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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

COLÉGIO DE APLICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA
BIOQUÍMICA
Prof. VICTOR SANTOS // LAUREN VALENTIM DATA: 24/ 09/ 2020
Aluno(a): ........................................................................................................ Turma: 102

ATIVIDADE 1: Ler o texto e marcar os principais pontos.

De 1 mg a 2 mg de ferro são absorvidos por dia pelo epitélio duodenal.

AÇÃO DOS ELEMENTOS QUÍMICOS NO CORPO HUMANO – FERRO (Fe)

INTRODUÇÃO
Do latim Ferrum, é um elemento químico de símbolo Fe, de número
atômico Z = 26 (26 prótons e 26 elétrons). Possui 4 isótopos naturais: 56Fe
(91,75%), 54Fe (5,85%), 57Fe (2,12%) e 58Fe (0,28%). Possui massa
atômica igual a 55,845u. É um metal de transição, pertencente ao grupo 8
da classificação periódica dos elementos químicos. Sua densidade é de
7,8 g/cm3. Sua temperatura de fusão (TF) é de 1538 ºC e sua temperatura
de ebulição (TE) é de 2862 ºC.
Esse metal já é utilizado há milhares de anos, pois foram identificados artefatos de ferro
produzidos em torno de 4000 a 3500 a.C. Nessa época, o ferro utilizado era principalmente de
origem meteórica, sendo bastante raro (tanto quanto o ouro) e era utilizado quase
exclusivamente em rituais religiosos.
Somente por volta de 1200 a.C. é que o ferro metálico começou a ser obtido, por meio de seus
minerais, em quantidades apreciáveis. Essa época ficou conhecida como a “Idade do Ferro”.
Nesse período, o minério e o carvão vegetal eram colocados em um buraco no solo e aquecidos,
e o ar era insuflado manualmente para facilitar a queima do carvão. A partir dessa técnica, era
obtido um material facilmente moldável, constituído basicamente por ferro metálico. O processo
de obtenção desse material pode ser descrito em três etapas: (1) combustão incompleta do
carvão na presença de oxigênio molecular, formando monóxido de carbono; (2) reação do
monóxido de carbono com óxido de ferro, por exemplo Fe 2O3, originando óxido de ferro II (FeO)
e dióxido de carbono; e (3) reação do FeO com monóxido de carbono, formando ferro metálico
(Fe0) e dióxido de carbono.
Na natureza, o ferro ocorre principalmente em compostos como: hematita (Fe 2O3), magnetita
(Fe3O4), siderita (FeCO3), limonita (Fe2O3.H2O) e pirita (FeS2), sendo a hematita o seu principal
mineral. Esse óxido de ferro, além de ser utilizado para a obtenção do aço (principal produto
comercial do ferro), também é utilizado, assim como a magnetita, como catalisador de processos
químicos – espécie que aumenta a rapidez de uma reação sem ser consumida, podendo ser
recuperadas no final do processo.
AÇÃO NO CORPO HUMANO
O ferro é essencial ao metabolismo, atuando diretamente nas reações celulares ou como
cofator para centenas de proteínas. A quantidade total de ferro presente no corpo humano é de
aproximadamente 4 a 5 g, sendo que cerca de 2,5 g na forma de hemoglobina (Hb),
permanecendo constante durante toda a vida adulta, devido ao balanço entre a sua absorção e
excreção.
A hemoglobina é a responsável pelo transporte de oxigênio
HEMOGLOBINA
dos pulmões aos tecidos celulares, onde ocorre a queima da
glicose (para a queima desta é necessária a presença de
oxigênio molecular, O2). Esse transporte ocorre graças ao íon
Fe2+ da hemoglobina, que se combina com O2, em atmosfera
rica nesse gás, possibilitando o seu transporte até as células,
que é um ambiente rico em CO2, onde ocorre a troca do O2 por
CO2. A partir desse ponto, a hemoglobina passa a transportar
CO2 até os pulmões, onde encontra novamente uma região rica
em O2, liberando assim o CO2. Entretanto, esse ciclo pode ser interrompido pela presença de
algumas substâncias como, por exemplo, o monóxido de carbono (CO), que tem a capacidade
de se ligar fortemente ao íon Fe2+ e não permitir que haja a troca por O2 ou CO2. Por esse motivo,
o CO é considerado um gás tóxico, podendo intoxicar e até mesmo matar organismos baseados
em hemoglobina, quando a atmosfera do meio está com altas concentrações do gás.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente dois bilhões de
pessoas, ou seja, mais de 30% da população mundial, apresentam-se anêmicas, evidenciando
a gravidade do problema em saúde pública.
A deficiência de ferro acarretará consequências para todo o organismo, sendo a anemia a
manifestação mais relevante. Por outro lado, o acúmulo ou excesso de ferro é extremamente
