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Notas de aulas de Pavimentação (parte 3)

Helio Marcos Fernandes Viana

Tema:

Materiais asfálticos para pavimentação (3.o Parte)

Conteúdo da parte 1
12 Suscetibilidade térmica

13 Temperaturas de utilização do CAP

14 Especificação brasileira para os CAPs


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12 Suscetibilidade térmica

12.1 Introdução

A suscetibilidade térmica é uma propriedade dos ligantes asfálticos, que


indica a influência das variações de temperatura na consistência do ligante asfáltico.

OBS. Consistência relaciona-se solidez, que é uma palavra relacionada com


resistência ao cisalhamento e com módulo de elasticidade do material; Quanto maior
a consistência de um material maior sua resistência ao cisalhamento e maior o seu
módulo de elasticidade.

A Tabela 12.1 relaciona o índice de suscetibilidade térmica do ligante


asfáltico com algumas características do ligante asfáltico, e com a classificação do
ligante asfáltico quanto à suscetibilidade térmica.

Tabela 12.1 - Relação do índice de suscetibilidade térmica do ligante asfáltico


com algumas características do ligante asfáltico, e com a
classificação do ligante asfáltico quanto a suscetibilidade
térmica

Índice de
suscetibilidade Classificação Característica do ligante asfáltico ou asfalto
térmica (IST)
São ligantes asfálticos ou asfaltos:
- Sensíveis às variações de temperatura;
Asfaltos muito
IST < -2 - Quebradiços a baixas temperaturas; e
suscetíveis
- Moles às mais altas temperaturas, ou seja,
amolecem rapidamente.
São ligantes asfálticos ou asfaltos:
Asfaltos pouco - Oxidados ou envelhecidos;
IST > +2
suscetíveis - Pouco sensíveis a elevadas temperaturas; e
- Quebradiços a baixas temperaturas.
- São ligantes asfálticos ou asfaltos que apresentam
elasticidade; e
Asfaltos
−2 ≤ lST ≤ +1 - São ligantes asfálticos ou asfaltos que apresentam
normais
comportamento adequado para serviços de
pavimentação.

Geralmente, os CAPs (cimentos asfálticos de petróleo) são asfaltos normais,


ou seja, são ligantes asfálticos ou asfaltos adequados para os serviços de
pavimentação, e apresentam o índice de suscetibilidade térmica (IST) entre os
seguintes valores:

− 2 ≤ IST ≤ +1
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12.2 Cálculo do índice de suscetibilidade térmica (ou índice de penetração)


pela equação de Pfeiffer e Van Doormaal

Segundo Pfeiffer e Van Doormaal, o índice de suscetibilidade térmica (IST)


ou índice de penetração (IP) de um ligante asfáltico pode ser calculado pela seguinte
equação:
500.Log(P) + 20.PA − 1951
IST = IP = (12.1)
120 − 50.Log(P) + PA

em que:
IST = IP = índice de suscetibilidade térmica ou índice de penetração (adimensional);
PA = ponto de amolecimento do ligante asfáltico (oC); e
P = penetração a 25o C (dmm).

OBS(s).
a) PA ou ponto de amolecimento do ligante asfáltico é obtido através do ensaio
ponto de amolecimento (ou ensaio do anel e bola) realizado com o ligante asfáltico;
b) P ou penetração a 25o C é obtida através do ensaio de penetração realizado com
o ligante asfáltico; e
c) 1 dmm = 1 decimilímetro = 0,1 mm = 10-1 mm.

