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MACKENZIE, Iain. Política : conceitos-chave em filosofia. Porto Alegre: ArtMed, 2011.

“Três dimensões do poder”, “O poder e a normalização”, pp. 75-82

O autor começa o capítulo introduzindo a ideia de que o conceito de poder era vago,
porém com o nascimento da ciência política, começaram a buscar uma melhor
definição que pudesse ser medida e quantificada. Dessa forma, Mckenzie baseia seu
texto nas diversas definições do que é o poder por diversos autores. Assim, inicia-se
com Robert Dahl, que, em 1961, iniciou um debate sobre as faces ou dimensões do
poder, o qual, segundo ele, não estava disperso em apenas um grupo de elite, mas
em vários grupos de elite. Ademais, Dahl incita que o poder não é elitista, mas
pluralista, o que proporcionou um quadro de referência para outros cientistas políticos
aprofundarem o conceito. Dito isso, dois cientistas, Bacharach e Baratz, em 1962,
acharam importante complementar o conceito de poder definido por Dahl, visto que
não estava completo. Dessarte, eles acreditam em uma concepção neoelitista, em
que as elites conseguem manipular o meio político que as cerca, para obter o que
querem; a definição de Dahl não levava em conta essa manipulação, também
conhecida como “a segunda face do poder”, por isso teve que ser ampliada.
Bacharach e Baratz, para exemplificarem sua definição, falam sobre a “definição de
pauta”, que consiste em manter certos assuntos fora de pauta para facilitar a
aprovação de, por exemplo, um projeto de lei; ou seja, a opinião pública é manipulada
pelas elites em busca de benefício próprio. Contudo, essa definição não foi definitiva,
visto que, em 1974, surgiu Steven Lukes com a ideia de que o poder é exercido
mediante estratégias hegemônicas. Organismos de poder dominantes da sociedade,
os “aparatos do Estado”, determinam as preferências dos indivíduos, não servindo ao
interesse de todos, mas apenas daqueles que delas se beneficiam financeiramente e
mediante obtenção de poder. Sendo assim, não se sabe mais quais são os reais
interesses, os objetivos, o que volta à tradição marxista da análise de classes.
Eventualmente, surgiu outro pensador para completar a análise de Lukes, e esse era
Foucault, filósofo considerado pós estruturalista que, em meados dos anos 70,
divulgou sua concepção de poder; essa era focada em maneiras sutis e minuciosas,
levando em conta que o poder normaliza a nossa conduta e como esse reflete no
homem e constrói sua identidade. Dessa maneira, Foucault acreditava que as antigas
definições tendiam a subestimar a operação de poder, deixando de reconhecer suas
sutilezas. As críticas aos enfoques tradicionais realizadas pelo autor podem ser
resumidas em 5 ideias, a primeira sendo que o poder não pode ser mantido por
qualquer pessoa ou grupo, ele é exercido por meio dos relacionamentos; a segunda
diz que as relações de poder não se separam das outras relações, uma vez que ele é
integrante de todas elas; a terceira se baseia no pensamento de que o poder não
opera de cima para baixo, mas de baixo para cima, já que ele não constitui,
fundamentalmente, uma forma de dominação; a quarta ideia afirma que o poder não
pode ser utilizado de forma cínica, visto que os propósitos das relações de poder não
podem ser manipulados intencionalmente; quinta fala sobre as formas como o poder
pode ser utilizado, ou seja, de maneira a incitar ou reprimir uma ação. Foucault
também diz que o poder desenvolve nosso senso do que é normal e como o Estado
está implícito nesse processo. Dito isso, a norma é internalizada como a conduta
apropriada pela sociedade, sendo usada para justificar essa; ela precisa de pessoas
para julgá-la, portanto, o Estado abriga os “juízes da normalidade”, que impõem suas
vontades. Em suma, o conceito de poder foi evoluindo ao decorrer dos anos, tornando-
se mais completo e palpável a partir de novas descobertas e estudos feitos por
estudiosos que dedicaram seu tempo para desvendar esse termo tão complexo.

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