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TEORIAS DAS

FORMAS DE
GOVERNO

Ana Carolina Greco Paes


Teorias das formas de Governo
1. INTRODUÇÃO

Na aula de hoje veremos sobre quais poderes atuam no Estado, de forma mais
específica trabalharemos com o poder político, sabendo que o poder jurídico também atua
com ele.
Analisaremos o poder político pois dele derivam as formas de governo que serão
analisadas, as formas de governo foram classificadas a partir de sua relação entre o
Executivo e Legislativo.
Contudo, antes de tratarmos dessas formas de governo, olharemos para outros
poderes que atuam no Estado e a separação deles em poderes: Executivo, Legislativo e
Judiciário.

Fonte: FLICKR, 2022

2. O PODER DO ESTADO

Quando tratamos sobre o poder do Estado, assim como todas as questões que
envolvem o Estado, não há consenso entre a doutrina sobre como surge o poder do Estado.
Acompanhando as lições de Dalmo de Abreu Dallari (2016) vamos trabalhar algumas
linhas teóricas sobre o poder do Estado.

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Teorias das formas de Governo
A maioria da doutrina concorda que o Estado possui uma personalidade jurídica,
da mesma forma que entendemos que a Constituição regula o papel do Estado
estabelecendo limites a ele.
Ocorre que, nem todos os
doutrinadores entendem dessa forma, o
primeiro que podemos citar que
trabalha o poder do Estado de forma
diferente é o filósofo francês Pierre
Bourdieu, que entende o Estado com a
institucionalização do poder. Ou seja, o
Estado pode obrigar aqueles que estão
Fonte: UNSPLASH, 2022 sob a sua tutela, contudo, este poder é
abstrato e, por isso, não é afetado pela alternância dos seus agentes. “Enfim, ele se dura
tanto, a despeito das contingências históricas, é porque encarna uma ideia, a imagem de
ordem que é próprio fundamento do poder” (DALLARI, 2016, p. 112). Nesse sentido, o
poder é o próprio Estado como expressão ordenada da ideia de convivência que
prepondera no grupo.
Tem-se certo consenso acerca de que o poder é um elemento essencial do Estado,
uma vez que a sociedade não pode existir sem um poder, porém o poder estatal tem certas
peculiaridades que o diferem da própria soberania.
Ao tratar o poder como algo distinto da soberania, o jusfilósofo alemão Georg
Jellinek diferencia o poder em duas espécies: o poder dominante e o poder não
dominante. O poder não dominante é aquele que se encontra em sociedades que não são
estatais. As pessoas se submetem ao poder não dominante voluntariamente.
Já no caso do poder dominante apresenta duas características muito peculiares, ele
é um poder originário e irresistível, não há como não estar debaixo dele. Estas
características de poder do Estado são específicas do Estado Moderno. Poder do Estado
Moderno é originário pois afirma a si mesmo, não há, em tese, algum outro poder que lhe
confira esta prerrogativa. Ele também é irresistível pois é um poder dominante.
Ao caracterizar essas duas formas de poder, o próprio Jellinek buscou atenuá-lo,
afirmando que em um Estado plenamente desenvolvido, ou em uma situação normal, o
poder dominante deverá ter o caráter de poder jurídico.

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Teorias das formas de Governo

Sua conclusão final é que o conceito de poder do Estado já se acha contido no


conceito de ordem jurídica. Ora, sendo assim não há razão para o tratamento
autônomo do poder, especialmente para considerá-lo desligado da soberania,
que é um atributo do poder e, em última análise, da própria ordem jurídica
(DALLARI, 2016, p. 114).

Fonte: FLICKR, 2022

Ao analisarmos as correntes que tratam sobre o poder do Estado, temos o Estado


enquanto a encarnação do poder; o Estado como um poder político, que é incondicionado
e preocupado em manter sua eficácia, sem qualquer limitação e o Estado como poder
jurídico, que nasce do Direito e é exercido exclusivamente para a execução de fins
jurídicos. Sobre o poder do Estado ligado ao Direito, temos como principal expoente
dessa corrente, o jurista austríaco Hans Kelsen.