12.3 Cálculo do índice de suscetibilidade térmica a partir da equação empírica


baseada no coeficiente angular

A determinação do índice de suscetibilidade térmica a partir da equação


empírica baseada no coeficiente angular é realizada com base nos seguintes
passos:

1.o (primeiro) passo: Com base no ensaio de penetração, determina-se a


penetração no ligante asfáltico em decimilímetros (dmm) para uma dada temperatura
(geralmente 25o C);

2.o (segundo) passo: Com base no ensaio de penetração, determina-se a


penetração no ligante asfáltico em decimilímetros (dmm) para uma temperatura, no
mínimo, 20o C maior ou menor do que a temperatura utilizada no ensaio do 1.o
(primeiro) passo;

3.o (terceiro) passo: Com base nas temperaturas e penetrações do 1.o (primeiro) e
2.o (segundo) passos; Então, constroe-se a reta Penetração versus Temperatura
(Como ilustra a Figura 12.1 apresentada a seguir); Sendo que, no gráfico da reta em
questão, a penetração é dada em escala logarítmica;

4.o (quarto) passo: Na construção da reta Penetração versus Temperatura o ponto


1 (um) da reta sempre corresponderá ao ponto de menor temperatura (Como ilustra
a Figura 12.1 apresentada a seguir);
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5.o (quinto) passo: Determina-se o coeficiente angular da reta Penetração versus


Temperatura com base na seguinte equação:
Log(P2 ) − Log(P1 )
tan( α ) = (12.2)
T2 − T1
em que:
tan(α) = coeficiente angular da reta Penetração versus Temperatura;
P1 = penetração no ligante asfáltico em uma temperatura T1 (dmm);
P2 = penetração no ligante asfáltico em uma temperatura T2 (dmm); e
T1 = menor temperatura na qual foi realizado o ensaio de penetração no ligante
asfáltico (oC); e
T2 = maior temperatura na qual foi realizado o ensaio de penetração no ligante
asfáltico (oC).

6.o (sexto) passo: Finalmente, determina-se o Índice de Suscetibilidade Térmica ou


Índice de Penetração do ligante asfáltico com base na seguinte equação empírica:
20 − [500. tan( α )]
IST = IP = (12.3)
1 + [50. tan( α )]
em que:
IST = IP = índice de suscetibilidade térmica ou índice de penetração do ligante
asfáltico (adimensional); e
tan(α) = coeficiente angular da reta Penetração versus Temperatura.

OBS(s).
a) Empírica é um adjetivo relacionado ao empirismo, o qual é um método que se
baseia unicamente na experiência, e não em princípios racionais como física,
matemática e química.
b) No 2.o (segundo) passo deve se utilizar uma temperatura para o ensaio de
penetração, no mínimo, 20o C maior ou menor do que a temperatura utilizada no 1.o
(primeiro) passo; para deste modo, se obter uma boa definição do coeficiente
angular (tan α) da reta Penetração versus Temperatura.

Figura 12.1 - Exemplo de reta Penetração versus Temperatura


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13 Temperaturas de utilização do CAP

13.1 Introdução

Sabe-se que a viscosidade do CAP varia com a temperatura; Portanto, deve-


se estabelecer valores de temperatura para o CAP, nas quais a viscosidade do CAP
permita realização das seguintes operações:

a) Operação de mistura do CAP com os agregados ou usinagem;


b) Operação de espalhamento da mistura betuminosa no campo (ou sobre a base do
pavimento); e
c) Operação de compactação da mistura betuminosa no campo (ou sobre a base do
pavimento).

13.2 Retas Viscosidade versus Temperatura

As chamadas retas Viscosidade versus Temperatura são fundamentais para


realização das operações ou serviços com o CAP.

Os principais passos para obtenção de uma curva Viscosidade versus


Temperatura para um CAP são apresentados a seguir:

1.o (primeiro) passo: Através de ensaios em laboratório, determinam-se as


viscosidades Saybolt - Furol de um CAP em 3 (três) temperaturas diferentes;

2.o (segundo) passo: Plotam-se, em um gráfico Viscosidade versus Temperatura,


os pontos A, B e C, que correspondem aos valores das viscosidades obtidos nos
ensaios com o CAP, respectivamente, na maior temperatura, na temperatura
intermediária e na menor temperatura; Como ilustra a Figura 13.1.

