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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distancia

Tema: Papel do idoso para o desenvolvimento sócio-cultural em Moçambique, na obra “Terra


Sonâmbula”, do escritor Mia Couto.

Nome do estudante: Alfândega Ricardo Tendecai


Código: 708210064
Docente: Edite Ribeiro

Curso: Língua Portuguesa


Disciplina: LALP I
Ano de Frequencia:3º

Tete, Setembro de 2023

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Índice
Introdução ......................................................................................................................... 3

Objectivos ......................................................................................................................... 3

Metodologias de pesquisa ................................................................................................. 3

Capítulo I – Componente teórica ...................................................................................... 5

1.1 Vida e Obra de Mia Couto .......................................................................................... 5

1.2 Abordagens sobre o conceito do idoso ....................................................................... 7

1.2.1 Conceituando a terceira idade.................................................................................. 8

1.3 Idoso no passado e no presente................................................................................. 10

1.4 Papel social e cultural do idoso no mundo e em Moçambique ................................ 12

Capitulo 2 – Componente prática ................................................................................... 13

2.1 Os diferentes papéis sociais e culturais na obra Terra Sonâmbula de Mia Couto .... 13

2.2 Conclusão ................................................................................................................. 14

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Introdução

Quando pensamos que o assunto envelhecer é um assunto novo, temos que ter clareza
que a população não começou a envelhecer agora, porém, o número de centenários
aumentou muito nos últimos anos, e os porquês dessa mudança estão motivando novas
pesquisas. Essa mudança pode ser relacionada a diferentes aspectos, dentre eles, o estilo
de vida que as pessoas levam, o qual influencia directamente no aumento da expectativa
de vida. O envelhecimento inicia em determinadas épocas, com diferentes ritmos e traz
mudanças para o organismo humano.
Este trabalho tem como tema “O papel do idoso para o desenvolvimento sócio-cultural
em Moçambique na obra Terra Sonâmbula de Mia Couto”. O trabalho, além da
introdução, divide-se em dois capítulos: o primeiro capítulo que é o da componente
teórica, tratará de apresentar a vida e obra de Mia Couto, abordar sobre o conceito do
idoso, diferenciar a velhice do passado e do presente e abordar sobre o papel social e
cultural do idoso no e em Moçambique. O próximo capítulo a ser desenvolvido que é o
da componente prática, será acerca de identificar os diferentes papéis sociais e culturais
na obra “Terra Sonâmbula” de Mia Couto.

Objectivos
Geral:
✓ Compreender o papel do idoso para o desenvolvimento sócio-cultural em
Moçambique, na obra “Terra Sonâmbula” de Mia Couto.

Específicos:
✓ Descrever a vida e obra do escritor Mia Couto;
✓ Definir o termo “idoso”:
✓ Trazer discussões sobre o idoso no passado e no presente;
✓ Identificar o papel social e cultural do idoso no mundo e em Moçambique.

Metodologias de pesquisa
Para o presente estudo buscamos a abordagem descritiva, de modo que o objecto de
estudo e os procedimentos metodológicos já se encontram definidos, a fim de
chegarmos à resposta, sobre aquilo que pretendemos analisar conforme o tema proposto.

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Desse modo, Fonseca (2002), afirma que “a pesquisa bibliográfica é feita a partir do
levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e
electrónicos” (p. 32).
Assim sendo, realizamos um estudo sistematizado dos assuntos já apresentados visando
discorrer sobre o processo histórico e alguns aspectos da visão antropológica do
envelhecimento, o envelhecimento e o papel do idoso nas sociedades e culturas.

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Capítulo I – Componente teórica

1.1 Vida e Obra de Mia Couto


António Emílio Leite Couto, Mia Couto, nasceu na cidade da Beira (Moçambique), em
1955, moçambicano branco, filho de portugueses que foram trabalhar em posto do
governo colonial passou a sua infância e adolescência na Beira. A cor de sua pele e o
nome adoptado por ele para assinar seus livros colocam o escritor em um lugar de
estranheza primeiro porque esperam que um escritor moçambicano seja negro e
segundo, para muitas pessoas Mia é um nome feminino. Logo, quando falam do escritor
esperam de encontrar uma mulher e negra.
O autor é um dos três filhos do jornalista e também escritor Fernando Couto.
Mia Couto afirma que puxou o gosto por histórias com sua mãe, Maria de Jesus, “[ela]
contava história cujo fascínio nos prendia todo ser e, ela dava possibilidade de
encantamento por via da palavra” (Macedo, 2007, p.193).
Em entrevista dada à Celina Martins explica como era morar na cidade da Beira e o
contacto com as diferentes etnias que ali viviam, afirmando que ali fora seu primeiro
contacto com a segregação racial.

