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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA

2ª VARA DA COMARCA DE CACHOEIRAS DA MACACU - RJ.

Processo nº 0801131-33.2023.8.19.0012 (RÉU PRESO)

GABRIEL SANTOS RODRIGUES, já devidamente qualificado, neste ato


representado por seu advogado infra-assinado, que vem perante Vossa Excelência nos
autos da Ação Penal em epígrafe, que lhe move o MINISTÉRIO PÚBLICO, como
incursos nas sanções do do artigo 33, caput c.c art. 40, III e VI da Lei n° 11.343/06; do
artigo 35 c.c art. 40, III e VI, da Lei n° 11.343/06 e do artigo 14 da Lei n° 10.826/03,
todos na forma do artigo 69 do Código Penal.; perante Vossa Excelência, Data máxima
Vênia à sentença de índice 72546709 interpor com fulcro no art. 593, inciso I do Código
de Processo Penal:

RECURSO DE APELAÇÃO

Requer seja recebido e processado o presente recurso e, caso V. Exa., entenda que
deva ser mantida a respeitável decisão, que seja encaminhado, com as inclusas razões, ao
Egrégio Tribunal de Justiça. Oportunidade que ressalta a hipossuficiência financeira do
Réu, não podendo arcar com custas processuais, o que desde já se requer a isenção.

Termos em que,
Pede-se deferimento.
Niterói, Rio de Janeiro, 21 de agosto de 2023.

MATHEUS HENRIQUE DE O. LOPES INARALICE R. DE CARVALHO


OAB/RJ 226.895 OAB/RJ 247.663

Rua São João, 205, Centro, Niterói – RJ. | whatsapp (21) 99586-5894
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE
DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Apelante: GABRIEL SANTOS RODRIGUES

Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO

Processo n.º 0801131-33.2023.8.19.0012 (Réu preso)

RAZÕES DO RECURSO

Egrégio Tribunal de Justiça;

Colenda Câmara;

Douto procurador de Justiça;

Em que pese o indiscutível saber jurídico do Meritíssimo Juiz a quo, impõe-se a


reforma da respeitável sentença, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

I. DA ADMISSIBILIDADE.

O presente recurso é cabível vez que investe contra sentença condenatória


prolatada pelo respeitável Juízo a quo nestes autos da ação criminal. Além disso, o
presente é tempestivo, vez que o prazo para Apelação, conforme legislação processual
vigente é de cinco dias, contados a partir da data da intimação da sentença combatida,
que se deu no dia 24.08.2023. Destaca-se que, a defesa técnica tomou ciência da sentença
nesta mesma data, sendo, portanto, tempestivo o ora recurso apresentado no mesmo dia
da ciência.

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II. DA SENTENÇA E SUA REFORMA – ABSOLVIÇÃO POR MEDIDA
QUE SE IMPÕE – LASTRO PROBATÓRIO FIXADO EM SUPOSIÇÃO.

O juízo a quo julgou parcialmente procedente a denúncia, condenando o Apelante


às penas do art. 33, caput, c/c art. 40, III, IV e VI, da Lei 11.343/06 a pena de 06 (seis)
anos e 08 (oito) meses de reclusão e 667 (seiscentos e sessenta e sete) dias-multa, em seu
valor unitário mínimo no regime inicial FECHADO.

Porém inexiste nos autos qualquer prova de que o Apelante tenha concorrido para
o evento delituoso fixado na denúncia, visto que não foi apreendido com nenhum
material entorpecente, sendo detido apenas na posse de carregador de arma de uso
permitido. Sendo demais agentes apreendidos em local diverso na posse de material
entorpecente.

Certo é que o indício de participação do episódio se resume à presunção obtida do


testemunho dos Policiais Militares Thiago e Felipe. Esses, narraram sob o crivo do
contraditório que o Apelante foi apreendido apenas na posse de um carregador, e mais
nada. Que outros agentes foram apreendidos em local diverso na posse de drogas. Ainda
assim, a testemunha policial afirma que não dava pra saber com clareza quem era quem
quando da chegada da polícia militar, conforme trecho fielmente transcrito a seguir:

05:00min – Promotor – “O Sr. Chegou a ver se os três estavam juntos ali?”


PM Thiago: “Não, não deu pra mim, eu vi ‘elementos’ subindo”

05:07min – “Não deu para precisar se eram os três, ou se eram mais”

05:46min Juiz – “O Sr. Já conhecia eles antes?”

