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A natureza e a necessidade da Teologia - Jonathan

Edwards
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Edwards explica o que quer dizer por divindade, ou doutrina cristã. Mostra que não devemos ficar
satisfeito com o mero "conhecimento empírico", à medida que estudamos a Palavra de Deus, mas que
devemos labutar para colocar cabeça e coração juntos na tarefa de conhecer as coisas de Deus. O
conhecimento teológico é a obrigação apropriada daqueles que foram dotados de razão a fim de que
entendam e abracem as coisas de Deus reveladas em sua Palavra.

A TEOLOGIA COMO CIÊNCIA DA RELIGIÃO

Muitos já oferecem definições sobre esse assunto. Não irei inquirir qual é a mais acurada definição, de
acordo com as regras da arte; mas a definirei ou descreverei como penso ser a que melhor nos dá
uma ideia apropriada. É a ciência ou doutrina que compreende todas aquelas verdades e regras que
pertencem à religião.

Divindade como doutrina


Há vários tipos de arte e de ciência ensinados e aprendidos nas escolas, que são versados em vários
assuntos. Como a filosofia, sobre as obras da natureza em geral; como a astronomia, sobre os céus
visíveis; ou como a geografia, sobre o mar, as navegações e a terra; e como a física e a anatomia, sobre
o corpo humano; e como a lógica e a pneumatologia, sobre a alma do homem e seus poderes e
qualidades naturais; ou como a politica e a jurisprudência, sobre o governo humano. Mas uma ciência, ou
tipo de conhecimento e doutrina, está acima das demais: trata sobre Deus e do negócio da religião. A
teologia não é aprendida, como outras ciências, simplesmente pela melhora da razão natural do homem,
mas é ensinada pelo próprio Deus num livro cheio de instruções que nos foi dado para esse fim. Esta é a
regra que Deus tem dado ao mundo para ser seu guia na busca por esse tipo de conhecimento. É um
resumo de todas as coisas dessa natureza que precisamos saber. Por esse raciocínio, a teologia é
chamada de doutrina em vez de arte ou ciência.

O tema da Teologia
Isso engloba tudo o que é ensinado nas Escrituras e, assim, tudo o que precisamos saber, ou há para
saber, a respeito de Deus e de Jesus Cristo, sobre nosso dever para com Deus e nossa felicidade em
Deus. A teologia é usualmente definida como doutrina de viver para Deus; e, para aqueles mais
detalhistas como a doutrina de viver para Deus por Cristo. Abrange todas as doutrinas cristãs, como estão
em Jesus, e todas as regras cristãs que nos direcionam a viver para Deus por Cristo. Não há uma
doutrina, uma promessa, uma regra, mas o que, de uma maneira ou de outra, se relaciona com a vida
cristã e divina ou com o nosso viver para Deus por Cristo. Tudo se relaciona a isso, em dois aspectos, a
saber: promovem nosso viver para Deus nesse mundo, numa vida de fé e santidade; e também tende a
nos levar a uma vida de perfeita santidade e felicidade, em completo gozo de Deus no porvir.

A NATUREZA DA TEOLOGIA
Dois aspectos da teologia
Há dois tipos de conhecimento da verdade divina: especulativa e pratica, ou, em outras palavras, natural
e espiritual. O primeiro permanece apenas na cabeça. Nenhuma faculdade, a não ser o entendimento,
esta envolvida. Consiste em ter um conhecimento natural ou racional das coisas da religião, ou um
conhecimento como é obtido pelo exercício natural de nossas faculdades, sem nenhuma
iluminação especial do Espírito de Deus. O segundo não se apóia completamente no coração, ou nas
idéias especulativas das coisas; mas o coração esta envolvido, e consiste principalmente na sua
percepção. O simples intelecto sem a vontade ou a inclinação, não é central. Ele não pode ser chamado
a apenas ver, mas sentir ou provar. Então há uma diferença entre ter uma noção especulativa certa sobre
as doutrinas contidas na Palavra de Deus, e ter um senso apropriado delas no coração. No primeiro
consiste o conhecimento especulativo ou natural; no segundo, o conhecimento espiritual ou prático.
Nenhum deles tem a pretensão de ser exclusivo, doutrinariamente falado. Mas se pretende que devamos
buscar o primeiro para alcançar o segundo. O segundo, ou o espiritual e prático, é da maior importância
um conhecimento especulativo sem o espiritual é sem propósito e nos faz mais condenáveis. No entanto,
um conhecimento especulativo é também de infinita importância nesse aspecto, pois sem ele não
podemos ter conhecimento espiritual ou prático.

O relacionamento entre os dois aspectos da teologia


O apostolo Paulo fala que um conhecimento espiritual que pode ser adquirido e comunicado de um para o
outro. Apesar disso, não se deve pensar que ele pretende isto exclusivamente do outro. Ele gostaria que
os cristãos hebreus buscassem aquele conhecimento para chegar ao outro. Assim, o anterior vem
primeiro e é diretamente pretendido; a intensão é que os cristãos, pela leitura e outros meios
apropriados, devam procurar um bom conhecimento racional das coisas da teologia, enquanto o último é
mais indiretamente pretendido, já que deve ser obtido pelo anterior.
Passo à utilidade e necessidade do conhecimento das verdades divinas.

