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Objectivos.................................................................................................................... 4
Metodologias ............................................................................................................... 4
Análise da Obra........................................................................................................... 7
Conclusão ................................................................................................................. 12
Introdução
Objectivos
Objectivo Geral
Objectivos Específicos
Metodologias
Desse modo, “uma nova época foi inaugurada, portanto, a seguir à II Guerra Mundial.
Durante cerca de 20 anos (até 1963), a literatura moçambicana alcançará a autonomia
definitiva no seio da língua portuguesa” (LARANJEIRA, 1993, p.258).
Todavia, Paulina Chiziane, escritora do romance que foi estudado nesse trabalho,
pertence a um período posterior aos trabalhos do crítico português. Desse modo, fez-
se necessário buscar ensaios que dissertem sobre a situação da literatura
moçambicana contemporânea e, para isto, utilizou-se o ensaio “Um olhar em direção
à narrativa scontemporânea moçambicana”, da professora Maria Teresa Salgado
(2005).
Quando tentou publicar o seu primeiro livro, Balada de Amor ao Vento, Chiziane teve
que resistir às dificuldades em se tornar escritora em uma sociedade que não
possibilitava a ascensão socioeconômica da mulher e enfrentou a Associação dos
Escritores de Moçambique, chegando até a ameaçar Eduardo White, um dos maiores
poetas moçambicanos. Todavia, os contratempos não desapareceram com a
publicação do livro, mas aumentaram, como a própria autora explicita em uma
entrevista ao jornal Expresso:
O meu primeiro livro levantou muitas dúvidas: primeiro uma mulher que escreve,
depois que fuma, depois que fala de amor... Não deve ser flor que se cheire. Tentavam
afastar-me da sociedade, ainda continuo a ser vista como uma aventureira, como uma
pessoa que não tem âncora no meio social. (MOREIRA, 1999, p.1).
Análise da Obra
onde andas tu? Por que me deixas só a resolver os problemas de cada dia como
mulher e como homem, quando tu andas por aí? Há momentos na vida em que uma
mulher se sente mais solta e desprotegida como um grão de poeira [...]. (CHIZIANE,
2002, p.12, grifos nossos).
Vou ao espelho tentar descobrir o que há de errado em mim. Vejo olheiras negras no
meu rosto, meu Deus, grandes olheiras! Tenho andado a chorar muito por estes dias,
choro até de mais. Olho bem para minha imagem. Com esta máscara de tristeza,
pareço um fantasma, essa aí não sou eu. Titubeio uma canção antiga daquelas que
arrastam as lágrimas à superfície. [...]
Paro de chorar e volto ao espelho. Os olhos que se reflectem brilham como diamantes.
É o rosto de uma mulher feliz. Os lábios que se reflectem traduzem uma mensagem
de felicidade, não, não podem ser os meus, eu não sorrio, eu choro. Meu Deus, o meu
espelho foi invadido por uma intrusa, que se ri da minha desgraça. Será que essa
intrusa está dentro de mim? (CHIZIANE, 2004, p.16-17, grifos nossos).
A narradora-personagem não acredita que possa existir uma Rami que seja feliz e que
sorri, essa Rami que se direciona ao leitor e assume a narrativa em alguns momentos,
tentando não dar tanta importância para seus os ímpetos subjetivos. Nota-se, além
disso, que esse fato se constrói de forma irônica: ora, para que Rami consiga abafar
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– Pode-se roubar uma pessoa viva, ainda por cima um comandante da polícia?
– Não sejas criança, gémea minha. Ele cansou-se de ti e partiu. (CHIZIANE, 2004, p.
18, grifos nossos).
– Agrediste a vítima e deixaste o vilão. Não resolves nada. (CHIZIANE, 2004, p.29,
grifos nossos).
– Renova-te, sim. Mas antes, procura uma vassoura e varre o lixo que tens dentro do
peito. Varre as loucuras que tens dentro da mente, varre, varre tudo. Liberta-se. Só
assim viverás a felicidade que mereces.
– Diz-me, espelho meu: onde foi que eu errei? Serei feliz algum dia, com essas
mulheres à volta do meu marido?
– Pensa bem, amiga minha: serão as outras mulheres as culpadas desta situação?
Serão os homens inocentes? (CHIZIANE, 2004, p.34-35, grifos nossos).
Nós, mulheres, vivemos num poço silencioso e profundo e julgamos que o céu tem o
diâmetro do nosso ponto de mira. Mas um dia descobrimos que as águas que nos
cobrem têm a cor do céu. Os nossos sonhos crescem à altura das estrelas.
Descobrimos que os gritos dos homens são o marulhar das ondas, não matam. E a
grandeza dos homens simples coroa de pavão. Descobrimos que há coisas
extraordinárias no mundo proibido que merecem ser provadas. Descobrimos que os
lírios dos campos têm perfume divino e que o amor verdadeiro tem gosto de liberdade.
Por isso voltamos a ser crianças. (CHIZIANE, 2004, p.313, grifos nossos).
Desse modo, segundo Silva (2008), é possível compreender que “[a]o longo da leitura
do texto de Paulina, percebemos a constante presença dessas três vozes em
concomitância” (p.43).
Conclusão
O presente trabalho buscou fazer uma leitura de Niketche: uma história de poligamia
a partir de elementos narrativos já cristalizados na teoria literária ocidental. Foi
possível, então, notar que somente os conceitos genettianos não são suficientes para
explicitar as inúmeras facetas do livro da moçambicana Paulina Chiziane, o que gerou
dificuldades ao tentar enquadrar, por exemplo, características de um narrador
autodiegético em uma narradora que assume diversas facetas para melhor evidenciar
o contraste entre a tradição e a modernidade, entre o norte e o sul, entre as inúmeras
etnias moçambicanas. Desse modo, constata-se a necessidade de uma pesquisa que
foque além dos critérios da estrutura narrativa. Ou seja, há a necessidade de se
efetuar um trabalho que mescle a condição da mulher moçambicana e como essa
condição é mostrada dentro do romance Niketche: uma história de poligamia. Será,
assim, demasiado interessante para os estudos sobre a mulher em África
compreender os desdobramentos da narradora em diversas vozes que tentam gritar
as angústias vividas pelas moçambicanas.
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Referências Bibliográficas
ADICHIE, C. N. Sejamos todos feministas. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.