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PM Thiago – “o Gabriel eu já tinha abordado em ruas já, mas não estava com nada.”

06:30min Advogado – “Tinha mais gente na Rua?”


PM Thiago – embaixo, provavelmente que estaria comprando.

06:43min Advogado – “você sabe precisar se estavam vendendo ou comprando?”


PM Thiago – Não, não dava pra saber.

Nesse importe, imperando dúvida, o princípio constitucional in dubio pro


reo impõe a reforma do julgado, com a absolvição. Esse princípio reflete nada mais do
que o princípio da presunção da inocência, também com previsão constitucional. Aliás, é
um dos pilares do Direito Penal, e está intimamente ligado ao princípio da legalidade.

Nesse aspecto, como corolário da presunção de inocência, o princípio do in dubio


pro reo pressupõe a atribuição de carga probatória ao acusador e fortalecer a regra
fundamental do processo penal brasileiro, ou seja, a de não condenar o réu, sem que sua
culpa tenha sido suficientemente demonstrada.

Acerca do preceito em questão, leciona Aury Lopes Jr., verbis:

“A complexidade do conceito de presunção de inocência faz


com que dito princípio atue em diferentes dimensões no
processo penal. Contudo, a essência da presunção de inocência
pode ser sintetizada na seguinte expressão: dever de
tratamento.
Esse dever de tratamento atua em duas dimensões, interna e
externa ao processo. Dentro do processo, a presunção de
inocência implica um dever de tratamento por parte do juiz e

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do acusador, que deverão efetivamente tratar o réu como
inocente, não (ab)usando das medidas cautelares e,
principalmente, não olvidando que a partir dela, se atribui a
carga da prova integralmente ao acusador (em decorrência do
dever de tratar o réu como inocente, logo, a presunção deve ser
derrubada pelo acusador). Na dimensão externa ao processo, a
presunção de inocência impõe limites à publicidade abusiva e à
estigmatização do acusado (diante do dever de tratá-lo como
inocente)”

Neste sentido, restou evidente que o depoimento dos policiais responsáveis pelo
flagrante baseou-se em suposições, o que em nenhuma hipótese pode se fundamentar
uma condenação.

Dito isto, temos a transcrição fiel do depoimento do Policial em juízo, que afirma
o seguinte:

02:23 Promotor – “(Ao mostrar o Gabriel por video) Esse foi o que o Sr. Abordou?”
PM Thiago – “Sim”

Promotor – “ com ele foi encontrado...?”


PM Thiago - Próximo a viatura, um carregador de pistola.

05:00 – Promotor – “O Sr. Chegou a ver se os três estavam juntos ali?”


PM Thiago: “Não, não deu pra mim, eu vi ‘elementos’ subindo”

05:07 – “Não deu para precisar se eram os três, ou se eram mais”

05:46 Juiz – “O Sr. Já conhecia eles antes?”

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PM Thiago – “o Gabriel eu já tinha abordado em ruas já, mas não estava com nada.”

06:30 Advogado – “Tinha mais gente na Rua?”


PM Thiago – embaixo, provavelmente que estaria comprando.

06:43 Advogado – “você sabe precisar se estavam vendendo ou comprando?”


PM Thiago – Não, não dava pra saber.
Reiterado tal depoimento do Policial, restou baseada a condenação em uma
suposição de que o Apelante integrava naquele momento a mercantilidade das drogas
apreendidas com outros agentes, não estando evidente em nenhuma prova que o mesmo
estava lá com o objetivo compartilhado.

Motivo pelo qual, a fundamentação de tal sentença combatida se fixou em


suposições, motivo pelo qual a absolvição é medida de Direito, tendo certo que o
princípio do In dubio pro reu deve prevalecer. Dito isto, temos que em remota hipótese
de acolhimento do tipo penal do tráfico, passamos as demais explanações.

III. DO CRISTALINO RECONHECIMENTO DO BENEFÍCIO


PREVISTO NO ART. 33 § 4º DA LEI 11.343/06. - PRECEDENTES DESTA
CORTE.

Conforme se desprende dos autos, o Réu é primário, jamais respondendo se quer


por delito de tráfico de drogas ou qualquer outro. Quer-se quando menor de idade
(cabendo ressaltar que possuía 18 anos a época dos fatos), onde possui sua FAC/FAI
imaculada, bem como apresenta todos os requisitos pessoais e judiciais favoráveis.

Dito isto, dois policiais Militares realizaram a prisão do Réu, e sob o crivo do
contraditório, afirmaram que estão diariamente naquela localidade, e mesmo assim
nunca tinham visto o Réu antes por ali, pelo contrário...

