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Fernanda Marques
s narrativas de homens
A narrativa como
matéria-prima
Ao optarem pelo estudo das nar-
rativas, Lúcia e Romeu estavam inte-
ressados, especialmente, em revelar desvelados quando o assunto é sexo”, informação e uma visão mais reflexi-
questões socioculturais e aspectos afirmam Lúcia e Romeu no artigo da va em relação à própria experiência
subjetivos relacionados à experiência revista Ciência & Saúde Coletiva. de iniciação sexual.
de iniciação sexual. Na etapa de Como prova dessa dificuldade que os Além de serem alunos de gradu-
coleta de dados, não foi pedido aos homens têm para falar de suas expe- ação, os participantes tinham outras
participantes que preenchessem riências, destaca-se que alguns jovens características em comum: todos
questionários nem respondessem a não se sentiram à vontade para parti- nasceram na década de 80, marcada
perguntas. Solicitou-se apenas que cipar do estudo porque a pesquisado- pela emergência da Aids, e tiveram
contassem sua experiência sexual, li- ra era mulher e de outra geração. Para sua iniciação sexual nos anos 90, ca-
vremente, sem interrupções, a partir resolver o impasse, em algumas situa- racterizados pelo fenômeno global,
de uma metodologia própria da en- ções, Lúcia contou com um auxiliar de virtual e digital. Todos ainda mora-
trevista narrativa. Quando, de forma pesquisa homem e da mesma idade vam com suas famílias de origem,
espontânea, a narrativa terminava, a dos entrevistados. no Rio de Janeiro, considerada capi-
pesquisadora iniciava uma conversa Também para que os rapazes alvo tal de vanguarda para a liberação de
com o jovem, utilizando a mesma lin- do estudo se sentissem mais à vonta- costumes, a despeito das dificulda-
guagem dele e procurando esclare- de, eles puderam escolher o local da des em lidar com os novos desafios
cer alguns pontos da história. conversa e a maioria optou pela pró- da sexualidade juvenil. “Seja como
À primeira vista, pode parecer pria universidade. Ao todo, os pesqui- pais, educadores ou profissionais de
uma metodologia de pesquisa fácil, sadores ouviram nove universitários. saúde, de um modo geral, acredita-
mas não é. “Para o universo masculi- “Não buscamos uma representativida- mos que sabemos o que é bom para
no, falar de si e de suas incertezas de numérica e sim um aprofundamen- os jovens, o que eles precisam e o
pode ser entendido como fraqueza ou to da temática”, explicam Lúcia e que eles desejam. Admitir que po-
ausência de masculinidade e, assim, Romeu. O fato de todos serem uni- demos aprender com eles e que não
mesmo que o jovem do século 21 seja versitários – dos cursos de engenharia sabemos tudo sobre eles pode ser
visto como livre e bem informado, há e serviço social – possibilitou o traba- um caminho de mudança desta cren-
muitas dúvidas e conflitos a serem lho com um grupo que tem acesso à ça”, sugerem os pesquisadores.