Primeiro, a Beira era uma cidade muito particular, porque existia esse estigma da
divisão racial, se calhar era o lugar de Moçambique onde essa hierarquia espacial
por raças era evidente. Segundo, a Beira era também um pântano, essa arrumação
espacial não foi plenamente conseguida. A Beira acabou por ser até à
independência, uma cidade mistura onde essas margens dos territórios negros,
brancos e das outras raças se entrecruzavam. E por circunstâncias da minha vida,
vivi nessa margem, os outros estavam do outro lado da rua: os indianos, os pretos,
os mulatos chineses – que só existiam na Beira. Isso me ajudou a encontrar a
mestiçagem, (Macedo, 2007, p.193).

A cidade da Beira era uma espécie de recorte da situação que vivia a colónia
Moçambique, Mia Couto afirma que não precisava que lhe explicassem o que era o
colonialismo, porque na sua cidade a tensão racial era muito forte; nas escolas em que
estudou quase não havia a presença de negros e o racismo contra negros e brancos
nascidos na colónia era muito forte, esses mestiços eram chamados de brancos de
“segunda categoria”.

O autor afirma ainda que ele se “encaixava” nesta categoria e, por isso, “não precisaram
explicar para mim o que era colonização, pois eu sentia na pele o que era o
colonialismo” (Couto, 2008, p.12).

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No ano de 1971, Couto mudou-se para a capital Lourenço Marques (actual Maputo).
Após 25 de Abril de 1974 passou a exercer a função de jornalista. Sobre este período o
escritor relembra:

Em Março de 1974, eu era um jornalista trabalho como estagiário num vespertino em


Maputo. Militava em grupos clandestinos de apoio à Frente de Libertação e foi me
pedido que abandonasse os meus estudos universitários para trabalhar num jornal da
capital.

Era preciso ‘infiltrar’ (assim se dizia) com quadros moçambicanos, os órgãos de


informação que estavam nas mãos dos portugueses e, um mês depois iniciar no estágio
sucede o 25 de Abril (Couto, 2005).

Mia Couto trabalhou no jornal Tribuna, até 1975, quando este foi destruído por
colonizadores que se opunham às lutas contra a independência. Participou activamente
dessas insurreições como militante da FRELIMO. Com a chegada da independência,
Mia Couto se tornou director da Agencia de Informação de Moçambique (AIM), de
1976 a 1979. Além disso, foi director da revista Tempo, no período de 1979 – 1981, e
do jornal Noticias de Maputo, de 1981 – 1985. Deste período de sua vida como
militante ele relata:

Durante esse período eu consegui fazer um jornalismo engajado, a serviço da


revolução, e isso eu fiz com grande dedicação. Hoje reconheço que havia muita
coisa que não faria novamente, mas essa foi uma entrega de alma num período
muito ético da história do nosso pai, quando estávamos reconstruindo uma nação
embriagados por uma causa. Depois houve um divórcio entre aquilo que era a
prática e o discurso, e pedi para sair do governo (Couto, 2005, p.11).

Na década de 80, período considerado por muitos estudiosos de literatura africana,


como o período de renovação da literatura moçambicana, Mia Couto lança o seu
primeiro livro, Raiz de Orvalho, em 1983. E, em 1986, Vozes Anoitecidas, que tal como
já dissemos no inicio deste paragrafo que esta década foi alvo de muitas discussões no
meio literário, por inaugurar uma forma de fazer literatura.

Em 1987, Mia Couto passa a integrar o grupo de teatro de Mutumbela Gogo, de


Moçambique, segundo Couto, o teatro é uma grande paixão, um local onde lhe
possibilitou aprender muito sobre os processos de escrita.

A minha passagem pelo teatro foi uma das melhores escolas que eu tive, eu
escrevia para um grupo de teatro, ao qual pertenço a 14 anos. E escrever para eles,

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e depois perceber como é que as pessoas reagiram ao ver às peças de teatro aqui na
cidade, nas zonas rurais, quais eram as diferenças, me ensinou muito sobre o que é
se comunicar com os outros (Couto, 2002).

