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RESPOSTA TÉCNICA

Título

Transplante de Xaxim

Resumo

Técnicas utilizadas para transplante de Xaxim e legislação correspondente.

Palavras-chave

Legislação ambiental; samambaiaçu; transplante; vegetal; xaxim

Assunto

Samambaias

Demanda

Quais são as técnicas utilizadas para transplante de Xaxim e as chances de consolidação da


planta?

Solução apresentada

A Dicksonia sellowiana Hook, conhecida popularmente por Xaxim, Xaxim-imperial e


Samambaiaçu, é uma planta nativa do Brasil, ocorrente no Bioma Mata Atlântica, que estende-
se do Rio Grande do Sul ao Piauí, atingindo também parte do Paraguai e Argentina.

O Xaxim é uma planta arborescente, com caule rígido e espesso, ereto e fibroso (FIG. 1),
podendo atingir de 2 a 4 metros de altura, com folhagem ornamental e crescimento bastante
lento (LORENZI; SOUZA, 2008).

Figura 1 – Dicksonia sellowiana Hook


Fonte: (JARDIM BOTÃNICO DE SÃO PAULO, 2009)

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O Bioma Mata Atlântica possui hoje somente 7% da sua configuração original, causando a
supressão de vastas áreas de biodiversidade, com a possível perda de espécies conhecidas e
ainda não conhecidas pela ciência, influenciando na quantidade e qualidade da água de rios e
mananciais, na fertilidade do solo, bem como afetando características do micro-clima e
contribuindo para o problema do aquecimento global (SOS MATA ATLÂNTICA, 2009).

A exploração intensiva do Xaxim para retirada do caule, empregado na fabricação de vasos e


substrato para o cultivo de plantas ornamentais, e a crescente antropização das áreas
florestadas, tem degradado suas populações naturais (GOMES et al, 2006). O Xaxim é uma
das espécies da Mata Atlântica que estão na Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira
Ameaçadas de Extinção, lançada em 2008 pelo Ministério do Meio Ambiente.

CULTIVO ORNAMENTAL

Para o cultivo fora do habitat natural, segundo Lorenzi; Souza (2008), o Xaxim se dá à meia-
sombra ou a sombra e em terra fértil, mantida umedecida. A planta é bastante resistente ao
frio.

O Xaxim é uma das maiores samambaias nativas do Brasil, e sua multiplicação se dá por meio
dos esporos (unidade de reprodução da planta) e também por gemas (local de crescimento)
separadas com um pequeno bloco de tronco. O próprio tronco pode regenerar a planta
(LORENZI; SOUZA, 2008).

Em projetos de paisagismo, o ideal é que o Xaxim seja disposto em maciços, reproduzindo sua
condição natural. Por se tratar de uma planta perene, isto é, tem ciclo de vida longo, não
necessita de replantio. É importante verificar a procedência da muda de Xaxim no momento da
compra, certificando-se de que o estabelecimento é autorizado para venda e que a muda não
tenha origem em mata nativa.

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

O Xaxim, por ser uma espécie nativa do Bioma Mata Atlântica, e estar ameaçado de extinção,
não pode ser manejado em seu habitat natural sem prévia autorização do órgão ambiental
competente, assim como outras diversas espécies que se enquadram na mesma situação,
conforme dispõe o Artigo 11, Inciso I, da Lei Federal 11.428 de dezembro de 2006, que dispõe
sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, e dá outras
providências.

Art. 11. O corte e a supressão de vegetação primária ou nos estágios


avançado e médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica ficam vedados
quando:

I - a vegetação:

a) abrigar espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção, em


território nacional ou em âmbito estadual, assim declaradas pela União ou
pelos Estados, e a intervenção ou o parcelamento puserem em risco a
sobrevivência dessas espécies (BRASIL, 2006).

As legislações estaduais podem variar dependendo da região, mas somente poderão ter
restrição igual ou maior que a legislação federal, como é o caso da Lei Estadual 9.519, de 21
de Janeiro de 1992, que institui o Código Florestal do Estado do Rio Grande do Sul, que no seu
Artigo 31, restringe completamente o corte e a supressão do Xaxim, conforme segue:

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Art. 31 - Ficam proibidas a coleta, a industrialização, o comércio e o
transporte do Xaxim (Dickisonia sellowiana) proveniente de floresta nativa (RIO
GRANDE DO SUL, 1992).

As legislações municipais também poderão variar de acordo com o Estado onde estão situados
os municípios, podendo ser mais restritivas ou iguais à legislação Estadual.

TRANSPLANTE

A técnica de transplante vegetal trata da remoção de vegetais, de porte arbóreo ou arbustivo,


de um determinado local para outro, seguindo, para tanto, cuidados especiais para que a
operação obtenha êxito (BORGES, 2000).

Para transplante de espécimes vegetais, primeiramente deve-se verificar junto ao órgão


ambiental municipal, a legislação e as condicionantes adotadas pelo Município. Grande parte
dos municípios exige uma autorização especial para transplante vegetal, onde estabelecem os
métodos e procedimentos para execução, e o acompanhamento de um Responsável Técnico
devidamente habilitado.

O transplante de espécimes vegetais é relativamente simples, mas depende de diversos


cuidados especiais para que se tenha a consolidação da planta no novo local.

