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REVISÃO CRIMINAL
1. BREVE RELATÓRIO
Foi proposta, para subsidiar a propositura desta revisão criminal, uma ação
de justificação criminal, que culminou na oitiva de 3 testemunhas. Em decisão, o
juízo da vara única de corrente acolheu a manifestação ministerial e determinou a
produção das provas testemunhais consistentes na oitiva de Márcio Gladyson Cunha
Nogueira, Claudimiro Nunes Nogueira e Raimundo Augusto, que foram ouvidas sob
o crivo do contraditório e embasam a propositura desta ação revisional.
Prevista no art. 621 do Código de Processo Penal, a revisão criminal é uma ação
impugnativa contra sentença condenatória transitada em julgado que, apesar de disposta
no capítulo que trata dos recursos em geral, não é considerada como recurso pela maioria
da doutrina, mas, sim, como remédio jurídico processual com vistas a anulação ou
desconstituição da sentença proferida, objetivando superar erro judiciário no Processo
Penal.
Sendo a justiça feita por homens, ela está sujeita a erros, assim como qualquer
outra atividade humana, e, como forma de evitar a perpetuação de uma condenação
injusta, que prejudica não somente o réu, mas também a sociedade, vez que passará a
desacreditar na Justiça, se admite, em casos excepcionalíssimos, o instituto da revisão
criminal. São três os casos em que é cabível a revisão criminal, consoante disciplina o art.
621 do CPP:
Márcio afirma, ainda, que sofreu forte pressão para que mudasse seu depoimento,
que por isso precisou chamar seu irmão, que é advogado, o que reforça a ideia de que
houve, ainda na delegacia, pressão e pressa na elucidação, ocasionando um
procedimento tumultuado, com indícios de tortura contra o sr. Nilton, que teria sido forçado
a confessar, como fora dito pela testemunha Raimundo Augusto, que será
detalhado.
Outro ponto que merece destaque é que o Tam, réu confesso, era uma pessoa
do convívio da testemunha, tanto que fora procurado, após o ocorrido, quando o Tam o
teria pedido orientações, momento em que ele confessou ter cometido o crime
sozinho, sem sequer citar o nome do sr. Nilton, tendo a testemunha orientado o Tam
no sentido de que ele fosse se apresentar na delegacia. Conforme detalhado, as
respostas da testemunha Márcio Gladyson reforçam a necessidade de procedência desta
revisão, para por fim ao cumprimento de uma pena injusta em face do autor.
Perguntas do advogado:
Seu Raimundo, o senhor, lá na delegacia, entrevistou o seu
TAM, conhecido como TAM?
Entrevistei sim, porque essa história se você... Vocês
permitem que eu possa contar como eu vi a história toda? Só
pra responder o que vocês me perguntarem.
Por mim, você pode contar, seu Raimundo.
Então, nós, eu conversei com o seu Nilton, ele me narrou a
história, eu tirei algumas fotos, né. É... o Lenon me chamou pra
retornar pra cidade, é... eu precisava voltar pra rádio, pro
estúdio, pra eu falar do fato e o Lenon convidou o seu Nilton pra
vir com ele até a delegacia pra ele dizer como é que foi que ele
chegou lá na fazenda e tinha encontrado essa cena e era só isso
que ele queria fazer, não tinha mais nada, era só isso aí. Mas,
esse crime foi uma repercussão muito grande, o estado
precisava mostrar pra sociedade os autores e isso foi uma coisa
assim que eu achei um dos crimes, sou repórter há 40 anos, foi
o crime elucidado com maior rapidez na nossa cidade, então
muitas forças policiais chegaram no mesmo dia, o Nilton veio
até a delegacia, veio dentro do carro, eu conversei muito
com ele, o Lenon (agente de polícia) também e ele contando
a história muito estarrecido, que na região dele um negócio
daquele era um absurdo, aquela história que falei lá no
início.
Chegando na delegacia, o seu Nilton entrou pra registrar
alguma coisa lá com o Lenon e eu falei: pois eu vou pro estúdio
né, e corri pro estúdio e fui narrar o que eu vi lá, passar pra
população, a população começou a chegar na porta da
delegacia. No mesmo dia chegou, chegaram muitos policiais, a
polícia civil ... é... lá de Teresina né, que veio, muita gente,
muitos policiais, gente estranha que eu não conhecia e, no meio
deles, tinha um daqui e eles, eu saí, fui pro estúdio, quando eu
voltei de tardezinha já, seu Nilton já estava como acusado né.
