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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIENCIAS EXATAS E DA TERRA-


CAMPUS I

QUÍMICA LICENCIATURA

LIBRAS

DOCENTE: IRZYANE CAZUMBÁ DOS SANTOS

DISCENTE: CAROLINE REIS BARROSO DA SILVA

RESENHA DO LIVRO: ESTUDOS SURDOS I

SALVADOR

2017.2
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DESENVOLVIMENTO

O livro é uma composição, organizada por Ronice Muller de Quadros, de


capítulos que trazem diferentes aspectos relacionados aos surdos. O capitulo
selecionado foi o capitulo um do livro um, Educação de surdos: Uma releitura da 1ª
escola pública para surdos em Paris e o Congresso de Milão em 1880. De autoria do
Vilmar Silva

Para entendermos porque hoje há tanto bloqueio no reconhecimento às


diferenças, discriminação, e discriminação social aos surdos, é necessário conhecer a
historia deles. Esse capitulo mostra que as decisões mais importantes, para definição do
futuro, não foram tomadas por surdos e sim por ouvintes.

O berço para as mudanças na história dos surdos foram os acontecimentos na


França no século XVIII. Existiam, na França, basicamente três classes sociais: O
Primeiro Estado, o Segundo Estado, e o Terceiro Estado. Onde somente os dos
primeiros eram privilegiados, e correspondiam em torno de 5% da população, enquanto
o Terceiro Estado que era maioria, não possuía privilégios e eram responsáveis pela
produção das riquezas das classes do clero e da nobreza.

A burguesia, pertencente ao Terceiro Estado, possuíam mais riquezas que os


artesãos e camponeses. Mas não estavam satisfeitos com o cenário do mercado e do
comércio e com o sentimento de desnecessário, inútil. Com isso influenciavam e
financiavam rebeliões a fim de acabar com as concessões de privilégios à nobreza e ao
clero, e os obstáculos ao progresso da ciência e as novas leis que estavam impedindo a
expansão de mercado.

Isso tudo favoreceu aos surdos, pois eles que também possuíam o sentimento de
dispensável, pois eram ditos vagabundos sem trabalho e sem comunicação, passaram a
serem necessários como pessoas para mão de obra. Onde a burguesia queria toda a
população do Terceiro Estado unida em prol dos seus interesses.

Nesse momento houve a criação da primeira escola pública para surdos em


Paris, onde o seu criado o abade L’Epée, utilizava uma metodologia de aprender a ler e
a escrever através da língua de sinais, pois essa era a forma natural que possuíam para
expressar suas ideias. Que era muito diferente do ocorria com os surdos de famílias
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ricas e nobre, onde os responsáveis pela educação desses surdos privilegiados tinha
como função a verbalização desses surdos.

O avanço industrial, favoreceu o crescimento de fábricas nas cidades, atraindo


pessoas dos campos e aumentando a população, foi determinante para o surgimento e
organização das comunidades surdas.

Esse fato foi importante para o estabelecimento de uma comunidade surda, pois
com a criação da escola pública para surdos em Paris, os surdos aprendiam a ler, e o
nível de instrução dava-lhes oportunidades de aprender uma profissão, Sendo a arte dos
ofícios a mola precursora dos surdos no mundo do trabalho. Deixar de ser os
vagabundos, dever ter sito um marco muito importante para a identidade dos surdos,
pois dali em diante eles passaram a serem alguém de importância, e isso valoriza e
aumenta a autoestima.

E esse marco influenciou muitos outros países da Europa, porém uma teoria de
Descartes colocou tudo a perder. Ele afirmava que o corpo humano assemelhava-se a
uma máquina, perdendo seus mistérios e podendo ser explicado cientificamente. Isso
mostrou o corpo humano como objeto de estudo, o que motivou o desenvolvimento da
medicina, mas tornou a surdez uma patologia que deveria ser estudada e tratada.

No Congresso de Milão em 1880, o poder que os ouvintes acreditam deter sobre


os surdos teve mais uma vez sua imposição. Um grupo reduzidos de pessoas ouvintes
alteraram para sempre o futuro dos surdos. Eles decidiram, sem a participação de
nenhum surdo, que os surdos estavam proibidos de utilizarem a língua de sinais para a
comunicação, e que deveriam verbalizar, e farem a leitura de lábios. Sendo a língua de
sinais algo prejudicial para o desenvolvimento da comunicação dos surdos.

Esse foi o enorme marco de retrocesso histórico para os surdos. Até hoje
sentimos os efeitos dessa escolha vergonhosa. Acredito que se essa sentença imoral
fosse esquecida, hoje teriam uma real inclusão social dos surdos em todos os campos da
sociedade.

O Congresso de Milão em 1880, teve como maior consequência decretar a


surdez como uma doença que necessita de cura, tornando as escolas como hospitais,
onde a pedagogia é corretiva, e a surdez é medicalizada. Tornou os surdos eternos
doentes, que crescem acreditando que os hospitais são suas segundas casas, como no
exemplo de Sandrine Herman no documentário Sou surda e não sabia.
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Assim como quaisquer pessoas que lutam pelos seus direitos, os surdos não
desistiram de terem igualdade. Hoje no Brasil, temos leis que trazem os diretos dos
surdos, como Lei de Libras nº 10.436, o Decreto 5.626, Lei de acessibilidade, Lei dos
interpretes. Mesmo assim o autor do capitulo traz um exemplo negativo de uma
professora que ainda acredita que a pedagogia corretiva é a melhor para os surdos, ou
seja, as ideologias afirmadas no Congresso de Milão ainda são tão fortes que até mesmo
uma educadora defende que devemos ter a sala de aula como uma sala de tratamento,
dando forças a discriminação e desigualdade social.

Ainda no cenário brasileiro, sabemos que a existência de leis que garantem


direitos, não é por si só, as prerrogativas suficientes para determinar a presença desses
direitos. É necessário ações individuais e coletivas, conscientização, e muito importante
também é a aproximação dessas questões a população, para reduzir a desigualdade
social e discriminação promovendo a condições igualitárias.

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