Embora em sua concepção o Estado seja uma realidade normativa, observa ele
que, não raro, o “ordenado” desloca a ordenação, e o objeto desta se torna
autônomo perante a própria ordem. Foi por esse caminho que o Estado deixou
de ser concebido como uma ordem da conduta humana, uma ordenação de
homens, para ser visto como os próprios homens que coexistem, submetidos a
certa regulação. Dessa forma o Estado foi deslocado do reino do normativo
para o do natural e causal, surgindo uma conceituação que permite falar-se em
elementos constitutivos. Embora contrário a esta orientação, Kelsen reconhece
e ela é absolutamente predominante, procurando, então, através dela,
demonstrar a permanente presença do jurídico nos três elementos constitutivos
geralmente enumerados, que são: o território, o povo e o poder (autoridade).
(DALLARI, 2016, p. 114)

Para Kelsen, o poder do Estado, chamado de poder de império, submete os


homens ligando sua conduta a um dever jurídico. Dessa forma, para assegurar a execução
dos fins jurídicos é que este poder é exercido. O poder do Estado não é um poder
originário enquanto força natural, mas é um poder juridicamente qualificado, sendo
assim, o poder do Estado não é senão o direito do Estado, uma vez que, o poder do Estado
abarca uma ordem jurídica, que tem o poder de coação, fazendo com que as pessoas se
submetam a ela.

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Teorias das formas de Governo
A crítica fundamental a visão de Kelsen sobre o poder do Estado está ligada a
ideia de que mesmo que no início, sob aparência de poder de fato e como vontade diretora
da comunidade, o poder do Estado está ligado a uma ordem jurídica. A questão que se
coloca é, de onde deriva essa ordem jurídica? Se todo ordenamento jurídico parte de uma
outra norma que lhe autoriza haverá um regresso ao infinito.
A explicação de Kelsen se encontra na “Teoria Pura do Direito” que se baseia em
uma norma hipotética fundamental que tem um caráter jurídico que só pode ser suposto
pois não foi posto por ninguém. Ocorre que esta afirmação é bastante frágil, pois é
necessário um argumento para fora do próprio direito para sustentá-lo.
O jurista Miguel Reale foi quem demonstrou, através de várias análises das
posições entre o direito e poder, que as características do poder do Estado e de sua origem
não são apenas políticas nem exclusivamente jurídicas. Para este autor, o poder não pode
ser organizado sem a presença do direito, não há poder que não seja jurídico, ou seja, não
há poder insuscetível de qualificação jurídica. Isso não quer dizer que o poder advenha
somente do Direito, ele também é político e para isso, há graus de juridicidade que
demonstram a evolução do Direito. De acordo com Reale (2000, p. 143).
A expressão poder de direito é o resultado de uma comparação entre os
diversos graus de juridicidade do exercício do poder. Não significa — como
pensam alguns — que o poder se torna todo substancialmente jurídico (o que
equivaleria a identificar Estado e Direito), mas que o poder, em regra, se
subordina às normas jurídicas cuja positividade foi por ele mesmo declarada.

Em outras palavras:
Assim, quando se diz que o poder é jurídico isso está relacionado a uma
graduação de juridicidade, que vai de um mínimo, representado pela força
ordenadamente exercida como um meio para atingir certos fins, até a um
máximo, que é a força empregada exclusivamente como um meio de realização
do direito e segundo normas jurídicas. Dessa maneira, mesmo que o poder se
apresente com a aparência de mero poder político, procurando ser eficaz na
consecução de objetivos sociais, sem preocupação com o direito, ele já
participa, ainda que em grau mínimo, da natureza jurídica. E mesmo quando
tiver atingido o grau máximo de juridicidade, tendo sua legitimidade
reconhecida pela ordem jurídica e objetivando fins jurídicos, ele continuará a
ser, igualmente, poder político, capaz de agir com plena eficácia e
independência para a consecução de objetivos não jurídicos (DALLARI, 2016,
p. 116).