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Vai adiante, o Policial Thiago, afirma que já abordou o Réu por diversas vezes
em ruas pela comarca, nunca encontrando nada com o mesmo. O que por si demonstra a
não participação do Réu em habituar na conduta delituosa do tráfico. Sendo o aqui
debatido, notoriamente um suposto fato isolado, decorrente de que conforme o próprio
réu afirmou em seu depoimento, ser usuário de drogas desde os 15 anos de idade.
Devendo o parágrafo 4º do Art. 33 ser reconhecido por medida de maior cristalina
justiça.

Portanto, como o agente é primário, possui bons antecedentes e também não


possui sua vida voltada a criminalidade comprovadamente nos autos, ser-lhe-á concedida
a benesse do tráfico privilegiado, com a consequente redução da pena em seu máximo
legal. Sendo possível, já que presentes os demais requisitos prescritos em lei,
a substituição da pena privativa de liberdade por penas restritivas de direitos, o que
requer por ser questão de Justiça.

De tal modo, este tribunal vem entendendo desta brilhante forma em casos
análogos, conforme podemos observar em decisão proferida pela SÉTIMA CÂMARA
CRIMINAL do TJRJ em caso idêntico ao objeto destes autos.

“...Na terceira fase, o sentenciante aumentou a pena em 1/6 em


razão do disposto no artigo 40, VI, da Lei 11343/06, ficando a
pena em 05 anos e 10 meses de reclusão e pagamento de 583
dias-multa, no valor unitário mínimo. Todavia, o sentenciante
equivocadamente negou o benefício do artigo 33, §4º, da Lei
11/343/06, por entender que “o acusado não preenche os
requisitos elencados no referido artigo, uma vez que seu
envolvimento no tráfico é apontado pelos policiais militares
como sendo de dedicação a atividades criminosas e integração

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na organização conhecida como Comando Vermelho”. Ora, a
atividade criminosa que se refere à legislação não pode ser
relativa ao próprio tráfico, sob pena de nenhuma pessoa que
venha a ser presa traficando ter direito ao aludido benefício. E,
ademais, nem mesmo o envolvimento do acusado com
qualquer organização criminosa restou comprovado nos autos.
A aplicação do princípio da presunção de inocência nos remete
à conclusão de que a acusação assume o ônus de provar a
existência da investigação anterior que aponte o vínculo do
acusado com organização criminosa ou o mesmo se dedique
habitualmente às atividades criminosas. Sem tal comprovação,
como no caso dos autos, assume o risco de ver reconhecida a
possibilidade de aplicação de causa especial de diminuição de
pena prevista no artigo 33, § 4º da Lei nº 11.343/06. Desta
forma, deve ser reconhecida e aplicada a causa de diminuição
de pena prevista no artigo 33, §4º, da Lei nº 11.343/2006, no
seu máximo legal de 2/3 (dois terços), ficando a pena
redimensionada em 01 (um) ano, 11 (onze) meses e 10 (dez)
dias de reclusão e pagamento de 194 (cento e noventa e quatro)
diasmulta, no valor unitário mínimo. Tendo em vista o
redimensionamento da pena e a primariedade do apelante, o
regime prisional passa ao aberto, nos termos do art. 33, §2º,
“c”, do Código Penal. Consolidada a sanção criminal cabível
no patamar ora fixado, é devida a substituição da reprimenda
corporal por medida alternativa à prisão, uma vez que o
Supremo Tribunal Federal decidiu sobre a
inconstitucionalidade da vedação à substituição da pena
privativa de liberdade, prevista nos artigos 44 e 33, §4º, ambos
da Lei 11.343/06, além de ter sido suspensa a expressão

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"vedada a conversão em penas restritivas de direitos" contida
no §4º do artigo 33 da Lei nº 11.343/06 pela Resolução nº
05/2012 do Senado Federal. Assim, concede-se ao apelante a
substituição da pena privativa de liberdade por duas penas
restritivas de direitos, a serem definidas pelo Juízo da
Execução, pelo tempo remanescente da pena. PARCIAL
PROVIMENTO AO RECURSO. Vistos, relatados e discutidos
estes autos de Apelação nº 0005682- 19.2016.8.19.0050
TJRJ.