Essencialmente no transplante de espécime vegetal deve se observar as seguintes situações:

• De acordo com o porte da planta serão estabelecidos os equipamentos e máquinas


necessários para remoção e transporte, além dos passos a serem seguidos;

Identificação da planta e verificação da bibliografia disponível a respeito da resistência a


transplantes. Na literatura consultada não foi encontrada nenhuma referência sobre a
resistência do Xaxim ao transplante;

• A escolha da época de transplante é um fator muito importante na perda do exemplar


transplantado. Deve ser estabelecida a época (meses do ano) mais propícia para o transplante
de acordo com a espécie, mas caso este dado seja desconhecido, deve-se programar o
transplante para períodos de menor circulação de seiva, evitando-se então épocas
reprodutivas, de floração, frutificação e crescimento acelerado, de acordo com a espécie, e
também épocas de menor transpiração das folhas, isto é, temperaturas amenas a baixas
(PORTO ALEGRE, 2008);

• Caso necessário através de poda, reduzir a copa, mantendo a forma natural da planta.
Se o plantio não for imediato, aplicar nas partes podadas uma solução pastosa com adesivo, a
base de sulfato de cobre para evitar a instalação de fungos (PORTO ALEGRE, 2008);

• No espécime a ser transplantado deve se marcar no caule a direção do norte


magnético, verificado através do uso de uma bússola, para que, ao ser transplantada, a planta
permaneça na mesma posição em que se encontrava originalmente. Este cuidado visa
proporcionar à planta, iguais condições de insolação e direção dos ventos a que tinha
originalmente (BORGES, 2000);

• O ambiente de destino da planta deve ser similar ao de retirada, se este atender as


necessidades da planta. O tamanho da cova para plantio é determinado pelo porte da planta. A
cova deverá ser preparada com adubo orgânico e irrigada antes do plantio;

• Após o plantio, a cova deve ser coberta de terra, de modo que todas as raízes fiquem
cobertas. A compactação da terra deve ser suave para permitir a aeração do solo. A primeira

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rega deve ser feita logo após o plantio. Algumas plantas podem precisar de escora, até que
fiquem firmes;

Manutenção da planta transplantada

Após o plantio terá inicio o período de manutenção que se estende por quatro meses. Neste
período a irrigação deve ser feita três vezes por semana, além do controle de pragas e revisão
da escora, caso utilizado. A manutenção periódica é a próxima fase e compreenderá poda,
adubação e irrigação até a total adaptação e consolidação da planta. Esta atividade deverá ser
mantida por um período de 18 meses (PORTO ALEGRE, 2008).

Segundo CESP, (1986) apud Borges, (2000), existem espécies tolerantes ao transplante em
qualquer fase de sua vida, mesmo adultas e com um porte bastante avantajado, outras, porém,
são altamente suscetíveis, não o aceitando, mesmo quando jovens. Por isso, o êxito de um
transplante estará condicionado a estes principais fatores limitantes: a espécie a que pertence
o vegetal, suas condições de vigor e sanidade, seu porte, sua idade, e sua capacidade de
resistir às perdas de água.

Conclusões e recomendações

A lista completa da flora brasileira ameaçada de extinção está disponível para consulta
conforme referência a seguir:

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Lista oficial das espécies da flora brasileira


ameaçadas de extinção. 2008. Disponível em:
<www.icmbio.gov.br/sisbio/legislacao.php?id_arq=42>. Acesso em: 21 out. 2009.

Ao adquirir uma muda de planta nativa, certifique-se que está originou-se de plantas cultivadas
e não foi extraída do ambiente natural. Ao adquirir vasos e substratos para cultivo de plantas
ornamentais, prefira os substitutivos ao Xaxim, como os vasos de fibra de coco e os substratos
naturais de palha de coco, ardósia, entre outros. Desta forma contribuir-se para a preservação
da espécie e na defesa contra o comércio ilegal de plantas nativas.

Salienta-se a necessidade de contato com um profissional devidamente habilitado, Biólogo,


Engenheiro Agrônomo ou Engenheiro Florestal, para análise da viabilidade de transplante do
vegetal e Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) junto ao órgão ambiental Municipal ou
Estadual para execução do transplante.

Fontes consultadas

BORGES C. M. Transplante de espécies vegetais. 2000. Disponível em:


<http://www.rural.ccr.ufsm.br/floresta/congresso/Artigos/Silvicultura/8CFNP_D42.doc>. Acesso
em: 21out. 2009.

BRASIL. Lei Federal n.11.428 de dezembro de 2006. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11428.htm>. Acesso em: 21out.
2009.

Gomes, G. S. et al. Variability in the germination of spores among and within natural
populations of the endangered tree fern Dicksonia sellowiana Hook. (Xaxim). 2006.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1516-
89132006000100001&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 21out. 2009.

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JARDIM BOTÃNICO DE SÃO PAULO. Plantas em extinção. 2009. Disponível em:
<http://www.ibot.sp.gov.br/educ_ambiental/plantas_extincao/samabaiacu.jpg>. Acesso em: 21
out. 2009.

LORENZI H.; SOUZA H. M. Plantas ornamentais no Brasil: arbustivas, herbáceas e


trepadeiras. 4. ed. São Paulo: Instituto Plantarum, 2008. 1088p.

PORTO ALEGRE. Prefeitura Municipal. NS005 - Medidas de mitigação ambiental:


transplantes de vegetais. 2008. Disponível em:
<http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/ns005_-
_medidas_de_mitigacao_ambiental_-_transplantes_de_vegetais.pdf>. Acesso em: 21out. 2009.

RIO GRANDE DO SUL. Lei Estadual n. 9.519, de 21 de Janeiro de 1992, Disponível em:
<http://www.sema.rs.gov.br/sema/html/lei_9519.htm>. Acesso em: 21 out. 2009.

SOS MATA ATLÂNTICA. Flora. 2009. Disponível em:


<http://www.sosmatatlantica.org.br/index.php?section=info&action=flora>. Acesso em: 21 out.
2009.

Elaborado por

Andrissa de Oliveira Cardoso - Bióloga

Nome da Instituição respondente

SENAI-RS / Departamento Regional

Data de finalização

21 out. 2009

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