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Teorias das formas de Governo

3. GOVERNO E SEPARAÇÃO DE PODERES

Fonte: FLICKR, 2022

Foi o filósofo John Locke quem afirmou que o poder derivava de um contrato
social, em consequência do estado de natureza do ser humano e da relação entre
governante e governado. Para Locke, os poderes que atuavam na sociedade e no Estado
deveriam ser divididos para que pudessem agir em equilíbrio. O executivo zelaria pelo
cumprimento das leis, o Legislativo zelaria pelo bem público através da lei e às vezes, até
mesmo contra ela.
O Poder Executivo apresentaria atividade contínua com a finalidade de
conduzir os assuntos internos e externos dos Estados e de julgar e aplicar penas
àqueles que descumprissem as leis. O Legislativo deveria trabalhar na busca
por legislar em observância ao princípio da legalidade. O Poder Federativo
seria o poder conferido ao Estado de relacionar-se com outras pessoas e
comunidades alheias à república. Já a prerrogativa seria a permissão concedida
pelo povo aos seus governantes, para que, no caos do silêncio da lei sobre
determinados temas, realizassem ações de livre eleição, mesmo que fossem
contrários ao texto legal (SCALABRIN; MELO, 2017, p. 99).

Quando Locke desenvolveu sua teria, o atual poder Judiciário era exercido pelo
próprio poder Executivo. Além disso, em seu livro Segundo Tratado sobre o Governo,
Locke afirma que os fins da sociedade política e do governo são garantir a mútua
conservação da vida, da liberdade e da propriedade.

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Teorias das formas de Governo
Apenas com Montesquieu, na obra O espírito das leis, publicada em 1748, que
houve a menção de um poder judicial e um poder Executivo independentes que até hoje
é utilizada pelos Estados.
Para Montesquieu, a divisão jurídica das funções dos poderes poderia limitar-se
ao uso ilegal do poder a fim de garantir a liberdade e os direitos das pessoas, além de
julgar crimes e conflitos entre as pessoas e o Estado. O Legislativo deveria representar a
vontade do povo através da criação de leis. Além disso, o Legislativo também estaria
autorizado a apreciar as ações do Executivo e de seus membros. Já o Executivo teria como
função cumprir as normas elaboradas pelo Legislativo e vetar leis.
Não obstante, a concepção de liberdade política em Montesquieu, extraída de sua
obra O Espírito da Leis, é apresentada de forma literal: “liberdade é o direito de fazer tudo
o que as leis permitem”. Significa que os homens, ao renunciarem à sua independência
natural (liberdade filosófica), passaram a viver sob a égide de leis políticas (liberdade
política).
Por fim, de acordo com:
Para o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712–1778), autor do célebre
livro Contrato social, o Poder Legislativo pertence somente ao povo, visto que
o Poder Executivo consistiria em atos particulares. Dessa forma, para
Rousseau, não seria certo que o órgão responsável por elaborar a lei fosse
responsável pela sua execução — por isso, era necessário um governo
soberano, pois a monarquia não era a única forma de governo, mais bem a
soberania popular.

Para Tocqueville (1805–1859), o Poder Legislativo dividia-se em duas


assembleias (Senado e Câmara dos Deputados), compostas por representantes
eleitos por cidadãos. O Poder Executivo seria conduzido por um governante
eleito pelo povo, com a função de ser chefe do Estado com mandato temporal
e com poder regulado pelo Senado. Já o Poder Judiciário, assim como entendeu
Montesquieu, seria um órgão de grande poder, pois teria a finalidade de julgar
casos particulares. Além disso, segundo Tocqueville, o Judiciário atuaria
quando invocado e, por recorrer à Constituição para justificar a maior parte de
suas decisões, detinha significativo poder político (SCALABRIN; MELO,
2017, p. 100).