A NECESSIDADE DA TEOLOGIA

Não há ensino sem aprendizagem


Não há nenhuma maneira pela qual qualquer forma de graça possa ser de algum benefício senão pelo
conhecimento. Todo ensino é em vão se não há aprendizagem. Assim, a pregação do evangelho seria
completamente sem propósito se não comunicasse conhecimento à mente. Há uma classe de homens
que Cristo tem nomeado com o propósito de serem professores na suas igrejas. Mas eles ensinam em
vão se nenhum conhecimento nessas coisas é ganho pelo ensino. É impossível que o ensino e a
pregação sejam um meio de graça, ou de algum bem nos corações dos ouvintes, que não pelo
conhecimento comunicado ao entendimento. De outro modo, seria tão benéfico ao auditório quanto se o
ministério pregasse numa língua desconhecida. Toda a diferença é que pregar numa língua conhecida
comunica algo ao entendimento, o que não acontece quando se prega em uma língua desconhecida. Por
essa ótica, tal pregação não deve ser lucrativa. Em tais coisas os homens não recebem nada quando não
entendem nada; e não são edificados, a não ser que algum conhecimento lhes seja comunicado, de
acordo com a argumentação do apóstolo (1 Co 14.2-6).
Nenhum discípulo pode ser um meio de graça se não comunicar conhecimento. De outro modo, o
discurso é tão desperdiçado como se nele não houve nenhum homem, e se ele que falou tivesse falado
ao vento; como nos versículos 6-10 já citados. Deus lida com o homem como uma criatura racional, e
quando a fé esta em exercício, ele sabe do que se trata. Portanto, ouvir é absolutamente necessário à fé,
porque ouvir é necessário ao entendimento: "E como crerão naquele de quem nada ouviam?" (Romanos
10.14). Da mesma maneira, não pode haver amor sem conhecimento. Não é próprio da natureza da alma
amar um objeto inteiramente desconhecido. Não pode haver uma determinação no coração sobre algo
acerca do qual não há uma ideia no entendimento. As razões que induzem a alma a amar necessitam
primeiramente ser entendida, antes que tenham uma razoável influência sobre o coração.

A Bíblia e o conhecimento
Deus nos deu a Bíblia, que é um livro de instruções. Mas esse livro pode ser proveitoso para nós apenas
se nos comunicar algum conhecimento à mente; deixaria de ser proveitoso se fosse escrito em chinês ou
em tártaro, já que não sabemos uma palavra nessas línguas. Assim, os sacramentos do evangelho
apenas têm seu efeito apropriado pela comunicação do conhecimento. Eles representam determinadas
coisas por sinais visíveis. E qual os propósitos dos sinais, senão comunicar o conhecimento das coisas
representadas? Tal é a natureza do homem que nenhum objeto pode chegar ao coração a não ser pela
porta do entendimento, e não pode haver conhecimento espiritual daquilo sobre o que primeiro não há
conhecimento racional. É impossível que alguém possa ver a verdade ou a excelência de qualquer
doutrina do evangelho sem saber o que é essa doutrina. O homem não pode ver a maravilhosa
excelência e amor de Cristo ao fazer tais coisas pelos pecadores, a não ser que seu entendimento tenha
sido primeiramente informado como essas coisas foram feitas. Ele não pode ter um gosto da doçura e da
excelência da verdade divina sem que primeiro tenha uma noção que há tal coisa.

A importância da teologia
Sem um conhecimento da teologia, ninguém seria diferente do mais ignorante e bárbaros pagãos. Os
pagão permanecem em flagrante escuridão porque não são instruídos e não obtiveram conhecimento das
verdades divinas.
Quando os homens não tem nenhum conhecimentos dessas coisas, a faculdade da razão e do
entendimento foi dada para o entendimento e o conhecimento propriamente ditos. Se um homem não tem
realmente conhecimento, a faculdade ou capacidade de conhecer não lhe tem uso algum. E se ele tem
conhecimento propriamente dito, mas lhe falta o conhecimento daquelas coisas que são o propósito
último de seu ser; e em consideração ao conhecimento do qual ele tem mais entendimento dado a ele do
que às feras - ainda sim sua faculdade da razão é em vão - ele poderia muito bem ser tanto uma fera
quanto um homem. Mas os assuntos divinos são para serem conhecidos e para isso a faculdade da
razão nos foi dada. Eles são as coisas pertinentes ao fim do nosso ser e à grande tarefa para a qual
fomos feitos. Portanto, um homem não pode colocar a sua faculdade de entendimento à disposição de
qualquer bom propósito a não ser o de ter conhecimento da verdade divina.
Esse tipo de conhecimento é absolutamente necessário. Outros tipos de conhecimento podem ser úteis.
Algumas como astronomia, filosofia natural e geografia, podem ser excelentes em seu meio. Mas o
conhecimento da ciência divina é infinitamente mais útil e importante que todas as outras ciências.

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