Parece que foi no mesmo dia, salvo engano, e aí eles
começaram a investigar e me chamaram como repórter no
momento em que os dois teriam confessado o crime né, aí venha
pra cá pra gravar, porque eles acabaram de confessar, então o
repórter era importante, o repórter era... estar aqui nesse
momento né, e eu imediatamente já desci pra lá, isso aí era,
acredito, por volta de umas 3 (três) horas da tarde, eu acho que
era por aí e eu adentrei na delegacia, lá no gabinete do
delegado, na sala do delegado e eu, no momento aqui eu não
lembro, não sei se era o João, Ricardo, era uma coisa assim, ele
hoje tá em Parnaíba.
Eles... o investigador que veio de Teresina falou: olha ta
aqui o TAM, aí eu fale: ah, beleza, então eu entrevisto primeiro
o TAM, aí eu fui, entrevistei o TAM, fiz todos os
questionamentos, ele comentando o crime como se fosse a
maior normalidade do mundo, muito frio, muito tranquilo, já
era meio conhecido, inclusive já tinha trabalhado lá em casa
em alguns momentos, mas achei muito frio contando a
história. Aí ele, na entrevista, ele colocou o seu Nilton na
história, eu disse: e aí, você cometeu o crime sozinho? Aí ele
falou que não, que não foi eu não, mas com um linguajar meio
de gíria, aquela coisa irônica, aí ele colocou o seu Nilton no meio,
aí tudo bem, terminei a entrevista com ele, a entrevista durou aí
aproximadamente 6 minutos, 6 a 7 minutos.
Aí eu pedi pra eles trazerem o outro preso, que era o seu
Nilton, que eu tava também interessado em fazer a entrevista
com ele, porque eu saí pra entrevistar dois, aí quando eu falei
isso, traga o seu Nilton da cela pra eu entrevistar, aí eles falaram,
que foi uma coisa que me causou estranheza, que... é... não
iam trazer o seu Nilton, porque tava atordoado, uma hora ele
falava que tinha participado, outra hora ele falava que não, né,
então que deixasse a entrevista dele para depois. Eu ainda
questionei: poxa, mas eu queria entrevistar os dois, um repórter
que se preza, ele vai na fonte pegar tudo aquilo que tem que ser
informado, mas eles não permitiram que eu fizesse a
entrevista. Ao sair da sala, eu pude enxergar o rosto do seu
Nilton né, ele estranhou, a forma física que eu vi lá na hora
do crime, que eu cheguei lá, aliás, na hora que eu vi lá,
cheguei na fazenda e pra aquele momento, acredito que
umas 9, 10 horas, eu vi que existia uma transformação física
e eu entrei no carro e saí pra ir pra rádio e enxerguei o Dr.
Claudimiro, que era presidente da Ordem dos Advogados
Seccional de Corrente e eu entendia que pedia a interferência
da ordem, né, para acompanhar aquele depoimento, porque
pela experiência que eu tinha, que eu tenho, eu achei que tinha
uma coisa estranha naquele depoimento, naquela forma de
buscar uma prova e estranhei porque não deixaram eu
entrevistar, aí me mostraram só uma confissão, uma
confissão no celular, aonde perguntam como foi o corte do
facão, aí o seu Nilton diz, eu não sei se ainda existe esse
vídeo, aí o seu Nilton diz: não era pra dizer que foi assim?
Aí o investigador diz: não era pra dizer não, você que diz.
Então, subentende que existia uma certa ensinamento do
que seria dito pra valer num depoimento, preocupado com
isso, procurei o Dr. Claudimiro, ele disse para o Dr. Claudimiro,
procurei não, encontrei, coincidentemente, lá no posto
Primavera, ali na frente, eu tava descendo do carro, acho que
pra ir almoçar e eu falei pro Dr. Claudimiro: dr., socorre ali o
coitado que ta na delegacia, o seu Nilton, porque do jeito
que ele tá lá, ele vai dizer que matou tudo o quanto for morte
aqui em Corrente que não foram elucidadas, ele vai
confessar, porque ele tá complicado pra ele, sair daquilo ali,
dá um suporte pra ele lá, pelo menos pra ele ter legalmente
o direito de responder aquilo que tá correto, e aí logo depois,
aí ele ficou assim, pegou e entrou no carro e acredito que ele
nem almoçou, eu sei que, eu soube que ele foi depois lá na
delegacia, daí pra frente eu não sei mais.