4. FORMAS DE GOVERNO: A ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DO PODER


POLÍTICO

Vimos que o poder do Estado envolve no mínimo dois poderes que atuam de
forma conjunta: o poder jurídico e o poder político. Para trabalhar com as questões do
poder político, vamos nos voltar para a análise das formas de governo que podem existir

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no Estado. Para nos auxiliar nessa jornada, utilizaremos as lições da professora Nina
Ranieri (2019)
O Estado pode ter formas variadas, como também, pode ter distribuições de
poderes políticos diversos. Quando falamos sobre as formas de governo, estamos tratando
sobre “às maneiras pelas quais o poder político é distribuído entre os poderes do Estado”
(RANIERI, p. 161). Entende-se por governo, o conjunto de pessoas que exercem poder
político e determinam as escolhas políticas de uma sociedade.
As formas de governo podem ser classificadas a partir de duas maneiras
distintas, tanto em relação a sua dinâmica com o Poder Executivo (monarquia e
república), quanto com a sua dinâmica em relação ao poder Legislativo (parlamentarismo
e presidencialismo). Do ponto de vista das relações entre o Executivo e o Legislativo os
dois conjuntos podem se influenciar mutualmente, até mesmo criando formas mistas de
governo.

Formas de governo

Dinâmica do Dinâmica do
poder executivo poder legislativo

Monarquia República Parlamentarismo Presidencialismo

Fonte: PAES, 2022


No que diz respeito ao Estado Moderno, a partir da separação de poderes, que
envolve a separação dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, o governo pode ser
exercido de forma parlamentarista (em regimes monárquicos ou republicanos) ou
presidencialista (em regimes republicanos). Veremos adiante cada uma dessas formas. É
importante frisar que durante a história, desde a Antiguidade Clássica autores como
Platão, Aristóteles e Políbio trataram sobre a forma de governo, sendo que a definição
dada por Aristóteles foi a que prevaleceu durante muitos anos.

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Teorias das formas de Governo
Na Idade Média não houve muitas modificações em relação ao que já havia sido
analisado pelos filósofos anteriormente, somente na modernidade é que os autores
passaram a refinar os conceitos de formas de governo a partir de Maquiavel, Montesquieu,
Rousseau e já no século XX, Norberto Bobbio.
Feito este breve comentário, analisaremos as formas de governo segundo a
composição e a estrutura do poder executivo.

4.1 Monarquia

A primeira a ser analisada é a Monarquia. De acordo com Nina Ranieri (2019, p.


170-171):

No ano de 2016, dos 192 Estados-membros da ONU, 45 eram monarquias, nas


quais viviam cerca de 54 milhões de pessoas. Entre eles estão a Arábia Saudita,
a Espanha, Japão e os dezesseis Estados integrantes do Commonwealth
Britânico, que têm em comum a mesma monarca. Esses dados evidenciam a
perenidade dessa antiquíssima forma de governo, ainda no início do século
XXI, o que deve ser creditado à sua extraordinária capacidade de adaptação a
valores e instituições democráticas. São seus traços característicos: a
vitaliciedade (não há tempo certo e determinado de governo), a
hereditariedade (a escolha do governante se faz pela linha sucessória) e a
irresponsabilidade política.