3.o (terceiro) passo: Finalmente, pelos 3 (três) pontos (A, B e C), traça-se a reta
Viscosidade versus Temperatura para o CAP ensaiado; Como ilustra a Figura 13.1.

OBS(s).
a) No gráfico Viscosidade versus Temperatura, a viscosidade Saybolt - Furol é dada
em segundos e em escala logarítmica; e
b) Geralmente, as 3 (três) temperaturas normativas de ensaio Saybolt - Furol com o
CAP são: 177o C, 150o C e 135o C.
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Figura 13.1 - Exemplo de uma reta Viscosidade versus Temperatura

13.3 Determinação das temperaturas de serviços (ou trabalho) com o CAP

i) Temperatura ideal de aquecimento do CAP para mistura ou produção do


CAUQ (concreto asfáltico usinado a quente)

A temperatura ideal de aquecimento do CAP para mistura ou produção do


CAUQ (concreto asfáltico usinado a quente) corresponde à seguinte viscosidade
Saybolt - Furol:

VM = (85 ± 10 ) segundos

em que:
VM = viscosidade Saybolt - Furol do CAP para mistura ou produção do CAUQ (s ou
segundos).
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Diante do exposto, a temperatura ideal para aquecimento do CAP para


mistura ou produção do CAUQ (concreto asfáltico usinado a quente) será:

⎛ T − T3 ⎞
TCAP = T3 + ⎜ 4 ⎟ (13.1)
⎝ 2 ⎠
em que:
TCAP = temperatura ideal para aquecimento do CAP para mistura ou produção do
CAUQ (oC);
T3 = temperatura do CAP correspondente à viscosidade Saybolt - Furol de 75
segundos (ou 85 - 10 segundos) (oC); e
T4 = temperatura do CAP correspondente à viscosidade Saybolt - Furol de 95
segundos (ou 85 + 10 segundos) (oC).

ii) Temperatura ideal para compactação no campo (ou sobre a base do


pavimento) da massa betuminosa ou do CAUQ (concreto asfáltico usinado a
quente)

A temperatura ideal para compactação no campo (ou sobre a base do


pavimento) da massa betuminosa ou do CAUQ corresponde à seguinte viscosidade
Saybolt - Furol:
VC = (140 ± 15 ) segundos

em que:
VC = viscosidade Saybolt - Furol do CAP para compactação da massa betuminosa
ou CAUQ (s ou segundos).

Diante do exposto, a temperatura ideal para compactação no campo (ou


sobre a base do pavimento) da massa betuminosa ou do CAUQ será:

⎛ T − T1 ⎞
TCOMP = T1 + ⎜ 2 ⎟ (13.2)
⎝ 2 ⎠
em que:
TCOMP = temperatura ideal de compactação no campo (ou sobre a base do
pavimento) da massa betuminosa ou do CAUQ (oC);
T1 = temperatura do CAP correspondente à viscosidade Saybolt - Furol de 125
segundos (ou 140 - 15 segundos) (oC); e
T2 = temperatura do CAP correspondente à viscosidade Saybolt - Furol de 155
segundos (ou 140 + 15 segundos) (oC).

iii) Temperatura ideal de aquecimento do agregado a ser misturado com o CAP


para produzir a massa betuminosa ou CAUQ

A temperatura ideal de aquecimento do agregado a ser misturado com o


CAP para produzir a massa betuminosa ou CAUQ (concreto asfáltico usinado a
quente) depende da temperatura ideal para aquecimento do CAP (ou TCAP), a qual
foi apresentada anteriormente na eq.(13.1).
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A temperatura ideal de aquecimento do agregado a ser misturado com o


CAP para produzir a massa betuminosa ou CAUQ é obtida pela seguinte equação:
TAQ = TCAP + 13 (13.3)

em que:
TAQ = temperatura ideal para aquecimento do agregado a ser misturado com o CAP
para produzir a massa betuminosa ou CAUQ (oC); e
TCAP = temperatura ideal para aquecimento do CAP para produção do CAUQ (oC).