Só contar pra Vossas Excelências que eu recebi uma carta
uns 4 (quatro) meses depois de alguém que foi visitar seu Nilton
e ele mandou uma carta pra mim. Eu não sei se ainda tenho essa
carta, fiquei com medo de enfrentar um problema desses só,
porque hoje, do jeito que nós tamo vivendo aqui, você vai
contradizer coisa de polícia, o perigo é grande. Então, eu fiquei
na minha, já sou um repórter sofrido aqui, toda coisa que a gente
diz já é penalizado, então não vou entrar nessa, se tiver a
oportunidade algum dia eu digo. Mas ele mandou uma carta
confessando que tinja sido torturado, tinham botado saco
na cabeça, spray de pimenta, me pedindo socorro no rádio
né, porque ele confessou uma coisa que foi a força, foi a
base de tortura, então uma carta muito, assim, eu diria até
emocionante, pelo que eu conhecia, eu conheço todo
mundo de Corrente, o seu Nilton, eu entendi que a
expressão era a expressão da verdade.
Então, assim, eu li na rádio essa carta, depois agora vieram
me convidar pra comunicar na audiência aqui e eu to fazendo
uma coisa aqui, não to sendo sensacionalista não, o que eu to
falando aqui é porque, um homem da comunicação, 40 anos, já
fiz várias coberturas policiais, dormir com a dúvida de que um
cidadão tava pagando por uma coisa que ele não fez é muito
ruim, eu não to dizendo aqui, pra mim ele ta sendo punido e
penalizado por uma irresponsabilidade do TAM. Na minha
opinião, o TAM matou sozinho, matou primeiro o seu Bil e
depois matou a esposa, porque é muito longe da rede aonde
o seu Bil tava para a cozinha, era um espaço muito grande,
ele podia perfeitamente fazer isso só. Então era isso aí, se
tiver mais algum questionamento, eu to pronto pra... mas pelo
menos minha consciência agora ta ficando tranquila.
Obrigado pelo seu esclarecimento. Deixa só eu fazer
algumas pontuações pra gente encerrar a minha parte. Dr.
Luciano deve ter as ponderações dele. Mas, então, quando
lá na delegacia o senhor terminou de entrevistar o TAM, e o
senhor viu o estado do Nilton, aparentava alguém que tinha
passado por algum... por algo difícil na delegacia, por algum
sinal de tortura, por algo do tipo?
Bom, eu estranhei... eu acredito... ele... é complicado eu
falar diretamente que houve a tortura, porque eu não vi, mas que
dava pra imaginar que ele estava sob forte pressão psicológica,
né. Ele é um homem simples, um homem do mato, do interior,
não tinha costume com essas coisas. Eu to bem aqui falando
com os senhores, dá uma certa dificuldade, imagine uma pessoa
humilde que tá lá no interior arrudiado de polícia de tudo quanto
é lugar querendo achar um assassino, né. E aí, eu sei que foi
muito grande a pressão. O que ele conta na carta eu não
duvido.
E quando o senhor chegou à fazenda de manhã, só pra
deixar isso claro, o estado que o seu Nilton estava era
totalmente diferente do que o senhor viu na delegacia
enquanto saía?
Totalmente, totalmente. A preocupação, lá na fazenda, o
jeito que ele tava era preocupado com uma pessoa da fazenda...
da região que ele disse que prestava serviço pra ele, que não
acontecia aquele tipo de coisa, que não esperava um negócio
daquele acontecer com ele. Pena que eu não gravei com ele,
porque quando eu ia gravar com ele, ele disse que tinha uma
pessoa no fundo, a esposa tava morta também. Pena que eu
não gravei com ele, porque eu tinha que ter gravado com ele,
né. Se tivesse gravado, tinha sido melhor.
Só uma última pergunta, esse vídeo em que o senhor relata
que alguém parece ensaiar um discurso confessional com
o Nilton, esse vídeo era um policial que fazia isso com ele?
Você chegou a ver esse vídeo?
É, ele tava com 3 (três) policiais e um questionava, o
que tava questionando tava sentado. E eu lembro bem disso
e não sai da minha cabeça isso aqui. É... como é que você
deu o corte, como é que foi o corte do facão? Aí o seu Nilton
falou: não é pra dizer que foi assim? Ora, não é pra dizer,
então alguém disse pra ele que era pra dizer que foi daquele
jeito, porque ele ficou: não, então foi assim, eu entendi
naquele momento que ele não tinha participação naquilo.
Esse é o meu intento.
Uma coisa é certa: se este tribunal não se convencer de que Nilton não
participou do crime, há, no mínimo, dúvida razoável sobre a sua real participação,
e isso, por si, deve ser suficiente até mesmo na mínima aplicação do in dubio pro
reo.