A Monarquia é um termo que possui vários sentidos, na


Antiguidade Clássica, era identificada como governo de
um só indivíduo. A estruturação hereditária das
monarquias europeias alterou o sentido original da
monarquia, pois concentrou a soberania no monarca que
passou a não responder politicamente perante o povo,
Fonte: Flickr tornando-se uma monarquia absolutista, que é um
exemplo clássico de monocracia.
O fim das monarquias absolutistas se deu com a modificação de sentido para as
monarquias constitucionais e parlamentares, que, ainda que tenham conservado o caráter
hereditário e a personificação individual do monarca, a soberania foi transferida ao povo,
com a consequente responsabilização do governante perante o povo.
Foi no século XIX que as monarquias constitucionais passaram a se consolidar e
representaram compromissos históricos com os direitos e liberdades individuais, que
eram evidenciados pela prevalência do poder Legislativo, sendo que as monarquias

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Teorias das formas de Governo
contemporâneas incluíram nesses compromissos históricos os direitos humanos. No que
diz respeito a legitimação das monarquias, Nina Ranieri (2019, p. 171) adverte:
É interessante observar que a legitimação e dominação nas monarquias
absolutas – assim como nas ditaduras autocráticas – revelam uma ideia
racional: a de que, em sociedades políticas nas quais não há ou não são efetivas
as regras de aquisição pacífica do poder, as dissensões e a luta pelo poder são
prevenidas pelo fato de o chefe de governo ser identificado em virtude de seu
nascimento.

4.2 República

A República difere da Monarquia por, pelo menos, dois motivos, o chefe


de governo nesse sistema é eleito direta ou indiretamente e tem um
mandato definido, além de responder ao povo por seus atos, sempre
pautado pela Constituição.
Fonte: Flickr

Mas os elementos distintivos da república devem ser buscados, sobretudo, em


seu substrato teórico, pautado pela ideia romana do governo ético voltado à
coisa pública. Dele derivam os traços característicos dessa forma de governo:
a base democrática do poder estatal, a prevalência do interesse de todos no
exercício do poder e a inserção dos indivíduos na comunidade política, em
decorrência de seu interesse de associar-se para agir e participar do processo
de tomada de decisões públicas (RANIERI, 2019, p. 172).

É importante frisar que, tal como a Monarquia, a República passou por


modificações durante os anos, sendo que também havia Repúblicas na Antiguidade
Clássica. No princípio, a palavra república assumiu diferentes significados a partir da
evolução do Estado.
O vocábulo latino da qual ela dera, res publica, significa “coisa da comunidade”,
em contraponto a coisa privada. Com a queda da Monarquia, em 509 d.C. no principado
de Augusto, a república romana passou a representar o oposto ao governo dos reis, sendo
um governo misto, exercido por dois cônsules, pelas assembleias populares e Senado,
com cargos gratuitos e temporários, que tinham responsabilidade pessoal e colegiada das
decisões. O governo deixava de ser uma monocracia para ser um governo do povo (ainda
que não de todos, pois havia um caráter excludente no próprio sentido de povo na época).
Na Idade média, filósofos como Santo Tomás de Aquino e Marsílio de Pádua,
com influencias aristotélicas, afirmavam que a República tinha como elementos
principais: a)a justiça como finalidade máxima da sociedade; b) a concórdia como

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elemento central para aquisição do bem comum; c) governo misto, de caráter republicano,
como forma adequada de governo.
Foi na modernidade que a República passou a ter outros elementos que em alguns
pontos se confundiam com a própria democracia.

A associação do vocábulo à democracia representativa representa uma viragem


excepcional, em termos políticos. Contextualizando, é preciso lembrar que,
durante séculos, a república foi considerada melhor forma de governo que a
democracia, fosse por influência da tipologia aristotélica, na qual a democracia
é classificada como a menos ruim das formas más, fosse pelas desastrosas
experiências de democracia direta, entre elas a verificada, nos Estados Unidos,
sob os Artigos de Confederação (RANIERI, 2019, p. 174).