14 Especificação brasileira para os CAPs

A Tabela 14.1 mostra as especificações necessárias para os cimentos


afálticos de petróleo (CAPs), que são utilizados no território brasileiro.

Na Tabela 14.1 a penetração retida é dada pela seguinte equação:

PF
PR = .(100%) (14.1)
PO
em que:
PR= penetração retida (%);
PO = penetração na amostra de CAP, antes do ensaio RTFOT com a amostra de
CAP (dmm); e
PF = penetração na amostra de CAP, após do ensaio RTFOT com a amostra de CAP
(dmm).

OBS.
a) 1 dmm = 1 decimilímetro = 0,1 mm = 10-1 mm.
b) O valor medido no ensaio deve ser igual ou maior do que o valor mínimo indicado
na Tabela 14.1.
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Tabela 14.1 - Especificações necessárias para os cimentos afálticos de


petróleo (CAPs), que são utilizados no território brasileiro

Limites
Características Unidade
CAP 30 a 45 CAP 50 a 70 CAP 85 a 100 CAP 150 a 200
Penetração (100g,
O dmm 30 a 45 50 a 70 85 a 100 150 a 200
25 C e 5s)
Ponto de amolecimento O
C 52 46 43 37
(valor mínimo)
Ponto de fulgor (valor O
C 235 235 235 235
mínimo)
Índice de Suscetibilidade
-1,5 a + 0,7 -1,5 a + 0,7 -1,5 a + 0,7 -1,5 a + 0,7
Térmica
Viscosidade Saybolt - Furol (valores mínimos)
O
a 135 C s 192 141 110 80
O
a 150 C s 90 50 43 36
O
a 177 C s 40 30 15 15
Viscosidade Brookfield (valores mínimos, com ensaio no SP21 e 20 rpm)
O
a 135 C cP 374 274 214 155
O
a 150 C cP 203 112 97 81
O
a 177 C cP 76 57 28 28
Solubilidade em
tricloroetileno (valor % massa 99,5 99,5 99,5 99,5
mínimo)
O
Ductilidade a 25 C
cm 60 60 100 100
(valor mínimo)
O
Efeito do calor e ar a 163 C por 85 minutos, ou efeito após ensaio RTFOT
Variação em massa
% massa 0,5 0,5 0,5 0,5
(valor máximo)
O
Ductilidade a 25 C
cm 10 20 50 50
(valor mínimo)
Aumento do ponto de
O
amolecimento (valor C 8 8 8 8
máximo)
Penetração retida (valor
% 60 55 55 50
mínimo)

Referências bibliográficas

BALBO, J. T. Pavimentação asfáltica - Materiais, projeto e restauração. São


Paulo - SP: Oficina de Textos, 2007. 558p. (2.o Bibliografia principal)

BERNUCCI, L. B.; MOTA, L. M. G.; CERRATTI, J. A. P.; SOARES, J. B.


Pavimentação asfáltica - Formação básica para engenheiros. Rio de Janeiro
- RJ: Petrobrás, ou ABEDA (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras
de Asfaltos, 2008. 501p. (1.o Bibliografia principal)
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DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM Manual de


pavimentação. 2. ed. Rio de Janeiro - RJ: Ministério dos Transportes, 1996.
320p

FABBRI, G. T. P Notas de aulas da disciplina: Misturas Betuminosas - STT5830.


São Carlos - SP. Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São
Paulo. 2005.

GIECK, K. Manual de fórmulas técnicas. 3. ed.. São Paulo - SP: Hemus, [198-?].
Paginação personalizada (letras e números)

SENÇO, W. Manual de técnicas de pavimentação. Vol. 1. São Paulo - SP: Pini,


2005. 746p

OBS. [198-?] indica que a década provável de publicação do livro é a década de 80


do século XX.

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