No de 1999, recebeu o prémio Virgílio Ferreira, pelo conjunto da obra, o autor é


considerado um dos mais importantes escritores de língua portuguesa. Em 2002 ganhou
o Noma Award, pelo livro Terra Sonâmbula, considera um dos melhores de livros do
século XX, da África. Seu reconhecimento como escritor é fruto de sua capacidade em
potencializar o signo, por meio de uma expressão teatralizada, que permite transparecer
um investimento na oralidade, no efeito do discurso oral e do diálogo. Seu projecto
literário aponta para a conciliação da palavra escrita com os recursos do contar oral.

Mia Couto é um escritor moçambicano que continuaria a sê-lo onde quer que vivesse e
escrevesse. De família portuguesa recente em Moçambique, e de inquestionável etnia
europeia, mas sem duvida moçambicana, porque consegue integrar em suas “palavras
escritas” a tradição oral das culturas nacionais […] E creio também que não só pelo
valor culturalmente abrangente, que também possa ter, não apenas porque dá voz escrita
às vozes moçambicanas sem escrita, mas porque é, sobretudo, uma literatura que traz
forma à incerteza e que imagina a plural nação que Moçambique possa vir a ser para
que possa perceber a nação plural que é. A obra de Mia Couto é uma escrita que está à
espera da História, é uma literatura de fundação virada para o futuro (Jornal das Letras,
Novembro de 2008).

São algumas obras de Mia Couto:


✓ Raiz de Orvalho;
✓ Vozes Anoitecidas;
✓ Terra Sonâmbula;
✓ Ultimo Voo do Flamingo;
✓ Cronicando;
✓ Estórias absonhadas;
✓ O fio das missangas, entre outros.

1.2 Abordagens sobre o conceito do idoso


De acordo com o dicionário Silveira Bueno (2000), idoso significa “velho, avançado em
anos”.
Com o propósito de esboçar o conceito de idoso para uma maior compreensão do tema
seleccionado a priori, se tornam cabíveis três indagações. Na primeira, pretendemos

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questionar, quem é a pessoa considerada idosa? Posteriormente, como o envelhecimento
é visto pelas diferentes culturas? Por último, a pessoa idosa ocupa qual espaço na
sociedade actual? Diante de tais questionamentos, algumas ponderações serão
utilizadas, a fim de ilustrarmos o assunto.
Para tanto, primeiramente tomaremos emprestadas as definições do autor Jorge José,
(UDESC, 1996 p.243 -244), “idosa é a pessoa que tem muita idade; velha é a pessoa
que perdeu a jovialidade”.
Ele ressalta ainda que “a idade causa a degenerescência das células; a velhice causa a
degenerescência do espírito.” Em seguida, o autor conclui que: “por isso, nem todo
idoso é velho e há velho que ainda nem chegou a ser idoso”.
Conforme a Organização Mundial de Saúde - OMS (2005), “o envelhecimento da
população é um dos maiores triunfos da humanidade” (p. 8).
Também de acordo com Veras e Caldas (2004):

“O século XX se caracterizou por profundas e radicais transformações, destacando-


se o aumento do tempo de vida da população como o fato mais significativo no
âmbito da saúde pública mundial. Uma das maiores conquistas da humanidade foi
à extensão do tempo de vida”. (p. 424).

Ainda segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), idoso é todo individuo com 60
anos ou mais.

1.2.1 Conceituando a terceira idade


A terceira idade está ganhando espaço. Nos últimos anos, há uma preocupação maior
com o idoso, já que esta população vem aumentando muito. Ela passa a ser chamada de
Terceira Idade que é a fase onde as transformações vão sendo sentidas e vistas mais
rapidamente no corpo. Progressivamente, o organismo vai alterando, morfologicamente,
a pele, as funções biológicas e funcionais. Passa-se por algumas perdas, tais como, a
audição, a visão e também os movimentos ficam mais lentos. Para uma maior
compressão, Gebara (1991) nos descreve detalhadamente como ocorre essa
transformação em nosso corpo.