Apesar da convergência de propósitos, república e democracia não se confundem. O


princípio republicano indica a supremacia do bem comum sobre os interesses individuais,
ou seja:
[...]implica moralidade e responsabilidade públicas, igualdade perante a lei e
valorização da dignidade humana, com respeito integral aos direitos humanos,
abolição de todo e qualquer privilégio pessoal ou corporativo, vedação à
apropriação ou ao controle particular de bens e serviços públicos, e publicidade
dos atos oficiais. Já o princípio democrático indica a supremacia da vontade
popular, com exigência de preservação da liberdade e a igualdade de direitos,
assim como os demais direitos fundamentais (RANIERI, 2019, p. 175).

5 FORMAS DE GOVERNO SEGUNDO O EXCUTIVO E O LEGISLATIVO

Quando trabalhamos com a relação entre os Poderes Executivo e Legislativo


temos duas formas básicas de governo: o parlamentarismo e o presidencialismo. A
diferença básica entre o parlamentarismo e o presidencialismo está na forma como o
Poder Executivo é exercido. No presidencialismo o governo é unipessoal, exercido,
exclusivamente, por um Presidente eleito direta ou indiretamente e há independência em
relação ao Executivo e Legislativo.
Já no caso do parlamentarismo o governo é exercido por um Executivo dual, que
caracteriza-se pela dependência mútua entre o Executivo e o Legislativo. Verifica-se,
então, que há colaboração entre o Executivo e o Legislativo em diferentes graus. No
entanto, essas formas de governo podem se misturar criando uma terceira forma que é
denominada mista ou semipresidencial, “como exercida na França e em Portugal,
caracterizada pela conjugação de elementos da forma parlamentarista com a
presidencialista” (RANIERI, 2019, p. 178).

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5.1 Parlamentarismo

Feitas estas considerações, analisaremos o parlamentarismo. Ele possui três


traços particulares, que são:

a)o Executivo é dual, compõe-se de um chefe de Estado (monarca ou


presidente) que, em geral, não governa, e um chefe de Governo (ou primeiro-
ministro), que executa as funções de governo, cm o auxílio de um gabinete; b)
o Parlamento condiciona a escolha e a ação política do gabinete do governo;
c)o governo depende da confiança parlamentar.

Na prática, isso se dá porque o partido político (ou a coligação de partidos


políticos) vencedor nas eleições legislativas forma o grupo parlamentar mais
forte, com capacidade de indicar o chefe de Governo entre os membros do
próprio Parlamento. Este, na formação do gabinete que presidirá, escolhe os
ministros entre a maioria parlamentar. Gabinete e Parlamento não se con-
fundem; são órgãos independentes, muito embora o primeiro seja obrigado a
proceder de acordo com o segundo que, em última análise, fixa a política de
governo.

Todo o gabinete é responsável solidariamente perante o Parlamento, que


fiscaliza e aprova as suas ações; se o Parlamento rejeitar a política que o gabi-
nete venha a adotar, todos os seus integrantes devem demitir-se, inclusive o
chefe de Governo que não tem mandato, nem foi eleito especialmente para esse
fim. O mesmo não acontece com o chefe de Estado; não praticando atos
políticos, não responde perante o Parlamento, nem pode por ele ser censura-do
ou demitido.

Mas se o Legislativo tem competência para dar um voto de não confiança ao


Executivo, ou mesmo impor sua renúncia, o Executivo, em alguns sistemas
parlamentaristas, tem competência de dissolver o Parlamento e convocar
eleições, em busca de ampliação da maioria que o sustenta. (RANIERI, 2019,
p. 178).

Pode-se colocar como méritos do parlamentarismo,


o fato de que o Legislativo e o Executivo serem
flexíveis, podendo o gabinete ser substituído a
qualquer momento, por motivos de conveniência
política, o que proporciona um governo sempre
sintonizado com as necessidades do momento,
consequentemente, auxilia na democracia do
governo, posto que é responsabilidade política

Fonte: Flickr assegurar as decisões políticas com a vontade


popular.
Não obstante, o fato da investidura do chefe de Governo se dar pela maioria
parlamentar, torna o governo mais eficaz, pois em teoria, o Executivo e o Parlamento

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Teorias das formas de Governo
acabam funcionando de forma integrada e colaborativa. Ocorre que, na prática, muitas
vezes é difícil manter esse equilíbrio. Por fim, deve-se ressaltar que os cidadãos
manifestam sua vontade e participam do governo apenas na escolha dos representantes
do Parlamento.

