecido e desprovido. (TJ-DF
00024895220168070010 DF 0002489-52.2016.8.07.0010,
Relator: DEMETRIUS GOMES CAVALCANTI, Data de
Julgamento: 25/06/2020, 3ª Turma Criminal, Data de
Publicação: Publicado no PJe : 09/07/2020 . Pág.: Sem Página
Cadastrada.)

Perceba-se que esse é exatamente o caso dos autos. Inclusive, o caso de Nilton é
ainda mais necessário da aplicação do in dubio pro reo. É que no processo de origem
que condenou Nilton, apenas o sujeito conhecido como TAM, após ter dito que
cometeu o crime sozinho, mudou seu depoimento. Nilton, por sua vez, foi
compelido a confessar em fase investigativa.

O fato é que a autoria dúbia, indiscutivelmente, indica a necessidade de


absolvição, leia-se mais entendimentos sobre o tema:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - LATROCÍNIO TENTADO -


ABSOLVIÇÃO - NECESSIDADE - APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO
IN DUBIO PRO REO. Diante da ausência de prova segura e
judicializada da autoria do acusado, é necessário absolvê-lo
da prática do crime do artigo 157, § 3º, c/c o artigo 14, II, do
Código Penal, com base no princípio do in dubio pro reo.

(TJ-MG - APR: 10105030985532001 MG, Relator: Flávio Leite,


Data de Julgamento: 11/08/0019, Data de Publicação: 21/08/2019)
Alguns destaques merecem exposição:

a) Nem TAM nem Nilton confessaram espontaneamente em delegacia. Ambos


pediram, ainda no curso da ação, a nulidade dos interrogatórios por ter sido feito sob
tortura, e o que robustece essa alegação, é que TAM somente confessou num terceiro
interrogatório; da mesma forma Nilton, que inclusive não foi entrevistado, como disse a
testemunha ouvida na justificação, Márcio, que o avistou com sinais de violência. Márcio
disse ainda que, após negativa de entrevistar, os policiais apenas mostraram um
vídeo de uma confissão, e sobre isso, relatou em audiência de justificação o
seguinte:

e saí pra ir pra rádio e enxerguei o Dr. Claudimiro, que era


presidente da Ordem dos Advogados Seccional de Corrente e
eu entendia que pedia a interferência da ordem, né, para
acompanhar aquele depoimento, porque pela experiência que
eu tinha, que eu tenho, eu achei que tinha uma coisa estranha
naquele depoimento, naquela forma de buscar uma prova e
estranhei porque não deixaram eu entrevistar, aí me
mostraram só uma confissão, uma confissão no celular,
aonde perguntam como foi o corte do facão, aí o seu Nilton
diz, eu não sei se ainda existe esse vídeo, aí o seu Nilton diz:
não era pra dizer que foi assim? Aí o investigador diz: não
era pra dizer não, você que diz. Então, subentende que
existia uma certa ensinamento do que seria dito pra valer
num depoimento.

O que na sentença foi tido como sem qualquer indício de violência, agora tem
prova produzida com judicialidade dando conta da tortura ocorrida.

b) As testemunhas dizem que a cidade toda comenta que Nilton estava numa casa
de farinha no dia do ocorrido, inclusive há nos autos vídeo de uma testemunha que esteve
com ele, cuja a oitiva foi indeferida pelo juiz da justificação. Mas a pergunta que fica ainda
é: por qual razão Nilton, se fosse mesmo o autor do delito, voltaria à cena do crime? a
resposta é que ele não cometeu o crime, chegou na casa das vítimas cedo da manhã
como sempre fazia, para trabalhar, e no fatídico dia, encontrou os dois mortos e ele
próprio pediu ajuda/socorro.

A questão aqui debatida, no mínimo, caso não entenda este tribunal pela ausência
de autoria de Nilton, demanda a aplicação do princípio do in dubio pro reo, que também
autoriza o provimento desta ação.
4. DA POSSIBILIDADE DE DETERMINAÇÃO/CONVERSÃO DO JULGSAMENTO EM
DILIGÊNCIAS – 628 DO CPP C/C 252 DO RI-TJPI

Sobre a revisão criminal, diz o Código de Processo Penal que:

Art. 628. Os regimentos internos dos Tribunais de Apelação estabelecerão


as normas complementares para o processo e julgamento das revisões
criminais.

Compulsando o regimento interno do TJPI, este determina o seguinte:

Art. 252. O Relator admitirá ou não as provas requeridas e determinará a


produção de outras que entender necessárias, facultando o agravo
regimental.

Parágrafo único. A qualquer tempo, o Relator poderá solicitar informações ao


juiz de execução e requisitar os autos do processo sob revisão.

Desse modo, destaca-se a importância de, caso este tribunal entenda que,
pelo juntado aos autos, não é o caso de revisar a condenação, requer-se de forma
alternativa, que se converta o julgamento em diligência, como também admite o Código
de Processo Penal, para determinar a oitiva das testemunhas que não foram ouvidas na
ação penal de origem e que foram indeferidas pelo juiz na ação de justificação criminal,
para que seja possível maior fidedignidade deste julgamento a partir da realização da
diligência, que consiste na oitiva de José Márcio da Silva, Antônio Penha Do Nascimento,
Domingos Ribeiro de Moura e Dulcineide Alves de Castro Souza, no juízo de Corrente-
PI.