A vida vai deixando através do corpo suas marcas, vai desenhando traços firmes
que contornam os rostos abrindo sulcos, como marcas indeléveis que se
multiplicam e se acentuam ao longo dos anos. Vai embranquecendo e rarefazendo
os cabelos, vai fazendo o corpo sentir os anos passarem inexoravelmente. A vida
vai escrevendo nossa história em nosso próprio corpo, em nossos gestos, em nosso
olhar. Os caminhos percorridos, os anos vividos, as alegrias e sofrimentos, as
esperanças, os desejos escondidos parecem confluir todos para o mesmo corpo,

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agora capaz de revelar uma história, capaz de deixar as rugas falarem, porque elas
têm de fato uma história. O rosto envelhecido é história, permite uma interpretação,
provoca interpretações, faz pensar. Envelhecer é perceber esse passar da vida,
constante e intenso, como se a gente pudesse se olhar no espelho e, em um minuto,
ver a metamorfose do mesmo rosto desfilando sucessivamente diante dos próprios
olhos, transformando-se gradativamente de jovem para velho. (Gebara, 1991, p.
109).

Segundo Hamilton (2000), também existem vários métodos para definir as diferenças na
expectativa de vida:
- Efeitos distais de envelhecimento, como falta de mobilidade;
- Efeitos proximais de envelhecimento, como aquisição de determinadas características
da velhice;
- Envelhecimento probabilístico, efeitos prováveis, mas não universais.
Por isso, temos vários conceitos semelhantes para classificar o envelhecimento, como o
aumento da sabedoria, porém um decréscimo das faculdades mentais.
Muitos foram os aspectos que melhoraram nos cuidados da saúde e nos padrões de vida.
Os adultos mais jovens podem superar os mais velhos, não por serem menos velhos,
mas por serem mais sadios, terem mais instrução e conviver em um mundo mais rico
culturalmente. Porém, tudo isso depende de como essa pessoa está sendo tratada no
meio em que vive. No Brasil, são considerados velhos todas as pessoas com sessenta e
cinco anos (65) ou acima.
Segundo Hayflick (1997) a velhice pode ser conceituada da seguinte forma:

O envelhecimento não é a mera passagem de tempo, mas a manifestação de


eventos biológicos que ocorrem ao longo de um período, algo similar ao que ocorre
com o amor e a beleza, grande parte de nós os reconhecem quando sentem. O
mesmo autor afirma que o envelhecimento representa as perdas da função normal
que ocorrem após a maturação sexual e continuam até a longevidade máxima para
os membros de uma mesma espécie. (p.78).

Já em Papaléo Netto (1996), encontra-se um outro conceito que mostra a velhice como
um processo progressivo, porque vai, aos poucos, modificando tanto a área interna
como a externa. Gradativamente vai alterando e agredindo as estruturas internas como
as externas. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS), classifica da seguinte forma o
envelhecimento: “O idoso passa por quatro estágios: Meia Idade, Idoso, Ancião e
velhice extrema”.
O quadro abaixo retrata o envelhecimento de acordo com (OMS) Organização Mundial
da Saúde.

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Tabela 1: Classificação do envelhecimento conforme OMS
Meia-idade: 45 a 59 anos,
Idoso: 60 a 74 anos,
Ancião: 75 a 90 anos,
Velhice extrema: 90 anos em diante.
Fonte: Papaléo Netto (1996)

Assim, primeiramente, vamos ao conceito de velho, que, segundo o dicionário Luft


(2001), velho quer dizer: “[...] muito idoso, antigo com muito tempo de existência”.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, idosos são aquelas pessoas com sessenta e
cinco anos (65), ou mais. São essas pessoas que fazem parte dos projectos de vida, que
têm currículos direccionados a essa faixa etária visto que os idosos encontram-se numa
fase que não tem muitas actividades e opções. No entanto, isso vem mudando
gradativamente. Surge a gerontologia que é “a ciência que estuda o envelhecimento de
todas as coisas vivas em seus múltiplos aspectos biológicos, psicológicos e
socioeconómicos”.