5.2 Presidencialismo

No presidencialismo, temos um Executivo autônomo,


assim como um Legislativo e Judiciário independentes, é a
forma típica das repúblicas e tem como principal
característica, como dito anteriormente, a independência
dos poderes e o exercício harmônico destes com as funções

Fonte: Flickr do Estado, além do controle recíproco desses poderes por


meio de limitações, é o chamado sistema de freios e contrapesos.
O presidente da República, é eleito pelo sistema direto ou indireto através do voto
(sufrágio) e tem um mandato temporário. O presidente é, simultaneamente, chefe de
Estado e de governo. Sendo assim, executa e formula programas de governo, escolhe e
exonera livremente seus ministros. Além disso o Legislativo atua de forma bicameral,
sendo o Senado e a Câmara dos Deputados que formam o Congresso Nacional.

O Congresso bicameral faz as leis, mas não superintende o governo, embora o


Senado possa impedir algumas nomeações e celebrar tratados internacionais.
O Executivo, unipessoal, tem amplos poderes para atuar, desde que o faça de
acordo com as leis, de cuja elaboração não participa, mas veta ou sanciona. Os
tribunais são independentes, mas podem anular atos ilegais do Executivo e atos
inconstitucionais do Legislativo. Tudo se reduz a fórmulas práticas de
equilíbrio dos órgãos supremos do Estado, com o objetivo concreto de impedir
a concentração e o exercício despótico do poder (RANIERI, 2019, p 181-182).

Comparativamente a outras formas de governo, de acordo com Nina Ranieri


(ANO), o presidencialismo pode dar maior celeridade às decisões e estabilidade
governamental, pois o presidente garante a unidade do comando. Contudo, quando há
descompasso entre o Executivo e o Legislativo, as decisões se tornam mais demoradas e
dependem da aprovação da maioria no Congresso para aprovação de projetos de leis.
Além disso, as constituições presidencialistas tendem a dar várias competências ao
presidente da República, inclusive a possibilidade de edição de atos normativos com força
de lei, sistema este que vigora no Brasil.

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Teorias das formas de Governo
5.3 Forma mista ou semipresidencial

O semipresidencialismo ou forma mista é uma mistura do parlamentarismo e do


presidencialismo. Ele conta com um executivo dual, tendo um presidente da República e
um primeiro ministro, ambos possuem responsabilidade perante ao parlamento.

Adotado na França (desde 1962) e em Portugal (desde 1976), o


semipresidencialismo fortalece a autoridade do chefe de Estado (presidente)
para contrabalançar as manobras partidárias inerentes ao jogo parlamentar.
Embora combine elementos do sistema parlamentar e do presidencialista, a
estrutura de governo é basicamente parlamentarista (RANIERI, 2019, p. 183-
184).

Nestes casos, há o fortalecimento da figura do chefe de Estado que é eleito


pelo povo, e também dispõe de meios de intervir no processo governamental de modo
efetivo. O chefe de Estado nesse modelo detêm uma espécie de poder moderador,
acredita-se que ele se colocará acima de disputas partidárias sem sentido.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 33ª edição. São
Paulo: Saraiva, 2016.

RANIERI, Nina. Teoria do Estado: do Estado de Direito ao Estado Democrático de


Direito. 2 ed. Barueri: Manole, 2019.

REALE, Miguel. Teoria do direito e do Estado. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

SCALABRIN, Felipe; MELO, Débora Sinflorio da Silva. Ciência Política e teoria


geral do estado [recurso eletrônico]. Porto Alegre: SAGAH, 2017.

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