Você está na página 1de 3

A doutrina da separação de poderes

A história do pensamento político ocidental retrata o desenvolvimento e a elaboração de um


conjunto de valores, justiça, liberdade e igualdade. Devem ser realizados alguns
procedimentos para que esses valores possam ser colocados em prática.

Os teóricos institucionais se preocupam com o problema de garantir que o exercício do poder


governamental seja controlado para que não se torne destrutivo dos valores que pretendia
promover

O grande tema dos defensores do constitucionalismo tem sido reconhecer o papel do governo
e impor uma controle sobre esse poder. A doutrina da separação de poderes tem sido a mais
significativa ao tentar promover uma solução pra esse dilema.

A doutrina de separação de poderes não consegue, sozinha, fornecer uma base adequada para
um sistema político estável. Então, foi combinada com outras ideias políticas como a teoria do
governo misto, a ideia de equilíbrio e o conceito de contrapesos pra formar as teorias
constitucionais que proporcionaram a base dos sistemas políticos.

Os problemas dos séculos anteriores continuam sendo os problemas de hoje, e embora o


contexto seja diferente e as dimensões dos problemas tenham mudado, é no entanto a
continuidade do pensamento político e das necessidades do homem político

Ataques a doutrina

Em meados do século 19, o ambiente se tornou menos favorável as ideias que haviam sido
incorporadas na doutrina pura da separação dos poderes. O ataque a essa doutrina veio em
duas ondas

Primeiro, a classe média que havia apoiado a separação dos poderes, agora via ao seu alcance
o controle desse poder político. Isso levou a uma reformulação da doutrina ao invés de rejeitar
totalmente. Nesse cenário qualquer sugestão de separação extrema dos poderes foi negada.
Entretanto, a nova teoria emergente, a ideia de equilíbrio, ainda exigia uma separação de
órgãos e funções, mas com um conjunto diferente de conceitos.

A mudança de ideias sobre o papel do governo e sua estrutura foi acompanhada por uma
mudança de ênfase nas ideias sobre natureza e soberania. Alguns acreditavam na necessidade
de uma única e onipotente fonte de poder, o que era, em geral, o recurso dos teóricos do
absolutismo. E, os defensores da liberdade, contra o governo arbitrário, enfatizaram a divisão
do poder e as limitações que surgem com a imposição de uma lei superior.

Rousseau traz uma ideia diferente sobre a soberania ilimitada. Ele acredita que se essa
soberania estiver na mão do povo, ou de seus representantes, ele poderia deixar de ser
associada a um governo arbitrário e passar a ser vista como um instrumento de poder
democrático, como um instrumento para a reforma do governo que aumentaria a liberdade do
indivíduo.

O ataque geral à “teoria política” que sugeria que era apenas a expressão de opinião tendeu a
depreciar as teorias que historicamente tinham sido fortemente empíricas

Uma ideia, como a separação de poderes, que encontra as suas raízes no constitucionalismo
antigo e que n século 17 se tornou central no sistema de governo, precisa ser reformulada
para servir como instrumento do pensamento político moderno, mas só pode ser rejeitada se
estivermos preparados para descartar também os valores que a criaram

Teoria constitucional

Por um lado, a teoria constitucional tem que lidar com os problemas da existência de
constituições nominais ou de fachada e, por outro lado, com os pressupostos implícitos nas
versões extremas da abordagem comportamentalista moderna que tende a sugerir que as
estruturas formais tem pouco ou nenhum significado.

A doutrina da separação dos poderes foi durante séculos a principal teoria constitucional que
afirmava ser capaz de distinguir as estruturas institucionais das sociedades livres e das
sociedades não livres. Entretanto, em meados do século 20, ela foi amplamente rejeitada.

A ênfase no estudo de certos aspectos do comportamento foi levado ao extremo, para sugerir
que as instituições são meramente formais e insignificantes, enquanto na verdade as
instituições políticas são a estrutura de regras dentro das quais os atores em situações
políticas normalmente devem operar

Separação dos poderes atualmente

A história da doutrina da separação dos poderes fornece um panorama da complexa evolução


de uma ideia e do papel que ela desempenhou e continua a desempenhar nos sistemas
políticos dos países ocidentais

Ainda falamos da função legislativa ou da função entre legislação e execução, embora o


significado que atribuímos a tais conceitos seja muito diferente.