5. DA TUTELA ANTECIPADA

Embora não prevista no Código de Processo Penal, a doutrina e a jurisprudência


entendem como cabível a tutela antecipada em sede de revisão criminal 1, pois, além da
legislação admitir a integração da lei processual penal com a lei processual civil2, a

1
TJRO RVCR 00076959420158220000 RO 0007695-94.2015.822.0000. Relator: Desembargadora Ivanira
Feitosa Borges. Câmaras Criminais Reunidas. Data de julgamento: 20.11.2015. DJe: 30.11.2015;
TJ-DF AGR1 20140020125037 DF 0012591-37.2014.8.07.0000. Relator: João Batista Teixeira. Câmara
Criminal. Data de julgamento: 16.06.2014. DJe: 20.06.2014
2
Art. 3º, do CPP. A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como
o suplemento dos princípios gerais de direito.
concessão de efeito suspensivo em ação condenatória serve como forma de amenizar o
sofrimento de quem se encontra cumprindo uma pena imposta erroneamente pelo Estado
ou, até mesmo, prestes a iniciar o cumprimento dela. Nesse sentido, comentou Luiz
Toneti3:

“a falta de previsão legal sobre a concessão de uma tutela de


urgência nas ações de revisão criminal não pode justificar o seu
descabimento, pois por meio dela se evita o prosseguimento de
uma coação, uma vez que ao Judiciário, poder instituído pelo
Estado, cabe proporcionar ordem e harmonia à sociedade.”

O erro é da essência do homem e, ainda que uma decisão tenha transitado em


julgado, pode ela ser gravemente injusta e seus efeitos gerarem prejuízos enormes ao
condenado. Desta forma, a concessão de efeito suspensivo de sentença condenatória por
meio da tutela antecipada foi a maneira encontrada para, de forma urgente, suspender
efeitos de uma decisão que trará enormes prejuízos ao condenado.

Por ser “emprestada” do Código de Processo Civil, a sua concessão em revisão


criminal deve atender aos mesmos critérios, quais sejam: elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano4, requisitos estes presentes aqui.

A probabilidade do direito para a concessão do efeito suspensivo consubstancia-


se pelo novo contexto probatório em relação ao autor Revisionando, que coloca em xeque
a condenação imposta injustamente, já que, agora, se traz as provas da sua inocência.

O perigo de dano é inerente à condenação em pena privativa de liberdade, ainda


mais tratando-se de regime inicialmente fechado, principalmente tendo em vista que o
autor já cumpre pena há anos, e o dano se configura e se potencializa dia após dia,
inclusive um dano irreversível, tendo em vista que o tempo de prisão cumprido pelo autor
não lhe será devolvido.

Desta forma, sendo possível o cabimento de tutela antecipada em sede de revisão


criminal, e estando presente os requisitos que lhe autorizam, necessária a concessão da

Art. 4o, do Decreto-lei nº 4.657/1942: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
3
TONETI, Luiz. Medida liminar em revisão criminal. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.10, n.120, p. 11-13, nov.
2002.
4
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
tutela antecipada para determinar a suspensão imediata da execução da decisão
condenatória até o julgamento definitivo da presente revisão criminal.
Requer, ainda, a determinação de diligência para oitiva das testemunhas faltantes,
que foram indeferidas erroneamente pelo juiz da comarca de Corrente-PI, que julgou a
ação de justificação criminal, que são José Márcio da Silva, Antônio Penha Do
Nascimento, Domingos Ribeiro de Moura e Dulcineide Alves de Castro Souza, nos
termos do artigo 628 do CPP C/C 252 do RI-TJPI, in verbis:

Art. 628. Os regimentos internos dos Tribunais de Apelação estabelecerão


as normas complementares para o processo e julgamento das revisões
criminais.

***************************************************************************************

Art. 252. O Relator admitirá ou não as provas requeridas e determinará a


produção de outras que entender necessárias, facultando o agravo
regimental.

Parágrafo único. A qualquer tempo, o Relator poderá solicitar informações ao


juiz de execução e requisitar os autos do processo sob revisão.

5. DOS PEDIDOS

Nestes termos, requer que seja a presente Ação de Revisão Criminal julgada
totalmente procedente, reformando a sentença revisada no sentido de:

a) Conceder o pedido de tutela antecipada, no sentido de suspender a


execução da pena que pesa contra o Revisionando, até o julgamento do
mérito da presente Revisão criminal, bem como o deferimento da diligência
complementar requerida, consistente na oitiva, no juízo de corrente, de
José Márcio da Silva, Antônio Penha Do Nascimento, Domingos Ribeiro de
Moura e Dulcineide Alves de Castro Souza.

b) No mérito, a desconstituição do édito condenatório por não ter o autor


participado do delito, bem como pela aplicação do in dubio pro reo;

c) Subsidiariamente, caso a liminar não contemple tal ponto e caso este


tribunal veja insuficiência das provas produzidas na justificação, requer a
conversão do julgamento em diligência para ouvir, no juízo de corrente,
José Márcio da Silva, Antônio Penha Do Nascimento, Domingos Ribeiro de
Moura e Dulcineide Alves de Castro Souza.
Nestes termos,
Pede deferimento.

Teresina (PI), 08 de fevereiro de 2023.

Laís Marques
OAB/PI nº 11.235

Maderson Dantas
OAB/PI nº 17.827

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