Neste pique, temos que a decisão retro colacionada, e tantas outras neste mesmo
sentido proferidas pelas câmaras criminais do TJRJ perfeitamente se adequariam ao
mesmo cenário destes autos, visto que o Apelante foi absolvido quanto à associação
criminosa do art. 35 da lei 11.343, e as testemunhas do M.P afirmaram sob o crivo do
contraditório que estão naquela localidade todo dia em incursão, e nunca viram o apelante
por lá, bem como já o abordaram por diversas vezes na comarca, nunca estando com nada
de errado. Sendo comprovado que o Apelante não possui nenhum vínculo com
organização criminosa.

Comprovado isto, por todo exposto, resta por questão de Direito, o


reconhecimento do benefício do artigo 33, §4º, da Lei 11/343/06 que deve ser
reconhecida e aplicada a causa de diminuição de pena prevista no seu máximo legal de
2/3 (dois terços), ante a ausência de requisito judicial desfavorável.

Subsidiariamente, passamos aos demais argumentos..,

IV. AFASTAMENTO DAS CAUSAS DE AUMENTO DE PENA


PREVISTAS NO ART. 40, III, IV e VI, da Lei 11.343/06.

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IV.I. DO ART. 40, III. DA LEI 11.343/06 - APLICAÇÃO DE
JURISPRUDÊNCIA DO STJ – PROXIMIDADE DE COLEGIO MERAMENTE
ELEMENTAR E SEM VÍNCULO COM O FATO – FATO OCORRIDO EM
FINAL DE SEMANA – LOCAL TUTELADO FECHADO.

Podemos observar que o fato narrado na denúncia, ocorreu em um sábado, no


horário da tarde, fato sabidamente por todos da comarca que a escola existente naquele
bairro encontrava-se fechada, sem ninguém em suas dependências.

É sabido que ao legislar tal norma penal prevista no Art. 40, III, o legislador
pretendia proteger os estudantes de rede de ensino de eventuais traficantes, sendo certo
que o objetivo de tal norma, não visa proteger um prédio elementar, e sim, o fato de
possuir estudantes nele.

Tal entendimento vem sendo adotado, conforme decisão do STJ, por


unanimidade no Resp 1.719.792-MG colacionado a seguir.

Tráfico ilícito de drogas. Causa de aumento da pena. Art. 40,


inciso III, da lei n. 11.343/2006. Infração cometida nas
imediações de estabelecimento de ensino em uma madrugada
de domingo. Ausência de exposição de uma aglomeração de
pessoas à atividade criminosa. Interpretação teleológica.
Afastamento da majorante.

“Consoante entendimento firmado por este Superior Tribunal


de Justiça, a causa de aumento de pena prevista no art. 40,
inciso III, da Lei n. 11.343/2006 tem natureza objetiva, não
sendo necessária a efetiva comprovação de mercancia na

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respectiva entidade de ensino, ou mesmo de que o comércio
visa a atingir os estudantes, sendo suficiente que a prática
ilícita tenha ocorrido em locais próximos, ou seja, nas
imediações do estabelecimento. Na espécie em exame,
contudo, verifica-se a presença de particularidade que,
mediante uma interpretação teleológica do disposto no artigo
40, inciso III, da Lei de Drogas, permite o afastamento da
referida causa de aumento de pena, uma vez que o delito de
tráfico ilícito de drogas foi praticado em local próximo a
estabelecimento de ensino, tendo o crime ocorrido no período
da madrugada, em um domingo, horário em que a escola não
estava em funcionamento. A proximidade da escola, neste
caso, tratou-se de elemento meramente circunstancial, sem
relação real e efetiva com a traficância realizada. Nesse
contexto, observe-se que a razão de ser da norma é punir de
forma mais severa quem, por traficar nas dependências ou na
proximidade de estabelecimento de ensino, tem maior proveito
e facilidade na difusão e no comércio de drogas em região de
grande circulação de pessoas, expondo os frequentadores do
local a um risco inerente à atividade criminosa da
narcotraficância. Conclui-se, por fim, que, diante da prática
do delito em dia e horário (domingo de madrugada) em
que o estabelecimento de ensino não estava em
funcionamento, de modo a facilitar a prática criminosa e a
disseminação de drogas em área de maior aglomeração de
pessoas, não há falar em incidência da majorante prevista
no artigo 40, inciso III, da Lei n. 11.343/2006, pois ausente
a ratio legis da norma em tela. (grifos nossos)

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Dito isto, temos que o reconhecimento de tal fato isolado que supostamente teria
ocorrido em proximidade de estabelecimento de ensino fechado, não poderia em
nenhuma hipótese atingir o bem jurídico tutelado pela norma, razão pela qual não há
que se falar em aumento de pena por tal.