Enfrentamos hoje sérios problemas, tanto na análise política quanto em questões de


importância prática no campo das funções governamentais e sua divisão entre as agências
governamentais. Não estamos preparados para aceitar que o governo possa se tornar, com
base na eficiência, uma única estrutura monolítica indiferenciada

Ainda acreditamos em governo limitado mas ainda não vemos como os limites devem ser
aplicados nas circunstâncias modernas.

Teoria da separação de poderes

Um problema inicial é a ambiguidade que se liga a palavra poder. Poder tem sido usado para
designar a posse através da força ou persuasão de alcançar certos fins, a autoridade legal para
realizar certos atos, a função de legislar, executar ou julgar

Uma pura doutrina da separação dos poderes pode ser formulada da seguinte forma: é
essencial para o estabelecimento e manutenção da liberdade política que o governo seja
dividido em três ramos ou departamentos, o legislativo, o executivo e o judiciário. Para cada
um desses três departamentos há uma função correspondente de governo. Cada ramo deve
realizar sua própria função e não deve ser autorizado a invadir outro ramo. Além disso,
nenhum indivíduo pode ao mesmo tempo ser membro de mais de um departamento. Essa
doutrina representa um tipo ideal mas não foi aplicada exatamente assim na prática.

A doutrina da separação de poderes está claramente comprometida com uma visão de


liberdade política, uma parte essencial da qual é a restrição do poder governamental, e que
isso pode ser melhor alcançado estabelecendo divisões dentro do governo para evitar a
concentração de tal poder nas mãos de um único grupo.

O crescimento de três ramos separados do sistema governamental refletiu em partes as


necessidades da divisão do trabalho e da especialização, e em parte, a demanda por diferentes
conjuntos de valores a serem incorporados nos procedimentos das diferentes agencias.

O governo deve ser verificado internamente pela criação de centros autônomos de poder que
desenvolverão um interesse institucional.

O segundo elemento da doutrina é a afirmação que existem três funções necessárias a serem
desempenhadas, sejam ou não todas desempenhadas por uma pessoa ou grupo. Cada uma
dessas funções deve ser confiada exclusivamente ao ramo apropriado do governo

O terceiro elemento da doutrina é o que descrevemos como a separação de pessoas. Esta é a


recomendação que os três ramos sejam compostos por pessoas diferentes. Essa doutrina
argumenta que a divisão de agencia e funções não é suficiente, essas funções devem ser
exercidas por pessoas diferentes para que a liberdade seja garantida

O elemento final da doutrina é a ideia de que se as recomendações forem seguidas, cada ramo
do governo atuará com uma verificação do exercício do poder arbitrário pelos outros e que
cada ramo, por estar restrito será incapaz de exercer um controle ou influencia indevida sobre
o outro.

No entanto, a teoria não indica como uma agencia ou grupo de pessoas que exerce sua
autoridade deve ser contido se tentarem exercer o poder indevidamente, invadindo as funções
de outro ramo. Isso leva à adaptação de outras ideias para complementar a doutrina e assim,
modifica-la.

Modificações na teoria

A mais importante modificação está na fusão da doutrina com a teoria do governo misto ou
posteriormente com a teoria dos freios e contrapesos. Por meio dessas teorias, cada ramo
recebeu o poder de exercer um grau de controle direto sobre os outros, autorizando-o a
desempenhar um papel no exercício das funções do outro. Essa ideia de separação parcial das
funções é importante pois não deixa de ser significativa simplesmente porque é parcial.

A questão da divisão das pessoas também pode ser modificada de modo que algumas pessoas
podem ter permissão para ser membros de mais de um ramo do governo, embora a
identidade completa de pessoas nos vários ramos seja proibida.

Você também pode gostar