nocivo para os tecidos, uma vez que o ferro livre promove a síntese de espécies reativas de
oxigênio que são tóxicas e lesam proteínas, lipídeos e DNA. Portanto, é necessário que haja um
perfeito equilíbrio no metabolismo do ferro, de modo que não haja falta ou excesso do mesmo.
Essa homeostase vai possibilitar a manutenção das funções celulares essenciais e ao mesmo
tempo evitar possíveis danos teciduais. A carência de ferro acomete com mais intensidade os
grupos considerados vulneráveis, ou seja: crianças de 4 a 24 meses de idade, escolares,
adolescentes do sexo feminino, gestantes e mulheres que estão amamentando.
O ferro utilizado pelo organismo é obtido de duas fontes principais: da dieta (1) e da reciclagem
de hemácias senescentes (2).
(1) Na dieta, o ferro pode ser encontrado em duas
formas: orgânica ou ferro heme e inorgânica ou ferro não-
heme. O ferro heme é encontrado na hemoglobina e
mioglobina, provenientes das carnes em geral, vísceras,
aves e peixes. Sua absorção é relativamente
independente da composição da refeição e pouco afetada
por fatores facilitadores e/ou inibidores, também menos
influenciada pelo estado nutricional do indivíduo.
Destacando-se que, o heme é um composto químico que
transporta o oxigênio e confere a cor vermelha ao sangue,
e também um componente fundamental das
hemoproteínas, um tipo de proteína encontrado em todos
os tecidos. O ferro não-heme está presente fundamentalmente nos alimentos vegetais, nos
cereais e em outros alimentos, como composto férrico (Fe 3+) e ferroso (Fe2+). É absorvido em
apenas 10% pelo organismo, e ao contrário do ferro heme, este é fortemente influenciado por
vários componentes da dieta.
Uma dieta normal contém de 13 a 18 mg de ferro, dos quais somente 1 a 2 mg serão
absorvidos na forma inorgânica ou na forma heme. A maior parte do ferro inorgânico está
presente na forma Fe3+ e é fornecida por vegetais e cereais. A aquisição do ferro da dieta na
forma heme corresponde a 1/3 do total e é proveniente da quebra da Hb e mioglobina contidas
na carne vermelha. Ovos e laticínios fornecem menor quantidade dessa forma de ferro, que é
melhor absorvida do que a forma inorgânica.
Alimentos como espinafre, ostras, fígado, ervilhas, legumes e carnes possuem as maiores
densidades de ferro (mg/kcal), contudo, não significa que estas informações devam ser usadas
de guia para a escolha da fonte de ferro alimentar, pois algumas delas são praticamente não-
biodisponíveis.
(2.1) Reciclagem do ferro pelos macrófagos: A maior
parte do ferro no organismo está associada à molécula de
Hb, a fagocitose e degradação de hemácias senescentes
representam uma fonte importante de ferro (de 25 a 30
mg/dia). Essa quantidade de ferro reciclado é suficiente
para manter a necessidade diária de ferro para a
eritropoiese (produção de glóbulos vermelhos);
(2.2) Transporte e captação do ferro pelas células: O
ferro é transportado no plasma pela transferrina (Tf), uma
glicoproteína sintetizada e secretada pelo fígado, que
possui dois sítios homólogos com alta afinidade pelo Fe 3+.
Além de solubilizar o ferro, a Tf atenua sua reatividade e facilita a sua liberação para as células.
(2.3) Transporte do ferro mitocondrial: A mitocôndria é essencial para o metabolismo do ferro,
já que é o único local onde ocorre a síntese do heme. A cadeia respiratória mitocondrial, com
suas diversas subunidades envolvidas no transporte de elétrons, é importante na conversão do
ferro férrico (Fe3+) em ferroso (Fe2+).
(2.4) Estoque do ferro: O ferro fica estocado nas células reticuloendoteliais do fígado, baço e
medula óssea, nas formas de ferritina e hemossiderina. A ferritina contém e mantém os átomos
de ferro que poderiam formar agregados de precipitados tóxicos.
BIODISPONIBILIDADE DE FERRO: CÁLCIO X VITAMINA C
Quantidades de cálcio (fator inibidor) e vitamina C (fator facilitador), ambos interferem na
biodisponibilidade do ferro no organismo humano.
Alguns fatores favorecem a absorção intestinal, como a acidez e a presença de agentes
solubilizantes, como açúcares. A quantidade de ferro absorvida é regulada pela necessidade do
organismo. Assim, em situações em que há falta de ferro ou aumento da necessidade (gravidez,
puberdade ou hemólise, por exemplo), há uma maior absorção de ferro.
A importância da vitamina C (ácido ascórbico) como promotora da absorção de ferro é
rapidamente verificado. Há um aumento da percentagem de absorção do ferro após a adição do