IV.II. DO ART. 40, IV. DA LEI 11.343/06 - CARREGADOR ISOLADO SEM


ARMA DE FOGO QUE NÃO CARACTERIZA POTENCIAL LESIVO,
INEFICÁCIA PARA GERAR PROCESSO DE INTIMIDAÇÃO DIFUSA OU
COLETIVA, BEM COMO QUALQUER AMEAÇA ORIUNDA DO TIPO PENAL.

Conforme explanado na sentença, o douto juízo a quo afirma que o carregador


seria utilizado para garantir o sucesso da empreitada criminosa de revenda de drogas.
Dito isto, tem que se que o julgador não se atentou para o fato de que não existe se quer
uma suposição de uma arma de fogo nos autos, sendo apreendido somente com acessório
de tal (carregador municiado).
O julgador a quo deixa de explanar de qual forma que um carregador
isoladamente seria capaz de sustentar o sucesso da suposta empreitada, visto que diante a
ausência de arma de fogo, o acessório apreendido não possui efeito a gerar nenhum dano.
Sendo algo que isoladamente não poderia ser utilizado, visto que o Réu não estava na
posse de nenhuma arma de fogo, e cooperou com o juízo ao justificar o que fazia naquele
local com o carregador, conforme seu depoimento.

Devendo ser reconhecido que nenhuma suposição pode servir de base para uma
condenação, devendo prevalecer aquilo que de fato encontra-se nos autos. E aqui temos
que o Réu estava somente na posse de um carregador, algo que não poderia se quer ser
utilizado sem nenhuma arma, portanto, tal aumento de pena não deve ser considerado, na
forma da jurisprudência das cortes superiores.

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IV.III. DO ART. 40, VI DA LEI 11.343/06 – SUPOSTA PRÁTICA QUE NÃO
OBSTINAVA ATINGIR OU ENVOLVER ADOLESCENTE – DIFERENÇA DE
IDADE ÍNFIMA ENTRE OS AGENTES – MENORIDADE RELATIVA
RECONHECIDA EM SENTENÇA.

Inicialmente cabe ressaltar que a época dos fatos o apelante possuía apenas 18
anos, pouca idade a mais que o menor apreendido, sendo certo que em nada teria como
objetivo ou compartilhamento de desígnios com o mesmo em razão de sua idade.

Dito isto, temos que o menor de idade que fora apreendido, estava em local e em
situação diversa ao Apelante, que conforme narram os próprios policiais sobre o crivo do
contraditório, foi o menor aprendido com drogas na região de mata, conhecida como
bananal, em local diverso de onde o Apelante se encontrava. Circunstancia de relevância
para que possa se considerar qualquer influência, visto que o menor agia de forma
individual.

A diferença de idade é ínfima, conforme o magistrado reconhece a menoridade


relativa do agente em sentença, deixando de considera-la por aplicar-se a pena mínima,
portanto há de se reconhecer que o próprio agente não teria nenhum potencial de
influência sobre menor, visto que em nada se distinguiriam na prática.

IV. DO REGIME MENOS GRAVOSO QUE SE APLICA POR QUESTÃO


SUBJETIVA - PENA DE SEIS (6) ANOS E OITO (8) MESES QUE ADMITE
REGIME SEMIABERTO – CIRCUNSTANCIAS JUDICIAIS FAVORÁVEIS.

Em extrema e remota hipótese de não reconhecido o tráfico privilegiado, resta


patente que os requisitos judiciais favoráveis ao qual o Apelante possui, justificam por si
só o regime inicial semiaberto, conforme o STJ e STF vem adotando a seguinte

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jurisprudência:

“Não servindo para impor modo de resgate mais gravoso do


que aquele previsto no art. 33 paragrafo 2º, b, do CP. Se há o
reconhecimento de circunstâncias judiciais favoraveis ao Réu,
a quem foi imposta reprimenda definitiva superior a 4 e
inferior a 8 anos de reclusão, é cabível o regime inicial
semiaberto para o cumprimento da sanção corporal, ante a
inexistencia de motivação concreta que justifique o regime
fechado.”

Dito isto, temos que a sentença combatida não justifica a aplicação do regime
FECHADO, visto ainda que reconhece e não usa de uma menoridade relativa, bem como
absolve o Apelante de uma associação para o tráfico, carreada nas provas dos autos que
manifestamente afirmam se tratar de um suposto fato isolado, não possuindo qualquer
circunstancia que justifique a reprimenda Penal em seu regime fechado, somadas a todas
características favoráveis pessoais do Apelante.