A jurisprudência é firme em absolver o acusado nos casos em que não há uma
comprovação indubitável da autoria. É firme a ideia que, na dúvida, se deve absolver,
para não dar espaço para cumprimento de pena injusta, quando não se tem razoável
certeza sobre a autoria. Leia-se:
Perceba-se que esse é exatamente o caso dos autos. Inclusive, o caso de Nilton é
ainda mais necessário da aplicação do in dubio pro reo. É que no processo de origem
que condenou Nilton, apenas o sujeito conhecido como TAM, após ter dito que
cometeu o crime sozinho, mudou seu depoimento. Nilton, por sua vez, foi
compelido a confessar em fase investigativa.
O que na sentença foi tido como sem qualquer indício de violência, agora tem
prova produzida com judicialidade dando conta da tortura ocorrida.
b) As testemunhas dizem que a cidade toda comenta que Nilton estava numa casa
de farinha no dia do ocorrido, inclusive há nos autos vídeo de uma testemunha que esteve
com ele, cuja a oitiva foi indeferida pelo juiz da justificação. Mas a pergunta que fica ainda
é: por qual razão Nilton, se fosse mesmo o autor do delito, voltaria à cena do crime? a
resposta é que ele não cometeu o crime, chegou na casa das vítimas cedo da manhã
como sempre fazia, para trabalhar, e no fatídico dia, encontrou os dois mortos e ele
próprio pediu ajuda/socorro.
A questão aqui debatida, no mínimo, caso não entenda este tribunal pela ausência
de autoria de Nilton, demanda a aplicação do princípio do in dubio pro reo, que também
autoriza o provimento desta ação.
4. DA POSSIBILIDADE DE DETERMINAÇÃO/CONVERSÃO DO JULGSAMENTO EM
DILIGÊNCIAS – 628 DO CPP C/C 252 DO RI-TJPI
Desse modo, destaca-se a importância de, caso este tribunal entenda que,
pelo juntado aos autos, não é o caso de revisar a condenação, requer-se de forma
alternativa, que se converta o julgamento em diligência, como também admite o Código
de Processo Penal, para determinar a oitiva das testemunhas que não foram ouvidas na
ação penal de origem e que foram indeferidas pelo juiz na ação de justificação criminal,
para que seja possível maior fidedignidade deste julgamento a partir da realização da
diligência, que consiste na oitiva de José Márcio da Silva, Antônio Penha Do Nascimento,
Domingos Ribeiro de Moura e Dulcineide Alves de Castro Souza, no juízo de Corrente-
PI.
5. DA TUTELA ANTECIPADA
1
TJRO RVCR 00076959420158220000 RO 0007695-94.2015.822.0000. Relator: Desembargadora Ivanira
Feitosa Borges. Câmaras Criminais Reunidas. Data de julgamento: 20.11.2015. DJe: 30.11.2015;
TJ-DF AGR1 20140020125037 DF 0012591-37.2014.8.07.0000. Relator: João Batista Teixeira. Câmara
Criminal. Data de julgamento: 16.06.2014. DJe: 20.06.2014
2
Art. 3º, do CPP. A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como
o suplemento dos princípios gerais de direito.
concessão de efeito suspensivo em ação condenatória serve como forma de amenizar o
sofrimento de quem se encontra cumprindo uma pena imposta erroneamente pelo Estado
ou, até mesmo, prestes a iniciar o cumprimento dela. Nesse sentido, comentou Luiz
Toneti3:
Art. 4o, do Decreto-lei nº 4.657/1942: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
3
TONETI, Luiz. Medida liminar em revisão criminal. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.10, n.120, p. 11-13, nov.
2002.
4
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
tutela antecipada para determinar a suspensão imediata da execução da decisão
condenatória até o julgamento definitivo da presente revisão criminal.
Requer, ainda, a determinação de diligência para oitiva das testemunhas faltantes,
que foram indeferidas erroneamente pelo juiz da comarca de Corrente-PI, que julgou a
ação de justificação criminal, que são José Márcio da Silva, Antônio Penha Do
Nascimento, Domingos Ribeiro de Moura e Dulcineide Alves de Castro Souza, nos
termos do artigo 628 do CPP C/C 252 do RI-TJPI, in verbis:
***************************************************************************************
5. DOS PEDIDOS
Nestes termos, requer que seja a presente Ação de Revisão Criminal julgada
totalmente procedente, reformando a sentença revisada no sentido de:
Laís Marques
OAB/PI nº 11.235
Maderson Dantas
OAB/PI nº 17.827