1.3 Idoso no passado e no presente


Ao se analisar a história, verifica-se que em algumas sociedades antigas, os velhos eram
valorizados, em virtude de sua experiência, auxiliando os mais jovens em suas
actividades diárias, transmitindo seus conhecimentos adquiridos no transcorrer da vida.
Já na Grécia, o envelhecimento era visto conforme a classe social.
Se pertencentes à elite, detinham o poder político, económico e cultural, sendo
reconhecidos como sábios, diferentemente daqueles pertencentes às classes sociais
inferiores, que representavam a invalidez, a doença e a morte (Horn, 2013).
Beauvoir (1990), destaca a história da velhice em algumas sociedades, sobretudo na
China antiga e no Japão, que privilegiavam seus velhos.
Os velhos chineses instituíram um poder centralizado e autoritário.
Segundo Beauvoir (1990), “Confúcio modelou à imagem da colectividade o
microcosmo que deu a esta como base a família e toda a casa devia obediência ao
homem mais idoso” (p. 112)
Acredita-se que a pessoa idosa era vista como sendo possuidor de um certo poder
sobrenatural, devido à sua longa vida, ocupando um lugar de destaque, associando
sabedoria e experiência.
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Na Antiguidade, verifica-se que alguns consideravam a velhice como causadora de
conflito de gerações.
Beauvoir (1990), afirmava que “a ideia de honra estava relacionada à da velhice”
(p.122).
Para a mesma autora, a velhice era integrada à sabedoria, tendo a longevidade lhe
conferido experiência e autoridade.
Segundo Beauvoir (1990), Aristóteles ressaltava que:

“É preciso que o corpo permaneça intacto para que a velhice seja feliz: uma bela
velhice é aquela que tem a lentidão da idade, mas sem deficiências. Ela depende ao
mesmo tempo das vantagens corporais que se poderia ter, e também do acaso. O
declínio do corpo acarreta o do indivíduo inteiro” (p. 136).

Conforme destacado por Lemos et al. (2015), verifica-se, no passado, que os


Babilónios, Hebreus e os Gregos davam grande importância aos problemas inerentes à
velhice, e pesquisavam formas de se impedir o processo de envelhecimento.
Para os Babilónios a imortalidade era um ideal a ser conquistado. Os gregos
desprezavam seus velhos e os colocavam em serviços subalternos e humilhantes,
enaltecendo a beleza e a juventude. Apenas o filósofo grego Platão possuía uma visão
onde a velhice estaria ligada a sabedoria, prudência, sensatez e astúcia. Os Hebreus se
destacavam pela importância dada a seus velhos, que eram vistos como os chefes
naturais. Na cultura hebraica destaca-se “Matusalém” que, segundo as escrituras, teria
vivido 969 anos. Para eles, uma vida longa era vista como uma bênção. Na sociedade
romana os velhos detinham uma posição privilegiada. Eles possuíam a autoridade de “
pater famílias ”, ou “pais de famílias”. Porém, esta autoridade provocava a ira das
gerações mais novas.
Attias-Donfut (1991), destacou que alguns historiadores situam o século XVIII como “o
nascimento do envelhescente”, reconhecendo a velhice como uma idade digna (p. 85).
Já no início do século XIX, a velhice não era vista com bons olhos, sendo os velhos
considerados como mendigos, em virtude da dificuldade de se conseguir trabalho. Dessa
forma, a velhice era associada à incapacidade de produzir.
Conforme Peixoto (1998), na França era denominado velho (vieux) ou velhote (veillard)
aquele indivíduo que não desfrutava de status social – muito embora o termo velhote
também fosse utilizado para designar o velho que tinha sua imagem definida como
‘bom cidadão’”.

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Debert (1999) destacou que a elite dominante da época via os velhos com total
indiferença, ignorando-os completamente, mas a partir da segunda metade do século
XIX, o número de velhos aumentou substancialmente e a sociedade não podia mais
ignorá-los, passando a desvalorizá-los. Surge, então, a noção ambivalente da velhice.
Ainda segundo Debert (1999), é “esse movimento que marca as sociedades modernas,
onde, a partir da segunda metade do século XIX a velhice é tratada como uma etapa da
vida caracterizada pela decadência física e ausência de papéis sociais" (p. 14).
No entanto, com as mudanças no modo de produção capitalista, onde o principal
objectivo é o lucro, através da exploração da força de trabalho ocorreu uma
desvalorização social dos idosos.
Verificou-se, conforme citado por Silva (2008), que a noção de velhice como etapa da
vida surgiu no período de transição entre os séculos XIX e XX.
Algumas mudanças modificaram o curso da vida, propiciando o surgimento do conceito
de velhice como se conhece hoje. Dois factores foram fundamentais: a formação de
novas disciplinas médicas que estudam o corpo envelhecido e a criação das pensões e
aposentadorias. Gradativamente, a velhice passa a ser vista como um estado fisiológico
específico, com características específicas que se reúnem sob o signo da “senescência”.