Não são poucas as decisões da corte superior que vem adotando tal entendimento,
recentemente o min. Ministro Dantas afirmou em decisão de HC que o condenado por
tráfico de drogas não reincidente com pena entre quatro e oito anos poderá cumpri-la em
regime semiaberto. Assim, o ministro Ribeiro Dantas (STJ), concedeu ordem de ofício,
para fixar o regime inicial semiaberto no cumprimento da pena de um homem condenado
também por tráfico de drogas.

De tal forma, também entende o STF, conforme podemos observar em decisão do


Min. Dias Toffoli no pleno do Tribunal.

“...Se a Constituição Federal menciona que a lei regulará a

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individualização da pena, é natural que ela exista. Do mesmo
modo, os critérios para a fixação do regime prisional inicial
devem-se harmonizar com as garantias constitucionais, sendo
necessário exigir-se sempre a fundamentação do regime
imposto, ainda que se trate de crime hediondo ou equiparado.
3. Na situação em análise, em que o paciente, condenado a
cumprir pena de seis (6) anos de reclusão, ostenta
circunstâncias subjetivas favoráveis, o regime prisional, à luz
do art. 33, § 2º, alínea b, deve ser o semiaberto. 4. Tais
circunstâncias não elidem a possibilidade de o magistrado, em
eventual apreciação das condições subjetivas desfavoráveis, vir
a estabelecer regime prisional mais severo, desde que o faça
em razão de elementos concretos e individualizados, aptos a
demonstrar a necessidade de maior rigor da medida privativa
de liberdade do indivíduo, nos termos do § 3º do art. 33, c/c o
art. 59, do Código Penal. 5. Ordem concedida tão somente para
remover o óbice constante do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90,
com a redação dada pela Lei nº 11.464/07, o qual determina
que “[a] pena por crime previsto neste artigo será cumprida
inicialmente em regime fechado“. Declaração incidental de
inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, da obrigatoriedade
de fixação do regime fechado para início do cumprimento de
pena decorrente da condenação por crime hediondo ou
equiparado. (HC 111840, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI,
Tribunal Pleno, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-249
DIVULG 16-12-2013 PUBLIC 17-12-2013)

Neste sentido, o Apelante possui as circunstancias judiciais favoráveis para a


aplicação do regime semiaberto, conforme se desprende dos autos, o mesmo se quer foi

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apreendido com drogas, estando apenas na posse de um carregador isolado, sem arma de
fogo, ausente qualquer potencial lesivo. Não podendo ser considerado circunstancia que
agrave o regime, devendo os requisitos pessoais somados aos judiciais favoráveis ser
base para a fixação de um regime semiaberto.

V. DO PEDIDO.

“Ex positis”, de acordo com o princípio do “favor rei”, que assevera que as
dúvidas quanto à veracidade dos fatos devem sempre beneficiar o acusado, não tendo
sido carreadas quaisquer provas efetivamente concludentes quanto à ligação do Apelante
com o crime de tráfico de entorpecentes, requer, reiterando o disposto nos debates, seja
conhecido e PROVIDO o presente Recurso de Apelação para, reformar a sentença de
primeiro grau e ABSOLVER o Apelante do crime de tráfico.

Caso assim não entendam os eminentes Desembargadores e, mantenham a


condenação, requer, desde logo, a aplicação da minorante prevista no § 4º, do artigo 33,
da Lei antidrogas em 2/3, por ser medida de cristalino Direito, para reduzir sua pena e
alterar o regime ao aberto, com a consequente SUBSTITUIÇÃO DA PENA corpórea
nos termos do artigo 44 do Código Penal por ser medida de mais lídima justiça, sendo
expedido competente alvará de soltura.
Requer ainda, subsidiariamente aos pedidos retro expostos, o afastamento das
causas de aumento de pena previstas art. 40, III, IV E VI, da lei 11.343/06 por todo
exposto. Bem como a readequação do Regime inicial de cumprimento fixado pela
sentença de primeiro grau para o mais brando que melhor se adequa as condições
judiciárias favoráveis.

Termos em que,
Pede-se deferimento.
Niterói, Rio de Janeiro, 24 de agosto de 2023.

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MATHEUS HENRIQUE DE O. LOPES INARALICE R. DE CARVALHO
OAB/RJ 226.895 OAB/RJ 247.663

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