ácido ascórbico em uma refeição.
Estudos indicam que a adição da vitamina C aumenta cerca de três vezes ou mais a absorção
do ferro não heme, e que, a oferta de 100mL de suco de laranja, por exemplo, possibilita inibir
ou anular os efeitos negativos dos fitatos e dos polifenóis contidos em uma mesma refeição, pois
a vitamina C forma quelatos insolúveis entre o ferro e esses compostos, permitindo aumentar a
absorção de ferro, em refeições com pão, ovo e chá. É importante salientar que a interação
positiva entre vitamina C e ferro ocorre na mucosa intestinal, já que a vitamina C facilita a
mobilização do ferro ali armazenado, na medida em que contribui para inibir a degradação da
ferritina intracelular por enzimas lisossomais. Sendo assim, a vitamina C pode influenciar tanto o
transporte como o armazenamento do ferro no organismo.
Por outro lado devemos ressaltar a influência do cálcio sobre a absorção do ferro, que está
relacionada com a dose de cálcio ingerida. Adições de 300mg de Ca correspondem a um declínio
de 50 a 60% na absorção do ferro não heme, sendo que uma razão Ca/Fe>150 foi documentada
como de risco para os indivíduos.
Devido às atuais recomendações de aumento na ingestão diária de cálcio e do uso de
suplementos na prevenção da osteoporose, as interações nutricionais entre este mineral e outros
nutrientes, vem sendo bastante estudadas.
Há muito tempo se sabe que dietas ricas em cálcio diminuem a biodisponibilidade do ferro, se
ambos estiverem presentes em uma mesma refeição. Entretanto, o mecanismo pelo qual o cálcio
interfere na absorção do ferro é muito complexo. Sabe-se, porém, que o desenvolvimento da
anemia é proporcional à suplementação excessiva de cálcio, ou seja, que essa interação é
competitiva e que ocorre em nível de mucosa intestinal.
Como as consequências nutricionais dessa interação são bastante significativas, é
recomendado que indivíduos com maiores requerimentos de ferro, como crianças, adolescentes
e gestantes, evitem a ingestão de alimentos fontes de cálcio nas principais refeições, ou seja,
concomitantemente com o ferro, redistribuindo a ingestão de cálcio para refeições como o
desjejum e as noturnas; e que os suplementos de cálcio sejam administrados entre 2 a 4 horas
antes das refeições.
CONCLUSÃO
A deficiência de ferro é provavelmente o mais frequente
distúrbio de deficiência nutricional no mundo. Em crianças, a
deficiência de ferro está associada à diminuição da capacidade
intelectual, ao retardo do crescimento infantil e
comprometimento da resposta imune celular. Embora a anemia
ferropriva seja a deficiência nutricional mais comum no mundo,
os efeitos da sobrecarga de ferro na saúde também merecem
atenção, uma vez que a ingestão excessiva de ferro pode expor
os indivíduos ao risco de desenvolverem complicações
semelhantes àquelas observadas na hemocromatose (estado
mórbido caracterizado pela pigmentação da pele e das vísceras
com hemossiderina e fucsina e que causa fibrose intersticial,
esclerose dos tecidos afetados, diabete, impotência e perda
dos pêlos axilares). Por isso, garanta uma dieta saudável que inclua as suas necessidades
diárias de Ferro. Se informe de maneira consciente, visite o médico regularmente e o mais
importante: Cuide-se!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOLDSCHMIDT, Patrícia da Silva; GRANADA, Graziele Guimarães. Biodisponibilidade de
ferro na merenda escolar. Alimentos e Nutrição, Araraquara, v.19, n.4, p. 441-448, out./dez. 2008.
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MEDEIROS, Miguel de Araújo. Ferro. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 32, n. 3, p. 208-
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SABINO, Kelly Renata et al . O efeito do consumo crônico de etanol na absorção duodenal de
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2010. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/ag/v47n2/v47n2a15.pdf>. Acesso em: 22 set.
2020.
UGLIARA, Lucas Campos. Uma revisão sobre ingestão de ferro e sua associação com o
metabolismo de carboidratos. 2016. 33f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Nutrição) - Departamento de Nutrição, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, 2016. Disponível
em: <https://bdm.unb.br/bitstream/10483/13925/1/2016_LucasCamposUgliara.pdf>. Acesso em:
21 set. 2020.

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