1.4 Papel social e cultural do idoso no mundo e em Moçambique


A representação do envelhecimento tem variado ao longo dos tempos nas diferentes
sociedades e culturas. Para Simone de Beauvoir no tratado La Vieillesse (1990), a
natureza controlava a vida dos homens nas sociedades primitivas e raramente estas
cuidavam de seus idosos.
Nas sociedades mais evoluídas, “o idoso ocupava lugar de forma mais complexa, tidos
como detentores de poderes e nas sociedades bem-sucedidas e tranquilas os idosos
possuíam prestígios e autoridade” (Matos, 2006, p.9).
Confúcio, 551-479 a.C., filósofo chinês, estabeleceu que na família todos devessem
obediência aos idosos, uma vez que os velhos eram detentores de sabedoria. Conforme
o taoísmo o desígnio dos homens é a longevidade. Na Grécia antiga, a ideia de honra
estava vinculada à velhice, os idosos possuíam, portanto, a garantia da propriedade e
ocupavam o topo da escala social e cultural.

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Capitulo 2 – Componente prática

2.1 Os diferentes papéis sociais e culturais na obra Terra Sonâmbula de Mia Couto
Tudo começa com a “Estrada Morta”, apresentação dos personagens protagonistas: o
menino Muidinga e o Velho Tuahir, que fugiram da guerra e das consequências da
guerra, fugiram dos ataques que grassavam o país naquela altura. Estes dois
personagens principais não têm nenhuma ligação familiar, mas a questão é que Tuahir
encontrou o menino e salvou-o da morte, circunstância que os liga de forma indelével.
O menino não se lembra de nada, nem dos pais, nem de onde vem. O velho acolheu-o
como o seu filho e ensinou tudo de início, como se fosse um recém-nascido, ensinou-o a
andar, a falar e até como pensar.

Quem o recolhera fora o velho Tuahir, quando todos outros o haviam abandonado.
O menino estava já sem estado, os ranhos lhe saiam não do nariz mas de toda
cabeça. O velho teve que lhe ensinar todos os inícios: andar, falar, pensar.
Muidinga se meninou outra vez. (Couto, 2008, p.10).

Muidinga e Tuahir instalaram-se num machimbombo queimado, que para Tuahir


representa o lugar mais seguro onde ficar, pois os ‘bandos’ já por ali passaram.

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2.2 Conclusão

Diante disso, constatamos que o envelhecimento da população vem ocorrendo muito


rapidamente e que o perfil demográfico dessa população foi se transformando ao longo
dos tempos. E, de uma população predominante jovem, nos dias actuais, para os
vindouros, perpassam por um contingente cada vez mais significativo de pessoas com
60 anos ou mais de idade. Compreendemos que as políticas públicas em relação aos
idosos no mundo e em Moçambique, tiveram início no século XX, a partir de 1970 e
precisam ainda permear por um processo de regulamentação para que venham
responder adequadamente às especificidades dos idosos, assim como, às necessidades
crescentes da população que envelhece. Assim, compreendendo e que embora, a
legislação moçambicana seja relativa aos cuidados da população idosa, na prática
apresenta-se ainda, deficitária. Verificou-se, portanto, que as áreas e os serviços
elencados na base legal moçambicana estudada, houve avanços significativos
principalmente nas últimas décadas e reportam ao ideal, mas a insipiência de redes e a
não oferta de alguns serviços de cuidados a essa população, denunciam por si só
“algumas brechas” que deverão ser ainda objectos de reorganização, que uma vez
optimizados poderão ser superados, assim como, referência dos serviços prestados, do
acesso e da integralidade da atenção ao idoso.
Assim sendo, diante da realidade explanada até então, faz-se necessário que
compreendamos a complexidade do envelhecimento das pessoas, bem como, as
múltiplas formas de vivenciá-lo e, por conseguinte, que na melhor idade, sejam
respeitadas todas as dimensões, sobretudo, vida digna em sociedade. Desse modo,
espera-se que essa população seja também, cada vez mais activa, mais capacitada, mais
exigente e consciente de suas necessidades. Portanto, Moçambique precisa se aparelhar
cada vez mais para atender as demandas tanto de saúde, como o do bem-estar dos idosos
com políticas e programas que promovam o envelhecimento digno e sustentável. Por
fim, acreditamos que, embora os aspectos relacionados ao tema proposto não se
encontram extenuados, e, que para tanto, prossiga em evidência e atenção, bem como,
as altercações voltadas param a inclusão social do idoso.

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2.3 Bibliografia

Attias-Donfut, C. (1991). Générations et âges de la vie. Paris: PUF.


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